Parq Mag 03

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Índice Real People

Número 03. abril 2008. director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com

max romeo 06 alexander hacke 08 michael imperioli 10 jorge antónio 12 video jack 04

editora Carla Isidoro carla@parqmag.com Direcção de arte Valdemar Lamego valdemar@parqmag.com

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14 You Must – Trends 18 You Must – News

Trendscout Mário Nascimento mario@parqmag.com

Soundstation

gnarls barkley 30 r.e.m. 32 saul williams 28

tradução Roger Winstanley publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com Cláudia Santos claudia@parqmag.com

Viewpoint Viewpoint joanna kane

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central parq – Grande Entrevista

40 Depósito legal 272758/08 registo erc 125392 Edição Conforto Moderno Uni, Lda. número de contribuinte: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa

textos Carla Carbone Cristina Parga Danielle de Picciotto Maria Fernandes Mário Nascimento Miguel Moore Miss Jones Pedro Figueiredo Ray Monde Roger Winstanley Rui Portulez Sofia Fortunato Sofia Saunders

00351.218 473 379 Impressão BeProfit / SOGAPAL — Queluz de Baixo. 20.000 exemplares distribuição Conforto Moderno Uni, Lda.

fotos Hugo Silva Ivo Lázaro Pedro Pacheco Ricardo Quaresma Valeria Gallizzi

A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq. Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq.

www.parqmag.com

capa ténis Nike/Dunk High Supreme t-shirt e windrunner NIKE calções Nike/Kai and Sunny foto por Pedro Pacheco www.pedropachecophoto.com styling PARQ modelo Hugo Silva assistente de fotografia Hugo Silva e Lucia Zapata light equipment www.spot-lightservice.com Agradecimentos família Claro Russo.

styling Cátia Almeida Conforto Moderno Ricardo Preto

Editorial Novas palavras: Luminosidade e Parq No último editorial falava de uma nova luminosidade e desde então tenho tentado reflectir na essência dessas palavras. Refiro-me a uma luminosidade solar, directa e em campo aberto. Depois de um fim de século em que a transparência foi uma das grandes palavras-chave que definiu a época – e que estava sempre na boca dos políticos – concluímos que se referia no máximo a gabinetes com paredes de vidro num arranha-céus de uma qualquer cidade. De facto, o máximo que poderia significar era o incómodo de um auto-controlo entre todos os que cobitavam o espaço. De resto a transparência perdia-se entre a opacidade das paredes de vidro. A comunicação obviamente também se perdia entre essas paredes de vidro. Pelo menos era raro que fosse efectivo nas duas direcções. A comunicação era um processo de sedução unilateral com uma certa autoridade ao final de contas. Outra palavra muito em uso foi a palavra lounge, que convocava um imaginário de conforto e de alienação que levou uma geração a ambicionar estados de letargia em sofás de luxo encerrados entre quatro paredes. Lounge parece-me actualmente uma palavra tão feia como a suposta transparência, nas quais encontro correspondências. Até então nunca o conforto preguicoso foi tão despudoradamente mostrado em grandes vitrines . Os cafés, clubes, mas também os centros de decisão e de poder nunca se expuseram tanto ao exterior através de janelas rasgadas. Penso mais que nunca na necessidade de uma sociedade com novos valores, e numa revista que os possa reflectir. Basicamente faz-nos falta a Luminosidade em vez da Transparência e de um Parq em vez de Lounge. Uma comunicação em espaço aberto “mesmo que cada vez mais virtual” com mais vozes em difusão. Nesse sentido a Parq é um lugar onde todos nos vamos encontrar. Nesta edição celebramos os 40 anos de actividade de Juana de Aizpuru que muito contribuiu para a internacionalização de alguns artistas portugueses no final dos anos 80. Não quisemos deixar de assinalar o sucesso da dupla Wok Media, uma das grandes revelações do design. E porque estamos em maré de recados, não esquecer de assistir à excelente programação de cinema que o cinéfilo Mário Valente propõe para as noites da Parq na ZDB, e já agora estejam atentos a nossa página web (www.parqmag.com) porque vamos estar em grande na rede a criar a comunidade PARQ. Francisco Vaz Fernandes Se encontrar esta revista, terá mais prazer se a ler num PARQ.

joanna kane juana de aizpuru

Central PARQ

taster 46 made in china 48 rojo / nike 52 lies well sold 44

Moda

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pedro pacheco

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ricardo quaresma

«men @ work»

«a little bit of grey gardens» 69 PARQ Here Translations 80 max romeo 80 alexander hacke 80 michael imperioli 81 r.e.m 81 juana de aizpuru


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Max Romeo Max Romeo é uma lenda do roots reggae. Homem de carisma e sentido de humor que aos 63 anos mantém uma sólida energia potenciada pelo poder de certas ervas. Falou connosco após o concerto Winter Jam, uma conversa-flash de dez minutos perdida entre o backstage e uma pronúncia jamaicana cerrada. Deixou-nos a rir. Texto: Carla Isidoro — Foto: Hugo Silva

O que sabe da herança cultural trazida pelos africanos para Portugal? Pouca coisa. Portugal é um país de misturas feitas com Angola, Moçambique… Ah sim, sim. Angola foi parceira da Etiópia em certa altura. Não tenho certeza, penso que tomou partido do Imperador na guerra contra Mussolini, não foi? Acho que sabe mais da História da Etiópia do que nós portugueses. Não sou um especialista nisto (risos). O que pensa do renascimento do reggae, cantado por jovens artistas que nunca entenderão o reggae como você o entende e vive? É bom! O reggae foi underground durante uma temporada, viveu uma situação de desrespeito. Agora está a emergir, há um renascimento do roots. Ele está onde começa e onde há-de terminar, no roots. Na Jamaica vive-se este retorno também? Até lá está em crescimento. O reggae está maior e mais jovem, veio para ficar durante um bom tempo. É uma motivação para si próprio? Claro, estou a apreciar cada momento. Viajando até aos anos 60, ainda se lembra do seu primeiro sucesso «Wet Dream»? Lembro sim. Acabei de remixá-lo para o meu novo disco. Escolheu a canção para o disco? Tinha de fazê-lo, é por isso que vendo bastante (risos).

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Ainda se diverte a cantá-la ao vivo? Não a toco muito, a não ser que me façam o pedido. É diferente do seu estilo actual. Sim, completamente diferente do perfil que tenho hoje. Mas se a pedirem muito, canto-a. É minha ‘filha’ afinal de contas. Regressou à Jamaica depois de muitos anos em Nova Iorque. Depois de quinze anos em Nova Iorque. A cidade estava a ficar muito rápida e perversa. Já não aguentava a pressão, por isso voltei à civilização. Na Europa temos uma imagem idílica da Jamaica promovida pelo turismo. Quão idílica é, afinal? A Jamaica é mais que mar e sol, é um pote de culturas. Mas é bom, penso que é bom existir essa imagem da ilha. A marijuana já é legal? Não. É a favor da liberalização? Esforço-me bastante pra lhes dar a entender que a marijuana é uma planta medicinal. Podiam legalizá-la, poderia ajudar na economia. Mas aquela gente é muito ingrata, está a tentar impedir-nos a nós, Rastas. A marijuana traznos vida, mas eles não querem vida nenhuma. Ainda fuma as suas ganzas? Não consigo viver sem elas.


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Alexander Hacke Einstürzende Neubauten Alexander Hacke é uma das figuras centrais da banda lendária (e bastante viva) Einstürzende Neubauten, que no início de Maio toca por cá. Para deixar-vos água na boca convidámos a sua mulher, a artista plástica Danielle de Picciotto, a fazer uma entrevista caseira ao seu homem. Uma bela conversa matinal. Texto: Danielle de Picciotto — Foto: Markus Johannes

A secção Real People da Parq convidou-me a entrevistar‑te enquanto tua mulher e companheira artística. Ao fim de tanto tempo a fazer entrevistas, qual é a pergunta que na tua opinião seria inesperada? Seria uma que perguntasse das minhas preferências fora da minha função. Normalmente está entendido, entre mim e o jornalista, que estamos a divulgar um determinado produto. O que realmente penso não é uma prioridade. Mas não será isso o que o leitor realmente quer saber, o que pensas de verdade? É possível fazer uma entrevista de facto honesta onde tu enquanto artista digas mesmo o que pensas? Depende. Na maioria das vezes não sinto grande vontade de revelar a minha opinião mais profunda a alguém que mal conheço, acho que isto é natural. Mas sou obrigado a sair-me com respostas surpreendentes e altamente divertidas. Mas direi a verdade. Já que a Parq me convidou para dirigir a entrevista, é óbvio que não está só interessada em divulgar um produto. Por isso, que pergunta gostarias de fazer se fosses jornalista? Penso que só alguns assuntos são de facto relevantes. O primeiro é o amor. Para que isto não fique muito pessoal, começaria por abordar o assunto tentando perceber as preferências e gostos na área das artes e cultura. Temos que encontrar uma alavanca que nos faça abrir. Ok…então do que gostas particularmente no campo da cultura? Gosto de mensagens artísticas tão honestas, verdadeiras e emotivas que me tirem o fôlego. Consigo sentir o balanço da energia das suas palavras. Preciso delas como de comida para manter a minha sanidade.

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Bem…isto vai soar um pouco a promoção mas devo dizer que acabaste de descrever o novo disco dos Einstürzende Neubauten, «Alles wieder Offen». Quando o ouvi pela primeira vez lembrei-me de coisas que já tinha esquecido e da minha mais profunda motivação como artista e pessoa. Isso é muito galanteador. Vês? Agora estamos a chegar a algum lado, a fazer uma troca, a ter uma conversa. Consigo conhecer coisas de ti ao responder às tuas perguntas. Hmmmm, interessante. Então vou colocar uma pergunta que tem a ver com amor. Tocas com os Einstürzende Neubauten há 28 anos, que conselhos dás para uma boa relação? Percebo onde queres chegar, querida (risos). Com a banda chegámos a um nível totalmente diferente. Quase crescemos juntos. Não tenho irmãos de sangue e a Neubauten é o equivalente a esse tipo de relacionamento. Sabemos que não nos vamos mudar uns aos outros mas reconhecemos as nossas origens. É um alto nível de entendimento, não achas? É verdade (risos). Conheceste o Blixa e o Andrew ainda bastante novo. Aprendeste alguma coisa nestes anos sendo um artista descomprometido que devessemos saber? A questão é sermos verdadeiros com a nossa visão assim que tenhamos desenvolvido uma. É importante não valorizar demais os sinais dos tempos. Temos que estar alerta, assim que começamos a anular o nosso contexto, a ficar auto-centrados e satisfeitos connosco próprios, estamos perdidos. Obrigada meu querido, gosto sempre muito de falar contigo. Igualmente. Agora já podemos tomar o pequeno-almoço? www.neubauten.org www.hacke.org


Michael Imperioli Amado ou odiado na série americana The Sopranos, Michael Imperioli regressou a Portugal para novo concerto com a sua banda La Dolce Vita. Gosta de boa comida, bons vinhos, de andar a pé por Lisboa e continua apaixonado pela Vita ao fim de muitos anos. Afinal, é um italiano convencional. Texto: Carla Isidoro — Foto: Pedro pacheco (assistente de fotografia: Hugo Silva. Light Equipment: Spot-Light)

Lançou a banda em Portugal em 2006. O que conhecia de nós nessa altura? Estava muito entusiasmado quando tocámos em Lisboa pela primeira vez. Já tinha visto os Ena Pá 2000 no Cabaret Maxime e achei a energia do espaço fantástica, a ligação entre o público e a banda e a vibração do clube deram àquela noite uma certa magia. Queria muito ter um pouco daquela magia e felizmente conseguimo-la em duas ocasiões. Normalmente os estrangeiros elogiam a comida e os vinhos portugueses, nada que não conheçamos bem. O que sugeria a um amigo que viesse cá? Sugeria o Hotel Bairro Alto em Lisboa, o local perfeito para passar uma semana em Lisboa. Recomendava passear o mais possível e à noite ir a Alfama, uma zona fascinante com as suas ruas sinuosas e restaurantes genuínos. Para jantar é imprescindível ir pelo menos uma vez a Cascais ao Entraguas. Fica junto ao mar, aberto para o oceano e tem os peixes e mariscos mais frescos que alguma vez comi. Os italianos são bons apreciadores de comida. Consigo é igual? Adoro tudo o que venha do mar, por isso Lisboa é um paraíso para mim. Adoro sardinhas, bacalhau e tudo o que nade. E gosto muito dos vinhos do Alentejo.

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La Dolce Vita lembra-nos de imediato o filme do Fellini, mas Vita também é o nome da sua mulher. É uma pessoa geralmente romântica ou está muito apaixonado pela Vita? Ainda estou profundamente apaixonado pela Vita, ao final de 12 anos. Agora mais que nunca. Tentamos sempre encontrar momentos a dois (temos três filhos) porque o nosso romance é muito importante. A Madonna um dia disse “Italians do it better”. Nós, os portugueses, ‘nunca percebemos’ o que ela queria dizer com isto. (risos) Penso que ela falava da paixão dos italianos pela vida, ter paixão por comida, música, vinho, família ou amor…os italianos dão grande prioridade a estas coisas. O seu papel nos Sopranos trouxe-lhe uma nova perspectiva ou interesse pelos assuntos da Máfia? A minha opinião não mudou assim tanto sobre a Máfia. Ela é o que é, penso que não lhe demos glamour na série. Ao invés, tentámos mostrar o perfil daquele tipo de pessoas. A vingança / vendetta é razoável para si? Compreendo a ideia da vendetta, mas espero estar acima do ódio e da violência e contribuir com paz para este mundo.

fotografado no music box

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Jorge António com Tony Amado, considerado o Pai do Kuduro. se bem, um dos impulsionadores do kuduro.

jorge antónio «Kuduro, Fogo no Museke» é o segundo filme da trilogia que Jorge António está a dedicar à música angolana. O realizador falou-nos deste documentário, em exibição no dia 30 no Teatro Maria Matos, dentro do Festival Indie.

Diz-se que há kuduro nas festas privadas de gente ligada ao governo, os mesmos que dizem não gostar e fazem de conta que não o ouvem. A ‘música do pobre’ chegou ao ‘palácio’? Acho que não tem a ver com ser música do pobre. Como te disse na pergunta anterior, é um estigma que acompanha este género em Luanda. Neste momento o Kuduro está em todo o lado. E essa questão só se põe em Luanda por exemplo. Não se põe em Lisboa ou Paris, ou noutro sítio qualquer.

Texto: Carla isidoro

É interessante ver neste filme o sucesso de Dog Murras no mercado gigante de Roque Santeiro em Luanda. O aparato é enorme, comparável ao lançamento de um rapper americano em Nova Iorque. Os angolanos vêem em Murras um símbolo de poder e riqueza ou um porta-voz? É verdade, o Dog Murras é um dos nomes mais importantes deste novo género musical. Eu acho que as pessoas o vêem como um porta-voz porque ele é um deles, porque saiu dos bairros e se tornou alguém. No fundo representa o sonho de muita gente. O Kuduro levantou o ego das novas gerações que vivem em Luanda, mas há vozes que contestam o poder desta música, a sua importância no contexto social actual e a sua dinâmica na cultura nacional. Acho que em qualquer situação idêntica, em que algo popular se torna uma bandeira contra o que está instituído, existem sempre vozes que aparecem a contestar. O que me parece que aconteceu com o Kuduro foi inicialmente ele ser conotado com um lado marginal, de gangs que construíam letras com asneiras e ofensas. E digamos que, se calhar até agora, ainda não se conseguiu livrar desse estigma.

Na exibição feita na Cinemateca disseste que, apesar dos teus 20 anos de Angola, foi uma experiência andar pelos musseques de Luanda. O que viste por lá? Foi interessante sentir a força que estes kuduristas têm nesse meio. São verdadeiros reis. São porta-voz de uma população inteira. Poderiam fazer muito mais em termos sociais junto das populações. Acho que o governo não está a aproveitar este lado, poderia estar mais atento. O filme foi convidado para festivais de cinema internacionais. Os programadores compreendem bem este fenómeno angolano? Parece-me que sim. Eu próprio não tinha a noção da dimensão deste fenómeno que é o Kuduro. Por isso existe muito interesse em perceber como é que isto se move no meio da sociedade angolana. Como está a situação das salas de cinema em Luanda? Como é que a população dos musseques chega ao filme? Em Luanda as salas vão-se abrindo lentamente. Umas são recuperadas, outras são feitas de raiz. O documentário esteve em Janeiro no Centro Cultural Português de Luanda, no âmbito de uma retrospectiva dedicada à minha obra. A seguir vamos exibi-lo em locais que existem nos bairros com condições para projecção. www.indielisboa.com

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video jack São uma dupla de Vj’s constituída por André Carrilho e Nuno Correia. Levaram o trabalho Heat Seeker à exposição Optronica, em Paris - organizada pela conceituada galeria Le Cube - que pode ser visitada até Julho. Um bom argumento para viajar à cidade luz e descobrir novidades nas artes digitais. Texto: sofia fortunato

Como surge o convite para a Optronica e que relevância tem este evento no vosso circuito? Os Video Jack estiveram no Optronica em Londres o ano passado. A receptividade foi bastante boa e fomos convidados para a extensão do festival a Paris, na forma desta exposição patente até Julho. O evento tem particular importância pelo prestígio da galeria Le Cube, uma instituição única em França dedicada às artes digitais, com um curriculum impressionante de artistas expostos nesta área. Esperamos que a exposição abra possibilidades de novas apresentações, em França e não só. Fala-nos do projecto q levaram à Optronica. Estamos no Optronica com Heat Seeker, que foi apresentado em versão screening (apresentação de DVD). Foi lançado no Verão de 2006 um CD/DVD com música de Coden e visuais dos Video Jack. Os visuais de Heat Seeker partem de módulos de animação, combinados e processados por software criado por nós. O DVD é uma captura de ecrã em tempo real de uma sessão de VJing, ao som dos temas de Coden. Qual a intenção presente no VJing? Decorar ou acrescentar? Bom, no nosso VJing a intenção é decididamente acrescentar. Acreditamos que o VJing está a atingir um grau de maturidade em que haverá pouco lugar para abordagens decorativas. O público perderá a paciência com esse tipo de VJing.

O circuito de Vjing não possui a mesma visibilidade que o dos DJ´s. Ele já existe desligado do circuito dos Dj’s ou está dependente deste? Há definitivamente um circuito de VJing em que o VJ assume um estatuto de igualdade, ou de preponderância, em relação ao DJ. Noutros casos, de fusão DJ/VJ (universo AV – performance audiovisual). Esse circuito passa por festivais, clubes e noites especializados, e a tendência parece-nos que é para o aumento deste circuito. Como é que o universo da BD, com o qual têm ligações, influencia as vossas opções artísticas, o processo e o resultado do vosso trabalho? O universo da BD ao qual estamos ligados há muitos anos influencia enormemente o nosso trabalho. Tal como o universo do cinema, marcante para nós. Gostamos de brincar com a narrativa, o desenho de personagens e a criação de ambientes, sugerir histórias e depois desconstrui-las. Brincar com as expectativas do público. Vêem-se também como personagens de uma ficção? Gostam de fazer de conta? Sim, imaginamos os Video Jack como personagens de um universo fictício e os “bonecos” do logótipo Video Jack são como que avatares nossos. No futuro gostaríamos de brincar mais sobre a transposição desse conceito para espectáculos ao vivo, explorar mais a componente performativa. www.optronica.org

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|| www.videojackstudios.com || www.lesiteducube.com


vynil street fashion gallery fotografia de Valeria Galizzi Santa Croce

ténis Adidas, cinto WHO IS THIS GIRL óculos VERSUS e 55DSL, sandálias MISS SIXTY

carteira magenta LONGCHAMP carteira MANGO, ténis com tachas NUNO GAMA

www.myspace.com/vgsantacroce

styling Conforto Moderno

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vynil street fashion gallery fotografia de Valeria Galizzi Santa Croce

carteira TOD’S, pulseira H&M, sapato PUMA sapatos TOD’S, carteira LONGCHAMP

relógio BURBERY, headphone WESC sandália MANGO

www.myspace.com/vgsantacroce

styling Conforto Moderno

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moto Z8 Texto: sofia saunders

O Moto Z8 vai provavelmente mudar a imagem da Motorola graças à inovação tecnológica associada ao design futurista que o modelo oferece. Todo o telemóvel foi pensado em termos de amplitude de meios e rapidez de execução. O seu teclado deslizante adapta-se à anatomia do rosto e é muito fácil de usar. Foi pensado para o uso quase intuitivo de quem é muito batido em jogos de vídeo, característica que o torna também perfeito para um público urbano dinâmico. Que mais se pode desejar de um telemóvel como este? Tem a possibilidade de ter na mão um grande número de funções, entre elas navegar na internet a alta velocidade dada a sua tecnologia HSDPA, assim como ver filmes com grande nitidez a 30 frames por segundo. Para quem não vive sem música, basta ligar um acessório estéreo compatível com Bluetooth e ouvir som em alta fidelidade, em qualquer lado, sem nunca perder uma chamada. Sex appeal não lhe falta, verdade?

www.motorola.com

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2 taro horiuchi Texto: Francisco vaz fernandes

Vencedor do Diesel Award 07, prémio atribuído todos os anos em Trieste durante o ITS – International Talents Suport – concurso destinado a finalistas das escolas de design, Taro Horiuchi lança para o mercado a sua primeira colecção. O Diesel Award, para além de oferecer um certo valor monetário, permite que o vencedor possa estagiar com a equipa criativa da marca que atribui o prémio e desenvolver a sua própria colecção. A de Horiuchi encontra-se à venda nas suas principais lojas de Milão, Paris, Berlim, Nova Iorque, Tóquio, Osaka e Bruxelas. Horiuchi nasceu e estudou no Japão, mas terminou a sua formação na Hogeschool Antwerpen, em Antuérpia.

Esta colecção está na continuidade da linha que levou a concurso, marcada por um elaborado trabalho de alfaiataria, destacando-se ainda a sobreposição de tecidos, alguns deles leves, transparentes e brilhantes que davam ao conjunto bastante futurismo e um efeito de solenidade. Taro Horiuchi, filho de um galerista de arte, desde cedo foi fascinado pelas culturas clássicas, pelas relações que estas desenvolveram com o sagrado e nesta colecção procurou aprofundar a sua visão numa pesquisa sobre rituais antigos da cultura africana e do budismo, que do seu ponto de vista podem coexistir com o mundo moderno.

www.diesel.com

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|| www.itsweb.org

Legenda: Colecção de Taro Horiuchi para a Diesel


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marc jacobs

Texto: sofia saunders

PARQ

Texto: sofia saunders – Foto: ivo lázaro Syling: cátia almeida

Há muito tempo que não via óculos de sol serem tão diferentes das propostas habituais. Além do apelo retro que podemos encontrar em quase todas as marcas, estes particularmente levam-me ao mundo das fórmicas, transportandonos para uma América do pósguerra plena de promessas. Marc Jacobs recorre ao imaginário de um mundo pleno de revestimentos laminados e das fórmicas, próprio de cenários de Hollywood, e capta como ninguém todo esse universo fake e glamouroso de uma certa América. Por isso Marc Jacobs está onde está com uma continua legião de fãs. Estes óculos serão os meus parceiros ideais do ano, prontos para todas as ocasiões, quer esteja num ambiente cool ou sofisticado.

www.safilo.com

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american way

|| www.marcjacobs.com

el guincho

«alegranza!» (2007, Discoteca oceano / 2008 Rough trade) Texto: mário nascimento

O catalão El Guincho (Pablo Díaz-Reixa) é um tribalista mediterrânico e envolve-nos com a sua estreia como um xamã; muitos samples, muita percussão, algum calypso e o suficiente para diminuir a distância entre os corpos. Com um fio condutor melódico subtil mas sempre presente, El Guincho pratica uma potentíssima contradança da chuva [country dance]. Enquanto «Alegranza!» não passa nos bares de praia, usemo-lo para chamar o Verão e dançar na cozinha, enquanto se fazem mais calimotxos.

A proposta de um denim com moldes mais anatómicos e que produz a impressão de ter costuras tortas, foi desenvolvida pela Levi’s para a linha Engineered Jeans para responder às necessidades de mobilidade e liberdade de movimentos de um indivíduo urbano dinâmico. Estes modelos, facilmente reconhecíveis e com uma identidade muito forte – foram popularizados nos anos 90 por indivíduos cool associados a áreas criativas e desportos radicais – voltam a ser uma das apostas fortes da Levi’s.

Nesta colecção de Verão propõe modelos com cintura descaída, amplos até ao joelho (efeito carrot) estreitando a partir do joelho até se converterem em cigarette. Destacamse, para rapaz, modelos Slim e Loose com os bolsos detrás muito compridos, e para rapariga os modelos Capri slim e Slim com a perna mais curta. Quanto aos acabamentos, foram pensados em tons mais escuros e limpos com resinas de cor preta e cinzento, em materiais leves.

www.levis.com

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www.myspace.com/elguincho

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Ca$h or Body? Texto: carla isidoro

revistas on-line

moms do it better

A importância de furar no super concorrido mundo da moda e a importância de percorrer caminhos mais pessoais são duas circunstâncias que estão na origem de muitos projectos de revistas de moda online que actualmente são referência. Em Portugal estamos a dar os primeiros passos nesta área e surgem dois projectos quase ao mesmo tempo. Pure é liderado por Helga Carvalho, stylist independente que se tem destacado em várias colaborações em revistas alternativas, nomedamente na Parq. Na primeira edição da Pure, ainda online, pode-se ver uma série invejável de fotografias da actriz Ana Moreira feitas por Luis de Barros, que são prenúncios da solidez do projecto.

Ninguém percebe melhor de cuidados para a pele e corpo do que as mães. Habituadas aos tratamentos mais adequados para as suas crias, também apreciam mimos em forma de creme, gel de banho ou velas aromáticas para a casa. A Kiehl's lançou a edição limitada Gardénia para o Dia da Mãe, em Maio, uma linha com ingredientes à base de azeite, manteiga de jojoba ou proteína de trigo hidrolisada. É agradá-las com coisas boas.

Texto: sofia saunders

Texto: sofia saunders

A Blend,concebida por Mário Príncipe, é essencialmente uma revista de fotografia de moda que procura criar uma plataforma internacional que mostre os valores emergentes nacionais. Na primeira edição online colaboram os fotógrafos Mário Príncipe, Pedro Pacheco, entre outros.

www.puremagazine.pt

|| www.blend-magazine.com

Legenda: 1. Ana Moreira fotografada por luis de barros para a Pure. 2. Vitor de Melo fotografa para a Blend.

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“A ocasião faz o ladrão”, e se este ditado popular não encaixa perfeitamente nas carteiras de Martin Margiela, nenhum outro encaixará. O estilista belga desenhou uma colecção de carteiras de documentos e porta-moedas onde dá uma clara visibilidade ao dinheiro, ostentando-o ostensivamente. As carteiras exibem notas de Euros e Dólares no seu exterior ao invés de escondê-las do olho alheio. Estão forradas a notas, que só parecem falsas quando as vemos de perto e se repara no selo de cópia. Para reforçar o impacto do embrulho, estão atadas por um elástico comum à semelhança dos maços de notas que os patos-bravos sacam do bolso da camisa para pagarem uma rodada de cervejas. Desta forma, o dinheiro perde o seu valor ‘social’ ao mesmo tempo que enquadra os portadores das carteiras num grupo que tanto é cobiçado pelos volumosos maços de notas, como repudiado pelo seu exibicionismo bacoco. À venda na loja Porvocação, no Porto.

size doesn't matter Texto: cristina parga

Um projector micro-portátil que reúne qualidade e design de vanguarda é a nova proposta da Dell. O modelo M209X suporta uma boa resolução XGA (1024 x 768), possui alto brilho de 2000 lúmens ANSI e um sistema de cores que utiliza a tecnologia DLP e BrilliantColor. Com apenas 1,18 kg, o micro projector é potente, funciona bem até mesmo com luz ambiente forte e, o melhor, cabe até na mala do laptop!

www.dell.com

um bom rival Texto: cristina parga

Dizem que de Espanha nem bom vento nem bom casamento, mas em relação à tecnologia o provérbio popular está ultrapassado. Os espanhóis da Energy System criaram o Inngenio 6.000, um Mp4 com ecrã de 2.8 polegadas compatível com formatos MP3, WMA e XVID e inúmeras funcionalidades: rádio FM, microfone, leitor de e-book's, jogos e suporte para cartões microSD para aumentar os 2 gbs de capacidade. O rival do Ipod Touch tem um peso módico de 83gr.

www.kiehls.com www.porvocacao.com www.maisonmartinmargiela.com

www.energysistem.com

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Gnarls Barkley Ode ao familiarmente estranho

Numa altura em que a sobredose musical nos confunde o gosto e nos faz hesitar nas escolhas, ainda há quem se reconheça no primeiro acorde e soe como mais ninguém. Em suma, «The Odd Couple» é oficialmente um dos melhores discos do ano. Texto: rui portulez

«Crazy» foi a grande canção de 2006. Foi o primeiro single digital a chegar ao topo do top tradicional através de venda exclusiva, durante uma semana, em suporte digital. Um sucesso inesperado que rapidamente ganhou contornos de pandemia e conquistou os telemóveis de crianças e velhinhos do mundo inteiro. O vídeo alavancou a "loucura" e, só nos Estados Unidos, mais de um milhão de cópias do debutante «St.Elsewhere» foram vendidas . Quem eram os Gnarls Barkley? Poucos saberiam que DJ Danger Mouse tinha feito o «Grey Album», misturando à revelia da indústria musical o «White...» dos Beatles e o «Black...» de Jay-Z. Menos ainda seriam capazes de reconhecer Cee‑Lo nos Goodie Mob. Não lhes seguiram o rasto mas compraram o disco. Agora, a história ameaça repetir-se, mas elevada à potência do semi-estrelato (no mínimo). «Run», o cartão de visita do novo disco, intitulado «The Odd Couple», é suficientemente contagiante para detonar o efeito de avalanche global. A música começa a passar em todo o lado. O vídeo não passou o teste da epilepsia (coisa que descobri agora que se fazia para aferir os efeitos estroboscópicos e a sua potencialidade de provocar ataques em quem tenha pré-disposição para ou a doença) efectuado pelas autoridades americanas, sendo consequentemente banido da MTV.

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Agora vive no You Tube e vale a pena ir vê-lo. Mr. Danger é o Dj afro suprasumo do cool. Cee-Lo é o seu mestre de cerimónias, em evangelização gospel hipnótica e desviante de uma juventude endemoninhada em ambiente retro-futurista de musical hip-hop televisivo. Os movimentos lembram Michael Jackson mas também Missy Elliot, com Justin Timberlake a fazer de apresentador geek. Tudo é simultaneamente familiar e estranho... "Run children, run for your lifes", grita Cee-Lo, enquanto liberta raios catódicos pelos óculos escuros ao melhor estilo série Z. Está dado o mote. E as palavras e sensações chave para abrir as portas e descodificar «The Odd Couple». A primeira impressão é de que estamos perante uma banda sonora de um filme de Tarantino, co‑realizado por Robert Rodriguez. Repleto de citações, cenas incríveis, efeitos especiais, e com o travo lo‑fi que aponta para o culto. Perdemos a noção do tempo. Ou melhor, o tempo funde-se e dilui-se numa viagem descapotável on the road com a nostalgia da rádio estampada no tablier. Música dos anos 50 e 60, entre samples e evocações. Rolam as fitas. O som e a imagem, nos trilhos perfurados, em uníssono. Da Motown aos Beach Boys, da balada country ao melhor trip-hop de Bristol, com guitarras tocadas como naifas em western spaguetti e filmes noir; da canção melodramática em technicolor à zombie pop yé‑yé para matinés

adolescentes . E olhem lá, não é a Nancy Sinatra na terceira fila? Tudo é obviamente cunhado pelo forte falsete de Cee-Lo a transbordar alma e a lembrar um Al Green bruto e os primos Outkast. Tudo é filtrado por uma cortina psicadélica e por doses maciças de ácido. Ou assim parece. Há alguns momentos em que a modorra se confunde com tédio, sobretudo nos primeiros temas, em que os planos ainda indefinidos se vão objectivando, encontrando o rumo, ganhando agilidade. Mas todas as dúvidas se dissipam e o conjunto ganha sentido de álbum com o clarão luminoso de «Whatever», e respectivo corolário lírico, reforçado pela interpretação a raiar o Oscar do refrão que se segue: "It's cool. It could be better. I don't care. Whatever." E há lálálás e tudo. E qualquer coisa de «House of the rising sun»... E ainda uma mão cheia de singles como «Surprise» (afinal Elvis não morreu), «Going On», «Charity Case», «A Little Better» ... Não se aplica a «The Odd Couple» a lógica do difícil segundo disco, porque os dois Gnarls Barkley já têm um currículo apreciável de edições, a solo ou em colaborações e projectos vários (basta "googlar"), mas a verdade é que o novo registo é melhor que «St. Elsewhere». Mais pop, menos bizarro e com massa sonora suficiente para durar. «Run...»

www.gnarlsbarkley.com

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Não há espaço para dúvidas: «Accelerate», novo trabalho dos norte-americanos R.E.M., é o regresso aos bons velhos tempos da editora I.R.S. ou, no mínimo, à dupla dose – imensamente subvalorizada – dos anos 90 formada pela parelha «Monster» e «New Adventures in Hi-Fi». Velocidade no limite, reduzidas pausas para descanso, ou como os R.E.M. são de novo, em 2008, uma banda relevante.

Texto: pedro figueiredo

Mike Mills havia anunciado no final de 2007 que este seria um dos discos “mais rápidos de sempre dos R.E.M.”. A primeira pista, contudo, deixou no ar o travo amargo da dúvida: «Until the Day is Done» foi estreado no trailer de “Planet in Peril”, novo programa da CNN da responsabilidade do consagrado Anderson Cooper (uma pesquisa no YouTube por “R.E.M. + Anderson Cooper” trará resultados). Se as boas intenções do programa – questões ambientais – merecem rasgados elogios, já o excerto de «Until the Day is Done» fazia duvidar das palavras de Mike Mills. Tema de cariz político, melodicamente irrepreensível, belo, bem feito; todavia, a velocidade e o sangue na guelra ficaram, aparentemente, para outros temas. Aparentemente, esperançou-se na altura. A confirmação vem agora com o lançamento no mercado de «Accelerate» – este é o disco mais rápido dos R.E.M. desde «Monster».

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Os R.E.M. são actualmente formados por Michael Stipe (voz), Mike Mills (baixo) e Peter Buck (guitarra). Bill Berry, baterista fundador, abandonou a banda, por motivos de saúde, em meados dos anos 90, tendo-se dedicado posteriormente à agricultura. No entanto, em finais de 2006, os quatro membros originais dos R.E.M. reuniramse durante a cerimónia que os imortalizou no Georgia Music Hall of Fame. Durante os ensaios para a sessão, surgiu uma versão de «#9 Dream», de John Lennon, editada

na compilação «Instant Karma: The Amnesty International Campaign to Save Darfur», da responsabilidade da Amnistia Internacional. No ano seguinte, uma indução ainda maior, não centrada na área geográfica de formação da banda mas antes na sua relevância para o pop/rock mundial: no primeiro ano de elegibilidade, o prestigiado Rock and Roll Hall of Fame acolheu os R.E.M. como parte dos induzidos de 2007. Na ocasião, novo reencontro com Bill Berry e quatro temas apresentados ao vivo com a formação original. Pelo meio, tempo para «And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987», compilação dupla com os melhores momentos dos R.E.M. registados sob o selo da I.R.S., detida actualmente pela EMI. Para a produção de «Accelerate» os R.E.M. prescindiram dos serviços de Pat McCarthy, que havia produzido os três últimos discos de originais da banda, ou seja, todos os gravados posteriormente à saída de Bill Berry da banda. Curiosamente ou não, o nível qualitativo dos registos foi sempre decaindo: se «Up» poderia indicar uma nova direcção sonora a explorar com maior vinco no futuro, «Reveal» e, especialmente, «Around the Sun», foram relativas decepções devidamente colmatadas, agora, com «Accelerate». A novidade foi então produzida por Jacknife Lee, que registou recentemente discos de nomes como The Hives, Bloc Party ou Editors. No Verão do ano passado os R.E.M. marcaram

presença durante cinco noites no Olympia Theatre de Dublin, na Irlanda, onde apresentaram pela primeira vez, perante uma audiência de fiéis, as novas composições. Estas datas, denominadas como working rehearsals, funcionaram como a alavanca que faltava para uma total confiança dos músicos nesta nova fase de regresso à crueza do começo. «Accelerate» é um disco com músculo desde o primeiro segundo. Arranca fortíssimo, com «Living Well is the Best Revenge» e «Man-Sized Wreath», e raras vezes encosta para descansar. «Supernatural Superserious» é o melhor single dos R.E.M. de há largos anos para cá, e nele confirma-se o retorno às guitarras em detrimento das experimentações electrónicas de tempos recentes. No capítulo das faixas de maior nervo, referência também à demoníaca sequência terminal do disco, onde «Horse to Water» e «I’m Gonna DJ» fazem estragos de registo assinalável. As boas notícias não ficam por aqui, contudo: mesmo os poucos temas mais pausados são magníficos. «Hollow Man» triunfa num refrão magnífico, «Mr. Richards» tem guitarras em simbiose perfeita com a magnífica voz de Michael Stipe. Para terminar as boas notícias, fica a faltar somente a confirmação do regresso a palcos lusos. Será pedir demasiado?

www.remhq.com

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saul williams Arrancou a tournée americana no maior festival do mundo, SXSW. «The inevitable Rise and Liberation of Nigg y Tardust» marca o regresso de Saul Williams, uma pedrada no charco lançada somente online. Na produção, a mão inesperada de Trent Reznor dos Nine Inch Nails. Nos conteúdos, o messiânico Nigg y Tardust.

Texto: carla isidoro

O que dizer deste «…Niggy Tardust»? É um soco no estômago, regenerador, contestação à supremacia do homem sobre o homem, manifesto certeiro numa América anti-Bush em tempos de esperança. Niggy Tardust, heterónimo, alter-ego simbólico, é uma referência a David Bowie e à figura de Ziggy Stardust, explicanos Williams: "Enquanto Bowie usou Ziggy para levantar questões ligadas ao género e à identidade sexual, Niggy transcende a identidade estereotipada e racial de 'urbano'. Niggy é um híbrido, o homem das mil palavras que reconhece a raça como uma construção social e acha que o género não tem lugar em espaços de música mais alargados. Ele é o que acontece quando os degraus de um escadote se transformam em baquetas de uma bateria. É o pulsar das gerações vindouras que não prometem lealdade a questões de raça ou fronteiras e erguem-se como simples indivíduos a favor de todos, em nome de todos. Niggy é a voz dos oprimidos misturada com a voz da razão. O guardião de canções." Das três actuações que teve em Austin no festival SXSW, numa delas, segundo ouvimos nos relatos diários da rádio Radar, apresentou-se num formato mais simples e acústico que o habitual. Coisa rara num performer que usa o corpo como bazuca para expelir mensagens e o palco enquanto cenário de confrontação. Disse-nos, contudo, que foi o único momento mais intimista do festival,

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excepcional. Uma das marcas de Saul Williams é o ímpeto que coloca nas actuações, sanguíneo e visceral nas palavras, sagrando-se como activista consciente. É impulsivo, propulsivo. No website esclarece desde logo um ponto de vista sobre a sociedade e a música dizendo que cada editora, como o apartheid, leva o indivíduo à nulidade. No disco canta a liberdade do indivíduo e a fuga às constrições sociais. Perguntamos-lhe se consegue sentir-se livre. "Sim, mas a liberdade é um work in progress. Tenho de constantemente desafiar-me para além das zonas de conforto." Não é bonzinho nas palavras, mete o dedo na ferida e pega em preconceitos com pinças de cirurgião para reduzi-los à sua insignificância. Trent Reznor produziu «The Inevitable Rise and Liberation of Niggy Tardust», mas ao contrário do esperado não foi Williams quem o convidou. Reznor soube que Saul preparava um novo disco e aproximou-se. Nunca se tinham conhecido nem Saul tinha ouvido Nine Inch Nails alguma vez na vida. A sonoridade pesada, contudo, não vem do cunho do produtor. "Na verdade não sabia o que esperar dele, nunca tinha ouvido nada dos Nine Inch Nails antes do nosso encontro. Penso que trouxe alta qualidade melódica e belas camadas de som para o disco. Mas o lado mais cru e rude é meu."

Numa altura em que os Estados Unidos vivem tempos politicamente excitantes e têm os sentidos postos numa mudança trazida pelo ideário de Martin Luther King através de Barack Obama, o discurso de Williams é muito consonante. “Há realmente um sentimento de esperança de que vamos ultrapassar a guerra e o medo perpetrado pelo regime de Bush e que vão entrar tempos tão frutuosos como foi o dos Direitos Civis na América. Estou muito entusiasmado. Barack Obama é um híbrido, tal como Niggy o é. Uma fusão de mundos, um anjo da Misericórdia. Rezo por todas as crianças e famílias do Iraque e por todos os que sofrem nas mãos do imperialismo americano. Escrevo e canto para que percebam que alguns americanos se preocupam.” O trabalho está disponível no website embora o download gratuito já não seja possível. O disco em alta qualidade com material extra (pdf completo com letras e imagens) tem o módico preço de 5 dólares. É o preço da liberdade.

www.niggytardust.com

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joanna kane Retratos fotográficos antes da fotografia. A convite de roger winstanley

A série «Somnambulists» da artista inglesa Joanna Kane é constituída por uma série de fotografias de moldes faciais do século XIX que a partir de uma mínima interferência digital cria a impressão de pele quando na verdade se trata da textura de gesso. Descreve à Parq, a partir de um conjunto de perguntas de Roger Winstanley, o seu processo de trabalho assim como o contínuo fascínio pelas raízes da fotografia numa época onde o digital predomina. ”Os moldes fazem parte de uma colecção da Phrenological Society de Edinburg, que possui uma das maiores colecções de máscaras faciais retiradas de gente incógnita morta ou de pessoas famosas. A maioria desses moldes foram tiradas entre 1810 – 1830 com o objectivo de fazer demonstrações na área da frenologia, ciência muito em voga no século XIX. Esta ciência era baseada na crença que a personalidade e a psicologia humanas se manifestavam nos contornos da cabeça. Foi influenciada por uma outra ciência do séc XVIII, a da fisionomia que explorava os contornos do rosto. Alguns dos moldes foram criados por artistas e são representações extraordinárias de indivíduos que se destacaram numa época um pouco antes do aparecimento da fotografia. Os moldes representam uma grande variedade de homens, mulheres e crianças desta época incluindo celebridades e marginais. Muitas destas pessoas possuíam, supostamente, qualidades frenológicas muito marcantes: talento para a música, dramatização ou ciências. Alguns foram escritores e artistas conhecidos, outros foram celebridades hoje esquecidas. Mas também crianças talentosas, exploradores da Antártida e escravos. É interessante comparar o uso destes moldes frenológicos que apareceram antes da fotografia com o uso posterior da fotografia para analisar certos traços psicológicos. Por exemplo, Charcot usou a fotografia para analisar a psicologia feminina e Galton usou-a para o comportamento criminoso. As colecções dos moldes frenológicos foram todas catalogadas e indexadas para provar certas teorias, mas o que me interessa neste trabalho é resgatar estes moldes das suas categorias científicas e transportá-los para o estado de retratos de indivíduos com um certo valor de presença fotográfica. Por isso “Retratos fotográficos antes da fotografia” é um título paradoxal e provocador. Não são fotografias de pessoas, mas tentam criar a ilusão de retratos fotográficos. A fotografia contemporânea está sempre num diálogo entre o ilusório e o realismo do próprio sujeito. À primeira vista o ilusório domina essas imagens mas retém num segundo olhar os detalhes dos moldes. As imagens podem ser vistas como uma sequência de retratos de pessoas que nasceram há mais de duzentos anos ou um tipo de documentário fotográfico e histórico com algo intrigante. Podem ainda ser entendidas como interpretações do registo de uma ilusão de vida construída e ficcional.” www.joannakane.co.uk

Princess Tolstoya Retrato da série "The Somnambulists" ©Joanna Kane 34

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William Blake Retrato da série "The Somnambulists" ©Joanna Kane 36

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Unknown Woman Retrato da série "The Somnambulists" ©Joanna Kane 37


Eustache Bellin Retrato da série "The Somnambulists" ©Joanna Kane 38

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John Keats Retrato da série "The Somnambulists" ©Joanna Kane 39


1992 Juana de Aizpuru Galeria Juana de Aizpuru Madrid

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Juana de Aiz puru é uma das figuras que mais contribuiu para as grandes transformações culturais que ocorreram em Espanha nos últimos 30 anos. Saída de uma pequena galeria em Sevilha conseguiu criar uma estrutura, a feira AR CO, que colocou Madrid no centro do circuito internacional de arte. Esta viria a ser, por vontade política, uma das principais pedras da construção da imagem de Madrid enquanto capital cultural e da Movida dos anos 80. Quisemos ouvir Aiz puru falar da sua carreira de 40 anos e de tudo aquilo que ainda lhe falta fazer. Texto: francisco vaz fernandes

Tem consciência de que é uma figura icónica para o mundo da arte e para a Espanha em geral? Posso dizer que sempre trabalhei por vocação e com grande carinho pelos artistas e pelas suas obras. Sei que isso é hoje reconhecido tanto em Espanha como fora. Penso que todo o meu esforço para que Espanha estivesse a par das grandes correntes de arte internacional também foi hoje reconhecido. Já são 40 anos à frente de uma galeria que procurou alargar o seu contexto local trazendo muitos artistas de fora de maneira a contribuir para a construção de um meio artístico interessante.

Juana com Teo.

Se Almodovar a convidasse para entrar num dos seus filmes para ser apenas Juana de Aizpuru, aceitaria? Não me sinto nada uma figura de Almodovar. Há muitos anos que o conheço pessoalmente e não penso que alguma vez se inspirasse em mim. Mas a sua galeria fazia parte do circuito da movida madrilena na qual Almodovar esteve implicado. Que recordações tem dessa época? A movida era um movimento cultural muito amplo com diferentes intervenientes e obviamente o mundo da arte estava incluído. Por isso todos passavam pela minha galeria, assim como por outras galerias. De certa forma a ARCO, que fundei, começou desde o início a estar muito ligada à movida sem que houvesse qualquer intenção. As pessoas pensavam dessa forma e chegavam ao cúmulo de dizer que a feira era a movida. Só posso dizer que foi uma época de bom ambiente, de colaboração e de apoio que chegava de muitos sectores que ultrapassavam o fenómeno da movida. Foi um tempo em que empurrávamos todos para o mesmo lado. Estávamos todos conscientes de que era uma época muito especial e que seria muito importante para Espanha e para Madrid. Estávamos conscientes que a ARCO era uma oportunidade para todos e que todos teríamos que aproveitá-la. Foi toda uma conjuntura cultural que pôs tudo a mexer porque realmente nessa época começaram a surgir personagens fantásticas no mundo da moda, do cinema, das letras, das artes, e todos começavam a relacionar-se com o meio internacional por diversas vias. Nas artes, Barceló apareceu como uma flecha e abriu caminho para que outros artistas o seguissem para uma cena internacional.

Até que ponto esta feira, que tinha como objectivo ser internacional, fazia parte de um plano estratégico de afirmação de Madrid como capital cultural europeia? Eu sempre tive a certeza de que a arte era universal, se não fosse não teria grande transcendência. Já em Sevilha, quando abri a minha primeira galeria, tinha a certeza que não era para ficar por ali apesar de ter conseguido realizar exposições importantes como Diana Airbus, Man Ray, Frank Stella, Rauschenberg, David Hockney ou Richard Hamilton. Mas naquela época, com Franco era tudo muito difícil, havia complicações para obter licenças de importação. Quando se deu a democracia comecei a viajar muito, conheci feiras de arte e fiquei espantada com as possibilidades que tinham os nossos colegas estrangeiros. Pensei que a melhor forma da arte e dos galeristas espanhóis chegarem ao nível internacional era montar uma feira em Espanha para que se pudesse mais rapidamente percorrer o imenso caminho que faltava realizar. Em Sevilha era impossível, Barcelona não se interessava e foi quando ouvi falar de um recinto para feiras em Madrid que até então não existia. Fiz-lhes uma proposta, imaginei que iriam necessitar de uma programação nova. Adrian Piera, então director do IFEMA, acolheu muito bem a ideia e um dia foi a Sevilha visitar-me e logo nesse jantar inventámos o nome ARCO 79, que se refere a Arte Contemporânea.

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1973 Segovia, com juan suarez

Sente-se vocacionada para grandes eventos? O que gostaria ainda de fazer em Espanha ou fora? Actualmente estou muito concentrada na minha galeria. Mas é verdade que sinto que ainda me faz falta, depois de uma carreira tão longa, dirigir uma grande colecção internacional, seja de um coleccionador ou de uma fundação. Gostava de ter toda a liberdade para a constituir. Penso que há poucas, para não dizer nenhuma, colecção em Espanha verdadeiramente magnífica que roce a perfeição. Conhecendo como conheço o panorama internacional, as colecções que vejo deixam muito a desejar. Mesmo a colecção Caja, que pode ser a melhor, tem estado muito parada e uma colecção tem que ser alimentada senão morre. Já não é o que foi há alguns anos quando Maria Curral era a comissária. Não a continuaram e já nem se pode considerar uma grande colecção. Eu começaria a colecção no século XXI, não remontaria ao séc. XX porque já seria muito complicado completá-la. Obviamente teria que trazer referências de trás para saber donde viemos, mas seria apenas um apontamento com poucas peças e poucos artistas.

1984 Juana de Aizpuru, Andy Warhol, Fernando Vijande, Manuel Coronado. ARCO'84

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Mas não tem uma colecção de arte? Como definiria a sua colecção? Não posso dizer que tenha uma colecção. Prefiro dizer que tenho um acervo muito grande, talvez o maior de Espanha. Mesmo para um nível internacional tem um tamanho considerável. No entanto, são peças dispersas que não obedecem à lógica de uma colecção. Tenho peças fantásticas, é verdade, mas por exemplo, se vier alguém de um museu que precise dessa peça, pois evidentemente vendo-a. Estou consciente que fará mais sentido nesse museu ou colecção do que propriamente no meu acervo. Podemos saber quais as obras que reservou para o seu quarto ou aquela que está mais perto de si quando se levanta? Tenho duas casas, uma em Madrid e outra em Sevilha. Talvez goste mais da de Sevilha porque a tenho há mais anos. No meu quarto de Sevilha tenho uma tela de Dukoupil e uma fotografia de Yasumasa Morimura que gosto particularmente. Também tenho umas fotos antigas de Alberto Garcia-Alix. Imagino que continue muito ligada a Sevilha, só assim se compreende o esforço da Bienal de Sevilha em 2004 que tinha Harald Szeemann, uma estrela, como curador. Quando começo projectos não é porque esteja sem saber o que fazer, não é por pressão de fazer coisas. Primeiro apuro que há uma necessidade premente e vejo se tenho possibilidades, e se mais ninguém se habilita então dou um passo à frente e avanço. Eu via que os anos 70 em Sevilha tinham sido melhores que os 80 e que o caminho que levavam os 90. Via que Sevilha não prosperava e não se abria ao exterior, que a sociedade sevilhana não se motivava e por isso pensei organizar uma bienal, já que este formato teria gastos muito menores que os de um museu ou mesmo de uma feira de fotografia ou áudio visuais que também tive em mente. Queria que o público tivesse a oportunidade de estar em contacto com a arte internacional e com as novas tendências do momento. Depois de ter falado com as instituições locais, que não acolheram bem o projecto no momento, criou-se uma fundação privada de 32 empresários e profissionais sevilhanos, entre os quais eu. Assim nasceu a Fundação Bienal Arte Internacional de Sevilla, que teve a sua primeira exposição em 2004 com Harald Szeemann como curador. Este ano realiza-se a terceira edição, dedicada às novas tendências electrónicas.

Por que criou uma galeria em Sevilha num ambiente franquista opressor? Os meus contactos com o mundo da arte começaram a partir de uma colecção modesta que fui formando nos anos 60. Não tinha muitos meios económicos, mas sempre gostei de arte contemporânea, e quando casei e fui viver para Sevilha encontrei uma sociedade muito fechada e logicamente procurei encontrar o meu mundo onde pudesse mexer-me à vontade. Havianessa época um movimento artístico produzido por uma série de pintores que tinha rompido profundamente com a tradição académica de Sevilha e estabeleceu conexões com a arte americana. Todos eles expunham numa galeria discreta onde eu fazia as minhas pequenas aquisições. Com o tempo conheci todos esses artistas e quando a galeria fechou, no final dos anos 60, todos eles, mesmo os que vinham de Madrid como Millares, encorajaram-me a abrir uma galeria onde eles pudessem mostrar o seu trabalho. E não pensei muito, procurei um espaço e de um dia para outro, em 1970, converti-me de coleccionista a galerista. Para si, qual é o maior aliciante na carreira de galerista? O mais fantástico é o contacto com os artistas. Mas todo o meu trabalho, no seu conjunto, é maravilhoso. O galerista é uma figura que, dentro de todos os sectores do mundo da arte, é o que mais participa em todos os momentos por onde passa a criação. Desde que se cria até ao ponto final do seu destino. Estamos muito perto dos artistas. Pelo menos pude assistir ao processo de criação ao lado de muitos artistas. Depois chegamos à fase em que a obra chega à galeria e já estamos numa outra etapa que é a fase da difusão para que ela chegue ao público e para que este a possa compreender. Finalmente há o contacto com os coleccionadores, que também gosto muito, quer sejam privados ou públicos, e que fazem com que a obra encontre o seu destino. Todas estas facetas da minha profissão me satisfazem plenamente e fazem-me sentir um verdadeiro amor por ela. Estar ao lado dos jovens artistas, descobrir novos valores, apoiá-los desde o início e vê-los crescer parece-me maravilhoso.

Juana de Aizpuru, sevilhana do ano 1973

Acompanha o trabalho das novas gerações, mesmo em áreas como o cinema e a literatura. Há uma quantidade enorme de novos escritores magníficos, mas também verifico isso no cinema na música. A Espanha em, geral está a viver um período muito interessante, finalmente apanhámos o comboio da internacionalidade. Somos uma grande potência, não só no campo artístico e cultural mas também na área do desporto. Agora mesmo, no campeonato mundial de natação ganhámos várias medalhas e batemos vários recordes. No campeonato de fórmula 1 estamos muito bem. Em muitíssimas coisas estamos no topo do mundo. Essa Espanha que nos anos 80 começou a ressurgir nunca mais parou. Deram-nos a oportunidade e saímos disparados. Isso iniciou-se com a minha geração, mas vejo que tem tido uma digna continuação. Em todas as áreas. Muitas coisas são novas, nunca tínhamos tido grandes compositores nem figuras de primeiro plano na área do cinema. Neste momento a Espanha contribui muito para a cultura universal, como era lógico que assim acontecesse dado o nosso passado. Espanha sempre foi uma grande potência cultural. Por isso tínhamos uma obrigação histórica a cumprir proporcionando às gerações actuais perspectivas mais amplas do mundo.

Não posso deixar de abordar os seus sapatos de salto alto. Sempre me lembro de si durante a ARCO, horas e horas em cima de saltos altos, o que me faz uma certa confusão. É uma apaixonada por sapatos de salto? Sempre gostei de estar bem calçada. Esta é a verdade. Não me canso de andar de saltos altos, ao contrário do sapato desportivo que toda a gente diz que é muito cómodo. Sinto-me muito mais incomodada com esses sapatões largueirões de desporto. Nunca usei sapatos com tacões muito altos, geralmente eram medianos e feitos de peles finas e macias. E por isso, na ARCO, usava sempre salto alto pois estava com os sapatos que sempre usei, mesmo que a maioria dos meus colegas usassem sapatos rasos ou ténis.

www.juanaaizpuru.com

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TASTER Uma trinca no vinil na foto: Waajeed, no Taster

Texto: carla isidoro – Foto: redbull music academy

“Se alguém disser mal do Sinatra andamos à porrada.” Foi com muito sentido de humor que Carlos do Carmo manteve uma audiência atenta a ouvilo. Escolheu «I got you under my skin”, tema onde Frank Sinatra canta ao vivo acompanhado pela orquestra de Count Basie, mas antes de soltar a canção o fadista lançou um isco: “oiçam, ele domina completamente, está a reinar com a orquestra, bem disposto, solto.” É nítida a admiração que tem pelo crooner e esta foi uma das músicas que deu a conhecer no encontro da Academy em Lisboa, no mês passado, a algumas dezenas de participantes oriundos de diferentes pontos do país. Entre eles caras conhecidas do nosso circuito musical moderno e perfeitos desconhecidos vindos do Algarve ou Norte, todos eles jovens que produzem mais ou menos profissionalmente, gravam e vendem as suas mixtapes, são Dj’s e tiram da música um grande gozo. Um pouco à imagem do grande evento internacional que todos os anos a Redbull Music Academy faz numa cidade do mundo, a organização portuguesa reuniu condições num antigo edifício do Chiado para proporcionar, pela primeira vez, um encontro da Academy à escala nacional e em tempo reduzido. O encontro internacional dura cerca de duas semanas para cada grupo de participantes, enquanto o de Lisboa – ao qual chamaram adequadamente de Taster – teve a duração de três dias. Durante este período houve espaço para os vários participantes se conhecerem, trocarem ideias, conversarem, mostrarem músicas uns aos outros, trabalharem nas MPC’s, fumarem um cigarro na magnífica varanda com vista para os telhados e o Tejo, partilharem juntos as refeições, saírem à noite e divertirem-se. Paralelamente, grandes nomes vieram exclusivamente a Lisboa dar uma conferência – em jeito de conversa aberta -, confraternizar com os participantes e actuar num clube da cidade. Carlos do Carmo foi o único representante da música portuguesa no encontro, enquanto de fora chegaram Juan Atkins (pai do Detroit Techno), o produtor Arthur Baker (ligado ao sucesso

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Taster foi o nome encontrado pela Redbull Music Academy Portugal para um evento inédito em Lisboa com certo sabor a petisco gourmet. Jovens produtores portugueses e grandes figuras da música nacional e internacional fizeram uma viagem de eléctrico com partida em Detroit e término no Chiado. de figuras como Afrika Bambaataa ou New Order) e Waajeed, um dos mais proeminentes produtores do momento. Cada um deles foi convidado a dar uma palestra informal para falar do seu percurso, da forma como vive a música, das pessoas que se conhecem, das rotinas de trabalho e – uma das facetas mais interessantes da conferência – mostrar alguns temas pessoais ou músicas de artistas preferidos. Ouviu-se Jacques Brel, Juan Atkins, João Carlos Jobim, Mariza, entre outros nomes reconhecidamente importantes. No final do segundo dia os participantes reúnem-se ali mesmo ao lado, no bar do Bairro Alto Hotel, para um Dj set. São 15 minutos de fama, tocam-se vinis comprados numa feira ou encomendados online, fazem-se picardias com beats mais ou menos acelerados, bebe-se uma cerveja em copo de galão enquanto o eléctrico 28 passa lá fora a caminho do bairro da Graça. O ambiente está descontraído e o sol põe-se finalmente, doce alaranjado, antecipando um novo dia de emoções e uma noite que ainda tinha muito para contar: os Tuga All Stars em exibição no Music Box que culminaria, algumas horas depois, com o escandaloso techno de Juan Atkins. A noite acaba tarde, com a pista de dança cheia e suada. Às 11h30 da manhã Atkins senta-se diante da audiência ainda ensonada. O criador do techno, de óculos escuros postos até o final da conversa, fala do seu peculiar percurso em Detroit na década de 80, dos anos em que produziu sozinho em casa até o seu som rebentar, da editora que criou para lançar as suas músicas até finalmente a Europa libertá-lo de Detroit e pôr o mundo a dançar Techno: “Nenhuma editora queria editar-me porque o meu som estava muito à frente do tempo. As majors diziam simplesmente ‘No!’ Tive de criar a minha label mas nem pensei nela como uma empresa, só queria editar a minha música. Havia muito mercado na Europa e começámos logo a exportar, a label começou logo a pagar-se a ela própria e a fazer dinheiro.”

A palestra da tarde, e última do encontro do Chiado, era uma das mais ansiadas, não fosse Waajeed uma referência actual para muitos dos participantes. Waajeed, jovem produtor americano que desenvolveu a sua carreira ao lado do mítico J Dilla, prometia uma conversa cheia de confidências e boa disposição. Durante o evento confraternizou animadamente com os participantes, assumindo uma postura cool, ouvindo os sons de Kronic, Kacetado e Dj Ride enquanto os picava na MPC e trocava dois dedos de conversa com outros participantes. À tarde, durante a conferência, revelou-se um artista focado, com rotinas rígidas e um organizado método de trabalho, e bastante acessível no trato. Falou dos vizinhos de bairro Dwelle e J Dilla, contou a história da sua primeira MPC (encontrou-a no chão do quarto de Dilla mas tinha passado pelas mãozinhas de Questlove que a encravou e inutilizou parcialmente), lembrou-se das músicas de jazz que o pai ouvia à noite, era ele miúdo, e pôs a tocar alguns dos seus sons ainda por estrear. Rematou a conversa com sugestões firmes: “Ouvi muita coisa boa aqui, procurem ser originais, pensem no vosso trabalho como algo que pode levar-vos longe e tornar-vos um líder. Criem o vosso espaço.” No último dia de Taster ainda houve tempo para uma private party com Waajeed a tocar músicas dos The Eurythmics ou White Stripes e ainda um pezinho de dança, mais tarde, no clube Mini Mercado com Arthur Baker a fazer as despedidas. A próxima paragem é Barcelona, cidade eleita para acolher o encontro internacional da Redbull Music Academy. Portugal lá estará representada, resta saber por quem. A fase de candidaturas termina em Maio, descarreguem o formulário do website internacional.

www.redbull.pt www.redbullmusicacademy.com

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série de mobiliário "made in china"

Depois de uma formação na Royal College of ART, Julie Mathias e Wolfgang Kaeppner formaram a Wok Media. A dupla saltou para o estrelato depois da colecção para crianças «Made in China» ser distinguida pela International Design Magazine como uma das grandes revelações de 2007. Texto: carla carbone

Julie Mathias nasceu em 1976, em França, e Wolfgang Kaeppner nasceu na Alemanha uns anos antes, em Estugarda. Foram encontrar-se no prestigiado Royal College of Arts (RCA), onde tudo converge e se confunde, e onde Ron Arad, entre outros professores, fizeram alarga-lhes horizontes e entender que o design pode percorrer caminhos diversos, sem deixar, por isso, de ser design. O design pode ser muitas coisas mais. Mathias e Kaeppner comparam a formação e a permanência no RCA a uma estadia num aeroporto: “É onde há muitas estradas e onde pode-mos escolher uma delas, de entre muitas das que nos são oferecidas. A diversidade é infinita. Começando pelas pessoas, que são, na sua larga maioria, de proveniências muito dispares. Ali tudo é possível, desde que faça sentido”. Ron Arad foi professor de Julie Mathias e Kaeppner na disciplina de Design de Produto e abriu-lhes significativamente os horizontes, mostrou-lhes uma panóplia de saídas, consistindo para isso que os designers com desenvoltura pudessem flirtar com quase todas as áreas, sem constrangimentos, sobretudo com a arte. Do encontro dos dois designers resultou a Wokmedia, e dos projectos mais intrigantes que conhecemos da dupla podemos destacar o mobiliário Made in China.

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made in china A expressão Made in China, dizem os designers, está geralmente associada à produção em massa, sendo que oitenta por cento da produção de brinquedos do mundo inteiro está sediada na China: “Esses brinquedos massificados estão cada vez mais a inundar os lares tradicionais e rurais chineses, ameaçando a sua cultura e o seu mobiliário.” Escolheram, por esse motivo, brinquedos realizados em madeira, porque era o material de que dispunham, e o tratamento da superfície em branco (lacado) porque queriam dar aos brinquedos a mesma aparência da porcelana chinesa: “Enfatizar a fragilidade da peça”, explicaram. Contrataram, por isso, artesãos muito talentosos para o fazer. E os artesãos incrustaram fragmentos de brinquedos lustrosos e cabeças de bonecos nas peças de mobiliário chinês tradicional. “Levaram, em média, duas semanas a serem construídos e, para isso, foram necessários três artesãos. Na realidade esta série foi totalmente feira à mão. Primeiro o mobiliário chinês tradicional foi todo restaurado, depois os próprios brinquedos foram talhados e integrados nessas peças de mobiliário, sofrendo ainda os acabamentos em lacados brancos”. As cabeças dos bonecos a espreitar em cada uma dessas peças, para os designers significa: “brinquedos inocentes de crianças a actuarem como invasores e a emergirem do nosso mundo interior secreto, e das nossas memórias de infância”. Made in China, para a dupla, não representa apenas uma preocupação em recrear o desperdício, em reciclar os materiais, mas igualmente o desejo de reciclar emoções, ou estereótipos psicológicos. “No nosso trabalho é frequente preocupar-nos com a dimensão emocional e com os arquétipos da memória ou com as sensações físicas”.

O trabalho da dupla pode ser encarado de diversas formas. Algumas pessoas, na realidade, poderão projectar a sua personalidade e as suas preocupações, ou memórias infantis, naquelas formas e figuras. Mathias e Kaeppner estão interessados na exacta relação e emoção que cada boneco, ou figura, pode suscitar junto da mobília tradicional chinesa. Também apetece dizer que mais parecem fazer um pouco de crítica social ao excesso de consumo presente nos nossos dias e à facilidade com que – ao adquirir essas mesmas coisas que tanto desejávamos – depressa as abandonamos, no momento seguinte. Tal qual uma criança, com os seus brinquedos e os seus caprichos. Os designers confirmam que, em parte, foi por esse motivo que escolheram os brinquedos. Significa, para eles, jogar com o outro extremo onde se encontra o mobiliário tradicional, que é suposto guardar-se e durar uma vida, passar de uma geração para outra. “Nós, no nosso trabalho, somos largamente inspirados pela ideia do caos, da confusão. A partir do caos, somos levados aos dois extremos, e começamos a construir um mundo novo, que nos oferece possibilidades, no sentido criativo. Gostamos de pensar, por isso, que um objecto pode ser uma coisa completamente diferente”. Abraham A. Moles, era muito bom nisso. Em observar como os objectos se classificavam e eram interpretados, por nós. Assim que perdiam a sua função inicial para passarem a uma nova realidade, a uma nova exigência, ou utilidade. Como acontece aliás, com as multi-funções de que fala Baudrillard. new breed @ Design miami 2007

www.wokmedia.com

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rojo/nike

ROJO NIKE @Lisboa

do mediterrâneo ao atlântico Texto: miguel moore

A propósito da sua vinda a Lisboa* num projecto comissariado pela revista espanhola ROJO e pela Nike, conversámos brevemente com Ovni e UIU. Artistas com forte presença nas ruas de Barcelona que têm sabido manter-se um passo à frente dos controladores e que atravessaram a península para se encontrarem com o outro azul, do Atlântico.

* Rua do Norte, 73 – bairro alto – dias 4 e 5 de abril

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Do outro lado da Meseta, no outro extremo da península sobre o azul do Mediterrâneo, Barcelona resiste ao cinzentismo imposto à criatividade de rua através de caminhos alternativos. A cultura artística de rua despediu-se do centro e procura vias alternativas nos extremos, do submundo às galerias. Sob directiva do Ayuntamiento, aprovada em Dezembro de 2005, a lei da coexistência pacífica veio desbravar o caminho para a limpeza total das ruas da capital catalã. A cidade que outrora se

mostrava orgulhosa da sua identidade libertária e que, nos últimos anos, se afirmara como capital das novas tendências no panorama da criatividade gráfica e visual urbana, teve de se reinventar de um dia para o outro. Ao se proibirem manifestações e acções de rua, da prostituição à distribuição de flyers, do skate ao graffiti, Barcelona foi forçada a readaptar-se à nova realidade das paredes cinzentas, das ruas controladas, da coacção e controlo imposto aos seus cidadãos. Tolerância zero. A arte de rua foi quem mais sofreu com a política de repressão, tendo sido obrigada a encontrar novos caminhos para

se expressar. Num dos extremos assinalou-se o regresso ao vandalismo e às práticas de intervenção rápida, no outro intensificaram-se as ramificações para espaços expositivos interiores, acções mais institucionais que pretendem catalizar a criatividade de rua num panorama mais conformista. Quem cria sabe, no entanto, que ambas as vias são válidas, o que interessa é manter viva a criatividade, a expressão e o talento. Pintar na rua, pintar na galeria, a luta é a mesma. E a luta, essa, continua.

www.rojo-magazine.com

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legendas 1. COSMUIU, galeria Fashion Dogs, BCN. (fev-mar 2008) – UIU 3. Rua de BCN – UIU 3. Brinca-Salpica, galeria ZDB, LX (fev2006-fev2007) – UIU 4. ilustração, acrílico sobre cartão, 2007 – OVNI 5. exposição individual INTRA, bcn 2007

OVNI

UIU aka Nuno Valério UIU é português e quase dispensa apresentações. Fez de Barcelona a sua base há cerca de dois anos e meio, mas mantém ainda uma forte ligação às suas raízes tuga. Vive do trabalho gráfico que desenvolve com o seu estilo muito próprio, desenvolve trabalho em ambiente de galeria, mas mantém acima de tudo uma forte acção interventiva na rua, numa luta contínua de re-apropriação do espaço colectivo urbano. Quer é estar do lado dos que curtem a vida, sem repressões, sem imposições, sem paredes gris. Pela criatividade, sem moléstias. Barcelona. “Só mudou o ke faço na rua, tive de me adaptar às circunstâncias, coisas mais rápidas, menos cores, etc... apesar de estar mais activo ke nunca... ou seja, não é c repressão ke me param seguramente... e claro, estou a aprender muito c este processo.” Portugal. “Ñ penso muito em Lisboa, eu nunca vivi em LX, sou do subúrbio, e dps mudei-me para as Caldas da Rainha. Tenho lá grandes amigos, e é uma cidade ainda muito marcada pela minha mão. Eu quando volto a Portugal tenho um pouco a ideia de estar a entrar numa arca frigorífica, parece ke ta tudo congelado no tempo. Da última vez ke aí estive, ouvi pessoas ke nunca se queixavam de nada a queixarem-se de tudo, numa depressão generalizada, a fazer lembrar os tempos em ke o Cavaco era primeiro-ministro...Vejo muita cópia, demasiados seguidores de tendências e pouca originalidade... porém há alguns "undergrounds" ainda por descobrir pelo "mainstream" tuga que me deixam esperançoso...”

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Ovni na rua, Taratiel na galeria. A artista de Barcelona gosta mesmo é de trabalhar, independentemente do meio. Com pessoas sobretudo, no colectivo Los Martinez ou com o companheiro de muitos projectos, Kenor, com quem estabeleceu uma forte parceria assente na cumplicidade e numa fusão fluida de estilos. Mas não descura o trabalho individual, nem o trabalho gráfico que lhe permite sustentar outros projectos artísticos. De Barcelona confessa gostar do azul, e dos domingos de paella com a família Martinez

Rojo/Nike Lisboa. “Eu vou vazio, vou para experimentar, já coincidi c a Ovni em algumas pintadas por Barna, mas só os 2 nunca fizémos nada, e apesar de pormos mta energia interior nakilo ke pintamos, temos estilos diferentes, então vai ser uma descoberta.

Rojo/Nike Lisboa. “Surpresa!” Arte. “Tenho pintado toda a minha curta vida. Comecei em pequena com aulas de pintura e sempre segui estudos artísticos. Ovni surgiu em 2001/02, com a intenção de intervir livremente na rua... puro prazer e emoção, a parte livre da minha carreira artística. Se bem que toda a carreira artística se baseie na responsabilidade e no compromisso.”

Vida. “O ke me dá gozo na vida é disfrutá-la ao máximo... há os ke a kerem curtir e há os caretas; eu estou c os primeiros, amigos do ke é bom!” Trabalho.”O meu trabalho tem um carácter pessoal mas ñ é propriamente auto-biográfico, eu acima de tudo conto historias, e cruzo-as, são como redes, são como os nossos dias. Acho ke analiso demasiado, embora tente ñ perder a espontaneidade ke temos de putos e ke vamos perdendo c a idade. Acaba por ser um binómio, entre inocência e maturidade. Sempre a trabalhar, primeiro ke tudo nas minhas coisas, mas como não vivo de vender originais tenho ke me mover c marcas, revistas e outros projectos, sem me fazer de convidado nunca, divulgo o meu trabalho c os meios ke posso e fico à espera de convites. (e hoje em dia c a internet e a possibilidade de editares conteúdos de forma gratuita ninguém se pode keixar ke ñ lhe editem isto ou akilo, agora se te convidam ou ñ isso já são outros quinhentos).”

Trabalho comissionado. “A minha condição é eu ter liberdade para fazer o ke kero em qualquer projecto, caso contrário estou fora. Os únicos limites a ke me sujeito são logísticos, de formato e suporte.” Rua vs Galeria. “Depende do contexto de rua e da galeria.” Projectos. “Inauguro uma exposição no Districto 5.0 no dia 12 de Abril, em Barcelona. Fiz uma cena para a Gulbenkian também, e outras coisas ke ñ posso revelar ainda... ok, um sim... brevemente (e já em marcha): sparkl.E.motion ( c FR).

w.uiu-uiu.com

Estilo. “Creio que o estilo se encontra a partir das experiências e sentimentos que são transmitidos pelas tuas inquietações. Suponho que me tenha sempre sentido perdida neste mundo dimensional em que transitamos...muitas dúvidas e muitas opiniões...daqui surge Ovni e o seu mundo de perspectivas incoerentes.” Trabalho. “Recorro ao design gráfico para complementar a minha obra em outros formatos. É mais uma técnica, útil e importante. Baseio-me muito na intuição e espontaneidade, gosto de me fundir com o espaço ou suporte, escutar o que este me pede…Antes ou depois é importante reflectir sobre a obra; faz com que te conheças mais e te aprofundes nela.”

Barcelona. “Intervir livremente nas ruas de Barcelona está complicado. És obrigado e pensar e reflectir mais sobre a obra e o sítio. O Ayuntamiento está mesmo contra nós. A cidade tem que acordar e não se limitar a ser apenas outra cidade europeia. Desejava que Barcelona não perdesse o seu style.” Rua. “Um monte de prendas para os seus habitantes e portas tapadas. Há anos atrás comecei um projecto pessoal de pintar portas fechadas. Era a minha maneira de abrir dimensões em lugares esquecidos. Tenho um carinho muito especial para com este projecto de rua…ainda está vivo, e continuo a abrir portas tridimensionais sempre que encontro uma.” Galeria. “Trabalho muito em galerias, como Ovni ou Taratiel, individualmente ou em colectivo. Em Dezembro expus com Tom14 na Montana Gallery em BCN, em Fevereiro com Kenor em Berlim, agora com Zosen…gosto imenso de trabalhar em grupo e partilhar, é uma forma mais comunicativa na arte.” Rua vs Galeria. “Generalizar é difícil…talvez a rua seja a parte livre, a comunicação directa com as pessoas, o único espaço que partilhamos todos, união com a cidade e os seus cidadãos, a comunicação fluida. A galeria entendo como algo mais específico, mais intencional.”

Parcerias. “Com o Kenor, somos irmãos, gostamos de trabalhar juntos porque é muito fácil e fluímos muito bem. Sei que é complicado encontrar alguém com quem trabalhar na mesma obra sendo como uma só pessoa. Encontrámo-nos há cerca de 3 anos numa altura em que as nossas obras já tinham muitas semelhanças. Eu sempre trabalhei um pouco mais com as dimensões e Kenor com a abstracção. Mas com os anos suponho que era inevitável influenciarmo-nos, e tirarem-se coisas de um e do outro para trabalhar a nossa obra conjunta. Mesmo que seja importante termos a nossa própria carreira individual para enriquecer o grupo. Los Martinez são um sentimento, um trabalho colectivo e mais social, de comunicação, ideais, pessoas…e paellas aos domingos.” Trabalho comissionado. “Trabalhar com comissários pode ser enriquecedor. As novas propostas e ideias ajudam a abrir horizontes.” Projectos. “É difícil ficar quieta…viajar e desenvolver projectos noutros países é necessário. O ano passado estive a viver em Berlim com Kenor. Tínhamos um atelier na (Kunsthaus) Tacheles, fizemos exposições e trabalhámos muito nas ruas. Berlim tem um encanto underground especial. Continuamos com a ponte Barcelona-Berlim. Em Junho próximo voltamos lá. Entre outros projectos estou a organizar uma expo na Neurotitan Gallery (www.neurotitan. de/) com Zosen, Tom14 e Kenor. Vai ser um bom evento porque o espaço é enorme e super bonito...se forem a Berlim este verão já sabem onde ir!”

www.taratiel.com/

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“Mad Men. A term coined in the late 1950’s to describe the advertising executives of Madison Avenue. They coined it.” Esta é a primeira mensagem que passa, no primeiro episódio de «Mad Men». Saída da cabeça de Matthew Weiner, um dos responsáveis pelos dramas da família Soprano, mostra outro tipo de mafiosos, com mecanismos de extorsão menos cruéis, mas mais sádicos e requintados: os publicitários.

Texto: mário nascimento

Na verdade, a primeira mensagem de «Mad Men» nem é a tal frase. O genérico, com uma banda sonora clássica mas moderna, mostra, ao estilo de Saul Bass (mas muito mais light e apelativo, claro) a silhueta de um Ícaro executivo, cujo escritório num dos caros últimos andares de um arranha-céus, desaba repentinamente; durante a sua queda, as janelas dos outros edifícios reflectem visuais à Norman Rockwell, acompanhados de slogans da época. Ícaro não cai exactamente no chão, pois a sequência é cortada por um plano onde ele se encontra confortável e elegantemente sentado na sua poltrona, a fumar. Ficamos sem perceber se a queda não terá sido antes uma ascensão vertiginosa na carreira. Afinal, o Princípio de Peter também se aplica à publicidade.

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Lies well sold «Mad Men» passa-se em Nova York, no fim dos anos 50, e gira à volta de Don Draper, Director Criativo da agência de publicidade Sterling Cooper. Don é um selfmade man, esforçado mas com um talento natural, pai afectuoso, marido extremoso de uma stepford wife (termo inventado dez anos depois, mas fica a figura), adúltero carinhoso e respeitoso, chefe tolerante, justo, bom líder de equipa, enfim, é praticamente perfeito. E, como é perfeitamente normal num homem assim… ‘he’s losing it’. À porta do seu escritório está Peggy, uma secretária, ingénua, mulher feita mas ainda não cumprida; tendo o seu próprio subplot na série, não interage muito com Don, contudo, embora estejam em fases opostas das suas vidas, são personagens muito parecidos. É mesmo só uma questão de contar os remendos de estuque que cada um já aplicou à sua personalidade. Entre o Director Criativo e o harém de secretárias e telefonistas, passam pelos escritórios da Sterling Cooper os redactores, que mandam as suas ideias para o departamento de arte e ilustração, de onde saem desenhos bonitos que os jovens executivos mais tarde venderão diligentemente aos seus clientes, sejam eles a Lucky Strike (diz que fumar talvez interfira com a saúde) ou os mandatários da candidatura de Nixon (diz que Kennedy talvez interfira com as eleições). Quem vir «Mad Men», para já, vê muito álcool e muito, muito fumo: quase todas as frases saem das bocas dos actores com um rasto de nuvem. Depois de dissipado esse nevoeiro, vemos então um retrato da sociedade da altura, onde os cavalheiros se arranham para ver quem consegue ser mais homem sem despentear o cabelo, enquanto as mulheres disfarçam os arranhões para serem o mais senhoras possível.

O chamado sonho americano levou um make-over e foi revendido ao país por esta gente, a coisa que Deus pôs na Terra mais parecida com uma sereia e que não cheira a peixe, mas também tem escamas. E, de facto, numa sociedade onde Kinsey havia sido abafado, o amante de Lady Chatterley continuava secreto, o sexo era promíscuo mas o amor ainda não era livre, bom, se os desejos não são exteriorizados ou expressos por quem os tem, ninguém melhor que um publicitário para os definir (também havia a psicologia, mas isso era mais para malucos). É engraçado encontrarmos em «Mad Men» nomes de criativos, agências e campanhas publicitárias que existiram mesmo na altura; é pena que essa pesquisa não tenha tido o mesmo rigor que a direcção de arte e o guardaroupa, mas é ‘apenas’ um pormenor. Já que se fala em publicitários que existiram, a campanha do canal AMC para a série inclui vários spots, curiosos e interessantes, com várias lendas vivas da publicidade daquele tempo. Quem vir «Mad Men» vê também uma série premiada recentemente com dois Globos de Ouro (melhor série dramática e respectivo melhor actor). O seu elenco tem umas caras mais conhecidas que outras, mas agora, de certeza que nos vamos cruzar mais vezes com elas. É que isto da publicidade, parecendo que não, tem o seu efeito.

www.amctv.com/originals/madmen/

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Men@ Work fotografia: Pedro Pacheco www.pedro-pacheco.com styling: Conforto Moderno make up & hair: Rita Sousa com produtos Giorgio Armani ritasousamakeup@gmail.com Modeloa: Daniel Cardoso (L'agence), Gonçalo Teixeira (Central Models) assistante de fotografia: Hugo Silva

óculos Alexander McQueen, camisa LEVIS e calças LEVIS 513 skyny leg

jardineiras e t-shirt LEVIS, camisa carhartt, blaser JOHN VARVATOS para CONVERSE ténis ADIDAS originals/Stan Smith na Sneakers Delight, chapéu DIESEL e óculos PERSOL

calças LEVIS Engineered, camisa LEE, gravata GANT, cinto PEPE JEANS relógio NIXON, na Big Punch, chapéu ANALOG na Skywalker e óculos PERSOL

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calças LIDIJA KOLOVRAT, t-shirt, camisa e colete DIESEL t-shirt e cordão ao pescoço LEVIS, cinto DECENIO e sapatos CAT

calças DIESEL, Blazer MIGUEL VIEIRA, camisa ZENHA/ Sport, sobre camisa LEE/ Gold Label cinto HENRY COTTONS, cordão ao pescoço DINH VAN/Pi e pulseira DiNH VAN/Serrure

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à esquerda óculos MARC JABOBS e à direita VALENTINO. Em primeiro plano calças LEE/Gold Label, t-shirt Marlboro, camisa Gant, cup PUMA, botas CAT. Em segundo plano, calças LEE camisa CARHARTT, cordão ao pescoço DINH VAN/Razor

calças LEVIS/Engineered, blaser ZENHA, camisa e gravata FRED PERRY cinto PEPE JEANS, ténis NIKE/Dunk

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A little bit of Grey Gardens produção: Ricardo Preto assistido por Andreia Scheffer fotografia: Ricardo Quaresma Vieira maquilhagem: Catarina Pedroso cabelos: Paulo Vieira

Danuta veste: alfinete Ricardo Preto, colete Mango, cinto Fendi na Loja das Meias collants Berkshire, lingerie Lomma, sapatos Dolce Gabbana na Stivali Teodora veste: saia Henry Cotton, colar Otazu, chapéu Diesel sapatos Barbara Bui na Espace Cannelle, carteira Barbara Bui na Espace Cannelle

Danuta veste: calça Jil Sander, top Pepe Jeans, casaco Mango, sapatos Fly London lenço Hermés, casaco em malha Jil Sander, saco Marlene Berger

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Teodora veste: macaco Diesel, top Chloé sapatos Dolce Gabbana na Stivali, cinto Prada

Danuta veste: vestido Chloé na Stivali, camisa Patrícia Pepe alfinete Otazu, sapatos Barbara Bui na Espace Cannelle

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Danuta veste: calção Prada, top Mango, top Patrícia Pepe sapatos Dolce Gabbana na Stivali

Danuta veste: camisas Isilda Pelicano, vestido Nuno Baltazar PARQ

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Teodora veste: vestido Pedro Pedro, top Diesel, lenço Hermés top Massimo Dutti, alfinete Sonia Rykiel na Loja das Meias

Danuta veste: vestido Pedro Pedro, brincos Otazu na Espace Cannelle top Pepe Jeans, chapéu Diesel, cinto Prada

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Vanishing point (EUA, 1971)

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cine parq na zdb — jukebox baby entrada gratuita O cinéfilo Mário Valente programou um mini ciclo de cinema PARQ. Seleccionou filmes carregados de música que dificilmente encontramos numa sala de cinema. À quarta-feira na ZDB, 21h30. Entrada livre. Mário Valente: “A música faz-se personagem em três musicais que não o são, tecnicamente. Filmes que partem de uma certa ideia de contracultura e se moldam a partir das canções. Três filmes raros, essenciais, a redescobrir ou espreitar pela primeira vez.” //zonanegra.blogspot.com/

Vanishing point (EUA, 1971)

Dia 09, 21h30: VANISHING POINT (EUA, 1971) de Richard D. Sarafian com Barry Newman, Dean Jagger, Cleavon Little Voltou a andar pelas bocas do mundo à custa das citações em «Death Proof», mas quem o viu realmente? Kowalski é «the last American to whom speed means freedom of the soul» num filme de acção minimalista, pontuado por uma banda sonora repleta de funk e rock setentista. O narrador é um radio jockey que comenta uma viagem alegórica em direcção à morte. Dia 16, 21h30 OUT OF THE BLUE (EUA, 1981) de Dennis Hopper com Linda Manz, Dennis Hopper, Sharon Farrell «Out of the blue and into the black», como diz Neil Young no seu hino ao punk, «Hey Hey, My My», tema que envolve o genérico e dá mote a todo o filme. Drama on-the-road degenerado, como um filho de «Easy Rider» que em vez de rock psicadélico prefere trancar-se no quarto a ouvir o punk que chegava de Inglaterra: «Kill all hippies!». O «no future» apregoado pelos Sex Pistols feito aparatoso acidente de camião.

the loveless (EUA, 1982)

Dia 23, 21h30: THE LOVELESS (EUA, 1982) de Kathryn Bigelow e Monty Montgomery com Willem Dafoe, Marin Kanter, Robert Gordon Fita de estreia da autora de «Near Dark», rodada a meias com o futuro produtor de «Wild at Heart» e «Twin Peaks». É uma revisitação arty aos velhos biker movies dos anos 60, estilizando a acção e reduzindo a história ao mínimo, para que reste apenas o fetichismo sexual do cabedal e cheiro a pneu queimado. John Lurie e Robert Gordon, que também protagoniza, tratam do acompanhamento musical.

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21,22abril Parq Here

black lips

30abril Parq Here

the gutter twins Texto: pedro figueiredo

São uma banda verdadeiramente especial hoje em dia, num tempo em que a grande maioria do rock contemporâneo é feito por autênticos meninos. São dos raros sobreviventes rockeiros que vivem a música – ênfase no ‘vivem’ – em perfeito hedonismo, confronto, festa e com a maior e mais desgovernada tendência para fazer merda. Depois de serem banidos de várias salas de concertos no seu Estado da Georgia, a Bomp! Records deu-lhes o seu primeiro contrato discográfico, que durou para um par de álbuns. O terceiro longa-duração, «Let It Bloom», aparece por uma das principais mecas para o rock contemporâneo, a In The Red, casa de autênticos embrulhos da má onda como os Dirtbombs, Hunches ou Pussy Galore. Cervejas ao alto.

Formados por dois ícones do rock alternativo norte-americano, os The Gutter Twins aterram em Lisboa. O motivo maior de celebração é «Saturnalia», álbum de estreia do colectivo editado este mês. Greg Dulli foi, em tempos, líder dos Afghan Whigs, banda de relativo sucesso no panorama indie norte-americano. Mark Lanegan foi o vocalista dos Screaming Trees, grupo pioneiro na revolução musical made in Seattle de começos dos anos 90, e Kurt Cobain era um dos seus maiores fãs. Os Gutter Twins surgiram como uma brincadeira. Em entrevista, Lanegan lançou o rumor de que estaria a gravar um trabalho com Greg Dulli. Entre o rumor e a confirmação de «Saturnalia», o Santiago Alquimista recebe a dupla para uma noite de rock histórico com uma visão, contudo, de futuro. Dia 30, Santiago Alquimista – Lisboa

Dia 21 – PORTO RIO, Porto Dia 22 – LUX, Lisboa

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rua do norte em festa Texto: francisco vaz fernandes

No primeiro fim de semana do mês as atenções vão estar voltadas para a Rua do Norte que recebe três eventos de relevo. No sábado dia 5 acolhe o Lisbon 500 Party People, mega evento da MTV que apresenta o FIAT 500 – a nova estrela da Fiat – considerado o carro do ano em 2007. O evento talhado à dimensão dos que se realizaram em Turin e Londres, envolve música, arte, design e moda. Num palco na Praça Camões vão passar Nicola Conte, Felix da Housecat, Dezperados e Masters at Work, e toda a rua do Rua da Norte vai estar engalanada com diversos projectos de luz, montras alusivas à história do 500 e pequenas performances. Sem qualquer ligação, mas no mesmo fim-se-semana, podem ainda ser vistas nessa rua as intervenções dos artistas UIU e Ovni (ler artigo sobre eles na secção Central Parq) no interior de um espaço devoluto, num evento que celebra a reedição no modelo Dunk da Nike, inaugurando no dia anterior, 4 de Abril às 19h. E para quem já costuma fazer compras na Rua do Norte, não vai querer perder no dia seguinte o “Domingão”, uma grande venda de stocks a preços muito reduzidos. www.mtv.pt

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festival indie Texto: carla isidoro

É provavelmente a mais consolidada edição até ao momento. Este ano o certame aparece de cara nova, com uma imagem promocional e uma estratégia de marketing mais dinâmica desenhada pela agência Brandia, de forma a chegar activamente ao público urbano a quem se destina.

Um dos nomes a descobrir é o de Johnny To, realizador que os organizadores ‘namoravam’ desde a primeira edição do festival. Johnny To é um dos homenageados da secção Herói Independente, vai estar em Lisboa e trata-se de um dos grandes autores contemporâneos do momento. Dos filmes em antestreia destacamos o recente de Wong Kar Wai, mas há outros highlights nesta edição: 3 curtas metragens da Roménia e 12 curtas portuguesas na Competição Internacional, e ainda o novo cinema da Roménia para descobrir.

Castelo São Jorge

9, 10 e 11 de Maio | 2008

Realce final para o Indie Júnior, este ano pela primeira vez com longas metragens e um júri composto por jovens seleccionados em parceria com o ACIDI. Em suma, um festival para todos.

Heroic Trio de Johnny To

Sexta, Sábado e Domingo das 12h às 22h

Ilustrações sobre trabalho do artista Pedro Casqueiro.

Estão cerca de 40 países representados na vasta e diversa programação do Indie. O circuito de salas de visionamento alarga-se ao Teatro Maria Matos - compondo ainda mais a linha já explorada da Avenida de Roma – e também aos domingos – dia usualmente destinado aos filmes nomeados - que passam a acolher películas da selecção oficial.

www.indielisboa.com

Running on Karma de Johnny To

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armanda duarte Texto: francisco vaz fernandes

Armanda Duarte apresenta três trabalhos que estabelecem relações entre si e remetem para o acto de combinar, de juntar coisas de origens diversas com o objectivo de formar um corpo. O trabalho parte de princípios conceptuais que mergulham no seu quotidiano próximo. A artista inscrevese no meio dos acontecimentos que geram a sua ordem poética apelando mais ao seu ser que à sua presença. Resulta uma interrogação sobre a possibilidade de uma representação do real mais complexa. “Uma Bata e uma Combinação”, um dos trabalhos expostos, formado por círculos de barro que contêm água, resulta de várias memórias: de tecidos, águas da chuva e vasos perfilados nos pátios portugueses. No entanto, o que conduz este trabalho não é tanto o retrato dessas duas realidades imediatas nem as questões socio-culturais implícitas mas a observação de um gesto de cuidado com um valor mais amplo, universalista e abstracto. Para além da plasticidade do trabalho, o que se requer é a manutenção diária das formas circulares de barro. Este lado performativo é manifesto diariamente por cinco eleitos do seu círculo de amigos, denominados “Os Vigilantes”, título doutro trabalho exposto. Uma vez por dia, um deles passa pela galeria para verificação a manutenção da obra. Seria a presença dos vigilantes que daria, então, origem a um segundo trabalho a expôr na Plataforma Revólver. O projecto começou com a solicitação de um desenho em torno da idade de cada um dos participantes que, posteriormente, deveria enviá-lo pelo correio. Na sequência, a artista desenhou com um certo realismo cada um dos projectos enviados para, depois, expor numa prateleira. De certa forma, são cinco desenhos de desenhos explorando a sua tridimensionalidade. São igualmente a oportunidade de registar outras presenças. Armanda, neste como noutros trabalhos, tem abordado a possibilidade de uma comunicação ‘dialógica’ entre ela e os assistentes. Esta prática vem de uma certa relação que a artista estabelece com o projecto em si. Cada projecto constitui-se como um enunciado que estabelece, à partida, uma ordem e uma perspectiva de desenvolvimento. Plataforma Revólver , Rua da Boavista, 84 – 3º. De 3ª a Sáb., das 14h às 19h30. Até 3 de Maio

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João Maria Gusmão & Pedro Paiva Texto:francisco vaz fernandes

Entrar na Cordoaria para ver a mais recente exposição de João Maria Gusmão e Pedro Paiva é como se estivéssemos a ser empurrados para uma expedição do final do séc. XIX, em parte incerta, plena de revelações. Constituída por vários vídeos, fotografias e instalações, prima pela atmosfera cénica, de forma que toda a iluminação acentue esse dramatismo. A exposição constitui-se como espólio e há todo um efeito demonstrativo e de apresentação do desconhecido. Sem querer entrar na particularidade de qualquer um dos trabalhos, «Abissologia» a ciência para uma realidade transitória do não discernível, do seu conjunto ressalta a capacidade de insinuar-se dentro de um quadro antropológico pondo à prova todas as evidências de autenticidade. Em alguns vídeos o efeito demonstrativo torna-se ambíguo e incrédulo dando espaço à pantomina. A impostura é por demais evidente, mas não parece ser essa a grande preocupação dos artistas que procuram enfatizar que nem tudo o que parece é. De certa forma procuram minar a ideia de uma narrativa universal ressaltando o irracional como único estatuto do individual. Cordoaria Nacional, Av das Indias de 3ª e 6ª das 10h00 às 19h00 | Sáb. e Dom. das 14h00 às 19h00. Até 13 de Abril

www.nomenuhomeservice.pt

Basta marcar: 213 813 939 / 933 813 939 PARQUE DAS NAÇÕES 213 813 939 / 933 813 939 OEIRAS 214 412 807 / 934 412 807 CASCAIS 214 867 249 / 914 860 940 ALMADA 212 580 163 / 917 164 591 COSTA DA CAPARICA 212 580 163 / 917 164 591 COIMBRA 239 714 307 / 961 014 220 LINDA-A-VELHA 213 813 939 / 933 813 939 LISBOA

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As boas línguas de Miss Jones Ray Monde

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Uma descida ventosa fez-nos voar até o Largo de Santos precipitando-nos no Omnia, quase sem deter o olhar sobre a frontaria. Uma vez dentro e calorosamente acolhidos, Miss Jones sentiu-se num cenário ‘à la Loveboat’ navegando nas Bahamas. Ao invês, Ray Monde achou-se num luxuoso décor da Miami dos gloriosos anos 20, ambos esquecendo os rigores deste início de Primavera. Ao balcão, beberricando um mojito de champagne e uma clássica marguerita, notámos a correspondência entre a vitrina que dá para o jardim do Largo e a que abre sobre a cozinha – onde uma equipa atarefada oficia sob as ordens de um chef hierático.

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intermezzo Texto: carla isidoro – Foto: Jimmy Ballando

A pizzaria Mezzogiorno alargou o seu espaço e introduziu novos serviços e menus. Intermezzo é o cocktail-bar inaugurado há menos de 1 mês que promete refrescar as tardes de Primavera e Verão no Chiado. Esplanada maior, cocktails durante a tarde, petiscos italianos e novos pratos de carne são algumas das descobertas a fazer nos dois espaços. Como sugestão deixamos a piña colada preparada no momento e um prato de Spuntini (petisco de carne ou peixe) para picar até tarde.

Já à mesa, ao lado de estridentes vozes americanas, demolhámos variados pães num azeite alentejano enquanto alimentámos uma reflexão sobre o estado hodierno da ética – o Omnia diz-se seguidor de uma (trendy…) gastronomia de tamanho pequeno e de degustação sequencial, um onze, contabilizada com berlindes num vaso solitário, a fazer lembrar um ábaco – o que nos poupou a escolha! Philippe Bartu, o anfitrião oriundo da Suiça, atenciosamente conduziu-nos a provar um Trivento, aromático tinto argentino, perfeito para a variedade que nos esperava.

Intermezzo: 11h – 23h (fecha domingo) Rua Garrett, 19 (pátio) – Lisboa Tel: 21.3421500 www.pizzeriamezzogiorno.com

Para iniciar, um creme de aipo e maçã com amêndoas torradas servido num pequeno copo coberto por uma finíssima fatia de maçã ligeiramente estaladiça. Delicada combinação conseguida. Primeiro berlinde. Seguiu-se um linguini salteado com lulas marinadas e salsa frita, um magret de pato sobre chutney de abacaxi e gengibre com batata-doce frita, um risotto de camarão e lima e um dueto de courgettes assadas com vinagreta de espargos verdes. Pequenas edificações à medida dos nossos sentidos. Mais quatro berlindes… e, pausa. O segundo acto prossegue com um escalope de foie-gras sobre bolo crocante e redução de chalotas em vinho do Porto, um involtini de beringela e presunto recheado com mozzarela e ricotta, uma túlipa de parmesão com cogumelos salteados e bacon (o serviço é sempre afável e profissional no vaie‑vem dos pratinhos que recebem as pequenas iguarias, sempre anunciadas a viva voz) e somos apresentados a um queijo brie assado em massa kaidif sobre doce de abóbora e, por último, um medalhão de porco à Alentejana, logo recusado por Miss Jones se encontrar saciada e Ray Monde reconhecer carne em demasia, pois o tempo é ainda de penitência. O desfile dos berlindes terminou. Onze. Gulosos, mas com duas colherzinhas ainda debicámos uma mousse de framboesa sobre nougatine acompanhada de cálices de tokaji. Aqui, sim, acaba a mise en scène. Dir-se-ia uma experiência total, tal como etimologicamente Omnia aponta, não fosse o frio dolorosíssimo que nos assaltou à saída. Omnia Largo de Santos, 9 C – Lisboa De 3ª a 5ª, das 20 as 23h 6ª a Sábado, das 20 as 24 h

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república das flores Texto: sofia saunders

Abriu recentemente e perfuma sobremaneira a Rua do Alecrim. Esta loja de flores, contudo, oferece muito mais do que flores. É um espaço para gostos sofisticados, dividindo-se entre pés de Antúrio, rebuçados de ovo de Portalegre, mantas do Quénia, colónias para a casa Kenneth Turner e cremes para o corpo Abahna. Há uma gama refinada de produtos de decoração e bem-estar, seleccionada para estar à medida da exigência dos clientes do Chiado. Pergunte também pelos serviços extra-loja, imaginação não falta ao proprietário. Rua do Alecrim, 99 – Lisboa www.republicadasflores.com

concurso video viral powered by merrel A Parq lança um desafio aos videastas do país. Procuramos vídeos virais que reflictam a energia e o conceito da revista, para entrarem no nosso website e no Youtube como meio de promoção. Vídeos cool, divertidos, originais, feitos e montados com técnicas digitais sofisticadas ou usando métodos mais banais como o telemóvel: a escolha do método e do conteúdo é vossa; o tema é a PARQ. A equipa da revista escolhe os 2 melhores vídeos, a Merrel oferece 1 par de ténis aos 2 vencedores e a Parq oferece a assinatura da revista durante 1 ano. Condições: - Imaginação sem limites - Tempo do vídeo: entre 1 e 3 minutos - Concurso aberto de 4 de Abril a 15 de Maio - Enviar os vídeos para: info@parqmag.com

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Were you there?

greenhouse Parq party at Estufa Fria 07/03/2008

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Max Romeo

Text by Carla Isidoro — Photo Hugo Silva — page: 04 —

Alexander Hacke / Einstürzende Neubauten

Michael Imperioli

REM

Juana de Aizpuru

— page: 30 —

— page: 40 —

Text by Carla Isidoro — Photo by Pedro Pacheco

Text by Pedro Figueiredo

Text by Danielle de Picciotto

— page: 08 —

Alexander Hacke is one of the central figures of the legendary (and very much alive) Einsturzende Neubauten who are playing in Lisbon at the beginning of May. Just to whet your appetite, we invited his wife, artist Danielle de Picciotto, to interview her husband at home. A cosy morning chat.

Love him or hate him in the American series The Sopranos, Michael Imperioli is back in Portugal for a new show with his band La Dolce Vita. He likes good food, good wine, wandering round Lisbon and, after all these years, is still in love with Vita. He´s just an ordinary Italian.

Beyond a shadow of a doubt, “Accelerate”, the latest album from North-American band R.E.M is a return to the good old I.R.S days, or – at the very least – the hugely under-rated “Monster” and “New Adventures in Hi-Fi” period of the 90s. High velocity, few pauses for rest, R.E.M in 2008 are, once again, a band to be reckoned with.

Text by Francisco Vaz Fernandes

— page: 06 —

Max Romeo is a roots reggae legend. Charismatic and with a great sense of humour, he manages to keep up his energies at the age of 65 with the help of certain substances. After the Winter Jam gig we snatched a quick ten minute backstage chat. It was quite a laugh. What do you know about the cultural heritage brought by the Africans to Portugal? Not much. Po r t u ga l’s a m i xe d c u l t u r e w i th An gol a , Mozambique…. Oh yeah, yeah. Angola was friends with Ethiopia at same point. I’m not sure, I guess they took the side of the Emperor in the struggle against Mussolini, didn´t they? I’m sure you know more about the Ethiopian history than the Portuguese. I’m not an expert. What’s your opinion on the coming back of reggae, sung by young performers who’ll never understand reggae the way you do. It’s good! Reggae was underground for a long time, lived a disrespected situation. Now it’s emerging, there’s a rebirth of the roots. It´s where it begins and where it will end; in the roots. Even in Jamaica one feels the movement? Even there it’s growing. Reggae’s bigger and younger. It’s going to be around for a good while. Is it a motivation for you? Sure, I’m enjoying every moment of it. Back to the 60’s in Jamaica, do you remember your first hit «Wet Dream»? I do. I just remixed it for my new album. You chose the song for the album? I had to, that’s why it´s such a big success. How fun is it to perform it live? I don’t play it much live unless it’s requested. Totally different from what you do nowadays. Yes, totally different from my profile now. But if you ask hard, I’ll do it. It’s my ‘son’ anyway. You returned to Jamaica after a long time in New York. After fifteen years in New York. The city became too fast and too perverted (laughs). I couldn’t take that heat anymore, that’s why I returned to civilization. In Europe we have an idyllic image of Jamaica promoted by tourism. How idyllic is it? (laughs) Jamaica is more than sea and sun. Jamaica is a big melting pot of cultures. But I think it’s good, it’s good to have that picture. Is marijuana legal yet? No. Are you pro liberalization? I try hard to show them it’s medicine. They could legalize it, it could help the economy. These people are too ungrateful, they’re trying to impede Rasta. Marijuana makes us alive, they don’t want no life. Do you still smoke your joints? I can’t do without them (laughs).

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Traduções / Translation

So, Parq have asked me, as your wife and artistic partner, to do an interview with you. After your long experience of doing interviews, what in your opinion would be an unusual question? An unusual question would be one that asks for my preferences outside of my function. Usually it is understood between me and the journalist that we are promoting a current product. Which I really think is not a priority. But isn’t that what the reader actually wants to hear -what you really think? Is it possible to do an honest interview at all in which you – as the artist – can really say what you think? That depends. Mostly I don’t feel too eager to reveal my innermost opinions to somebody I hardly know, I guess that is only natural. But I am obliged to come up with surprising, highly entertaining answers. I will tell the truth though. Well, as Parq has asked me to do the interview they obviously do not only want to promote a product, so what would be a question that YOU would ask if you were a journalist? I believe that there are only very few subjects that are truly relevant. The first one is “love”. In order not to get too personal I would start to broach the subject by finding out your likes and dislikes in the field of arts and culture. The point is I have to find a lever in order to open you up. Ok.... So what do you especially like in the field of culture? I like artistic statements that are so honest and true and heartfelt that it takes my breath away. I can sense the surge of energy in those works. To me it’s like food I need to maintain my sanity with. Well.... I know this is going to sound like a product promotion but I must say that you have just perfectly described your new record with Einstürzende Neubauten to me «Alles wieder offen». When I heard it for the first time it reminded me of things I had forgotten existed and of my deepest motivation as an artist and person. That is very flattering but, see? Now we are getting somewhere, we are creating an exchange, a conversation. I get to find out about you as well as answering your questions. Hmmm, interesting... well – here is a question I would really like to ask you and which deals with love – you have been playing with EN for 28 years now – what is your advice on a good relationship? Point taken, honey (laughs). With those boys it has reached an entirely different level. We sort of grew up together. I don’t have biological brothers and sisters and Neubauten are the equivalent of that relationship for me. We are all aware of the fact that we are unable to change each other but we acknowledge our shared origin. That is a highly developed understanding – don’t you think? True (smiles)… You met Blixa and Andrew at a very early age – your son is about that age – is there anything you have learned in all these years of being an uncompromising artist that you truly feel he should know? Well, the point is to stay true to your vision once you have developed one. It is important not to overestimate the sign of the times. You have to stay alert, as soon as you start to fade out of your surroundings and be selfcontained and pleased with yourself you are lost. Thank you my dear, I always enjoy talking to you . Likewise. But now can we have breakfast?

Michael, you launched your band in Portugal in 2006. What did you know about Portugal at that time? When my band first played here two years ago I was very excited. I had already seen Ena Pá 2000 at Maxime's and the energy in the club was fantastic, the rapport between the audience and the band and the vibe of the club gave the evening a certain magic. I was very much looking forward to participating in that magic and happily we have felt it now on two occasions. Usually foreigners say Portuguese food and red wines are fantastic. We have already known this for a long time. What would you recommend to a friend about Portugal? I would suggest staying at the Bairro Alto Hotel, the perfect location to spend a week in Lisbon. I would recommend they walk as much as they can. At night, the Alfama is fascinating with its winding streets and authentic restaurants. For dinner one must go at least once to Cascais to a restaurant called Entraguas. It is right by the sea, open doors look out onto the ocean and it has the freshest, most delicious seafood I have ever eaten. Italians appreciate good food. Is it the same with you? I am a huge fan of seafood, so Lisbon is a paradise for me. I love sardines, codfish, and just about everything that swims. I also love the wines from the Alentejo. La Dolce Vita reminds us all of the Fellini movie, though Vita is also your wife´s name. Are you usually romantic or are you profoundly in love with Vita? I am still profoundly in love with my Vita after 12 years. Moreso now than ever. We always try to find moments alone (we have three children) because romance is very important. Madonna once said “Italians do it better”. We, the Portuguese, ‘never’ understood it. What did she mean? I think Madonna was talking about the Italians´ love or lust for life, be it for food, music, wine, family or love... Italians give a high priority to these things. Did your role in the Sopranos give you a new (or different) perspective on, or interest in, Mafia issues? My opinions of the Mafia did not change much. The Mafia is what it is, I don´t think we glamorized it on the show but truly tried to portray what these people really are. Is revenge/ la vendetta reasonable to you? I understand the concept of vendetta but I hope for myself to rise above hatred and violence and contribute more to peace on this earth.

Mike Mills announced at the end of 2007 that this album would be “one of the fastest ever” R.E.M albums. Our first contact, however, left us wondering, when “Until the Day is Done” was trailered on “Planet in Peril”, new CNN programme by respected Anderson Cooper (a search on YouTube for “R.E.M + Anderson Cooper” will bring it up.) Even if the programme´s good intentions – environmental issues – are deserving of praise, what we heard of “Until the Day is Done” might have made us question Mike Mill´s words. With a political theme – melodic, beyond criticism, a great track – it did seem however that speed and energy might belong to the other tracks. At least, it was what we hoped at the time. Now, with the release of “Accelerate”, there is ample confirmation that, indeed, this is the most up-beat R.E.M album since “Monsters.” R.E.M are currently made up of Michael Stipe (vocals), Mike Mills (bass) and Peter Buck (guitar). Bill Berry, drummer and founding member, left the band for health reasons in the mid-90s, now dedicating himself to agriculture. At the end of 2006,the four original members of R.E.M got together for the ceremony which immortalised them in the Georgia Music Hall of Fame. During rehearsals, they came up with a version of John Lennon´s “#9 Dream” which appeared on the Amnesty International compilation “Instant Karma: The Amnesty International Campaign to Save Darfur.» The following year, something else which would emphasise their relevance for the international pop/ rock scene; in the first year of eligibility, they became 2007 inductees at the celebrated Rock and Roll Hall of Fame. For the occasion, the band reunited with Bill Berry and did a four-track set with the original line-up. In the midst of all this, there was also time for “And I Feel Fine… The Best of the I.R.S Years 19821987”, a double compilation with the very best of R.E.M. on the I.R.S label, currently part of EMI. For production of “Accelerate”, R.E.M hired the help of Pat McCarthy who produced the last three original albums of the band, i.e. all of those recorded before Bill Berry left. Curiously, or maybe not, recording quality progressively deteriorated. Although “Up” heralded a new sound direction more linked to the future, “Reveal” and especially “Around the Sun” were disappointments since overtaken by “Accelerate”. The new release was produced by Jacknife Lee, who has recently worked with bands such as The Hives, Bloc Party and Editors. Last summer, R.E.M played five nights at the Olympia Theatre in Dublin, Ireland where they played the new material for the first time to an audience of hardcore fans. Dubbed working rehearsals, they served as a kind of testing ground for the band´s confidence regarding their material for this latest phase which showed a return to their earlier rawness. “Accelerate” is an album with thrust and energy from the very outset. It takes off well with “Living Well is the Best Revenge” and “Man-Sized Wreath” and rarely comes down to rest. “Supernatural Superserious” is the best R.E.M single to come out for many years, and it heralds the return of guitars to the detriment of recent electronic experiments. Of the tracks with more verve, it´s worth highlighting the demonic final sequence of the album; with the riotous “Horse to Water” and “I´m Gonna DJ”. The good news doesn´t end here; even the few slower tracks are spectacular. “Hollow Man” triumphs with a great chorus, “Mr.Richards” has guitars in perfect symbiosis with the magnificent voice of Michael Stipe. To really round off the the good news, all that´s needed is the confirmation that they´ll be back to grace the Portuguese stage. Who knows.

For many, Juana de Aizpuru is one of the people who has most contributed to the huge transformations which have taken place in Spain over the last 30 years. After leaving a small gallery in Seville she founded ARCO, the Contemporary Art Fair, which put Madrid firmly on the international art circuit as part of a policy to redefine Madrid as cultural capital, a move which Movida also helped fight to establish. We heard the personal version of her career spanning 40 years, and of all that she feels is still left for her to achieve. Are you conscious that you are an iconic figure for the art world and for Spain? I have to say that I have always felt a vocation for my work, and have felt deep affection for the artists and their work and I know that today this is recognised both in Spain and abroad. I think that all the effort I have put into integrating Spain into the international art scene is also recognised. I have been at the head of a gallery which has always tried to widen it´s local context, bringing in artists from abroad so as to build up an interesting art scene. If Almodovar invited you to appear in one of his films as Juana de Aizpuru, would you accept? Would you feel that you had earned it? I don´t feel that I´m an Almodover character. I´ve known him personally for many years and I don´t think he has ever been inspired by me. Your gallery was part of the Movida circuit which Almodover was a part of. What are your memories of this particular time? Movida was a wide-ranging cultural movement with many key figures and obviously some came from the art scene and passed through mine and other galleries. In a way, when I founded ARCO, it was unintentionally connected to Movida. People also started thinking this and saying that ARCO was Movida. All I can say is that it was a time when there was a good, collaborative and supportive atmosphere which came from various sources and was not just limited to Movida. It was a time when it seemed we were all pulling in the same direction. We were aware that this was a special time for Spain and Madrid and that ARCO was an opportunity for everyone and that everyone would have to grab it. It was a cultural milestone because amazing characters started springing up in the areas of fashion, cinema, literature and the arts and they all started forging links with the international scene through various means. The artist Barceló shot out of nowhere and opened the floodgates for other artists to embark on an international career. You were founder and director of ARCO in the early years, how far did this fair go in strategically affirming Madrid as European cultural capital? I always felt convinced that art was universal. If it weren’t, it wouldn’t have such transcendence. In Seville when I opened my first gallery, I was sure that it wouldn´t end there, despite managing to put on important exhibitions such as Diana Airbus, Man Ray, Frank Stella, Rauschenberg, David Hockney and Richard Hamilton. At that time, with Franco, it was difficult owing to the complications involved in obtaining import licences. With the start of democracy, I started travelling a lot, visiting art fairs and was astonished at what it was possible for some of the galleries abroad to achieve. I thought that the best way for the artists and the galleries to reach such a level was to create a Spanish art fair for them to set off on their own path. In Seville it was impossible, Barcelona showed no interest and it was when I heard of a new venue in Madrid for fairs that I made an offer, thinking that they would be looking for new proposals. Adrian Piera, who was then director of IFEMA, warmed to the idea, visited me in Seville and it was during a dinner there that we came up with the name arco (referring to the Spanish for Arte Contemporaneo ) Do you feel a vocation for big events? What would you most like to do in Spain or abroad? At the moment, I am very focussed on my gallery work. Yet it´s true that I miss, after such a wide reaching career, managing a big, international collection, whether it´s that of a collector or foundation. I´d like to have the freedom to create one. I think that there really are very few, if any, collections which aspire towards perfection, knowing as I do the spectrum of international collections. The collections which I see here leave a lot to be desired. Even the Caija collection, which could be better, has not really been expanded and a collection has to expand in order not to die. It isn´t what it was when Maria Curral was curator. It hasn´t been continued and

cannot really be considered a great and extensive collection. I would start a collection of the 21st Century rather than a 20th Century one which would be complicated to complete. Obviously, works from the past would have to be included in order to know where we have come from, but they would merely be pointers, with few works and few artists. Do you have an art collection? How would you define your collection? I cannot say that I have a collection. I prefer to say that I have a large deposit, maybe the biggest in Spain. Even in international terms it is considerable, but they are pieces which do not really obey the logic of a collection. I have fantastic objects, it´s true, but if someone from a museum wanted them, I would sell them. I´m aware that it would make more sense for them to be in a museum than with me. Could you tell us which works have pride of place in your room, and which greet you every morning when you get up? I have two houses, one in Madrid and another in Seville, and I think I like the Seville house more because I have had it for longer. In my room in Seville I have a canvas by Dukoupil and a photograph by Yasumasa Morimura which I particularly like. I also have some old photos by Alberto Garcia-Alix. I imagine you´re still very much connected to Seville and understood the importance of the 2004 Seville Bienal in bringing in a star such as Harold Szeemann as curator. When I start a project, it isn´t just for the sake of it, it isn´t because of a pressure to do things. First I specify the need and, if I can, I go forward. I realised that the 70s were much better than the 80s and the 90s in Seville. I realised that it didn´t prosper and was not so open to outside influences, and that Seville society was unmotivated and for these reasons I decided to organise a Bienal; an event which would cost much less than a museum or even a photography or video fair, which I also had in mind. I wanted the public there to have the opportunity to have contact with international art and and new tendencies. We spoke to local venues which weren´t so welcoming of the project, but as soon as we set up a private foundation with 32 businesses and professionals from Seville, with me among them, the International Art Foundation of Seville was born, and had it´s first exhibition in 2004 under Harold Szeemann as curator. This year it´s going to be the third edition, dedicated to new electronic tendencies. Why did you decide to create a gallery in Seville under the oppressive Franco regime? My contact with the art world started with a modest collection which I started in the 1960s. I didn´t have much money, but I always loved contemporary art and when I got married and went to live in Seville, I found a society which was a bit too much of a clique and obviously I needed a place where I could be freer. At the time there was an artistic movement comprised of painters which had broken with the academic tradition of the Seville Academy and established links with American art. All of them had exhibited in a very discreet gallery where I had bought objects. In time, I got to know these artists and when the gallery closed at the end of the 1960s, all of them – even those who had come from Madrid such as Millares – encouraged me to open a gallery where they could show their work. I didn´t think much about it; just found a space and in 1970, from one day to the next, was converted from collector to gallery owner. For you, what is the high point of your career as a gallery owner? The most wonderful thing is contact with artists, but all my work, everything together, is fantastic. The gallery owner is the person who, of all those within the art world, most participates, makes things happen where there is creativity. From the moment of creation right through to the place where the final work ends up. We are very close to artists. I at least have been able to witness close at hand the work of many artists. Then there is the moment when the work arrives at the gallery and we are in a different phase, of diffusion with the public. Then finally, there is the contact with collectors, which I also love and- whether private or public – the final destination of the work. All these aspects of my work give me enormous satisfaction and I can honestly say I feel a great deal of love for it. Being with young artists, discovering new values, supporting them from the beginning and seeing their career take off is just wonderful. I just have to ask you about your high heels. I always remember you for hours on end in high heels during ARCO. Do you collect shoes with the same passion with which you collect art? I´ve always loved being well-shod. It´s true. I never get tired of wearing high heels, unlike most people who wear trainers and keep telling me how comfortable they are. I feel much more uncomfortable if I wear sports shoes. I never wear very high heels, they´re just average, made of thin, soft leather. When I was at ARCO, I always wore high heels, even though everyone around me was wearing low-shoes or trainers. www.juanaaizpuru.com

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