Número 04. maio 2008.
Índice Real People
director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
joão pedro wanzeller 06 rita red shoes 08 rui manuel amaral 10 katrin sonnleitner 12 luis urculo 04
editora Carla Isidoro carla@parqmag.com Direcção de arte Valdemar Lamego valdemar@parqmag.com
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Trendscout Mário Nascimento mario@parqmag.com
14 You Must – Trends 18 You Must – News Soundstation
tradução Roger Winstanley
ladytron 30 baby charles 32 eli "paperboy" reed 28
publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com Cláudia Santos claudia@parqmag.com Viewpoint
George osodi
Viewpoint
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george osodi
central parq – Grande Entrevista Depósito legal 272758/08 registo erc 125392 Edição Conforto Moderno Uni, Lda. número de contribuinte: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa 00351.218 473 379 Impressão BeProfit / SOGAPAL — Queluz de Baixo. 20.000 exemplares
textos Alexandra Sumares Ana Teixeira Pinto Carla Carbone Cláudia Matos Silva Cristina Parga Joana Cordeiro Jorge Lemos Peixoto Júlio Dolbeth Maria Fernandes Mário Nascimento Miss Jones Nuno Rodrigues Pedro Lopes Pedro Figueiredo Ray Monde Roger Winstanley Sofia Saunders Valupi
distribuição Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq. Assinatura anual 15€.
fotos Cátia Castel-Branco Frederico Martins Ivo Lázaro Merce Benet Paco Peregrín Pedro Janeiro
www.parqmag.com
capa saia de ráfia a fazer de capa ARMAND BASI macacão de couro JOSE MIRO foto por Paco Peregrín www.pacoperegrin.com styling Kattaca · www.kattaca.com make-up Yurema Villa para M.A.C. hair Natalia Méndez modelo Suvi Jokinen (View)
styling Cátia Almeida Conforto Moderno Martin Kullik Susana del Sol
Editorial Money makes you sexier? Nesta edição queríamos absolutamente o Maio de 68, um tema eternamente novo por ser um acontecimento que continua a marcar a sociedade actual nas suas questões sobre o sistema capitalista em que vivemos. É certo, herdámos uma maior consciencialização da existência de uma cultura jovem e procuramos reservar um certo olhar humanista que se tornou intrínseco às democracias. Todas estas questões podem ser lidas no artigo de Jorge Lemos Peixoto “O Peter Pan Traído” que nos deixa uma dúvida sobre a perda ou não de direitos adquiridos. Sem se tornarem numa resposta, dois textos podem ajudar a elucidar sobre essas questões da sociedade actual: um sobre a actual Bienal de Berlim, que foca a sua viragem a Leste, fora do glamour habitual. O que parece ter corrido mal deve-se em parte ao facto de muitos dos trabalhos expostos não terem um enquadramento no circuito comercial, lançando a dúvida sobre a sua validade. Perante isso, perguntamo-nos então se os objectos sem valor comercial deixam de fazer sentido nas nossas vidas. Num outro texto, sobre comércio online, podemos especular sobre as práticas de consumo assim como a valorização dos produtos junto das comunidades online. E para terminar gostava de dar uma perspectiva pessoal baseada na minha recente viagem à Feira del Mobili de Milão onde se pode sentir o esforço e o investimento das grandes empresas de design. Muitas outras vão a reboque nas áreas da moda, automóvel ou gastronomia com investimentos consideráveis, aproveitando o facto de se poderem apresentar a um público internacional com grande poder. De festa em festa no essencial vemos os projectos que os designers e artistas do momento fazem para as grandes marcas no sentido de captarem algum interesse a um público que não se deixa impressionar facilmente. O hedonismo sem restrições reina assim, como a livre concorrência no mercado livre parece nunca ter feito tanto sentido no desenvolvimento da sociedade actual. Os métodos de mass-media e mass-marketing e distribuição estão completamente irradiados deste encontro em Milão. Tudo o que vivemos é baseado num conhecimento sobre o amanhã, assente —no mínimo— na customização e desmassificação. Milão nessas datas é uma lição de futuro. Francisco Vaz Fernandes O tempo melhorou. Agora não há desculpas para não escolherem um espaço ao ar livre para ler a PARQ.
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camané
Central PARQ
cova da moura 46 bb5 —bienal de berlim 50 festival offf 52 comércio e comunidades online 54 maio 68 44
Moda
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cátia castel-branco
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merce benet
«Bonneville´s Triumph» «elena»
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joão pedro wanzeller «O Diabo também veste Zara – o Inferno de Gravata» é o livro de João Pedro Wanzeller. Foi chefe de cabine e instrutor de valorização pessoal, protocolo e etiqueta da Euro Atlantic Airways e hoje é responsável pelo marketing da companhia. Lecciona etiqueta e protocolo em escolas de manequins e faz assessoria de imagem freelancer em empresas. Para nós mulheres tem sido uma tarefa árdua explicar que “homens querem-se feios e a cheirar a cavalo” é um mito e que não há paciência para pêlos a despontar do nariz ou unhas roídas. João Pedro Wanzeller explica tudo! Além de nos contagiar com o seu charme, decaiu-se com a muleta estilística “absolutamente”. Está a ver? Texto: Cláudia matos silva — Foto: Parq
Não resisto a uma primeira provocação. Que terríveis sapatos são esses que usa na imagem da contra capa do livro? Não me diga que os sapatos de berloque voltaram à moda? Os sapatos de berloque sempre estiveram na moda, são um clássico, um clássico informal. Para eventos mais especiais não são muito aconselháveis mas de qualquer forma tudo pode ser utilizado desde que as pessoas tenham noção da ocasião para a qual se estão a vestir. Qual o objectivo de «O Diabo Também Veste Zara – O Diabo de Gravata»? Aliar o melhor dos bons mundos. O nosso bom aspecto físico com o nosso charme pessoal e inconfundível. Como define o seu estilo? Eu sou muito urbano e ando o dia todo de fato e gravata, mas ao fim de semana ou quando vou sair à noite dar uma perninha numa discoteca ou num bar adopto um estilo mais moderno…mas moderno, as pessoas que se acalmem! Então nada de crista verde? Não, é um bocadinho excêntrico.
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As suas amigas fizeram-lhe um ultimato para escrever o livro? Sim, senti necessidade de fazer qualquer coisa relativamente aos seus namorados, maridos ou amantes. Comecei a escrevê-lo há 1 ano e terminei-o em Calcutá e Londres, onde estive 1 mês. Homens e mulheres, como reagem ao seu livro? Os homens transformaram-no em manual de cabeceira, caso tenham algum imprevisto, uma festa, um jantar ou uma prenda para oferecer, o que é absolutamente fantástico! As mulheres oferecem o livro aos companheiros com post-its ressalvando as páginas que devem ler. É absolutamente hilariante! Um conselho para o homem português. Os homens às vezes estragam a primeira imagem quando abrem a boca. Uma boa imagem é metade da batalha ganha para o final da guerra. É metade! E que tal escrever um manual semelhante mas para mulheres? Absolutamente!
rita red shoes Vive um bocadinho no mundo da lua, acreditando que há sempre mais do que aquilo que estamos a viver no momento. Custa-lhe viver num prédio, sair de casa e ver logo gente por todo o lado, mas quando calça os sapatos vermelhos e sobe ao palco sente-se capaz de enfrentar uma legião. Aos 26 anos, Rita Pereira, mais conhecida por Rita Redshoes, é a nova menina bonita da música portuguesa. Texto: pedro guilherme lopes
Nos Atomic Bees surgias como uma espécie de fada, segurando uma varinha de condão com uma estrela na ponta. Hoje usas sapatos vermelhos. Acreditas que existe uma componente de magia na tua vida e na tua carreira? Acredito que existe sempre uma componente que não controlamos e, para mim, esse é o lado mágico das coisas. A surpresa, o inesperado. Talvez essa minha disposição para o impossível se reflita na minha vida e consequentemente na música que faço. Como é que uma sportinguista ferrenha, filha do treinador adjunto do Sporting Carlos Pereira, escolhe Redshoes como nome artístico? O teu pai não se mete contigo? O meu pai apenas perguntou: – Ó filha não podia ser outra cor? Amarelos? Quantos pares de sapatos vermelhos tens? Acho que mais ou menos 10 pares...à volta disso. A foto da capa do teu disco, «Golden Era», faznos recuar aos anos 50 e recordar nomes como Rita Hayworth ou Lauren Bacall. Essa Hollywood do passado e o seu cinema influenciam a tua música? Tenho uma grande paixão por essa época em termos estéticos e em termos musicais. Acho que foram anos muito criativos nos vários campos artísticos. Talvez se oiça um pouco dessa minha admiração por essa altura nalguns dos arranjos do meu disco, foi-me inevitável.
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E o curso de Psicologia Clínica que estás a terminar, de que forma te influencia? A questão não é tanto influenciar. Para mim o curso foi uma grande surpresa. Talvez, quando me decidi a tirar o curso, não tivesse a dimensão do quanto iria gostar de estudar psicologia. Foi uma descoberta que hoje em dia me complementa e me quebra a rotina da actividade musical. Antes do disco sair tentaste não prestar atenção ao que se ia dizendo e escrevendo. Agora que está à venda, como tens lidado com o facto de teres os holofotes todos apontados na tua direcção? Confesso que não sou muito de andar a pesquisar o que se diz de mim ou do meu trabalho. Obviamente que fico muito contente quando leio boas críticas ao disco ou aos concertos e prefiro claramente que as pessoas gostem do que faço do que não gostem. Mas todas essas questões têm um peso relativo. E como irias reagir se, por alguma razão, te dissessem que não podias entrar em palco com os teus sapatos vermelhos? Hum...sou uma rapariga muito mal mandada já diziam os meus pais, por isso...iria na mesma mas descalça.
www.rita_redshoes.blogs.sapo.pt www.myspace.com/ritaredshoes
rui manuel amaral Sem contrapartidas. Apenas uma fatia de bolo, um café, predisposição e Rui Manuel Amaral leva os seus microcontos a tua casa naquilo a que designou de lançamentos ao domicílio. Uma boa maneira de promover o livro de estreia «Caravana*» com doses de humor além do prescrito. Texto: Nuno sousa — Foto: rui manuel amaral
Um grupo de amigos entusiastas decide reunir‑se e contacta‑te para um lançamento ao domicílio fora do Porto, onde vives. O que é que acontece? Deslocas-te a qualquer lado? Aguardo propostas. De onde vem a vontade e imaginação para escrever microcontos? Foste, de alguma forma, influenciado pelo universo dos blogues? Os blogues são um espaço muito interessante para os autores que cultivam os contos curtos. É um meio que exige concisão e disciplina, duas condições básicas na ficção breve. Mas creio que nenhum autor precisa desse pretexto para escrever. O blogue pode funcionar como uma motivação, mas não é essencial. E os nomes insólitos dos teus personagens, como te surgiram? Se por segundos olharem com cuidado para os nomes de alguns remetentes de spam mail ficarão surpreendidos. É um filão inesgotável de nomes insólitos. São nomes habituais num qualquer ponto do mundo e, no entanto, não passam de pura ficção. Estas personagens que não possuem existência física mas que pretendem ser encaradas como sujeitos reais, têm muito a ver com a essência do meu trabalho. Como se desenrola o teu processo criativo? Onde e quando costumas escrever? Uma história normalmente começa com uma ideia. Por exemplo: um tipo chega a casa depois de um banalíssimo dia de trabalho e é surpreendido por um crocodilo que está escondido atrás da porta. Isto é uma ideia para um conto. Depois, limito-me a preencher os espaços vazios. No final, provavelmente o tipo é comido pelo crocodilo. Ou talvez não. Escrevo coisas como esta em casa e nos cafés. 8
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És baterista dos The Jills, coordenador literário da revista «aguasfurtadas», colaborador no blogue Dias Felizes e escritor. Como geres todos os teus projectos? Para escapar à tirania dos dias úteis, todos os meios são legítimos. Não é fácil, mas não é impossível. Tens um estilo de escrita muito peculiar em que usas a ironia, o sarcasmo e o absurdo de forma fluída e cuidada. Quais são as tuas influências? Tenho quatro dioptrias em cada olho, um pouco mais no direito. É natural que não consiga ver o mundo com a clareza necessária. Por vezes desato a ver coisas estranhas. Essas coisas são as minhas influências. Tens vontade de chegar à fase em que (como dizes num conto) te "assaltam os cadernos para roubar todas as palavras caras" ou preferes outro caminho? Prefiro sempre o outro caminho. Embora desconheça de que caminho se trata. Onde queres chegar com «Caravana»? Aos bons leitores. E aos maus também.
*03 de Maio na FNAC Chiado, 16h30 www.myspace.com/rui_manuel_amaral www.revista-aguasfurtadas.blogspot.com www.last-tapes.blogspot.com www.quartzo-feldspato-mica.blogspot.com
katrin sonnleitner 01
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A mais recente peça da alemã Katrin Soonleitner, um puzzle feito de peças em borracha, a assemelhar-se mais a um tapete persa, tem despertado a atenção um pouco por todo o mundo e muito para lá das fronteiras do seu país de origem. Acerca da sua internacionalidade, a designer responde que sempre se sentiu ligada a outros países, para além do seu: Texto: Carla carbone
LEGENDAS 01. Puzzle Perser 02. Moebelette 03. Immoebel
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Os puzzles multiplicam-se nos trabalhos de Katrin. Porquê esta obcessão? Não é realmente uma obcessão. Primeiro ocorreu-me criar uma peça de arte: 10 mil peças de puzzle com a imagem de um tapete oriental. Mais tarde pensei, se realmente há um tapete reproduzido no puzzle, então deveria ser possível andar sobre ele. Foi por isso que o material mudou e fiz peças com formas iguais para criar padrões variados. Os naperons feitos de peças de puzzle foram igualmente o resultado das experiências que estava a realizar nessa altura com o tapete. Agora são manufacturados por uma empresa de Colónia, a Details. Quando se tornou uma designer de âmbito internacional, já esperava tornar-se uma ou foi tomada de surpresa? A minha família encontra-se espalhada pelo mundo inteiro. Os meus pais cresceram na Argentina. Embora tenha nascido na Alemanha, para mim sempre foi natural viajar e ver o que acontecia nos outros países. A minha primeira vez como designer no estrangeiro aconteceu quando eu estava a fazer o meu estágio no Emiliana Design Studio, em Barcelona. Agora sinto que não é assim tão importante o lugar onde estamos, porque temos que lidar com pessoas de todo o mundo, seja onde for que nos situemos. É designer, mas com uma forte relação com a arte e peças de arte, confirma-o? Apetece perguntar sempre: sente-se mais designer ou artista quando trabalha? O motivo será porque não se reconhecem de imediato as funções dos meus objectos. Eu tento criar peças que envolvam o utilizador, que o obriguem a repensar a sua vida e a sua relação com os objectos. Para além disso, gosto de atravessar as barreiras das disciplinas e de as experimentar.
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Outras coisas a satisfazem, para além do design? Passear no campo, cozinhar e comer. De momento, gosto mesmo de desenhar, por isso passo pouco tempo a fazer outras coisas. O projecto Immobel, receio não haver muita literatura sobre este projecto. Quais foram as suas intenções, enquanto o criava? Foi criado porque há tantas peças de mobiliário multifuncionais e móveis. Mas no momento em que elas já se encontram em nossas casas, não mudam mais. Immobel só pode ser usado quando as suas partes passarem a ser reunidas num todo, somente aí é-lhe dada uma forma totalmente nova. O utilizador tem somente que encontrar o seu próprio modo de a usar. Criei Immobel na mesma altura em que estava a criar Mobelette. Ambas as peças possuiem um carácter forte e comportam-se de maneira muito diferente de uma cómoda vulgar. Ambas partem das formas tradicionais de cómodas para uma forma totalmente nova. O que pretende com Kissenschlacht? O que é? Kissenschlacht é uma almofada de luta. E interpreta o velho jogo contra o cenário de guerra e de hostilidades armadas que se verifica em todo o mundo, e que normalmente utiliza as costas das crianças como bode espiatório. Quer uses as bombas, as minas e as granadas para o conforto da tua sala-de-estar, ou as uses nos quartos das crianças. Significa preparar para a guerra. Uma perspectiva para o design no futuro? Tento olhar para ele com o maior número possível de pontos de vista.
www.details-produkte.de www.katrin-sonnleitner.com
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luis urculo Luis Urculo Cámara nasceu em Madrid em 1978, é licenciado pela ETSAM e pelo Illinois Institute of Technology de Chicago, e actualmente faz uma série de projectos para Philipe Starck, destacando o novo restaurante Ramses em Madrid e o hotel 1899. Terminou a produção de um vídeo para Mansilla-Tuñon, um projecto em Paris, e outro para Blanca Lléo, ambos seleccionados para o Festival Doc Milano. Está a desenvolver duas instalações para a Caja de Arquitectos e para a Boston Consulting Group no Museu Nacional Reina Sofia de Madrid. Tem trabalho publicado na Vogue, Elle, Diseño Interior, El Pais, expôs no ciclo FreshMadrid!, em Madrid, Bogotá, Nova Iorque e Barcelona. Texto: Júlio dolbeth
Consideras-te um arquitecto, designer, ilustrador, ou um iluminista do séc. XXI? Provavelmente serei mais um supervivente. Quão importante é o desenho para ti? Está presente em quase todos os teus trabalhos. Faço um tipo de trabalho ‘artesanal’, por isso o desenho é a base de todos os meus projectos. Considero que o desenho faz com que as coisas perdurem e não fiquem caducas tão rapidamente. Qual foi o projecto que gostaste mais de realizar até hoje? Não conseguiria dar uma pontuação aos projectos que já realizei. Tento sempre tirar o maior prazer do processo e desenvolvimento de cada um deles. Apesar disso, trabalhar a uma escala menor é sempre mais favorável. O que fazes quando não tens ideias? Dou uma volta na minha Vespa. Consigo resolver os problemas quando estou a conduzir. O que é que levarias para uma grande viagem? Pouca bagagem mas muito espaço. Vários cadernos. Dois clips. Uma taça.
Três personagens imortais? Carlo Mollino, Olle Eksell, Henry Darger. Qual é a tua rotina quotidiana? Sou pouco rotineiro. Em geral começamos às 10h no estúdio, tomamos café e lemos o correio… a partir daí é a completa deriva; é o melhor. Se nos aborrecemos, então é porque a coisa vai mal. Qual a sensação de trabalhar com o gigante Philipe Starck? Realmente foi uma sensação divertida. Cada vez que vinha improvisava um pouco, era um processo contínuo, e eu não parava de desenhar nas paredes. Foram quatro meses de desenhos. Creio que vamos continuar a fazer projectos juntos… pelo menos foi isso que disse monsieur S. Quais os websites que consultas todos os dias? Consigo seguir com uma certa regular-irregularidade os podcast de diddy wah, bibliodyssey, we make money not art e papelcontinuo.net
www.luisurculo.com
Restaurante ramses, madrid colaboração de luis urculo e philippe starck
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city safari fotografia de Pedro Janeiro produção Conforto Moderno & Cátia Almeida
saco LEE, cap PUMA, cinto LEE, perfume DIESEL sapato de lona POINTER, bota CATERPILLAR
capacete Japonês do séc. XIX em SANTOS&MARCOS, LDA
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ethnic city fotografia de Pedro Janeiro produção Conforto Moderno & Cátia Almeida
bolsa MANGO, ténis CONVERSE/All Star cinto BOSS/Hugo Boss
perfume JEAN-PAUL GAULTIER/L’eau d’étè/summer fragrance bracelete com material reciclado, no FABRICO INFINITO
weave city fotografia de Pedro Janeiro produção Conforto Moderno & Cátia Almeida
bolsa MIUMIU na FASHION CLINIC cintos de homem HENRY COTTONS e MAXIMO DUTTI
cinto de senhora FRED PERRY ténis ONITSUKA TIGER, sabrina ADIDAS PARQ
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02 LEGENDAS 01. fotografia de Ewen Spencer 02. aforest 03. «Bald Brush», de VHS 04. «Bald Brush», de VHS
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nike 1-1 Concurso de Arte Texto: Francisco vaz fernandes
A relação entre arte e futebol pode ser a mais próxima possível. Ambas as artes vivem da paixão, da exibição e provocam fortes emoções nos outros. No ano do Europeu de Futebol a Nike lança o concurso/projecto The Art of Football, comissariado pelo fotógrafo Nick Knight, o mesmo que retratou grandes figures nacionais como Nelson Évora ou Cristiano Ronaldo. O concurso é aberto a todos os graffiters, artistas plásticos, fotógrafos, realizadores, ilustradores e artistas em geral para conceberem uma peça subordinada ao tema Art of Football. O concurso foi lançado internacionalmente em Itália onde já se puderam ver obras de vários artistas convidados, entre eles o português Alexandre Farto aka VHS, ou o fotógrafo Ewen Spencer. O convite para realizarem peças a propósito do futebol está a repetir-se em várias cidades do mundo, entre elas Lisboa, com o objectivo de promover o concurso. Os onze melhores seleccionados pelo Studio Show de Nick Knight vão expor na feira de arte de Basileia e o vencedor vai poder costumizar umas Nike Dunk, a serem posteriormente produzidas em edição limitada. Vejam as condições no site. Inscrições até 12 de Maio. www.nike1-1.com
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www.camper.com www.hayonstudio.com
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A relação entre a Camper e Jaime Hayon, um dos mais proeminentes jovens designers do momento ganha novas direcções. Depois de ter sido o responsável pela imagem das novas lojas da Camper, tanto em Londres como Paris e Barcelona, o designer catalão concebeu pela primeira vez um modelo de sapatos para esta empresa de calçado espanhola. Como acontece com outros projectos, Hayon prefere trabalhar arquétipos dando a estes novos sapatos uma tecnologia e uma imagem completamente renovada. Inteiramente monocromáticos, em vermelho, verde, azul, branco e preto, dão uma nova emoção aos Camper.
M U Z I Q
Texto:clothe martins
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camper & Jaime Hayon
01 LEGENDA 01. Pedro paixão
Atlas do Desenho Texto: Francisco vaz fernandes
A disciplina de desenho está em foco durante o mês de Maio na Fundação Carmona e Costa, que acolhe uma exposição colectiva de artistas que a trabalham de forma alargada. A mostra serve ainda de pretexto para a apresentação de um conjunto de iniciativas editoriais e para a realização de palestras que convergem na importância da prática do desenho no contexto da arte contemporânea. Será lançada na mesma altura «A disciplina Sem Nome», uma colecção de ensaios sobre o paradigma do desenho organizado por Pedro A. H. Paixão para a Assírio&Alvim, assim como um livro de artistas, «Atlas Projectos de Desenho», com uma selecção de reproduções de desenhos inéditos de artistas portugueses contemporâneos, seleccionados por André Romão, Gonçalo Sena, Nuno Luz. Faz-se ainda a apresentação da revista PSIAX, revista Estudos e Reflexões sobre Desenho, que está encarregue de um ciclo de palestras que decorre durante o período da exposição. Exposição até 14 de Junho Fundação Carmona e Costa Edifício de Espanha (Bairro do Rego) Rua Soeiro Pereira Gomes, Lote 1- 6º A e DLisboa Tel. 217 803 003/4 — 217803000 de 4.ª à 6.ª 14 às 20; Sábado 14 às 19h. ATLAS PROJECTO DE DESENHO com projectos de: Alexandre Conefrey, Ana Baliza, Ana Jotta, Ana Manso, Daniel Melim, Delfim Sardo, Joana Escoval, João Queiroz, Martinha Maia, Miguel Ângelo Rocha, Pedro N. Marques, Pedro A.H. Paixão Conversas sobre Desenho na Fundação Carmona e Costa 14 de Maio, 18.30 Ensinar/aprender desenho para quê? Mário Bismarck; Paulo Almeida; Sílvia Simões. 28 de Maio, 18.30 Desenho como imagem e/ou objecto» Isabel Carvalho; Joaquim Vieira; Paulo Freire de Almeida.
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Giancarlo Mazzanti Texto: Francisco vaz fernandes
Recentemente inaugurado num dos vales mais violentos da cidade de Medellin, na Colômbia, nasce um dos projectos de arquitectura que mais dará que falar nos próximos anos. Primeiro porque prova que a arquitectura de referência não se limita a arquitectos super mediatizados. Estes estão cada vez mais em simetria com os grandes interesses económicos e ao serviço do prestígio. Depois porque este projecto traz-nos a esperança de uma arquitectura que qualifica e revitaliza o espaço. O projecto de biblioteca de Giancarlo Mazzanti mais do que impor harmoniza-se com a paisagem e com a realidade sócio-cultural do local, um vale onde sobrevivem milhares de famílias em simples construções clandestinas de tijolo. Ao invés de segregar as populações locais, o projecto, segundo Giancarlo Mazzanti, vai trazer um sentimento de pertença que permite que se venha a constituir como ícone no alto da montanha, símbolo de uma nova realidade que perspectiva um novo desenvolvimento cultural e económico para essas comunidades. A Biblioteca Parque España - que é constituída por biblioteca, Centro Cívico e Centro Cultural para além de outros equipamentos ligados ao lazer - já se transformou num dos miradouros de referência da cidade, o que recebe maior número de visitantes. Onde outrora reinava medo, cria-se um dos centros de convívio predilectos. www.giancarlomazzanti.com
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01 02 LEGENDAS óculos 01. Ray-Ban Clubmaster 02. D&G 03. persol 04. Marc Jacobs 05. prada 06. Dior Homme Black Tie 07. burberry
Fabrico Próprio
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Texto: carla isidoro 06
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Sol Redondo
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A expressão “fabrico próprio” é uma prova implícita de qualidade tão segura como um selo de garantia de uma empresa certificada. Se uma pastelaria tem fabrico próprio, é nela que vamos lanchar. E se os latino-americanos são doidos por doces feitos de leite condensado, nós comemos tudo o que seja açucarado: bolas de Berlim, São Marcos, bananos, queijadas…a variedade e o desenho dos bolos produzidos em Portugal é infinito e suculento.
Texto: sofia saunders
A tendência em matéria de óculos é a redução e a passagem para formatos quadrangulares e redondos. A Prada lançou um modelo completamente redondo inspirado nos anos 60, uma versão muito à John Lennon. Na verdade, a inspiração em artistas carismáticos é uma das grandes influências da estação e não podemos deixar de reparar nas propostas da Persol que se associam bastante à imagem de David Hokney. Os óculos de sol Marc Jacobs, em vinil e materiais shinning, são outra das grandes apostas a fazer lembrar as estrelas de cinema dos anos 60 e 70.
O livro agora lançado «Fabrico Próprio – o Design da Pastelaria semi-industrial Portuguesa» de Frederico Duarte, Rita João e Pedro Ferreira é a primeira compilação sistemática da arquitectura e design dos nossos bolos. A ideia não poderia ser mais original, enriquecida pela opinião de comissários de arte, críticos de design e chefs, ou pela participação de ilustradores e fotógrafos que apaladaram as páginas do livro.
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Há vários lançamentos previstos nacional e internacionalmente. Vejam pormenores na página web. 09
10 www.fabricoproprio.net
Retro Running
Sou como Tu Texto: francisco vaz fernandes
Texto: Clothe Martins — Foto: Ivo Lázaro — Produção: Cátia Almeida
A crescente procura de modelos “retro running” inspirados no calçado de atletismo dos anos 80 é um ponto essencial quando se pretende completar um look revivalista baseado num certo hedonismo da década, hoje cada vez mais influente na cultura de rua. As linhas de moda das marcas de desporto recorrem aos seus arquivos, aos detalhes técnicos dessas épocas, alguns deles revolucionários, e fazem propostas que são releituras da sua própria história. Impossível não reparar no reiventado Cortez da Nike, o primeiro sapato de desporto dessa marca reeditado em diferentes estados, evolução que vai dos anos 70 aos 80. No caso da Adidas é o modelo ZX que se torna mais popular e rivalizava com Ventilator da Reebok, também ele agora reeditado em cores psico. No caso de Le Coq Sportif, a marca francesa puxou pelo mítico Quartz 87, enquanto a Onitsuka Tiger aposta neste segmento na reedição do Saiko, um modelo que dava os primeiros passos no final dos anos 70. 12
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11 LEGENDAS ténis 08. Adidas Grün – Originals 09. Le Coq Sportif – Quartz 87 10. Reebok Rolland Berry 11. Tiger Saiko Runner HN841 12. Nike Bermuda Vintage 13. Puma XR Runner
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Um dos mais emblemáticos escultores nacionais, Rui Chafes, concretiza o que poderá ser um dos sonhos mais importantes na carreira de um artista: a encomenda de uma obra para o espaço público. Localizada na Avenida da Liberdade, em frente à sede da sociedade de advogados PLMJ, a quem pertence a iniciativa, a escultura aguenta-se ao confronto simbólico do local assim como ao contexto escultórico em que se insere. Integrada num passeio concebido por ideiais de urbanismo do séc. XIX que impunham uma estatuária como programa de engrandecimento (programa que em parte é continuado pelo Estado Novo), a escultura de Rui Chafes remete para o grande silêncio que a monumentalidade exige. Parece comungar do mesmo silêncio que habita grande parte das estátuas da avenida que perderam os propósitos de glória que um dia as fizeram erigir. Por isso, vê-la entre a folhagem das árvores, pode não constituir uma surpresa. Para os mais inadvertidos pode até parecer que sempre esteve ali.
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Falocêntrico
Texto: Francisco vaz fernandes — Foto: Ivo Lázaro
Jean Nouvel volta às formas fálicas aquando Yves Saint Laurent o convida para redesenhar a sua fragrância L’Homme. A nova série, limitada, corresponde à visão desta super estrela da arquitectura (recém vencedor do Pritzker) dos valores da masculinidade idealizados para o perfume L’Homme, um contraste entre o bruto e o precioso, o ultra masculino e o refinamento, o industrial e o luxo. O resultado é um frasco transparente que parece um tubo de ensaio invertido assente numa base negra brilhante. A forma fálica explícita readopta a imagem de um dos seus projectos mais conhecidos, a Torre Agbar, um edifício de escritórios em plena Barcelona carinhosamente conhecido por “Vibrador”, dado as suas semelhanças formais. Numa entrevista durante o lançamento do perfume em Paris, Jean Nouvel, sem falsos pudores reafirmava “que queria dar a L’Homme uma forma e uma proporção fáceis de manusear na mão de um homem e que pudesse ao mesmo tempo estimular diferentes aspectos da sua imaginação”. Completamente diferente de qualquer outro frasco de perfume até agora concebido, L’Homme tem ainda uma outra particularidade, em termos técnicos e de design, nunca vista: Nouvel introduz um objecto com a sigla YSL a flutuar no interior do frasco. A marca fica assim no coração da fragrância. L’Homme é um perfume fresco com tons de madeira à base de cedro dirigida a um público jovem dos 25 aos 35. www.ysl-lhomme.com
dior homme Texto: sofia saunders
Em termos de beleza não há como experimentar produtos que enriqueçam a pele e o ego. A Nio, uma marca que usa a lama do Mar Morto como um dos principais ingredientes, acaba de lançar o Serum Evolution para uso diário, um fluido para a renovação do colagénio e revitalização das células. Pode ser combinado com a máscara de lama do Mar Morto ou os cremes faciais quotidianos e destina-se a todas as peles que se querem bem tratadas.
Os nossos homens gostam de uma pele agradável ao toque e de impressionar mal saem de casa. A Dior pensou no homem citadino que se preocupa com o aspecto da pele e o seu bem-estar lançando quatro novos produtos aos quais é impossível não piscar o olho: Creme de Rasage Protectrice, protecção perfeita para depois do barbear cuidando das peles irritadas; Baume Nourrissant Régenerant, repõe os lípidos e rehidrata a pele com manteiga de karité; Correcteur Ciblé Anti-Cernes, que ajuda a prevenir o desenvolvimento de olheiras; e Emulsion Hydratante Effet Hâle, com extracto de Pelctranthus Barbatus que estimula o processo de pigmentação para uma pele com brilho natural.
Encontram a Nio nas lojas do Atrium Saldanha, Colombo, parafarmácias, Spa’s ou institutos de estética do país.
Estas novidades têm texturas sofisticadas, perfumes discretos e um design apurado. Irresistíveis.
nio
Texto: sofia saunders
Givenchy Texto: sofia saunders
Interessa ter a pele bonita e com aspecto liso durante o ano inteiro. A Givenchy acaba de lançar a nova base matificante Matissime, a textura ideal para uma maquilhagem leve que não deixa manchas de excesso de base na pele. As micro-esferas têm um poder absorvente 3 vezes superior a um pó clássico e como a textura é fina e ligeira não necessitamos usar a esponja várias vezes. Basta aplicála na zona T do rosto como corrector anti-brilho e terminar com um blush para um aspecto saudável e perfeito.
Ladytron Surgiram em 1999 e têm Liverpool como base de actividade, pese embora possuam membros de diferentes nacionalidades. «Velocifero», quarto de originais, será lançado em breve no mercado nacional, e a esperança global é que o nível do anterior «Witching Hour» seja, no mínimo, igualado. Meio caminho entre a pop electrónica, o shoegaze e o electroclash, de Liverpool para o Mundo, os Ladytron. Texto: PEdro Figueiredo
«Velocifero», nos escaparates em começos de Junho, é já o quarto trabalho de originais dos Ladytron. Os três primeiros impulsos discográficos ajudaram ao estabelecimento de uma sonoridade muito específica, terrenos meios entre a pop de cariz mais dançável e a música independente feita com substância e elementos de maior introspecção e reflexão não imediata. Antes, contudo, de partirmos rumo a «Velocifero», um pouco de história por detrás do colectivo. Os Ladytron formaram-se oficialmente no agora longínquo Verão de 1999. São formados por duas vocalistas, Helen Marnie e Mira Aroyo, figuras representativas da visão musical de Reuben Wu e, especialmente, Daniel Hunt, principal compositor da banda. Helen, escocesa de nascença e outrora top model, e Mira, búlgara e a única que nunca residiu em Liverpool, são a expressão visível da sensualidade por detrás das músicas dos Ladytron. Dois rapazes e duas raparigas que cruzaram caminhos em Liverpool, sendo actualmente os fab four da electrónica actual da cidade que viu nascer os The Beatles.
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«604» foi o álbum de estreia do grupo. Viu a luz do dia em 2001, e teve em «Playgirl» relativo sucesso nacional e internacional. Por esta altura, alguns clubes nocturnos começavam a rodar algumas das faixas da banda, quer as criações originais quer as remisturas feitas por —e para— os elementos da banda. Pouco mais de um ano depois, «Light and Magic», segundo de originais, viu a luz do dia. É um registo musicalmente mais amplo do que a estreia, que sintetiza eficazmente o conceito de maioridade artística. Os Ladytron abarcaram, então, numa extensa digressão de ano e meio, que serviu dois intuitos básicos: consolidar a dinâmica de palco do grupo, agora cada vez mais interligado, e compor um novo disco a editar posteriormente aos concertos. «Witching Hour» foi o resultado disso, e é o melhor trabalho dos quatro músicos até hoje. Pleno consolidar de ambiências electrónicas com pontuais elementos não estranhos a bandas como My Bloody Valentine (facção shoegaze, portanto) ou Kraftwerk (na frieza infernal da maquinaria utilizada).
O novo «Velocifero», a editar oficialmente a 3 de Junho, foi produzido na íntegra pela banda com ajudas preciosas de Vicarious Bliss e Alessandro Cortini (Nine Inch Nails). Diz-se que, ritmicamente falando, a novidade traduz de forma mais acentuada lições apreendidas através dos Mutantes e Birthday Party, grupos de eleição dos quatro de Liverpool. A promoção de «Velocifero» fez-se, em primeira instância, através da Internet. «Black Cat», faixa de abertura do álbum, foi disponibilizada gratuitamente na rede, servindo de porta de entrada para o novo mundo dos Ladytron. As primeiras impressões apontam para o registo mais complexo dos Ladytron, condensar sagaz das ambiências de sempre com novas pistas indiciando um adensar de ambiências mais negras na sonoridade da banda. A confirmar em Junho, em disco, e, provavelmente, na segunda metade do ano, num qualquer palco luso.
www.ladytron.com
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Baby Charles In search of the true soul, mate!
Há uma banda do catálogo da Atlantic que só agora está a ter alguma repercussão nos ouvidos das gentes. Chamam-se Baby Charles, banda e disco... Talvez já tenham até ouvido um hit muito discreto, «Back Of My Hand». Enfim, muito discreto por razões de arbitrariedade e prioridade dos bosses da editora. Praticantes de soul tal qual ela veio ao mundo, parece que os Baby Charles estão finalmente a transitar das velhas Wurlitzer para os pods de última geração.
Texto: mário nascimento
Embora com um som bem americano, os Baby Charles eram um combo de Brighton, na Inglaterra, com Dionne Charles a dar voz ao projecto, que consistia de mais sete elementos, exímios guarda-costas que protegiam o mojo da banda com o maior zelo possível (outra raridade daqueles tempos: o grupo era formado por quatro mulheres e quatro homens). Sendo o seu som primordialmente soul, os Baby Charles demonstravam ao mesmo tempo um pendor para o funk e R&B e, enfim, o viés geográfico talvez nos incline para essa prateleira, mas o estilo northern soul também nao seria mal aplicado. Mas neste ramo, qualquer nome fica bem quando é arrumado perto de qualquer Mrs. Jones, seja Sharon ou Gloria.
Se, para os Baby Charles, a cantora Dionne era bastante importante, a entourage que ela tinha por trás não o era menos e a produção de «Baby Charles» assim o mostra, o que até é uma atenuante, quando se tenta perceber o seu estatuto de banda de culto ao vivo mas menos divulgada longe dos palcos. O baixo é possante, a guitarra, por vezes, sai do formato funk e quase que se mete em terrenos mais psicadélicos, arrastando sempre o Hammond nas suas aventuras. A secção de metais, ingrediente igualmente essencial nestas formações, tem a particularidade de integrar sopros menos "fortes" como o da flauta, mas integra-a e enverga-a orgulhosamente, sem tirar força nem impacto ao resto dos instrumentos. No fundo, uma produçao cuidada e de época, na altura em que se fazia tudo como manda a lei.
Bom, de época... Isto seria tudo muito plausível, se nao fosse o facto de uma das faixas do album de estreia dos Baby Charles se chamar «I Bet You Look Good On The Dancefloor». Sim, essa mesmo. Não, os Arctic Monkeys não fizeram uma cover e é a inclusão deste tema em «Baby Charles» que desmancha a falácia deste artigo. Contudo, e exceptuando o facto de a banda nunca ter assinado pela Atlantic, tudo o resto é verdade. Os Baby Charles vieram mesmo de Brighton, embora a sua estreia nos chegue através da editora italiana Record Kicks. A única coisa que falta ao disco é mesmo só a patine da agulha a passar pelas espiras, mas para isso há-de servir a edição em vinil. A escolha do tema dos Arctic Monkeys acaba por ser mais despropositada que "olha‑que‑engraçado", mas ainda assim, assenta perfeitamente no template.
www.babycharles.co.uk
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Eli “Paperboy” Reed O regresso da soul
Eli “Paperboy” Reed é a mais recente prova de que a soul de recorte vintage está de volta e em força. Texto: Rui miguel abreu
Há anos que pequenas editoras como a Daptone, Soul Fire ou Funk 45 debitam avisos sob a forma de singles de sete polegadas gravados como se o mundo não tivesse avançado para lá de 1970: desde que os Poets of Rhythm surgiram —na Alemanha!— em 1992 com um single numa ‘falsa’ Hotpie & Candy que a cena nu-funk borbulha logo abaixo da superfície. E não se trata de uma cena revivalista: há até algo de punk que se espelha não apenas na ética “do it yourself ”, mas também num certo ignorar de convenções da indústria. Curiosamente, esta cena foi alimentada por uma comunidade muito próxima do hip hop que por via do sampling chegou aos novos breaks que estas bandas estavam a produzir. Anos de militância underground conduziram este regresso da soul até Sharon Jones (que há uns anos visitou Lisboa para um memorável concerto no Santiago Alquimista) e aos seus Dap Kings que a partir de «Naturally» se tornaram os mais visíveis embaixadores desta sonoridade. Isto, claro, até Amy Winehouse ter trocado o light jazz do seu primeiro álbum pelo “grit” soul dos Dap Kings fazendo de «Back to Black» um fenómeno mundial. A soul está de novo nas ruas e por isso o mundo agora está pronto para Eli “Paperboy” Reed.
Sob muitos aspectos, Eli parece bom demais para ser verdade: tem uma grande voz e uma enorme atitude de palco, veste fatos de pele de tubarão (verdade!) em corte clássico, nasceu em Boston (mas passou pelo Mississipi aos 18 anos) e é dono de uma paixão desmedida pelas lições intemporais da Stax e da Motown da primeira metade dos anos 60. Quando regressou à cidade dos Celtics, Eli começou por cantar na rua. A experiência ensinou-o a enfrentar qualquer público. Armado com a energia aprendida nos clássicos soul do sul dos Estados Unidos —Otis, Ray, o Curtis dos Impressions, Little Willie John— Eli Reed decidiu fazer aquilo para que parecia estar naturalmente talhado. Formou a banda True Loves e começou a tocar onde quer que o aceitassem, incluindo clubes mais talhados para bandas punk. O facto de, a partir de Brooklyn, alguém como os Dap Kings e Sharon Jones estar a trilhar o mesmo caminho deu clara força a Reed. Agora, através da pequena Q-Division (www.qdivisionrecords.com) há um álbum preparado para sair com o título «Roll With You». Antes do álbum, porém, canções como «Take My Love With You» conquistaram espaço em palcos, na Internet e nas malas de djs que ainda compram singles de sete polegadas. Justamente. «Take My Love With Yo» é um enorme pedaço de luz, com a dose certa de púlpito de igreja baptista e a saborosa “gordura” só possível de adquirir nos clubes onde toda a gente se mexe quando o baixista começa a justificar o seu ordenado.
Não há revoluções em «Roll With You». Nem truques: foi tudo gravado em equipamento analógico para dessa forma se preservar o pulsar orgânico que obviamente sustenta a banda. E Reed não quer, decididamente, reinventar a roda: “adoro canções de amor,” explica, “as melhores canções do mundo são as que falam de um rapaz e de uma rapariga; todos as percebem.” A circunspecta Mojo não lhe poupa elogios e escreve que “há cantores que cantam e depois há cantores cujo poder de expressão simplesmente nos arrasa.” Eli “Paperboy” Reed cai, obviamente, nessa última categoria. Com o seu álbum de estreia na rua é natural que Eli venha até à Europa onde grande parte do público desta estética tão americana parece estar. Se por acaso são crentes, acendam uma velinha ao vosso santo de eleição e rezem para um concerto em Portugal.
www.myspace.com/elipaperboyreed
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h is gl ion En er s 79 V p.
Texto: FRANCISCO VAZ FERNANDES
George Osodi é um fotógrafo nigeriano emergente que se dedica ao fotojornalismo desde 1999, tendo publicado em jornais de L agos até 2002 e nos mais importantes jornais do mundo a partir de um convite da Associated Press News Agency para integrar a sua equipa. Paralelamente tem desenvolvido um trabalho pessoal so bre a paisagem socio - económica do delta do rio Níger, uma das mais importantes zo nas de exploração do petróleo em Africa. As
suas fotos enquadram - se na estética e na tradição do fotojornalismo, onde o
olhar humanista está presente, assim como a denúncia social.
Nesse
sentido, a for-
ça das suas imagens vive dos contrastes expressos entre duas realidades que seguem o seu curso paralelamente quase sem se tocar.
Por
um lado, um quotidiano simples
e sem recursos, retratado em mulheres e crianças nas suas actividades domésticas, e por outro a exploração promovida pelos interesses económicos na região, marcada por terríveis combustões altamente poluentes que mancham o fundo da paisagem.
O
interesse do olhar de
Osodi
reside precisamente nisso, na capacidade de preser-
var um certo lirismo num primeiro plano, uma afirmação da vida perante uma catás trofe que transformou em
África. Esta
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anos um paraíso numa das zonas mais destruídas de
Parq, «Oil Rich Niger Delta», alcan George Osodi fosse em 2007 um dos artistas convidados para aquela que é considerada a exposição mais importante do mundo das artes plásticas, a Documenta de K assel. série que apresentamos agora na
çou grande impacto internacional fazendo com que
www.osodi.com
sem título da série "Oil Rich niger delta" ©george osodi 35
PREGNANT WOMAN da série "Oil Rich niger delta" ©george osodi 36
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sem título da série "Oil Rich niger delta" ©george osodi 38
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CAMANÉ Sete anos mais tarde , Camané regressa ao estúdio para gravar. Pelo meio canta outras canções, integra Os Humanos, faz muitos concertos e apura o seu fado. «Sempre de Mim» é um disco seguro, trabalhado ao milímetro, onde o fadista se revela minucioso como um ourives. Um fado de palavra e mensagem.
Achamos que os fadistas já nascem fadistas, mas no filme não há dúvidas de que o fado é um trabalho árduo, um trabalho muito sério. O fado sempre foi sério. Encontrar as estruturas poéticas que funcionam no fado tradicional, construir uma canção dentro de uma canção… esse trabalho demora imenso tempo, pensar muito sobre isso….o encontro da palavra com a música, e depois em estúdio aperfeiçoar tudo ao máximo. E por vezes em estúdio é complicado encontrar aquele estado de espírito, o registo emocional de cada fado. São as coisas que dão mais trabalho nos meus discos. E desta vez deu-me mais trabalho porque também a exigência era maior. É o meu quinto disco de originais, tinha que haver uma evolução.
Texto: Carla isidoro
Essa evolução é notória no disco em termos da tua interpretação, fazes um fado bem falado, um fado de mensagem, percebe-se o cuidado à volta de cada poema, de cada palavra e da entoação encontrada. Sentes esta mudança? Sinto, tem a ver com o crescimento natural. Há uma coisa que eu tenho e que vai desaparecendo, eu quando canto consigo esquecer-me de mim, ponho de lado as preocupações e as minhas inseguranças, isto dá-me uma liberdade enorme para poder criar, poder fazer cada vez melhor e até interpretar melhor. Essa evolução foi uma coisa que vim a construir desde o primeiro disco e sabia que era por aí que podia fazer melhor o meu trabalho, mas são coisas que demoram, têm a ver com a tal maturidade e serenidade. Tenho-as quando canto, tenho a humildade de sair de mim e deixar o meu ego e as minhas inseguranças, é preciso liberdade para conseguir fazer as coisas.
Fotos: Frederico martins Styling: conforto moderno Make-Up: josé teixeira, com produtos Dior Homme Fotografado na recente Brasserie Flo do Hotel Tivoli Lisboa. Agradecemos a todos a total disponibilidade.
English Version p.79
É comum pensar-se que quem canta fado canta naturalmente, como um piscar de olhos. No Dvd que saiu com o novo disco percebe-se bem o que é trabalhar a música, trabalhar o fado. Foi difícil fazer este disco? O trabalho em estúdio é minucioso, é o registo de uma época, é tentar dar o melhor porque não se vai gravar de novo logo a seguir. Há um trabalho anterior que é a escolha de repertório, escolher os poemas, e depois em estúdio encontrar o registo emocional de cada tema, de cada fado, passar essas emoções o mais possível através da interpretação, tentar que todos esses registos emocionais estejam lá e passem para fora.
Fala-se já neste trabalho como o disco da tua consagração. Há de facto uma estabilidade e uma segurança notórias no disco. Estás no auge ou perto do auge? Há muitos anos que canto fado, há 24 anos que canto profissionalmente e sem ser profissionalmente há uns 33 ou 34 anos, tinha sete anos quando cantei a primeira vez. Não sabia muito bem o que era cantar fado, o meu bisavô cantava, o meu avô cantava… O teu pai não? O meu pai começou a cantar depois de mim, de alguma maneira arrastei muito os meus pais…e depois os meus irmãos. Acho que foi um conjunto de circunstâncias que fizeram com que eu cantasse. Tive altos e baixos, é normal… Consagração, acho que não sinto isso, senti sempre que tinha um público próprio e especialmente depois de 97 tinha gente nova comigo, jornalistas jovens interessados no meu trabalho. Este disco foi o que mais gostei de fazer até agora, mas o disco anterior tinha sido o que mais tinha gostado de fazer, então não vejo essas coisas de consagração. É possível que haja mais mediatização à volta do meu trabalho, mas tenho um público que tem crescido muito, fiz muitos concertos, cada vez mais gente ouve a minha música. Tou a sentir que gostam muito deste disco, e ainda bem, gostava realmente que o ouvissem, e as pessoas ligadas aos jornais e críticos gostaram muito e pode de alguma maneira ser uma espécie de consagração, as pessoas ficam mais em cima do que está a acontecer, mas acho que á uma continuação do meu trabalho.
Como se consegue essa liberdade? Vivendo? É vivendo, e pensando nisso, uma questão de atitude perante as coisas, uma atitude melhorada que vem com o tempo. Tou numa fase em que cada vez me sinto mais livre, não estou condicionado, não estou a tentar provar nada a ninguém. Estou a fazer o meu caminho da forma como eu sei.
camisa e casaco de smoking CAROLINA HERRERA
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É difícil cantar a poesia dele? É difícil de encontrar aquela que funciona bem nos fados tradicionais. Pra já a poesia dele é tão boa que vale por si só, não precisa ser cantada, é pura. Mas dignifica muito o meu trabalho de repente existirem estas palavras pra cantar. E encontrei uma maneira de cantar o Fernando Pessoa.
Já várias vezes li que és uma pessoa solitária e penso que de alguma maneira a solidão caracteriza o teu fado. Isso de alguma forma influencia a maneira de interpretares os fados? Hoje em dia não me sinto solitário, tenho bastantes amigos mas são pessoas que sabem que vez em quando me fecho… Normalmente não ensaio em casa, vou cantando na minha cabeça e isolo-me por causa disso, preciso da minha cabeça para ir construindo as coisas. E depois há um trabalho muito intuitivo que é muito espontâneo porque já está tudo interiorizado, já houve esse trabalho de pensamento e de reflexão, e depois as coisas são intuitivas, estão interiorizadas, pego nos poemas e faço daquelas as minhas palavras e ponho-me na pele desses registos emocionais, dessas personagens. É um bocadinho como um trabalho de actor, mas não é tanto porque está lá muito de mim.
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Quais são os fados que te movem? Falam de quê? São os que têm a ver comigo, identifico-me com as mensagens, com as emoções e as vivências que lá estão. De uma forma geral são os fados com os quais sinto, até intuitivamente, que está lá muito de mim e consigo sentir aquelas coisas e consigo transmitir alguma coisa com elas.
Os poemas do Luis Macedo que cantas neste disco caem-te muito bem, parece que foram feitos prá tua boca. Porque é que os procuras? Sempre gostei muito dos fados do Luis Macedo que a Amália cantava, identificava-me imenso com aquela forma de escrever, com aquela poesia. Mas não queria cantar nenhum fado de Luis Macedo que tivesse sido cantado pela Amália, aliás não gosto muito de cantar letras que tenham sido cantadas pela Amália, Carlos do Carmo ou o Marceneiro porque são extremamente definitivas. Não ia acrescentar nada ao que estava feito, são tão boas que não vale a pena. Mas neste disco queria Luis Macedo, ele fez dois livros de poemas mas não fez mais nada, então pedi ao David Ferreira se me encontrava poemas dele. Conseguiu encontrar seis poemas com ajuda da Joana Varela, fantásticos todos. E depois esta coisa do Fernando Pessoa, com grande sorte minha a Manuela [de Freitas] encontrou-me mais dois poemas de Fernando Pessoa. Pensei que já não ía gravar mais Pessoa….
A Manuela de Freitas tem um papel muito importante na tua carreira. Até que ponto o facto de ser actriz influencia a forma como interpretas o fado? Traz-te alguma mais-valia do teatro e da representação, traz-te este lado? Traz. Quando estava a escolher os fados tradicionais pra este disco, é engraçado que muitos são fados da minha infância, ouvia muito o fado Varela, o fado Licas, têm a ver com a minha infância. Com dez anos já construía os meus fados e muitos dos fados que eu cantava eram mais fados estendidos, e depois comecei a perceber que gostava de outros, mas mais tarde voltei a alguns destes. Agora, com este disco, cantei fados que já não estava neles, não os cantava há muitos anos mas lembrava-me deles, isto é como andar de bicicleta, não se esquece. A Manuela não percebe nada de música, mas percebe quando as coisas passam, qual é o tipo de emoção e registo emocional que passa, é muito o fado tradicional que nos dá isto. Num dos fados, era o fado Varela, a Manuela conhecia esse poema declamado, já tínhamos experimentado outros fados, tínhamos andado ali andado às voltas e foi com o Varela que funcionou, e a forma de interpretar é conseguir que essa música, esse chão musical não interfira com a mensagem. O essencial da mensagem e do fado tem que lá estar. Tudo tem de funcionar. Demora-se muito tempo a encontrar esse equilíbrio, a encontrar a música certa para um poema? O fado tradicional diz-nos logo se dá ou se não dá.
Mas o fado tradicional não é uma fórmula única, não há só um. Mas aquele fado tradicional que funciona naquele poema quando se encontra encontrou-se, e ele deixa-se encontrar. E também quando não se encontra o fado diz-nos, diz-nos. E quando acontece é aperfeiçoar, e aí vem mais um trabalho de reflexão, como vou dizer aquela frase, como dividir as orações. É o trabalho seguinte. Compras e lês poesia em casa? Compro mas dão-me muitos livros. Tens um autor favorito? Gosto muito de Cesário Verde, é dos poetas que gosto mais. Ainda não o cantaste. Não. Porquê? Não dá pra cantar (risos). E gosto muito de Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Antero de Quental, e já cantei Antero de Quental, Eugénio de Andrade, João Linhais de Barbosa… João Linhais de Barbosa é um poeta popular genial, genial mesmo, uma coisa fabulosa. Um poeta muito ligado ao fado, o meu preferido do fado. Que música ouves? Sei que és um fã exímio do Chico Buarque. O Chico Buarque é único, é um grande letrista, um grande compositor, um poeta. Gosto de o ouvir cantar, já assisti a concertos dele cá e no Brasil. E gosto do Jobim e do João Gilberto. Mas gosto muito de jazz também, Frank Sinatra, música italiana, espanhola… quer dizer, oiço toda a música e de todas as épocas, gosto muito da música francesa, da Piaf, do Brel, Aznavour. A fase de concertos que fizeste no S. Luiz, «Outras Canções», reflecte esse teu gosto e interesse pela canção? Quando era miúdo tive uma hepatite, fiquei 1 mês dentro de casa e só tinha discos de fado. Mas também tinha 2 singles, os dois dos Beatles, e tinha um disco do Aznavour e ainda um do Sinatra. Ouvia isso tudo e nunca mais me esqueci. Comecei a cantar fado mas depois comecei a ouvir muita música americana, italiana, francesa. Estes espectáculos no S. Luiz, já tinha feito o Outras Canções 1 com músicas portuguesas ou cantadas em português, e depois fiz com canções dos Beastles, Tony Bennett, Tom Jobim com Chico, e o português Tony de Matos. Escolhi muitas canções de época, gostei muito de o fazer.
E o público adorou. Mas o Zé Mário Branco não acha muita piada a esse teu lado de cantor. Não acha piada nenhuma. Ele é um purista do fado? É quase, é quase. Contrariamente ao que a maior parte das pessoas que não são do fado e que às vezes trabalham o fado, o Zé Mário é um purista do fado. É realmente muito diferente, vai por dentro das coisas e gosta, percebe muito bem as diferenças nas músicas e as características das músicas, trabalha comigo há muitos anos mas já tinha trabalhado com o Carlos do Carmo, e então… é mais purista do que eu. É por isso que o convidas para ser teu produtor? Sim, tem um gosto musical excelente, uma atitude excelente no fado. Não descaracteriza a música, a música está lá, e por outro lado tem muito rigor e ajudou-me a criar o meu trabalho e a minha sonoridade, que é fado mas é o meu fado. O Zé Mário conseguiu criar isso para mim. Vais apresentar este teu disco agora em Maio, no Coliseu. Continuas a ficar nervoso antes de entrar em palco? Ah sim. Mas consigo lidar com esse medo, acho que já consigo que esse medo não interfira nas coisas que estou a fazer.
Dia 16, Coliseu dos Recreios
www.camane.em.pt
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Cova da Moura — “O CCB não é perigoso”
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Este mês a Cova da Moura apresenta-se duas vezes no CCB. O bairro com pior reputação da Grande Lisboa leva trabalhos artísticos produzidos pelos seus moradores a um dos principais equipamentos culturais do país. Subitamente o bode expiatório entra na agenda cultural contemporânea. Que público vai ver o bairro maldito?
Texto: Carla isidoro Fotos: «Íman» de Ana Borralho [1,2] stills dos filmes: «Olhos nos olhos com a Cova da Moura» [3,4,5,6]
No final de Janeiro a Fnac do centro comercial Colombo anunciava passar uma série de filmes realizados por jovens da Cova da Moura onde o tema era o bairro em si, as suas pessoas e particularidades que pudessem ser captadas em mini documentários. A notícia deste visionamento foi, estranhamente, difundida de forma massiva nos telejornais e na imprensa e parecia estar a divulgarse o trabalho inovador de jovens artistas premiados e não os mal afamados moradores da Cova da Moura.
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Faltava conhecer a segunda parte desta grande notícia dos ‘ jovens do bairro terem feito filmes’: como iria ser recebido este visionamento pela Fnac, pelos seus clientes comuns, e quem iria ver estes filmes além dos seus autores e amigos? O auditório estava literalmente à pinha, cheio de moradores da Cova e respectivos amigos, jornalistas, uns cem negros mais meia dúzia de brancos, alguns deles caras conhecidas de instituições sociais e/ou culturais. O cliente comum que passa e espreita com curiosidade só para perceber o que se passa no auditório desta vez não reagiu com grande curiosidade, olhando à distância. Talvez este aglomerado também tenha intimidado quem mandou encerrar o funcionamento do bar da Fnac até o visionamento ficar concluído. Procedimento habitual durante os espectáculos ou visionamentos? Não, tratou-se de um procedimento extraordinário. Algum comportamento na assistência que levasse a estabelecer medidas diferentes do habitual? Não, pelo menos enquanto lá estivemos, do princípio ao fim do visionamento. Insistimos em pedir uma bebida mas levámos com uma redonda nega: “Não podemos, temos ordens para não servir nada até isto acabar”, responderam por detrás do balcão. Apesar do calor no auditório a audiência não arredou pé até o último filme ser visto e aplaudido. Os documentários, curtos, são um nítido olhar dos moradores sobre o seu bairro, suas rotinas, questões quotidianas preocupantes ou que motivam orgulho. Falam de escolaridade, de desporto, das mulheres que cedo acordam para fazer limpezas noutros concelhos, de música, entre outros assuntos. Para os autores este momento na Fnac foi, mais que tudo, a legitimação destes trabalhos e da sua motivação.
Algum tempo mais tarde, no final de Março, o espectáculo de autoria da coreógrafa Filipa Francisco e co-autoria das dançarinas Wonderfull’s Kova M apresenta-se em ante-estreia na Cova da Moura. É final de semana, a sala da associação está cheia de moradores, familiares e amigos para verem «Íman». As bailarinas estão nervosas e ansiosas por conhecerem a opinião de quem foi ver o trabalho que ensaiaram durante meses. Apresentar um espectáculo de dança contemporânea em pleno bairro não é coisa que possa facilmente cativar os moradores, e elas sabem‑no bem. Estão mais preocupadas com a opinião do bairro do que com a reacção do público que irá vê-las ao CCB. Filipa Francisco, que há bastante tempo queria trabalhar com a Cova da Moura, explica-nos o porquê de «Íman»: “havia a necessidade de desmistificar a ideia de que não se faz nada de positivo no bairro e perceber que é um preconceito pensar que há zonas onde a arte contemporânea não pode entrar. Durante anos trabalhei com os teatros e os centros de arte à séria onde há uma tendência para trabalharmos para um público que tem possibilidades económicas, que consegue estar informado, e na verdade comecei a sentir um grande vazio e a perguntar-me para que é que servem os meus espectáculos. Se são só para gente que entende a arte e teve estudos, então se calhar não me interessa que seja só para isso. Abri o leque de possibilidades de trabalho e comecei a trabalhar a dança em estabelecimentos prisionais, e posso dizer que me encontrei. São projectos muito duros mas há uma energia que volta, esse vazio é preenchido, trabalha-se com pessoas que dão muito. O «Íman» foi surpreendente porque foi feito de um encontro, não cheguei aqui com uma ideia que meti em cima da mesa. Se não se envolver as pessoas no seu todo a peça fica só conceptual, formal, e deixa de ser emocional e ter o lado humano. Isso nota-se nesta peça.”
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Entram em palco sete raparigas que deslizam suavemente ao lado umas das outras e mexem as mãos ondulando-as. Depois ficam imóveis batendo com elas contra o peito marcando fortemente o Batuque, um dos ritmos tradicionais de Cabo Verde. Em fundo a música é outra, desarticulada e minimal, que as obriga a um jogo de concentração e abstracção exigente, e a entrarem numa nova forma de expressividade à qual não estão habituadas. As Wonderfull’s Kova M são um grupo de bailarinas que usualmente acompanha rappers em concertos ao vivo. “No início era tudo novidade e corria bem, mas depois senti a energia delas a baixar, começaram a faltar aos ensaios, mas consegui agarrá-las porque este espectáculo ia acontecer a meio caminho até ao CCB. Hoje elas perceberam que estão a dançar bem, as pessoas do bairro gostam, o caminho percorrido era importante e não podia ser outro. Agora é manter o grupo unido até às próximas apresentações.”
Os moradores da Cova da Moura não vão, regra geral, ao CCB ver espectáculos. São ambientes que não se tocam. Será que o público do Centro Cultural de Belém, genericamente falando, quer ver a Cova da Moura em palco? Ou será que, em pleno ano para o diálogo intercultural, fica bem ir lá mostrar que se é tolerante? Será que também vão parar o serviço de bar? Filipa Francisco tem uma certeza: “Espero que sejam encontradas estratégias para lá levar o público da Cova da Moura, nem que seja alugando autocarros para ir em conjunto ao CCB, ir em família em vez de cada um ir por si. A ideia é levar o bairro ao CCB. Tal como estamos a tentar mostrar que o bairro da Cova da Moura não é perigoso, também queremos dizer o contrário, que o CCB não é perigoso”, remata Filipa Francisco rindo-se. Paralelamente, os autores dos documentários estão entusiasmados com a ideia de agora levarem os filmes ao Museu Berardo, no âmbito da exposição «Gérald Bloncourt, Por uma Vida Melhor», uma programação que pretender reflectir e discutir o tema das migrações. Sara Gomes, da produtora Até ao fim do Mundo responsável pelo projecto dos filmes, não tem dúvidas: “Acima de tudo os jovens têm esperança que as pessoas passem a ver o bairro de outra maneira (…) Acho que as instituições se começam a abrir para ‘outras formas de arte’. Levar a Cova da Moura ao Museu Berardo parece-me uma prova inquestionável disso mesmo.”
Heidir Correia, co-autor de um dos documentários, sente que a fama da Cova da Moura pode até ser favorável: “Há bastante tempo que se fazem projectos interessantes no bairro mas só agora é que há interesse neles. A Cova da Moura gera grandes audiências na televisão, há muito share com as notícias do bairro, mas o bairro agora é mediático para os dois lados. Antigamente só o que era mau é que passava mas as coisas estão a mudar, é um facto. Ir ao CCB é um privilégio, não sei quem vai ver os nossos filmes mas acredito que muita gente poderá ir pela curiosidade de ver a Cova da Moura e ver que tipo de filmes fizemos. Estamos em fase de mudança. Acho que se voltar a acontecer alguma coisa negativa no bairro os jornalistas vão pegar com mais cuidado.” A RTP já comprou os documentários que serão exibidos em horário nobre na RTP1.
Dia 10, 16h: Documentários no Museu Berardo, CCB Dias 30, 19h e 31,17h: «Íman» no pequeno-auditório CCB Dia 1 Junho, 19h: «Íman» no pequeno auditório do CCB
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bb5 —When Things Cast no Shadow 03
English Version p.79
“What about biennials in general and their globe-trotting curators? You mean those people flying around the world on the public dime trying to find some idiot in the boondocks who makes identity art with television sets? They’re obsolete but not endangered. They think art spaces are laboratories for the interaction of cultures. They’re not. They’re places where you put cool stuff, stuff you love. That’s why art fairs have replaced biennials. Cooler stuff. Higher stakes. Better fashion sense.” 1 Texto: Ana teixeira pinto (crítica de arte)
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No passado dia 3 de Abril inaugurou em Berlim a quinta bienal de arte contemporânea da cidade, bb5 - When Things Cast no Shadow. Tinha proposto escrever este artigo antes de ver a bienal mas não podia imaginar que tal se iria demonstrar tão, hmmm, como dizer, complicado, para usar uma das palavras preferidas dos portugueses. Passo a explicar, é-me difícil ter uma opinião sobre a exposição. Se compararmos com a anterior, bb4 - Of Mice and Men, que foi um sucesso estrondoso, esta bb5 não deixa de me ser simpática. É que, pessoalmente, julguei a bb4 sinistra. Tanto por se alinhar alegremente com todo o processo de gentrificação que o centro de Berlim tem sofrido fazendo uma liquidação geral da história alemã numa Mitte-disneylândia para turistas culturais, quanto por conceptualmente representar a viragem que a arte americana tem demonstrado na última década, um desviar de todas as tensões do plano político para o psicológico. Uma tendência por assim dizer, reaccionária. E uma vez que a privatização da psique e a privatização da propriedade são sempre concorrentes, a bienal abriu ao público espaços como a ‘escola judia para meninas’ e, concentrando-se entre as ruas principais de Mitte qual arauto para agentes imobiliários, inflamou a colonização massiva do bairro por galerias americanas, cafés franceses e vitamin bars.
Sim, eu sei, que usar termos como reaccionário soa a crítica cultural do ‘avante’, e que ainda por cima em Portugal, que está a viver o seu momento neo-liberal, nem o ‘avante’ nem o meu léxico marxista são bem vistos, mas os cafés franceses e os vitamin bars sim. E, claro, que também sei que não se pode culpar (exclusivamente) a arte contemporânea pelo aumento das rendas mas, segundo a lógica de ‘festivalismo’ que estruturado a gestão pública, uma bienal não tem nenhuma leitura artística, é uma instância de ‘animação cultural’ que visa reavivar a economia de regiões ou áreas desfavorecidas através da captação de públicos. O público em vista era, assim, hà dois anos, de vocação atlântica, Berlim empreendia a sua viragem a oeste. Mas como um dos agentes imobiliários que fui conhecendo na minha busca pessoal de propriedade confidenciou, agora a “nossa esperança está no leste, e nos chineses”, afinal, mesmo antes da crise do sub-prime, os mercados americano e londrino já não investem em Berlim.
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E aqui devo confessar que sim, que sempre gostei do Vasco Granja e que me é difícil ser super crítica em relação a esta bienal, com imensos artistas extremamente jovens como o português Pedro Barateiro com a sua instalação ‘A cidade nua’, e uma massiva presença de desenho, fotografia e vídeo de baixa resolução. Tirando um ou dois nomes do momento, como Gabriel Kuri, sem ‘estrelas’ da arte contemporânea, e com uma postura all-inclusive, apostando num extenso programa de performances, conferências e apresentações várias.
Assim, este ano, a bienal virou a leste, os comissários são Adam Szymczyk, polaco, e Elena Filipovic, de ascendência sérvia; os artistas refletem massivamente o leste, Ásia menor, Médio Oriente. A estética difere da anterior bienal tanto quanto o Bugs Bunny diferia dos desenhos animados checos apresentados pelo Vasco Granja. 1
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Toda a exposição vive do charme desse look, dum romantismo residual a toda a naiveté do amadorismo, evocando uma exposição de fim de lectivo ou uma ‘feira da ciência’.
Conversation with Dave Hickey" March 2008 issue of Art+Auction.
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Não deixa de haver peças interessantes, entre as minhas favoritas estão o filme de Melvin Moti, «E.S.P» (Extra Sensorial Perception), um extremo close-up a uma bola de sabão acompanhado de uma narrativa em voz-off de excertos dos diários de J.W. Dunne, o qual conta como se veio a aperceber que os seus sonhos têm a capacidade de prever desastres naturais; o vídeo de Susan Hiller «The Last Silent Movie», uma coleccção de línguas extintas e dos seus últimos documentos gravados; ou os filmes candid-camera de Zhao Liang sobre Pequim e outras metrópoles chinesas. Também não posso deixar de mencionar Janette Laverrière, nascida em 1909, que expõe num dos chamados projectos especiais da bienal, onde um jovem artista convida um seu mentor para um projecto conjunto. Neste contexto Nairy Baghramian convidou Laverrière a expôr os seus elegantes objectos no não menos elegante Schinkel Pavillon num momento expositivo extremamente bem sucedido.
Existe, no entanto, uma outra razão pela qual não posso deixar de mencionar este projecto. Sempre achei que todo o conteúdo latente encontra maneira de se tornar manifesto. Pude confirmar a minha impressão de que o conteúdo latente das novas colecções é o desejo por parte dos coleccionadores de terem acesso a uma vida social mais excitante do que a que por norma teriam quando o New York Times dedicou um artigo a um novo tipo de empresa que se encarrega de ‘colocar’ convidados com fundos em eventos de acesso restrito, como sejam jantares de galerias ou de instituições. Tudo isto eliminando o intermediário, ou seja, a necessidade de, de facto, se comprarem peças de arte. Também confirmei a impressão de que o modelo latente das novas bienais era a ‘escola de arte’ quando a Manifesta 6 se apresentou como uma escola de arte. Quando a Artforum lançou a sua rubrica Scene&Herd confirmei a impressão de que o conteúdo latente do dispositivo de ‘exposição’ é a revista Hola. E finalmente devo agradecer à bienal de Berlim por confirmar a minha impressão de que o conteúdo latente do discurso artístico da ultima década é o da identificação esquizofrénica com a autoridade, ao tornar essa prática manifesta. Vivemos um momento histórico em que artistas emergentes se apresentam como ‘um cruzamento entre Robert Morris e Kazimir Malevich’. Nenhuma ironia implícita.
Dave Hickey diz que tal sucede porque o sistema de distribuição se burocratizou, entre a escola/universidade e as instituições, sendo que os artistas de sucesso são inevitavelmente os artistas que sabem apelar à figura tutelar do professor, do comissário, ou do director. Mas Dave Hickey também é super reaccionário e acha que a arte deve ser gerida pelas regras do mercado enquanto acho que, se é verdade que um dos problemas estruturais dos circuitos de distribuição é favorecerem uma triagem da produção artística segundo a pertença a um dado ‘discurso’, tal acontece precisamente porque a presença do mercado se faz sentir não ao nível das formas mas ao nível dos conteúdos, promovendo o nivelamento não tanto dos objectos que são produzidos mas dos sujeitos que os produzem. Li o artigo da Artforum só para constatar que Jennifer Allen praticamente apenas menciona as várias festas e eventos mundanos –conteúdo latente do artigo: eu sou convidada para todas as soirées; conteúdo latente da política editorial: as práticas de exclusão incendeiam a ansiedade dos agentes - embora já não lesse a Artforum há muito tempo precisamente por saber que o espaço editorial é pago pelo espaço publicitário.
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Por isso é que um artista é apresentado como ‘um cruzamento entre Robert Morris e Kazimir Malevich’; um disco como ‘um filho de Marianne Faithfull e Nikola Tesla’; ou um filme como «Lost Highway» encontra «O Feiticeiro de Oz». É que não há ‘fora do mercado’. Nem no leste. Só nos parece que sim porque os objectos têm aquele ar inepto, retro, falhado. 12
Mas por terem esse ar inepto, retro, falhado, é que continuo a ter alguma simpatia pela bb5, a mesma simpatia que tenho pelo Palast der Republik ou pelo Vasco Granja. Better fashion sense.
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LEGENDAS 01. vista do Skulpturenpark 02. Daniel Guzmán 03. vista do KW 04. Melvin Moti na Neue Nationalgalerie 05. David Maljkovic 06. Michel Auder 07. Zhau Liang 08. Katarina Seda no skulpturenpark 09. Lars Laumann no skulpturenpark 10. Ulrike Mohr no skulpturenpark 11. Haris Epaminonda na Neue Nationalgalerie 12. Janette Laverriere no Schinkelpavillon 13. Patricia Esquivias
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OFFF lx 2008 O festival OFFF chega a Portugal e é difícil imaginar melhor estreia. Tem lotação superior à de Barcelona, bilhetes esgotados a um mês do evento e a presença de celebridades como Joshua Davis, Rob Chiu & Chris Hewitt, North Kingdom e Fallon, entre outros nomes de referência em criatividade e comunicação. Texto: valupi
Ainda antes de se realizar, o OFFF Lisboa 2008 já tinha estatuto de acontecimento histórico no seio da comunidade criativa nacional. A razão explica-se pela novidade: nunca por cá se promoveram as formas de criação e expressão nascidas para a Internet e outros canais digitais. Até agora, tem sido exclusivamente da responsabilidade de algumas agências e profissionais a introdução desse conhecimento especializado, o qual tem demorado a passar dos circuitos comerciais para as escolas e cultura mediática. Esta é uma oportunidade para se conhecer melhor o espírito que, mais do que qualquer outra força, identifica o nosso tempo: a fusão e expansão de todas as possibilidades criativas. Por iniciativa local da 50/DONE em parceria com a Inofffensive de Barcelona, o cartaz reúne participantes de topo nas suas áreas específicas, incluindo uma forte componente de tipografia. Lisboa acolhe um conjunto de artistas e profissionais, metade deles nacionais, que tem dinamizado a cena mundial da chamada cultura pós-digital. Esta noção de um fenómeno sociológico alargado decorrente de uma (r)evolução técnica compreende não só os novos meios e disciplinas de comunicação —o design e as tecnologias de informação para a Internet, os efeitos da substituição do sinal analógico pelo digital, a ubiquidade dos suportes de telecomunicação de som e imagem, entre outras inovações de universal impacto— mas também as alterações daí decorrentes no psiquismo e socialização dos indivíduos e, portanto, nas próprias indústrias da comunicação, do marketing e do entretenimento.
O que há de radicalmente transformador no novo paradigma cultural é a diluição das fronteiras e dos limites. As tecnologias digitais não anulam os anteriores conteúdos e configurações mediáticas, antes as fundem em híbridos que conservam e recriam, simultaneamente, os dados da experiência. É o que podemos ver nos trabalhos de new media de Rob Chiu & Chris Hewitt, onde se reformulam as regras da associação entre som e imagem. Também nos trabalhos de Joshua Davis, em que a visão artística é simbiótica da matemática das linguagens de programação, ou ainda no caso de North Kingdom, desenvolvendo uma actividade comercial fundada numa visão personalizada. E, para terminar o que são meras sugestões, constate-se como a agência Fallon, de Londres, está já num regime pós-publicitário, criando narrativas que ultrapassam todas as barreiras conceptualmente definidoras.
Dias 8, 9 e 10 de Maio, no castiço bairro de Alcântara, envolto no cenário de uma arquitectura novecentina e fabril, o espaço LX Factory será palco de apresentações, exibições, discursos, workshops e muita conversa. Deste contraste, entre a memória de uma era de máquinas e a nova era das máquinas que nos guardam a memória, flui naturalmente uma corrente inspiradora. Está em causa reconhecer o carácter transitório das tecnologias, por um lado, e a influência que elas têm na doação de sentido para a experiência quotidiana. É desta consciência que se faz o Festival OFFF, reunindo criadores e público criativo para algo mais do que um processo de emissão-recepção convencional. De facto, se o propósito fosse apenas o de descobrir novos trabalhos ou assistir a retrospectivas, tal situação seria absurda. Todos os trabalhos estão, ou estarão, disponíveis em vários canais, em diferentes suportes, em qualquer lado. A distribuição da informação deixou de ser obstáculo, realizou-se a utopia democrática: tudo para todos quando cada um quiser. O que realmente importa passa a ser o encontro do talento, o cruzamento de influências, a química criativa. Esse choque de personalidades, visões, esperanças, por mais díspares que elas sejam, esse caldo caótico onde todos os sinais se misturam e remisturam, é o segredo do potencial incomensurável da cultura pós-digital. Desde a 1ª edição do Festival, em 2001, que a comunidade de webdesigners portugueses se desloca regularmente a Barcelona para uma celebração das vanguardas artísticas e profissionais. Era inevitável que voltassem com o sonho de assistir a um evento igual em Portugal. Vários foram aqueles que se entusiasmaram com a possibilidade imaginada ou chegaram mesmo a esboçar planos, mas só um conseguiu a façanha, o Rui Vieira. Em Novembro passado foi à OFFF NYC 2007 e garantiu a organização da edição portuguesa. Seis meses depois, aí está o resultado do seu trabalho que todos os felizes possuidores de entrada podem desfrutar. O que ambiciona é simples de formular: a valorização da comunidade criativa em Portugal. Esperam-se frutos desta iniciativa, tanto para os profissionais como para estudantes. Porque este é o século da criatividade, e o nosso talento é ilimitado e luminoso como o céu de Lisboa. www.offf.ws
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As empresas conhecem o poder de uma geração que usa compulsivamente a Internet, que não tem propriamente uma opinião política formada e questiona curiosamente a integridade das marcas. Por isso, qualquer erro pode sair caro a uma empresa e aparecer rapidamente de forma muito negativa nos blogs.
Comércio & Comunidades online —Relações difíceis English Version p.80
Na área da moda as empresas já despertaram para a realidade do comércio online e são unânimes ao concordar com a importância das comunidades virtuais para o desenvolvimento das suas marcas. No entanto, os impasses e as cautelas com que têm enfrentado o fenómeno, fazem concluir que não sabem como lidar com a realidade mais marcante do séc XXI.
No início deste milénio saiu um livro sobre marketing, «The Cluetrain Manifesto» organizado por Rick Levine e outros, que caiu no tecido empresarial como um grande cataclismo. Este livro, que continua no topo de vendas, faz uma análise detalhada das consequências geradas a partir do acesso em massa à Internet. Os autores deixam muito claro que “hoje em dia não há segredos e que os consumidores sabem muito mais sobre os produtos de que as próprias empresas”. Se estão satisfeitos ou insatisfeitos com determinado produto, procuram expressá-lo imediatamente a uma plateia anónima de grandes dimensões. Por isso não é de espantar que em certos fóruns se possa discutir com tanta paixão um par de óculos da Dior ou uma bolsa Marc Jacobs. Estes fóruns são cada vez mais importantes para a formação da opinião do público que cada vez mais se socorre da opinião de outros consumidores. Segundo o relatório do «The Cluetrain Manifesto», o consumidor confia mais na informação dada online por pessoas anónimas agregadas por interesses comuns do que pelas marcas. Segundo o livro, a opinião que se troca entre consumidores é “natural, aberta, honesta, directa, engraçada e muitas vezes chocante. O público reconhece-lhe uma voz humana genuína e desconfia das mensagens veiculadas pelas empresas". As empresas têm consciência que um certo tipo de indivíduos com poder de compra e informado socorre-se diariamente da internet. As pesquisas tanto se fazem para questões profissionais como para actividades de consumo. Os produtos de luxo são investigados através de uma consulta na internet onde estes indivíduos encontram e procuram expressar a sua opinião junto de outros consumidores.
No futuro teremos cada vez mais comunidades online reunidas em torno de bens muito específicos onde podem analisar o valor, raridade e tradição por detrás dos produtos. Jovens com dinheiro são hoje uma fatia de mercado importante a conquistar mas pergunta-se, será que as empresas de moda estão preparadas para transformações radicais na forma como comunicam com o seu público? Talvez não. Para as marcas de luxo essa mudança tem uma dimensão sísmica. Continuam a ponderar as oportunidades e riscos que se oferecem. Apesar de se conhecer o impacto dos blogs que tem uma relação de confiança com os seus leitores e de se reconhecer que os bloggers são consumidores messiânicos, para além de serem uma fonte honesta de feedback para as marcas, estas continuam a ter um método de comunicação que vai só num sentido. As grandes empresas que até agora usavam campanhas de publicidade multimilionárias e eventos marcantes para atrair clientes —durante anos trabalharam para a consolidação de uma imagem, muito controlada pelos seus gabinetes de comunicação e de marketing— têm consciência que a espontaneidades dessas vozes é cada vez mais importante só que não sabem como canalizá-las para que se tornem um aliado. Na verdade, grande parte delas com uma grande história de prestígio no mercado, nasceram de uma tradição que tem por base o atendimento personalizado e diferenciado que dificilmente se pode manter dado as exigências de um consumo de massas. Empresas como Louis Vuitton, Gucci ou Emporio Armani com números de vendas sempre crescentes e conscientes da sua legião de fãs, não abrem a sua comunicação à opinião exterior. Comunicam eficazmente os seus produtos mas não sabem o que realmente pensam deles os consumidores e quais as reais necessidades destes consumidores. Em última análise não sabem como se vão comportar num mercado aberto, transparente, quando nasceram de uma sociedade com um forte apelo por uma tradição menos democrática e mais exclusivista.
Tendo aberto as portas a um diálogo com um público anónimo, resta saber se não se precipitam sobre um abismo onde já não poderá haver qualquer controlo ou volta a dar. Por enquanto, empresas como a Louis Vuitton lançam timidamente as suas primeiras experiências no comércio online, contudo o canal de comunicação continua num sentido único e não será previsto que o consumidor possa expressar a sua opinião no site onde fez a aquisição. Mesmo Alexander McQueen, que baseou a sua campanha promocional SS07 num repto lançado à comunidade do Myspace onde participaram 15 jovens que expressaram a sua opinião sobre as suas colecções, que poderia parecer mais aberto, continua a não construir uma comunidade online. Apesar disso, o departamento de marketing reconheceu com satisfação a evidência dos utentes entenderem a essência da marca e que as suas opiniões vinham reafirmar a identidade forte da marca (www.mcq-alexandermcqueen.com). Além dos passos tímidos da indústria da moda neste campo, em áreas como a dos automóveis chegam‑nos notícias de verdadeiras comunidades online agregadas em torno de um produto. A BMW Mini Cooper desenvolveu uma comunidade onde os donos de minis se podem juntar, trocar experiências e aprender mais sobre o carro. Raramente a Mini entra em diálogo com os participantes do fórum, apenas quando tem informações que quer dar-lhes em primeira mão. Nunca tem de intervir quando chegam comentários negativos porque os membros agem rapidamente quando alguém coloca um post questionável. Para a Mini, os membros proprietários do Mini acabam por ser os melhores evangelistas da marca, o que se traduz numa maior consciencialização do valor da marca e também no aumento das vendas.
Texto: francisco vaz fernandes
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O Peter Pan traído h is gl ion En er s 80 V p.
Maio de 68. Revolta estudantil? Crise de valores da sociedade capitalista? Nova etapa do movimento operário? Radicalismo pequeno burguês? Nova forma de cidadania? Advento de uma nova esquerda? Perguntas que ainda não encontram respostas. Não é possível encontrar qualquer resposta porque Maio de 68 foi um movimento de antecipação, uma premonição que anuncia grandes alterações culturais. Texto: jorge lemos peixoto Fotos: Bruno barbey in "Mai 68 ou l'magination au pouvoir", éditions de la Différence.
Foi o mês de todos os sonhos. A ocupação da Universidade de Paris e as manifestações estudantis levaram mais de 600 mil estudantes à rua a defrontarem-se violentamente com a polícia no Quartier Latin. Dali o turbilhão galgou os limites do reduto universitário e conquistou a adesão dos trabalhadores. Em poucos dias, dois terços da população activa, cerca de 10 milhões de franceses estava em greve. Os grevistas, aliados aos estudantes exigiam o ‘impossível’ "sejamos realistas exijamos o impossível", ou seja, o controlo de gestão e o poder, contrariando todas as orientações do Partido Comunista e dos sindicatos da CGT. A crise política instalouse. O Presidente da República, Charles de Gaulle considerou a situação incontrolável, dissolveu a Assembleia e perante o alargamento da violência e dos distúrbios desaparece do país. Os estudantes chegam a declarar o que parecia inimaginável: o triunfo da anarquia! Mas a ressaca preparada por de Gaulle criou um verdadeiro volte face. Num comunicado difundido via rádio – como nos tempos da guerra – apela à ordem e convoca eleições. O efeito é devastador. Se antes da comunicação parecia que a França era a Rússia de 1917, com os soviets (conselhos de operários) prestes a tomar o poder, depois das palavras do velho General retomou os caminhos da Restauração.
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Mas na secção dos perdidos e achados da história ainda ninguém levantou o Maio de 68. A tendência é analisar parcialmente este movimento com muitos clichés. Em 1848, Marx e Engels publicaram o «Manifesto Comunista» e o começo dessa cartilha anunciava que “um espectro paira sobre toda a Europa; o espectro do comunismo”. Passados 120 anos, Paris faz renascer o espectro e as utopias de todos os libertários, principalmente dos desiludidos da revolução proletária, que encalhou ao longo do século XX nas brutalmente repressivas e castrantes sociedades do chamado socialismo real de feição soviética ou chinesa. Dos empedrados das ruas da capital francesa, sob os quais os revoltosos diziam que estava a praia, (“debaixo dos empedrados, a praia!”) e que eram atirados contra os polícias de choque a chama de Prometeu voltava a luzir. Os grupúsculos de estudantes de origem burguesa sem qualquer ligação operária estavam prestes a concretizar os sonhos mais impossíveis de gerações de visionários e revolucionários. Da iconografia desse momento passam em movimento lento as imagens de Marx, Lenine, Estaline, Mao, Che, Fidel, Ho-Chi-Min, mas também Bukarine, Trotsky, Rosa Luxemburg e até Marighella, mas nenhum deles, mortos ou vivos, ganhou a parada e alguns só deixaram uma sinistra herança de sangue. A ressaca do movimento forneceu o caldo de cultura para o florescimento das Brigadas Vermelhas, dos Baader Meinhoff e outros grupos de natureza criminosa, as mais das vezes instrumentos de manipulação dos múltiplos serviços secretos que pululavam na Europa nos derradeiros anos da Guerra Fria.
Ao contrário da citada iconografia, o Maio de 68 tem um lastro profundamente comportamental e grande parte do pensamento dos soixant-huitards provém de Freud e de Herbert Marcuse. E um tanto hereticamente, pode dizerse, de James Matthew Barrie, o escocês criador de Peter Pan tem também um cantinho nessa galeria de notáveis. Os soixant-huitards advogavam: “desobedece primeiro…” e Peter Pan é o jovem que recusa ser adulto e alia a liberdade absoluta ao prazer da aventura permanente. Os revolucionários de 68 fizeram jus a essa atitude e assumiram-na nas palavras de ordem que ainda hoje nos encantam: “Lizes moins, vivez plus”, “Je suis marxiste tendence Groucho”, “La Revolution est incroyable parce que vraie”, “Cours, camarade; le vieux monde est derrière de toi!” (Lê menos e vive mais; Sou marxista tendência Groucho; A Revolução é incrível porque é verdadeira; Corre camarada: o velho mundo está atrás de ti – esta gritada durante as cargas policiais). Os protagonistas do Maio de 68 provêm de uma geração profundamente cinematográfica. O cinema depois da Guerra criou mitos e ganhou estatuto de arte. A televisão banalizou a comunicação pela imagem. O poderio da imagem surge nessa década, (Kennedy versus Nixon) e a política descobre esta nova fórmula, mas é a geração soixanthuitard que faz da imagem um trunfo de elevada importância na propaganda. Os cartazes, as fotos, a banda desenhada, a caricatura, as atitudes, a pose, o ar irreverente entra em cena com uma força até então pouco usual.
A exuberância quase libidinosa da revolta tem muito de espectáculo e de fetichismo. O detonador deste movimento não nasceu propriamente em Paris mas em Nanterre, nos arredores da capital, um verdadeiro feudo de movimentos esquerdistas. O rastilho deveu-se a uma atitude de repressão sexual. Uma disposição da Reitoria proibia os rapazes de visitarem as raparigas nos seus quartos. Em resposta, a agitação cresce e dão-se os primeiros tumultos, com portas arrombadas e vidros partidos. A Universidade responde com a criação de um conselho de disciplinar para julgar e castigar os jovens onde pontificava, o então rebelde, Daniel Cohn-Bendit. O presidente do conselho disciplinar dirigiu o interrogatório a Cohn-Bendit, líder do grupo autor dos tumultos: “Em 22 de Março (dia dos desacatos) estava na faculdade? –Não, diz Cohn Bendit. –Onde estava? –Estava na minha casa. –E que fazia você em sua casa às três horas da tarde? Fazia amor, senhor presidente, uma coisa que a si seguramente nunca lhe aconteceu”. Estava lançado o tom.
Este é o verdadeiro “Peter Pan” do movimento estudantil. Judeu de origem alemã, chegou a ser considerado ‘indesejável’ pelas autoridades franceses, assumiu a face mais visível deste movimento. Cohn-Bendit corporizou como nenhum outro a imagem do Maio 68 e da materialização das ideias de Marcuse, filósofo alemão, também de origem judaica, naturalizado americano e odiado tanto pela direita conservadora como pela esquerda. Protagoniza nas suas obras «Eros e Civilização» de 1955, «Homem Unidimensional», «Tolerância Repressiva» e «Ética da Revolução», uma mudança no mundo capitalista e no chamado mundo comunista. Marcuse defende um nova racionalidade do prazer, contra a concepção do indivíduo como Logos (razão), partindo da interpretação da obra de Freud à luz do marxismo. O filósofo desenvolveu uma teoria onde o Eros (amor) é a pulsão que busca a satisfação na sexualidade, no prazer e no amor.
Este legado comportamental, posto em prática na voragem dos acontecimentos de Maio foi uma bomba atómica nos costumes. A mulher assume a sua sexualidade e o seu direito ao prazer e ao orgasmo. Mas passado o espectáculo e a efervescência, percebemos que Maio de 68, por enquanto, é apenas uma recordação. A geração de 68 e os seus actores directos tornaram-se nos inquisidores e nos justicialistas contemporâneos, servindo Estados que querem juntar a “moral” com o direito. Estados que produzem normativas disciplinares da moralidade, da saúde, dos comportamentos e do politicamente correcto. A esquerda light, que domina a ideologia dos Estados e cita as palavras de ordem do Maio de 68 quer tomar conta das consciências e promover uma relação incestuosa entre o Direito e a sua “moral”.
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em cima: casaco STORYTAILORS, pulseira da Feira da Ladra em baixo: vestido preto HOSS, leggings MARLENE BURGUER sapatos YVES SAINT-LAURENT na STIVALI
Bonneville´s Triumph fotografia Cátia Castel-Branco assistida por Maria Neves produção Cátia Castel-Branco assistida por Maria Neves styling Martin Kullik make-up António Carreteiro com produtos Giorgio Armani hair lavagem e brushing Guida Pereira para Luís Perrute hair styling on location Ginger para Facto modelos Paula e Robinson da L`Agence agradecimentos Hotel Tivoli Jardim, Luís Saldanha, Alexandra e Maria
calções OSKLEN, sapatos CHURCHILL na ROSE BUD, meias H&M
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vestido OSKLEN, cinto MARLENE BURGUER 58
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fato PRADA na FASHION CLINIC, lenรงo OUTRA FACE DA LUA PARQ
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hot pants STELLA MCARTNEY / ADIDAS top e sapatos MARNI na FASHION CLINIC na cabeรงa peรงa de ANA MOREIRA para LIDIJA KOLOVRAT
calรงas LOIS, sapatos MARNI na Fashion CLINIC PARQ
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Elena fotografia Merce Benet styling Susana del Sol maquilhagem Carol Guzman com produtos Bioderm hair Carol Guzman com GHD assistente de Styling Maria Fernanda Marin modelo Elena Mechonseva (Group Model Management)
camisa WOOD WOOD na PACO RUEDA casaco LE COQ SPORTIF 62
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lenço BLESS, túnica HENRIK VIBSKOV na PACO RUEDA calça DELGADO BUILL, sapatos LE SWING PARQ
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casaco G-STAR RAW, top LURDES BERGADA, bermudas TARA JARMON, leggins GLINT, sapatos Le SWING 64
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camisa preta BLESS, calรงa corsรกrio WOOD WOOD na PACO RUEDA, sapatos LE SWING PARQ
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vestido ROCKIT LONDON impermeรกvel LURDES BERGADA, botas vintage 66
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bolsa DELGADO BUILL PARQ
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pangea day Quantos olhares vêem o mundo? Texto: Carla isidoro
Em Maio a PARQ acolhe um evento cultural planeado à escala mundial, desta vez em parceria com o Instituto Superior Técnico. O objectivo deste grande evento é deixar o mundo, no mesmo dia e à mesma hora, deslumbrado consigo próprio. A ideia partiu da realizadora Jehane Noujaim e foi apadrinhada por figuras tão respeitadas como Bob Geldof, Angelina Jolie, Vik Muniz, Philippe Starck ou Dave Stewart, entre muitas outras. A PARQ aliou-se ao IST – TagusPark para o visionamento público do Pangea Day. Dia 10 de Maio, o mundo vai ligar-se online, aos telemóveis 3G, às televisões e a salas de exibição para 4 horas contínuas de filmes feitos por cidadãos anónimos de todos os países sobre as suas paixões, costumes, ambições e quotidianos, seleccionados para enformar este belo conceito: imagens do Mundo para o Mundo no mesmo dia e à mesma hora como se fôssemos um povo só, na milenar Era Pangeia. Dia 10 às 19h: Campus IST-TagusPark Avenida Professor Cavaco Silva, Porto Salvo (Oeiras) Acessos automóvel: auto-estrada A5 ou IC 19 Autocarros: 15, 21, 112, 121 www.pangeaday.org
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22maio — 08junho
alkantara Texto: carla isidoro
Esta edição do festival Alkantara é de novo reflexo da interdisciplinaridade que se vive globalmente, no meio artístico, e reflexo também da mudança de paradigma que se anseia para um mundo que gira sobre si próprio a uma velocidade que já não controlamos. Mark Depputer, director do Alkantara, expõe esta preocupação: “Em tempos de pensamento único precisamos de vozes dissonantes. Quando a vida parece afunilar-se num consumismo frenético, precisamos de descobrir outras vias. Já não há ninguém que ouse sugerir que a arte pode salvar o mundo, mas contra todas as tendências de massificação e entretenimento (pois, a arte também se tornou num produto de consumo), há quem continue a ver e praticá-la como forma de resistência. Como uma tentativa de visitar os mundos que se escondem atrás do mundo aparente. Como uma maneira de questionar o que é geralmente aceite, facilmente absorvido ou simplesmente cómodo.”
03-05julho
das 12h às 22h
Amesterdão
mercado mundo mix
stranger festival
É uma feira aberta a talentos de várias áreas e selecciona espaços fora de comum para se implementar. Esta edição regressa às muralhas do Castelo de S. Jorge, em Lisboa, onde se espera a visita de milhares de curiosos, à semelhança de eventos anteriores. Ali encontramos artefactos, roupas, peças decorativas, música, escolas de arte e técnicas, instalações artísticas (uma nossa, da Parq, e outra do atelier de artes plásticas do Hosp. Júlio de Matos), tudo envolto numa vista muito especial sobre a cidade. Levem a carteira recheada, a tentação é mais que muita.
Texto: pedro figueiredo
O artista angolano Yonamine é o autor da instalação Parq. www.mercadomundomix.sapo.pt
Entre 3 e 5 de Julho decorre em Amesterdão, na Holanda, a primeira edição do Stranger Festival, certame dedicado à produção independente de curtas-metragens feitas por jovens europeus. O projecto é da responsabilidade da holandesa European Cultural Foundation e os prémios repartem-se por entre três categorias: Official StrangerAward, Stranger Audience Award e MTV StrangerAward. A MTV holandesa é uma das parcerias locais do evento, e a PARQ é um dos media partners do festival. As inscrições decorrem até dia 15 de Maio, sendo que é garantido aos finalistas as despesas de deslocação e acomodação para o evento. Mais informações sobre o certame, bem como todas as regras de participação, podem ser consultadas no site oficial.
blade runner, The Final Cut de Ridley Scott Texto: joana cordeiro
Para comemorar os 25 anos da obra lançou-se no ano passado a versão final do filme, em Dvd, a mesma que chega agora às salas de cinema. Ridley Scott voltou à pós-produção do filme e terminou-o com pormenores e cenas que achava essenciais na época mas que, por questões comerciais, tiveram que ser cortados. Incluiu ainda falas adicionais, melhores efeitos especiais e um áudio perfeitamente novo em 5.1. A Final Cut de «Blade Runner» foi retocada com a minúcia de um cirurgião, restaurada e remasterizada para as salas de cinema.
Há variados espectáculos a destacar, além dos três que acabámos de referir, mas mais importante que sugerir nomes é acompanhar de perto um dos principais eventos europeus de dança.
Estreado em 1982, ficou na história do cinema por ser considerado um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos. A visão do futuro de Ridley Scott é assustadoramente actual e influenciou muitos outros filmes do mesmo género nos anos seguintes. A acção decorre numa grande metrópole, em 2019, que representa a própria sociedade contemporânea. Sendo um misto de ficção científica e thriller, o filme foi influenciado por outras duas obras-primas do cinema: «Metropolis» de Fritz Lang (1927), que inspirou a construção e percepção da metrópole; e «2001: Odisseia no Espaço» de Stanley Kubrick (1968), levantando questões como a da evolução do Homem.
www.alkantarafestival.pt
Um filme, recomendado pela PARQ.
Muitos espectáculos do Alkantara 2008 reflectem a partilha entre culturas que há bastante o festival começou a motivar e cativar para a sua programação. Artistas como Miguel Pereira, Tiago Rodrigues ou Akram Khan (entre outros) são exemplo de linhas de trabalho onde o encontro e o diálogo com o outro constituem um critério.
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09,10,11maio
PARQ
www.strangerfestival.com
17maio
Lx Factory, lisboa
18maio
fundação de serralves, porto
negativland Concerto recomendado pela PARQ.
28maio — 08junho
fitei Texto: sofia saunders
Regressamos ao certame que convoca as companhias de teatro ibéricas para um encontro no Porto. O FITEI 2008 conta com as mais contemporâneas peças de teatro feitas por companhias nacionais e espanholas, workshops e masterclasses orientados por alguns dos autores convidados para o encontro. Em estreia absoluta a Assédio – Associação de Ideias Obscuras apresenta o espectáculo Terminus, drama com encenação de João Cardoso, um trabalho único escrito por Mark O’Rowe, um dos mais interessantes e premiados novos dramaturgos irlandeses. A destacar o grupo Folias D’Arte com Orestéia —O canto do Bode. O grupo celebra dez anos analisando a história recente da América Latina a partir da trilogia de Ésquilo Agamêmnon, Coéforas e Eumênides. E ainda a companhia galega Nut Teatro com as peças Corpos Disidentes e 4.48 Psicose, sendo esta a última peça escrita pela inglesa Sarah Kane. Paralelamente aos palcos do Porto, o festival estende-se ainda ao Teatro Aveirense, Teatro de Vila Real e Torre de Moncorvo. A não perder também os espectáculos de rua. www.fitei.com
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PARQ
Vem finalmente a Portugal. Este lendário colectivo nascido em S. Francisco nos anos 70 desenvolve um trabalho ímpar na esfera da música experimental, tendo primor pelas samplagens, patchwork e colagens sonoras. A ZDB convidou-os, trazem à Lx Factory «It’s all in your head FM», a reprodução de uma emissão de rádio numa sala de espectáculos, neste caso em Lisboa. A emissão é feita ao vivo e prende-se com a vontade de mostrar que a rádio é, para além de um meio reprodutor dos sucessos do momento, um meio de composição e construção criativa.
RECEBE UMA REVISTA PARQ, EM CADA ENCOMENDA.
www.zedosbois.org www.negativland.com
festival pina bausch Texto: alexandra sumares
Lisboa recebe pela 3ª vez Pina Bausch. Depois de 1994 (com Lisboa como Capital Europeia da Cultura) e 1998 (para a Expo 98). A coreógrafa regressa à capital para um encontro de permite rever alguns trabalhos ou definitivamente conhecê-los. A oportunidade é única. Deixamos aqui a sugestão de uma das nossas peças preferidas: dias 7, 8 e 9 de Maio, no CCB, é exibida «Masurca Fogo» feita em 1998 para a Expo 98. «Masurca Fogo» é um olhar sobre Lisboa. O olhar de Pina após algumas semanas passadas na cidade. Ao contrário de outras obras, este é um espectáculo cheio de cor que transposta a audiência para um lugar quente. Na peça misturam-se ritmos africanos e brasileiros, jazz e músicas pop com o fado lisboeta (inclui músicas de Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro). Mazurca é uma dança tradicional de origem polaca feita por pares de dançarinos que formam figuras e desenhos. Na Polónia já não se dança “mazurca” mas em Cabo Verde é uma dança típica das ilhas de Santo Antão e São Nicolau.
02—09maio
CCB & teatro são luíz
www.nomenuhomeservice.pt
Basta marcar: 213 813 939 / 933 813 939 PARQUE DAS NAÇÕES 213 813 939 / 933 813 939 OEIRAS 214 412 807 / 934 412 807 CASCAIS 214 867 249 / 914 860 940 ALMADA 212 580 163 / 917 164 591 COSTA DA CAPARICA 212 580 163 / 917 164 591 COIMBRA 239 714 307 / 961 014 220 LINDA-A-VELHA 213 813 939 / 933 813 939 LISBOA
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take me & paredes meias Texto: sofia saunders
Há uma nova loja no Porto, acabada de inaugurar. Take Me acolhe dois espaços: um para decorar paredes e outro para recuperar objectos e móveis. Andorinhas, objectos de decoração retro, papel de parede, mobiliário vintage, autocolantes de parede, objectos kitsch, fotografias, são alguns dos elementos decorativos que ali encontramos. Patrícia Sá e Cristina Andrade explicam que queriam uma loja onde o público pudesse encontrar aquela pérola de 'bibelot' escondido no baú da avó, como o postal antigo que vai dar um quadro maravilhoso ou um cadeirão retro. Take Me e Paredes Meias, dois em um na Cândido dos Reis. Rua Cândido dos Reis, 84 - Porto
mau feitio
Harnn&Thann
Texto: sofia saunders
Texto: sofia saunders
Um ano após a abertura da segunda loja na zona histórica de Coimbra a Mau Feitio mudou de estratégia e reservou o seu espaço mais recente para o público masculino, destinando outro para o público feminino. Com esta separação o espaço reservado aos homens teve que sofrer uma drástica mudança tornando-se numa das mais atractivas de Portugal. Toda em preto e branco, faz destacar os desenhos de grandes dimensões de Rui Vitorino Santos que preenchem as paredes que dão grande vibração ao ambiente. A relação com o ilustrador já vem de longa data, ele tem sido o responsável pela imagem da loja, produzindo todos os flyers das muitas actividades em que estão envolvidos. A Mau Feitio é uma loja de roupa de street wear urbano podendo-se encontrar algumas das marcas que se destacam no segmento, como Levi’s, Carhartt, Boxfresh, Gsus, Adidas Originals, Fred Perry e outras.
Nada mais contrastante que um Spa dentro de um centro comercial. Percorrendo as novas galerias da Praça de Touros do Campo Pequeno, deparei-me com uma montra com produtos Harnn que me pareceram interessantes e que mereceram uma visita. Arrumadas em estantes escuras de madeira, gostei de ver as propostas de sabão natural. Podia ler que têm como ingrediente principal o óleo de farelo de arroz que é rico em antioxidantes naturais, que os torna únicos no mercado. Cativaram‑me pelo cheiro e pelas cores, é sempre um bom começo quando se gosta dos produtos mais básicos. Mas no catálogo da Harnn está ainda disponível uma vasta gama de sabonete líquido, óleo de banho e massagem, sais de banho esfoliantes, fragrâncias e velas, todos eles também bastante sedutores e com fragrâncias fortes, onde se impõe o jasmim. No entanto, saber que a loja era apenas a passagem para um Spa com uma área de 100m2, foi a grande descoberta. Com um estilo oriental contemporâneo e uma aplicação de produtos naturais à base de extracto de arroz, rico em vitamina, e o uso de extrato de Shiso em protectores solares, a cadeia Harnn&Thann espalhada em vários pontos do mundo mereceu distinção com vários prémios internacionais. O mais alto galardão foi obtido em 2006 quando a Conde Nast Traveler a colocou entre os melhores spas do mundo. www.harnn.com
Rua do Quebra Costas, 8, Coimbra Tel: 239 821 291
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Praça de Touros do Campo Pequeno, Lisboa — tel: 217 942 217 Arena Shopping, Torres Vedras — tel: 261 338 489
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As boas línguas de Miss Jones Ray Monde: Yasmin
&
Os elementos continuavam contra. O Tejo, pouco de palha tinha, mais parecia uma tempestade de Turner. A somar, havia circo futebolístico deixando a cidade ainda mais vazia. Mas o mal maior foi a ausência de Miss Jones. Ray Monde fez-se acompanhar da First Lady da Parq, que apareceu sorridente e elegantemente vestida como é costume. Por isso o jantar teve lugar, e ainda bem, pois era no Yasmin. Casa conhecida e muito apreciada. Instalados numa mesa ladeada por uma cortina de fios pretos, que escondia a paisagem chuvosa, descobrimos a nova ementa primaveril. Fomos saudados pela afável Lara, a dona deste mignon restaurante, e pelo Gualberto, chef de uma cozinha inovadora e delicada. Fomos convidados a saborear o menu de degustação, composto por um amuse-bouche, duas entradas, um prato de peixe e um de carne e uma sobremesa. Tudo isto desvendado aos poucos à laia de surpresa! A First Lady da Parq já estava muito entusiasta e Ray Monde esperava matar a saudade neste lindo recanto. Um tomate cherry recheado com tartare de salmão e lima abriu o apetite, mas o início foi dado verdadeiramente com uma salada caprese, simples e clássica nos ingredientes de base mas actualizada com um sorvete de manjericão e um óleo perfumado. Um suave branco chileno de casta sauvignon, servido com gentileza, acompanhou este começo bem augurado. Seguiram-se vieiras, ligeiramente grelhadas, com manga gelificada e azeite de azeitonas pretas. A harmonia da composição fica mais intensa com a textura suave da gelatina de manga. Uma delícia. Seguiu-se um bife de atum com crosta de sésamo branco e uma endívia, grelhados. Inspiração asiática muito interessante. Dupla pausa: a primeira com um sorvete de limão com tiras de lima que refrescou e preparou a continuação, a segunda com um cigarro, pois, fumar dentro é possível (o que convinha visto o tempo lá fora e a fazer lembrar um tempo remoto de grande libertinagem…). A felicidade notou-se nos nossos olhos. Antes de passar à carne, mudámos de vinho. Um Postscriptum acompanhou um tournedos de novilho, no ponto, com verduras. Fundiu na língua. Por fim, um sorvete de banana com cannelloni de manga-limão, servido com um copo de Casal Figueira, branco de vindimas tardias muito frutado, o que veio rematar com a gulodice certa o edifício dos sabores. Tudo tem fim, até a chuva. Ao sair, a First Lady jubilava e Ray Monde alvoroçava-se. Não mudámos de ideias, o Yasmin continua entre os melhores restaurantes. Tentaremos contar tudo a Miss Jones. Yasmin Rua da Moeda, 1A, Lisboa — Tel: 213 930 074 De 2ª a Sáb das 19h30 às 2h. A cozinha encerra às 11h30.
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perfeito para o verão Texto: Clothe martins
Vem de Caracas e apresenta-se como um rum superior de cor amarela dado a processos de envelhecimento. Muito rico em sabores, suave na boca, pode ser bebido de golpe como se faz na Venezuela. Pedem-se copos pequenos com rodelas de limão passadas por café moído e açúcar, uma combinação mágica. Para quem quiser uma coisa género fim de tarde com muita conversa a Pampero pode entrar em várias combinações de longdrinks. A Parq sugere que prove o Dirty Pampero, um Rolls Royce em termos de cocktails. Fica a receita: Ingredientes 50ml de Pampero especial Meia lima 8 folhas de menta fresca 1 colher de sopa de açúcar branco 20 ml água com gás Gelo picado Num copo alto coloca-se a lima, a menta o açúcar e esmaga-se tudo. Depois adiciona-se Pampero e água com gás e mistura-se com uma colher. Por fim coloque o gelo picado.
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English version Were you there?
Art of Football — Milão 15/04/2008
George Osodi
Text by Francisco Vaz Fernandes p.34
George Osodi is a Nigerian photographer who since 1999 has dedicated himself to photojournalism. He published his work in Lagos newspapers until 2002 and was then invited by the Associated Press News Agency to join their team and, since then, has contributed to many of the most important newspapers in the world. Alongside this, he has been developing a more personal project exploring the socio-economic landscape of the River Niger, with some of the most exploited oil fields in Africa. His photos are part of the tradition and aesthetic of photojournalism, with a humanistic viewpoint yet at the same time an element of social critique. In this context, the impact of his images is caused, in part, by two distinct realities, running parallel to each other but never quite coming into contact. On the one hand is the portrayal of daily life in all its simplicity, the limited resources of the women and children as they go about their domestic chores, whilst on the other hand, we see the exploitation of the region as a result of the economic interest in the area, with the horrific pollution which now stains the landscape. Osodi´s interest is in capturing exactly this dichotomy; in the foreground, a certain life-affirming lyricism set against the catastrophic transformations which, within a space of 15 years, have transformed one of Africa´s most idyllic landscapes into one of it´s most devastated. The series which we have included here, Oil Rich Niger Delta, had an enormous impact when it was shown, and in 2007 George Osodi was one of the artists invited to what is widely felt to be the most important exhibition in the art world; The Kassel Documenta
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Mango 15 anos — Lisboa 10/04/2008
Camané
Text by Carla Isidoro p.40
Seven years on, Camané is back in the studio after having spent time working on other projects; recording and live shows with Os Humanos, solo shows and still refining his fado. “Sempre de mim” (From me Forever) is a confident CD, finely worked, with admirable attention to detail. It´s normally believed that for fado singers, singing fado comes naturally, something they do with their eyes closed. On the dvd which was released with the new CD, you realise how much the music was worked at. Was it easy doing this CD? Working in a studio requires massive attention to detail, capturing the moment, trying to give your best because there isn´t going to be another chance to record it again. Then there´s the work prior to all this; choosing the repertoire and the poems. Afterwards, once in the studio, you have to find the right emotional register for each track, convey the emotions through the actual interpretation. We tend to think that fado singers are born rather than made, but in the film it´s obvious that fado is a long, arduous and extremely serious work. Fado always was serious; finding the poetical structure of traditional fado which work, constructing a song within a song. This takes a long time, the marrying of the word with the music, then afterwards, once in the studio,
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honing it all. Plus, in the studio it can be difficult getting into the right state of mind, achieving the emotional register. These are the things which require the most work on my recordings. This time it was even harder because I was more demanding. It´s my fifth CD so there has to be an evolution of sorts. This evolution is evident in terms of your interpretation; fado with a message. You can hear the care taken with each poem, each word, the intonation. Can you sense this change? Definitely. It´s all to do with natural development. And something I have which seems to be disappearing; the sense that when I sing, I forget myself, leaving my worries and insecurities behind which frees me up to be able to create and interpret better. This evolution is something which I have seen since my first CD, and I always knew that I could sing better, but these things take time; it´s all to do wth maturity and inner serenity. I feel these when I sing; when I sing I leave my ego behind. You need to be free to actually be able to do things. How do you manage to be so free? Just living? Yes, living. And alongside this, a certain attitude which improves with time. I feel more and more liberated. I don´t feel I need to prove anything to anyone. I´m making my way as I know best. People are already saying that this is the CD which is going to establish you firmly within the canon. There is a notable stability and confidence. Do you feel that you´re at your peak or approaching it? I´ve been singing fado for years. I´ve been singing professionally for 24 years. 33 or 34 if you don´t include the time I was not officially professional. I was 7 years old when I started to sing. I didn´t even know what singing fado really was. My grandfather used to sing, so did my great grandfather… What about your father? My father started singing after me; I kind of dragged him with me…. Then my brothers. It was a coming together of circumstances which made me sing fado. There were good points and bad points, which is normal. I don´t feel that I´m a part of the canon though; I´ve always felt that I had my own public, and since 97 there have always been young people around me, journalists interested in my work. Certainly this is the CD I´ve most enjoyed doing, but then again, the previous CD was also the one I most enjoyed doing. I don´t think it´s a question of becoming a part of the canon. Maybe there´s more media coverage of my work now, more and more people listening to it. I sense that people like this CD, which is just as well; I suppose journalists and critics liking it is, in itself, a form of entering the canon; but I just think of it all as a continuation of my work. I´ve read that you are a solitary person, and I guess that solitude is very apparent in your fado. Would you say that this has a certain influence on how you interpret fado? Nowadays, I don´t really feel so solitary; I have a lot of friends, but occasionally, I shut myself off. I don´t rehearse at home, I just sing in my head and generally tend to isolate myself at these times, whilst working on things in my head. Then there is the more intuitive, spontaneous phase, with everything already internalised. After the thinking and the reflection, comes the intuition. I put myself within the poems, thinking of the emotions, the characters, entering into it more. It´s a bit like an actor except there is so much of myself in it. What are the fados which move you the most? What are the themes? They tend to be those which somehow relate to me, with messages, emotions and experiences which I identify with. Those which I feel are already in me and that I feel I can convey. You do Luís Macedo poetry well. As if it were made for you. What is it in his poetry which attracts you? I´ve always loved the Luís Macedo poems which Amália used to sing. I identify with the way he writes, but I never wanted to sing anything by him which Amalia had already sung. To be honest, I don´t like singing anything which Amalia, Carlos do carmo or Marceneiro sang as they´re so definitive. I couldn´t add anything which wasn´t already there. They´re just so good, it isn´t worth it. But I wanted Luis Macedo on this CD. He wrote two books of poetry, and I asked David Ferreira to find me more of his poems. He put together six poems together with Joana Varela, all of them are wonderful. Then there´s Fernando Pessoa. Manuela (de Freitas) found me two Pessoa poems. I thought I wasn´t going to record more Pessoa, but… Is it difficult singing his poetry? It´s difficult to find poetry of his which works well within the framework of traditional fado. His poetry is so good, it doesn´t really need to be sung; it stands up well on it´s own, but I feel I have found a way to sing Pessoa. Manuela de Freitas has played an important role in your career. Hás the fact that she´s an actress influenced your interpretation and brought something of the theatre to your work? Certainly. When I was choosing the fados for this CD, many of them were fados from my childhood, I used to listen a lot to fado Varela, fado Liças. When I was 10, I was already singing these fados and although I later moved on to other styles, I eventually came back to these. On this CD, I sing fados which I haven´t sung for
many years but which I still remember. It´s like riding a bicycle, you never forget how to do it. Manuela doesnt really understand music, but she understands emotions and register and much of the more traditional fado has this. One of the Varela fados was a poem which she already knew from having recited it Does it take a long time finding this balance of the right poem and the right music? In traditional fado you can tell straightaway if it´s going to work or not. But in traditional fado, there isn´t a single formula. Traditional fado, when you find the right poem, is just right, it lets itself fit, and when you find it, you perfect it and then it becomes more a work of reflection. Do you buy and read poetry at home? Yes, but I´m given a lot of poetry books. Who´s your favourite author? Cesário Verde is one of my favourites. Have you sung him yet? No. Why not? Because you can´t sing him (laughs). I like singing Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Antero de Quental and I have already sung Antero de Quenta, Eugénio de Andrade, João Linhais de Barbosa… João Linhais de Barbosa is a poetic genius, absolutely fantastic, and very much connected wih fado. He´s one of my favourites. What music do you listen to? I´ve heard that you´re a huge fan of Chico Buarque. Chico Buarque is unique. A great lyricist, composer and poet. I love listening to him sing and have seen various shows of his both here and in Brazil. I also like Jobim and João Gilberto. Jazz too; Frank Sinatra, plus Spanish and Italian music. Basically, I listen to all types of music and from all periods. I love French music, Piaf, Aznavour and, of course, Brel.
bb5- When Things Cast no Shadow Text by Ana Teixeira Pinto p.46
You mean those people flying around the world on the public dime trying to find some idiot in the boondocks who makes identity art with television sets? They’re obsolete but not endangered. They think art spaces are laboratories for the interaction of cultures. They’re not. They’re places where you put cool stuff, stuff you love. That’s why art fairs have replaced biennials. Cooler stuff. Higher stakes. Better fashion sense.” The 5th Berlin Contemporary Art Bienal , “When Things Cast no Shadow”, opened on the 3rd April. I had proposed writing this article before actually seeing the Bienal, and couldn´t really imagine that this would prove - how shall we term it? - complicated, to use that favourite word of the Portuguese. Let me explain; it´s just that it´s quite difficult having an opinion on the exhibition. If we compare it with the previous exhibition, the BB4 “Of Mice and Men”, which was a huge success, this BB5 for me is actually quite nice. It´s just that I personally thought the BB4 was dreadful. Not only because of it being happily in line with the gentrification which the centre of Berlin has recently undergone, transforming German history into a Mitte-Disneyland for cultural tourists, but also because it represented conceptually, the turn which American Art has shown in the last decade in diverting from the political realm to the psychological; a tendency which could be labelled reactionary. Since the privatisation of the psyche and the privatisation of property are always rivals, the Bienal opened to the public in a space such as the “Jewish Girls´School”, and is concentrated around the main streets of the Mitte, thus declared loudly to estate agents, and leading to colonisation on a grand scale by American galleries, French cafés and vitamin bars. And yes, I know that to use terms such as “reactionary” sounds a bit “Avante” (after the Portuguese Communist Party Newspaper), and – quite apart from this – Portugal is enjoying a neo-liberal phase, so references to “Avante” and my Marxist vocabulary won´t be very welcome (unlike French cafés and vitamin bars ) I also know that contemporary art cannot be blamed exclusively for the higher rents. Following the logic of state-organised “festivalism”, a bienal doesn´t really have any artistic importance, it is more a case of “cultural agitation” with a
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view to injecting life into the economy of neglected areas by targeting the public and drawing them in. Two years ago the target public was more of an Atlantic vocation, and Berlin set it´s sights firmly to the west. As an estate agent told me (whom I met whilst in search of property); “our hopes are more towards the east, the Chinese”. In fact, even before the current crisis, the American and London markets had long stopped investing in Berlin. This year, the Bienal has come over all East; the curators are Adam Szymczyk from Poland and Elena Filipovic, of Serbian extraction, and the artists reflect the East, Asia Minor, the Middle East. The aesthetic is so utterly different from the previous Biennal, as Bugs Bunny differs from the Czech cartoons shown by Vasco Granja. The entire exhibition has the charm of this look, a certain residual romanticism from the amateur naivety; it has something of the atmosphere of a Science Fair or a graduation show. I have to admit that I always liked Vasco Granja and it is difficult for me to be critical of this Bienal, which contains the work of a large number of young artists such as Portugal´s Pedro Barateiro, with an installation called “The Naked City” and a wide selection of drawings, photograpy and low resolution video. With the exception of a couple of names (such as Gabriel Kuri), there aren´t so many current “stars” of the contemporary art world firmament, and it seems much more all-embracing, with an extensive programme of performances, conferences and varied presentations. There is some interesting work here; among my favourites are Melvin Moti´s film E.S.P (Extra Sensory Perception), a close up of a bubble with a voice-off narrative reading extracts from the diaries of J.W Dunne which tells of how he came to realise his dreams foretold natural disasters; also, a video by Susan Hiller, “The Last Silent Movie”, a collection of extinct languages and their last registered messages. There are also the candid camera films of Zhao Liang about Beijing and other Chinese Metropolises I must also mention Janette Laverrière, born in 1909 who has exhibited one of the so-called special projections of the Bienal, where a young artist invites a mentor to work together in a project. Nairy Baghramian invited Lavarrière her elegant objects in the elegant Schinkel Pavillion, one of the highlights of the exhibition. There is, however, another reason why I feel I should mention this project. I always thought that all latent content would find a way to manifest itself. I confirmed my theory that the latent content of new collections is a desire on the part of the collectors to have a more scintillating social life than they would normally have, when the New York Times ran an article on a new tendency in business which “places” wealthy individuals in exclusive events like dinners in galleries or other institutions. This then eliminates the intermediary, that is the need to buy works of art.. I also had the impression that the inherent model of new bienals was “art school” when Manifest 6 presented itself as an art school. When artforum launched Scene&Herd, it confirmed my sense that what was basically latent in the exhibition was “Hello” magazine. Finally, I ought to thank the Berlin Bienal for backing up my theory that the latent content of artistic discourse over the last decade has been the schizophrenic identification with authority. We live at a point in history when emerging artists refer to themselves as “a cross between Robert Morris and Kazimir Malevich”. With no intended irony. Dave Hickey says that this happens because of a certain bureaucratization of the distribution process, between schools, universities and institutions; by this he means that the artists who become successful are inevitably those who know how to appeal to the figure of the professor, curator or director. Hickey is also super-reactionary and thinks that art should be managed by market rules, when I actually believe that if it´s true that one of the structural problems of the distribution circuit is that it favours an artistic production of a given discourse, this happens precisely because the presence of the market is felt at the level of content (rather than form), thus promoting a levelling not of the actual objects produced, but of those who produce them. I read the artforum article just to confirm that Jennifer Allen mentions the various parties and mundane events which, reading between the lines, says “I´m invited to all the soirées”. Also between the lines is the editorial policy which is; exclusion makes the agents anxious. To be honest, I hadn´t read artforum for so long precisely because I know that editorial space is paid for by advertising space. This is why an artist is referred to as “a cross between Robert Morris and Kazimir Malevich” and a CD is referred to as “lovechild of Marianne Faithfull and Nikola Tesla” or a film as “ Lost Highway meets The Wizard of Oz”. It´s because there is no “beyond the market”. Not even in the East. It only seems so because the objects have that air of inept / retro / loser. Yet it is precisely because of this inept / retro / loser air that I continue to have a certain soft spot for the Berlin Bienal No5, the same soft spot which I have for Palast der Republik or for Vasco Granja. Better fashion sense.
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Traduções / Translation
Difficult Relations On-line Commerce and Communities Text by Francisco Vaz Fernandes p.52
In the fashion world, companies have already become acutely aware of the reality of on-line commerce, and are unanimous in agreeing on the importance of on-line communities for brand consolidation. However, the caution with which they have had to face this phenomenon has shown just how ill-equipped they really are to deal with one of the 21st Century´s most extraordinary developments. Companies are conscious of the power of a generation which compulsively uses the internet and, despite not necessarily having a firm political viewpoint, strangely enough are known to question a brand´s integrity. Because of this, any error on the part of the companies can cost them dearly in the eyes of these communities where negative feedback can spread like wildfire on blogs. At the start of the millennium, a marketing book The Cluetrain Manifesto, organised by Rick Levine, fell like a meteor in the business world. This book, which continues in the bestseller list, analyses in great detail the consequences of mass internet access. The authors are explicit in their belief that “nowadays there are no secrets, and the consumers know more about the products than the actual companies which manufacture them.” If they are satisfied or dissatisfied with a certain product, they want to express it as quickly and as wide afield as possible to an anonymous audience of vast dimensions. There are forums where Dior glasses or Marc Jacobs bags are passionately discussed, and forums such as these are increasingly important in forming the public opinion which, in turn, is increasingly influenced by the opinion of other consumers. According to The Cluetrain Manifest, consumers are more likely to trust on-line information from anonymous consumers with which they feel a common interest, and the exchange of opinion between these consumers is “natural, open, honest, direct, funny and sometimes shocking.” Where the public recognises a genuine human voice, it tends to mistrust the official messages issued by the companies. These companies are aware that a certain type of informed individual with significant purchasing power has daily recourse to the internet Research on the internet can be as much for professional reasons as for reasons of actual consumption. Even luxury products are examined on-line, and opinions exchanged , advice sought, with other consumers. In the future, we will have increasing numbers of consumers meeting on-line, brought together through a common interest in a particular product, analysing what really lies behind it, it´s worth, tradition and other aspects. Affluent youngsters are an important segment of the market today and it´s worth questioning whether the big brands are prepared for the way they, and their public, communicate. Maybe not. For the luxury brands, this shift is hugely significant, and they ponder on just what opportunities and risks are offered by it. Apart from recognising the impact of blogs, the relationship built up between blogger and readers, and the fact that some bloggers are indeed rather messianic consumers, communication for the companies is very much a one-way street. These same companies who, until now, have used years and years of massive advertising campaigns and lavish events to attract clients (all very much controlled by company PR) are now discovering that the spontaneity of these new voices is becoming important but aren´t quite sure how to direct it for sales purposes. The majority of these luxury brands have cultivated a certain prestige based upon personalised service which becomes increasingly difficult to maintain within the demands of the kind of mass consumption which we are currently witnessing. Even companies such as Louis Vuitton, Gucci, Emporio Armani, with ever-increasing sales and conscious of their strong fan-base, do not have an established line of communication beyond the official line of the companies themselves. They are companies which effectively communicate the appeal of their product but have no real idea of just what the consumers actually think and – more to the point – what they need from the product. Basically, in an open market, it is difficult to pinpoint how things would be when one bears in mind that these companies emerged from an undemocratic tradition based on exclusivity. If these companies opened up a dialogue with this anonymous public, it´s hard to tell whether this would in fact open up the floodgates and they would enter a state of affairs where it would be
impossible to establish any kind of control over things. In the meantime, companies such as Louis Vuitton have tried out their first on-line commercial experiments with a certain amount of trepidation. The line of communication continues one-way and it isn´t expected that the consumer can state on the site where they even made their purchase. Even Alexander McQueen whose promotional campaign SS07 was born of on-line consultation with 15 youngsters from MySpace giving their opinions on his collections (so he should therefore be more open to such communities) does not go in for this type of online exchange. Despite this, with a certain satisfaction, the marketing department recognises the evidence that these users understand the essence of the brand and that this helps to reaffirms the strength of the brand (www. mcq-alexandermcqueen.com). Although the steps in this direction by the fashion industry have so far been tentative, in other market segments – such as car manufacture – the on-line community is developing with more flair. BMW Mini has created a community where Mini owners get together on the site, exchange ideas and learn more about their cars. Only very rarely does the company join in discussions with other members of the forum, only when they want the members to know information from, as it were, the horse´s mouth. They affirm that they never need to defend themselves from negative criticism because the other members of the forum pounce on any questionable posts and do it for them. For Mini, the Mini owners are the best spokespersons for the brand, resulting in a wider awareness of the brand and also an increase in sales.
May 1968 Peter Pan Betrayed Text by Jorge Lemos Peixoto p.54
May 1968. Student rebellion? A crisis in Capitalist bourgeoise values? New stage in the workers´ movement? Petty bourgeoise radicalism? New form of citizenship? The rise of a new left-wing? Questions which all continue unanswered. It isn´t possible to find an answer because May 68 was a movement of anticipation, a premonition heralding massive cultural changes. It was a month of dreams. First there was the occupation of the University of Paris and the student demonstrations in which more than 600,000 students took to the streets, followed by violent confrontations with the police in the Latin Quarter, and then it spread beyond the confines of the University and won the support of the workers. Within just a few days, two thirds of the active population, 10,000 French workers, went on strike. The strikers, allied with the students and demanded “the impossible” (“be realists; demand the impossible”); the control of management and power, contradicting the Communist Party and the CGT Unions. The political scene was in the midst of a crisis. The President of the Republic, Charles de Gaulle declared the situation out of control, dissolved the Assembly and, faced with increasing violence, left the country. The students declared what seemed unimaginable; the triumph of anarchy! However, de Gaulle had embarked upon a U-turn. Over the airwaves – just like in wartime – he issued a call to order and declared elections. The effect was devastating. If before the broadcast it seemed that France had resembled Russia of 1917, with the Soviets (Workers Council) ready to seize power, soon after it, a restoration of order seemed to be on the way. May 68 continues in the great “lost and found” of history, with surprising little thorough analysis available. There is a tendency to analyse this movement with an excess of clichés. In 1848 Marx and Engels published the “Communist Manifesto” which opened with the recognition that “a spectre was looming over Europe, the spectre of Communism”. 120 years later, these spectres and Utopias, mainly those of the disillusioned proletariat, were born again in Paris, stranded in the 20th Century by the violently repressive and brutal socialist regimes of Soviet or Chinese inspiration. “Beneath the pavements, lies the beach!” the rebels cried, and the stones were hurled at the riot police. The flame of Prometheus looked set to shine again. Groups of students from bourgeoise families, and no connection at all with the workers, were ready to make the most impossible visionary and revolutionary dreams come true. The iconography of this moment in history bears the images of Marx, Lenin, Stalin, Mao, Ché , Fidel, HoChi-Min, Bukarin, Trotsky, Rosa Luxemburg and even
Marighella, all in slow motion. Yet none of these, alive or dead, won out in the end; they merely left a rather sinister, bloody inheritance. The leftovers of the movement created a culture ripe for the flourishing of the Red Brigade, the Baader Meinhoff and other groups of a rather dubious nature, in the majority of cases manipulative agents of the secret services which spread across Europe in the last years of the Cold War. Unlike the above-mentioned iconography, May 68 had a profound effect upon behaviour and much of the thinking as regards the soixant-huitards is very much rooted in Freud and Herbert Marcuse. Also, heretically perhaps, the Scotsman J.M Barrie, creator of Peter Pan, also played his part among these other notable individuals. The soixant-huitards urged “first disobey!” inspired by Peter Pan, the youngster who refuses to grow up and allies himself with the pleasures of liberty and of permanent adventure. The revolutionaries of 68 did exactly this, and their slogans continue to amuse us even today; “Lizes moins, vivez plus”, “Je suis marxiste tendence Groucho”, “La Revolution est incroyable parce que vraie”, “Cours, camarade; le vieux monde est derrière de toi!” (« Read less, live more », « I´m a Marxist of the Groucho school », « The Revolution is wonderful because it´s true!”, and what was shouted at the police; “Run comrade! The old world is behind you!”) The protagonists of 68 were profoundly cinematic, largely due to the fact that after the Second World War, cinema created myths and attained the status of art and they were very much influenced by it. Television trivialised communication via image. It was in this decade that the power of the image truly came to the fore, (Kennedy versus Nixon) and the world of politics discovered this new formula, but it was the soixant-huitard generation who took the image to a higher propagandist level. The posters, photos, cartoons, caricatures, attitudes, poses and irreverence rose up in a way that had never been seen before. The almost libidinous exuberance of the protests owes a lot to spectacle and fetishism. The detonation of this movement was not actually in Paris, but in Nanterre on the city´s outskirts, a left wing hotbed. It stemmed from an act of sexual repression; a regulation forbidding boys from visiting girls in their rooms. In answer to this, unrest spread, and there were a few fracas, battered doors and smashed windows. The University responded by creating a disciplinary board to punish rebels such as Daniel Cohn-Bendit. The President of the Board, interrogating, asked Cohn-Bendit “On the 22nd March (the day of the tumult) were you at the University?” “No”, he replied. “Where were you?” “I was at home”. “And what were you doing at home at 3 o´clock in the afternoon?” the President of the Board demanded to know. “I was making love, Sir, something which must never have happened to you.” This set the tone. This is the true “Peter Pan” of the student movement. A German Jew, considered an “undesirable” by the French authorities, he became the visible face of the movement. Cohn-Bendit personified, like no-one else, May 68, incorporating the ideas of Marcuse, German philosopher (also a German Jew), naturalised American and hated by both the conservative right and also the left. In his books “Eros and Civilization” (1955), “Unidimensional Man”, “Repressive Tolerance” and “The Ethic of Revolution” he portrayed a change in Capitalism and Communism. He defended a new rationalism of pleasure, fighting against reason, drawing on the work of Freud from a Marxist perspective. The philosopher developed a theory where Eros (Love) is the force which drives sexual satisfaction, pleasure and love. This behavioural legacy which was put into practice in the May 68 vortex, ended up being an atomic bomb in other areas of life such as habits and sexual mores; women were up-front about their sexuality, demanding the right to feel pleasure and have orgasms. After the spectacle and the effervescence had passed, we sense that May 68 is merely a memory. The generation of 68 and it´s protagonists became inquisitors and those in search of justice, helping the states bring together the “moral” and the law, producing disciplinarian norms for morality, health, behaviour and the politically correct. The “light” left which dominates state ideology and cites the slogans of May 68, promotes an incestuous relationship between the law and it´s moral
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