FRANK GOSSNER SUPER MAMA DJOMBO LISA F. JACKSON ESPECIAL DESIGN 05
REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. JUNHO 2008. NÚMERO CINCO.
Número 05. junho 2008.
Índice
director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
Real People
miguel pereira 06 mumtaz 08 sandro resende 10 hugo pinheiro 12 jorge sampaio 04
editora Carla Isidoro carla@parqmag.com Direcção de arte Valdemar Lamego valdemar@parqmag.com editor de moda Martin Kullik martin@parqmag.com Trendscout Mário Nascimento mario@parqmag.com
14 You Must – Trends 18 You Must – News 26 You Must – agenda
34 Viewpoint Pedro Azevedo
Soundstation
guillermo e. brown 30 frank gossner 32 super mama djombo 28
tradução Roger Winstanley roger@parqmag.com
FRANK GOSSNER SUPER MAMA DJOMBO LISA F. JACKSON ESPECIAL DESIGN 05
publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com Cláudia Santos claudia@parqmag.com
Viewpoint
34
pedro azevedo
central parq – Grande Entrevista
40 periocidade Mensal Depósito legal 272758/08 registo erc 125392 Edição Conforto Moderno Uni, Lda. número de contribuinte: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa 00351.218 473 379
textos Alexandra Sumares António Silva Santos Carla Carbone Josine Crispim John Almeida Luísa Ribas Maria Fernandes Mário Nascimento Miss Jones Nuno Catarino Nuno Sousa Pedro Piedade Marques Ray Monde Roger Winstanley Sam Baron Samuel Coelho Sofia Saunders
Impressão BeProfit / SOGAPAL Rua Mário Castelhano · Queluz de Baixo · 2730-120 Barcarena 20.000 exemplares distribuição Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq.
fotos Alexander Koch Frederico Martins Pedro Pacheco Sérgio Cruz Valeria Galizzi Santacroce
Assinatura anual 15€. www.parqmag.com capa (saia usada como) Pescoceira Hugo Boss (Outono/Inverno 08/09) chapéu Retroparadise foto por alexander koch www.alexanderkoch.com styling martin kullik · www.shoes4142.blogspot.com modelo Filipe Mota (Blu)
styling Cátia Almeida Conforto Moderno Martin Kullik
Editorial Acelerar
lisa f. jackson
Central PARQ
saloni del mobili 08 46 international contemporary furniture fair 48 revista interview 50 homens de negócios 52 boom festival 44
Nesta edição lembramos os primeiros tempos da revista americana Interview com Andy Warhol como um exemplo a seguir. Falamos de um tempo onde, como hoje, para além dos modelos estereotipados de revistas, emergiam projectos que reflectiam um quotidiano, nesse caso, o mundo de Warhol, da Factory e dos Velvet Underground. O mesmo que será dizer de Nova Iorque ao minuto. Por mais que se possa provar o contrário, uma revista não pode obedecer a modelos estereotipados organizados por interesses comerciais, porque não sobrevive ao desinteresse do leitor. Esta verdade ainda se torna mais uma certeza quando falamos de uma revista gratuita. Para a nossa equipa uma revista é uma matéria viva, uma segunda pele, daí que cada edição é sempre um espelhar de inquietações e loucuras de todos os que participam no projecto. Os temas que abordamos representam o nosso universo, partilhado pelos interesses dos nossos leitores, complexos e não estratificados como qualquer estatística comercial nos quer fazer crer. Olhando para esta edição, ocorre-me falar do metabolismo de um capitalismo acelerado e cada vez mais global que pode negativamente ameaçar postos de trabalho, nas bases e nas chefias, como é abordado no artigo desta edição sobre a tragédia de um business man. Do ponto de vista positivo, este aceleramento produz uma diversidade cada vez maior abrindo portas a todas as particularidades que consigam chegar às audiências mesmo que mínimas. Ou seja, a possibilidade de existirmos de depende de nós e da forma de atingirmos esse público. Dois textos sobre duas importantes feiras de design são exemplo dessa diversidade de tendências e gostos. Vamos de férias em Julho e voltamos em Setembro. Foi bom estar convosco nestas primeiras cinco edições de sucesso. Queremos notícias vossas, inundem-nos com sugestões. Francisco Vaz Fernandes
Moda
54
frederico martins
60
alexander koch
«freestyle lovers» «286km to warsaw» 69 PARQ Here english version 77 jorge sampaio 77 frank gossner 77 lisa f. jackson
Real People Texto: carla isidoro / foto: sérgio cruz
miguel pereira Miguel Pereira faz a estreia de «Doo» no Festival Alkantara. Esta peça levou-o à cidade onde nasceu e foi de lá que respondeu às nossas perguntas. Queríamos sentir a energia que captava da cidade de Maputo, onde fez residência e trabalhou com um bailarino e músico local, Pak. «Doo» está em palco nos dias 5, 6 e 7, no Centro Cultural de Belém.
Estando agora em Maputo, que significa para ti a expressão ‘mudar de ares’? Mudar de ares significa mudar aquilo que vemos, sentimos e vivemos quotidianamente. Em Maputo muda-se literalmente de ares. De um lado temos o ar quente e húmido dos trópicos, do outro o cheiro característico da cidade, uma mistura da terra e do mar com os odores de comida, das pessoas e de muito lixo que infelizmente há pela cidade. Há uma relação entre a cidade e o trabalho que levas ao Alkantara? É exactamente sobre a minha relação entre a cultura e a cidade, entre África e a Europa, Maputo e Lisboa, eu nascido e vivido uma parte aqui e o resto aí. Esta estadia é uma parte da pesquisa que pretendo fazer sobre aquilo que me resta entre um ponto e o outro.
Maputo dança? Que movimento tem ela? Maputo dança e canta. O que é curioso aqui, para alguém como eu que “dança”, é perceber que dançar e cantar faz parte da vida das pessoas desde que nascem até que morrem. Não é apenas uma categoria artística que apenas alguns, bafejados pela sorte, dominam. A Europa está numa época social e política de interculturalidade, se bem que há 500 anos os portugueses começaram este processo de mistura e descoberta do outro, independentemente da forma como o fez. Como vês isto a partir daí? É engraçado ver a influência da cultura portuguesa aqui. Na comida, nos hábitos das pessoas, na paisagem urbana, na sua própria cultura. Se por um lado essa “interculturalidade” existe, no bom e no mau sentido, ela é também fruto de uma história de domínio de uma cultura sobre a outra. Algo que foi imposto. O poder da nossa cultura ocidental, hoje, sobre culturas como a africana é visível, nem sempre da melhor maneira. Há no entanto todo um legado cultural, local, que aos poucos se vai impondo e ganhando o seu espaço de afirmação, actualizando-se no confronto com este nosso mundo global.
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Foi a partir de Maputo que percebeste o que é estar em África. Que sensação é essa, para quem nunca esteve nesse continente? Saindo da cidade, é no subúrbio que nos confrontamos com uma outra realidade, mais telúrica. Apanhar um ‘chapa’ com música aos berros e ir ao bairro da Matola é uma experiência, mergulhando na essência do moçambicano. As estradas de terra batida, casas feitas de caniço e as mulheres a preparar a xima (comida tradicional feita á base de milho) cá fora nos pilões gigantes com muitas crianças à volta, os bazares na rua, bancas de tudo e mais alguma coisa, são um pequeno apanhado da atmosfera geral. A noção que temos da vida, do humano e de existir, como a concebemos e organizamos no ocidente, é por vezes questionada quando mergulhamos nesta realidade. A relatividade do mundo material, do consumo e do valor da própria vida é algo com que me debati observando as condições em que a maior parte da população vive. Estar neste contexto é descobrir também muito daquilo que somos na nossa essência enquanto seres humanos.
Real People
mumtaz A primeira exposição individual da artista plástica Mumtaz acontece num espaço e formato alternativos à galeria de arte comercial. "What is money? O que é o dinheiro? C'est quoi l’argent?". Mumtaz lança a pergunta e abre portas à conversa com a criadora de moda Lidija Kolovrat.
Tens-te dedicado exclusivamente ao teu trabalho ao longo destes anos mas o número de exposições que fizeste é muito pequeno. Porquê? No início, quando terminei o curso no Ar.co, não queria expor porque achava que o trabalho ainda não estava pronto e voltei a estudar, desta vez nos Estados Unidos, em Chicago. Quando acabei o mestrado tinha 27 anos e estava mais interessada em investigar o underground. O underground? O sítio onde as ideias começam, onde se experimenta realmente, o sítio onde as raízes se desenvolvem, este sítio vive no futuro. Quando o caule surge na superfície há muito tempo que se vem desenvolvendo no subsolo, e isto passa-se a nível individual e colectivo. Sejam roseiras, poemas, ideias ou sistemas, tudo germina no invisível.
Parece ser cada vez mais forte o conceito de young artist associado à ideia de novo e de vanguarda. O que pensas disto? Young , old , short ... são estratégias de trituradores de artistas, que são a maior parte dos galeristas. Demora muito tempo para fazer algo de novo e demora ainda mais para se fazer algo fundamental. O que sugeres como alternativa às galerias de arte comerciais? Sugiro aos artistas incluírem no seu trabalho criativo as questões: Como, Quando e Onde mostrar. Sugiro que partilhem com os seus colegas toda a informação neste sentido. Rua do Alecrim 39, que sítio é este? Era um sítio fechado, como há milhares em Lisboa, com a diferença de que o actual proprietário, Paco, um negociante de antiguidades espanhol, percebeu imediatamente os benefícios de disponibilizar temporariamente este espaço para fazer a exposição. Ele fica com o espaço recuperado e valorizado e eu mostro o meu trabalho. Ele ganha, eu ganho, ganhamos todos.
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És de Lisboa, o que pensas que poderia beneficiar a cidade? Mais imigrantes de África, do Brasil, do leste. São a forma mais eficiente de rejuvenescimento desta sociedade, são todos muito bem vindos. Mais hortas, podemos começar com o Parque Eduardo VII . E mais iniciativa pessoal, quero dizer, não esperar que seja o Estado ou o patrão a melhorar a situação e a dizer o que podes ou não fazer. Acção directa. O que queres dizer sobre a tua exposição? Go C.
— Inaugura dia 5 às 20h até 21 de Junho das 15h às 20h Rua do Alecrim, 39 — www.mumtazspace.com —
Real People Texto: carla isidoro / foto: imagem do filme «60 seconds of numbers» 2008 de Sandro Resende
sandro resende É responsável pelo Atelier de Artes Plásticas do Hospital Júlio de Matos onde ensina vídeo, pintura e desenho aos pacientes. Em parceria com dois pacientes e artistas da instituição, Sandro Resende fez um vídeo sobre a ironia que apresentou no passado Mundo Mix no Castelo de S. Jorge.
Que vídeo levaram ao Mundo Mix e de que forma o desenvolveram? Era uma black box com 4 metros de projecção de vídeo. Quisemos apresentar o vídeo de uma forma irónica, como são os doentes daqui ou como é que vivem. Seria uma ironia para o hospital e para o serviço, e para eles próprios também. Trabalhei com dois pacientes, o Valter e o Artur, filmámos o que significa a ironia e fizemos a edição e a montagem juntos. Mas queria ter imagens soltas de cada um, o meu olhar e o deles. Qual é a importância de se levantar a questão da ironia deste serviço? O estigma sobre os pacientes de doença mental ainda existe muito, embora digam que não, mas eles sofrem muito com isso. Acho importante que eles próprios desmistifiquem isso antes das outras pessoas o fazerem. São muito xenófobos em relação a eles próprios, preferem fazer trabalhos normais do que trabalhos onde dizem mais deles.
Há uma diferença entre um paciente que pinta e um artista que é paciente psiquiátrico? Não sou terapeuta ocupacional nem médico, o que me interessa é ter pessoas a trabalhar em artes. O que faço é ensinar-lhes, tecnicamente. Basicamente estão todos a fazer um trabalho pessoal, têm um conceito próprio e trabalham esse conceito. Aqui, no hospital, não os vejo minimamente como doentes, vejo-os como artistas, onde dou a minha opinião como se isto fosse uma escola normal. Acontece que alguns têm problemas do foro psicológico. Eles tomam comprimidos prá cabeça e eu tomo pró estômago, não vejo grande diferença. E eles querem realmente trabalhar e querem ser reconhecidos pelo que fazem, não pelos doentes que são. Podem não ter jeito nenhum mas a arte aprende-se, se trabalhar as coisas vão lá.
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Que expectativa havia nos pacientes quando passaste da pintura para trabalhar com eles também em vídeo? É engraçado pegarem mais na pintura porque se calhar é uma coisa mais normalizante, ou mais normalizada. Ou se calhar ainda não lhes consegui abrir a cabeça o suficiente para o vídeo. Estes dois que participaram no Mundo Mix estão a trabalhar muito bem em vídeo, querem comprar material, desde máquinas fotográficas a programas de edição, tudo. Para trabalharem em casa?Exactamente, não só em tela e papel, mas também em suporte digital. Acho muito giro. Esses dois pacientes não estão aqui internados? Nenhum dos meus artistas está internado. São externos, mas vêm cá todos os dias fazer os seus trabalhos.
Real People
Real People Texto: nuno sousa
hugo pinheiro Foi aos 10 anos, com uma pequena prancha de esferovite, que tudo começou. Aos 16 ganhou o primeiro campeonato (regional) e a partir daí nunca mais parou de arrecadar títulos. Falámos com Hugo Pinheiro após a 2ª etapa do Campeonato Europeu, que decorreu em Sagres, e continua interessado em ser novamente campeão europeu.
O que é que representou para ti ser considerado o melhor bodyboarder português aos 25 anos? Para mim foi mais um sonho tornado realidade. Sempre foi um objectivo meu ser campeão nacional. Apesar dos meus primeiros títulos terem sido o de campeão europeu, o de campeão nacional foi especial. Principalmente por ter ganho esse título na praia onde cresci e aprendi a surfar, no Bexiga (Costa de Caparica). Alcançaste um excelente 2ª lugar na 1ª etapa do Campeonato Europeu que decorreu em Anglet (França). Como correu a 2ª Etapa realizada no mês passado em Vila do Bispo (Sagres)? Sim, tive um bom resultado na primeira etapa do circuito europeu. Mas nesta última as coisas não me correram tão bem e perdi nos oitavos de final. O circuito europeu são 5 etapas: França, Sagres, Peniche, Tenerife e Marrocos. Por isso ainda faltam alguns campeonatos. Tenho muita fé e vontade de trazer a taça para casa.
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Lideras no circuito nacional, estás no top 5 mundial e tiveste um arranque em grande no europeu. De onde vem essa garra e que perspectivas tens dentro do bodyboard? Neste início de ano as competições têm corrido bem. Espero que acabem melhor ainda. Mas sei que tenho que continuar a lutar, há muito trabalho por fazer, há muitas competições por acontecer. Por isso tenho de continuar a treinar e lutar por melhores resultados. A garra vem da vontade de querer ganhar e ir mais longe. Tenho como perspectivas fazer o melhor resultado que algum português fez no mundial. Vou lutar para ser campeão do mundo. Sei que é muito difícil, mas não é impossível. Existe um certo respeito pelo mar, comum a todos os praticantes de desportos relacionados com ele. Já tiveste algum susto? Sim, todos os bodyboarders têm respeito pelo mar. Mas muitas vezes vamos para a água com ondas grandes e perfeitas e esquecemo-nos dos riscos que corremos. Eu já tive um susto na Ericeira, numa onda de fundo de pedra. Fui enrolado e bati com as costas no fundo. Consegui sair da água com alguns arranhões e uma inflamação grave nas costas. Fiquei uma semana sem conseguir andar.
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De que modo a relação com o mar influencia a tua forma de estar? Influencia bastante a minha forma de estar. Se eu estiver uma semana sem fazer bodyboard, ou mesmo sem ver o mar, começo a ficar impaciente e insuportável. Pelo menos é do que a minha namorada se queixa. Que outros desportos costumas praticar? Mergulho, pesca e ginásio. Fora do mar e das praias, quem é o Hugo Pinheiro? É uma pessoa simples e divertida. É muito amigo dos amigos. Adoro passear, viajar e conhecer pessoas e culturas diferentes.
Real People Texto: francisco vaz fernandes
Real People
jorge sampaio
Hoje em dia, após vários anos de vivência londrina, como é o teu dia-a-dia com a tua família? Levar as minhas filhas à escola, trabalhar 12 horas por dia, manter uma agenda actualizada de pelo menos um restaurante que ainda não conheça, uma banda que ainda não vi e gostava de ver, uma peça de teatro, uma exposição ou um filme pelo menos uma vez de duas em duas semanas…. Quem vive em Londres há 12 anos precisa também de tempo de casa, e um sábado ou um domingo em casa sem sair é actualmente uma coisa que não dispenso.
A S***R (lê-se Swear) é uma marca que aos poucos se tem implementado no mercado mais exclusivo da moda. O seu sucesso tem por detrás um português com raízes no tecido tradicional do calçado português que quis voar mais longe. Estabeleceu-se em Londres colocando a sua marca num contexto mais criativo e irreverente. Conversámos com Jorge Sampaio em Barcelona na última edição da feira Bread&Butter. h is n gl sio En er .7 7 V p
Como são actualmente as tuas relações com Portugal? Muitas saudades da minha família que me vê muito pouco…saudades das tardes de sábado, as tainadas, as aldeias, o Minho, as gentes …o que de facto interessa.
O sucesso da S***R deve-se ao facto de te teres instalado em Londres? Sim, sem dúvida. A abertura de uma loja própria em Londres ajudou muito a marca em termos de exposição já que, para além de vender o produto, a loja funciona como uma janela para o mundo daquilo que fazemos. Não só o cliente final fica a conhecer a marca mas também a imprensa, os stylists, fotógrafos, compradores internacionais, músicos, artistas… Mesmo sem dar por isso a marca chegou aos quatro cantos do mundo só por estar em Londres. Já temos mais de 10 anos. Tenho ideia que as vossas criações não estão ligadas à ideia de um produto português. Achas que Portugal é uma referência pouco vendável? Portugal não é visto como criador de moda portanto não influência os compradores per se. A marca S***R é londrina, desenhada por designers formados em Londres e produzida em Portugal, o que é diferente. Podia ser produzida na China que ia quase dar ao mesmo. O design vem primeiro, o marketing vem depois, e a possibilidade de entregar pequenas quantidades em quatro ou seis semanas com qualidade também é importantíssimo. Daí o ser produzido em Portugal fazer diferença. Em
Portugal produz-se com boa qualidade, o que por si nos dá garantia de sucesso. Mas num range de preço 100/150 euros para um target de 15-30 anos, o design e a irreverência de ideias são os elementos mais importantes. Se continuassem a gerir o negócio a partir de Portugal consideras que não teriam ido tão longe? Acho que não seria a mesma coisa. É necessário estarmos em Londres conhecermos os nossos clientes e a sua forma de ser. Não só consumidores mas também os donos das lojas que compram a marca no Reino Unido. Temos que “pertencer”. Quais são as perspectivas de desenvolvimento da marca? Tem cada vez mais colaborações com designers de moda. Temos colaborações com marcas de roupa e sapatos que nos dizem algo como a Fred Perry e a Hummel, mas também com entidades mais nas margens como a DIE (Denim is Everything) e com um artista de street art chamado Best One. Na SS08 colaborámos com a designer de roupa Cassette Playa, que já usava S***R em 1997, nos seus tempos de teenager. Não temos por norma arranjar colaborações novos em todas as épocas. Vão aparecendo oportunidades,
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A S***R quase não tem representação em Portugal. O nosso mercado é tão pouco representativo? Vim agora de Lisboa, estive no Bairro Alto, no Chiado e ainda não me parece que a S***R possa fazer algo de interessante em Portugal. O momento de crise que se vive também não é bom para uma marca como a nossa a não ser que tivéssemos muito PR (relações públicas) por detrás. Mas há um caminho a percorrer, não de loja própria mas de venda a outras lojas que poderão começar a estabelecer o nome junto da clientela mais exclusiva.
algumas são boas e outras são rejeitadas. As colaborações são uma forma de experimentação de novos estilos, permite-nos entrar em alguns mercados e lojas específicas que normalmente não comprariam S***R, porque só compram as colecções especiais/limitadas.
Também se tem falado de crise em Inglaterra. É hora de partir? Não, a crise vem e vai. A Inglaterra saberá dar a volta por cima e o nosso mercado agora é global, pelo que a Inglaterra é apenas uma parcela se bem que importante, do nosso negócio.
Como foi a tua chegada a Londres e a perspectiva de começares um negócio a partir do nada? Não foi uma aventura porque estávamos preparados para o que desse e viesse, tínhamos ideias, ideias frescas e muita irreverência e dedicação. O plano era simples: montar uma loja própria, apresentar a marca e começar uma estrutura de distribuição em mercados importantes. Primeiro foi Itália e depois Alemanha, Japão e Escandinávia, de forma a ocupar cada vez mais espaço de produção na fábrica em Portugal.
Dá-nos o teu top 10 de Londres. 1. Sketch. Bar restaurante absolutamente único; 2. Liberty (Loja); 3. Selfridges (Loja); 4. Tate Modern (Museu); 5. National History Museum; 6. Bankside, South East London. Um belo passeio junto ao Rio Tamisa; 7. Stamford Bridge, mesmo sem o José Mourinho continua a ser um belo estádio; 8. Beyond The Valley. Uma loja independente muito colorida; 9. Kings Arms,um dos mais elos pubs do sul de Londres; 10. Royal Albert Hall. Vi aqui os melhores concertos em Londres.
Em termos pessoais o que é que te deu mais gozo quando chegaste a Londres? A liberdade de movimentos e os concertos.
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— www.swear-london.com www.bstorelondon.com —
you must – trends
you must – trends foto: Valeria Galizzi Santacroce www.myspace.com/vgsantacroce Produção: Martin Kullik / Assistente de Produção: Rita Ribeiro
p i r T y t i C , s Du nk Ni ke to n, sap ati lha ie r, Lo ui s Vu it ti f, an el Ca rt ma la de via gem or Sp q Co dija sap ati lha s Le ss , car tei ra Li ma la Hu go Bo Pr ada, boa , ócu los de So l Fe atu res de Lis Ko lovr at ca ica na Fa bri âm ica da Fa br ba na na s de cer
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you must – trends foto: Valeria Galizzi Santacroce www.myspace.com/vgsantacroce Produção: Martin Kullik / Assistente de Produção: Rita Ribeiro
you must – trends
Tropical Trip
caixa transparente de maquilhagem Sephora, chinelo Havaianas, autobronzeador Dior, anti-olheiras Biotherm Homme, biquini Pepe Jeans, sapatilhas Freestyle Freestyle Reebok, Relógio Michael Kors, toy Minus Lab81
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you must – trends
you must – trends
Skin Mineralis Texto: Sofia Saunders
Hermès Editeur
Armani Silk
Texto: Francisco vaz fernandes
Texto: Josine Crispim
Pela primeira vez a Hermès lança uma edição limitada em seda que reproduz fielmente seis obras originais de Josef Alberts, destacado pintor geralmente conectado com a geração da pintura minimal americana. Albers nasceu em 1988 na Alemanha e foi um destacado professor da Bauhaus (onde terá tido contacto com todas as teorias do Supramatismo e do Funcionalismo), com o nazismo foi obrigado a imigrar para os Estados Unidos onde desenvolveu uma sólida carreira tendo influenciado bastante o percurso da arte americana.
Desenvolveu uma obra ímpar fora de todos os parâmetros que chegaria ao seu estado mais depurado no momento em que todas as suas obras passaram a ser exercícios de composição de quadrados de cor sobrepostos. O seu interesse era chegar a um efeito psíquico e estético provocado pela interacção das cores dos quadrados. Estas reproduções em seda para a Hermès Editeur foram realizadas com a participação da Fundação Josef Alberts e vão estar disponíveis a partir de Agosto em todas as lojas da prestigiada marca francesa. As reproduções são limitadas a 200 edições numeradas à mão. — www.hermes/editeur —
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Garoto, pingado, curto. Na sua confecção há cafés para todos os gostos, consoante o paladar pessoal. Neste caso há cafés para todas as personalidades e ocasiões: para a mais tímida e a mais obstinada, criaram-se oito batons de castanhos intensos, profundos e sedutores. De edição limitada, esta é a ode ao café italiano da linha de cosméticos Giorgio Armani: a ArmaniSilk Caffé Collection. Uma aposta Primavera-Verão pouco típica, mas que promete uma textura sedosa e luminosidade subtil através da sua tecnologia MicroFilTM.
— www.giorgioarmanibeauty.com —
Depois de vários anos de experiência na cosmética feminina, a Giorgio Armani desenvolveu uma linha de cuidados masculinos para acompanhar as necessidades de um segmento em crescimento. Os seis produtos da Skin Minerals for Men, pensados para uma pele masculina perfeita, são enriquecidos de Complexo vulcânico, um composto de minerais provenientes de rochas vulcânicas. A linha está organizada em três categorias consoante o índice desses minerais. Os Primers, mais elementares, garantem uma limpeza profunda e um barbear cuidado; os Boosters, hidratam e regeneram a pele enfraquecida e sem brilho; os Masters, criados para um tratamento completo e combate a sinais visíveis de envelhecimento. O produto estrela desta linha encontra-se precisamente nesta última categoria. O Regenerating Cream enriquecido de sódio e potássio é apresentado como um tratamento anti envelhecimento completo.
— www.skinmineralsformen.com —
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Agent provocateur Texto: sofia saunders
Esta é uma marca de lingerie, vestuário sensual e acessórios associada ao garbo e à luxúria. A Agent Provocateur pensa em todos os pormenores e não poderia dispensar a venda de um perfume adequado aos encontros marotos que a sua linha nos sugere. Adopta variados nomes e embalagens de acordo com a cliente a quem se destina: «Eau Emotionelle» em embalagens de 50 ou 100ml, em frasco de porcelana com travos de jasmin e açafrão, ou a embalagem «Strip» com notas de madeiras preciosas, Ylang Ylang e Vetiver do Haiti para fazer subir a temperatura corporal. Um atrevimento.
— www.agentprovocateur.com —
you must – trends
you must – trends
intemporal
Brionvega
Texto: Josine Crispim
Texto: Francisco vaz fernandes
A designer que ficou conhecida pela sua versatilidade profissional —dos interiores do Concorde para a Air France à reinterpretação da Steamer Bag para Louis Vuitton— apresentou em Maio no Salone del Mobile em Milão o seu projecto para a Bisazza. Para a colecção limitada da conhecida marca italiana de revestimentos de luxo Putman concebeu duas mesas de formas simples e suaves, Zenith e Correspondances, ambas parcialmente cravadas por pastilhas de massa de vidro.
As criações de rádios e televisores da empresa italiana Brionvega são hoje verdadeiros mitos na área do design porque nas suas criações participaram nomes tão importantes como Hannes Wettstein, Mario Bellini, Richard Sapper, Marco Zanuso Ettore Sottsass ou os irmãos Castiglioni. Para satisfazer a procura das suas criações que se tornaram altamente coleccionáveis, a Brionvega (adquirida desde 2004 pela SIM2 Multimedia) vai começar a relançar alguns dos seus produtos ícone adaptados às novas tecnologias.
O ambiente que Andrée Putman desenvolveu para a apresentação das suas peças, composto por um biombo lacado de preto de grandes proporções que filtrava uma forte luz exterior, foi um dos mais surpreendentes da feira. Apesar da idade avançada desta francesa de nascimento mas nova-iorquina de coração, as suas concepções de espaço continuam a ser marcantes e fazem dela uma figura incontornável no mundo do design de interiores. Putman continua a desenhar os interiores de alguns dos hotéis mais importantes do mundo e tem um estilo facilmente reconhecível, marcado por um minimalismo clássico que confere aos seus projectos uma aura de intemporalidade. — www.bisazza.com —
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Ainda será possivel ter modelos que incluem leitores de cassetes. Falta agora que seja anunciada a reedição de alguns dos seus televisores, se bem que subsistam algumas dúvidas já que nesse sector a Brionvega tem optado pela edição de modelos de novos designers com uma certa linguagem retro futurista que está na essência dos produtos desta empresa italiana.
O rádio em forma de cubo TS502 criado por Marco Zanuso e Richard Sapper em 1964 é um dos seus produtos mais carismáticos que agora reaparece rebatizado de TS522. Procurou-se manter a mesma aparência, mecânica e cor para preservar o seu espírito. Para completar as reedições em matéria de áudio a Brionvega lançou ainda uma reactualização do Radiofonografo, um projecto de 1965 de Pier Giacomo e Achille Castiglioni que foi, na época, uma verdadeira revolução tanto do ponto vista estético como tecnológico. O novo Radioonografo, que agora se chama RR226, inclui actualmente a componente rádio, gira-discos, o leitor de cds e uma ligação para leitores MP3.
— www.brionvega.it —
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you must – trends
you must – trends
mass studies
gold label
Texto: Francisco vaz fernandes
Texto: Josine Crispim
Mass Studies, o atelier de arquitectura coreano mais conhecido internacionalmente e liderado por Minsuk Cho & Kisu Park apresenta mais uma vez uma resposta arquitectónica original quando lhe foi pedido para pensar no espírito desconstrutivista modernista de Ann Demeulemester para a sua nova sede em Seoul. O edifício, que conta com uma loja no andar térreo e um restaurante no primeiro andar, foi quase integralmente vestido por uma densa vegetação contrastando com o cinzentismo e o lado caótico da cidade. Inaugurado recentemente, o novo projecto foi concebido como um oásis surrealista vertical propondo uma solução espacial para a falta de superfícies verdes nas grandes metrópoles. Esta realidade, uma das mais tocantes em Seoul, já tinha sido aflorada em outros projectos dos Mass Studies. Este atelier, iniciado em 2003, é conhecido por tentar equacionar nos seus programas construtivos problemáticas relativas à cultura de massas e à sobrepopulação nas grandes metrópoles asiáticas.
Para a nova loja de Ann Demeulemeester o principal objectivo do programa arquitectónico negociado com o cliente era encaixar o maior número de natureza possível no projecto. Para isso o edifício é revestido em parte por grossos blocos de terra que suportam uma vegetação aparada geometricamente adaptando-se às linhas estruturais do edifício construídas em betão armado.
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— www.massstudies.com —
A Lee Gold Label serve-se da analogia do metal precioso como símbolo de qualidade. Esta linha da Lee pretende distinguirse precisamente pelos padrões qualitativos imprimidos no design e nos tecidos, daí a promessa implícita de que o bem será valioso como o ouro. De carácter próprio, destaca-se do restante produto Lee como sendo a linha premium da marca, “la crème de la crème” com uma certa confiança arrogante, já que teve como inspiração o espírito western. É uma linha que tem como objectivo fabricar muito além das mais recentes tendências. Continua a ser casual e street, mas não na sua versão mais trendy. Tem no seu conceito uma certa pretensão de intemporalidade, tentando actualizar o vintage. Pensada para os fãs do denim e do cabedal de espírito retro, foram recriados os blusões de cabedal de corte slim fit e as calças de cintura subida reminiscentes dos anos sessenta.
A colecção Primavera-Verão dedicada às mulheres pode considerar-se feminina e descontraída. Silhuetas delineadas em cortes cintados, conjugadas em confortáveis t-shirts de algodão e blusas baby-doll que atribuem uma sensualidade inocente e espontânea. Acrescenta-se à colecção masculina um look ainda mais natural. É caracterizada por jeans em tons suaves e o versátil blusão de cabedal que se veste com a típica camisa de lenhador.
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— www.lee.com —————————— fotografia Frederico Martins styling Cátia Almeida modelo Mafalda Torres (Elite) maquilhagem Joana Bellucci hair Ginger (Factolab) Instalação da Fabrica Features Lisboa —
you must – trends
you must – trends
Smart ForTwo Passion coupé Test Drive Texto: Maria Fernandes
Li, numa qualquer revista automóvel, que este novo ForTwo cresceu para o mercado americano. Que os centímetros que ganhou em largura e comprimento vieram colmatar o que lhe faltava para ir em conquista de um novo continente. Uma ida ao esticador que pouca mossa fez à imagem de irreverência que caracteriza a marca. Por fora são poucos os que não identificam a marca Smart pelas linhas marcadamente redondas e a utilização de duas cores contrastantes, mas falta contar como é viajar dentro deste modelo. O Coupé Passion 71cv está mais seguro, resultado do alargamento da distância de eixos (55 mm), mais confortável, o que possibilita uma maior liberdade de movimentos (45 mm fazem toda a diferença), e mais
simpático para quem gosta de sair da cidade ao fim-de-semana, pois a bagageira também saiu a ganhar com os 20 centímetros extra de comprimento atribuídos à nova geração. Assim, se o ForTwo chega a ser visto por fora como um “mini” carro, ele surpreende com a habitabilidade interior —uma sensação que acaba por ser alimentada pelo tecto de vidro que, além de emprestar amplitude, permite a qualquer dos passageiros ter o céu como limite do olhar. E, last but not least, continua a não gastar nada, a ser fácil de conduzir e a surpreender nos nossos bairros lisboetas, onde as ruas parece que se alargam e os lugares de estacionamento se multiplicam.
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— www.smart.pt —
no ar... com a mtv
dum
el botón
Texto: samuel coelho
Texto: Sofia Saunders
Texto: sofia saunders
A arte urbana abandonou o habitat natural e conquista novos horizontes este Verão, através de uma parceria entre a companhia aérea Vueling e a MTV.
Depois de sete anos a apoiar jovens músicos a Diesel criou uma rádio para transmitir a sua própria programação durante o mês de Maio. Pela primeira vez no Reino Unido (e onde mais, perguntamos nós) uma marca de roupa conseguiu licenciamento para a frequência de rádio, ainda que temporariamente. A transmissão aconteceu 24 sobre 24 horas, tanto no website da marca como através da frequência concedida. A Diesel U Music, DUM, contou com a colaboração de diversos jornalistas, animadores e artistas para a dinamização dos programas e propostas on air. A França e o Japão vão receber, brevemente, iniciativas de rádio Diesel também. Até dá inveja.
Apenas na sua segunda edição, este concurso dirigido a designers de moda já dá muito que falar dado o valor do seu prémio, 300.000 euros, o maior nesta categoria. Promovido pela Mango, El Botón destina-se a criadores em princípio de carreira, com o objectivo de impulsionar novos talentos.
O público jovem , partilhado pelas duas marcas, vai ter a oportunidade de viajar em dois aviões exclusivos ao som da MTV, com vídeos musicais e alguns dos programas mais conhecidos, como "Pimp My Ride" ou "The fabulous Life of...". A decoração exterior remete ao graffitti e à banda desenhada, feita pelos artistas Pepa Prieto e 3ttMan. O projecto Vueling by MTV permite que a arte urbana seja exposta em novos espaços...como esta galeria aérea!
— www.vuelingbymtv.com —
— www.diesel.com www.diesel-u-music.com —
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As candidaturas podem ser apresentadas a um júri altamente credenciado até 31 de Junho, que decidirá os dez finalistas. Relembramos que na final da primeira edição esteve o português radicado em Paris Filipe Oliveira Baptista, mas o prémio caberia à dupla belga formada por Sandrina Fasoli e Michaël Marson, que estão a desenhar a sua primeira colecção com a MANGO para a estação Primavera/Verão 09. — www.mangofashionawards.com —————————— foto: Colecção de Filipe Oliveira Baptista no El Botón —
you must – agenda
you must – agenda
. A Parqnda e re c o m
VINIL —GRAVAÇÕES E CAPAS DE DISCOS DE ARTISTA. MUSEU SERRALVES — Porto Até 13 de JULHO Texto: Alexandra Sumares
O disco de vinil parece não sentir a crise da indústria discográfica. Serralves acolhe a colecção do belga Guy Schraenen que inclui mais de 800 LP’s, para além de revistas e posters. Esta colecção mistura capas que fizeram história e se transformaram em clássicos —como a célebre banana pop art de Andy Warhol (capa dos Velvet Underground & Nico), a capa de «Sergent Pepper´s» (o “disco branco” dos Beatles), o desenho de Raymond Pettibon na capa de «Goo» dos Sonic Youth, a edição limitada de «Speaking in Tongues» dos Talking Heads (criada por Robert Rauschenberg e vencedora de um Grammy)— com gravações raras e capas feita por artistas desconhecidos. A exposição divide-se em várias secções: desde os movimentos avant-garde dos anos 20 até ao Fluxus, Nouveau Réalisme, Pop Art, Zaj e Arte Conceptual.
festival lab
Lx Factory — Alcântara 28 de Junho Texto: Sofia Saunders
DAN DEACON + KOTALUME
GALERIA ZÉ DOS BOIS Dia 9 de Junho às 23h
Fernando Pessoa 120 anos
Kola San Jon
Texto: Sofia Saunders
Texto: carla isidoro
A LoopRecordings, a Casa Fernando Pessoa e a Direcção de Cultura da CML celebram o nascimento de Fernando Pessoa num evento na rua com música, intervenções artísticas e a edição de um disco (lançado depois do Verão) de duos entre cantores e músicos onde iremos encontrar Kalaf, Dj Ride, Pedro Laginha, Sam the Kid, Sagas, Spill e Marta Hugon, entre outros.
É uma das festas populares da ilha de Santo Antão, Cabo Verde. O Kola San Djon (festa de S. João) celebra o cruzamento dos portugueses com os escravos levados para as ilhas, através de um desfile onde é dançada a umbigada e se exibe um barco feito à mão que tanto lembra as caravelas portuguesas como os barcos de piratas que assaltaram as ilhas (Drake ficou na memória de Cabo Verde depois de saquear a Cidade Velha em Santiago).
Praça do Comércio 13 Junho às 22h. Entrada Livre.
Cova da Moura Dia 13 de Junho às 15h
Texto: alexandra sumares
Pretende ser um dos acontecimentos deste Verão. Junho prima por ser o mês com maior número de eventos culturais do ano e o Lab Festival vai fechá‑lo em grande. O cartaz traz a Lisboa três nomes da cena tecno internacional como o espanhol Xpansul, os alemães Pan Pot e ainda o francês Shonky, que vem apresentar o seu recente disco lançado em Abril. Este festival de Electronic Dance Music and Digital Arts congrega também os trabalhos de fotógrafos e artistas de videoarte, entre os quais os portugueses Rui Aguiar, João Pinto ou Ricardo Quaresma. Os bilhetes custam 15 euros até à véspera e 20 euros no próprio dia. Actualizem‑se em www.labfestival.com
— na foto Pan Pot —
O visitante pode ainda requisitar e ouvir quase todos os discos da exposição.
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Dan Deacon é considerado um dos mais extravagantes compositores de electrónica de Baltimore. Formou-se em electro-acústico e “computer music”, diz-se amante de Devo, Talking Heads e de bandas sonoras de videojogos. Na sua música podemos recordar-nos de Suicide e reconhecer influências de Animal Collective ou Fiery Furnaces. As suas actuações excêntricas voam entre o pop, o beat e o underground, e com elas promete não decepcionar-nos na ZDB. Kotalume, ou Adilson Moreno, nasceu na Praia, em Cabo Verde, e aprendeu música a ouvir o tio Tutu a tocar violão em casa. «Dor ku Fômi» (Dor com Fome) de Kotalume é um dos nove temas compostos por jovens de bairros desfavorecidos de Lisboa para um CD de hiphop a lançar durante este mês de Junho pelo Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas. O projecto de Kotalume balança entre funaná electrónico e kizomba cruzada com hiphop e house. Preparem-se pra dançar porque a noite vai ser quente!
Pessoa nasceu a 13 de Junho há 120 anos. Na noite de 13 de Junho Rocky Marsiano vai assinar o chão musical deste concerto de antevisão do disco de homenagem ao poeta, onde estes artistas entrará em palco com Pessoa nas mãos e nas palavras. Para ficarem com água na boca revelamos algumas das escolhas da noite: Mc Fuse vai cantar um excerto de «Mensagem», Sagas pega na «Tabacaria» em crioulo e Fuse optou por «Nunca te achei nem te vi.»
Marcada por um cortejo, com o barco e os tambores a liderar, a festa é motivo de encontro entre moradores e não moradores da Cova da Moura. Neste dia come-se muita cachupa, bebe-se bom grogue (nos outros dias também mas no Kola é a dobrar), dança-se na rua e assiste-se a uma manifestação cultural genuína que, nos primeiros anos, punha os moradores mais velhos a chorar de emoção.
Rocky Marsiano vai carregar a poesia de Fernando Pessoa com inputs da intuição jazz, soul e MPB do cd «Outside the Pyramid» que acaba de lançar. Lá estaremos.
Também está prevista a apresentação dos projectos de alunos da Univ. de Arquitectura da UAL para um hotel ético na Cova, a exibição dos documentários feitos pelos moradores e a actuação das bailarinas Wonderfull’s Kova M (ambos abordados na edição anterior da Parq), entre outras fantásticas atracções. Este ano a festa calha no dia de Santo António porque a Cova foi convidada a fazer o Kola San Djon no dia de S. João em Cabo Verde, pela primeira vez. Será que há lugares vagos na comitiva?
— www.myspace.com/ looprecordings www.myspace.com/rockymarsiano —————————— na foto Rocky Marsiano —
— Fotos: Parq - “improviso de ferro e gaita na rua” www.moinhodajuventude.org —
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soundstation Texto: nuno catarino / foto: davis thomson moss
Guillermo E. Brown O site AllAboutJazz chama-lhe "omnívoro" por devorar todos os géneros musicais. A verdade é que tanto podemos encontrar Guillermo E. Brown num cenário jazz, a acompanhar o saxofone mágico de David S. Ware, ou em aventuras electrónicas ao lado de DJ Spooky. O seu novo disco, uma exploração aberta da música urbana contemporânea, chama-se «Shuffle Mode» e é lançado em Julho.
Habituámo-nos a vê-lo atrás de uma bateria, a acompanhar gigantes do mais inventivo jazz contemporâneo: David S. Ware, Matthew Shipp, William Parker. Tudo gente que desafia as convenções na simples escolha de uma nota, todos músicos de elite. Guillermo E. Brown aprendeu com os melhores, portanto. “Eles protegeram-me e ensinaram-me muito, conduzindo-me para uma estética particular. E de cada um aprendi coisas de um modo diferente. Uma coisa muito especial no David S. Ware Quartet foi termos tocado juntos durante muito tempo, o que é muito raro na cena actual. Ter tocado com os mesmos músicos durante dez anos seguidos foi determinante para a minha formação.” Para além destes companheiros E. Brown reconhece a influência marcante de gente como George Lewis, Dave Burrell, Roy Campbell, Daniel Carter, Vernon Reid, Jay Hoggard e Pheeroan AkLaff. “Uma das coisas mais importantes que aprendi com eles foi a ser fiel à minha visão criativa/artística pessoal. A música é o sítio onde podemos tornar reais os nossos sonhos e pesadelos, é uma forma de criar um veículo, como um ‘hovercraft’ que ultrapassa todas as barreiras.”
No seu novo disco, projecto a solo, Guillermo E. Brown afasta-se da explosão free jazz que lhe conhecíamos e explora um novo mundo, uma nova visão criativa. Em terrenos electrónicos, entre o hip-hop menos formatado e a soul digital, Brown atira-se àquela coisa à qual costumam chamar “música urbana”. O novo disco chama-se «Shuffle Mode» mas não parece ter sido feito de modo aleatório. Guillermo E. Brown planeou o disco ao pormenor e realizou o trabalho quase todo sozinho, deixando apenas espaço para os convidados. Estamos perante o grande trabalho a solo de Brown? “Dizer isso talvez seja enganador, uma vez que oculta o contributo dos músicos com quem trabalhei neste projecto, como Cochemea Gastelum, Samita Sinha, Liberty Ellman, Paul Geluso, Scotty Hard, Neil Ochoa e Omar Little…” Reunindo todos estes contributos E. Brown criou uma falsa playlist urbana de géneros surpreendentemente sobrepostos em modo que quase parece aleatório. Mas o que é que um iPod tem a ver com isto? “O entusiasmo e a improvisação surgem do meio da confusão, como num baralho de cartas ou num iPod, o resultado da performance varia conforme uma variedade de circunstâncias!” Se para quem conhecia o trabalho do baterista do quarteto de David S.Ware este novo disco pode surgir como uma grande surpresa, no concerto do projecto Folk Songs Trio na Culturgest (em 2007) onde esteve acompanhado por William Parker e Victor Gama, Brown já tinha revelado o fascínio pelas batidas electrónicas. E há que lembrar que o selo Blue Series da editora Thirsty Ear, do seu habitual parceiro Matthew Shipp com quem tem colaborado, vem desbravando e apresentando propostas de exploração com o hip-hop mais abstracto (basta referir os nomes Antipop Consortium ou El-P).
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Neste novo trabalho o multifacetado músico desenvolve um profundo trabalho de fusão, onde as palavras/mensagens se colam a cortinas de som rendadas, onde se entrelaçam sons que poderiam ser saídos de um baú de discos clássicos da Atlantic. «Shuffle Mode» revela um músico multifacetado e consciente da música popular do seu tempo. E que revela agora o trabalho com que mais se identifica: “o principal objectivo deste projecto é apresentar um quadro mais completo do meu universo musical, mais do que em qualquer outro trabalho em que participei até hoje.” Interceptando hip-hop abstracto, soul pós-moderna e ritmos implacáveis, tudo triturado numa impecável e enérgica subversão herdeira do mais puro free jazz, «Shuffle Mode» é um estranho e original “hovercraft” que atravessa estilos e rótulos, levando tudo à frente, ultrapassando fronteiras. — www.myspace.com/guillermoebrown —
soundstation
soundstation Texto: rui miguel abreu
FRANK GOSSNER A partir da Guiné Conakry, o alemão Frank Gossner descobriu um mundo de ritmos impressos em vinil. As suas viagens documentadas no blogue VoodooFunk vão agora dar um filme. h is n gl sio En er .7 7 V p
No complexo mundo do coleccionismo de vinil, sobretudo nas suas mais ritmadas facções, descobrir uma loja ou um armazém inexplorados pelas mãos ávidas de outros coleccionadores pode gerar ilimitadas descargas de endorfina, deixando o felizardo descobridor imerso num inexplicável mar de prazer. Mas e se em vez de uma loja ou até de um armazém se descobrir um continente inteiro, ainda inexplorado e carregado de tesouros musicais? Frank Gossner sabe a resposta a essa pergunta. A partir do blogue VoodooFunk, tem documentado nos últimos dois anos uma incrível viagem de descoberta por algumas paragens do lado ocidental do continente africano: Serra Leoa, Benin, Gana, Mali, Costa do Marfim. Essa viagem chega agora ao fim, porque Frank está de malas (contentores, para ser mais preciso) aviadas para Nova Iorque, mas nos últimos meses a cineasta Leigh Iacobucci teve a oportunidade de documentar as atribuladas viagens de Frank em busca de pérolas perdidas impressas em vinil. Segue-se um documentário: “a montagem ainda vai demorar alguns meses,” explica Frank a partir de um ciber-café na capital da Guiné Conakry, onde viveu nos últimos dois anos com a sua mulher, funcionária da embaixada Alemã. Frank Gossner começou a sua carreira de Dj nos anos 90, quando a miragem dos swinging sixties alimentava festas movidas a cocktails e a bailarinas go go. Nessa época envolveu-se na promoção da compilação «Vampyros Lesbos: Sexadelic Dance Party» e criou um conceito de festas que levou até Nova Iorque e Filadélfia. Nos Estados Unidos apaixonou-se por funk e passou a procurar discos criados à sombra de James Brown.
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Em 2000, regressou a Berlim onde criou a festa Soul Explosion, mas manteve o hábito de voar para os Estados Unidos em busca de rodelas funk de vinil e foi aí que descobriu uma loja especial, em Filadélfia, a Smith’s Record Store, relativamente inexplorada por outros coleccionadores por causa da zona perigosa em que se encontrava e porque o dono era um bocado assustador: “ele não era doido pela companhia de gente branca, mas, para minha sorte, os preconceitos raciais dele não se estendiam aos europeus e por isso fui o primeiro coleccionador de funk a ter acesso ao seu inacreditável armazém no andar de cima.” Quando, mais tarde, Frank explicou a Stan que se ia mudar durante um par de anos para África, algo aconteceu: “Ele levou-me ao seu escritório onde uma parede inteira estava coberta por estantes com discos e mostrou-me alguns lançamentos na editora nigeriana Tabansi. Comprei-lhe o lote inteiro de para aí duas dúzias de discos porque as capas me intrigaram. Uma inspecção mais minuciosa em casa revelou que apenas um dos discos continha material mais funky, mas era um disco incrível, «Na Teef know the road of theef» de Pax Nicholas & The Nettey Family. E este é um daqueles típicos momentos de revelação: “A minha curiosidade acerca de discos africanos foi então espicaçada e se antes eu estava preocupado a pensar no que iria fazer nos três anos que iria viver para África, agora sabia que iria passar o tempo a viajar e a procurar mais discos como aquele.”
As viagens, as incríveis histórias, as vívidas fotos e a música que Frank foi mostrando no seu blog atraíram a atenção de diversos produtores que lhe propuseram a realização de documentários sobre a sua forma particular de fazer antropologia e arqueologia: “Escolhi trabalhar com a Leigh Iacobucci porque ela já tinha vivido uns meses em Accra e parecia estar mais acostumada aos hábitos africanos.” Esses hábitos tornam, por exemplo, muito difícil registar imagens, uma vez que as crenças locais ligam as fotografias a actos de feitiçaria: “Pode ser superstição e podemos tentar rir-nos disto, mas praticamente toda a gente por aqui acredita nestas coisas, mesmo as que têm educação e estudos.” Com editoras como a Soundway e a Vampi Soul a darem redobrada atenção à música africana da Nigéria, Gana e Benin, a actividade de Frank Gossner ganha uma dimensão ainda mais presente. E já há planos para o futuro imediato desenhado a partir da Grande Maçã: “NYC é a minha segunda casa. Tenho mais amigos lá do que em qualquer outro lugar do mundo. Propuseram-me um programa de rádio semanal na WFMU (www.wfmu.org/) que começará em Outubro e será perfeito para mim, até para poder tocar alguns dos discos que encontrei e que não são talhados para os clubes. Também tenho planos para criar uma noite afrobeat regular. A minha primeira data em Nova Iorque será já a 12 de Julho no APT.” Se estiverem na vizinhança nessa altura, digam olá por nós.
— voodoofunk.blogspot.com —
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soundstation
soundstation Texto: António Silva Santos & Carla Isidoro
super mama djombo Em meados da década de 60 começava a revolução cultural na Guiné-Bissau. Um grupo de jovens pioneiros do PAIGC envereda por uma paixão comum, a música, e passa a designar-se por Super Mama Djombo em homenagem a uma divindade animista. A orquestra, uma referência musical na década de 70, está de regresso com um novo disco apadrinhado pela Islândia.
Vinil gravado em 1983 com ilustração de Amílcar Cabral
Nas décadas de 1960 e 70 foi grande a proliferação de orquestras africanas, bandas que marcaram a modernidade musical dos seus países através dos ritmos tradicionais e também da influência rock através de guitarras que electrificavam letras exaltando a cultura, os desejos de liberdade e a autonomia face ao colonizador. Algumas destas eram orquestras nacionais apresentando-se como expoente musical do momento e representando o país internacionalmente, caso da Rail Band de Bamako —de onde saiu posteriormente Salif Keita para carreira a solo— fundada pelo Ministério da Informação do Mali. A Guiné-Bissau não fugiu à tendência e a orquestra Super Mama Djombo fez carreira com temas em crioulo e em mandinga que sublinhavam a liberdade, a determinação do povo pela soberania e ideais socialistas vigentes através do ngumbé tocado por cinco guitarras eléctricas. O seu trajecto é marcado por canções de intervenção e de cariz político-social no contexto da luta de libertação feita pelo partido PAICG, liderado por Amílcar Cabral, que clamava pela liberdade de caboverdianos e guineenses. A banda termina em 1986 mas volta agora com novo disco de originais. Este regresso tem um rosto, o músico e produtor radicado nos Estados Unidos Zé Manel, elemento da formação original dos Djombo que levou a banda a gravar na Islândia segundo os ditames técnicos da época. Zé Manel conheceu, casualmente, um empresário milionário islandês a quem mostrou os seus discos a solo e os da Mama Djombo. Este homem fica fascinado com o som da orquestra e propôs-se financiar o regresso da banda desde que gravassem na sua terra natal.
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A editora Smekkleysa (a mesma que editou Björk ou Sigur Rós) assina «Ar Puro» e o lançamento feito na Guiné-Bissau, em Março passado, leva ao país uma comitiva islandesa composta por deputados, empresários e os editores. Zé Manel revela que a matriz não foi alterada, queriam um som puro, sem overdubs e com temas inéditos. O disco, composto por onze temas, é gravado por seis elementos da formação original e também por caras novas. Super Mama Djombo volta com a motivação de reviver os anos dourados através de novas roupagens musicais mas mantendo a sonoridade orgânica da época. Gravaram integralmente de forma analógica para garantir fidelidade à sonoridade dos anos 70. No concerto de apresentação no Dia de África, em Maio no concelho de Odivelas, Atchutchi revela objectivos: “não ficámos parados nos velhos tempos, a banda tá a olhar para o futuro e veio para ficar.” Orquestrado por Adriano Atchutchi desde o início, o grupo nasceu com 15 elementos, dos quais seis eram vocalistas. Dulce Neves, a única mulher da formação inicial, está de volta com a nova formação. Naquela época o impacto da banda era enorme, marcando toda uma geração com letras mordazes e mensagens incisivas. A repercussão do trabalho da orquestra chegou a países vizinhos como Cabo-Verde, mas também a Cuba. Zé Manel relembra: “quando íamos a Cabo-Verde ou mesmo para o interior da Guiné-Bissau movimentávamos multidões, aquele calor humano ainda me dá nos dias de hoje uma satisfação enorme.”
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O som de Mama Djombo foi uma espécie de húmus na defesa de valores como a luta contra a corrupção. Zé Manel era bastante novo na altura em que integra a orquestra a ponto de que nem ele próprio estar consciente das mensagens que passavam na altura: “a luta política e a consciência de liberdade não era abrangente a todos, apenas os elementos mais velhos do grupo e com mais experiência tinham noção do que era ser combatente pela liberdade da pátria”. Dentro do partido eram vistos como activistas culturais, dispostos a criar uma imagem apelativa de renascimento da identidade cultural do povo. A relação entre o PAIGC e Super Mama Djombo não era promíscua. No single «Dissan na M’bera» do primeiro disco «Cambança», de 1980, criticavam as opções políticas no pós-independência, a falta de credibilidade de quem estava dentro do partido a ‘interpretar mal’ a visão social de Amílcar Cabral e a desrespeitar a humildade do povo. Foi o princípio das animosidades entre ambos. Depois do acarinhado regresso da senegalesa Orquestra Baobab em 2002 (que em Julho poderemos ver no Festival de Sines), a Super Mama Djombo está interessada em também investir neste regresso a la longue e não fazer do lançamento «Ar Puro» a materialização de um mero capricho. Lisboa vai recebê-los ao vivo, dia 9, na Aula Magna.
— Dia 9, Aula Magna - Lisboa — www.smekkleysa.net myspace.com/supermamadjombo —
viewpoint Texto: francisco vaz fernandes
viewpoint pedro azevedo
pedro azevedo estrada de água
Pedro Carvalho Azevedo [Lisboa, 1975] estudou no AR.CO e trabalha como fotógrafo para várias revistas e jornais desde 1997. Paralelamente tem desenvolvido alguns trabalhos pessoais com carácter documental sobre questões sociais dentro de uma tradição do fotojornalismo. Bolseiro da Fundação Oriente de Março a Junho de 2007, desenvolveu um projecto fotográfico sobre as consequências da construção da Barragem das Três Gargantas na República Popular da China —trabalho documental, fotografado em médio formato, centrado numa pequena cidade e sua área periférica, nas margens do rio Yangtsé. Este trabalho que a Parq apresenta resulta igualmente dessa viagem à China. Sarah Adamopoulos escreveu no texto de apresentação desta série de imagens na Kgaleria de Lisboa, “há depois a circunstância transversal —a luz que atravessa cada uma destas imagens, sugerindo coisas tão diferentes como sistemas de rega (aspergindo os cultivos), uma núvem de fumo expelida pelo escape de uma motorizada, um incêndio próximo a tomar a paisagem, um espesso nevoeiro envolvendo o casario e as gentes, raios de sol a perfurar os céus depois de uma chuvada, pedaços difusos de um arco-íris indeciso, ou simplesmente a luz aguda do dia a entrar pela janela. A luz que atravessa conferindo mistério e densidade a cada uma destas imagens, e sugerindo a intervenção demiúrgica de uma entidade meta-fotográfica. Mas não. A luz que atravessa cada uma destas imagens decorre tão somente de um acidente, de um acaso produzido por um imponderável grau de deterioração dos vedantes da câmara que albergava a película do fotógrafo. Uma luz, que tal como os retratados em Shennong, não é bem dali, daquele lugar específico. Uma luz que é só destas imagens”. O fotógrafo confronta assim o absoluto da reprodução do real apelando para uma certeza de que toda a imagem é, no essencial, uma construçãi subjectiva que implica a ocupação de um espaço, o da imagem.
— Agradecemos a colaboração da [Kgaleria], Rua da Vinha 43A Bairro Alto Lisboa Tel: +351 21 343 16 76 — www.kameraphoto.com/kgaleria —
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Pedro Azevedo Estrada de Água
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viewpoint pedro azevedo
viewpoint pedro azevedo
Pedro Azevedo Estrada de Água
Pedro Azevedo Estrada de Água
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viewpoint pedro azevedo
viewpoint pedro azevedo
Pedro Azevedo Estrada de Água
Pedro Azevedo Estrada de Água
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grande entrevista lisa f. jackson
grande entrevista
lisa f. jackson
para que é que serve uma mulher? O documentário «The Greatest Silence: Rape In The Congo» de Lisa F. Jackson fala-nos de uma nação onde as mulheres são sistematicamente violadas desde há mais de 10 anos e dá um novo significado à dor da verdade. Valeu-lhe o Prémio Especial do Júri do Festival de Sundance deste ano. A preparar um documentário sobre Bogotá, a realizadora falou com Mário Nascimento sobre o seu filme e a sua experiência. 2.
1. h is n gl sio En er .7 7 V p
A Lisa é uma veterana na abordagem de temas pesados. Aliás, a sua ida à República Democrática do Congo (RDC) fazia parte da pesquisa para um projecto maior. Como é que teve conhecimento do que se passava lá? Li alguns relatórios em publicações sobre direitos humanos, um estudo de 2002 falava no assunto, mas a minha fonte principal foi uma amiga que estava lá a trabalhar. Mas só quando lá cheguei é que percebi a dimensão da coisa, porque é uma guerra tão esquecida, de que mal se fala, e a violação de mulheres e crianças é um tópico praticamente invisível, e só mesmo quando cheguei lá e comecei a ouvir falar de pessoas que trabalhavam com vítimas de violação é que percebi…como aquilo era mesmo horrível. Especialmente quando fui ao hospital de Panzi. Panzi foi mesmo um choque.
— do filme The Greatest Silence 1. Lisa F. Jackson a filmar raptores Congoleses 2. sobreviventes deBukavu 3. Marie Jeanne, 34 anos, Bukavu, DRC —
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Foi em Panzi que sentiu ou percebeu que “o meu próximo filme vai ser sobre isto”? Uma pessoa nunca sabe bem até ter uma noção de tudo o que filmou. E só passadas algumas semanas é que comecei a achar que talvez tivesse uma boa cobertura do tema ou um bocadinho de história. Acho que foi passado um mês que eu conheci a [Major] Honorine, e conhecê-la, e conhecer o Bernard [o intérprete]… Porque o filme tem de ter personagens que o sustentem, não pode ser só mostrar horror atrás de horror. Por isso é que encontrar personagens me fez ficar mais confiante de que tinha mesmo um filme.
Com todos os conflitos nos países que rodeiam o Congo, como o Sudão, Uganda, o genocídio no Ruanda, mesmo o próprio Congo, com uma democracia acabada de renascer e transformada imediatamente em guerra civil… Juntando a isso a presença das Nações Unidas (NU), quanto tempo levou para conseguir todas as licenças e salvoscondutos para ir a certos sítios? Eu fui e pronto. Troquei as minhas milhas de avião, voei até Kinshasa assim mais ou menos de repente, disse à minha amiga que ia e fiquei na casa dela. Depois, demorei cerca de sete, oito dias até conseguir romper as barreiras do sistema das NU e conseguir as credenciais de que precisava. Quanto ao acesso, houve uma senhora muito bem informada, que era a Oficial de Informação dos peacekeepers no Leste, e foi ela que sugeriu que eu acompanhasse a patrulha do exército paquistanês. Não há exactamente zonas vermelhas ou zonas verdes, uma pessoa pode ir onde quiser. Nalgumas situações corremos alguns riscos: a primeira vez que fui àquela pequena aldeia, fui com os peacekeepers, mas depois, fui num carro que aluguei, sem logos de lado nem guias armados a vigiar a estrada.
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Há uma altura no filme em que se ouve a frase “o conflito com mais mortos desde a II Grande Guerra”. Isto é mais um exemplo para o Chomsky estudar ou é mesmo só o público que não anda informado? É que isto é uma coisa muito maior do que o que se passa no Darfur, por exemplo. Parece que esta é mais outra verdade silenciada. Isso, para mim, é uma coisa surpreendente. Não consigo compreender. Durante os dois anos que passei a trabalhar no filme, 1,4 milhões de pessoas morreram, ou seja, o número de mortos vai agora em 5,4 milhões. Não sei por que é que, pelo menos no Ocidente, temos este tipo de ofuscação em relação ao que se passa em África. As pessoas dizem “ah, isso são guerrilhas entre tribos africanas malucas que se matam umas às outras”, mas eu não acho que seja redutor dizer que se trata pura e simplesmente de uma guerra de recursos. E quando se vê a coisa dessa forma, percebe-se a cumplicidade dos países do Primeiro Mundo no conflito, porque basta olharmos para o nosso telemóvel para ver uma ligação directa entre o coltão nos seus componentes [um minério cuja maior reserva se encontra na RDC] e a morte de milhões de pessoas. E acho que nós não queremos ter essa visão das coisas.
grande entrevista lisa f. jackson
grande entrevista lisa f. jackson
3.
Por falar em ver coisas, nos últimos anos, parece que o documentário se tornou comercial, enquanto formato, mesmo os documentários sobre direitos humanos. E realizadores estabelecidos em Hollywood (como De Palma ou Haggis) já aderiram ao chamado “minicam regime”. Acha que a nossa falta de sensibilização está a chegar ao fim? Não tenho tanta certeza disso. O «Redacted», por exemplo, perdeu tanto dinheiro… quanto aos documentários que foram sucessos de bilheteira, o filme do Al Gore foi assim um golpe de sorte. O documentário com mais sucesso até agora continua a ser «A Marcha dos Pinguins» porque as pessoas gostam de coisas fofinhas e peludinhas, não gostam de coisas fofinhas e peludinhas mortas. Por isso, acho que o facto de a HBO passar o meu filme é extraordinário, mas daí a achar que as pessoas estão necessariamente a ver mais filmes, isso já não sei. Mesmo assim, este filme já teve uma resposta tremenda e já recebi centenas de cartas de pessoas que querem saber como é que podem ajudar. Porque as pessoas não são egoístas nem idiotas. Há gente que se comove ao saber que outras pessoas passam por um sofrimento desumano. E o instinto natural dessas é pensar “o que é que eu posso fazer para ajudar?” e quando vêem o meu filme ficam completamente horrorizadas e chocadas com a dimensão da catástrofe que se vive no Congo, porque acham que estão minimamente informadas. Portanto, quando uma coisa desta dimensão lhes entra em casa sem eles estarem à espera, ficam chocados, quer dizer, “onde é que estão os media? Por que é que nunca ouvimos falar disto?” Mas sim, há obviamente mais gente a fazer filmes agora do que quando eu comecei e acho que há mais meios e plataformas para os divulgar, sei lá, existem centenas de canais de televisão, alguém ripou o trailer do meu filme e o pôs no YouTube, por exemplo. Eu estou a ter reacções de um público que há cinco anos atrás nem sequer existia. Agora, se esse público é de facto mais alargado ou se é mais uma variação da mesma minoria mais informada... não sei.
Ao vermos o filme ficamos a saber da violação colectiva de que a Lisa também foi vítima. A importância de partilhar a sua história com as mulheres do filme é óbvia, mas por que é que sentiu que também a devia partilhar com o público, “comigo”? Porque, no fim, acaba por ser uma espécie de personagem num documentário que não era sobre si. Essa não era a minha intenção. Eu sabia que aquelas pessoas iam olhar para mim como se eu fosse um ET a sair de uma nave, ou seja, uma mulher branca, no meio da selva, com uma câmara ao ombro. E também sabia, ao fim de tantos anos a fazer documentários, que é preciso estabelecer uma ligação entre nós e a pessoa que estamos a filmar. E tinha consciência de que o fosso cultural ia ser enorme, por isso, levei fotos da minha família, e provas (do que se passou comigo), porque achei que talvez fosse preciso mostrar, e levei fotocópias dos artigos que saíram nos jornais (na altura). Quando voltei, depois dos primeiros dois meses de filmagens, montei uma primeira versão do filme, para ter uma ideia, e mostrei-a a amigos. Eles perguntaram “como é que conseguiste que elas se abrissem contigo?” e eu disse, e eles: “a sério?! E não achas que isso é uma parte importante da história?” E depois, uma jornalista chamou-me a atenção para este ponto: “se o público souber que é contigo que aquelas pessoas estão a falar e que tu, enquanto mulher, passaste por uma experiência mais ou menos equivalente, isso torna o filme muito menos voyeurista.” E eu achei esse ponto de vista muito interessante. Portanto, foram estas pessoas, cuja opinião eu respeito bastante, que me incentivaram a expor a minha história e eu… expus-me. Mas não foi fácil. Eu vejo essas cenas e ainda me sinto desconfortável.
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Alguma imprensa americana referiu a inclusão da sua história pessoal no filme como uma espécie de artifício narrativo. O que é que acha deste tipo de reacções? Eu fui um bocadinho criticada por isso e há uma feminista americana muito conhecida que acha que eu não ajudei aquelas mulheres, muito pelo contrário, porque faço um paralelo entre a minha experiência e a delas. Mas em momento algum do filme eu faço uma comparação! Limito-me a dizer que algo vagamente equivalente se passou comigo. E outra jornalista escreveu como se o filme fosse só sobre mim. Bem, eu passei-me, porque ao focar-se nos 5% do filme que são sobre a rapariga branca, ela simplesmente ignora 95% do filme, onde se fala do sofrimento de dezenas de milhares de mulheres, e dá continuidade a toda esta conspiração de silêncio, porque acaba por não abordar aquilo de que o filme fala na realidade, e isso deixou-me mesmo furiosa! Mas, e afinal, a sua história ajudou mesmo o público a identificar-se mais com a história das outras mulheres? Bom, também há aqui uma ligação a fazer com o público (ocidental). Eu acho, muito sinceramente, que se me distanciasse do filme e pusesse uma actriz famosa a fazer de narradora, o filme seria bastante diferente e não teria, acho eu, o mesmo impacto emocional. E acho que quem o visse ia achar que estava perante uma espécie de experiência antropológica qualquer e não uma experiência pessoal, e não ia ter uma ligação tão forte. Porque aí o filme ia cair naquela categoria de filmes sobre África que nós já conhecemos, do tipo “olhem lá para esta gente tão esquisita a passar por coisas que não têm nada a ver connosco”. Mas aí é que está, porque tem tudo a ver connosco, e essa ligação tem de ser feita. Portanto, incluir a minha história não foi um plano calculado, mas acho que funcionou.
Já ganhou muitos prémios com muitos documentários, feitos ao longo de muitos anos. Mesmo com tanta experiência, quando estava a filmar cenas como os testemunhos das mulheres…é capaz de explicar como é que separou a pessoa da realizadora? Foi insuportável. Houve vezes em que foi mesmo agonizante. Cada história era como um golpe. E à noite, havia muitas lágrimas. Foi muito… difícil. Todos os dias era difícil. E enfim, eu não me fui abaixo quando estava a filmar, mas foi mesmo doloroso e, vê bem, a cada uma daquelas mulheres eu pedi para revisitarem um pesadelo, eu pedi-lhes para confiarem em mim e me levarem com elas ao pior momento das suas vidas. E elas levaram-me! Uma noite, depois daquela sessão de grupo [nas Mães da Paróquia, um centro de acolhimento católico] onde eu partilhei a minha história com todas aquelas mulheres, desmanchei-me e fuime completamente abaixo. Essa reunião nas Mães da Paróquia, no fim, parece uma sessão de empowerment colectivo. A própria linguagem corporal das mulheres estava diferente: os tons de voz mais altos, os queixos erguidos… Eu sei, parecia uma espécie de reunião de feministas dos anos 70. Eu acho que elas se sentiram validadas pela minha presença e pelo esforço que fiz em deslocar-me até lá e depois, também, o facto de eu voltar lá várias vezes, elas valorizavam isso. Porque as pessoas que lá estão, vêm e vãose embora. Mesmo a maioria das associações humanitárias, quem está lá tende a ficar algo afastado. Por isso, o facto de eu ficar no Centro, com o padre, com a freira, mesmo no meio delas, isso também fez diferença. Todas as mulheres tinham sentimentos de culpa, vergonha, derrota e, ao mesmo tempo, esperança. Seria mais “natural” deixar os dias transformarem-se em noite mas não. É um paradoxo difícil de gerar depois de sofrer tanta degradação. E é mesmo. Mas a verdade é que elas não têm outra alternativa senão levantarem-se de manhã e continuar. As vidas delas e das famílias delas dependem totalmente disso. E esse tipo de resiliência já faz parte delas porque desde há séculos que são elas que têm de se levantar cedo e enfrentar o dia. É que tanta coisa depende das mulheres que, se elas não fizerem isso, nada funciona e tudo cai por terra.
Só muito recentemente o abuso sexual é considerado crime no Congo. Como responsável pela investigação desses crimes está outra personagem do seu filme, uma verdadeira força da natureza, a Major Honorine Mungole. Como polícia ela tem uma postura muito profissional, mesmo quando está a interrogar uma vítima no hospital coloca os braços atrás das costas. Ela ajudou a condenar um colega polícia por ter violado uma adolescente, mas ele “fugiu” três dias depois de ser preso. Ela não é perseguida por fazer bem o seu trabalho? É, é. Recebe ameaças constantemente. E a falta de financiamento do departamento dela, e o gabinete que lhe deram (que é uma barraca), quer dizer, tudo isso são punições. “Nós vamos dar-te mãos. E agora, vamos atá-las.” Precisamente. E só o facto de ela não desistir é assim uma coisa… Gosto muito de uma frase que ela diz no filme: que trabalha com o coração de uma mãe.
Como é que conseguiu que «The Greatest Silence» passasse na [estação pública do Congo] DRC TV? As directrizes editoriais da estação dizem que tudo o que for emitido no país deve apoiar os interesses do Governo. O Gabinete da Commonwealth e Negócios Estrangeiros em Londres está empenhado em comprar espaço na tv congolesa, o que eu acho incrível. Faltam debates sobre o que se passa dentro do próprio país. O Leste do Congo fica a um mundo de distância do Congo Ocidental, onde está a capital, as entidades legisladoras. Até o povo fala outra língua. Estamos a falar de um país que é mais ou menos do mesmo tamanho da Europa Ocidental. Era suposto o filme ter ido para o ar em Abril, mas depois passou para Julho. Eu tenho trocado emails com pessoas em Kinshasa e não me parece que haja problemas. Bom, mas agora, não sei… Eu espero que o filme tenha impacto, mas também pode passar completamente ao lado. Quem sabe?
— www.thegreatestsilence.org www.jacksonfilms.com —
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especial design texto: francisco vaz fernandes
especial design saloni del mobili 08 2.
nas luzes da ribalta
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saloni del mobili 08
Já não vale a pena referir o número de visitantes do Saloni del Mobili de Milão que, todos os anos, bate recordes. Falou-se em 210 mil visitantes, compradores, clientes, entre outros, o que torna esta feira num dos maiores eventos do mundo. A Parq esteve lá e conta o que viu entre taças de champanhe. 1.
O ambiente é festivo, existe mesmo um calendário de fácil acesso que fornece a data e a hora de todas as vernissages que se realizam durante a semana da feira. Com profissionais vindos de todas as partes do mundo, a possibilidade de muitos encontros torna-se evidente, daí que todos queiram estar lá, mesmo que o corner business possa aparentemente estar um pouco deslocado. O que importa é que media, opinion makers, investidores, consumidores, circulam e existe um produto a ser mostrado. Nesse sentido cada vez mais empresas na área da moda estão presentes, como Armani, Nike, Diesel e outras. Esta última recriou um espaço doméstico para mostrar a sua colecção têxtil para casa. Numa óptica em que tudo é design, tanto se pode mostrar um novo modelo de carro como um novo conceito de hotel de luxo. Nesse sentido, uma das melhores recepções privadas foi a de um grupo de investidores que deu a conhecer uma nova cadeia de hotéis, Some Litle Secrets Hotels (SLS Hotels), a ser desenvolvida por Starck. A par de muitos eventos como este, que se organizam por toda a cidade, o Saloni continua a ter um palco central que é o pavilhão em Rho onde as principais marcas de design de produto como a Morozzo, Kartel ou o grupo Cassina, apresentam os seus produtos numa óptica comercial e lançam as tendências. Desta vez o carácter espectacular, gigantesco e por vezes gratuito dos dois anos precedentes deu lugar a propostas consistentes que proporcionam uma leitura mais pragmática e menos 'ilusória' do design, associada às realidades do mercado e necessidades dos consumidores. Esta edição foi pautada por um sentimento de regresso ao essencial, em aproximações estilísticas que valorizam o conforto e o rigor mas conservando a riqueza, diversidade e sofisticação que continuam a caracterizar um dos eventos mais significativos do design internacional.
O lado mais sensacionalista ficou desta vez reservado para as zonas periféricas onde as marcas de design jogam essencialmente a imagem. A zona Tortona, uma vasta área constituída por pavilhões da era industrial, é neste caso o centro. Aí, dentro do mesmo espaço podemos ver criadores e pequenas empresas a disputar a atenção com as grandes marcas. Entre o muito que se podia comentar, a grande novidade viria a ser a Meta, uma empresa nova que aparece como o braço contemporâneo da Mallet, um dos gigantes no mundo das antiguidades. A Meta pretende dar aos clientes que procuram peças únicas um design mais exclusivo com um lado artesanal. A sua primeira colecção elaborada em três anos trazia de facto grandes nomes do design contemporâneo com peças que exploravam o manual e o oficinal. O pequeno roupeiro concebido Tord Bonntje seria a jóia da colecção. Todo coberto de ramos entrelaçados de ferro policromado, seria mesmo uma das mais comentadas atracções da feira. Outro centro das atenções na Tortona é o Swarovski Crystal Palace que apresenta todos os anos as suas edições limitadas que resultam de encomendas de criadores mediáticos. Desta vez, apesar das reticências que Studio Jobs pode merecer, o grande globo com milhares de cristais coloridos tinha, e é de concordar, um certo efeito mágico. Rivalizava com um projecto de Marcel Wanders que com a sua particular ironia criou um lustre barroco que funcionava igualmente como chuveiro. Provavelmente um excesso à medida de um excêntrico californiano. E em matéria de excentricidade há ainda a relevar o projecto de Jaime Hayon para a Bisazza. O designer catalão omnipresente em quase toda a feira (dadas as muitas colaborações com várias marcas) concebeu para os italianos uma espécie de “folie”. Este projecto em forma de avião a jacto foi pensado para ser um belvedere para jardim.
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A importância de Jaime Hayon é crescente, foi um dos criadores a ocupar a sala maior da Spazio Rossana Orlandi, uma das lojas de design mais mágicas de Milão. Hayon aproveitou para promover, ao lado das suas criações em porcelana para Lladró, o seu livro, o primeiro com um carácter retrospectivo. Este ano a Rossana Orlandi apadrinhou ainda a Design Academy Eindhoven que mostrava os trabalhos dos seus finalistas com um nível profissional invejável. De resto, Piet Hein Eek ocupava a zona de jardim deste espaço e as suas peças misturavam-se com as plantas. Na inauguração desta exposição dominada pelo holandês fez-se muito a propósito de uma pequena palestra para a apresentar um novo catálogo sobre o design na Holanda. Procurou-se aflorar a questão de uma identidade holandesa no design. Se esta existe, restam dúvidas, mas o que é inequívoco é que os seus criadores conseguiram desenvolver projectos de autor a partir de pequenas estruturas de produção e distribuição e isso constitui uma revolução no mundo do design. Daí que os holandeses sejam todos os anos algumas das faces mais visíveis desta feira.
Este ano o melhor museu da capital do design participou pela primeira vez no evento. A Triennale di Milano apresentou, num espírito vintage, uma retrospectiva de Cassina, uma das melhores empresas italianas, bem como uma edição da Christofle de objectos inéditos de Gio Ponti. Numa vertente contemporânea na Triennale encontrava-se igualmente um projecto de Konstantin Grcic, de um laboratório fictício que encenava o processo de design, da concepção à produção. Por sua vez a associação francesa VIA (Valorisation de l'Innovation dans l'Ameublement) apresentou no local uma selecção de peças de designers franceses, produzidas em França, bem como o projecto «Interface(s)» de Jean-Louis Fréchin, apoiado pelo programa "carte blanche" do VIA, consistindo em módulos/mobiliários que constituem ambientes interactivos.
6.
— 1. Studio Jobs, para a Swarovski Crystal Palace 2. Shay Alkalay, Stack, 2008, para a Establish&Sons 3. Tom Dixon, Mirror Balls on Stand, 2008 4. Kranen&Gille, Fredersen, 2008 5. Autoban, Booklamp, 2008 para a De La Espada 6,7. Jaime Hayon, The Lover, 2008, pra Lladró —
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7.
especial design texto: sam baron & Luísa Ribas
especial design International Contemporary furniture fair
1.
Tendências, negócios e ar fresco de NY
2.
International Contemporary Furniture Fair
Como um catalisador das energias do mundo do design norte-americano a semana do design de Nova Iorque, sob o pretexto da ICFF (International Contemporary Furniture Fair), teve lugar entre 17 e 20 de Maio celebrando um mercado em expansão com um público cada vez mais amplo e receptivo. O ambiente festivo foi pautado por manifestações que vincam a riqueza de discursos singulares nas direcções do design actual. 3.
O Cooper-Hewitt National Design Museum e o MoMA manifestaram-se com significativas afirmações de tendências do design actual, com as respectivas exposições Rococo: The Continuing Curve e Design and the elastic mind, que exploram desde a exuberância patente no percurso do estilo rococo, à "elasticidade mental" nas estratégias de síntese da abundância e profusão de escalas e signos do mundo actual. A exposição Design and the elastic mind, acompanhada por um site repleto de referências e um catálogo profusamente ilustrado concebido por Irma Boom, destaca-se por traçar desenvolvimentos no design em paralelo com mudanças significativas no âmbito tecnológico, científico e social, afirmando o design como estratégia de conversão da mudança em objectos e sistemas significantes. O discurso institucional reforça a dimensão sensorial, o experimentalismo e a inovação como valores essenciais ao design na semana em que Nova Iorque o celebra. Entre inúmeros complementos as estas visões abrangentes, a galeria Moss, ou a revista Surface, apresentam projectos pautados pela reinterpretação, desde o universo das pirâmides de flores da cerâmica holandesa, Pyramids of Makkum, às propostas para sentar e ver televisão com base na nova série LCD-TV da Samsung na galeria de "arte funcional". A presença regular dos editores italianos, como B&B, Cappellini e Moroso, é acompanhada pela sua elite fiel que contrasta com a abrangência de mercado das principais marcas do continente americano, como Herman Miller, Bernardt, Blu Dot e a recente Council de S. Francisco.
O ponto de encontro oficial é a Feira ICFF, no Jacob K. Javits Convention Center, que reúne mais de 600 expositores, entre designers e editores de mobiliário contemporâneo, materiais, iluminação, acessórios, têxteis, entre outros, num total de 38 países. O evento distingue-se pela presença de delegações como Austrian Trade Commission British European Design Group (BEDG), Designed in Brussels (Belgium), Furniture New York, The Furniture Society (U.S.), i Saloni WorldWide (Italy), IDSA New York (Industrial Designers Society of America), Inside Norway, Interiors from Spain, New Design Canada, Royal Danish Consulate General (Dinamarca), and Thai Trade Center (Tailândia) que cumprem o seu papel de 'embaixadas' neste núcleo de design internacional. A vertente académica é representada por uma selecção de 4 escolas de design convidadas, a California College of the Arts (CCA), Universidade de Yale (escola de Arquitectura) e Savannah College of Art and Design (SCAD) e a School of Visual Arts (SVA) que ganhou o prémio de melhor stand atribuído pela feira.
A selecção do júri, composto por um painel que integra Anniina Koivu (Abitare); Catherine Osborne (Azure); Stefano Casciani (Domus); Sam Grawe (Dwell); Julie Lasky (I.D.); Karen D. Singh (Interior Design); Gilda Bojardi (Interni); Chantal Hamaide (Intramuros); Susan S. Szenasy (Metropolis); Arlene Hirst (Metropolitan Home); Benjamin Kempton (Wallpaper*) surpreende no ambiente e orientação comercial geral do contexto da feira. O projecto desenvolvido pelos alunos do mestrado em design de comunicação ,Designer as Author, da SVA, enquadra-se numa perspectiva de abordagem aos desafios do design gráfico face às mudanças actuais dos media visuais e evolução rápida dos contextos comerciais. Promove o empreendedorismo pelo desenvolvimento de conceitos viáveis, produção de protótipos e "marketing" da propriedade intelectual individual, segundo Lita Talarico que partilha a direcção do mestrado com Steven Heller.
4.
5.
Esta proposta de reposicionamento de uma cadeira Ikea segundo motes e estereótipos culturais, como machismo, racismo ou cultura suburbana, entre outros, surge como uma lufada de ar fresco, um comentário em tom irónico que se afirma em contraste com o ambiente algo consensual da feira.
— 1. Horny por Steven Smith 2. Bipolar por Steve Haslip 3. cadeira Ivar original ikea 4. Macho por Nicole Marinake 5. Racist por Jia Chen —
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revista texto: Pedro Piedade marques
revista interview
interview
uma fábrica de celebridades A bíblia da boémia artística nova-iorquina e das boogie nights do Studio 54 teve um começo modesto mas a intervenção de um artista na sombra de Warhol salvou-a da mediocridade. Richard Bernstein não escapou ao esquecimento e à indigência dos residentes do Chelsea Hotel, mas criou um influente modelo visual de revista urbana.
Andy Warhol, Steven Heller, Richard Bernstein. Três nomes que se ligaram na criação de uma das revistas mais influentes para a mitologia da eterna noite de glamour, dessa intensa cocaine night nova-iorquina da segunda metade dos anos 70 e inícios de 80. Desses nomes, apenas o primeiro dirá algo a um leitor generalista. Alguém com conhecimentos de história do design gráfico saberá que Heller é director de arte no The New York Times Book Review e “o” historiador e ensaísta de referência no que toca às artes gráficas na América. De Bernstein, contudo, apenas a memória dos poucos sobreviventes dessas noites loucas de Nova Iorque poderá deixar testemunho. Falecido em 2002, no local onde vivera durante 30 anos – o Chelsea Hotel, onde tantos boémios encontraram refúgio mais ou menos passageiro – foi a personificação da sofisticação e excentricidade que se associava ao círculo de colaboradores de Andy Warhol. Depois da explosão e da escalada ao cume da fama no mundo da arte contemporânea nos anos 60, Andy Warhol tornou-se sobretudo um gestor de projectos alternativos à sua produção artística (filmes com Paul Morrisey e as suas “superstars”, música com os Velvet Underground e Nico). A Interview nasceu nesse contexto, mas terá sofrido da falta de entusiasmo do seu mentor. Num texto de 2004 que recorda esses dias, Steven Heller afirma que Warhol “raramente sujava as mãos com tinta na gráfica [e] controlava a Interview a uma distância segura.” A revista começa aos tropeções em 1969, dedicada em exclusivo ao cinema, e cabe a Heller uma tentativa de limpeza do layout em 1971. Com experiência na imprensa underground , ele não era ainda o reputado art director que seria anos mais tarde. O resultado é fraco, como confessa no mesmo texto: “antes de se tornar no artista mais importante da América, [Warhol] era já, afinal de
contas, um designer gráfico e ilustrador completo, e devia ter sido o primeiro a concluir que a minha [conjugação de fontes para o cabeçalho da revista] era uma das mais idiotas jamais produzidas.” Mudado o rumo editorial em 1972 para o culto das celebridades cool da era (muitas delas entrevistadas quase de improviso por amigos ou colaboradores de Warhol: já não era o que se dizia mas como e com que pose), tratou-se de impor um novo estilo à capa, fazendo-se cair a tipografia retro dos números anteriores e assumindo-se a caligrafia de Warhol. A mestria de Bernstein com o aerógrafo e os pastéis fazem o resto. Monumentalizando os retratados através de retoques mais ou menos subtis, as capas produzidas por si durante o resto da década e no início dos anos 80 marcaram “uma abordagem única ao design de capas de revista”, dixit o próprio Steven Heller. Num volume publicado em meados dos anos 80, reunindo as reproduções destas capas, Paloma Picasso refere uma autêntica metamorfose de “superstars em megastars”. Bernstein era o porteiro do Olimpo nesses anos: os rostos de actores, actrizes, modelos e demais celebridades eram elevados a uma supra-realidade que sintetizava a estética de Hollywood e das revistas de moda com as aportações da propaganda política do século.
Ainda mais importante, porém, no que respeitava a capa da Interview, foi a solução de rodar o seu eixo para a horizontalidade (mantendo-se o interior vertical), incorporando a contracapa numa continuação do motivo da capa através de uma dobra, muitas vezes em efeito de surpresa (uma modelo sorridente na capa, acaba por ser mais do que isso ao desdobrarmos o plano: é uma modelo a sorrir para a câmara de Warhol; Dali olha-nos com intensidade, mas a sua mão direita, na contracapa, revela a justificação para essa intensidade: um retrato de Gala). A capa em que a modelo Naomi Sims aparece fotografada por um Warhol de barrete natalício (Dezembro de 1972) foi votada em 24.º lugar na lista das 40 melhores capas de revistas promovida pela Associação Americana de Editores de Revistas durante a edição de 2005 da Conferência de Revistas Americanas. O brilho das capas de Bernstein é ainda maior pelo facto de, no interior, o brilhantismo tipográfico não abundar. O layout é minimalista, e recorre-se a fontes de máquina de escrever, reforçando o carácter quase improvisado e ao-correr-do-tempo do seu conteúdo. A fotografia é todo-poderosa, e em foto-reportagens das discotecas e seus famosos frequentadores, ou em portfolios das últimas produções da Factory, há apenas espaço para legendas: who’s who and with whom.
Todo este labor passou, contudo, despercebido ao público geral, pois era mais fácil acreditar que era de Warhol (de quem mais poderia ser?) todo o grafismo da sua revista. Warholiano fiel e grato cortesão da Factory, Bernstein nunca se rebelou contra essa circunstância, e Warhol nunca quis desiludir os seus admiradores. Mas nesses anos de arranque, o coração do projecto esteve sempre nas mãos e nos olhos (e no aerógrafo) de Bernstein, funcionando como verdadeiro art director e encomendando portfolios fotográficos que se tornaram famosos. Berry Berenson (autora da foto da capa “natalícia”), jovem fotógrafa de Nova Iorque, terá cruzado o caminho de Bernstein, e de novo o coração fez das suas: assumido bissexual, Bernstein apaixonou-se por ela na mesma altura em que a enviou a Los Angeles para que fotografasse Anthony Perkins, apenas para saber, tempos depois, que Berry seria em breve Mrs. Perkins (muitos anos mais tarde Bernstein receberia a notícia de que a sua amiga e viúva do actor morrera num dos aviões sequestrados a 11 de Setembro de 2001). Bernstein não trabalhava já na Interview quando, no início dos anos 90, esta se transformou numa marca, ao nível da Vanity Fair, e se internacionalizou, tornando-se num negócio de milhões. Milhões não era uma palavra do vocabulário deste “magnata social”, que prezava mais as relações pessoais do que as profissionais e que resumia a sua situação financeira em perene desequilíbrio com a frase: another happy-with‑so-little story.
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trabalho texto: francisco vaz fernandes / desenho: Robert Longo
a queda dos anjos homens de negócios
Robert Longo. Sem título, 1981. Grafite sobre papel, 243.8 x 152.4 cm. Cortezia do artista e da Metro Pictures, Nova Iorque.
Transformações na economia actual desintegram aqueles que exercem o poder nas empresas. No meio do pânico geral alguns heróis tentam cultivar, como sinal de elegância, a retirada antes de começaram a mostrar sinais de impotência.
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Chama-se Dominic Orr, apareceu em Novembro de 2007 num artigo de quatro páginas da revista Fortunes de Stephanie Mehta onde relatava a sua experiência como gestor de topo e a forma como isso lhe arruinava a vida pessoal. Geralmente a Fortunes não costuma trazer este tipo de reportagens que são testemunho da desumanização dentro das grandes empresas. Pelo contrário, é mais conhecida por trazer os rankings das 100 melhores empresas do mundo, ou seja, as mais aliciantes em termos de trabalho e carreira. Dominic Orr cresceu entre Hong-Kong e Macau antes de ter partido para a Califórnia onde aperfeiçoou a sua formação e encontrou a que viria a ser sua futura mulher. Depois, atirou-se de cabeça para aquilo que admite ter sido uma droga que amava mais que tudo e a que chamava “o seu trabalho”. Era o caso típico de um workaholic pago para gerir e emagrecer – dito por outras palavras, despedir - divisões de vários grupos de telecomunicações. Fazia-o com uma “honestidade brutal”, referia o artigo. Atravessou os anos 90 em business class num estilo machão entre o «Wall Street» de Olivier Stone e o «Bad Lieutenant» de Abel Ferrara. Na sua vida, depois de divorciado, apenas restavam os filhos que viviam nos Estados Unidos enquanto ele residia no Japão. Estava num avião quando se deu o nascimento da sua filha e nessa época não se sentia nem orgulhoso nem culpado. Seguia apenas as obrigações do seu trabalho. Com o 11 de Setembro, a explosão da Internet e a primeira reconfiguração da economia que entra numa fase de supercapitalismo caracterizado por Robert B. Reich como sendo um fenómeno de aceleração e de intensificação do trabalho, as horas de trabalho aumentaram. Com a globalização todas as barreiras caíram, explica Reich que foi Secretário de Estado de Bill Clinton. Pessoas como Orr são forçadas a trabalhar mais para poderem conservar os seus clientes e os seus investidores. Orr chegou a um estado de esgotamento
rápido ao gerir um processo de fusão/ aquisição e ao ter que se confrontar com a cólera de accionistas que o acusavam de não defender as suas posições. Devia igualmente responder às coacções de uma nova direcção que o colocava a gerir a transição esperando que conseguisse chegar às metas traçadas. Esta história seria de uma banalidade se não tivesse sido publicada na Fortunes como um sinal premonitório. É uma história já ouvida milhares de vezes e assemelha-se um pouco ao que acontece com o herói do livro «Corporate» de Edmond Tran, um thriller cheio de cenas de sexo, drogas e rock n’roll. O protagonista, Alexandre Nam, luta para levar a cabo um plano de reconversão de uma empresa quando à partida a deslocação e desmantelamento dessa sociedade já estava previsto superiormente desde o seu início. Nestes processos de aceleração de que fala Reich, Alexandre Nam e Doninic Orr confrontam-se com redes de interacção tão complexas que lhes é impossível antecipar os acontecimentos. Esta angústia é perceptível em todos os sectores da sociedade e estendem-se tanto no terreno privado como profissional, impondo sem cessar novos standards de consumo. Gmail, Facebook, Iphone… são apenas parte desse fenómeno de evolução rápida. Com menos meios para antecipar somos obrigados essencialmente a adaptarmo-nos. Daí que nasça esse sentimento de incapacidade que gera hoje o stress e tentativas de suicido cada vez em maior número. Uma incapacidade capaz de dissipar as últimas ilusões narcisistas dos gestores mais aguerridos. Como escrevia Tran no seu romance, “a minha família tornou-se virtual….Eu passava pelo menos 12 horas no trabalho. Sem contar o tempo dispensado nas noitadas, estreias de cinema ou teatro, vernissages, campeonatos de ténis e outros eventos a que me entregava sem moderação e que estavam sempre ligados a questões profissionais.
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Mesmo o sexo tornou-se parte do ofício. De facto deitei-me com todas as mulheres, com excepção da minha”. Para Dominic Orr, preso a princípios rígidos herdados do seu pai, o ponto de quebra vem subitamente quando o seu filho num momento de cólera o acusou de nunca ter olhado para aqueles que lhe queriam bem. Dominic acordou então de um pesadelo como Matt Damon em «The Bourne Identity» que, saído de um pequeno período de amnésia, percebe pouco a pouco que a sua profissão consistia em matar e que estava fora de questão continuar nesse sentido. Orr, o porta-estandarte do espírito empresarial feroz, aquele que explicou aos seus colegas que nos negócios os fracos são mortos e os feridos devorados, passa uma esponja sobre esse passado e confessa na revista Fortunes o seu fracasso. Explica que sem ser um bom pai nunca poderá ser um bom gestor e que falta ainda um longo caminho de desenvolvimento pessoal antes de emergir e perdoar-se. Um arrependimento é muitas vezes sinónimo de retirada, como Al Gore que recusou apresentar-se de novo às eleições presidenciais dos Estados-Unidos porque está convencido de estar a fazer qualquer coisa de mais importante. Como o próprio diz, a sua missão consiste em “convencer as pessoas a falar”. Também não é Edmond Tran, que abandonou o seu emprego no grupo Lagardère —um dos grupos de media mais importantes em França— para se retirar para o Tahiti que vai dizer o contrário. Nem com certeza Dominique Orr que decidiu viver no Japão um ano na companhia do filho, período que qualifica como o melhor da sua vida. Sinal de elegância de uma geração de homens que conseguiram purificar as suas almas. Resta aos mais jovens mostrar que sabem fazer a mesma coisa, mas melhor e de forma mais rápida.
ambiente texto: Carla isidoro / Fotos: joão curíti
ambiente
festivais há muitos boom festival
De dois em dois anos o Festival Boom constrói uma cidade de raiz segundo os princípios da sustentabilidade e no final devolve-a à natureza. Se há um festival com critérios ecológicos neste país, ele é o Boom. Este ano deu mais um passo com o projecto «O seu óleo é Música» para um evento e um concelho movidos a óleo alimentar.
A época dos festivais de música já começou e com ela vem a preocupação, genuína ou não, de algumas organizações passarem a imagem de fazerem festivais ‘verdes’, ecológicos, respeitadores da natureza. Todos os anos, no final destes mesmos festivais, são deitadas fora e desperdiçadas várias toneladas de lixo de diversas proveniências, materiais que poderiam ser reaproveitados, reutilizados, usados no ano seguinte ou introduzidos de novo no mercado, mas que acabam por ter um fim fácil e extraordinariamente caro: deitar fora. O comportamento do desperdício de recursos contribui para a devastação do planeta, agravamento do efeito de estufa, poluição das águas oceânicas e manutenção de economias oportunistas que estão a rebentar com as nossas carteiras e a nossa sanidade. Se pegarmos num exemplo simples, o do destino de óleo ou azeite alimentar usado, percebermos até que ponto a ignorância e a falta de interesse cooperam com os modelos económicos vigentes. Onde é que deitamos o azeite ou o óleo de cozinha usados? Pelo cano abaixo, ainda que cada litro de óleo contamine 1 milhão de litros de água. A solução certa —que poucos conhecem porque a educação cívica não é assumida pelos canais de informação como prioritária— passa por um procedimento simples: colocar os restos de azeite e óleo dentro de um simples saco de plástico e deitá-lo junto dos lixos orgânicos de casa. Deitando-o no lixo normal poupam-se milhões de euros aos contribuintes no tratamento das águas.
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A campanha «O seu óleo é música» promovida pelo Festival Boom em parceria com a Câmara Municipal de Idanha‑a‑Nova vem adequadamente apresentar soluções viáveis e sustentáveis para a reutilização dos óleos alimentares. Na altura do fecho desta edição o gasóleo estava a 1,38 euros/litro, depois de ter aumentado 21 vezes desde o início do ano, e decorria a Conferência de Bona com praticamente 200 países a discutirem a urgência de travar a perda de biodiversidade do mundo no prazo de dois anos, até 2010. Dois anos é o tempo que, na opinião do organizador do Boom Diogo Ruivo a natureza e o homem necessitam para se restabelecer e reequilibrar de um evento tão prosaico como um festival de música, que naturalmente provoca impacto no meio onde se insere. “Minimização do impacto é coisa dos anos 80 e 90. Perante a perca de sustentabilidade da nossa vida na Terra temos que ver isto sob outro ponto de vista. Queremos maximizar o impacto positivo do festival na região. O Boom acontece de 2 em 2 anos dado o seu cariz ecológico, é preciso dar tempo à terra para ela recuperar e também nós precisamos internamente de tempo para pensar e ter calma. Já experimentámos fazer eventos a um nível quase mensal e aprendemos que não é a forma certa, rapidamente se cai na vulgaridade, tudo se torna de plástico. Ter dois anos de intervalo é fulcral para mantermos todo o aspecto orgânico e natural do evento”. Enquanto isso, em Bona, os senhores pensam em soluções aplicáveis a dois anos para problemas à escala mundial.
Voltando ao óleo alimentar como exemplo de recurso primário e paralelamente universal, na iniciativa do Boom provou-se que com 1 litro de óleo usado podemos percorrer 10 km num carro adaptado ao uso deste combustível, ajudando a reduzir os níveis de carbono na atmosfera. A Câmara de Idanha-a-Nova aderiu a esta solução e fez um acordo com a organização do festival para adaptar até 2010 toda a sua frota automóvel ao uso de óleo alimentar. Os elementos do festival estão a formar técnicos e mecânicos do concelho para a adaptação dos motores de carros, camionetas, tractores e outros veículos. E a população local foi convocada a participar nesta mudança guardando óleo e azeite de restaurantes, lares e outros espaços onde o consumo deste alimento é feito em grande volume. Diogo Ruivo explica os propósitos ambientalistas do evento. “A ideia de transformarmos a energia do festival numa energia sustentável já existe há alguns anos. Desde 2002 que usamos painéis solares para alimentar as cozinhas, os escritórios de montagem e os acampamentos onde os empregados ficavam durante os 3 meses de preparação do festival. Fizemos o investimento e comprámos painéis solares que hoje em dia alimentam os nossos escritórios de Lisboa, já não estamos ligados à EDP sequer. Há áreas de grandes consumos como as pistas de dança, os sistemas de som e os restaurantes que não conseguimos substituir por fotovoltaicos porque estas tecnologias têm preços proibitivos, temos que recorrer outra vez aos geradores mas numa versão sustentável. Mas ao alterarmos a iluminação de todos os caminhos do festival, e são cerca de 3 km de caminhos, poupámos brutalmente. Este ano vamos fazer a última alteração possível e vamos passar tudo para leds, então aí podemos alimentá-las só com umas bateriazinhas de carro. O óleo vegetal da região destina-se essencialmente ao festival. Se tudo correr bem vamos recolher óleo suficiente para fornecer o festival, mas penso que só daqui a dois anos estaremos em pleno, depois de uma maior sensibilização da população para isso.”
Em Março o município festejou publicamente a adaptação do primeiro veículo, a camioneta que vai recolher óleo pela região. Para o efeito o Boom e Idanha convidaram o especialista Paulo Lenhardt, responsável por projectos de eco-agricultura ou agro-ecologia de grande peso regional no Brasil. Lenhardt fez a demonstração de como se pode, com algum investimento financeiro e pouco trabalho, adaptar uma viatura de gasóleo para óleo e como fazer a recolha e tratamento de óleos usados para posterior aproveitamento. Diogo Ruivo adianta que em Lisboa já vários cidadãos optaram por esta solução verde, que afinal é pouco inovadora se atendermos a que Rudolf Diesel inventou o motor, apresentado em 1900 em Paris, para trabalhar a óleo de amendoim. “Há cerca de 200 ou 300 carros puxados a óleo vegetal usado, são bastantes. A única hipótese que o ser humano tem para ser sustentável é começar a pensar por si próprio: ‘como é que posso ser sustentável? Que ciclos posso eu fechar?’ Devido à trajectória político-social portuguesa estamos naquele patamar em que achamos que os outros é que devem resolver, se pagamos impostos as coisas têm que aparecer feitas e não vale a pena aprender a fazer uma coisa que devem ser os outros a resolver. A culpa é sempre do outro. Agora estamos na fase em que os engenheiros do ambiente é que têm que resolver o caos. Nós consumimos, deitamos fora e depois há uns gajos que têm que tratar do assunto. Curiosamente, a engenharia ambiental hoje em dia não faz grande sentido porque vem de uma perspectiva industrial. Ela pensa em como é que pode aproveitar os detritos de uma indústria para alimentar outra indústria. O que é que acontece às pilhas que pomos a reciclar? Alguém sabe? Eu há pouco mais de um mês dei-me ao trabalho de procurar e descobri que são levadas daqui para a Alemanha, lá tiram-lhes todo o ouro, são acondicionadas dentro de tanques de cimento e metidas dentro de uma montanha. E nós pagamos para isso. Não nos podemos desresponsabilizar. Continuamos a fabricar seres humanos produtores-consumidores e isso tem que acabar rapidamente, vai levar-nos ao extermínio.”
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Este Verão o Boom acontece de novo em Idanha-a-Nova, perto de Castelo Branco, na herdade cuja imagem vemos na página ao lado. É um dos festivais mais singulares no mundo, a par de outros com uma componente de partilha social e consciencialização ecológica criteriosa como o Burning Man (nos Estados Unidos), o Rainbow Serpent (na Austrália) ou o The Big Green Gathering (na Inglaterra). Não é um festival português, mas sim um evento internacional que acontece em Portugal cuja afluência é na quase totalidade de estrangeiros. Não aceita patrocínios comerciais, não faz anúncios publicitários e campanhas promocionais, não forra a área do festival com um logótipo sequer, vende comida biológica produzida na região, recicla as águas usadas, faz compostagem dos detritos humanos através de casas-de-banho secas, pratica políticas ambientais bem definidas no âmbito da permacultura, biotecnologia e sustentabilidade. No ano passado comemorou 10 anos de existência e está em total sintonia com o município onde acontece. Esqueça o gasóleo, use óleo. — www.boomfestival.org www.boomfestival.org/ boombook www.morrodacutia.org —
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Valéria Galizzi Santacroce. Fotógrafa & Webdesigner. 33 anos. Freestyle Lover Lisboa.
Três qualidades que te definam? Criatividade, perseverança e lealdade. Prato favorito (italiano) que gostes de cozinhar para os amigos? Lasagna, risotto alla milanese e tiramisú. O que gostas de fazer em Lisboa? O meu trabalho, criar novos conceitos para graphic/webdesign, para fotografia, trazendo sempre um pouco do passado da cultura italiana e da minha família de artistas. No lazer, mas quase de forma profissional, gosto de sair à noite, ouvir boa música e dançar, dançar até cair! Quem gostarias de fotografar? Gostava de fotografar para a L’Uomo Vogue e captar as diferentes facetas do universo masculino.
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Sininho
(Francisca Rocha Gonçalves).
Dj & Veterinária. 29 anos. Freestyle Lover. Porto.
Três qualidades que te definam? Ao que parece sou boa nas lides caseiras, a jogar tetris e no karaoke. O que de melhor pode oferecer o Porto? A minha casinha nas Taipas com vista para os telhados. Define o teu melhor público? O que aparece por acaso. Projectos futuros? Representar Portugal no Festival da Eurovisão da Canção em 2015!!
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Ei Ei. Designer de Moda. 27 anos. Freestyle Lover. Lisboa.
Três qualidades que te definam? Aqueles que me conhecem poderiam responder melhor. Actividades de lazer que gostasses de desenvolver? Skydiving. O que gostas mais em Lisboa? O rio, a proximidade da praia, Pastéis de Belém e a sedução da cidade em geral.
O modelo Freestyle da Reebok apareceu no mercado em 1982 e foi o primeiro sapato de desporto desenhado especificamente para senhora. Esteve de imediato no top, tanto na rua como nos ginásios, onde ficou associado à prática de Aeróbica. Para comemorar os seus 25 anos, a Reebok relançou este modelo que é para as mulheres um verdadeiro ícone do calçado desportivo dos anos 80.
Figuras que te inspiram? Aung San, entre outros.
fotografia Frederico Martins styling Conforto Moderno & Martin Kullik assistente Cátia Almeida maquilhagem Joana Bellucci Agradecimentos: Casa do Livro e Plano B.
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286km to
warsaw "Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem nada façam." Edmund Burke — fotografia —
Alexander Koch www.alexanderkoch.com — styling —
Martin Kullik www.shoes4142.blogspot.com — modelo —
filipe mota polo Fred Perry (Outono/Inverno 08/09), casaco Nike túnica vintage, calça Lidija Kolovrat (Outono/Inverno 08/09) sapatos Puma by Mihara Yasuhiro, relógio de pulso Lara Torres
Agência Blu
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— Assistente de Produção — Cátia Almeida — Cabelo — Ginger para Facto Hair Bairro Alto www.factohair.com — Make-up — Carolina Archer para AR Atelier — Agradecimentos — BARBACÂ – Calçada São Francisco 1A, Lisboa
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pólo Fred Perry (Outono/Inverno 08/09), casaco Hugo Boss, calça Lidija Kolovrat (Outono/Inverno 08/09), sapatilhas Nike, chapéu Retroparadise, óculos de sol Prada
t-shirt Ofilhobastardo, casaco Lidija Kolovrat, calção Adidas by Stella McCartney, sapatilhas Adidas na Sneakers Delight, chapéu Retroparadise
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pólo & sweatshirt & calção Hugo Boss, sapatilhas Puma by Mihara Yasuhiro, anel Cartier, bata Vintage
camisa Lidija Kolovrat, blazer e calça vintage, polainas Retroparadise, sapatilhas Adidas na Sneakers Delight
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t-shirt Adidas na Sneakers Delight, casaco Nike (Outono/Inverno 08/09), relógio de bolso Lara Torres, saia Hugo Boss (Outono/Inverno 08/09)
t-shirt (por baixo) Hugo Boss, t-shirt e cintos Lidija Kolovrat, calça vintage
parq here
1.
2.
4. 3. — 1. Mindspace 2. Spa Lúcia Piloto 3. Acqua Lisboa 4. H2Omem —
relax... go to a spa Texto: Samuel Coelho
Andámos pela cidade a espreitar alguns dos Spa’s que deixam água na boca. Viver entre filas de trânsito, refeições à pressa e horas frente a um computador exige que nos tratemos com cuidado e tenhamos atenção aos sinais de alerta do corpo. A cidade é exigente mas também nos oferece pequenos oásis onde somos tratados com prazer. Deixamos aqui 4 Spa’s que elegemos como sugestões Parq Here. O Mindspace, na zona do Príncipe Real, apresenta uma experiência inovadora: a terapia de flutuação. É o primeiro centro deste tipo em Lisboa, mas já existem vários espalhados pela Europa. A terapia consiste em flutuar durante 1 hora em cápsulas com água enriquecida com sais minerais, como o sulfato de magnésio. O cliente prepara-se com fato de banho e desfruta desta experiência, uma terapia associada à prevenção e combate de problemas como a dor crónica, depressão, stress, dores musculares, problemas de sono, dores de gravidez.
Nas avenidas novas entramos no recente Spa Lúcia Piloto do Hotel Vip Grand Lisboa, um espaço de grande amplitude e cuidado estético. Além dos serviços de cabeleireiro, manicure e pedicure que conhecemos dos cabeleireiros Lúcia Piloto, aqui encontramos remédios para a satisfação física e mental a todos os níveis, através de massagens, tratamentos de corpo ou rituais. Para as mulheres prestes a serem mães, este Spa proporciona massagens pré e pós-natal. Se quer descobrir o Spa com a sua parceira(o), existe uma suite pensada para ambos receberem o melhor dos banhos ou a mais relaxante massagem em simultâneo. O H2Omem, nas Picoas, é dedicado exclusivamente ao público masculino. Neste Spa pode deixar a gravata de fora e esquecer-se do mundo por uns instantes. Os tratamentos estão regulados para uma maior satisfação masculina, como as massagens fortes, revigorantes e aplicadas com maior pressão. Muitos dos tratamentos são dedicados a esculpir e remodelar o corpo, como os envolvimentos de vinoterapia ou os de luxo com ouro. Aqui ainda pode cortar o cabelo, fazer a barba ou depilação (cera ou definitiva) e tratar do rosto.
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No Parque das Nações, a fusão de rituais de todo o mundo com a modernidade é o lema do Acqua Lisboa. Massagens oriundas do Havai, Índia, Oriente, Equador ou da Pérsia são alguns dos destinos para onde se pode deixar levar através dos sentidos. Outros rituais exóticos disponíveis são massagens que o envolvem em vinho, chocolate ou seda para que possa beneficiar de cada um destes diferentes ingredientes. Este Spa oferece também tratamentos de medicina alternativa para tratar disfunções e desequilíbrios do corpo ou da mente e a possibilidade de realizar pequenas intervenções localizadas, como o foto-rejuvenescimento da pele, eliminação de acne, estrias e outros tratamentos dermatológicos. — www.luciapiloto.pt/spa www.h2omem.com www.acqualisboa.pt www.mindspace.pt —
parq here
the lab
manga rosa
Texto: carla isidoro
Texto: carla isidoro
Faltava esta loja em Lisboa. Se a cidade tem actitude, transborda de acções e posturas urbanas nos mais variados circuitos profissionais e áreas de lazer, vestir com estilo urbano e classe faz parte dessa mesma actitude. The Lab representa marcas tão conhecidas como a Roca Wear, a Baby Phat, a Akademiks ou a Apple Bottoms, linhas que nos Estados Unidos têm um papel fundamental na área do urban wear e urban chic, muitas delas ligadas ao circuito da música e do cinema.
Manga Rosa… o nome é encantador só por si. Situado em Almada Velha, este café-degustação prima pelo equilíbrio entre decoração refinada, ambiente seleccionado, boa música e um serviço de qualidade.
WHITE LOUNGE STUDIO Texto:nuno sousa
A Apple Bottoms por exemplo, explorada pelo cantor Nelly, veste Ophrah Winfrey ou Alicia Keys. Outra marca a destacar, esta para homem, é a Phat Farm de Russel Williams, responsável pela mítica editora Def Jam, que alia o estilo mais descontraído do Hip-hop aos delicados pólos e pull-overs universitários. Além destas, há outras etiquetas a descobrir neste novo espaço de 3 pisos, decorado pelo graffiter espanhol Suso, no coração do Chiado.
O projecto arrancou há 2 anos pelas mãos do empresário Nelson Rocha e do actor Filipe Salgueiro. Queriam um lugar envolto em bom-gosto e onde os amigos pudessem ir com prazer. Descartada a ideia de um bar de praia, avançaram com a remodelação de um armazém fechado há 30 anos, perfeitamente degradado. Hoje esse espaço é uma epifania, (desenhado e decorado por Filipe Salgueiro com total preferência por marcas nacionais), serve Japonesas (caipirinhas de saké), croissants prensados à moda do Porto e faz toda a diferença na linha de cafés contemporâneos da Grande Lisboa. Cada vez há mais motivos a puxarem-nos para Almada.
— Rua Nova do Almada, 83 - 87 telf. 214 009 894 — www.thelab-store.com —
— Rua Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, 14 - Almada Velha De seg. a Dom das 19h ás 02h telf. 21 180 37 93 — www.algoespecial-almadavelha.blogspot.com —
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É um espaço contemporâneo que alia sofisticação e conforto à saúde e bem-estar. Rastreando as muitas opções nesta área, percebe-se logo o que ele tem de único: uma aposta na decoração natural, uma selecção de serviços realmente personalizados e actividades alternativas. São pequenos detalhes que tornam o espaço acolhedor. Abre portas com a promessa de mais com menos. Maior comodidade e qualidade em serviços de acesso restrito e exclusivo, vocacionados para o treino em regime privado e semi-privado. As aulas são orientadas por instrutores especializados mediante as modalidades. As ofertas vêm até nós no seu estado mais puro e simples: pilates, yoga, tai chi chuan, chi kung e danças (de salão, sevilhanas e tango argentino). Peça informações sobre os pacotes para escolher a opção que mais se enquadra no seu ritmo.
— António Augusto de Aguiar, nº 25, 1º Esq. Lisboa telf:213 304 180 — www.whitelounge.net —
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RECEBE UMA REVISTA PARQ, EM CADA ENCOMENDA.
PORTO NOVO Texto: john almeida
Nas ruas da baixa portuense, sente-se uma cidade diferente. A mudança do Porto está em todo o lado: nas ruas, nas lojas, e sobretudo nas pessoas. Este novo Porto é uma cidade mais cosmopolita, interessante e Europeia, cada vez mais um local de eleição para gente nova, criativa e interessante. O portuense John Almeida sugere quatro novos lugares que considera fundamentais. Na nova loja da Adidas, a poucos passos do teatro Rivoli, encontramos um espaço bonito e com pessoas simpáticas, onde não só há o clássico calçado, mas também vestuário e acessórios, numa atmosfera informal e acolhedora.
Inserida discretamente na construção tradicional junto à estação de S.Bento, encontramos a discoteca Gare Clube. Este novo local da noite Portuense quer ser uma escolha mas também uma alternativa, com uma oferta musical que vai do electro ao reggae e duas salas distintas onde se destaca uma zona de fumadores e wine-bar numa sala que foi em tempos uma tasca local, e onde se manteve a decoração anterior. Caminhando na baixa, chama-nos a atenção a livraria Gato Vadio, que combina uma livraria, café e palco de performance, tudo num espaço pequeno e aconchegante.
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No outro lado da cidade, junto ao mar, numa zona privilegiada, está a loja Fashion Clinic (nas fotos). Rodeada por habitações desenhadas por Siza Vieira, esta loja é realmente cativante, com uma decoração minimal e sofisticada, marcas como a Prada em destaque, e também um área com discos e um sofá onde se pode tomar um café enquanto nos entregamos aos prazeres do consumo.
www.nomenuhomeservice.pt
Basta marcar: 213 813 939 / 933 813 939 PARQUE DAS NAÇÕES 213 813 939 / 933 813 939 OEIRAS 214 412 807 / 934 412 807 CASCAIS 214 867 249 / 914 860 940 ALMADA 212 580 163 / 917 164 591 COSTA DA CAPARICA 212 580 163 / 917 164 591 COIMBRA 239 714 307 / 961 014 220 LINDA-A-VELHA 213 813 939 / 933 813 939 LISBOA
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As boas línguas de Miss Jones & Ray Monde Brasserie FLO A ostra, da grossura de um seixo mediano, é de uma aparência mais rugosa, de uma cor menos lisa, brilhantemente esbranquiçada. É um mundo pertinazmente encerrado. Contudo pode-se abri-la (…) De memória, Miss Jones e Ray Monde citaram Francis Ponge… Desta vez não há dúvida sobre o décor, Miss Jones e Ray Monde encontraram-se no grande hall do Hotel Tivoli Lisboa, em plena Avenida da Liberdade. Refastelaram-se nos moles sofás do lobby enquanto esperavam a mesa na nova Brasserie Flo! Essa cervejaria parisiense do final do século XIX abriu agora as portas em Lisboa. Sentados numa mesa com vista para a Avenida, contudo separada do resto da sala por um aparador, ficámos assim numa zona protegida mas integrada na grande sala de paredes povoadas com cartazes de filmes e retratos de actores. A ligação ao mundo do espectáculo é assumida.
Muito gentilmente foi-nos sugerido uma abertura com champagne que foi difícil de recusar. Este jantar começou então com um brinde, o que é já um costume. Quisemos provar os mariscos e pedimos um ‘assiette de l’écailler’ (cujo nome vem da pessoa formada na arte de abrir os bivalves) com mexilhões e amêijoas crus e búzios e camarões cozidos e lagostins (amável substituição das ostras que não nos apeteciam essa noite) também cozidos. Sempre com o clássico vinagre com chalotas, a manteiga de Charente e vários pães (uma broa de milho muito boa!). E um Pouilly fumé, Bonnard 2002. Tudo muito fresco e iodado. A propósito, conjecturamos entre nós que os picos de extracção dos búzios podiam ser ligeiramente mais compridos... Atentos e afáveis, os ‘garçons’ presentearam-nos com os tradicionais lavabos de quarto de limão imerso, pondo assim cobro ao nosso dissecante trabalho dedal. Prólogo marítimo findado, folhado de queijo de cabra com tomilho servido. E Miss Jones impressionada ficou! O que não é frequente.
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Depois deste interlúdio, voltámos ao oceano com um linguado grelhado com molho béarnaise e espargos frescos para Miss Jones e, para Ray Monde, um chucrute do mar, uma especialidade da casa, onde a couve é cozinhada em vinho riesling e é aureolada com pedaços de robalo, salmão selvagem e camarões. E claro, para acompanhar impôs-se um riesling Trimbach 2005. A satisfação perdurava e foi compartilhada com o nosso atento e sorridente ‘garçon'. Após uma pausa esfumaçada, uma sobremesa ligeira de sorvete de lima e de ginja garrafal com uma telha de amêndoa acabada de sair do forno, estaladiça e brilhante, e um café servido com suspiros, vieram concluir suavemente este belo repasto. Alegres e leves, descemos a Avenida com a impressão que a tradição francesa não tinha ainda os dias contados! — Brasserie FLO Hotel Tivoli Lisboa Av. da Liberdade, 185 - Lisboa telf. 21 3198977 Todos os dias das 7h à meia-noite —
English version
where were you?
Take a Look
instalação de Yonamine para a Parq, com assistência de Délio Jasse Mundo Mix - Maio
jorge sampaio p.12
S***R is a brand which has established itself firmly among fashion´s most exclusive names. Behind the success story is a Portuguese guy with a family background in footwear, who wanted to take his company as far as he could, right to the heart of the fashion industry in London.
OFFF lisbon 2008 Lx factory. 08-10 de Maio fotos ©Roger/OFFF
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Is the success of S**R due to the fact that you have opened in London? Yes, without a doubt, opening a shop in London really advanced the brand, because apart from selling the product, the shop is a kind of window for what we do. It isn´t only our clients who get to know our product, but also the press, designers, photographers, international buyers, musicians, artists. Even without the initial PR, our brand has reached the four corners of the world from having been in London for ten years. I get the sense that your products are not connected to the idea of something Portuguese. Do you think that Portugal isn´t an easy selling point. Portugal isn´t seen as a creator of fashion so doesn´t really influence the buyers per se. S***R is a London brand, designed by London designers, qualified in London but produced in Portugal which is different. It could be produced in China, it would be “almost” the same. Design comes first, Marketing after. Being able to deliver small quantities in 4-6 weeks, plus quality, are both very important for us. That´s why we produce our shoes in Portugal. It makes a difference. In Portugal, it´s still possible to find good quality production, which – for us – offers a certain guarantee of success. However, for something within the 100-150 euro bracket and directed at the 15 – 30 age group, design and irreverence are more important than whether it´s Portuguese or not. If you had continued in Portugal with your business, do you think that you might not have got quite so far? I don´t think it would be the same thing. It´s important for us to be in London, we live here, we know out clients and what they are like, also the shop owners who buy S***R here in the UK. We have to belong. How do you think S***R is going to develop? Are you collaborating with more and more designers? We continue collaborating with brands for clothes and shoes that we rate, like Fred Perry and Hummel. Also, Fringe brands like DIE (Denim is Everything) and a grafitti artist called “Best One”. In Spring/ Summer 2008 we collaborated with a designer who is attracting a certain amount of attention right now called “Cassette Player” who used to use S***R when he was a teenager in 1997. We don´t always collaborate on new projects every season. Opportunities come up, some are good, others aren´t and get rejected. Collaborations are a way to try out new ideas and styles. They let us make in-roads with brands and shops which wouldn´t normally buy S***R Mainline, either because they only buy special or limited editions or they don´t buy shoe collections with a wide distribution as is the case with S***R. What was your arrival in London like? What was it like setting up a business from nothing? It wasn´t such an adventure as we kind of knew what to expect. We had ideas, new ideas, irreverent ideas and also dedication. The plan was simple; own shop to introduce the brand, set up a distribution network with important markets (first, Italy, then Germany, Japan, Scandinavia). S***R began as a side product which rapidly took off From a personal point of view, what did you most enjoy when you arrived in London? Freedom of movement and concerts. After so many years living in London what is your day to day life like with your family? I take my two daughters to school, I work 12 hours per day, keep up to date by visiting at least one restaurant which
I don´t know, hearing a band which I don´t know, a play, an exhibition or a film at least once every two weeks. If you´ve lived in London for 12 years, you also need time at home, and a Saturday or Sunday without going outside (depending on the weather) is essential for me. Could you give me you London Top Ten? 1 Sketch (bar/ restaurant – absolutely unique) 2 Liberty (department store) 3 Selfridges (department store) 4 Tate Modern 5 Bankside 6 National History Museum 7 Stamford Bridge 8 Beyond The Valley!) 9 The King´s Arms 10 The Royal Albert Hall What are your relations like with Portugal nowadays? I miss Portugal a lot, and of course my family who see me very little. I miss Saturday afternoons there, the villages, The Minho, the people, who are what really matter. S***R isn´t very well represented in Portugal. Is our market not very important for you? I was in Lisbon recently, I was in the Bairro Alto, the Chiado. I don´t really think that S***R can do much in Portugal. Plus there´s the crisis which hardly helps a brand like us. Unless we had a lot of PR behind us, it wouldn´t really be worth it. Maybe if we sold through another shop rather than thinking of setting up our own shop. There is much talk of a crisis in England. Is it time to leave? No, the crisis comes and goes, England always manages to get back on top. Our market is global and England is just a part (an important part) of our business.
frank gossner p.30
From Guiné Conakry, Frank Gossner discovered a world of rhythms stamped on vinyl. His travels which are chronicled on the blog Voodoo Funk are about to be made into a film. In the complicated world of vinyl collecting, discovering a new shop or a LP deposit unexplored by other collectors can generate endorphin rushes like no other. But what if it wasn´t a shop or a deposit, but an actual continent that was discovered, hitherto unexplored, and full of musical treasures? Frank Gossner knows the answer to this question. On his blog Voodoo Funk, he has documented over the last two years an incredible journey of discovery around the western side of Africa; Sierra Leone, Ghana, Mali and the Ivory Coast. This trip has now reached it´s end, and Frank has his bags (or containers, to be more precise) ready to head off to New York, and over the last few months, filmmaker Leigh Iacobucci has been documenting Frank´s trips in search of lost pearls in vinyl. It is planned as a documentary, “though editting should take a few months yet”, explains Frank from a cyber-café in Guiné Conakry, where he has been living over the last few years with his wife, a German embassy employee. Frank Gossner began his career as a DJ in the 90s, when the sixties mirage was swinging with cocktails and go-go dancers. He got involved in promoting the compilation “Vampyros Lesbos; Sexadelic Dance Party” and created a party concept that he took to New York and Philadelphia. In the United States, he fell in love with funk and started searching for LPs of James Brown inspired music. In 2000, he returned to Berlin, where he set up the Soul Explosion party, but continued flying to the United States in search of funk LP. It was on one of these trips that he came across a shop in Philadelphia, Smith´s Record Store, relatively unexplored by other collectors as it was in quite a dangerous part of the city, and the owner was a
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bit scarey; “he wasn´t too keen on white people but, fortunately for me, his prejudices didn´t extend to Europeans, and I was the first funk LP collector to gain access to an unbelievable stock of albums in an upstairs room over the store. Later, when Frank explained to Stan that he was going to spend a couple of years in Africa, “he took me to his office which had an entire wall lined with shelves, crammed full of LPs, and showed me some releases from the Nigerian label Tabansi. I bought a couple of dozen of LPs simply because the covers fascinated me. Then, when I arrived home and had a closer look, I discovered that only one of the albums could be described as funk, but it was really quite something; “Na Teef know the road of theef” by Pax Nicholas and the Nettey Family. It was one of those sudden revelations; my interest in African records was ignited, and if previously I had wondered how exactly I was going to spend my time in Africa, I knew now that I was going to spend my time travelling far and wide looking for more albums like this.” The travelling, the incredible stories, photos and music which can be found on Frank´s blog attracted the attention of various producers who suggested the idea of a documentary about his own particular way of embarking on anthropology and archaeology. “I decided to work with Leigh Iacobucci as he had lived in Accra for a few years and was used to African habits.” These habits included, for example, the difficulty of taking photos as local belief linked the act of photographing to witchcraft. “It may be superstition, and we can perhaps laugh at it, but everyone here believes this, even those who are highly educated.” With labels like Soundway and Vampi Soul paying increasing attention to African music from Nigéria, Ghana and Benin, Frank Gossner´s work is very much of the here and now. He also has plans for the Big Apple, “New York is my second home. I have more friends there than anywhere else in the world. I´ve been given the chance to have a weekly radio show on WFMU (www.wfmu.org/) starting in October, which will be great for me, even if only to play some of the albums I´ve discovered which don´t really suit being played in a club. I also have plans to hold a regular Afrobeat night. My first night is scheduled for 12 July at APT. If you´re nearby around this time. Say hi from us.
lisa f. jackson p.40
“The Greatest Silence: Rape in The Congo”, by Lisa F. Jackson, is a documentary that tells us of a country where women have suffered systematic rape for more than 10 years. It’s a hard film to watch and it gives new meaning to the phrase ‘truth hurts’. In the end, we feel that the Congolese women’s greatest silence is also their greatest courage. Lisa Jackson won the Special Jury Prize at this year’s Sundance Festival, for “The Greatest Silence”. Already shooting her next doc on Bogota, Colombia, we talked about her film and her experience. You’re already a veteran, when it comes to exploring heavy material and addressing touchy subjects in your films. In fact, you went to the Democratic Republic of Congo (DRC) as part of your research for a much wider project. How did you learn about what was going on there? I’d read some accounts, mostly in humanitarian journals, and there was a survey from 2002 that touched on it but my main source was a close friend who was working there. But it wasn’t until I got there that I realised the scope of it, because it’s such a forgotten war, it’s underreported and the rape of the women and the girls is practically invisible, so it wasn’t until I got there and started hearing about people who were working with rape survivors how… how
English version horrifying it actually was. Especially the Panzi hospital. Panzi just blew my mind. Was going to Panzi the moment where you felt “this is my next picture”? You never know that until you’ve looked at all the footage and it wasn’t until weeks into it that I thought I really had adequate coverage or was even touching the story. I think it was about a month into it that I met [Major] Honorine and meeting her, and also getting to know Bernard [the interpreter]… The film has to hang on characters, it can’t just hang on the horror, repeated over and over again, so it was finding the characters that let me feel some confidence that there was a film. Considering all the conflicts going on in the Congo’s neighbouring countries, like Sudan, Uganda, the Rwandan genocide, and even inside the Congolese borders, with this weird democracy reborn and turned instantly into a civil war… Adding the UN peacekeepers presence to all that, how long did it take you to get all the permits and clearances? I just went. I cashed in frequent flyer miles and flew to Kinshasa, on very little notice, and just let my friend know that I was coming and she put me up at her apartment. And it took me about seven or eight days to bully my way through the UN system and get the credentials that I needed. In terms of access, there was a very enlightened woman, who was the Public Information Officer for the peacekeepers in the East, and she was the one who suggested that I go on patrol with the Pakistani army. It’s not like there are any red zones and green zones, you know, you can pretty much go wherever you want. Some situations, you’re kind of taking your own risks: the first time I went to that little village, I went with the peacekeepers, but the second and third times, I went in a car that I hired, you know, no logos on the side and no guides with automatic weapons watching the road. There’s a moment in the film where we hear the sentence “the deadliest conflict since WWII”. Is this another example of Chomsky’s propaganda model? Is the public just misinformed? Because this is so much bigger than Darfur, for example, and this truth has also been silenced, in a way. That’s completely baffling to me… I really don’t understand that. I mean, over the two years that I’ve been working on the film, another 1.4 million people have died, so that just puts the number up at 5.4 million, so… I don’t know why we have this, at least in the West, this kind of obfuscation around what actually is going on in Africa: people go ‘oh, it’s this internal warfare and these crazy African tribes ripping each other’s eyes out’ but I don’t think it’s too reductionist to say that it’s a resource war, pure and simple. And when you see it in those terms, you see the First World’s cumplicity in fuelling the conflict, because we look at our cellphone and there’s a direct connection between the coltan in its components and the death of millions of people and I don’t think we want to look at that. Speaking of looking at things, documentaries seem to have become viable for the box-office. In fact, even Hollywood’s bankable filmmakers like De Palma and Haggis have embraced the so-called minicam regime. And we see human rights documentaries getting more exposure. Is our desensitisation reaching a limit? Well, I’m not so sure about that. “Redacted”, for instance, lost so much money… and the documentaries that have box-office success, Al Gore’s movie was a sort of a fluke, you know? “March of the Penguins” is still the highestgrossing documentary. People like little furry things, they don’t like dead furry things. So, I think that just the fact that HBO would put my film on is astonishing to me, but I don’t think people are necessarily watching more films. I’ve had a tremendous response to this film, and I’ve got hundreds of letters from people who want to know what they can do to help. People aren’t self-involved jerks, there are people who are touched when they do stumble upon accounts of just inhumane suffering of other humans, and the natural instinct is “what can I do to help?” and when people watch my film, they are completely gobsmacked by the magnitude of the catastrophe in the Congo. Because they think of themselves as being informed and when something of this magnitude comes into
their living room and they had no clue, they are really shocked: “where is the media? Why aren’t we hearing about this?” So, there are definitely more filmmakers now than when I started out, and I think there are more outlets for them, you know, there are hundreds of television channels, someone ripped the trailer for my film and put it on YouTube, so I’m getting responses from an audience that even five years ago, didn’t even exist. But whether that audience is any bigger or is some variation of the same shelf-selected enlightened minority… I don’t know. Watching the film, we learn from your own gangrape and a bit of your own personal tragedy. It’s obvious the importance of sharing your story with the women, but why did you feel you should share it with the audience, with “me”? Because you ended up being almost a character in a documentary that wasn’t about you. That wasn’t my intention, initially. I knew before going in that I was going to look like I’d landed from a spaceship, you know, a white woman in the middle of the jungle, with a camera, and I knew from years of making documentaries that you need to make some connection with the people you’re talking to. I knew the cultural gap was going to be pretty enormous and so I went with pictures of the family and proof, because I felt I would probably require proof [of having experienced that], you know, photocopies of the newspaper articles [written at the time about the crime] and all of that. When I came back, after the first couple of months of filming, I had a rough cut and showed it to friends and they asked me “how did you get them to open up?... You did?! Don’t you think that’s an important part of the story?” And also, and this was a journalist that made this point to me, “if the audience knows that they’re talking to you and that you, as a woman, had some sort of equivalent experience, it makes it a lot less voyeuristic.” And I felt that was a really interesting point. So, people I really respect, they were the ones who really encouraged me to do it. So I decided to… go there. But it wasn’t easy. I still see it and cringe. Some American papers mentioned the inclusion of your story as a kind of narrative gimmick. How do you feel about that? I’ve gotten a little bit of criticism for that, from a very famous American feminist, who thinks I did the women a disservice by comparing my experience to them, but there’s no place in the film where I make a comparison! All I say is that something vaguely equivalent happened. And [another reviewer] made her review all about me. And oh my god, I was furious at that, because by concentrating on this 5% of the film that’s about the white girl, she completely ignores the 95% of the film which is about the suffering of tens of thousands of women and, in effect, she continues the conspiracy of silence, by not really talking about what the film is about and that infuriated me! But did your story really help audiences connect more with the women’s story? Well, there’s also the connection with the [western] audience. I strongly feel that if I were to remove myself from the film and have someone like [a famous actress] narrate it, it would be a very different film; it wouldn’t have, I don’t think, the same sort of emotional punch and I think that audiences would see it as a sort of an anthropological experience rather than a personal one and wouldn’t connect as strongly. Because then, it would fall into that same category of films about Africa that we all know, which is “here are these bizarre people who are experiencing something that has nothing to do with us”. And it does have everything to do with us, and the connection needs to be made. So, including my story wasn’t a calculated ploy but I think it worked. You’ve got many years of many documentaries that won many awards behind you. Still, when you were shooting scenes like the women’s testimonials… can you describe how you managed to separate the person from the filmmaker? It was unbearable. Sometimes, it was just excruciating. Every single one of those stories was a real body blow. At night, there were a lot of tears. It was very... hard. Every day, it was hard. And I didn’t really go there in the filming, but it was excruciating and – 78 –
every single one of these women, I asked them to revisit a nightmare, I asked them to trust me and to please take me back to the worst moment of their lives... and they did! One evening, after that church group meeting [at the Mothers of the Parish, a Catholic shelter], where I shared my story with all the women, I just collapsed. That meeting at the Mothers of the Parish, where all the women including yourself, shared their stories with one another, in the end, in a strange way, we almost feel that a rite of empowerment just took place. Even their body language changed, voices are louder, chins are up… It was sort of like an old-fashioned 70’s women’s consciousness raising group. And I think they felt validated by my presence there and the effort that was obviously required for me to get there and the fact that I kept coming back, it meant something to them because, basically, people will come and go. And even the majority of humanitarian workers tend to keep themselves removed. But the fact that I stayed in the Parish Hall [when I went there], with the priest, with the nun, right in the middle of them, that also made a difference. All the women in your film felt guilt, shame, defeated and yet, hopeful. It would be so much more “natural” to just let days turn into night and yet, they do have hope. It’s such a difficult paradox to generate for a human being that’s been through so much degradation. It really is. But they really have no choice but to get up in the morning and keep going. Their lives and the lives of their families completely depend on that and that sort of resilience is part of the fabric of who they are because, for centuries, they’ve been the ones who, if they don’t get up and face the day, there’s so much that depends on them that everything would collapse. Only very recently did the term “sex crime” find its way into the Congolese judicial system. And in charge of investigating those crimes is another character of your film, a true force of nature: Major Honorine Mungole, a kind of one-woman department. Being a policewoman, she has a very professional stance, like when she’s interrogating victims, with her arms behind her back. Now she helped prosecute a fellow policeman for raping a young girl, but he ‘escaped’ three days later. Isn’t she persecuted for… doing her job? She is. She is threatened all the time. And her lack of funding and her “office” [shack], that’s already part of her punishment. ‘We’re giving you hands. And now we’ll tie them.’ Yeah. Precisely. And that she does persevere is really something. I love the line where she says that she works with the heart of a mother. How did you manage to air “The Greatest Silence” on [Congo’s public TV channel] DRC TV? It’s just that the public television’s editorial guidelines say, and I quote, “everything that’s broadcast in the country must support the Government’s interests” and whenever messages against Kabila are broadcast, journalists are fired or arrested, TV and radio stations are closed down… and I was wondering how you’d managed to bypass that. The British Foreign Commonwealth Office is committed to buying time on Congolese TV, which I think is awesome. There’s a lack of debate within the country about what’s going on. And the Eastern Congo is a world away from Western Congo, where the capital is, where the lawmakers are, even the people speak another language… I mean, we’re talking about a country that’s roughly the same size as the whole Western Europe, so… Anyway, it was supposed to be in April, but it’s happening in July. I’ve been exchanging mails with the people in Kinshasa, there seems to be no problem but now I don’t know… I hope it has an impact, but it can also be a dud. Who knows?
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