REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 09. FEVEREIRO 2009. www.parqmag.com
YES WE CAN
BARACK OBAMA NICOLAU BREYNER
TOMAS KRAL
Real People
Director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
Carlos Coelho
58
06
francisco vidal
64
08
joão moraes rocha
04
editora Carla Isidoro carla@parqmag.com
Direcção de arte Valdemar Lamego valdemar@parqmag.com
Martin Kullik martin@parqmag.com
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masaru tatsuki
Mário Nascimento mario@parqmag.com
73
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Riiko sakkinen
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por Oliver Rother
por Carla Carbone
Roger Winstanley roger@parqmag.com
in a flash
por Pedro Pacheco
on the road
por Mário Príncipe
parq here
kei kagami
you must shopping
tradução
lamego lazer
miss saigon
restaurante
fábulas café café&galeria
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dama aflita
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galeria
kingpin
loja bd
publicidade
you must news
Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com Cláudia Santos claudia@parqmag.com
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miguel vieira store
78
Espaço gourmet
loja
Hmmm!
soundstation REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 09. FEVEREIRO 2009. www.parqmag.com
REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 09. FEVEREIRO 2009. www.parqmag.com
PARQ. NÚMERO 09. FEVEREIRO 2009. REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA.
periocidade Mensal
Depósito legal 272758/08 registo erc 125392
Edição BARACK OBAMA NICOLAU BREYNER
por Rita GT
10
viewpoint
Trendscout
YES WE CAN
por Francisco Vaz Fernandes
por Miguel Pedreira
editor de moda
PARQ Número 09 fevereiro 2009
moda
Conforto Moderno Uni, Lda. número de contribuinte: 508 399 289
TOMAS KRAL
PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa 00351.218 473 379
Impressão BeProfit / SOGAPAL Rua Mário Castelhano · Queluz de Baixo 2730-120 Barcarena 20.000 exemplares
distribuição Conforto Moderno Uni, Lda.
A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq. Assinatura anual 15€. www.parqmag.com
textos
editorial
início de ano
André Murraças Bruno pires Carla Carbone Cláudia Matos Silva joão telmo dias john finlay Jorge Lemos Peixoto Josine Crispim manuel teixeira miguel pedreira oliver rother rita gt Rita Tavares Roger Winstanley Rui Miguel Abreu Sofia Saunders Vasco Vieira da Silva
Celebrar um ano de vida convosco foi a nossa primeira meta. Muitas outras se seguirão para breve. Num mundo de incertezas só a fé inabalável do nosso esforço e o lugar que nos é devido na sociedade nos permite avançar.
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Fiquei impressionado com os 2 milhões de pessoas que estiveram na tomada de posse de Barack Obama enfrentando temperaturas negativas com perseverança e entusiasmo. O pedido de transformação e a disponibilidade para grandes mudanças nunca se sentiu tão forte. Por isso felizes para participar em todas as mutações que forçosamente se terão que operar. Neste início de ano, no começo do nosso primeiro, prometemo-nos a ser mais idealistas, mais absurdos, mais incongruentes e despropositados.
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Nesta edição de aniversário, sob o signo do Yes We Can, não podemos deixar de fazer um artigo muito pessoal de Barack Obama. Falamos ainda do projecto de Carlos Coelho, que tem um quê de absurdo que por vezes falta ao mundo para que as coisas mudem.
fotos Mário príncipe pedro janeiro pedro pacheco
Agora não está muito bom tempo mas mesmo assim desafio todos a fazerem prova de fé nas mudanças. Levem a Parq para um espaço verde e deleitem-se.
styling
esperanza spalding por Carla Isidoro
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of montreal
por Helder Viana
english version 80
dancehall
por Rui Miguel Abreu
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viewpoint 36
carlos coelho
by Francisco Vaz Fernandes (english version by Roger Winstanley)
esperanza spalding
by Carla Isidoro (english version by Roger Winstanley)
masaru tatsuki
por Francisco Vaz Fernandes
central parq 40
nicolau breyner
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barack obama
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mercado de arte
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robert priseman
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jose castro
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Tomas Kral
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robert priseman
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tomas kral
by John Finlay (english version by Roger Winstanley)
by Carla Carbone (english version by Roger Winstanley)
por Carla Isidoro
por Jorge Lemos Peixoto
por Francisco Vaz Fernandes
dia positivo 82
as sapatonas
crónica de claúdia matos silva ilustrado por Vanessa Teodoro
por John Finlay
por Francisco Vaz Fernandes
Conforto Moderno Helga Carvalho Martin Kullik
capa
por Rita Tavares
por Carla Carbone
fotografia: Xavi Pastor Heredia
www.pastorherediastudio.com
ilustração
luzardo69@hotmail.com
francisco vidal vanessa teodoro
direcção de arte J-Me Luzardo Paiva maquilhagem: Anna Cartes
anna@realsoundsystem.com criações de JOSE CASTRO
www.castroestudio.com
luvas e toucas de látex na ZERO BCN
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texto: Francisco Vaz Fernandes / ilustração: Francisco vidal
Carlos Coelho
E de repente do breu fez‑se luz. Carlos Coelho, director da Ivity Brand Corp, lança o repto a toda a sociedade civil para a construção de um país mais criativo em torno do seu último projecto, o World Bank of Creativity.
Este é um ano em que todos os analistas desaconselham qualquer investimento. Porquê investir agora num banco? Porque se trata de um banco especial, onde os depósitos são feitos em ideias, as aplicações em projectos de educação pela criatividade junto de crianças e adolescentes carenciados e os resultados são traduzidos em lucros sociais. O World Bank of Creativity, em contra-ciclo com a crise financeira, pretende através do poder das ideias contribuir para um mundo mais criativo, capaz de influenciar a felicidade tangível das economias. Como nasceu a ideia? Como todas as ideias, foi-se formando ao longo dos últimos anos, da minha preocupação em levar a criatividade e a imaginação para além das indústrias criativas, fazendo destes activos intangíveis as principais “vitaminas” da economia. E depois nasceu assim, num repente do stress do Inverno passado, no meio da crise, do fecho dos bancos, da desvalorização dos activos concretos (considerados até então os valores seguros da sociedade). Comecei por imaginar a moeda da criatividade, uma moeda única, universalmente aceite e que nunca desvaloriza. Na sequência desta ideia, com a minha equipa, surgiu o Banco. O tempo é de mudança e, por isso, pareceu-nos o tempo certo para o início de uma nova geração de banqueiros, os Banqueiros da Criatividade, os banqueiros do mais valioso e universal dos bens. Nunca teve medo que fosse considerada uma ideia absurda? Não tenho medo do absurdo, antes pelo contrário. Eu faço uma certa apologia do “absurdo” na medida em que as ideias novas têm de começar por parecer esquisitas, absurdas. Criar, fazer coisas novas, coisas que não existem. É acima de tudo convencer o impossível de que é possível. Absurda é a normalidade. Como tem sido a receptividade do WBC dentro do plano real e comunitário? A recepção tem sido excelente e estou certo que poderei contar com o apoio de muita gente, mas aproveito para lançar aqui um apelo ao voluntariado necessário para trabalhar no back-up do banco, nomeadamente de pessoas ligadas à gestão e ao marketing.
Há propostas em concreto a serem desenvolvidas? Não existem, ainda, projectos concretos. Tenho, no entanto, o “sonho” de criar a aula da imaginação e gostaria que no futuro ela viesse a integrar o ensino regular em Portugal. Só o ensino e a prática da imaginação será capaz de ajudar a formar os jovens para esta nova sociedade da incerteza, onde já não basta o conhecimento que está em permanente mudança, mas acima de tudo importa a capacidade criativa e a imaginação. Qual o valor do dinheiro criativo , o “Iviti”? Para o lançamento do World Bank of Creativity foi criada a 1ª edição física do Ivity, a “Creative Currency”, uma colecção de doze notas. Uma para cada mês com o objectivo de tangibilizar a moeda da criatividade e criar uma tradição de edições temáticas que incentivem o uso da criatividade como forma de desconstrução dos valores tradicionais tangíveis. O Ivity é o dinheiro criativo do WBC, vale 1 Euro. Dirige uma empresa de design que já trabalha com a área criativa. Em que sentido o WBC não se sobrepõe às suas actividades e pode ser um input na sua vida? Toda a minha carreira tem sido, desde 1985, como gestor de recursos criativos aplicados às marcas. O meu trabalho diário consiste em canalizar a imaginação das equipas para objectivos comerciais concretos e limitados ao universo específico de cada marca. O desafio do Banco é o de aplicar a imaginação a um universo muito mais lato da sociedade. O desafio será o de influenciar a criação de uma nova cidadania criativa capaz de, através do poder das ideias, gerar dinheiro criativo que aplicado à educação pela criatividade irá contribuir para a formação de uma nova sociedade. Acredito realmente num novo, ou apenas adiado, paradigma. Acredito numa nova era, a idade da imaginação.
www.worldbankivity.com
ler mais em www.parqmag.com/blog
English version 80
REal PEople
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texto: rita gt / ilustração: Francisco vidal
francisco vidal
Francisco Vidal fez todos os retratos desta secção, inclusive o seu, onde o encontramos perdido na abstracção. Aqui fica um alegre apanhado da sua “real life”. feito por Rita GT, companheira nos amores e nas artes.
Temos partilhado conhecimento e paixão. Achas que isso se reflecte no nosso/teu trabalho? Já fiz muitos retratos teus, né? Achas que existe diferença entre arte e vida? Não! Achas que te expressas melhor por desenhos do que por palavras? Sim, mas a linguagem verbal também não é um problema. O exercício do desenho ocupa muito espaço mental e espaço de tempo, estas duas dimensões chegam a ser até mais importantes do que a dimensão física do desenho. Ou seja, o próprio desenho como objecto serve para ser lido, mas nele encerra essas duas faces (o tempo e o raciocínio de relação de signos). Elas servem para direccionar e compor o significado do desenho. Agora que estamos a falar de retrato, que é uma das minhas actividades preferidas quando desenho, posso dar um exemplo de como funciono e ponho a funcionar essas duas directrizes. É necessário quando se retrata ter uma noção imediata do tempo presente em que se desenha ter a concentração necessária para a observação e interpretação do observado. Menciono o observado porque desenhamos com os olhos e as mãos, mas a intuição é algo imprescindível. Daí a importância da noção de presente.
De que forma a experiência de vivermos em Berlim transformou o teu desenho? Os tempos de silêncio impostos pelo branco da neve influenciam bastante o tempo de atelier e a concentração que se adquire ao longo do dia. O tempo parece condensar-se e não se mover. É uma sensação estranha e agradável que se reflecte em desenho, pensamento. Desenho é pensamento. Com a crise económica vai ser difícil dois artistas governarem‑se em Berlim. Lamentas? Não lamento, estamos a viver o nosso tempo. Existirão sempre adversidades em todas as épocas, o que só as torna mais ricas, complexas e por isso interessantes. Que alternativas perspectivas? Mais criatividade na adversidade! A música que estamos a ouvir é bem inspiradora: Pink Floyd , The Dark side of the Moon … Vamo-nos beijar!
Representado pela Galeria 111 www.111.pt
REal PEople
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projecto P-06 atelier fotografia João Silveira Ramos
texto: miguel pedreira / ilustração: Francisco vidal
joão moraes rocha Trinta e um anos. Foi esse o período de tempo que separou a realização do primeiro campeonato nacional de surf do primeiro livro sobre a história do surf em Portugal. Em comum, um dos pioneiros deste desporto/forma de estar na vida, João Moraes Rocha, primeiro campeão nacional da modalidade. Numa altura em que a procura pelo surf aumenta exponencialmente, fomos falar com o principal protagonista desta história, que tem muitas mais para contar.
Na introdução do livro “História do Surf em Portugal – As Origens” afirma que este tardou a ser escrito. Porque tardou tanto? A melhor resposta seria devolver a pergunta. Talvez fosse mais expectável que alguma(s) da(s) pessoa(s) que hoje estão activamente ligadas ao surf, inclusive fazendo dele o seu modo de vida, tomassem sobre si essa iniciativa. Ou, então, alguém ligado à comunicação social dado a aceitação, imagem e difusão da modalidade. E o fizessem antes de perderem a geração mais antiga. O surf português merece a sua história. Devemos ter orgulho no nosso caminho e evitar ser colonizados por outras histórias. O momento de ter decidido avançar foi em termos cronológicos um mero acaso. Aconteceu há cerca de quatro anos quando estive internado no hospital por causa de um problema de saúde. Aí tive tempo para escrevinhar o esboço do livro e delinear alguns dos meus capítulos. Com tempo para pensar em algo que estaria arredado das minhas preocupações, verifiquei que o projecto era viável, havia material, tinha todo o sentido... a decisão estava tomada. Qual é a sensação de ter vivido e também escrito (literalmente) a história do surf português? Escrever sobre algo que se viveu é um privilégio mais para o leitor do que para o autor. O autor pode ser tentado a minorar o desempenho da personagem quando existe ubiquidade e, assim, prejudica-o. Mas, como bem patenteia a historiografia, os melhores cronistas de guerra eram os que nela tinham participado. Além de outras vantagens, fornecem ao leitor detalhes que de outra forma se teriam perdido.
Surpreendeu-o a dificuldade de encontrar uma editora que pegasse neste projecto? E agora surpreende-o a enorme aceitação que o livro teve? A especificidade deste projecto é o de concitar um grande número de autores que não têm provas dadas no domínio da publicação. Isso para um editor é um pesadelo. Foi por essa razão que a primeira editora que contactei aceitou imediatamente publicar o livro, com uma condição: ser só eu a escrevê-lo. Claro que não aceitei e em boa hora fui bater à porta da Quimera. Não sei se depois desta experiência o dono da Quimera estará disponível para bisar este tipo de projecto. Confesso que a aceitação imediata do livro superou as minhas expectativas. Sempre acreditei que venderia e, sobretudo, que iria constituir uma referência para a História do Surf em Portugal. Como referência, não passaria de moda porque o seu registo é outro e, assim, há-de continuar a vender até esgotar a edição. Mesmo esgotado, penso que continuará a ser uma referência obrigatória. Ter sido escrito por pessoas que constituíram, elas próprias, as origens do surf entre nós confere-lhe esse estatuto ímpar. Com a realização do primeiro campeonato nacional de surf , em 1977 , em parceria com Nuno Jonet e Alberto Pais (entre outros) , não só se tornou o primeiro campeão do surf português , como o surf passou a ser mais conhecido e aceite como modalidade desportiva. Trinta anos depois , como vê essa abertura ao resto do país? Hoje tomaria outra decisão e tentaria manter mais o surf como um estilo de vida? Tanto em 77 como hoje acredito que o surf tem uma dinâmica própria em Portugal e que não é nem nunca foi possível “fechar” o surf. A cada vez maior abertura do surf à população é um imperativo ditado pelo surf e pela nossa orla marítima, condições climatéricas, ondulação atlântica, genes de navegadores. Não há nada a fazer contra uma necessária e irreversível expansão da modalidade. Tenho saudades de Carcavelos, Ribeira d’Ilhas ou dos Coxos perfeitos e sem ninguém, de entrar na água sem pressas, de saber que não aparece uma escola com vinte “maçaricos” a estragar tudo... mas não hesitaria em, voltando atrás, organizar os primeiros campeonatos nacionais e internacionais, bater-me pela organização da modalidade, etc.
Sente-se que sempre encarou o surf como uma modalidade desportiva e lutou para que fosse visto como tal. E hoje , encara-o numa perspectiva mais “soul” , mais espiritual, ou mantém a componente desportiva pura , de actividade física? O surf é mais do que mais um desporto. O pulsar do oceano empresta ao surf uma mística que mais nenhum outro desporto tem. Mas o aspecto desportivo do surf é algo de fundamental à modalidade, sem essa vertente o surfista não progride a partir de um nível elementar. Aliás, é na vertente desportiva que se insere a competição. As duas vertentes, mística e desportiva, estão intimamente ligadas entre si. Essa ligação será evidente para qualquer surfista que atinja um nível razoável na modalidade. Quanto ao equilíbrio entre essas componentes, elas dependem mais da personalidade de cada um do que de qualquer outro factor. No meu caso posso dizer que a idade impõe algumas limitações àquilo que chamou de “componente desportiva pura”. Está satisfeito com o rumo do surf em Portugal? De alguma forma sim, é gratificante verificar que o surf vingou entre nós e que temos surfistas de craveira internacional. Embora esta verificação não me surpreenda. Disse que isto sucederia nos finais da década de 70 quando a televisão pela primeira vez deu voz ao surf português. No entanto, sou crítico em relação a alguns aspectos que se prendem com a visão organizativa e disciplinadora da modalidade, bem como aos apoios à competição e alta competição. UMA INICIATIVA CONJUNTA APOIO
PATROCÍNIOS
TV OFICIAL
REal PEople
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TV INTERNACIONAL
MECENATO
COLABORAÇÕES
PARCEIROS DE MEDIA
texto: oliver rother / ilustração: Francisco vidal
kei kagami
Kei Kagami é seguramente um dos mais promissores designers do momento. Tem desenvolvido a sua carreira quase em segredo, longe. Formou-se em arquitectura, passou pelo atelier Kenzo Tange, até ir para Londres frequentar a St. Martins College. um dia viu numa revista a colecção de um finalista, John Galliano, e desejou seguir-lhe o rasto.
Fazias arquitectura. Lembras-te de algum momento que te tenha feito sentir que gostarias de ser designer de moda?Em 1983 vi uma senhora que trabalhava na loja de homem de Yohgi Yamamoto em Tóquio e fiquei fascinado pelo que ela usava. Estava embriagado pela atmosfera dessa mulher vestida de preto, que tinha um quê de gótico e punk, e com classe ao mesmo tempo. Na minha formação posterior fui estudar em detalhe a moda punk. O que te levou à escola de moda St. Martins? Quando ainda estava a trabalhar com Kenzo Tange encontrei no atelier uma revista chamada «Art and Design» onde apareciam fotografias do desfile de fim de curso de John Galliano. As imagens tiveram um enorme impacto em mim e o artigo falava de St Martins College, o que me fez logo querer ir para essa escola. Depois de a ter frequentado, não fiquei tão seguro da qualidade do ensino e estive mesmo para sair, mas também não tinha para onde ir porque John (Galliano) tinha-se mudado para Paris. De qualquer das formas continuei na escola com uma bolsa e pude conhecer pessoas fantásticas como Chris Lazlo (trabalha com Hussein Chalayan) Alexander McQueen ou Wakako Kishimoto.
Como é a tua relação com Alexander McQueen? Porque não fazes essa pergunta directamente a ele(risos)? Não mantemos propriamente uma relação mas sempre que nos vemos cumprimentamo-nos calorosamente. Encontro-o profissionalmente algumas vezes e é sempre bom revê-lo. Nunca me esqueço quando já tinha sucesso trabalhando para a Givenchy, de me ter pedido para lhe cortar alguns moldes para a colecção. Gosto da forma como pede esses favores. É bastante modesto e carinhoso quando até poderia ter sido arrogante, tendo por base o seu status. Estou muito feliz pelo seu sucesso, merece-o completamente dada a muita paixão e trabalho que tem posto em tudo. Ele ficou zangado por teres sido tu o escolhido para encerrar o desfile de finalistas? Não tenho a certeza. Quando me trouxe essa notícia talvez a sua cara estivesse um pouco de lado. Mas de qualquer forma a passagem dele encantou Isabella Blow e eu teria preferido isso à posição de honra que me coube no final de curso de 1992. E como é trabalhar com Galliano? Trabalhaste durante três temporadas. quais foram as tuas responsabilidades? No verão de 89 apareci à porta do atelier e disse num inglês rudimentar “quero trabalhar aqui”. Obviamente fui rejeitado. Mais tarde escrevi uma carta ao John e passado duas semanas estava a trabalhar com ele no controle de qualidade, verificar toda a produção, detectar qualquer defeito e corrigir. Depois disso ele decidiu começar a pagar-me, fiquei a trabalhar na secção das amostras e estava feliz por me ser entregue um trabalho de costura e algumas vezes o corte de tecidos. Lembro-me de ficar muito contente quando me deixaram cortar e ver os moldes. Não tenho más memórias. Gostava do atelier, a atmosfera era relaxante. Foi uma excelente experiência para mim porque aprendi muito, não só no campo técnico mas também sobre a sua atitude relativamente à criação, à gestão do dia-a-dia no atelier, do trabalho de grupo e organização dos desfiles.
REal PEople
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Estamos num momento em que apreciam as técnicas de alfaiataria e luxo nos detalhes , o que parece ir bem com o teu estilo de trabalho. Alguma vez te imaginaste trabalhar de outra forma? Difícil de responder. Gosto de ser eu mesmo a fazer as peças, até gosto de modelar enquanto corto as peças. Sempre acreditei que não deve haver uma separação entre pensamento e realização do acto criativo. Sinto que agora estou demasiado envolvido em outras coisas como a organização do atelier e tratar da parte financeira. São um peso para mim. Gostava de ter mais tempo de atelier para pesquisar e relaxar. Para isso teria que ter um rendimento que permitisse meter alguém a fazer este trabalho por mim e então sim a empresa ia ter outra consistência. Posso dizer que nenhum dos designers consegue sobreviver só com a sua marca, porque basicamente teria que ser muito mais comercial para ter mais lucro para a empresa funcionar melhor. Esses designers dependem também de consultoria e da criação de linhas de difusão. Como é o teu dia de trabalho? Geralmente com 3 ou 4 assistentes. Vêm todas as tardes até às 19h30 ou 22h quando estou com mais trabalho. Tiro o domingo para descansar. Como gostarias que vissem o teu trabalho? Como qualquer coisa cultural, qualquer coisa sombria. Fico feliz quando o meu trabalho é apreciado de uma certa forma cultural. Qual foi o último filme que viste? O “The world’s fastest Indian”. Adorei porque gosto de motas antigas.
www.keikagami.com
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texto: carla carbone
riiko sakkinen Riiko Sakkinen é finlandês mas vive em terras espanholas. Faz desenhos que parecem pertencer ao imaginário dos adolescentes, mas escondem, por detrás da aparente frescura, alegria e cor, verdades muito mais sombrias . O mundo de Sakkinen e o dos seus desenhos é vertiginoso tal como se apresentam as notícias na televisão e o modo como chegam a nossas casas todos os dias.
Há um gosto pela imagética urbana , talvez um gosto pelos grafitis. De onde vêm essas referências? Muitas pessoas pensam, quando olham para o meu trabalho, que eu devo viver em Nova Iorque ou Pequim, mas vivo numa pequena vila na província de Toledo, em Espanha. Actualmente a diferença não é muito grande: as pessoas cada vez mais consomem as mesmas coisas de São Paulo até Cervera de los Montes. As ruas em todo o lado estão cheias de sacos plásticos Carrefour vazios. A globalização é também vertical. As marcas, as migrações e uma nova ordem mundial estão a mudar o modo de vida, mesmo nas pequenas vilas, que se tornam arautos dessas mesmas megapólis. Já me perguntaram sobre a minha relação com os graffiti e a street art. O meu background é outro. Quando era bébé e gatinhava a minha mãe pendurou um postal do Picasso ao nível dos meus olhos. Ainda respeito Picasso, mas os meus heróis maiores são os chamados maus pintores da German Jungle Wilde, dos anos 80, particularmente Martin Kippenberger. Os seus desenhos por vezes parecem conter algo de naif. Não os chamo naif, mas fofinhos. O doce, o fofinho está a conquistar a Europa. Na Ásia, mesmo as forças militares mais armadas possuem mascotes fofinhas muito peludas com grandes olhos. A minha mulher é professora de artes visuais numa escola secundária. Traz‑me trabalhos dos alunos adolescentes e dizme que podiam ser meus. Alguns são realmente extraordinários. Neste momento estou a organizar uma exposição em Helsínquia com um grupo pequeno onde vou incluir um dos alunos. Parece mascarar realidades bem dolorosas (como a pobreza , racismo , realidades políticas , prostituição , entre outras coisas) com uma iconografia inocente. É a única maneira de dizer coisas sérias sem ser violento? Ou é para evitar a controvérsia? Acho que enfatizo a controvérsia justapondo aquilo que é doce com o que é horrendo, o que é político com o inocente. É assim o mundo. É só ligar a televisão e tudo o que se apresenta parece estar ao mesmo nível, misturado: Hello Kitty, Burguer King e Gaza. Eu não invento nada. Faço arte realista.
No entanto , não conseguiu evitar a controvérsia , na Coreia do Sul, em Setembro , quando escreveu nas paredes de uma galeria “We love Samsung and Kim Il-Sung”. Para a minha instalação no Yeosu Art Festival escolhi as duas coisas da Coreia que mais representam as diferenças entre o Sul e o Norte, o neoliberalismo democrático e o socialismo totalitarista. Raul Zamudio, que organizou a exposição, e eu, fomos investigados pela polícia e pelo serviço nacional de inteligência da Coreia do Sul, mas eles decidiram não ir para a frente com o processo. Evocar Kim Il-Sung e o comunismo é ilegal na Coreia do Sul, e a super Samsung tem mais poder nesse país que o próprio governo. Gerou-se um pânico moral em torno do meu trabalho e os veteranos de guerra manifestaramse contra. A cidade de Yeosu recebeu centenas de telefonemas de protesto. Quando por fim saímos do país, depois da abertura da exposição, as autoridades cobriram as palavras “Kim Il-Sung”. Foi um momento difícil para a sua arte? Eu fiquei muito contente quando a minha arte foi capaz de influenciar para além do contexto da própria arte. Receou pela sua própria vida naquele momento?Penso que ninguém me queria prender! Se for novamente à Coreia do Sul, será que me deixam entrar e vou ter um agente a seguir-me? Não está interessado em ser óbvio. Mistura muitas ideologias e perspectivas. Estou contra tudo e contra todos, penso que a responsabilidade do artista está em questionar as coisas e não em apresentar soluções. Eu discordo de muita gente e muitas vezes estou errado. Isso explica a sua preocupação com a prostituição russa? Fiz muitos trabalhos sobre a Rússia, antes e depois de no verão passado ter realizado uma exposição em São Petersburgo. A prostituição é a vertente menos bonita, a verdadeira face e o resultado do capitalismo neoliberal no seu estado globalizado. A prostituição é o lugar onde a rapariga nigeriana ameaçada pelo vudu presta-se a servir o empresário alcoólico. É o modo actual de fusão de culturas. Sou pósfeminista e não condeno a prostituição, mas condeno o capitalismo selvagem tal como se manifesta, tanto no oriente como no ocidente.
Serão as ideologias tão frágeis como o são os anúncios de marcas de sabão? Serão as ideologias e as políticas tão rápidas como os produtos de consumo? Tudo, desde o sabão à rebelião, é uma marca. As mesmas lojas vendem tanto t-shirts do Real Madrid como de Che Guevara. Mesmo os políticos não vêem diferença nenhuma. Gerhard Schroder foi chanceler da Alemanha e Paavo Lipponen foi primeiroministro na Finlândia. Agora ambos trabalham para a grande empresa russa, a Gazprom, a maior extractora de gaz natural do mundo. é peculiar o modo como pinta na parede da galeria e , simultaneamente , pendura os desenhos que foram previamente realizados , cuidadosamente emoldurados. É habitual nas suas exposições? É a minha forma económica de fazer pintura monumental. Normalmente não tenho problemas de transporte. Uso o formato A4 para os meus desenhos. Os mesmos são emoldurados no próprio lugar, e depois pinto as paredes. Eu gosto do formato A4, é um formato familiar para toda a gente e não está tão associado à arte. Por vezes os seus desenhos parecem ser feitos à pressa. Está mais interessado em transmitir a mensagem do que em ser “perfeito”? Perfeito no sentido das coisas bem acabadas , da arte final. Os elementos a que recorro (caixas de cereais, etc) para fazer os meus trabalhos são perfeitos. São desenhados por computador e bem impressos. Desenho à mão e cometo erros. Apresento uma alternativa humana ao imaginário superficial da publicidade e do consumo, um outro conteúdo e um outro estilo. As galerias estão cheias de trabalhos muito bem acabados e de “qualidade”. O meu trabalho é um pouco imperfeito, parece por vezes de pouca qualidade, mas é igualmente portador de muita beleza.
www.riikosakkinen.com
REal PEople
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Foto
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neiro · St yli o Ja
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balde de gelo KENNETH TURNER na República das Flores
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neiro · St yli o Ja
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ténis NIKE mala BURBERRY
perfume, Onde Mystere e Onde Vertige da GIORGIO ARMANI
garrafa de rouge lime FAIRMIN na República das Flores
ténis LACOSTE
pregadeira e pulseira TOUS lenço HERMÈS óculos de sol RAY-BAN/Clubmaster
you must
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you must
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white street
neiro · St yli o Ja
white street
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neiro · St yli o Ja
f or t o M Con od ng
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boina ADIDAS BY MISS ELIOTT
ténis ADIDAS
ténis ONITSUKA TIGER
sabonetes, SABOARIA
PORTUGUEZA
óculos de sol PERSOL
lata de chá MARIAGE FRÈRES na Deli Delux
crème corporal FLOWER
BOMB/VIKTOR&ROLF
jarra QUARTZ de BARTEK MEJOR para VISTA ALEGRE
jarras QUARTZ de BARTEK MEJOR para VISTA ALEGRE
you must
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you must
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texto: francisco vaz fernandes
texto: joão telmo dias
christopher woll
fantasporto fazer correr muito sangue
Absurdistan, de Veit Helmer
Cristopher Woll é um dos pintores que ganhou maior visibilidade nos anos 90 porque centrou na sua prática pictórica o paradigma da pintura do Ocidente dos finais do século XX. Considerado um dos responsáveis pela revitalização da pintura, mostra no Museu de Serralves algumas das obras mais recentes, acompanhadas de outras mais antigas e emblemáticas. Este artista norte‑americano emerge no fim dos anos 80 com uma pintura adversa a todo o expressionismo figurativo europeu e norte-americano, que mais não foi do que a tentativa de reactualização de cânones e processos que o minimalismo pensava já ter enterrado. Tal como Helmut Dorner, que também expôs no Museu de Serralves, o desafio destes pintores do início dos anos 90 passava tanto pelos processos como pela imagem da pintura. Se Dorner faria uma pintura minimal, mas à imagem de superfícies brilhantes e escorregadias que lembravam paredes de azulejos, Woll recorria a processos manuais de impressão que faziam parecer cartazes. A opção de Woll pelo contraste a duas cores enfatiza ainda a simulação de falta de recursos e uma aproximação estética a produções saídas de movimentos de contestação minoritários. Vários autores têm apontado para a relação com a estética de tradição Punk. Estas influências devem ainda ser confrontadas dentro do legado histórico de Pollock e Warhol. O processo de pintar, a que Woll chamou de “pinturas impressas”, remetem tanto para os “drimps” como para os imprevistos serígrafos. A pintura, à semelhança do cartaz punk, aberta aos acidentes e escorrimentos, gravita na esfera warholiana e pode ser vista como um espelho social geracional.
O que se torna mais interessante é o acto de pintar ser simultaneamente técnico, mecânico e emocional. Seguindo a tradição punk, as frases são de ordem e corrosivas. Numa das mais marcantes pode-se ler “Sell the house/sell the house/sell the kids”. Contudo, a composição das letras e os espaçamentos dificultam um processo imediato de leitura. Obrigam a uma ginástica de leitura e compreensão para que a pintura não se esvazie nesses conteúdos. Tudo isto faz de Christopher Woll um dos artistas vivos mais interessantes. Merece uma visita.
Mal o ano começa, aquecemos a voz e cantamos as Janeiras. Em Abril dizemos mentiras e em Março poesia. Em Novembro chega o frio, as castanhas e o vinho. Em Fevereiro, fazemos as malas, rumamos ao Porto e vamos ao Fantas. Sob uma neblina vampiresca, a 29.ª edição do Festival Internacional de Cinema Fantástico do Porto arranca dia 16 de Fevereiro e prolonga-se até ao dia 1 de Março, com mais um portentoso programa a palmilhar as duas salas do Rivoli, no Porto, mas também outras dez salas Zon Lusomundo no resto do país. A organização procede, este ano, a uma pequena extrapolação do festival para uma nova sala na Praça D. João I, de entrada gratuita, onde vai ser possível assistir, numa base bi-diária, ao programa Porto em Curtas com os mais recentes filmes de produção europeia em panorâmica. São 43 os filmes a concurso, repartidos por três secções competitivas: Secção Oficial de Cinema Fantástico, Semana dos Realizadores e Orient Express.
Museu de Serralves Até 15 de Março www.serralves.pt/
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O festival abre com o biópico «Che – The Argentinian», de Steven Soderbergh e encerra com «Adam Ressurected», de Paul Schrader, que está fora da competição. Wim Wenders voa, igualmente, até à Invicta para mostrar o seu novo «Palermo Shooting», em competição na Semana dos Realizadores. Há «The Wrestler», de Darren Aronofsky, «Nightmare Detective», de Shynia Tsukamoto e «Absurdistan», de Veit Helmer, autores que regressam ao festival. O Fantas brinda-nos, ainda, com retrospectivas do cinema galego moderno dos cineastas Jorg Buttgereit e Mario Bava, com outra sobre arquitectura e entrega o prémio de carreira este ano a José Fonseca e Costa. Preparemos então as malas, o espírito e os melhores gritos. É tempo de fazer correr muito sangue.
De 16 Fevereiro a 1 Março Teatro Rivoli , Porto www.fantasporto.com
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texto: carla isidoro
texto: sofia saunders
andré fernandes
sam baron
Se há coisa de que nos podemos orgulhar, é da nova geração de jazz carregadinha de talento. O nosso pequeno país promove festivais de jazz às centenas (sim, às centenas) ao longo do ano nas mais recônditas terras e tem dado à luz grandes jovens nomes, seja no canto, composição ou interpretação.
Fernandes recebeu da prestigiada escola americana Berklee College of Music o prémio Stephen Holland Award for Outstanding Musicianship, tem gravado com figuras de renome (Cyro Baptista, Lee Konitz, etc) e tocado com muitas outras. Nasceu em 1976, é músico e professor, e convidou Mário Laginha, Bernardo Sassetti, Alexandre Frazão, Nelson Cascais e o geniozinho dos efeitos especiais Dj Ride para a Culturgest. Prevê-se um tremor de terra no Campo Pequeno.
O guitarrista André Fernandes é um deles. Firmou‑se no mercado há sete anos quando lançou «O Osso» e co-lançou a editora Tone of a Pitch. Até hoje assinou quatros discos como líder e o concerto que dá este mês na Culturgest é pretexto para o lançamento de mais um, «Imaginário».
Dia 17 , Culturgest – Lisboa www.culturgest.pt
texto: carla isidoro
zoeTropE
A Vista Alegre Atlantis foi uma das empresas representadas no pavilhão Now Design da Maison Object que se realizou em Janeiro, em Paris. Apresentou como novidade um conjunto de peças concebidas por Sam Baron. O designer francês explorou o legado decorativo centenário da companhia dando a cada peça uma vertente onírica, mantendo-lhe, no entanto, todo o sentido utilitário. Para além desta colaboração, a companhia de porcelanas e cristais aproveita para mostrar outras colaborações recentes com designers como Bartek Mejor, Hella Jongerius, Alfredo Haberli ou Marco Souza Santos, numa clara procura de rejuvenescimento que lhe permita um outro posicionamento internacional.
maw + rui horta
www.vistaalegre.pt
Os Micro Audio Waves (MAW) conseguiram, nos últimos anos, marcar o panorama musical português e mostrar trabalho lá fora. Receberam vários prémios Qwartz e a sua música é reconhecida como global. São uma banda de fronteiras abolidas.
«Zoetrope» é um projecto misto, desenvolvido pelos MAW e pelo coreógrafo Rui Horta. O espectáculo é um concerto encenado, um trabalho que nasceu no frio inspirador do Espaço do Tempo (residência artística e centro multidisciplinar a cargo de Rui Horta em Montemor-o-Novo) e da luz espectral de Lisboa. Um desafio onde o movimento, a poesia, a música e o multimédia se conjugam.
Dia 19 , Culturgest – Lisboa www.culturgest.pt
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texto: sofia saunders
texto: sofia saunders
mascULino furla Assim como a feminina, a colecção masculina Furla prima pelos materiais e acabamentos de luxo. Cada peça é acabada artesanalmente e construída com o ímpeto de resistir ao tempo. Da Furla Uomo constam uma panóplia de malas, agendas, carteiras, porta-chaves e pastas disponíveis em duas linhas distintas que se adaptam a cada tipo de homem ou ocasião. Com nomes sugestivos para a sua utilização, Professional e Travel, cada linha da erudita marca italiana não é, no entanto, estanque. De design clássico com toque contemporâneo, elas distinguem-se essencialmente no que toca aos tons e aos materiais, apesar de ambas pretenderem ser intemporais: a Professional, com materiais mais luxuosos e tons sóbrios; e a Travel com dimensões mais cómodas, materiais mais resistentes e cores mais trendy. Nesta estação o destaque vai para os confortáveis sacos oversized em cores um pouco menos tímidas, a contrastar com os acabamentos em pele de tons neutros.
www.furla.com
texto: sofia saunders
contrastes
Maxim Velcovsky
Os óculos de sol femininos desta estação são geralmente amplos e inspirados nos anos 70. Há uma clara tendência para as cores pastel e sugestões de madeira e tartaruga. Outra tendência é o protagonismo das hastes que contrastam com os aros. As propostas de D&G são no nosso parecer as que melhor marcam esta tendência.
Durante a Vienna Design Week em Novembro de 2008 a exposição que conseguiu mais destaque foi a do genial Maxim Velcovsky. Este designer checo, que esteve na Grande Entrevista da 2ª edição da PARQ, criou uma instalação a partir de copos e garrafas de cristal produzidas pela Lobmeyer, uma das mais tradicionais empresas austríacas que durante séculos criou lustres para a maior parte dos palácios do centro da Europa. A partir de um exercício de disposição dos elementos de cristal em caixas de luz, Velcovsky projectou linhas do horizonte urbano de cidades como Moscovo, Nova Iorque e Medina. Realizada no centro do depósito da Lobmeyer, o público pôde aceder aos dois lados das caixas e aperceberse do outro lado da beleza das peças Lobmeyer.
Alguns exemplares jogam com o verso das hastes e dos aros e ganham quatro cores contrastantes. Esse apuro nas combinações de massas de matizes e de tons causa um efeito único e original, e faz deles verdadeiros objectos de design. São óculos feitos para criar impacto em todas as situações e ganhar relevo sobre uma mesa de café durante os nossos encontros importantes. Ainda nos vamos recordar de algum destes modelos numa exposição como um dos grandes exemplos do “pastiche” deste nosso princípio de século.
www.dolcegabbana.com
www.qubus.cz www.lobmeyr.at www.viennadesignweek.at
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texto: bruno pires
denim Ħomem 4
Levi’s. Quando falamos em clássicos, há uma referência impossível de ignorar, as Levi’s 501. Para este Verão temos as 1890xx501, um modelo onde o vintage é levado ao extremo, parecem as calças dum operário depois dum dia de trabalhos forçados, sujas de óleo, terra e tinta, fantásticas. Um modelo histórico, que se reinventa e acompanha uma das grandes tendências da estação. 1
Energie. Uma mistura muito bem conseguida entre rock e glamour, é o que nos oferece a Energie. A rebeldia fica a cargo dos jeans desbotados pela lixívia e cheios de tinta, acompanhados com correntes e cintos com fivelas grandes. Depois vem o glamour com as camisas, as gravatas, os laços, os chapéus e os suspensórios a darem um toque muito especial e diferente à colecção. 2
Diesel. Actual como sempre, a Diesel traz-nos calças largas com pinças, que estiveram presentes em quase todos os desfiles dos principais criadores para este Verão. O ar retro fica completo com os chapéus, os laços e os suspensórios, que são uma das peças chave da colecção. Os jeans são a maravilha a que sempre nos habituou, desta feita surgem desgastadas com cintura descaída mas com gancho longo. Baggy e vintage a Diesel no seu melhor.
Em suma, para esta estação os jeans querem-se empoeirados, maltratados, gastos pelo tempo, desbotados pela lixívia, sujos de tinta ou descolorados pelo sol. Aquela sensação que ainda expostas na loja parece que já viveram uns bons anos. As correntes voltam em grande e os suspensórios são uma das grandes tendências, para os mais audazes os laços também são uma boa opção.
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Replay. Temos para além das calças, blazers, coletes e camisas tudo em denim, o que nalguns casos representa um regresso depois duma longa ausência. Os lenços estão presentes, na lapela mas também ao pescoço, que em conjunto com as tachas, as aplicações em pele e os estampados nas camisolas, compõem um look de inspiração motard. As calças são em azul escuro sem lavagem e com cortes largos e muito actuais ou em azul claro desgastadas e de corte justo. Uma colecção ecléctica de muito bom gosto. 4
3 Lee. Vibrante, colorida e com impacto, a colecção da Lee não é para quem quer passar despercebido. A inspiração no glitter rock e nas luzes de Las Vegas, resulta em camisas de quadros muito coloridas com gangas claras muito desgastadas e outras escuras, rotas e sujas, bem vintage. Os nylons e os grandes contrastes de cor nos estampados, assim como as correntes e os cintos de picos são a parte hard rock desta colecção que não deixa ninguém indiferente. 5
ler mais em www.parqmag.com/blog
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texto: Vasco Vieira da Silva
O Futuro já sE vende
texto: sofia saunders
A Honda, o maior construtor de motos do mundo, volta a surpreender o planeta das duas rodas ao lançar uma moto do futuro. A DN-01 é diferente, futurista, dinâmica, confortável, estável e muito segura. Não é fácil pegar nestes ingredientes todos ao mesmo tempo e juntá-los de forma eficaz numa moto, mas a Honda chegou lá. A linha estética da DN-01 é um estilo único, diferente de tudo o resto. Ao andar nela sentimonos transportados para o futuro, com um feeling novo, fruto da inovação. A revolucionária caixa de velocidades é um dos trunfos: funciona com a nova tecnologia de embraiagem HFT que faz com que, ao contrário do que acontece com as motos “normais”, não se sintam as mudanças a engrenar quando trocamos de relação. A caixa sequencial controla-se através de botões de comando electrónico e não há manete de embraiagem, à semelhança do que acontece nalguns automóveis topo de gama. Sentimo-nos confortáveis, especiais, numa condução marcada pela estabilidade e sem solavancos no motor.
Igualmente interessante é a capacidade de aceleração do motor, um bicilíndrico em “V”, potente e amigável q.b. E o mesmo acontece com a capacidade de travagem, forte e suave ao mesmo tempo. Graças ao ABS de série e à posição de condução tranquila, a DN-01 oferece sensações de condução únicas. Quase que a podemos ver como uma máquina do tempo que nos lança naquilo que poderá ser o futuro das duas. Uma visão real do futuro, já disponível para venda nos concessionários Honda.
www.honda.com
pepe jeans vs meisel
A actriz Sienna Miller, que durante anos foi a imagem da marca da Pepe Jeans, foi destronada por um grupo de jovens modelos anónimos. Aliás, a única celebridade desta campanha de PrimaveraVerão 09 é Steve Meisel, fotógrafo residente da Vogue Itália, escondido atrás da câmara. Meisel é um dos fotógrafos mais venerados do momento, conhecido pelas atmosferas cinematográficas e capacidade de reinventar a fotografia de moda, dando a cada trabalho algo de muito especial. Por ele ainda se justifica folhear a Vogue Itália. A campanha da Pepe Jeans ganha uma nova frescura a partir de uma direcção fotográfica notável, inspirada num certo ideal Dolce Vita do cinema Italiano dos anos 60. A leveza das cores pastel fazem-nos pensar em fotografias coloridas, em pinturas, e muito em Capri.
www.pepejeans.com Campanha SS09 Pepe Jeans fotografada por Steve Meisel
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texto: sofia saunders
texto: sofia saunders
adidas id2
saboAria portugueza
É a última novidade do eyewear pensada para desporto. Foi premiada com o ISPO BoardSports Award 2008 e com o Red Dot Design Award 2008. Distingue-se pelo design e características técnicas especiais.
Existe uma apetência cada vez maior para produtos premium com passado artesão. Esta tendência coloca os sabonetes portugueses entre os mais famosos do mundo. A nossa tradição faz com que uma marca recente como a Saboaria Portugueza consiga expandir-se rapidamente no mercado de luxo estrangeiro. O segredo está na qualidade mas também nas embalagens cuidadas que aliam, numa imagem cosmopolita, valores como a contemporaneidade e a tradição. A Saboaria Portugueza tem sete linhas com decorações e fragrâncias inspiradas em temas tão distintos como a Arte Deco, os azulejos e os temas florais. Preferimos o Tempus (na imagem) com âmbar e madeira, o Bella com verbena, e o Azulejo com perfume cítrico.
Única a oferecer nivelamento duplo da armação, a máscara é compatível com qualquer tipo de capacete e ajusta-se muito bem ao rosto. A curvatura mais acentuada na zona do nariz confere protecção extra e as nano-partículas da primeira camada da esponja asseguram uma total impermeabilidade para que, mesmo com condições meteorológicas adversas, as lentes e o campo de visão estejam desimpedidos.
www.saboaria.com
texto: josine crispim
são valentim de kenzo Afim de satisfazer o frenesi da época consumista que é o Natal de Fevereiro para os enamorados, Kenzo cria três bonecas matrioskas reinterpretadas para culturas que não a russa. Com nomes que sugerem três outras culturas – Kimiko, Indari e Irina – cada boneca esconde não uma réplica de tamanho inferior como seria de esperar, mas sim um perfume miniatura. E como estamos em época de crise económica a nível global, a boneca vem de oferta com a fragrância, ou vice-versa.
texto: sofia saunders
bell&ross O BR1 e BR3 são dois ícones da gama de relógios da Bell&Ross. O seu formato quadrado é facilmente reconhecível. Esta empresa com 26 anos de história cria relógios para astronautas que enfrentam altitudes extremas. Desta vez soube aliar as necessidades do design contemporâneo minimal à competência e tradição de um relógio Suíço num utilitário. Ao contrário da tendência dos relógios grandes e exuberantes, estes são leves, têm caixas com perfil baixo que lembram a elegância dos relógios dos nossos avós. Como qualquer marca de prestígio, tem caixas em ouro e platina mas a PARQ gostou especialmente das edições especiais dos 25 anos da Bell&Ross que procuraram conjugar detalhes de cor com referências dos anos 70.
www.kenzoparfums.com texto: josine crispim
peeling caseiro Uma das novidades da Clinique é o produto esfoliante unissexo Clinique Turnaround Radiance Peel Once-a-Week System da já existente linha Turnaround. Criado para simular os mesmos resultados de um suave peeling profissional, é bifásico, esfolia quimicamente as células mortas, estimula o processo de renovação celular e, numa segunda fase, acalma e hidrata a pele que acabou de ser tratada. Disponível por €69,00.
www.bellross.com
www.clinique.com
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texto: carla isidoro
Esperanza aprendeu a tocar violino durante a adolescência mas não dava muita atenção às aulas de música. O jazz só entrou no seu dia-adia depois de começar a tocar contrabaixo. Até aí, como nos contou via email, ouvia incessantemente um disco de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, mas nem sabia bem do que se travava. “Era o «Porgy and Bess. Ouvi-o sem parar entre os 12 e os 14 anos mas não sabia quem eles eram ou que tipo de música era aquele. Só entrei na cena do jazz quando peguei no contrabaixo.” Um dia, por acaso, encontrou um violoncelo encostado a uma das paredes da sua escola – que provavelmente pertencia a um professor – e dedilhou-o na brincadeira como se fosse um contrabaixo. A sua professora de música ia a passar no momento e perguntou-lhe: “agora queres tocar contrabaixo? Tudo bem.” Esperanza não aceitou nem negou a proposta da professora, mas deixou-se levar por este instrumento. Foi o grande twist da sua vida.
Aos 17 anos ganhou uma bolsa completa para estudar numa das mais conceituadas escolas de música do mundo, a americana Berklee College of Music. Enquanto estudante tocou e gravou ao lado de figuras como Pat Metheny ou Joe Lovano. Daí a ser uma das mais jovens professoras que alguma vez ensinou nesta escola foi um curto passo. Pat Metheny começou a leccionar aos 19, Esperanza aos 20. O zunzum à volta do seu talento começa aqui, neste período. “Foi e ainda é um desafio dar aulas, tem sido uma grande experiência. Devido aos meus compromissos fora da escola, o lado mais difícil é equilibrar os concertos com o ensino. Mas as aulas têm sido um prazer.” Apelidam-na de “nova estrela do firmamento jazzístico”. Tem 24 anos, vem do estado norteamericano de Oregon, canta incrivelmente, toca contrabaixo e baixo eléctrico de uma forma impressionante. O disco de originais que vem apresentar a Lisboa – é o seu segundo e foi lançado em Maio de 2008 – prova que o jazz está a renovar-se com grande qualidade através de uma geração de jovens músicos. Chamou-o orgulhosamente de «Esperanza». Nele o passado cruza-se com o futuro, mescla-se o corpo dos standards com a energia do bebop e dos ritmos afro-cubanos, e relembra-se a leveza da voz de Elis Regina. Canta «Body and Soul» em espanhol, pega em «Ponta de Areia» de Milton Nascimento e arrisca (e bem) cantá-lo em português, assim como fez no tema «Samba em Prelúdio», feito com Niño
Josele, uma das sensações do flamenco. Cantado em inglês, espanhol e português, o disco flui desde o primeiro tema. Quanto à opção por alguns ritmos brasileiros, Esperanza confessa: “Tenho reparado que o tema «Ponta de Areia», por exemplo, tem um grande impacto junto das pessoas. Escolhi-o porque tornaria o meu disco memorável e mais acessível a todo o tipo de pessoas. Além de que a melodia encerra um elemento da música brasileira que mais admiro: a inocência dentro da sofisticação. A música brasileira é definitivamente uma referência para mim, como muitos outros estilos.” «Esperanza» foi lançado em Cd e vinil. Os temas passam nas noites mágicas do Jazz Cafe de Londres e em programas de rádio do mundo. Peças delicatessen para Dj’s de música negra, melómanos e apreciadores de “música fina”.
Sophisticated Lady Esperanza spalding Esperanza Spalding é daqueles fenómenos que só acontecem de vez em quando. Ingressou na Berklee aos 17 anos, pouco depois foi convidada para aí dar aulas e depressa surgiu um grande “buzz” à sua volta. Lisboa recebe-a num concerto de apresentação de «Esperanza», segundo disco a solo. O meio jazzístico está rendido. Dia 1 de Fevereiro CCB www.esperanzaspalding.com www.myspace.com/esperanzaspalding
English version 80
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texto: helder viana
Em «Skeletal Lamping» voltam novamente as músicas Indie com grande influência do pop psicadélico dos sixties, agora com mais funk e despidas de preconceitos musicais. O álbum é ainda mais dançável que o anterior. Nota-se a presença de Georgie Fruit, alter-ego de Kevin Barnes (espécie de Ziggy Stardust dos dias de hoje), com um papel preponderante na trajectória do álbum. Há sempre uma nova roupagem em cada tema, como se a ideia principal fosse remetida para segundo plano surgindo de forma preponderante um alinhamento novo, dando espaço a uma espécie de bipolarização musical. A alegria do tema «Gallery Piece» é um bom chamariz, puxa‑nos para a pista de dança e faz‑nos marcar o tempo, imprimindo uma jovialidade rítmica que persiste em não nos largar. No entanto, a apoteose fica reservada para o final, em «Id Engager». Sem dúvida o ponto alto deste novo trabalho de Of Montreal, onde melhor conseguiram conciliar a dinâmica musical do álbum.
«Wicked Wisdom» é igualmente um óptimo tema, que recai para o hip-hop, onde nos é contada a história de Georgie Fruit e suas mudanças de sexo. Neste segundo tema, Barnes revela: “I’m just a black shemale...” e expõe assim a historia do seu alter-ego, um homem afro-americano de 40 e poucos anos que já passou por várias mudanças de sexo, de homem para mulher e vive-versa, assim como as histórias de prisão e a passagem por uma banda funk durante a década de 70. A espectacular voz de Kevin Barnes e uma guitarra tímida e sincopada – que nos transporta para fora da realidade num misto de psicadelismo e sobriedade – cura-nos do rocambolesco em «Plastis Wafer». É uma música marcante tanto pelo lirismo como pela simplicidade, combinando teclados espaciais com um grande beat. Este álbum não se afasta muito da linha mestra dos restantes trabalhos de Of Montreal, tornando-o, na nossa opinião, num disco a não perder. «Skeletal Lamping» traz ainda outros pontos de interesse que prometem fazer as delícias dos fãs, uma vez que a edição existe em CD, LP e digital, acompanhada de t-shirt, saco, pin, poster ou mesmo um candeeiro de papel. A artwork deste disco (e dos anteriores) é da responsabilidade de David Barnes, irmão do vocalista. Volta a imprimir‑lhe uma atmosfera arty, já característica da banda.
skeletal lamping of montreal
Entre digressões, ensaios e sessões de maquilhagem, a banda de Kevin Barnes conseguiu materializar um novo álbum e, talvez por isto, «Skeletal Lamping» tenha uma ou várias costelas de «Hissing Fauna, Are you the Destroyer?», lançado um ano antes. www.myspace.com/ofmontreal
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texto: rui miguel abreu
Por isso tudo, «Dancehall – The Rise of Jamaican Dancehall Culture», de Beth Lesser, é um impressionante documento que transporta para o presente de forma vívida uma época menos conhecida da história musical da Jamaica, quando ainda se lidava com os efeitos da morte de Marley e a cultura ragga ainda não tinha gerado mega-êxitos mundiais no início dos anos 90. Com passaporte canadiano – sendo que o Canadá é outro importante destino da diáspora jamaicana, veja-se a série de edições «From Jamaica to Toronto» da Light In The Attic – Beth Lesser viajou com frequência para a ilha das Caraíbas com o seu marido, para fotografar os protagonistas da cena musical local para o seu fanzine Reggae Quarterly. A sua dedicação e amor genuíno pela cultura serviram-lhe de salvo-conduto e ofereceram‑lhe a rara oportunidade de captar estrelas de diversas dimensões no seu dia-a-dia, longe dos filtros impostos pelas editoras: Gregory Isaacs em frente da sua loja de discos, African Museum, Papa Screw a ouvir discos, Cocoa Tea encostado a um velho carro num dos notórios becos de Kingston, um jovem Tenor Saw (a voz do enorme «Ring The Alarm») no Youth Promotion Center. A lista continua, é imensa e reveladora. As fotos de Beth Lesser têm a extrema qualidade de atentar tanto às personagens que colocam em primeiro plano, como ao cenário que as enquadra, quase sempre feito de velhas tábuas, redes de capoeira e edifícios decrépitos. É importante perceber que este foi o ambiente que gerou uma cultura que hoje marca milhões por todo o mundo. As cores vívidas das fotos, das roupas e das pinturas que adornam muitas paredes são um eco do profundo positivismo jamaicano, uma marca da sua cultura singular.
Embora seja uma festa para os olhos, «Dancehall» não é um livro só para ver: os textos de Lesser enquadram a acção captada em película, vão fundo na análise histórica e social de uma época muito particular para a cultura jamaicana. Estas fotos situam-se na mesma década de 80 que haveria de consagrar os desenvolvimentos criados na ilha – os «dubs» nos lados B dos maxis de house, as «extended versions», o hip-hop, a paixão pelos graves e a ascensão dos produtores como magos de estúdio. Uma década que na Jamaica impôs códigos visuais diferentes, longe dos 80 americanos de «Regresso ao Futuro», dos jogos de arcada e da explosão do walkman. E, como não podia deixar de ser, ou não se tratasse de mais uma conseguida aventura da Soul Jazz pelos domínios dos livros (depois de «New York Noise»), existe uma excelente compilação que pode – e deve – servir de banda sonora à leitura. O duplo CD inclui Yellowman, Tenor Saw, Chaka Demus & Pliers, Ini Kamoze, Cutty Ranks, Clint Eastwood (o outro…), Sister Nancy ou Eek a Mouse numa excelente selecção que nos mostra os melhores toasters de uma década em que a música jamaicana se transformou, mercê da adopção das possibilidades electrónicas de produção que então se vulgarizaram. Como sempre aconteceu quando o palco da música era a Jamaica, essas transformações tiveram aí efeitos únicos e irrepetíveis. Como resultado, o dancehall criado nesse tempo ainda hoje influencia destinos na música – do hip-hop ao mais vanguardista dubstep. Estes são os retratos dessa grande invenção cultural.
dancehall
the rise of jamaican dancehall culture Joe lickshot com prince jazzbo e o filho no olympic way
Sob determinados aspectos, o mundo só agora está a acordar para a vibrante música que existe nas margens dos grandes centros exportadores de pop. O kuduro, o reggaeton ou o baile-funk são significativos, representantes de uma nova era em que o eixo que define os rumos da pop – estabelecido entre os Estados Unidos e Inglaterra – mostra-se por fim permeável ao que outros países têm para dizer.
photograph copyright beth lesser. courtesy of soul jazz records publishing.
O caso jamaicano, no entanto, foi sempre particular: depois de Bob Marley ter emergido como uma estrela na década de 70, embora com o seu som “amaciado” para os ouvidos ocidentais em estúdios de Londres, a cultura de sound systems da Jamaica impôs-se como uma espécie de farol criativo, informando desenvolvimentos tão importantes como a cultura de Djs que hoje gera super-estrelas, a arte da remistura, o estúdio como instrumento e a ideia de que um gira-discos e um microfone podem ser ferramentas suficientes para conquistar o mundo – não esquecer que Kool Herc, pioneiro do hip-hop, era jamaicano. Mas se a “ética” musical jamaicana influenciou destinos musicais por todo o mundo, isso não significa que o mundo conheça ou entenda de forma profunda o que é a Jamaica. Questões culturais, económicas, políticas e sociais muito complexas abriram parte da orla costeira ao mercado turístico, mas mantiveram o resto da ilha refém de uma intensa actividade criminal e por isso fechada aos olhos ocidentais. O canadiano Ryan Moore, que opera a partir da Holanda como Twilight Circus, ainda recentemente confessava à revista britânica Woofah (leitura fundamental para todos os que tiverem um interesse sério na música mais comprometida com sub-graves) os dissabores da sua aventura jamaicana, que envolveram, claro está, muitas armas. A Jamaica encontra-se por isso na delicada posição de um país que gera uma cultura que muitos amam, mas que possui um território que poucos conhecem.
Nitty gritty no jimmy's yard
a carregar o camião jammy fora do estúdio
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texto: francisco vaz fernandes
Masaru Tatsuki Se uma luz fria de néon atravessar uma auto-estrada do Japão isso é Decotora, uma abreviatura para camião decorado. Este fenómeno luminoso e brilhante da cultura japonesa remete para a estética de um parque de diversões. Similar ao do centro urbano de Tóquio (especialmente a zona de Shibuya, o seu bairro mais comercial) onde os neons sobrepõem-se de forma gritante. As decorações dos camiões são reflexo do gosto da sociedade japonesa pelo brilho e pelo rápido. Masaru Tatsuki, o autor desta série de fotografias, demorou dez anos a concluir o projecto. Só recentemente veio a público, a partir de um catálogo da editora japonesa Litle More.
O gosto pela fotografia para este ex-estudante de cinema começou quando descobriu um álbum fotográfico de uma excêntrica comunidade de cowboys no México. A partir desse momento o seu desejo foi trabalhar sobre um grupo mais ou menos homogéneo e conhecer pessoas. O interesse por Decotora começou um pouco por acaso quando, no verão de 1998, foi ultrapassado por um destes camiões e resolveu segui-lo até um destino surpreendente onde o esperavam cerca de100 camiões iguais. Intrometer-se na vida destes camionistas, orgulhosos e solitários, com valores muito próprios, foi um processo demorado. A aceitação dentro da comunidade foi sendo conquistada com os resultados das primeiras fotos que punha em evidência aquilo que mais valorizavam na vida, os seus camiões. Depois disto, restava uma luta pessoal para chegar a uma fotografia mais do que documental, até conseguir num retrato de um camião que incorporasse os sentimentos de solidão e introversão que cada dos proprietários vive diariamente.
www.litlemore.co.jp
“Decotora – Japanese Art Truck Scene” de Masaru Tatsuki
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“Decotora – Japanese Art Truck Scene” de Masaru Tatsuki
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“Decotora – Japanese Art Truck Scene” de Masaru Tatsuki
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texto: carla isidoro
O que é que lhe atrai no mundo do crime? Confesso que tenho uma fascinação pelo mundo do crime. A transgressão atrai-me. Foi um adolescente transgressor? Era muito transgressor…e acho que ainda continuo a ser. Aquele limite entre o que é e não é permitido atrai-me muito. Sou anarquista por natureza. A autoridade é coisa que me chateia, mas sei que tem que existir. Sei que a utopia da anarquia é…Só quando o Homem mudar de mentalidade é que ela poderá acontecer, é com a mentalidade que vai mudar. Aí as pessoas não transgridem porque sabem que não devem, não pelo medo de serem penalizadas. A natureza humana permite isso? Não sei. É uma sociedade perfeita, utópica, não sei se algum dia irá acontecer. Até lá é utopia pura. Mas a autoridade é coisa que me irrita. Acho que o nosso código penal é de um laxismo total, estamos sempre a proteger o infractor. Mas tem um fascínio pelo lado do criminoso … Não pelo criminoso em si, mas pelo bas-fond das coisas. O meu filme trata da ética entre os criminosos. Há uns que a têm e outros que não. E acho que isso é possível acontecer. Há um voyerismo em mim para estas coisas.
Perguntei-lhe sobre o fascínio pelo crime porque já fez de vilão várias vezes e no «Contrato» faz de Georgius Thanatos , que me pareceu de alguma forma inspirado no Marlon Brando d’ «O Padrinho». O Marlon Brando inspira‑me sempre porque é um dos maiores actores de todos os tempos, mas não me inspirei propriamente nele. O padrinho era um homem muito mais soturno, com família. O Georgius era um solitário, estava perfeitamente sozinho. A linguagem que usa no filme é televisiva. Não, é uma linguagem cinematográfica. parece-me perfeitamente televisiva. É altamente cinematográfica. O ritmo de cinema está a aumentar, estamos a falar de um filme mainstream. Este tipo de filmes, que têm a ver com violência, são necessariamente feitos assim. Começo por dizer que gosto deste ritmo, ele tem que me prender a atenção. Fala de ritmo porque ele é um filme de acção. Mas não é aí que se reconhece a linguagem televisiva. Não tem a ver com ritmo , porque naturalmente há cinema de acção. Tem a ver com a edição e a forma como se capta o momento. A fronteira entre linguagem televisiva e cinematográfica é cada vez mais ténue. Repare, os grandes actores estão a passar em séries de televisão…a televisão é o mainstream em todo o mundo e realmente cada vez mais se começam a aproximar.
A sua ideia era fazer um filme comercial? Completamente. A quem é que quer chegar? Ao maior número de pessoas possível. Se for um filme transversal, que chegue às pessoas que vão dos 17 aos 70 anos. Seria perfeito. Acho que temos de criar uma indústria de cinema em Portugal, não podemos ficar só com o cinema de autor. Quem paga o cinema é o povo, por isso ele tem que ser feito para o povo. Há espaço para todos. Ia falar nisso. Há grandes filmes que não são comerciais, como há filmes com muito público que são comerciais. Isto é o ideal. Quando vê um filme como o «Mystic River» ou o «One million dollar baby», que é comercial e ao mesmo tempo um grande filme, é óptimo. Não tenho nada contra o outro tipo de cinema, mas neste momento não quero fazê-lo. Agora não quero começar por aí..Um dia farei um filme para meu gozo pessoal. Se as pessoas gostarem muito bem, mas se não gostarem direi “pronto, também tenho o direito de gozar um bocadinho.”
vai continuar a fazer cinema para pôr os seus filmes lá fora? Claro que sim. Tem esse objectivo com o «Contrato»? Com o «Contrato» não sei. Temos que fazer filmes em inglês e deixarmo-nos deste patriotismo…que já nem é patriotismo, é uma patriotice. Como é que se resolve a distribuição internacional? Há formas de resolver isso fazendo co-produções, trazendo actores estrangeiros que possam fazer vender o filme no estrangeiro…Há várias maneiras, assim tivéssemos um Estado que protegesse o cinema. É escandaloso aquilo que o Estado português não faz para promover o cinema. Os fenómenos Almodóvar, que é um grande realizador, acontecem porque o Estado promove o cinema no estrangeiro.
É um problema do velho continente. Não está a saber renovar-se. Tem que sair deste marasmo. Voltando ao «Contrato» , a personagem do Thanatos foi criada para o filme? Não, a personagem existe na história do Dinis Machado. Que coisas mudou da história original? Tanta coisa. Acrescentou personagens? Acrescentei, a Cláudia Vieira. No livro não havia a enfermeira? Havia outro papel. Reduzi os papéis e passei a história para a realidade de hoje. Uma história óptima que é ‘matas-me mas vou-te contratar pra matares o gajo que me mandou matar’. Acho que é de um humor espantoso.
E que nome , ou nomes , temos que pudessem saltar lá para fora? Não era um, eram muitos…
O Leonel Vieira? O Leonel, o António Pedro Vasconcelos… são gajos open-minded, com visão. O «Second Life» , onde tem um papel, foi pensado nesse sentido? Sim, é todo falado em inglês. Penso que a intenção do Alexandre Valente é vendê-lo, e muito bem. O Leonel Vieira está a rodar uma série em Espanha em co-produção. Esta é a maneira de chegarmos lá fora, temos que largar este cantinho. Portugal é curto, não chega. Esta malta nova quer mais. O cinema europeu cometeu harikiri por causa do cinema de autor. Tudo o que fosse um plano parado de 15 minutos com duas pessoas a conversar era óptimo. Uma mulher a correr para o mar durante duas horas era óptimo. O cinema europeu suicidou-se.
imagens do filme "Contrato"
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que os puristas sentem necessidade. Confesso que não sinto essa necessidade, nasci com o vídeo, para mim é mais fácil de manejar, tem melhor imagem… uma série de coisas. Tem um filme da sua vida? Tenho vários…«Era uma vez na América», o «Mystic River», «O Padrinho»…dois ou três filmes do Totó… gosto muito do Nikita Mikhalkov…o Clint Eastwood é muito bom. Fascina-me o cinema todo, todo. prefere o cinema americano? Sempre fui apreciador de cinema americano. O que é que se aprende sendo actor por vários anos quando depois se pega na câmara? Você tem essa dualidade , conhece bem os dois campos. É quase uma tendência natural. Há muitos realizadores que não gostam dos actores. Não gostam. O actor é um empecilho que está ali, é uma chatice. Mas o cinema é uma história. ‘Era uma vez’ é o cinema…e quem conta a história são os actores e o realizador. A coisa que mais me interessa é a história, o resto são meios que estão à minha disposição para contar a história. Gosto de trabalhar com actores, eu sou actor. O Mel Brooks era actor, o Clint Eastwood… É natural que um actor queira ser realizador. Porque é que só agora fez cinema? Só agora tive financiamento.
Além do Pedro Costa , que já o conseguiu dentro de um circuito mais restrito. Eu não gosto do cinema do Pedro Costa. Estou a falar de mainstream, sempre.
nicolau breyner Está num ano de graça. Arranca 2009 com «Contrato», o seu primeiro filme, nas salas de cinema. Como actor já fez de tudo, faltava-lhe realizar um filme. Cantou no Festival da Canção em 1968, apaixonouse por teatro de drama, fez anos de comédia em televisão, realizou séries e novelas. No «Contrato» sente-se a linguagem de vídeo que conhece há décadas, embora diga, de pés fincados, que não é verdade. Nicolau Breyner falou connosco confortavelmente na sua casa.
Acha que o cinema de autor é para aquele que o faz? Há ali um certo onanismo. É um cinema que se faz muito mais pra nós do que para os outros. Não é uma crítica, é uma constatação de um facto.
Já tinha tentado? Já tinha várias vezes, com outros filmes.
Há quanto tempo começou a trabalhar no filme? Há alguns anos. Mas comecei a trabalhar a sério há 1 ano e meio. Ainda o Pedro Bandeira Freire estava vivo. Ele ainda assistiu a gravações. Vocês eram muito próximos , da mesma geração. Ia às sessões de cinema do Quarteto? Então não ia? Fui à inauguração do Quarteto. Que filmes importantes lá viu pela 1ª vez? Tantos, nem sei. Já vi tantos filmes na minha vida. Sou um cinéfilo compulsivo. Passei tudo…o cinema italiano, os Cahiers do Cinema, os Truffauds, os americanos todos, tudo…vi lá tudo e mais um par de botas. Lembro-me de ver cinco sessões seguidas no Quarteto. Na altura o Bandeira Freire foi um bocadinho visionário … Completamente, ele ia a todos os festivais de cinema no mundo. Era notável aquilo tudo. Vou contarlhe uma história. Eu nasci em Serpa, no Alentejo, e Serpa tinha um cinema-esplanada, era uma coisa comum na província. As famílias, cada uma tinha a sua mesa e a dos meus pais e avós era quase colada à cabine de projecção. Quando chegava a meados ou finais de Setembro começavam as noites a estar frias, o meu avô metia-me na cabine de projecção. É por isso que o «Cinema Paraíso» é tão bonito para mim. Uma das coisas de que me lembro era o cheiro do celulóide na máquina, o barulho e o cheiro do celulóide. Adorava aquele cheiro. Falei uma vez com o Pedro sobre isto…o cheiro…é disto
Já divulgou que o seu próximo filme , também em parceria com a Tvi , vai ser uma comédia. Porque não começou logo pela comédia? Tem experiência neste género. A comédia é a coisa mais difícil que há de realizar. Primeiro quis tomar o pulso ao cinema e agora sim, vamos à comédia. Como é que ocupa os tempos livres? Quais tempos livres? Estar em casa, é a coisa de que mais gosto. Gosto de estar com a minha família, gosto de ler, ver cinema. Passamos noites aqui a ver cinema. Não vai ao cinema? Vou, mas vou pouco. O cinema visto no cinema é outra coisa. Mas isto de fazerem salas para 200 pessoas desmotiva qualquer um. E as pipocas, a pipoca é a pior invenção do mundo. É abominável. Os americanos estão agora a recuperar as antigas salas de dois mil lugares porque chegaram à conclusão que as pessoas só vão ao cinema se for num ecrã do caraças. Senão não vale a pena, vêem nos plasmas em casa com som surround. Serpa e o Alentejo são escapes para si? São sempre escapes. Sou um alentejano de gema, não me sinto identificado com outro sítio que não seja o Alentejo. O que é que ele tem de especial para ser filmado e ser um cenário? Uma das coisas não pode ser filmada, é o cheiro. O cheiro do Alentejo é único, não há outro.
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texto: Jorge Lemos Peixoto / Ilustração: © elmac.net
O que é na realidade Barack Obama? Um homem que entrou na história dos Estados Unidos. Ao contrário do que muitos pensavam, não foi Colin Powell do Partido Republicano, mas o até há pouco desconhecido senador do Illinois quem acabou por ser o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos da América. Há 40 anos (tinha Obama sete), em muitas zonas dos Estados Unidos o actual Presidente não podia viajar nos lugares da frente dos autocarros, não podia sentar-se em todos os bancos dos jardins, não podia beber água em todos bebedouros públicos nem entrar em certos locais públicos. Hoje, Barack Hussein Obama é o 44º. Presidente desse mesmo país. Há 40 anos, a 4 de Abril de 1968, morria o homem que sonhou com uma América diferente. E se Martin Luther King proclamou em Washington, em Agosto de 1963 perante uma multidão de meio milhão de pessoas; “I have a dream”, Obama proclamou, nessa mesma cidade, em Janeiro de 2009, o fim desse sonho e o começo de uma outra realidade. “Not black enough”. Mas qual o interesse de ser “black enough”? Será que os negros americanos precisam de ser mais negros? Afinal o segregacionista não é só o americano boçal, saudosista da escravatura e simpatizante dos criminosos embuçados do Klan? O segregacionista também pode ser o que proclama com um néscio despeito “not black enough”?
Se ainda há esperança no Mundo – e a eleição de Obama parece confirmá-la – é que, parodiando a sério um conhecido spot comercial, o segredo não está na cor, o segredo está no “mix”. Não é em África, não é na Ásia e muito menos na Europa (tão auto– elogiada pelos seus valores humanistas) que a revolução das mentalidades se está a operar. É precisamente nos Estados Unidos, na nação que também elegeu (foi apenas há 4 anos lembram-se?) George W. Bush, que os valores já intitulados de pós étnicos estão a vingar. Acima de tudo é uma ascensão social. Obama é de uma classe emergente, num mundo de novas emergências e a América vive de ícones, de imagens exportáveis. Teve o aristocrata branco John F. Kennedy, descendente de irlandeses, católico, num país de protestantes, e agora tem um aristocrata mulato. Um foi exportável e ganhou a Europa e o mundo ao iniciar a governação por grandes frases (ich bin ein berliner – proclamou perante o muro que anos a fio envergonhou a Europa); o outro já é uma marca de sucesso e também já tem assinatura do seu spot “we can”. A América vinda dos escombros está relançada. Obama desafiou a lógica. De ascendência negra, mas educado por brancos e com vivência no Oriente, cedo percebeu que os estreitos muros da dicotomia do preto/branco são apenas o credo dos dogmáticos. Venceu as eleições e recolheu cerca de 50% dos votos da população branca. “Not black enough” dirão os sectários do nazismo negróide. Pois é, mas os Estados Unidos só têm 13% de negros e essa realidade é que torna esta eleição histórica, porque diferente. Em que país da Europa, mesmo dos que se proclamem paladinos da integração, vai existir um primeiro-ministro ou um presidente negro? E em África, como disse Mia Couto, quando haverá um presidente branco? Já houve, dirão alguns, mas deixaram má memória. É certo, mas não são as novas sociedades paradigmas da igualdade? E os que agora existem vão deixar boa memória?
Obama parece representar uma nova geração. É cool, já definiram alguns. Tem estilo, usa Macintosh… é cool! Parece pouco, mas é o que serviu para romper barreiras que se julgavam inamovíveis. Para muitos já é um novo ícone. Vivemos de imagens. Já estávamos fartos das que existiam. Fizemos um refresh. Os modelos foleiros tipo Hugo Chavez (uma imitação em estilo Bataton de Fidel Castro) terão os dias contados? E aquela malta do lenço palestiniano – o keffiyeh – os Arafats da pacotilha, também vão aderir ao cool? E os que julgam que os Estados Unidos elegeram uma espécie de Bob Marley, filho de um queniano e de uma americana hippy? Será que vão continuar a julgá-lo na base dessas fantasias? Quem sabe… Até pode ser que o mundo não esteja afinal tão perdido. A realidade da crise que já é mediática, mas que não tarda a ser dura e crua, é que vai moldar o novo estilo. Obama parece ser o homem certo. Tem tudo para que os Estados reinventarem um novo estilo de vida. No plano internacional, o elan vai ser radicalmente diferente, mas não no sentido que a chamada intelectualidade “fast food” desejaria. No Médio Oriente, os melhores aliados dos Estados Unidos (e de Obama) já lhe fizeram um primeiro favor, em tempo útil, e recentraram o problema da guerra e da paz nos seus exactos termos. Álea jacta est… diria o outro, sempre alegremente citado por Astérix e Obélix. It’s Obama show time, digo eu, recordando Jacques Séguéla que em 1989 disse numa conferência, em Lisboa, que o futuro iria voltar a ser do conteúdo em detrimento da forma. Afinal o mundo pode não estar perdido.
Afinal o Mundo pode não estar perdido barack obama Not black enough. Esta crítica foi lançada a Obama quando perdeu as eleições para o Congresso. Será que o Presidente americano precisa de ser mais negro?
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texto: Francisco Vaz Fernandes
O valor da arte é, geralmente, um dos menos voláteis, ou pelo menos assim se pensava com base no conhecimento de muitos analistas que apontavam esses bens como investimentos seguros. Sucessivos estudos provaram que as suas mais-valias eram superiores às obtidas nas transacções das bolsas, contribuindo assim para que uma incerteza tenha virado uma verdade fossilizada. Foi fácil encontrar e convencer as fortunas disponíveis a depositarem em fundos de arte em troca de futuros benefícios elevados. Aparentemente, tudo era feito com grande sentido de responsabilidade, com muitos especialistas a manobrarem o mercado para garantirem que investiam em obras cotadas que num curto espaço de tempo valeriam o dobro. Coleccionismo e investimento tornavam-se indissociáveis, especialmente em Nova Iorque que se convertia no epicentro do florescente mercado de arte contemporânea sediado em Chelsea, um bairro em grandes remodelações –em que época?? O grande número de transacções que aí se praticavam permitiu alimentar um crescente número de dealers de arte e de jovens artistas que por sua vez impulsionavam o aparecimento de um maior número de especuladores, curadores e centros de arte numa escala que se tornava cada vez mais global. A introdução de artistas, dealers e coleccionadores dos ditos países emergentes contribuíram para a expansão do mercado e globalização, e tudo isto reflectia‑se no crescimento paradoxal de Chelsea. Após a crise imobiliária norte-americana, a queda do Lehman Brothers, os consequentes sinais da falência do sistema financeiro, o mercado de arte olhou com perplexidade para o tsunami que se adivinhava, especulando-se até que ponto iria resistir ao impacto. Os primeiros sinais seriam, no mínimo, contraditórios. Enquanto se estudava o efeito do Lehman Brothers no sistema financeiro mundial, Damien Hirst conseguia vender num leilão toda a sua obra mais recente – por valores invejáveis – sem ter que passar por uma galeria. Por outro lado, sem o mediatismo em torno de Hirst, um auto-retrato de Francis Bacon considerado uma obra muito apetecível, não encontrou comprador num leilão organizado pela Christies em Nova Iorque em Novembro. No rescaldo da má sucedida operação, Christopher Burge da Christies de Nova Iorque, era categórico em afirmar no New York Times que este é um período excepcional permitindo libertar peças raras que de outra forma seriam impossíveis de encontrar no mercado. Aguardase com expectativa o anunciado leilão da colecção de Yves Saint-Laurent no final de Fevereiro e veremos se a aura que a rodeia será suficiente para o salvar de um igual fracasso. Ou seja, estar no mercado hoje é uma prova de fogo para quem quer saber o seu real valor. Há quem não arrisque, que o diga Takashi Murakami, verdadeira estrela pop que cancelou um leilão na Sothebys que se preparava há mais de um ano só com obras suas. Num mercado tão dependente dos humores um fracasso representaria uma possível quebra abrupta da sua cotação no mercado.
Dealers e artistas , novos paradoxos O lucrativo negócio de arte implica actualmente um maior investimento caso os seus dealers queiram manter uma posição de preponderância no mercado global. É-lhes exigido terem uma galeria ou escritório em vários pontos do mundo desde que estejam em Nova Iorque. Este facto não é dissociado da cotação alcançada por artistas de topo. As galerias bem estabelecidas nos principais mercados de arte como Paris, Londres, Zurique ou Colónia tiveram que alargar fronteiras para garantir a escalada de preços. Estar nas principais feiras não é suficiente, tornava-se necessário estar presente em continuidade num mercado forte e Nova Iorque foi sem dúvida a primeira escolha para muitos dealers. A galeria parisiense Yvon Lambert, que já expunha estrelas americanas como Nan Goldin ou Andreas Serrano, é um desses exemplos. Para Yvon Lambert abrir um novo espaço em Chelsea foi uma forma de expandir o projecto e assegurar que artistas tão importantes não fugissem para outras galerias. A concorrência vem de todo o lado e é necessário contar com as florescentes economias emergentes como Rússia, América Latina e Ásia. Estes mercados emergentes têm sido vistos com bóias de salvação, só que agora resta saber se com a actual crise financeira a sedução oriental levará muitas dessas galerias rumo a um qualquer ponto na Ásia.
mercado de arte arTe sem fundos
A falta de procura, a descida do preço das obras-de-arte e o encerramento de galerias fizeram com que os últimos meses fossem tenebrosos para Chelsea, um bairro novaiorquino que durante dez anos ininterruptos viu crescer o número de galerias de arte contemporânea. Hoje muitos dos seus clientes gostariam de saber qual o valor real dos seus investimentos em arte.
A actual crise económica põe em risco a carreira de gerações de jovens artistas que foram promovidos em catadupa e cujo valor das obras foi inflacionado. O processo tem consequências no decurso da expansão do mercado que absorveu uma grande quantidade de jovens artistas, assim como de agentes envolvidos no negócio da arte. A par da globalização, a expansão era justamente uma das premissas em que assentava a fiabilidade do mercado de arte. A procura insistente de recém formados e a sua promoção foi uma regra legitimada por todo o sistema. Uma grande parte da conta corrente das galerias com poucos anos no mercado faz-se pelas vendas dos jovens artistas. Os museus e as suas colecções, com a perda sistemática de poder aquisitivo, programaram exposições temporárias com artistas emergentes que não obrigam a grandes investimentos de produção. Também as bienais de arte que proliferaram para preencher lacunas culturais de muitas cidades só puderam existir à custa de um contínuo número de jovens artistas. Consequentemente os considerados artistas do momento viram os seus preços disparar e foram os mais apetecidos pelos fundos de artes e por todas as colecções à procura de lucros vertiginosos. Nesse momento, ninguém questionou se a escalada de valores seria para sempre. Há muito que se vinha denunciando o perigo desse tipo de fundos e o trabalho desenvolvido por alguns agentes que desvirtuavam as regras do mercado ao comprar exposições inteiras contribuindo para os preços inflacionados. É o caso de Peter Doig, pintor escocês que foi comprado compulsivamente por Charles Saatchi e pelo Museum of Modern Art de Nova Iorque. Para adquirir uma obra deste artista era preciso estar em lista de espera, o que fazia com que as suas obras fossem raras e caras. O industrial georgiano Boris Ivanishvili comprou na Sothebys, em Fevereiro de 2008, uma tela do artista dos anos 90 por 11.4 milhões de dólares, sendo Doig um dos artistas vivos mais valorizado. Num recente leilão da Christies uma obra de Doig que foi à praça por 5.5 milhões de Dólares, mas mesmo por metade do preço talvez tivesse dificuldade em encontrar um comprador. Se bem que este é um momento em que se pensa no real valor da arte e nos seus critérios de valorização, o certo é que esta instabilidade não é valida para todos os artistas, principalmente para os consagrados, até porque continua a existir um certo tipo de coleccionador apaixonado. Altos e baixos no mercado sempre existiram e os verdadeiros coleccionadores apenas encontraram uma desculpa para adiar o seu impulso de compra. Muitos dos ditos artistas do momento, aqueles que tiveram os seus preços inflacionados, correm o risco de valerem zero. Faz-nos pensar que muitos dos fundos de arte mais recentes possam igualmente valer zero.
”Night of the fires” de Gary Simmons na Metro Pictures
www. metropicturesgallery.com
Instalação Olivier Blanckart, na PPOW Gallery
www.ppowgallery.com
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texto: John Finlay
Para um artista que passou mais de uma década a produzir retratos de pessoas famosas como Dalai Lama, a série «American Executions» mostra uma volta de 360 graus na carreira de um retratista. Essa ruptura coincidiu com um interesse de Robert Priseman em retratar paisagens sem a presença humana. A partir de 2003, quando deixou de aceitar encomendas, começou a interessar-se por espaços desabitados que o levariam a pintar uma série de cenas de hospitais e subterrâneos. Mais tarde são os espaços domésticos banais que estão em foco reunidos num conjunto conhecido por “Francis Bacon Interiores”. A partir daí ele passou para uma série de gravuras baseada em cenas de execução – tema que depois foi retomado em telas intituladas «American Executions», entre 2006 e 2007. Em todo este percurso a figura humana começou a desaparecer e os espaços pintados começaram a ficar cada vez mais vazios. “Comecei a pintar interiores porque dão perspectivas mais intensas dos lugares.” O artista elabora um conceito muito antigo do corpo ou retrato deslocado. A essência da sua pintura é um espaço arquitectónico (de forma definida e perturbadora) onde corpos humanos são tratados e os extremos da emoção humana justapostos na atmosfera estéril, vazia e fria de um ambiente de hospital. Estas obras são um substituto para o corpo ou para a psique humana. Tema presente em todos os interiores pintados de Priseman, onde há uma certa tradição de pintura de retrato que não inclui a figura humana. Estou a pensar nas botas de Van Gogh que pertenciam ao artista e que por isso funcionavam como um retrato. O mesmo podemos dizer da pintura do seu próprio quarto.” As pinturas Priseman não são sempre o que parecem. Por exemplo, o seu quadro «Turn of the Key» da série «Francis Bacon Interiors» retrata as escadas banais de um prédio sem aparente significado. No entanto, são as escadas do Hotel des Saints-Péres em Paris onde o namorado de Francis Bacon, Georg Dryer, se suicidou. O que fica registado no quadro não é o fim trágico em todo o seu desespero. A luz estranha que sai do quarto, a perspectiva distorcida das escadas, o corrimão curvo, são detalhes que contribuem para a construção de uma sensação de inquietude. Apesar do local ser pintado com muito detalhe, especialmente os elementos arquitectónicos da escada, percebemos que o artista está a eliminar pormenores extra a todo o ambiente. Há um vazio nesse espaço interior de Priseman que paradoxalmente dá uma presença à escadaria. Embora alguns detalhes tenham sido iluminados, do espaço permanecem traços residuais negativos.
Os interiores podem estar inseridos numa certa tradição desenvolvida por surrealistas como Giorgio de Chirico and René Magritte que tentaram criar retratos psicológicos de indivíduos ou de lugares, construídos a partir do mundo visível. São as questões da psique que fazem uma ligação da obra de Priseman a esses surrealistas. O espaço interior e os objectos são incluídos para representar relações psicológicas intrínsecas. “As imagens que eu pinto mostram nada mais do que as figuras do mundo visível, organizadas dentro de uma certa ordem que corresponde ao nosso interesse pelo desconhecido.” A série «Américan Execution» resiste à tentação de aplicar figuras gritantes ou imagens brutais, como acontece em Francis Bacon – artista que Priseman estudou até à exaustão para realizar a série «Francis Bacon Interiors». É fácil ver nessa nova série as referências ao artista inglês. Podemos presumir que Priseman partilha da visão opressiva de Bacon. “De 2005 a 2006 estive a trabalhar na série Francis Bacon Interiors que na sua evolução conduziu-me ao tema das execuções. Quis desenvolver o tema num contexto mais amplo através da realização de desenhos que retratavam métodos modernos de execução usados nos séculos XX e XXI.” Durante o processo esta matéria que tinha em mãos tornou-se cada vez mais perturbadora e por isso Priseman optou pelo recurso a fotografias encontradas que eram reproduzidas fielmente para as suas pinturas sem criar grande especulação. No seu entender a reprodução fotográfica permitia que o artista se sentisse dissociado do tema retratado. Conseguia um efeito de distância emocional assim como um maior contraste com a brutalidade dos actos implícitos.
retrato de uma execução
«Hanging Chamber» é uma espécie de autópsia dos conteúdos de uma sala de enforcamento. Há ganchos, alçapões, vigias e botões de programação que explicitam que aquilo é um local para castigo e morte. Apesar do tempo e da distância, há no entanto pormenores que tornam as cenas perturbadoras para quem as vê. O equipamento tem detalhes primorosos que se tornam anormais. Priseman observou: “quando o objectivo é executar um indivíduo, porque haveria alguém que querer incluir um colchão ou cabedal almofadado para o condenado notar estes detalhes de conforto derradeiro?”. Também fica impressionado com o nível de engenho usado para matar pessoas. Algumas pessoas podem pensar que ao trabalhar e expor esses temas mostram pouca sensibilidade perante a questão da condenação à morte. Mas como estas pinturas mostram, matar alguém envolve um processo muito elaborado e detalhado que ajuda a absolver aqueles que estão envolvidos no processo da execução. «Hanging Chamber» não mostra explicitamente as coisas necessárias para matar. Não há cadafalso, algemas, arestos, capuz para tapar a cabeça do condenado, mas sim o buraco escuro do alçapão, a sombra do ritual no processo de enforcamento e dejecção do condenado. Um dos trabalhos desta série, «Electric Chair», traznos inevitavelmente a um dos trabalhos icónicos de Andy Warhol. Apesar da proximidade do tema retratado verificam-se diferenças de posicionamento entre ambos. Nas imagens de Warhol sente-se que o artista condena a sentença de morte. O prisioneiro aparece em primeiro plano na posição de vítima enquanto a cadeira surge em segundo plano sem o mesmo protagonismo. Na série «American Executions» Prieseman não toma uma posição explícita. A sua posição não é pró nem contra uma sentença de morte judicial. Os seus trabalhos concentram-se na objectividade do processo sem os mistificar. O tema explora os lugares da execução e o processamento de cadáveres sem que uma identidade seja apresentada. Numa entrevista, o fotógrafo David Bailey perguntou a Andy Warhol porque é que alguém gostaria de pendurar uma imagem de uma cadeira eléctrica no seu apartamento. Ele respondeu friamente que ficaria surpreendido com a quantidade de pessoas que gostariam de pendurar a imagem de uma cadeira eléctrica numa sala de estar, principalmente se a cor do fundo combinasse com a das cortinas. O que impressiona também em «Electric Chair» são as braçadeiras da cadeira, abertas à espera da próxima vítima, ainda possível no estatuto de muitos estados dos Estados Unidos da América.
Robert Priseman
“Não havia razão nenhuma para fazer uma série sobre a morte, nem havia a evocação a vítimas, não havia motivo, só um motivo superficial”*
Robert Priseman, Electric Chair, pintura sobre tela, 2008
* Andy Warhol («I´ll Be Your Mirror; the Selected Andy Warhol Interviews» 2004)
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Robert Priseman, Lethal Injection Gurney,
Robert Priseman, Hanging Chamber, pintura sobre tela, 2008
pintura sobre tela, 2008
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texto: Rita Tavares
Jose Castro herdou o gosto pela escuridão, pelo sombrio, obscuro e filmes de terror a preto e branco que via quando era criança com o pai. Do avô herdou o gosto pelo retiro, com longas caminhadas na floresta cercada pelas montanhas e habitada por bruxas e pássaros estranhos. Nasceu e cresceu numa pequena vila na Galiza onde a família tinha um restaurante que servia casamentos e funerais. Um ambiente no mínimo exótico que viria a marcar vincadamente as suas colecções. Estudou em Barcelona e completou os estudos em Londres, em 1997, com um diploma em moda masculina pelo Royal College of Art. Trabalhou como freelancer para Alexander McQueen, Dolce&Gabbana, Givenchy e para o grupo Max Mara. Depois de voltar a Barcelona trabalhou como freelancer para algumas marcas. Em 2000 lançou a sua própria marca, Agenor Tabaré, com colecções inovadoras. De 2001 a 2004 trabalhou na segunda linha de António Miro, a Miro Jeans. Em 2004 abre o seu próprio atelier, onde trabalha como freelancer para várias marcas e começa a desenhar as colecções da marca espanhola Desigual, continuando até hoje. Um percurso rápido e cheio de elogios, não só por parte da rigorosa indústria da moda, mas também por parte da imprensa. A sua marca fez a estreia na semana de moda de Paris, onde apresentou a colecção Outono/Inverno 07/08, El Cuervo.
Foi o primeiro designer espanhol a ingressar na federação francesa de alta-costura sem deixar de residir em Espanha, sinal óbvio da aceitação e admiração que tem suscitado por parte dos seus pares. Além disso, apresenta as suas propostas na semana de moda de Paris desde há 3 estações. A sua colecção Outono Inverno 08/09, Blue Sky, inspirase em motivos futuristas e no filme «Blade Runner» e exibe o seu característico estilo gótico. É já considerado o melhor entre os melhores dos novos designers em Paris. Seguindo os passos de nomes como Galliano, Alexander McQueen ou António Marras para a Kenzo, Castro mostra-se determinado a não aborrecer a sua plateia com um simples desfile de moda. É o momento em que os nervos estão mais presentes, mas é também o seu momento preferido. Apresentou a colecção Outono/Inverno 08/09 na garagem do Palais Omnisport em Paris e usou o desfile para dar uma nova importância à palavra “volume”. Tudo faz parte do processo.
Fotografia: Xavi Pastor Heredia
www.pastorherediastudio.com
Direcção de Arte: J-Me Luzardo Paiva
luzardo69@hotmail.com
Maquilhagem: Anna Cartes
anna@realsoundsystem.com
Criações de JOSE CASTRO
www.castroestudio.com
Luvas e toucas de látex na ZERO BCN
O Corvo. Preto. Formas que se movem, vivas, mas surreais. Que se transformam e reencarnam no corpo. O seu estilo combina conceitos extremos. Mas seja elegante ou desleixado, sofisticado ou pesado, orgânico ou artificial, todo o seu trabalho é caracterizado por uma modelação excepcional. O look gótico que tanto o caracteriza torna-se apurado e romântico nas suas mãos. Combinações arrojadas de denim com materiais nobres. As suas habilidades com o denim estão frequentemente presentes nas suas colecções, onde é combinado de forma requintada com outros tecidos mais sumptuosos. Elemento chave da cultura de rua, o denim tira as peças da escuridão e dá-lhes um toque de mundo real. Os detalhes, as texturas, os jogos de volume e das formas adquirem um relevo particular nas suas colecções, constroem a identidade e contribuem para a cultura criativa da marca.
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Tendência para o dramático. Sentimental. Um claro devoto da forma de arte erótica da feminilidade. Jose Castro é o nome que tem surpreendido Paris nas últimas estações. Obedece ao estilo sofisticado parisiense mas consegue manter a especificidade única da cultura espanhola ao trabalhar as peças de forma densa e humana.
ler mais em www.parqmag.com/blog
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texto: carla carbone
Tomas Kral é um jovem designer que nasceu em Bojnice, na República da Eslováquia. Os seus estudos espalham-se pela Eslováquia e pela Suíça, do design têxtil ao industrial, e por um MA em Design Industrial na École Cantonale d’Art de Lausanne. Recentemente a atenção dos media dirigiu-se a Kral pela exposição Le Beau Sauvage, realizada na galeria Libby Sellers durante a última edição da London Design Week em Setembro. Sobretudo pelas garrafas decoradas com técnicas associadas a processos tradicionais de decoração de cristal. Kral colecciona, há muito, garrafas e frascos de vidro, mas a opção deu-se quando foi solicitado para desenhar uma garrafa de vidro para um cliente. Pensou em responder a esse problema com uma solução talvez ambiental: “o que fazer com as garrafas depois de ter consumido o seu conteúdo?”. O designer não pensa na ideia como algo totalmente ambiental: “apenas quis dar a esses objectos a função de objectos decorativos, de interior, como acontece com os vasos.”. Kral pensa no modo como pode dar uma existência atractiva a esses frascos e de valor acrescentado. É por isso que a maior parte das vezes utiliza as tipologias de decoração normalmente associadas à decoração artesanal para tratar as superfícies do cristal e conferir-lhes opulência. Outros valores se lhes acrescem. A intenção de Kral também é associar no mesmo objecto a produção industrial com a artesanal. Um tema actual. Resultam, por isso, belíssimos objectos decorados com formas a dourado ou relevos impressos mesmo no vidro a que Kral chama de Upgrade. Este trabalho decorativo sugere reflexão, mais ainda quando aprofundamos a sua obra. As outras peças resultam muito mais minimalistas, de um less is more (digamos) muito mais do que as realizadas no projecto upgrade. Este aforismo, diz-se, terá sido primeiro pronunciado pelo arquitecto alemão Mies van der Rohe. Grande parte dos objectos de Tomas Kral sugerem essas referências de um recurso ao mínimo e despertam questões que pareciam já estar resolvidas há muito. Há designers que defendem aquela posição, outros mais um more que um less. O que é certo é que nos habituámos a ver uma posição sempre extremada sobre o assunto. Sobre esse tema Kral tem uma perspectiva muito pessoal: “Que o less is more é ainda muito importante para mim, é
um facto. Mas eu gosto muito de trabalhar e experimentar materiais, testar tecnologias. Este modo de fazer por vezes traz resultados que parecem não encaixar numa ideologia purista e pode ser considerado mais como um design para as galerias.» Kral entende que podemos viver no seio de diferentes ideologias nos nossos dias e que se pode encontrar o ponto de equilíbrio entre essas várias ideologias. Para ele o racionalismo e o conceito do bom design são mais sinónimo de produção em massa com todas as influências que sofrem do marketing. Por outro lado, avança, «sinto que o design experimental e decorativo ocupa mais um lugar de edição limitada das galerias e das lojas ». O empilhável, o modular, o trabalho em série, o sistema género lego, também parecem referências habituais nos projectos de Kral. O designer parece igualmente fascinado pelos anos sessenta: “Os anos sessenta são muito importantes para o design moderno, nos termos das pesquisas e explorações. Muitos dos projectos de design que vemos hoje desenvolvidos baseiam-se neles. Muitas vezes fazem-se adaptações aos nossos dias. A ideia do modular e do sistema, por exemplo, está presente em tudo o que encontramos. Está presente na natureza, na arquitectura, no mobiliário. Por isso considero importante, para mim, como designer, colocar estas questões. »
Devemos salientar que Ronan Bouroullec foi o orientador de mestrado de Kral. Este refere a frase de Bouroullec que mais o marcou: “o design não vive só das grandes ideias”. Kral explica: “ensinou-me que podemos basear o nosso trabalho nas pequenas ideias e observações. Utilizando processos interessantes podemos tornar estas pequenas ideias em bons produtos. Ele orientou-me muito no sentido de trabalhar nos pormenores e muito no sentido de definir o meu estilo e a minha posição pessoal como artista. Também me ensinou que é muito importante justificar as minhas opções e as escolhas em cada uma das etapas do meu projecto”.Kral também vai buscar as inspirações a Enzo Mari, a Castiglione e Branzi. Muitas vezes as inspirações surgem da simples observação do dia-a-dia. Colecciona e observa muitos objectos, diverte-se a estudar como estes são feitos e o modo como pode transformá-los e usá-los nos seus projectos. Kral parece aspirar a uma expressão silenciosa, num tempo de hoje invadido por um design ruidoso e intensamente decorado: “sempre que trabalho pergunto-me o porquê de estar a desenhar os objectos. Qual a razão da sua existência. Se eu encontrar uma razão forte para desenhar um objecto com decoração, faço-o. Mas não sinto necessidade de decorar por decorar. Por isso adiro, de momento, a uma expressão do silêncio.”
Há ainda outras experiências realizadas por Kral, como juntar o vidro à cortiça. A ideia terá começado com o princípio da garrafa de vinho, com a rolha em cortiça. A cortiça é um material puroso que liga bem com a dureza do vidro. “Trata-se de uma pesquisa sobre conexões. De como transformar a imagem da rolha de cortiça em qualquer coisa nova. Para além disso estes materiais são completamente naturais e 100% recicláveis, aspectos importantes a considerar.” Esta ideia terá surgido também em parte depois da realização do projecto Sugar Please: “nesse projecto uso apenas a cortiça como tampa. Na colecção Plug é mais a ideia de transformar essa tampa. Durante o desenvolvimento do projecto Sugar Please explorei três materiais diferentes: o alumínio, a porcelana e o vidro. O projecto, indirectamente, tornou-se uma pesquisa sobre estes materiais e um ponto de partida para o estudo do comportamento da cortiça com o vidro e do projecto Plug”.
expressão do silêncio Tomas Kral
Tomas Kral apresentou-se ao mundo pela mão de Libby Sellers na exposição Le Beau Sauvage. Apresentou um conjunto de vulgares frascos industriais decorados com técnicas artesanais opulentas que geralmente se destinam a decoração dos cristais.
ler mais em www.parqmag.com/blog
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casaco smoking e colete e calças HUGO da HUGO BOSS
camisa EMERGILDO ZEGNA casaco DIESEL calças e sapatos HUGO da HUGO BOSS relógio CHAUMET
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casaco de camurรงa e camisa DIESEL sapatos ZAGATO na OFICINA MUSTRA calรงas PEPE JEANS
casacรฃo ASPESI na OFIICINA MUSTRA camisa KARL da KARL LAGERFELD lenรงo de seda da OFICINA MUSTRA รณculos RALPH LAUREN
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twin set cardigan LEE GOLD LABEL calças FRED PERRY sapatos FLY LONDON gabardine índigo HUGO da HUGO BOSS
fato KARL LAGERFELD gravata PEPE JEANS camisa DIESEL sapatos H&M
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t-shirt dolares, LEVIS. Colar MISS SIXTY.
fotografia Mário Principe produção de Moda Joyce Doret make up e pintura de corpo Inês Pais modelo Rita Lacerda (Central Models)
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colete pele LUIS BUCHINHO camisa creme TWENTY8TWELVE รณculos de sol GIORGIO ARMANI Sandรกlias ZILIAN. No braรงo esq, pulseira azul e bronze, REPLAY; pulseira madeira, H&M., correntes MISS SIXTY, pulseira em pele LEE. Braรงo dto, pulseira H&M. anel bronze, REPLAY.
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colete , LUIS BUCHINHO calรงas de ganga MISS SIXTY mala em camurรงa, MASSIMO DUTTI fita de cabelo snake, H&M No braรงo esq, pulseira teia de aranha, VALENTIM QUARESMA para ANA SALAZAR
casaco retalhos em pele LUIS BUCHINHO leggings pretas MARLENE BIRGER
calças de ganga PEPE JEANS cinto preto em pelo LEE lenço padrão zebra TOMMY HILFIGER
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casaco verde TOMMY HILFIGER lenço estampado PEPE JEANS sandálias HOSS No braço esq, pulseira azul REPLAY Pulseira madeira H&M correntes MISS SIXTY Sixty anéis, todos REPLAY. Braço dto, pulseira em pele preta LEE anel REPLAY.
texto: sofia saunders
Caves Murganheira em Tarouca
lamego A braços com a crise financeira, a indústria do turismo vê nela uma oportunidade e aposta no turismo dentro de fronteiras. Nunca o slogan “Faça férias cá dentro” fez tanto sentido como agora. Durante as férias de Natal a PARQ lançou-se à estrada e conheceu a cidade de Lamego onde parou para passear, comer e beber como uma rainha. Não conhecíamos a região nem o Douro Vinhateiro, classificado pela Unesco em 2001 como Património da Humanidade. Descobrir a cidade foi uma aventura. Quem fala no Douro pensa em vinhos do Porto e vinhos de mesa de qualidade. Não quisemos deixar as iguarias regionais passarnos ao lado e decidimos fazer uma prova num dos mais reconfortantes restaurantes da cidade, o Sé Cristia. As carnes e enchidos são da casa, ou seja, produzidos pela família que explora o restaurante. Entre salpicões de vinha d’alhos, broa de milho tão amarela como açafrão e queijo suculento, a equipa da Parq deixou-se ficar algumas horas à mesa. Foi difícil levantar o corpo depois das entradas maciças, pratos guarnecidos com a mais fina selecção de carnes e copos bem servidos.
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Entrámos no carro e tomámos o digestivo a alguns quilómetros, nas Caves Murganheira. A visita ao interior das caves foi o pretexto perfeito para subirmos ao bar, “digestivar” e adquirir algumas garrafas do espumante nacional. De volta a Lamego, apanhamos a estrada velha até ao Douro. A paisagem do rio apazigua a digestão e dá-nos vontade de fazer uma sesta. No entanto, antes de recolher para o hotel, a escadaria da Nossa Senhora dos Remédios puxa-nos até ao Santuário. Subimos, com a passada lenta, e chegados lá acima desejamos nunca mais dali sair. Recebeu-nos um monumento de beleza estonteante, com a traça característica de Nasoni, italiano que contribuiu para a história da arquitectura nacional em variados pontos do norte do País. Os interiores da capela, os pormenores decorativos e a vista sobre a cidade de Lamego deixaram água na boca para em breve regressar.
Mais tarde, já em Lisboa, abriuse o Murganheira que refrescou o novo ano. Grandes entradas.
www.douro-turismo.pt/lamego www.murganheira.com
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texto: carla isidoro
texto: sofia saunders
miss saigon Miss Saigon é um restaurante de cozinha vegetariana do Mundo. A inspiração vem do Oriente. Todos os dias existe uma especialidade. Pode ser o Couscous com vegetais no Wok, tâmaras, amêndoas e estragão fresco (acompanhado de um chá quente de menta) ou bifinhos de seitan à Russa com natas de soja e cogumelos laminados com pimenta preta, acompanhados com chá rooibos de baunilha. Do Vietname podemos experimentar os crepes de farinha de arroz com rebentos de soja, feijão mung e hortelã fresca regados com molho de lima, soja, malagueta e óleo de sésamo.
damA AflitA Além de tudo, as sessões de tai-chi no jardim em frente ao restaurante deixaram-nos igualmente surpreendidos. Um espaço pelo qual ansiávamos, numa das zonas nobres da cidade.
O Porto está sempre a surpreender-nos. Desta vez com a proposta de uma galeria dedicada à ilustração, coisa rara em Portugal. Assim, a Dama Aflita coloca a ilustração – arte às vezes menosprezada – num patamar de nobreza ao lado de outras artes visuais, como seria conveniente. E não podia ter começado melhor, com o trabalho transdisciplinar do espanhol Luis Urculo, (entrevistado na Parq em Junho 2008) que se pode visitar durante todo o mês de Fevereiro. Nesta instalação cruzamse objectos cerâmicos com o desenho mural.
Rua Cais das Naus, LT. 4.01.01 T. 210 996 589
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A Dama Aflita é dinamizada por Júlio Dolbeth, Rui Vitorino Santos e Lígia Guedes e têm previsto para os próximos meses mostras de trabalhos de José Feitor, Francisco Eduardo e Paulo Patrício. Fiquem atentos.
Mais de 80% dos produtos utilizados no Miss Saigon são de agricultura biológica, inclusivamente os sumos naturais, os chás e o vinho. Os pequenosalmoços também são uma das atracções: há muffins e scones feitos logo de manhã.
Rua da Picaria, 84 – Porto 5ª,6ª, Sáb das 15h às 19h T. 927 203 858
Para quem não tem tempo de comer fora ou quer deliciar-se onde lhe aprouver, existem os serviços de take-away e catering.
1 Strange Gardens, da Fabrica 2 Luis Urculo
www.galeriadamaaflita.blogspot.com/
texto: carla isidoro
texto: sofia saunders
fábulas café
kingpin Na nossa rua, a Quirino da Fonseca, não acontece nada. Foi com admiração que vimos obras na antiga drogaria que em pouco tempo se transformou na loja mais bonita da correnteza e numa das mais bonitas da Alameda. A Kingping é uma livraria especializada em BD. Todo o espaço foi redesenhado e os móveis feitos à medida para destacar o muito que vendem, comics americanos e manga, as bandas desenhadas com mais procura.
O Fábulas nasceu do casal Kamila Dabrowska e Belarmino Teixeira. Kamila é uma artista plástica polaca. Belarmino é português e fazia cinema de animação. Nenhum tinha experiência em obras e remodelações mas lançaram-se na aventura de transformar as antigas arrecadações da Macieira num café-galeria. No Fábulas podemos estar, ler, consultar a Internet, beber chá e conversar, enrolarmo-nos ao namorado no sofá ou sentar à mesa e provar um crepe Rigoletto.
Além disto, a Kingping funciona como editora e acaba de lançar um livro de Osvaldo Medina. Também tem espaço de galeria, expondo desenhos originais de criadores. Como complemento, promove um workshop com tudo o que se relaciona com a criação de BD. Acontece até Junho, todas as semanas.
Tem antigas poltronas, cadeirões e mesas de costura que fazem de mesa de café criando um ambiente de grande conforto, além dos livros e revistas para leitura in loco. Passar uma tarde a ler Jorge Amado, beber vinho quente e debicar o bolo de chocolate é um luxo.
Só boas razões para vir à Quirino da Fonseca.
Contudo, Kamila e Belarmino têm outras ideias prestes a sair da cartola: a cozinha, para refeições mais consistentes, e as noites de projecção de filmes.
Rua Quirino da Fonseca, 16 B De 2ª a 6ª das 11h às 20h Sáb das 14h às 19h T. 217 950 476
Um dos cafés mais charmosos da cidade.
www.kingpingbooks.net
Calçada Nova de São Francisco, 14 – Chiado aberto das 10h às 00h
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texto: sofia saunders
migUel vieira store
Com vinte e dois anos de carreira o estilista Miguel Vieira abriu a sua primeira loja na Avenida da República em Dezembro. Aqui podemos encontrar as colecções de vestuário masculino, calçado, marroquinaria, óculos e jóias, sendo ainda possível a solicitação de fatos masculinos por medida e camisaria. O espaço constituído por três andares foi totalmente redesenhado pelo arquitecto de interiores Paulo Lobo que criou uma atmosfera densa, marcada por alcatifas de cor cinza e superfícies espelhadas que cobrem alguns dos elementos estruturais das salas. Pontualmente existem recantos onde domina a madeira clara. Cria texturas e jogos de luz dando algum calor e leveza ao espaço.
Av da República, 56 – Lisboa 2ª a Sáb. das 10h às 19h
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texto: carla isidoro
texto: manuel teixeira
texto: sofia saunders
murganheira vintage 04 new tree
texto: sofia saunders
Batatas fritas Tyrrelle’s vai um cafezinho
São chocolates Premium. Quem os prova não fica indiferente. A qualidade das matérias-primas fazem desta marca uma das mais apreciadas no momento. Nasceu na Bélgica com o objectivo de fazer a diferença e rapidamente conseguiu-o. Da muita investigação que desenvolveu sobre as propriedades e benefícios do consumo de chocolate, a New Tree lançou chocolates com benefícios acrescidos graças aos aromas, extractos naturais de plantas e frutos incorporados, todos eles naturais. As combinações entre matérias são, no mínimo, surpreendentes e apelam a alguma abstracção no momento da prova. Imaginem chocolate de leite com lavanda e extracto natural de tília; o chocolate Sexy, com pedaços de gengibre e extracto natural de guaraná, ou o Pink, com bagas de pimenta rosa (bastante sensual e estimulante). Todos estes foram internacionalmente premiados pela sua alta qualidade. Além destas categorias ainda destacamos o Noir Pleasure, de manteiga de cacau pura com 73% de cacau, o de Canela com rebentos de soja ou a recente gama Oméga 3 premiada em 2008 com o Superior Taste Award. Para provar até mais não. Uma experiência sensorial à venda nas melhores lojas gourmet.
O país, sem grande tradição na área dos espumantes, tem assistido atónico à qualidade dos espumantes Murganheira produzidos na região de Távora – Varosa. O Murganheira vintage bruto de 2004 é apenas um dos seus topos de gama, uma espécie de Jaguar clássico. Elaborado exclusivamente a partir da casta Pinot Noir, a única casta tinta de entre as três autorizadas para a elaboração do Champagne, é um espumante que em tudo se aproxima do original néctar gaulês. Bela apresentação, concentração mediana e bolha fina. Nariz aromático e frutado revelando as características da casta. A boca é suave e cremosa, levemente adocicada e frutuosa, num conjunto bem harmonizado e muito conseguido. Termina longo e elegante. Um espumante claramente acima da média, da responsabilidade do enólogo Orlando Lourenço.
A Nespresso tem transformado a arte de beber espresso num prazer epicurista. A marca tem vindo a desenvolver novos acessórios e produtos para aumentar e aperfeiçoar ainda mais a experiência de tomar um bom café. Agora está a lançar a sua nova e contemporânea colecção de chávenas Premium e biscoitos gourmet – os Calissons – o melhor acompanhamento para o seu café. Será que George Clooney já os provou?
Muito há que se diga quando se trata de batatas fritas, mas provavelmente as inglesas Tyrrelle’s não têm muito a dizer aos portugueses com tantos anos de batatas caseiras na praia. A nossa inveja vai para os pacotes porque no horizonte das batatas fritas que conhecemos nunca vimos nada tão bonito e tão elegante. As Tyrelle’s apelam essencialmente ao consumidor adulto, estabelecem um jogo de ironia entre a imagem e o conteúdo. As batatas “lightly sea salted”, levemente salgadas, aparecem associadas a um grupo de alegres banhistas a fazerem o pino; já o “naked chips”, sem sal, é associado a uma imagem de nudistas. Neste aspecto, simplesmente geniais.
www.newtree.be
www.murganheira.com
www-nespresso.com
www.tyrrellespotatochips.co.uk
gourmet
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Guia de Compras
shopping guide
Adidas telf. 214 424 400 www.adidas.com/pt Adidas Eyewear, Brodheim lda telf. 213 193 130 AFOREST DESIGN telf. 966 892 965 www.aforest-design.com Arte Assinada Porta do Mar, 3.11.09 (Torre Galp) Parque das Nações, Lisboa telf. 218 948 047/8 Bing Punch R. do Norte, 73 — Bairro Alto — Lisboa telf. 213 423 987 Carhartt Shop R. do Norte, 64 — Bairro Alto — Lisboa www.carhartt-streetwear.com Carolina Herrera Av. da Liberdade, 150 — Lisboa Cat Bedivar telf. 219 946 810 Chloé Fátima Mendes e Gatsby (Porto) Loja das Meias e Stivali (Lisboa) Cheyenne ACQUA Roma – Av de Roma — Lisboa Converse Proged telf. 214 412 705 www.converse.pt Decode Tivoli Forum – Av da Liberdade, 180 Lj 3B — Lisboa DDP – The Angel Fashion, lda telf. 220 991 090 Diesel Store Prç Luís de Camões, 28 — Lisboa telf 213 421 974 Dior Joalharia David Rosas – Av. da Liberdade — Lisboa Machado Joalharia – Av. Boavista — Porto Eastpak – Morais&Gonçalves, lda telf. 219 174 211 Energie – Sixty Portugal telf. 223 770 230 Emergildo Zenha Av. da Liberdade, 151 telf. 213 433 710 Fashion Clinic Tivoli Forum – Av. da Liberdade, 180, lj 2 e lj 5 — Lisboa C.C. Amoreiras Lj 2663/4 — Lisboa R. Pedro Homem de Melo, 125/127 — Porto Fátima Mendes Av. Londres, B1 1º Piso — Guimarães R. Pedro Homem de Melo, 357 — Porto Fendi na Fashion Clinic www.fendi.com FILIPE FAÍSCA Calçada do Combro, 95 — Lisboa Firetrap – Buscavisual, lda telf. 917 449 778 FLY LONDON telf. 253 559 140 www.flylondon.com Fornarina telf. 912 1818 88 wwwfornarina.it Fred Perry – Sagatex telf. 225 089 153 GANT telf.252 418 254 Riccon Comercial Lojas: Av. da Liberdade, 38H — Lisboa Av. da Boavista 2300/2304, — Porto Gas telf. 223 7703 14 wwwgasjeans.com Goorin Hold Me – Rua do Norte, Bairro Alto — Lisboa Guru – Dualtrand telf. 225 101 245 Gsus – Pano de Fundo lda telf. 223 745 278 H&M Rua do Carmo, 42 — Lisboa Havaianas – Cia Brasil telf. 291 211 860 HENRY COTTON'S telf. 252 418 254 Riccon Comercial Loja: Galeria Península, 108 – Pr. Bom Sucesso, 159 — Porto Hoss – André Costa telf. 226 199 050 Hugo Boss Portugal telf. 212 343 195 wwwhugoboss.com Killah – Sixty Portugal telf. 223 770 230 LACOSTE – M anuel F. Monteiro & Filho telf. 214 243 700 LARA TORRES www.laratorres.com Le Coq Sportif telf. 220 915 886 www.lecoqsportif.com LEE www.lee-eu.com Levi's – Levi's Portugal telf 217 998 149 Levi's acessórios – Pedro Nunes lda telf. 239 802 500 Lidija Kolovrat telf. 213 874 536 Rua do Salitre, 169 Luis Buchinho telf 222 012 776 Rua José Falcão 122 — Porto www.luisbuchinho.pt
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English version carlos coelho p.04
And then there was light, and Carlos Coelho, responsible for a large number of megabrands, and now Director of lvity Brand Corp, launches an appeal for a more creative country in the light of his latest project; World Bank of Creativity. This is a year in which all analysts advise against any investment. Why invest in a bank right now? Because it´s a very particular bank where deposits are made as ideas, investments in creative education projects for disadvantaged children and teenagers and the results are transformed into social profit. The World Bank of Creativity, going against the grain of the financial crisis, hopes – via the power of ideas - to create a more creative world, capable of influencing the economy. How did the idea come about? Like all ideas it kind of formed itself, over the last few years, out of my concern to take creativity and imagination beyond the creative areas. Transforming them from something intangible to an important “vitamin” for the economy, the WBC was born quite suddenly out of last year´s winter stress, in the middle of crisis, with banks closing, plummeting profits ( profits which, until recently, had been taken for granted). I started imagining a single currency of creativity, universally accepted and which never devalued, and the bank idea came out of this. There are major changes happening right now which also makes me think that we need a new generation of bankers, creative bankers, bankers working with what is most precious and universal. Were you ever frightened that it might be considered a bit of a silly idea? I´m not frightened by what is supposedly silly. Quite the opposite in fact. I would explain it by saying that new ideas, by definition, always appear “strange” or “ridiculous.” Creativity, making new things, things which do not exist, is all about trying to convince others that the impossible is possible. That absurdity is, in fact, normality. How has the WBC been received in the real world? The reception has been excellent and I´m sure I can count on the support of many people, but I´d like to make a special appeal here for volunteers to work in the back up of the bank, mainly those with management or business connections. Any concrete proposals being developed? There are – as yet – no concrete proposals. I dream of creating imagination lessons which I would like to see one day integrated into Portuguese teaching. If this were actually put into practice and taught, it would transform the lives of youngsters, in an uncertain society where knowledge (which is constantly changing) is no longer enough; what counts is imagination and the ability to create. What is “Ivity” Money worth ? For the launch of the World Bank of Creativity, an actual “Creative Currency” of 12 real notes was printed; one for each month of the year. The idea is to make creativity an actual currency, and to start creating a tradition of themes which will encourage the use of creativity as a way of deconstructing traditional, more tangible values. An “Ivity” is money created by the WBC and is worth one Euro. You are Director of a design company who works in the creative field. Has WBC to some extent impacted on your other activities? What input do you think it can bring to your life? Throughout my career, since 1985, as human resources manager, I have worked with brands. In my day-to-day life I have to channel team imagination for commercial aims, limited to the universe of each individual brand. The challenge of the Bank is to apply imagination on a
wider scale. The challenge is also to influence the creation of a new creative citizenship capable of generating creative money via the power of ideas, which is then applied to creative education for the formation of a new society. I really believe in a new, future, paradigm. A new era; the Age of Imagination.
www.worldbankivity.com
esperanza spalding
admire in Brazilian music; innocence couched in sophistication. Brazilian music is definitely hugely significant for me along with other styles.” “Esperanza” was released on CD and vinyl. The tracks are played at the Jazz Café in London and on radio shows throughout the world; delicacies for DJs of black music, music fans and connoisseurs of fine music.
www.myspace.com/esperanzaspalding
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Esperanza Spalding is one of those phenomena which only happen once in a blue moon. She enrolled in Berklee College of Music aged 17 and shortly afterwards started giving lessons there and word soon got round. She is coming to Lisbon for a concert to present “Esperanza,” her second solo album. And she has the jazz world at her feet.
For an artist who has spent more than a decade producing images of famous people, Robert Priseman’s Execution series marks a complete U-turn in the career of a traditional portrait painter. This decisive break from portraiture coincided with an interest in painting unpopulated landscapes, and the artist finally gave up commissioned work in 2003 in order to explore a more deeply personal and challenging form of art. By 2004-5, Priseman was increasingly drawn to uninhabited spaces and began painting a series of hospital scenes, subterranean environments and his ‘Francis Bacon Interiors’ (2005-6). In 2007, Priseman produced a number of etchings based on modern kinds of execution, which were immediately followed by a series of large paintings entitled ‘American Execution’ (2007-8). These works were the very antithesis of his previous portraiture. Somewhere along the way the human figure began to disappear from the artist’s work. Priseman acknowledges that for a number of years he painted landscapes that “became increasingly empty…Then I started painting interiors as they seemed to do the job better”
Esperanza learnt to play the guitar when she was a teenager, but didn´t pay much attention to her music lessons. Jazz only started to become part of her day-to-day life after she started playing the double bass. Before then, she told us by email, she constantly listened to a CD of Ella Fitzgerald and Louis Armstrong, without really knowing exactly what she was listening to. “It was Porgy and Bess, and I listened to it constantly between the ages of 12 and 14. I simply didn´t know who was singing and what type of music it was. I only joined the jazz scene when I started with the double bass.” One day at school, quite by chance, she found a cello leaning against the wall - it probably belonged to a teacher – and she started strumming it, as if it were a doublebass. Her music teacher came past at that exact moment and, seeing her, said “so now you want to play the double-bass? Fine.” Esperanza, neither accepted nor rejected the offer, but soon got into playing the instrument. It was the biggest turnaround of her life. When she was 17, she won a scholarship to finish her studies at one of the best music schools in the world, the Berklee College of Music. While still a student, she played alongside and recorded with artists such as Pat Metheny and Joe Lovano. She was also a short step away from becoming one of the youngest teachers ever to give classes at the school. Pat Metheny became a teacher at the age of 19, Esperanza at 20. She soon got a name for herself on the circuit, and news of her talent spread at around this time. “Giving classes was, and is, an enormous challenge for me. It has been a great experience. Because of my commitments out of school, it has been difficult reconciling concerts with teaching, but the lessons have been a pleasure for me.” She has been called “the new star in the jazz firmament”. She is 24, comes from the American state of Oregon, sings incredibly, and plays double bass and bass guitar amazingly well too. The album she is presenting in Lisbon is her second, which was actually released in May 2008, and proves just how much jazz is being reinvented in grand style by a younger generation of musicians. Proudly, she called the album “Esperanza,” and the past and future meet; it has a mixture of the good old jazz standards, with the energy of bee-pop, African rhythms, and also has some of the lightness found in the voice of Elis Regina. She sings “Body and Soul” in Spanish, “Ponta de Areia” by Milton Nascimento in Portuguese (and very well too!) alongside “Samba em Preludio”, with flamenco star Niño Josele. She sings in English, Spanish and Portuguese. The album flows from the very first track. Regarding her choice of Brazilian songwriters, she confesses” I have noticed that the song “Ponta de Areia”, for example, has a strong effect on people. I chose it because I felt it would make the album memorable and would help it reach a wider audience. Apart from which, the melody contains what I most
A key ingredient in Priseman’s work is his use or distortion of mathematical perspective, where the structures of the room and the objects or details within, are presented as traces of things lost or past. As Margaret Iversen pointed out to the artist himself, “[This] is a tradition of a kind of portraiture that doesn’t include the person...I’m thinking of Van Gogh’s boots…They are his, and like a self portrait, or his painting of his room.” In contrast to the generic work of the English artist Paul Winstanley (b. 1954), Priseman’s painting affords us with a kind of portrait of persons or objects. But things are not always what they seem in his work. While Turn of the key might be an ordinary set of stairs in an insignificant building, it is in fact the staircase to a room in the Hotel des Saints-Pères, Paris, where Francis Bacon’s lover George Dyer committed suicide. Dyer’s tragic end is not conveyed by means of despair or horror, but by the strange light emanating from the room above and the distorted perspective of the staircase; the warped-looking banister twisting and turning so as to impart a feeling of disembodiment or of a spectre drifting up the stairs. Although Priseman attends very closely to the architectural details of the staircase (note the carefully painted spindles and banister) there is a sense of the artist simplifying and eliminating all extraneous detail. There is an emptiness to Priseman’s interior which (it is a paradox) gives the staircase a sort of presence. Though things have been vacated from the space they nonetheless leave a residual trace, albeit a negative one. Priseman’s Turn of the key is not a hommage à Bacon, nor a religious meditation on mortality and the divine. The painter is a practising Catholic, but to understand his interiors as simply ‘supernatural’ portraits of persons or places is to misconstrue the artist’s highly developed visual and historical knowledge. His interiors are symptomatic of a long history of artists, particularly Surrealists such as Giorgio de Chirico and René Magritte, attempting to
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re-create psychological ‘portraits’ of individuals or places, but reconstructed from the visible world. What Priseman’s work shares with Surrealism is a sense of being deep inside the psyche, with each interior (and the objects within) representing alternate, yet intrinsically related, psychological conditions. Magritte referred to his paintings and the game that he played with reality as follows: “The images I paint show nothing more than the figures of the visible world, united in an order that corresponds to our natural interest in the unknown.” The same may be said of Priseman’s paintings. Prior to his interior series, in 2002 the artist painted a number of small works depicting a very young female figure who has her back to the viewer entitled Lily. These paintings are not portraits in the traditional sense, and their origins are intrinsic to the Surrealist concept of the ‘non-portrait’. Lily also signals the beginning of a disruption in the conventions of Priseman’s portraiture, and is, in part, inspired by René Magritte’s La réproduction interdite. Magritte’s painting shows Edward James standing before a mirror, but without revealing the reflection of his face in the glass. In Lily, we too are left ignorant about the sitter’s identity, and since she has no reflection there is merely a glowing mass of light to ponder. More disturbingly, Lily is just one of a number of works meditating on a similar subject: a sexual assault on the young Priseman. As a student of art history, Priseman is well aware of Freud’s ideas on harrowing events concerning ‘infantile helplessness’ and the child’s encounter with early sexual experiences and, in this context, Lily reveals a deep fascination with the “conflicting emotions of a child simultaneously trusting and distrusting the world.” Hanging chamber is an exhaustive clinical examination of a room – an autopsy of sorts - performed by the painter upon its contents. Ceiling hooks, trapdoors, a viewing window and control buttons on the wall are evidence that this is a place of punishment and death. Although time, distance and the use of photographs enable Priseman to dissociate himself from this distressing subject matter, it is the minutiae that reveal the abject sense of having the convicted killed. The equipment also has its own inbuilt strangeness. As Priseman observes, “When executing someone, why would you go to the trouble of placing a mattress on a gurney, or leather padding on an electric chair? Is a condemned prisoner going to notice this aspect of comfort when they are about to be put to death…The very inventiveness in the variety of methods employed to kill people [also] troubles me.” Priseman may leave himself open to accusations of insensitivity and the exploitation of the families of those condemned, but as his execution paintings reveal, killing someone involves a very detailed and intricate process of ritualisation, which actually relinquishes those involved from the process of death itself. Although Hanging chamber shows no lynching or grisly tools of the trade no scaffolding, wrist-straps, leg shackles or hoods used to place over the condemned prisoner’s head - the dark entrance beneath the released trapdoor leaves the spectator in no doubt about the ritualism involved in hanging and processing the prisoner’s corpse. Electric chair is undoubtedly a homage to Andy Warhol’s electric chair series, and the bleakest of Priseman’s images deliberating capital punishment. Warhol began using the image of the electric chair in 1963 as an expression of the intertwined relationship between death and repetition, and he returned repeatedly to the subject over the next two decades. The early 1960s were a time when Americans were hotly debating the death penalty and political resistance to capital punishment was particularly resilient in New York State, where the use of the electric chair finally ceased in August 1963. Warhol’s depiction of the Electric chair at Sing Sing Penitentiary in Ossining, New York, where 614 prisoners were executed, is typical of his deadpan response to the political controversy surrounding capital punishment. Warhol’s brutally expressionless image is given a poetic touch with the inclusion of the word “silence” inscribed above the door entrance to the electric chamber. As Peggy Phelan has astutely noted, Warhol’s Electric chairs present death as a state of continuous waiting and as replication:
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For the electric chair’s currency is dependent on both its power to produce deterrence – no future bad acts – and its history as the state’s killing machine. Part protest, part passive observation, Warhol’s electric chairs pulsate with death’s currency. Too abstract to be comprehended and too forceful to be ignored, death inspired much of Warhol’s most brilliant art. In Priseman’s Electric chair, the unoccupied seat expresses the diminution of life to nothingness, as do the empty chamber and the cruciform shapes used to construct both the room and chair. The painting is an image of the abyss, expressed by means of a visible ‘silence’ and demanded by the echo of an empty room. Whilst Warhol’s seat condemns capital punishment by indicating that the prisoner is alone and a victim (the seat is set at an angle so as not to confront the spectator), Priseman turns the chair to face the viewer in a gesture of grim defiance. These particulars are an indication that in his painting at least the artist refuses to take a standpoint with regard to the various sides and views of the capital punishment debate. Priseman’s ‘American Execution’ series may not openly oppose judicial execution, but does, conversely, manage to communicate the mystifying process of capital punishment where the “…views of those who wish to uphold the death penalty, yet oppose abortion [are] particularly baffling.” Alternatively, these paintings are a continuation of a theme focusing on the role of places “where bodies are processed…and people experience life stripped of their everyday identity.” In an interview with the photographer David Bailey, Warhol was asked why anyone would want to hang a picture of an electric chair in their chic apartment. Warhol coldly replied that “You’d be surprised to know how many people want to hang an electric chair [in] the living room. Specially if the background colour matches the drapes.” A chilling reminder of our own indifference to death and cruelty is reiterated by the untied restraints in Priseman’s masterpiece painting Electric chair. These are like the drooping, horribly lifeless arms of the electrocuted prisoner. They are also a reminder that death by this, or any other means of execution, is still on the statute books in the United States.
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Tomas Kral was introduced to the world by Libby Sellers in the exhibition “le Beau Sauvage”. This exhibition was considered a milestone in the area of design as it brought together a group of common jars and bottles crafted with the type of opulent details normally reserved for the decoration of crystal. Tomas Kral is a young designer who was born in Bojnice, Czech Republic. His studies were between the Czech Republic and Switzerland, and encompassed textile design and industrial design, and it was in the latter that he did an MA at the Ecole Cantonale d`Art de Lausanne. Recently, however, the media has been focussed on Kral´s work in Beau Sauvage at the Libby Sellers gallery during the latest edition of London Design Week in September. This is because of his decorated bottles which use a technique more closely associated with traditional decorative processes used on crystal. Kral has long been a collector of bottles and glass jars, but when he was asked to design a glass bottle for a client, he thought of a more environmental solution to the problem; “what should be done with bottles after they have been emptied of their contents?”
for the surface of crystal to give a more opulent air. There are also additional values at work; Kral´s intention was also to associate industrial production with that of handcrafted production, a current theme. The result is a series of beautiful objects decorated with gold or etched relief upon the glass. What Kral calls Upgrade. This work by Kral is even more reflective than at first appears. His other pieces are much more minimalist, demonstrating an idea of «less is more» (an aphorism first used by the German architect Mies van der Rohe), much more than the objects from Upgrade. Most of Kral´s objects go back to the minimal and raise questions which, at first sight, seem to have been answered long ago. Some designers defend «less «as «more», others opt for rather more «more», than «less», yet what is certain is that we are used to seeing more extreme takes on it. Kral, however, has his own very personal take ; «That «less is more» for me is taken as read, but I like to work and experiment with materials, test out technologies. This way of working sometimes brings results which don´t quite fit into purist ideologies and could even be considered more design for galleries.» Kral understands, however, that nowadays we can live among different ideologies and that we can find a balance among them. For him, rationalism and the concept of good design are more synonymous with mass production, with all the influencies they suffer from marketting. On the other hand, he adds, «I feel that experimental design and decorative design are more for the limited editions, galleries, shops.» The stacked-up production line products, objects as lego, are also habitual references in Kral´s work, and the designer is perennially fascinated by the 60s ; «the sixties were extremely important for modern design in terms of research and exploration. Many of the projects we see nowadays are products of this time, adapted for our time. The idea of the modular and systems, for example is present all around us. It is in nature, architecture, furniture. For this reason, I think it is important for me –as a designer – to raise the questions I do.» There are also other experiments by Kral, such as bringing together glass and cork. The idea started with the glass wine bottle and cork, a porous material which goes well with the hardness of glass. It is research about connections; how to transform cork into something new, whilst using the qualities which connect the two materials. Beside this, the materials are both 100% natural and can be recycled, which is an important element to consider. It is worth noting that Ronan Bouroullec was Kral´s supervisor during his MA, and Kral refers to the phrase which most affected his teachings from Ronan Bouroullec “design does not live from grand ideas alone”. “He taught me that we can base our work on small ideas and observations. We can use interesting processes, and turn small ideas into good products. He oriented me a lot in the sense of working the details, defining my style and my personal position as an artist. He also taught me how important it is to justify my choices at each stage of my projects.” Kral was also inspired by Enzo Mari, Castiglione and Branzi. Often, inspiration comes from simple, day-to-day observations. Collect and observe objects and enjoy studying how these objects are made and how you can transform them and use them in your projects. Kral appears to aspire to a more silent expression at a time when design is being invaded by noise and intense decoration; “Whenever I work, I ask myself why. What is the reason for their existence? If I find a good reason as to why I should design an object with a lot of decoration, then I do so, but I certainly don´t feel the need for decoration for its own sake. I adhere more to the expression of silence.”
The designer does not believe that the idea was totally environmental for, as he himself pointed out, “I just wanted to give these objects the function of decorative, interior objects, as has happened with plant-pots for example”. Kral thought of how to give a more attractive existence, and increased value, to these jars which is why they mostly bear the hand-crafted, decorative typology normally used
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Ilustração Vanessa teodoro
sapatonas
crónica de cláudia matos silva Ter apenas 20 anos de distância da minha mãe – que se mantém física e mentalmente bastante jovem – é por vezes um embaraço. E se por natureza gostarmos de manifestar afectos publicamente dá origem a olhares intrigados, se dentro de portas vivo com uma mãe galinha – no exterior sou eu que represento o papel de filha protectora – ajudo-a a atravessar a passadeira, levo-lhe os sacos e afasto à sapatada todos e quaisquer malandros. Somos as melhores amigas e partilhamos prazeres. No entanto, não comungávamos de uma das minhas grandes paixões, o cinema. A minha mãe como tantas outras pessoas concebia a sétima arte apenas como um grande motivo para comer pipocas. Como se não bastasse, recusava-se a ver filmes estrangeiros, enquanto Portugal não aderisse a um vírus a que chamam de “dobragem”. Imaginar a voz cristalina de Marilyn Monroe em «Bus Stop» – dizendo com o seu jeito cândido que se chama “Cherrie e não Cherry” – jamais poderá ser igualado por uma qualquer “bardajona” de terceira. Aderiu, porém, com maior facilidade ao cinema português. Aliás, continua a falar de «Amor de Perdição», o primeiro filme que viu. O momento final é apoteótico com o afogamento do herói romântico. Nessa altura ela estaria longe de imaginar que, poucos anos depois, a sétima arte lusa iria realmente “afundar-se”. António Silva ou o Ribeirinho construíam, por essa altura, o que são considerados “os anos de ouro do cinema português”. Quase 50 anos depois afirmo com toda a certeza, estar a viver com a minha mãe “os nossos anos de ouro na salas de cinema portuguesas”. Nada mau, visto que considerava tal arte desperdício de tempo!
No escurinho – de mãos dadas – assistimos frequentemente a diferentes títulos de diversas proveniências. Local onde antes comia, falava ou “passava pelas brasas”, serve agora para se emocionar, envolver, arrebatar, rir ou irritar. Numa dessas sessões o azar estava do nosso lado quando mãe e filha – que não conseguiam ver a película em silêncio – assentaram arraias mesmo atrás de nós. Eu – armada em Adónis da margem sul – e depois do trabalho que tive para que a minha mãe conseguisse apreciar um bom filme sem que a barreira linguística se impusesse – fiz o típico esgar com a cabeça…uma vez… duas vezes…três vezes….e nada! Recorri então ao método intimidatório “xiuuuuuuuuuu”. Resultou. Mas a contra-resposta far-se-ia ouvir no final quando passam por nós – que indiferentes continuamos aos segredinhos e beijinhos – ouvimos entre dentes e com um inconfundível sotaque de mel: -Vê si podji….duas sapatonas! Perdão, uma sapatona, sou eu que dou o meu sapato ao manifesto afastando à biqueirada quem atente contra o bem-estar da mulher da minha vida, a minha mãe.
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REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 09. FEVEREIRO 2009. www.parqmag.com