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As doutrinas do segundo advento

deles, ela havia aprendido muito o que o homem não a havia ensinado.

Nessa reunião, ela recebeu o endereço de várias pessoas, de vários lugares, com um convite para lhes visitar. Prometeu ir logo para Cabotville, e tomou a direção da cidade. Chegou em Springfield às dezoito horas, e começou imediatamente a procurar por uma hospedagem para passar a noite. Andou das seis até às nove, e estava então na estrada de Springfield para Cabotville, sem achar alguém hospitaleiro que lhe desse um teto para passar a noite. Foi então que um homem deu-lhe vinte e cinco centavos, e pediu que fosse a uma taberna para passar a noite. Ela assim foi, retornando de manhã para agradecer-lhe, assegurando-o de que ela havia usado o dinheiro legitimamente com esse fim. Ela encontrou muitos amigos que tinha conhecido em Windsor quando alcançou a cidade fabril de Cabotville, e com eles passou uma agradável semana ou mais. Após esse período, ela os deixou para visitar a vila dos shakers37 em Enfield. Agora, ela começou a pensar em encontrar um lugar para ficar, ao mínimo, por uma temporada, pois tinha feito uma longa jornada, considerando que havia caminhado a maior parte do tempo. Tinha ideia de

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37 Sojourner referia-se à cidade ou comunidade espiritual dos shakers, seita religiosa criada no século 18, na Inglaterra, de uma ramificação dos quakers. Eram conhecidos como “shacking quakers” (quakers chacoalhantes) por causa do comportamento frenético nos cultos.

apreciar os shakers e ver como as coisas eram por lá, e se haveria alguma vaga para ela. Mas no caminho de volta para Springfield, ela passou por uma casa e pediu um pedaço de pão. Seu pedido foi atendido, e ela foi gentilmente convidada a passar uma noite. Já que estava ficando tarde, e ela não seria capaz de ficar em qualquer casa naquela vizinhança, o convite foi alegremente aceito. Quando o dono da casa chegou, lembrou-se de tê-la visto no encontro campal, e repetiu algumas conversas, pela quais ela também lembrou-se dele. Ele logo propôs fazer uma reunião aquela noite, e saiu para notificar os amigos e vizinhos, que vieram, e ela uma vez mais apresentou-se a eles no seu estilo peculiar. Por meio dessa reunião, ela conheceu várias pessoas residentes em Springfield, para cujas casas foi cordialmente convidada e com quem passou algum tempo agradável.

Uma dessas amigas, escrevendo sobre sua chegada por lá, contou o que se segue. Depois de dizer que ela e seu povo pertenciam àquela classe de pessoas que acreditavam nas doutrinas do “Segundo Advento” e que essa classe, acreditando também na liberdade de expressão e ação, encontrou frequentemente em suas reuniões muitos outros indivíduos singulares, que não concordavam com eles em sua doutrina principal e que, estando assim preparados para ouvir coisas novas e estranhas, “eles ouviram Sojourner de bom grado e absorveram tudo o que ela disse”. E também que Sojourner logo se tornou a favorita entre eles, e quando ela se levantava para

falar em suas assembleias, sua figura dominante e sua maneira digna faziam calar a todos, e seus modos de expressão singulares e às vezes rudes nunca provocavam uma risada, mas muitas vezes faziam toda a plateia verter-se em lágrimas por suas histórias comoventes. Ela também acrescentou: “muitas foram as lições de sabedoria e fé que tive o prazer de aprender com Sojourner.” Ela continuou a ser uma das grandes favoritas em nossas reuniões, tanto por seu notável dom de oração, quanto por seu talento ainda mais notável para cantar e a aptidão e o sentido de suas observações, frequentemente ilustradas por figuras das mais originais e expressivas. Quando estávamos caminhando no outro dia, ela disse que sempre pensara que mundo lindo seria se víssemos tudo pelo lado certo. ‘Agora, vemos tudo de cabeça para baixo, e tudo é confusão’. Para uma pessoa que nada sabe sobre esse fato na ciência da ótica, essa parecia uma ideia bastante notável. Também a amávamos por sua piedade sincera e ardente, sua fé inabalável em Deus e seu desprezo pelo que o mundo chama de moda e pelo que chamamos de loucura.”

Ela estava em busca de um lugar tranquilo, onde um viajante desgastado pudesse descansar e ouviu falar de Fruitlands38 e estava inclinada a ir para lá, mas os amigos que encontrou aqui acharam melhor

38 Comunidade transcendentalista utópica em Massachusets, fundada por Charles Lane e Amos Bronson Alcott, este pai da escritora Louise May Alcott.

visitar Northampton. Passou seu tempo, enquanto estava conosco, trabalhando onde quer que seu trabalho fosse necessário e falando quando não houvesse trabalho a fazer.”

“Sojourner não recebia dinheiro por seu trabalho, dizendo que trabalhava para o Senhor e se suas necessidades eram supridas, ela as tomava como provenientes do Senhor.”

“Ela permaneceu conosco até o inverno, quando a apresentamos na Associação Northampton... Desse lugar, ela escreveu para mim, dizendo que havia encontrado o local tranquilo de descanso que tanto desejava. E permanece lá desde então.”

OUTRA REUNIÃO CAMPAL

Quando Sojourner já estava em Northampton por alguns meses, participou de outra reunião campal, na qual desempenhou um papel muito importante.

Um grupo de jovens rebeldes, sem nenhum motivo a não ser o de divertir-se irritando e ferindo os sentimentos dos outros, invadiu a reunião, vaiando e berrando, e de várias maneiras interrompendo os serviços e causando muitos distúrbios. Os responsáveis pela reunião, depois de tentarem em vão persuadi-los, ficaram impacientes e os ameaçaram.

Os jovens, considerando-se insultados, reuniram seus amigos, no número de cem ou mais, dispersaram-se pelo terreno, fazendo os barulhos mais assustadores e ameaçando incendiar as tendas. As autoridades da reunião reuniram-se, decidiram prender os líderes da confusão e mandar chamar a polícia, para grande desgosto de algumas pessoas, que se opu-

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nham a esse apelo à força e às armas. Seja como for, Sojourner, vendo uma grande consternação retratada em cada rosto, deixou-se contagiar pela situação e, antes que ela se desse conta, viu-se tremendo de medo.

Sob o impulso dessa emoção repentina, ela fugiu para o canto mais retirado de uma tenda e se escondeu atrás de um baú, dizendo para si mesma: “eu sou a única pessoa de cor aqui, provavelmente, será em mim que os maldosos irão cair primeiro, e talvez fatalmente.” Mas sentindo o quão grande era sua insegurança, mesmo lá, quando a própria estrutura da tenda começou a tremer, ela começou um solilóquio da seguinte maneira:

“Devo fugir e me esconder do diabo? Eu, serva do Deus vivo? Não tenho fé suficiente para sair e subjugar aquela turba, quando sei que está escrito: ‘um só pode perseguir mil, e dois fizessem fugir dez mil’?39 Eu sei que não há mil aqui e sei que sou uma serva do Deus vivo. Eu irei em socorro, e o Senhor irá comigo e me protegerá.”

“Ó”, disse ela, “senti como se tivesse três corações! e que eles eram tão grandes que meu corpo mal podia contê-los!”

Sojourner saiu de seu esconderijo e convidou vários para ir com ela e ver o que eles poderiam fazer

39 Deuteronômio 32:30.

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