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Alguns de seus pontos de vista e reflexões
by EdLab Press
todo e em todos os lugares; e uma parte do tempo nunca lhe pareceu mais santa do que outra.”
Esses pontos de vista, que eram os resultados do funcionamento de sua mente, presentes unicamente pela luz da experiência e de seus conhecimentos muito limitados, foram, por muito tempo, trancados em seu peito, temendo que sua confissão pudesse trazê-la à reputação de “infidelidade”; a acusação preferida por todos os religiosos contra aqueles que nutrem visões e sentimentos religiosos que diferem materialmente dos seus. Se eles se abstêm de gritar “infiel”, eles não deixam de ver, sentir e, ah, de dizer que os dissidentes não são do espírito certo e que seus olhos espirituais nunca foram abertos.
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Ao viajar para Connecticut, ela conheceu um ministro de Deus com quem manteve uma longa discussão sobre esses pontos, bem como sobre vários outros tópicos, como a origem de todas as coisas, especialmente a origem do mal, ao mesmo tempo expressando sua forte opinião contrária ao ministério pago. Ele pertencia àquela classe e, como é óbvio, defendia fortemente seu lado da questão.
Eu tinha esquecido de mencionar, em seu devido lugar, um fato muito importante, que quando ela estava examinando as Escrituras, ela queria ouvi-las sem comentários, porém, se empregava pessoas adultas para ler para ela e pedia que lessem uma passagem novamente, elas invariavelmente começavam a explicar, dando-lhes a versão delas. Dessa maneira, interferiam excessivamente em seus sentimentos.
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Em consequência disso, ela deixou de pedir a adultos que lessem a Bíblia para ela e passou a pedir a crianças. Estas, assim que pudessem ler claramente, releriam a mesma frase para ela, quantas vezes ela desejasse, e sem comentários. Dessa maneira, ela foi capaz de ver o que sua mente poderia entender do registro, e isso, ela disse, era o que queria, e não o que os outros achavam que isso significava. Ela queria comparar os ensinamentos da Bíblia com o que havia testemunhado, e chegou à conclusão de que o espírito da verdade falava naqueles escritos, mas quem havia registrado essas verdades tinha misturado com suas ideias e suposições. Essa é uma das muitas provas de sua energia e independência de caráter.
Quando os filhos de Sojourner souberam que ela havia deixado Nova York, ficaram alarmados e cheios de perguntas. “Onde ela poderia ter ido?” e “por que ela havia partido?” eram perguntas que ninguém poderia responder satisfatoriamente. Em suas imaginações, a pintavam como uma maníaca errante e, novamente, temiam que ela tivesse partido para cometer suicídio, e muitas foram as lágrimas que derramaram por sua perda.
Mas quando chegou a Berlin, Connecticut, escreveu-lhes por um amanuense, informando-os sobre seu paradeiro e esperando uma resposta para sua carta, aquietando o receio deles e alegrando seus corações, mais uma vez confiantes na sua vida e no seu amor.
AS DOUTRINAS DO SEGUNDO ADVENTO
Em Hartford e arredores ela se encontrou com várias pessoas que acreditavam nas doutrinas do “Segundo Advento”, a aparição pessoal imediata de Jesus Cristo. A princípio ela achava que nunca tinha ouvido falar do “Segundo Advento”.35 Mas quando lhe explicaram, lembrou-se de ter participado da reunião do senhor Miller em Nova York, onde viu muitas imagens enigmáticas penduradas na parede, as quais ela não conseguia entender e que estavam fora do alcance da sua compreensão, e não lhe interessaram. Nessa parte do país, ela participou de duas
35 Na década de 1830, o pastor batista William Miller anunciou a segunda vinda ao mundo do Cristo para 22 de outubro 1844.
A data ficou conhecida como “O dia do grande desapontamento” quando verificou-se que Jesus não viera e os seguidores de
Miller tiveram que reacomodar seu credo, dando início aos
Adventistas do Sétimo Dia.
reuniões campais dos que acreditavam nessas doutrinas; o entusiasmo com o “Segundo Advento” estava então em seu auge. O último encontro foi em Windsor Lock. Lá, as pessoas, como era de se esperar, indagaram-na ansiosamente sobre sua crença, pois consideravam essa a doutrina mais importante. Ela disse que não havia sido revelada a ela e que, talvez, se ela pudesse ler, pudesse ver de maneira diferente. Às vezes, quando lhe perguntavam ansiosamente: “ah, você não acredita que o Senhor está voltando?”, ela respondia: “acredito que o Senhor está tão próximo quanto pode estar, ou não.” Com essas respostas evasivas e nada animadoras, ela manteve a mente deles calma e, do mesmo modo, eles respeitavam sua incredulidade até que ela pudesse ter a oportunidade de ouvir suas opiniões razoavelmente, a fim de julgar mais embasadamente esse assunto e ver se, em sua opinião, havia algum bom motivo para esperar um evento que estivesse, assim como estava na mente de tantos, abalando os próprios fundamentos do universo. Ela foi convidada a se juntar a eles em seus exercícios religiosos e aceitou o convite, orando e falando no seu estilo peculiar e atraindo muitos com seus cantos.
Quando ela convenceu as pessoas de que amava Deus e sua causa, e ganhou prestígio entre elas, tanto que conseguiu ser ouvida, tinha quase certeza na sua mente que eles estavam trabalhando sob uma ilusão e começou a usar sua influência para aplacar os temores do povo e acalmar os ânimos. Em certo
local, ela encontrou um grande número de pessoas bastante entusiasmadas, subiu em um toco de árvore e gritou: “ouçam! ouçam!” Quando o povo se juntou ao lado dela e como estavam dispostos a ouvir qualquer novidade, ela se dirigiu a eles como “crianças” e perguntou-lhes por que faziam tanta “confusão”. “Não lhes disseram para ‘vigiar e orar?’. Vocês não estão nem vigiando e nem orando!” E ela pediu com um tom de uma amável mãe, que se recolhessem para suas tendas, e ali vigiassem e orassem, sem barulho ou tumulto, pois o Senhor não chegaria em tal cenário de confusão. “O Senhor, quando chegou, veio calmo e quieto.” Ela lhes garantiu: “o Senhor pode vir, passear por todo o acampamento e ir embora novamente, e vocês nunca vão se dar conta” no estado em que estavam.
Eles pareceram contentes em aproveitar qualquer motivo para ficarem menos agitados e angustiados, e muitos deles pararam com o terrível barulho e se retiraram para suas tendas a fim de “vigiar e orar”; pedindo aos outros que fizessem o mesmo e ouvissem os conselhos da boa irmã. Ela sentiu que havia feito algo de bom e depois foi ouvir mais os pregadores. Sentiu que eles pareciam fazer o máximo para agitar e excitar as pessoas, que já estavam muito excitadas; e quando ela permaneceu até não aguentar mais ouvir em silêncio, ergueu-se e se dirigiu aos pregadores. O que se segue, são amostras desse discurso:
“Vocês aqui falando sobre ‘mudança num piscar de olhos’. Se o Senhor viesse agora, Ele o mudaria para o nada, porque não há nada em você. Vocês parecem que estão achando que vão para algum salão, em algum lugar, e quando os ímpios estiverem queimados, vocês voltarão para caminhar em triunfo sobre as cinzas deles: é essa a sua Nova Jerusalém! Olha, não consigo ver nada tão bom nisso de voltar a uma confusão como essa, um mundo coberto com as cinzas dos ímpios! Além do mais, se o Senhor voltar e queimar, como vocês dizem que Ele fará, eu não vou embora; eu vou ficar aqui e suportar o fogo, como Sadraque, Mesaque e Abednego!36 E Jesus andará comigo pelo fogo e me protegerá do mal. Nada pertencente a Deus pode queimar, assim como o próprio Deus; este não precisará fugir para escapar do fogo! Não, eu ficarei. Vocês me dizem que os filhos de Deus não aguentam fogo? E seu jeito e seu tom falavam mais alto que as palavras, dizendo: ‘é absurdo pensar assim!’”
Os ministros ficaram surpresos com uma opositora tão inesperada, e um deles, da maneira mais gentil possível, iniciou uma discussão com ela, fazendo perguntas e citando as Escrituras, concluindo que, embora ela não tivesse aprendido nada da grande doutrina que ocupava tão exclusivamente as mentes
36 Príncipes israelitas que se recusaram a adorar um ídolo babilônico e foram jogados numa fornalha ardente, tendo saído ilesos, segundo o livro de Daniel.