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Encontrando um irmão e uma irmã

chorou, e não estava sozinha; Sophia chorou, e o homem forte, Michael, misturou suas lágrimas com as delas. “Ó Senhor”, perguntou Isabella, “o que é essa escravidão que pode fazer coisas tão terríveis? Que tantos males pode nos causar?” E ela bem pode perguntar, pois certamente os males que pode fazer e faz, diariamente e a cada hora, nunca podem ser totalizados até que possamos vê-los como são registrados por Ele que escreve sem erros e calcula sem enganos. Esse relato, que agora varia na avaliação das diferentes mentes, será visto do mesmo jeito por todos.

Pense, caro leitor, que quando esse dia chegar, o do julgamento de contas, até o mais “radical” abolicionista dirá: “admirai-vos, eu a tudo isso vi enquanto estava na terra.” Ele não preferiria dizer: “ó, quem concebeu a amplitude e a profundidade dessa malária moral, desse foco de praga putrefeita?” Talvez os pioneiros na causa dos escravos fiquem tão surpresos quanto qualquer outro ao descobrir que, além de tudo o que viu, ainda restou muito a ser visto.

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MISCELÂNEA

Há certas coisas duras que cruzaram a vida de Isabella enquanto escravizada, que ela não deseja publicar por variadas razões. Primeiro, porque as pessoas nas mãos das quais ela sofreu já se foram e estão prestando contas num tribunal celestial, porém seus amigos inocentes estão vivos e podem ter os sentimentos feridos por essa narrativa. Em segundo lugar, porque nem tudo é apropriado para o ouvido do público, dada sua natureza. Em terceiro, e não menos importante, porque, como ela diz, se contasse tudo o que lhe aconteceu enquanto escrava, tudo o que ela sabe ser a “verdade de Deus”, pareceria aos outros — especialmente aos não iniciados — tão inexplicável, tão irracional, tão, como é comumente chamado, antinatural (ainda que possamos questionar se as pessoas sempre agem naturalmente) que eles dificilmente acreditariam em seu relato. “Nunca”, ela diz. “Eles me chamariam de mentirosa! Fariam isso mesmo! E não desejo dizer nada que possa destruir minha credibilidade, embora o que digo seja estrita-

mente verdadeiro.” Algumas coisas foram omitidas por mero esquecimento, e se não foram mencionadas anteriormente, podem ser brevemente contadas aqui. Como o fato de seu pai, Bomefree, ter tido duas esposas antes de Mau-mau Bett, uma das quais, se não ambas, arrancadas dele pela mão de ferro do cruel traficante de carne humana; que seu marido, Thomas, depois que uma de suas esposas foi vendida para longe dele, fugiu para a cidade de Nova York, onde permaneceu um ano ou dois, antes de ser descoberto e trazido de volta à prisão da escravidão; que seu senhor, Dumont, quando prometera a Isabella libertá-la um ano antes do prazo definido pelo estado, havia feito a mesma promessa a seu marido, e além da liberdade, lhes havia prometido uma cabana de madeira para lhes servir de lar que, como os mil e um devaneios resultantes dessa promessa, foi jogada no repositório de promessas não cumpridas e esperanças não realizadas; que ela ouviu várias vezes seu pai repetir uma arrepiante história de uma criancinha escrava, que ao incomodar a família com seus choros foi apanhada por um homem branco, que partiu sua cabeça contra a parede. Um índio (pois os índios eram abundantes naquela região) passou perto enquanto a mãe enlutada lavava o cadáver ensanguentado de seu filho assassinado e, conhecedor da causa de sua morte, disse, com veemência característica: “se eu estivesse aqui, teria colocado minha machadinha na cabeça dele!”, querendo dizer, do assassino.

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