MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR cbn
Diários de Adão e Eva Mark Twain
Carta ao professor
obRas 978-65-89829-03-4 (Estudante) 978-65-89829-02-7 (PRofessoR) elaboRaÇÃo Michelle Etienne Florence, Bruno Gradella e Vicente Castro cooRdenaÇÃo editoRial Jorge Sallum Suzana Salama Paulo Pompermaier ediÇÃo Ana Lancman Sofia Boldrini Renier Silva assistÊncia editoRial Felipe Musetti diagRamaÇÃo e RevisÃo EdLab Press licenÇas cc-by-nc 3.0 bR edlab pRess Rua Milton Ribeiro, 79 (Sala 2) 02055-060 São Paulo sp 55 11 3097-8304 contato@edlab.press
Este manual tem como objetivo fornecer subsídios para o trabalho com a obra literária Diários de Adão e Eva, de Mark Twain. Mark Twain, pseudônimo de Samuel Langhorne Clemens (1835–1910), foi um dos mais importantes e prolíficos escritores dos Estados Unidos. Atuou como tipógrafo, repórter, colunista, palestrante, minerador e piloto de barco a vapor no rio Mississipi, ocupação que o levou a conhecer a realidade do sul e do meio-oeste americanos, inspiração e pano de fundo para grande parte de seus personagens e romances, entre eles os famosos As aventuras de Tom Sawyer (The Adventures of Tom Sawyer), de 1876 e Aventuras de Huckleberry Finn (Adventures of Huckleberry Finn), de 1885. Dono de uma linguagem irônica e cheia de humor, criticou a sociedade escravocrata da época, cujos valores, fanatismo e hipocrisia foram alguns dos alvos prediletos de sua sátira. Diários de Adão e Eva reúne os principais textos, inéditos, da sátira de Twain a alguns livros e personagens bíblicos. Encontraremos aqui a história bíblica do Gênesis recontada pela perspectiva divertidíssima de seus mais icônicos participantes, Adão e Eva. Como se cada um deles tivesse escrito um diário, lemos suas percepções da vida e do mundo, no paraíso e no fora dele, e da forma como cada um enxerga o outro, conforme vão se conhecendo. Conheceremos um Adão de poucas palavras, mas que, depois de comer o fruto, torna-se mais falante, com falas mais complexas e vocabulário mais rico, preparado para a jornada de autoconhecimento que a expulsão do Paraíso lhe provoca. Já Eva, que era mais solta e animada, torna-se mais madura, e, tal qual Adão, passa a buscar um aprofundamento das relações depois do sonho distante do Paraíso.
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Além desses Diários, nesta edição também se encontram outros com a mesma temática, como o “Solilóquio de Adão”, a “Autobiografia de Eva” e “Passagens do diário de Satã”, que só pelos títulos já aguçam a imaginação do leitor sobre o que ele há de encontrar! Esperamos que as indicações propostas aqui sejam muito úteis no trabalho em sala de aula!
Sumário Carta ao professor
1
1
Introdução
3
2
Propostas de Atividades I
6
2.1
Pré-leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6
2.2
Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9
2.3
Pós-leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11
3
4
Propostas de Atividades II
13
3.1
Pré-leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
14
3.2
Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
16
3.3
Pós-leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
18
Aprofundamento
21
4.1
A obra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
21
4.2
A vida moderna em uma história antiga . . . .
21
4.3
O desenvolvimento da relação . . . . . . . . .
22
4.4
O fruto do pecado e do conhecimento . . . . .
23
4.5
Por que ler os Diários de Adão e Eva? . . . . .
24
4.6
Atividades para o aprofundamento da pesquisa 24 4.6.1
Tolerância e a desconstrução de preconceitos . . . . . . . . . . . . . . . .
26
4.6.2
Histórico da divisão sexual do trabalho 26
4.6.3
À luz do Velho Testamento . . . . . . .
27
4.6.4
A visão do paraíso . . . . . . . . . . .
29
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Reconstrução da história das migrações a partir do dna . . . . . . . . . .
5
6
1
30
Sugestões de referências complementares
31
5.1
Filmes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
31
5.2
Sites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
32
Bibliografia comentada
33
Introdução
Usando linguagem irônica e cheia de humor, Mark Twain criticou a sociedade escravocrata da época, onde fanatismo e hipocrisia eram alvos prediletos de sua sátira. Curiosamente, não demonstrava tamanho interesse pela escola, pela leitura e a escrita. Entre muitas experiências, foi soldado durante a guerra civil, e depois de se convencer de que seu verdadeiro talento era o de inventar histórias, foi reconhecido como palestrante. Suas narrativas eram contadas com sotaque sulista, com acento carregado, lento, anasalado, sem pressa, recheado de vocábulos e expressões típicas do sul. Um regionalista que reforçava sua origem. Aliás, nunca pretendeu passar por pessoa culta, erudita. Mark Twain tentou promover leituras públicas de seus livros, mas os primeiros resultados foram desanimadores. “Eu achava que bastava imitar Dickens”, diz em sua autobiografia, “subir na plataforma e ler o livro. Mas tentei fazer isso e foi um fracasso. Coisas escritas não servem para discursos.” Ele então desenvolveu seu estilo próprio e divertido de dar palestras como se estivesse conversando com o público. Uma curiosidade é que o autor era obcecado pela figura do personagem “Adão”. Nas cartas trocadas com sua esposa, havia uma em que estava escrito: “Adão, o pai da raça humana, certamente merece ser honrado.” Motivado por tal obsessão,
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veio a redigir uma petição ao congresso americano para conceder à cidade de Elmira permissão para construir um monumento a Adão, que acabou nunca acontecendo. Seguindo sua jornada, enfim escreve os Diários de Adão e Eva, em 1983 e 1895, respectivamente. E não consegue que sejam imediatamente publicados. Para conseguir sua publicação, buscou apoio de um amigo antigo, então secretário de turismo da região de Buffalo. O político sugeriu que ele adapte o manuscrito de forma a ambientar o enredo do mítico paraíso de Adão e Eva nas cataratas do Niágara, pois assim poderia ser vendido como souvenir durante a exposição pan-americana de Chicago. Dadas as novas circunstâncias editoriais, uma das modificações que deve ter sido feita mais óbvias é uma em que Eva começa a organizar o paraíso colocando placas que indicavam os diversos locais de visitação do lugar, como se o jardim do Éden fosse um parque público. No relato Adão diz que algumas dessas placas indicam: “por aqui para a piscina de hidro”, “por aqui para a ilha das cabras”, “caverna dos ventos por aqui.” A segunda parte do diário, escrito por Eva, é publicada como uma edição especial para o Natal. Em suas palestras, era reconhecido por cativar a plateia com humor do começo ao fim. Em suas famosas tiradas deixam visível a intenção de dizer a verdade, de fazer as pessoas perderem a pose rindo até se darem conta de que não deveriam rir e ter vergonha de si mesmas. Mark Twain permanece como um dos mais amados autores ligados ao individualismo americano. Ao contrário de tantos dos seus contemporâneos, ele não via os Estados Unidos como uma extensão da Europa. O autor exaltou o empreendedorismo individual e se posicionou contra as injustiças onde quer que as encontrasse. Enquanto morou em Viena, na Virgínia, desafiou a imprensa antissemita e defendeu o capitão francês Alfred Dreyfus (1859–
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1935), condenado pelas cortes militares por traição em um processo viciado que que dividiu a sociedade francesa. Enquanto dava palestras na Inglaterra, em 1894, sua filha morreu de meningite. Livy, sua esposa por 34 anos, sucumbiu por conta de um problema cardíaco em 1904. “Durante os anos que se seguiram à morte da minha esposa”, escreveu em sua autobiografia, “eu mergulhei em uma triste maré de banquetes e discursos sobre causas elevadas e santas; mas enquanto essas coisas me animavam e alimentavam intelectualmente, elas tocavam apenas momentaneamente meu coração, que então ficava seco e empoeirado.” Mark Twain celebrava o país como uma civilização distinta e defendia a liberdade e a justiça, e também promovia a paz. Retratava espíritos livres, determinados, rústicos, que superavam obstáculos intimidadores para realizar seus destinos. Seu charme pessoal e seu humor afiado ainda fazem as pessoas sorrir. Suas obras voltadas ao público juvenil apresentam protagonistas fortes e inspiradores. Agora uma curiosidade: na segunda parte do livro lê-se no subtítulo a seguinte observação: “traduzido do original”. O que essa observação insinua é que Mark Twain não assume a autoria da obra, mas sim a tradução. Ou seja, o autor conduz o leitor a pensar que ele foi “mero” tradutor, e não quem compôs uma ficção sobre os acontecimentos narrados no jardim do Éden. Se por um acaso do destino a obra visse a ser acusada de blasfêmia, ironia ou deboche, não seria Mark Twain quem teria de se sentar no banco dos réus. A última subdivisão, escrita por Eva quarenta anos depois, já longe do paraíso, tem um estilo extremamente “meloso”. O objetivo de Twain era relacionar as narrativas do livro do Gênesis ao presente e ao mesmo tempo demonstrar sua teoria cíclica da história. O gênero do livro é o diário, obviamente ficcional, com suas entradas e datas, que remetem a uma visão cíclica da história.
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Figura 1: Retrato de Mark Twain, 1907 (A.F. Bradley; Domínio Público)
2 2.1
Propostas de Atividades I Pré-leitura
Tema Um querido diário Conteúdo
Compreensão do estilo do gênero textual diário,
como a autobiografia e/ ou o memorial.
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Objetivo Estimular os estudantes a adentrarem o universo da escrita em primeira pessoa, por meio do exercício da redação de seus próprios diários. Justificativa Fazendo uso do recorrente recurso da sátira em Diários de Adão e Eva, essa atividade que recebe um título em tom jocoso — pretendendo os mesmos moldes de Mark Twain e sua escrita — propõe aos alunos a escrita de um diário. A obra Diários de Adão e Eva, dividida em duas partes, a primeira sendo “Fragmentos do diário de Adão” e a segunda “Diário de Eva” — que vem acrescida de mais um fragmento do diário de Adão e ainda das seções “Depois da expulsão” e “Quarenta anos depois”, terminando com o epitáfio na tumba de Eva —, segue justamente o estilo de um diário. Na contemporaneidade, a prática de produção de diários pessoais se inscreve na fronteira entre os formatos analógico e digital. Convivem simultaneamente as formas de registro manuscritas, que adotam tradicionais cadernos e agendas como suporte, e as novas tecnologias digitais de comunicação e informação, baseadas no uso de editores de texto e compartilhamento de dados em blogs e sites. O gênero textual diário pertence ao grupo das experiências que envolvem a escrita de si, no âmbito das quais se inserem também, por exemplo, a autobiografia e o memorial. Como exercício de pré-leitura essa atividade seria de grande valia para que os alunos se debruçassem sobre suas narrativas pessoais, refletindo quem são, o que fazem, como fazem e seus cotidianos. Metodologia Para o início dessa atividade de pré-leitura, é interessante que os alunos estejam familiarizados com o gê-
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nero diário. Para isso, proponha um primeiro debate coletivo entre os alunos, pergunte se eles conhecem, se já escreveram diários ou até mesmo se já leram outras obras nesse formato. 1. Em seguida, apresente aos estudantes o conceito de journaling, como é conhecida, em inglês, a prática de produção frequente de diários pessoais. Evidencie que essa é uma oportunidade para conhecer a própria personalidade e, no caso de ter acesso a diários de outras pessoas, descobrir os gostos, interesses e vivências de colegas e familiares. BNCC
1
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Habilidades de Língua Portuguesa Campo da vida pessoal
Compartilhar gostos, interesses, práticas culturais, temas/ problemas/questões que despertam maior interesse ou preocupação, respeitando e valorizando diferenças, como forma de identificar afinidades e interesses comuns, como também de organizar e/ou participar de grupos, clubes, oficinas e afins.
2. Oriente os alunos a, individualmente, produzirem textos sobre suas rotinas, o que fazem, quais são suas predileções, quem encontram, como se relacionam. Indique também que os registros manuscritos poderão incluir todas as experiências que se desejar anotar, com desenhos ou retalhos de itens variados que amarrem a escrita. 3. Como produto final, é esperado um diário por aluno, que pode ser apresentado em formato digital. Estimule a cada um dos alunos compartilharem com o resto da turma trechos de seus respectivos diários que considerarem interessantes. Tempo estimado Duas aulas de 50 minutos.
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Figura 2: Biblioteca do primeiro andar da casa de Mark Twain (Jack E. Boucher; Domínio Público)
2.2
Leitura
Tema Ilustrando o Éden Conteúdo
Conhecimento e articulação das outras formas de
linguagem artísticas na representação do Paraíso, em Diários de Adão e Eva, por meio do desenho ou da fotografia. Objetivo Ampliar as interpretações dos estudantes acerca dos ambientes narrados na escrita de Mark Twain, traduzindo o imaginário do que poderia ser o Éden para fragmentos das paisagens de seus cotidianos. Justificativa Outra forma de registro muito comum na atualidade são os fotoblogs, ou aplicativos cujo objetivo principal é divulgar fotos e vídeos próprios, ou de assuntos que o detentor do perfil considera interessantes. Constituindo uma narrativa, quase como um diário, se postada frequentemente.
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Aproximar-se desse outro tipo de comunicação visual, possivelmente comum na vida dos estudantes, permitiria aos alunos abordar, dentro de seus próprios termos, o que foi lido na obra Diários de Adão e Eva e ampliarem seu repertório quanto às possível traduções de passagens do texto. Ainda que o livro, em sua edição de 1906, venha acompanhado de ilustrações originais por Lester Ralph, essas causaram tamanho escândalo que foram proibidas em diversas bibliotecas da época devido à forma que Eva foi representada. Ainda que, nas palavras de Mark Twain, muito satisfeito com elas: “São cheias de graça, charme, inventividade, humor, páthos, poesia — são pródigas em mérito. É uma Eva alegre, uma menina doce, inocente e sedutora, e é tão natural e está tão à vontade no conto como se tivesse acabado de sair dele. Mas você acha que vestimentas são indispensáveis para retratar as mulheres? … Ela não está maravilhosa no momento em que corre atrás de Adão e quando sai à procura dele quando ele foge? Você percebe quão carregada de admiração e interesse pueril ela está? Roupas vulgarizariam sua imagem — até mesmo as de uma duquesa.” (baetzhold e mccullough, 1995, p. 18) Metodologia 1. Como atividade de leitura, sugere-se o trabalho com fotografia ou desenho, a depender das possibilidades e disponibilidades da turma. 2. Proponha à turma um deslocamento, virtual ou físico, a algum lugar com forte presença de verde, seja um jardim, uma praça, um parque, uma horta, etc.
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3. Definido esse local, realize uma leitura coletiva da segunda parte da obra, que contada já por Eva, a mais nova habitante do Jardim do Éden, descreve o Paraíso e registra sua perspectiva do comportamento daquele que até então não tinha nome e que ela decide chamar de Adão. Ela também explica o porquê das mudanças que faz no ambiente — a organização e a nomeação das primeiras coisas, por exemplo, que caracterizam as primeiras tentativas de comunicação verbal no Paraíso (ver páginas 26–32 do livro). Figura 3: Casa onde Mark Twain passou sua infância, Hannibal, Missouri, eua. (Andrew Balet/Wikimedia Commons; cc-by 2.5)
4. Nesse ambiente, sugira que os alunos produzam fotografias ou desenhos que ilustrem as paisagens descritas na obra de Mark Twain, nas quais Adão e Eva conviveram e produziram seus diários. BNCC
2
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG603 Expressar-se e atuar em processos de criação autorais individuais e coletivos nas diferentes linguagens artísticas (artes visuais, audiovisual, dança, música e teatro) e nas intersecções entre elas, recorrendo a referências estéticas e culturais, conhecimentos de naturezas diversas (artísticos, históricos, sociais e políticos) e experiências individuais e coletivas.
Figura 4: Casa de Mark Twain em Hartford, Connecticut, eua. (Srett/Flickr; cc-by-sa 2.0)
5. O material produzido poderá ser exibido no pátio ou mesmo no site do colégio, de forma a cada um ampliar suas interpretações sobre aquilo que leram. Tempo estimado Duas aulas de 50 minutos.
2.3
Pós-leitura
Tema O quanto há de outras narrativas em Mark Twain?
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Exercícios de escrita que estabeleçam uma com-
paração entre textos literários distintos que tratam da mesma temática. Objetivo Orientar a produção de texto a partir da experiência de leitura, escuta e tradução apresentadas nas últimas aulas, articulando o que foi estudado com a obra “O Paraíso Perdido”. Justificativa o objetivo de Twain em Diários de Adão e Eva era relacionar as narrativas do livro do Gênesis ao presente e ao mesmo tempo demonstrar sua teoria cíclica da história. As passagens do livro do Gênesis quanto analisadas juntamente com as narrativas dos Diários de Adão e Eva, da autobiografia dela e dos relatos de Satã, possibilitam perceber de que o dia a dia no Paraíso, longe de ser ideal e perfeito, foi tão atribulado e humano quanto é o nosso. Nessas narrativas, Twain brinca com a ideia de que os primeiros habitantes da terra enfrentaram as mesmas dificuldades e passaram por um processo de aprendizagem, de vitórias e derrotas, e de construção de sua subjetividade, bastante semelhante ao nosso, “comprovando” que as histórias se repetem. Metodologia 1. Nesta atividade de pós-leitura, sugere-se que sejam separadas previamente trechos do poema épico de John Milton, “O Paraíso Perdido”, de 1667, e a leitura de contos de Machado de Assis, “Adão e Eva”, e Eça de Queirós, “Adão e Eva no Paraíso”, que também retratam o cotidiano do casal. Ofereça os trechos escolhidos para a leitura dos alunos.
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2. Para essa atividade, é interessante comparar tanto a questão da estrutura das obras, que se organizam na forma de diário, de poesia épica e conto, bem como trabalhar a significação e interpretação que cada um dos autores oferece acerca da história bíblica do Gênesis. BNCC
3
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Habilidades de Língua Portuguesa Campo artístico-literário
Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam.
3. Proponha aos alunos que façam levantamentos iniciais e solicite que redijam um pequeno texto, onde apontarão seus próprios pareceres. Ao final, sugere-se formar uma roda com a sala de aula para debater os pontos levantados, retomando passagens da leitura de Diários de Adão e Eva. Figura 5: Capa da primeira edição de “O Paraíso Perdido” de John Milton, 1667. (Houghton Library; Domínio Público)
Tempo estimado Duas aulas de 50 minutos.
3
Propostas de Atividades II
A obra Diários de Adão e Eva possibilita trabalhos interdisciplinares e integradores de diferentes campos do saber e áreas de conhecimento. A seguir, propomos algumas atividades que podem ser desenvolvidas conjuntamente com professores de outras áreas. Além das habilidades de Linguagens e suas Tecnologias e de Língua Portuguesa, indicadas nas etapas da seção anterior e válidas também para esta, listamos a seguir as habilidades de outras áreas, presentes na abordagem interdisciplinar:
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3.1
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Pré-leitura
Tema As representações do Gênesis e sua história Conteúdo
Introdução e contextualização do período histó-
rico da história do Gênesis e as diferentes linguagens artísticas na representação dessa passagem. Objetivo Aproximação do universo da obra que será lida, a partir de imagens que representem a história do Gênesis. Justificativa De acordo com a história bíblica, Adão e Eva foram criados no sexto dia, juntamente com os animais. Deus provocou em Adão um sono profundo, gerando, a partir da costela dele, Eva. A história do Gênesis é de suma importância para a construção da narrativa em Diários de Adão e Eva, pois Mark Twain tinha uma certa obsessão com esse tema. Em uma caixa de material póstumo seu, revela-se sua intenção de erigir uma estátua de Adão no centro de sua cidade, uma vez que considerava Adão como o pai da raça humana. É evidente, ao longo de sua produção literária, o seu interesse em escrever sobre temas bíblicos, sobre a origem do mundo, a criação do universo, e a seu desejo de dar voz a personagens como Adão e Eva. Entender o universo do Gênesis e sua história revela-se necessário para que se construa um imaginário antes de se iniciar a leitura de sua obra. Metodologia
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1. Como atividade de pré-leitura, sugere-se a exposição de materiais gráficos sobre a história do Gênesis. Através dos tempos, várias foram as representações feitas da história bíblica. Em um diálogo com os professores de Humanidades, proponha uma conversa coletiva acerca das representações dessa passagem. Sugerimos os afrescos de Michelangelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano: “Adão e Eva – A expulsão do Paraíso” e “A criação de Adão”. BNCC
4
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Habilidades de Língua Portuguesa Campo artístico-literário
Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam.
2. Em seguida, solicite aos estudantes que continuem esse aprofundamento no universo de Gênesis, por meio de uma pesquisa individual, trazendo eles próprios outras imagens,de filmes, desenhos, videoclipes, gravuras e murais, juntamente com informações sobre os artistas que as produziram e o contexto em que estavam inseridos na época. BNCC
5
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Habilidades de Língua Portuguesa Todos os Campos de atuação social
Selecionar informações, dados e argumentos em fontes confiáveis, impressas e digitais, e utilizá-los de forma referenciada, para que o texto a ser produzido tenha um nível de aprofundamento adequado (para além do senso comum) e contemple a sustentação das posições defendidas.
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3. Como produto dessa atividade que antecede a leitura da obra Diários de Adão e Eva, proponha aos alunos que façam uma linha do tempo e posicionem cada uma das representações pesquisadas, criando um mural que constitui o universo imagético de Gênesis. Esse grande compilado servirá de base comum para a construção do imaginário de cada estudante. Tempo estimado Duas aulas de 50 minutos.
3.2
Leitura
Tema Arqueologia e os Diários de Adão e Eva Conteúdo
Compreensão da disciplina da arqueologia bí-
blica e suas relações com o mito do paraíso terrestre, posicionando junto a leitura da obra de Mark Twain. Objetivo Familiarizar os estudantes com essa disciplina por meio da leitura de Diários de Adão e Eva, buscando entender quais são as lentes da ciência frente a essa representação do mito terrestre. Os estudantes devem conseguir identificar as principais simbologias dessa passagem bíblica no texto de Twain. Justificativa O livro Diários de Adão e Eva, pode ser entendido como um movimento dialético, que, em suma, significa o confronto de duas ideias, por meio do qual, suas essências são depuradas. Aristóteles entendia que, por meio da dialética, chegar-se-ia à verdade. Hegel, por sua vez, definiu que, por meio desse processo, obter-se-ia o conhecimento absoluto.
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A ideia por trás da dialética está intimamente ligada com a ideia de falseabilidade, desenvolvido por Popper, que se tornou um pilar da epistemologia, e quase como um princípio da ciência. Isto, por sua vez, significa que, ao ser posta a prova, qualquer ideia pode ser verificada como falsa, parcial ou integralmente, ou então comprovada, na exata proporção oposta. Com isso, confrontando-se várias vezes uma ideia em específico, caso ela não tenha sido imediatamente descartada em um primeiro confronto, ela será paulatinamente depurada, ao ser desconectada de seus pontos equivocados, chegando, então, mais próxima de um conhecimento ou lei científica. Durante o século xix, houve um grande furor com as descobertas de Heinrich Schliemann, que comprovou a existência de locais descritos nas obras homéricas, nas primeiras iniciativas próximas ao que viria a se tornar a arqueologia. A história da gênese e da publicação dos Diários de Adão e Eva é bastante peculiar e conturbada. Em uma viagem que Twain faz à Europa, começa a ler com entusiasmo passagens do Velho Testamento. É durante essa viagem que ele visita o lugar de onde supostamente é retirado o pó, a terra, com que Adão é feito. E, em suas palavras diz: “Como somos insignificantes, com o nosso pequeno mundo pigmeu!… Será que uma maçã, em um grande pomar, pensa sobre si como nós pensamos sobre nós?”. Metodologia 1. Como atividade de leitura, em diálogo com as outras disciplinas de Ciências da Natureza e ciências humanas, peça aos alunos que realizem uma pesquisa acerca de descobertas arqueológicas tangentes aos locais, povos e eventos descritos no Velho Testamento.
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Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
EM13CHS101 Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
2. Feito isso, solicite que os alunos escrevam um breve texto, indicando o que das sagradas escrituras pode ser comprovado e o que não foi capaz de ser confirmado, estabelecendo um paralelo com as reverberações que
Figura 6: Capa de “Eve’s Diary”, 1906 (Wikimedia Commons; Domínio Público)
essa passagem bíblica tem na obra de Mark Twain Diários de Adão e Eva tanto na Parte 1 — “Fragmentos do diário de Adão” (páginas 17 e 18) quanto na Parte 2 -— “Diário de Eva” (páginas 33–36). BNCC
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Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP54
Campo artístico-literário
Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.
Tempo estimado Duas aulas de 50 minutos.
3.3
Pós-leitura
Tema Como ler uma obra antiga? Conteúdo
Discussão sobre o papel assumido por Eva em
sua relação com Adão e seu protagonismo no Paraíso, comparando com a realidade da mulher no mundo ocidental moderno.
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Objetivo Estimular e habilitar os estudantes a ler criticamente uma obra antiga e possibilitar a compreensão de seus anacronismos na sociedade atual. Justificativa Na obra lida, somos expostos às visões de Adão e Eva sobre acontecimentos análogos e simultâneos e, quando não, os mesmos. Desde o início da organização da sociedade, foi realizada uma divisão sexual das tarefas, em geral, restando as mulheres mais próximas ao núcleo da ocupação, enquanto os homens saíam para busca de alimentos, em uma circunscrição mais ampla. Outrossim, isso acabou por acarretar distinções sociais que se desenvolvera e, de certa forma, se perpetuaram no decorrer da história. A consequência nefasta dessa situação é que, em muitas sociedades, a mulher foi relegada a um segundo plano, obtendo recentemente, e apenas em alguns lugares, a igualdade de direitos e oportunidades devidas. Na última subdivisão do texto, escrita por Eva quarenta anos depois, já longe do Paraíso, para o leitor atual, o seu estilo pode ser considerado no mínimo extremamente “meloso”. É visível como Twain vai transformando os personagens. Se no princípio os dois personagens eram desconhecidos, não se suportavam pelas óbvias diferenças e a falta de convívio, no final o texto assume um tom romântico, quase brega e piegas, demonstrando que no desenrolar da história criou-se um vínculo emocional e de cumplicidade muito forte entre eles. Ela ora para que possam “[…] passar desta vida juntos […] mas se um de nós tiver de ir antes, rogo que seja eu; pois ele é forte, eu sou fraca, não sou necessária para ele […] a vida sem ele não seria vida; como eu aguentaria? […]” Atualmente, esses trechos que relatam a perspectiva de Eva, submissa e devota à Adão, além de ter sido gerada, em princípio, a partir de sua costela, revelam-se por certo anacrônicos. Estimular o debate acerca dessa temática e exerci-
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tar o olhar para ler uma obra, dentro de seus devidos termos, situando-a na contemporaneidade é de extrema importância para que se promova uma leitura crítica coletiva frente ao seu enredo e reverberações. Metodologia 1. Para essa atividade de pós-leitura, proponha um debate inicial com os alunos a respeito do lugar da mulher na sociedade, levantando elementos capazes de compor um arcabouço adequado para o entendimento. BNCC
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Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
EM13CHS504 Analisar e avaliar os impasses ético-políticos decorrentes das transformações culturais, sociais, históricas, científicas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdobramentos nas atitudes e nos valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas.
2. Agora, como proposta de atividade final, peça que os estudantes, articulando os conhecimentos apreendidos durante as aulas sobre contexto histórico e cultural da sociedade, e com o apoio dos professores das disciplinas de Ciências Humanas, posicionem o papel da figura feminina enquanto protagonistas de suas histórias. Quem são essas mulheres? Quais foram suas jornadas? BNCC
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Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG305 Mapear e criar, por meio de práticas de linguagem, possibilidades de atuação social, política, artística e cultural para enfrentar desafios contemporâneos, discutindo princípios e objetivos dessa atuação de maneira crítica, criativa, solidária e ética.
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3. Em seguida, proponha que cada aluno realize uma pesquisa a produção de um texto crítico, abordando um caso concreto, e contextualizando no cenário geral da temática, respondam à pergunta: Se fossem a Eva em Diários de Adão e Eva, como seriam seus diários? BNCC
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Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP54
Campo artístico-literário
Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.
Tempo estimado Duas aulas de 50 minutos.
4
Aprofundamento
Nesta seção, desenvolvemos um trabalho de aprofundamento que, em diálogo com a formação continuada de professores, oferece subsídios para a abordagem do texto literário.
4.1
A obra
Em uma narrativa leve e divertida, Mark Twain reconta a história bíblica do Gênesis, da perspectiva de seus mais icônicos participantes, Adão e Eva. Como se cada um deles tivesse escrito um diário, lemos suas percepções da vida e do mundo – tanto no paraíso, quanto após a perda deste –, e da forma como cada um enxerga o outro, conforme vão se conhecendo.
4.2
A vida moderna em uma história antiga
Os diários são uma representação da humanidade, nos seus aspectos masculino e feminino, interpretados pelo primeiro casal da história, segundo a crença ocidental.
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No casal primordial, enxergamos traços comuns das personalidades, de modo que, ainda que retratados em tempos imemoriais, os sentimentos de Adão e Eva são exatamente o que muitos ainda sentem. Traço comum das convivências modernas, à ausência de compreensão da perspectiva do outro muitas vezes é causa de atritos entre as pessoas em um relacionamento. Mark Twain, portanto, em poucas páginas oferece uma profunda reflexão, nos colocando um anteparo refletor nas pessoas do casal primordial, para que nós percebamos que, às vezes estando envolvidos na relação, deixamos de refletir e de procurar entender como aquela situação se apresenta diante do entendimento do outro. Ainda na vida moderna, que muitas vezes parece estar tão distante do paraíso.
4.3
O desenvolvimento da relação
No começo, Adão achava Eva uma pessoa chata. Ele entende que a chegada dela foi um percalço, algo que atrapalhou seu bem estar. Eva, por outro lado, enxerga em Adão um ser interessante e uma possível companhia, afinal, ficar sozinha e não ter com quem falar é a coisa que ela menos gosta. Adão muito simples, muito prático. Eva, romântica por excelência e curiosa, sonhava em decorar o cabelo com as estrelas. Só depois de muitas tentativas, frustrada, desistiu, ao perceber o quão distantes elas estavam. Aos poucos, a presença de Eva se torna impossível de ser ignorada, de modo que Adão não consegue mais nem pensar sem utilizar as palavras inventadas por Eva. Eva, aliás, é uma grande inventora, gosta de dar nome às coisas, de investigar e descobrir. E se frustra por Adão não demonstrar interesse em coisas que não vê um senso prático. Na verdade, muitas das angústias de Eva, em razão do laconismo de Adão, são fruto de uma certa incompreensão. Ele
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nascera no mundo sozinho, socializar-se é uma novidade ao primeiro homem. Entretanto, ele pensa que deve ser paciente e se esforçar por ela. Que ela é mais nova e mais empolgada que ele, não podendo ser julgada por sua ótica. Há momentos em que Adão apenas diz que “aguentou firme”. Numa primeira leitura, isso dá a impressão que, para ele, a presença de Eva seria insuportável. Entretanto, ao fim de uma leitura completa da obra, parece muito mais como um ato de resignação, de paciência diante de outra pessoa, que sim, o frustra em alguns aspectos, mas que se torna fundamental à sua vida e que ele passa a compreender, tentando tomar o ponto de vista de sua companheira para as coisas. Eva, por sua vez, entende que Adão é um ser desprovido de inteligência, mas mesmo assim, sua presença a agrada e ela sublima a aparente limitação de seu par. Figura 7: Capa de “Extracts From Adam’s Diary”, 1904 (Wikimedia Commons; Domínio Público)
4.4
O fruto do pecado e do conhecimento
Como já indicado anteriormente, Adão é um ser de poucas palavras. Isso se reflete na escrita em seu diário, como ela aparece no início da obra. Entretanto, após comer o fruto, imediatamente, os textos de Adão aparecem alongados, sendo dotados de um vocabulário mais complexo e um conteúdo mais reflexivo e profundo. A expulsão do paraíso é um momento de temor, em que o ambiente de segurança cai em uma ruína essencial, entretanto, é ao mesmo tempo o momento em que há o verdadeiro autoconhecimento de Adão e o reconhecimento da beleza da vida e o bem-estar que sua companheira lhe causa. Mesmo Eva, que sempre foi mais falante, apresenta um tom mais maduro em suas linhas. O mundo deixa de ser um local de aventura e brincadeira e os laços emocionais se tornam mais intensos, sendo quase como o fio condutor de sua vida. O paraíso é como se fosse um sonho, uma lembrança bo-
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nita. Mas, assim como para Adão, o bem se encontra na pessoa do outro e a felicidade emana da convivência com ela… por mais que às vezes seja deveras estressante.
4.5
Por que ler os Diários de Adão e Eva?
Os diários trazem a visão de cada um dos acontecimentos cotidianos, mas nem sempre se sobrepõem. Há momentos que sim, ambos narram os mesmos eventos de perspectiva distintas, mas não é o que ocorre sempre. De toda sorte, a visão distinta de ambos dos acontecimentos diuturnos, compõe, na verdade, uma grande unidade. O livro é belo na simplicidade com que descreve situações mais básicas, da perspectiva de alguém que desconhece palavras, como a descrição que Adão faz do choro de Eva. No caso, é o contar de uma história da perspectivas de dois seres que já nasceram adultos, não foram crianças, então comportamentos infantis e maduros se misturam. E, por mais que haja situações cômicas, como o nomear das coisas, em muitos casos, os comportamentos mais infantilizados retratados não são tão estranhos a pessoas mais adultas da contemporaneidade. Especialmente quando tangem à frustração, ao temor da solidão, às dificuldades em dividir o espaço e conviver. Ao fim, a história desses diários é a narrativa de como o amor se constrói entre esses dois seres tão diferentes. A beleza e a delicadeza com que ambos se enxergam, mesmo após a perda do paraíso é tocante. Mesmo os motivos que os levaram à expulsão e até mesmo o pecado de comer o fruto proibido se tornam relativos.
4.6
Atividades para o aprofundamento da pesquisa
No Ensino Médio, da mesma forma que no Ensino Fundamental, a bncc organiza o trabalho com as práticas de linguagem
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Figura 8: Ilustração do livro “Eve’s Diary”, 1907 (Project Gutenberg; Domínio Público)
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em cinco campos de atuação social. São eles: campo da vida pessoal, campo da vida pública, campo jornalístico-midiático, campo artístico-literário e campo das práticas de estudo e pesquisa. De acordo com essa divisão, propomos na sequência um trabalho interdiscursivo e intertextual com a obra Diários de Adão e Eva. 4.6.1
Tolerância e a desconstrução de preconceitos
No texto lido, resta claro que uma das chaves para a boa convivência do casal primordial é a tolerância. Ambos são distintos, enxergam os defeitos um do outro, mas, apesar disso, detêm amor mútuo. Na verdade, o que ambas as personagens desenvolveram foi o sentimento de aceitação, empatia e boa convivência. Entretanto, para que esses se formem, é necessário que haja, inicialmente, uma predisposição à tolerância. Forme uma roda com os alunos, discuta a questão da tolerância. Procure debater questões como meios para a desconstrução de preconceitos e para um bem viver em conjunto, tanto no seio da família, quanto no colégio, ou em sua comunidade. Levante as questões com os jovens e, procure, coletivamente, construir propostas para a melhoria de pontos que não estejam ideais. BNCC
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Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG502 Analisar criticamente preconceitos, estereótipos e relações de poder presentes nas práticas corporais, adotando posicionamento contrário a qualquer manifestação de injustiça e desrespeito a direitos humanos e valores democráticos.
4.6.2
Histórico da divisão sexual do trabalho
Uma das implicações das distinções sociais fomentadas a partir dos gêneros, uma das mais comumente vistas é a divisão sexual do trabalho. Inicialmente, à mulher era reservado
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um papel doméstico, recebendo o homem o papel de “ganhapão”, sem o qual uma família não teria condições de receber um bom sustento, ou mesmo uma boa orientação. Essa visão arcaica há muito caiu por terra. Entretanto, mesmo hoje, mesmo nos países mais igualitários, as mulheres quase sempre recebem um salário menor que os homens. Com isso em mente, solicite aos alunos que produzam um texto investigativo-jornalístico, onde deverão abordar, o histórico da divisão sexual do trabalho, dando ênfase ao momento em que as mulheres passam a atuar contundentemente no mercado de trabalho; a circunstância atual e casos concretos onde haja grande discrepância salarial; o planejamento e implementação de politicas de equiparação; e, por fim, narrar como é a realidade da questão na comunidade em que habitam. O material produzido pode ser veiculado no jornal da escola, ou ser postado no site do colégio. BNCC
12 Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
EM13CHS401 Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.
4.6.3
À luz do Velho Testamento
Na contemporaneidade, muito se discute a respeito da veracidade das informações e, também, das qualidades das fontes que a embasaram. A propagação de notícias falsas não é exclusiva dos tempos modernos. Desde muito cedo na história da humanidade, percebeu-se o efeito social e político que uma notícia poderia ter. Podia fazer com que as pessoas desconfiassem de seu rei, ou então podia inflamar a população para guerra.
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É verdade também que veículos de mídia podem ter preferências políticas, de acordo com a pessoa ou o grupo aos quais eles pertencem. Assim sendo, um mesmo fato pode ser abordado de distintas maneiras. Como exemplo histórico, sugira a leitura dos trechos a seguir, um extraído de um texto produzido pela cote do rei assírio Senaqueribe, e, o outro, um trecho do Velho Testamento: • O rei Ezequias recusou-se a se submeter, eu cerquei as quarenta e seis cidades de seu reino e as tomei. duzentas pessoas, entre homens, mulheres e crianças, camelos, mulas, asno, cavalos e um incontável número de gado bovino e ovino eu tomei como espólio. O próprio Ezequias foi engaiolado como um pássaro. Mandei colocar sua jaula na porta de Jerusalém, onde nele eu atirei vasos e cerâmicas. Ezequias contemplou minha majestade enquanto eu lhe impunha o tributo de trinta talentos de ouro e oitocentos talentos de prata e, além disso, entregava as cidades de seu reino para o domínio de Padi e levava à Nínive sua filha, seu harém, seus músicos, ouro, prata, marfim e joias.”1 • Assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma; tampouco virá perante ela com escudo, nem levantará contra ela trincheira alguma. Pelo caminho por onde vier, por ele voltará; porém nesta cidade não entrará, diz o Senhor. Porque eu ampararei a esta cidade, para a livrar, por amor de mim e por amor do meu servo Davi. Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta 1
Prisma de Senaqueribe (c. 689 a.C.). Material: Argila. 6 faces – 38 cm de altura por 14 cm de largura. Idioma: Acadiano – escrito em cuneiforme. Localização atual – Instituto Oriental em Chicago – eua.
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e cinco mil deles; e, levantando-se pela manhã cedo, eis que todos eram cadáveres. Então Senaqueribe, rei da Assíria, partiu, e se foi, e voltou e ficou em Nínive.2 Perceba como ambas narram o mesmo evento, mas cada uma conta um desfecho completamente distinto. Dito isso, para a atividade, observe com os alunos como uma mesma notícia pode ter matizes distintas conforme o veículo que a divulga. Sugere-se a procura de um mesmo tema em diversas publicações brasileiras e estrangeiras. Veja que elas podem ter vieses diferentes. A partir disso, sugira que os alunos produzam um texto dissertativo, no qual deve ser discutido a questão da importância da informação e suas implicações. E os perigos da manipulação dos fatos. Para enriquecer a argumentação, indique outras publicações e casos famosos onde a atuação de um veículo de informação gerou grande consequências políticas e sociais. Também recomenda-se a exibição do ted o Perigo de uma Única História, exposto por Chimamanda Adichie. BNCC
13
Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP40
Campo jornalístico-midiático
Analisar o fenômeno da pós-verdade – discutindo as condições e os mecanismos de disseminação de fake news e também exemplos, causas e consequências desse fenômeno e da prevalência de crenças e opiniões sobre fatos –, de forma a adotar atitude crítica em relação ao fenômeno e desenvolver uma postura flexível que permita rever crenças e opiniões quando fatos apurados as contradisserem.
4.6.4
A visão do paraíso
A partir das atividades em que os alunos entraram em contato com obras artísticas que retratam o Éden, bem como montaram um cenário de acordo com o descrito por Twain, solicite 2
2 Reis 19:1-37.
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que cada aluno faça uma lista, de coisas que considera fundamentais na sua própria visão de paraíso. Com essa lista em mãos, peça para que cada aluno realize uma representação visual de seu paraíso individual. Isso pode ser feito por meio de fotografia, desenho, maquete, computação gráfica, escultura, etc. Apenas indique para que o estudante esteja atento à lista que previamente formulou. O produto final poderá ser exposto no colégio, ou então pode ser desenvolvido um acervo virtual a ser veiculado na página da escola. BNCC
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Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG603 Expressar-se e atuar em processos de criação autorais individuais e coletivos nas diferentes linguagens artísticas (artes visuais, audiovisual, dança, música e teatro) e nas intersecções entre elas, recorrendo a referências estéticas e culturais, conhecimentos de naturezas diversas (artísticos, históricos, sociais e políticos) e experiências individuais e coletivas.
4.6.5
Reconstrução da história das migrações a partir do dna
Além de aspectos sociais e psicológicos, a questão fisiológica é outro fator que deve ser levado em conta quando questões de gênero são debatidas. Esse aspecto, inclusive, e por sua própria natureza, tem fator preponderante na definição do gênero biológico. Nesse sentido, é interessante que os alunos tenham maior conhecimento do aparato genético que define o sexo, bem como as influências hormonais que cromossomos os X e Y direcionam no organismo. Para essa atividade, sugira uma investigação, contando com o auxílio do professor de ciências da natureza, sobre genética e fisiologia, a partir da qual os alunos coletarão informações sobre as recentes descobertas científicas a respeito, bem como entenderão melhor o funcionamento de nosso organismo, além de conseguirem, com isso, ter um maior conhecimento da evolução de nossa
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espécie, tendo contato com informações, como por exemplo, a possibilidade que temos de reconstruir a história das migrações da humanidade a partir do dna mitocondrial. BNCC
15 Habilidades de Ciências da Natureza e suas Tecnologias
EM13CNT208 Aplicar os princípios da evolução biológica para analisar a história humana, considerando sua origem, diversificação, dispersão pelo planeta e diferentes formas de interação com a natureza, valorizando e respeitando a diversidade étnica e cultural humana.
5 5.1
Sugestões de referências complementares Filmes • Amantes Eternos. Direção: Jim Jarmursch (Reino Unido/ Alemanha/ França/ Chipre, 2013). O filme narra a história de um casal de vampiros, chamados Adão e Eva, que vivem certa nostalgia do passado, a vida e a cultura de outras gerações que viveram. Porém, é com a chegada da irmã de Eva, Ava, que o cotidiano do casal é alterado. • Anticristo. Direção: Lars von Trier (Dinamarca/ Suécia/ França/ Alemanha/ Itália/ Polônia, 2009). Um casal entristecido pela morte do filho muda-se para uma casa no meio da floresta, chamada Éden, a fim de tentar superar a tragédia. No entanto, os conflitos entre racional e irracional, da consciência de cada uma das personagens desencadeiam uma série de eventos misteriosos e assustadores. • Mãe!. Direção: Darren Aronofsky (Estados Unidos, 2017).
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Ainda que sem referências diretas às personagens bíblicas, nos créditos é possível perceber as alusões: Ele, mãe, Homem, Mulher, O filho mais velho, O filho mais novo. Nenhuma das personagens tendo nome próprio, mas a sequência de eventos que o filme retrata remonta a história do Gênesis, com o aparecimento de Adão abalando o equilíbrio e depois a chegada de Eva, a partir de sua costela. • Os Belos Dias de Aranjuez. Direção: Wim Wenders (França/ Alemanha/ Portugal, 2016). No filme, uma mulher e um homem estão sentados em um jardim em Paris, num dia de verão, e compartilham suas visões a respeito do amor e da liberdade, resvalando em memórias e desejos reprimidos. A relação entre eles a princípio não parece muito evidente, mas ao mesmo tempo, a maçã em cima da mesa do jardim, aproxima-os de Adão e Eva.
5.2
Sites • Casa e Museu Mark Twain O museu institucional, acessível neste link3 , localizado na antiga casa de Mark Twain, preservando e divulgando a obra do escritor, tem como missão promover a visão do autor de como o mundo enxerga os Estados Unidos e de como os estado-unidenses veem eles próprios. • Introdução ao livro do Gênesis
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https://marktwainhouse.org/ Acessado em 21/03/2021.
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O site4 da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias permite uma navegação interativa por um resumo do livro do Gênesis e cada uma de suas partes.
6
Bibliografia comentada • andRade, Carlos Drummond de.
Amar se aprende
amando: Poesia de convívio e de humor. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. O que encontramos nos 68 poemas que compõem este volume é o fruto do esforço do poeta em conciliar sentimento e experiência, em um percurso pelas diferentes formas que o sentimento amoroso assume em sua poética. • bauman, Zygmunt. Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. A modernidade líquida, “um mundo repleto de sinais confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível” em que vivemos, traz consigo uma misteriosa fragilidade dos laços humanos, um amor líquido. • campbell, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 2014. O livro é o fruto de uma série de conversas mantidas entre Joseph Campbell e o jornalista Bill Moyers, numa combinação de sabedoria e humor, sobre o casamento, os nascimentos virginais, a trajetória do herói e o sacrifício ritual. • gReenblatt, Stephen. Ascensão e queda de Adão e Eva. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 4
https://www.churchofjesuschrist.org/study/ manual/old-testament-seminary-teacher-manual/ introduction-to-the-book-of-genesis?lang=por Acessado em 21/03/2021.
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O autor apresenta a trajetória do mito de Adão e Eva ao longo do tempo, na religião, na literatura e nas artes visuais. • milton, John. Paraíso perdido. São Paulo: Editora 34, 2019. O célebre poema épico de Milton, publicado originalmente em inglês, apresenta uma das mais famosas releituras literárias da história de Adão e Eva. • paz, Octavio. A Dupla Chama. São Paulo: Mandarim Editora, 1999. O livro fornece uma história social e literária do amor e do erotismo, comparando as manifestações modernas com as épocas anteriores, embora observando a relação especial entre erotismo e poesia. • Rougemont, Denis De. O Amor e o Ocidente. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. Denis de Rougemont acreditava que o casamento vivia uma crise no início do século xx e em seu livro pretende apontar os culpados por ela. Sua tese é sobre a antítese amor e paixão. • twain, Mark.Autobiografia de Mark Twain. Belo Horizonte: Itatiaia, 1961. O registro da vida de um dos maiores autores norteamericanos, escrito por ele mesmo, permite contextualizar sua vida e sua obra.
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