Catálogo IV Pirenópolis Doc

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) AGÊNCIA BRASILEIRA DO ISBN - BIBLIOTECÁRIA PRISCILA PENA MACHADO CRB-7/6971

F418 Festival de Documentário Brasileiro (4. : 2018 : Pirenópolis, GO). IV PirenópolisDoc : festival de documentário brasileiro / orgs. Fabiana Assis [et al.]. – Goiânia : Violeta Filmes, 2018. 215 p. : il. color. ; 23cm.

Catálogo do festival realizado no Cine Pireneus, de 04 a 09 de setembro de 2018, em Pirenópolis, Goiás. ISBN 978-85-85215-01-9

1. Documentário (Cinema). 2. Festivais de cinema - Brasil. I. Assis, Fabiana. II. Reis, Lidiana. III. Pessoa, Camila. IV. Almeida, Rafael de. V. Título.

CDD 791.43612


Pirenópolis Doc — Festival de Documentário Brasileiro / 4ª edição


SUMÁRIO

SESSÃO DE ABERTURA 8 CARMEN MIRANDA: BANANAS IS MY BUSINESS

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RETROSPECTIVA HELENA SOLBERG

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CURADORIA

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O CINEMA DE HELENA SOLBERG

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FILMES

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MOSTRAS COMPETITIVAS 40 JÚRI

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JÚRI JOVEM

46

NACIONAL 48 CURADORIA

50

CURTAS-METRAGENS

54

LONGAS-METRAGENS

80

REGIONAL 94 CURADORIA

96

FILMES

98

PREMIAÇÕES 116 TROFÉUS

116

PRÊMIO SESC TV

117

CONEXÕES IBERO-AMÉRICA:

s u m á ri o

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CONSTELAÇÃO GUZMÁN 118 CURADORIA

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PATRICIO GUZMÁN: POR UMA CONSTELAÇÃO

124

FILMES

130

ATIVIDADES DE FORMAÇÃO 148 CURSO DE CINEMA DOCUMENTÁRIO E EXPERIMENTAL

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PROGRAMA PRIMEIRO CORTE

156

LANÇAMENTO LITERÁRIO

171

ENSAIOS E ENTREVISTA 174 CARMEN MIRANDA, BANANAS IS MY BUSINESS: O ENCONTRO COM NOSSA IDENTIDADE CULTURAL

176

ENTREVISTA COM HELENA SOLBERG

182

A IMPORTÂNCIA DO CINEMA DOCUMENTÁRIO

192

PROGRAMAÇÃO 196 EQUIPE 210 PARCEIROS

I V PI R E N Ó PO L I S D O C

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APRESENTAÇÃO Chegamos à quarta edição do PirenópolisDoc! Quatro anos de existência pode parecer pouco, mas para nós significa muita coisa! Principalmente, que aquela ideia surgida há alguns anos, de criar um festival de documentários em nosso Estado, no coração do Brasil, para que assim pudéssemos, aqui, assistir e discutir os filmes dos quais gostávamos e, sobretudo, os filmes que nos tocavam, vem se fortalecendo a cada ano. E isso, graças ao empenho de muita gente que acredita neste festival: equipe, parceiros, diretoras e diretores que confiam seus filmes à nossa seleção. São quatro anos de encontros frutíferos com pessoas e obras, que nos renderam (e continuam rendendo) trocas e aprendizados incomensuráveis que renovam a nossa visão de mundo. Uma das preocupações fundamentais do festival é resgatar as origens do documentário brasileiro, reconhecendo os nomes que protagonizaram essa história. Por isso, a homenageada com uma mostra retrospectiva na edição deste ano é Helena Solberg. Feminista, com mais de cinquenta anos de carreira, Helena participa dos movimentos políticos pelos direitos das mulheres desde a década de 60 e foi a única mulher integrante do Cinema Novo. Seu filme mais recente, Meu Corpo Minha Vida (2017), trata de um tema polêmico, a legalização do aborto, discussão que se faz inevitável no Brasil e no mundo hoje. Esses quatro anos serviram também para que o Programa Primeiro Corte, o nosso PPC, se configurasse como um dos únicos programas do país que se dedica à análise de documentários em etapa de montagem. Pela primeira vez, neste ano, os projetos participantes receberão uma consultoria que visa potencializar a sua inserção no mercado de vendas.

A PR ES E N TAÇÃO s u m á r i o

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Esta quarta edição é para nós muito especial, pois marca o início do que já desejávamos desde o começo de nossa breve existência: buscar conexões com histórias que, ainda que contadas em outras línguas ou em diferentes sonoridades do português, nos causassem sentimento de identificação. É dentro deste contexto que o festival amplia a Mostra Noutras Falas (2017), que exibiu filmes da Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal, e expande suas fronteiras aos territórios ibero-americanos, com a realização, a partir de 2018, da mostra Conexões Ibero-América. Para inaugurar essa nova vertente, escolhemos homenagear o diretor chileno Patricio Guzmán, uma de nossas inspirações, cuja obra proporciona algo de muito valioso que acreditamos haver no documentário: a possibilidade de enxergar e discutir a realidade sob novas perspectivas. Dedicamos esta edição ao amigo Turiba, guardião zeloso do Cine Pireneus desde antes de nele chegarmos. Que venham nossos próximos quadriênios!

Fabiana Assis DIRETORA E CURADORA

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SESSÃO DE ABERTURA


CARMEN MIRANDA: BANANAS IS MY BUSINESS 92’ | BRASIL | 1994 | HELENA SOLBERG

S ES SÃO D E A B E RT U R A s u m ári o

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Carmen Miranda: Bananas Is My Business conta a extraordinária história de Carmen Miranda, nascida em Portugal e criada no Brasil, e que em 1939 vai para os Estados Unidos e se torna a mais famosa brasileira a conquistar as telas de Hollywood. No entanto, para os norte-americanos, ela sempre foi a figura caricata com uma pilha de frutas na cabeça. O filme tenta retirá-la desse estigma, conferindo-lhe o que há de mais fundamental: sua identidade.

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RETROSPECTIVA HELENA SOLBERG


R E T R O S PECT I VA HE L E N A S O L B E R G sumรกri o

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HELENA SOLBERG Helena Solberg nasceu no Rio de Janeiro, em 1938. Diretora, Produtora e Roteirista completou mais de cinquenta anos de cinema desde o lançamento de “A Entrevista” (1966), obra seminal que marca sua participação no Cinema Novo brasileiro. Residiu por mais de 30 anos nos EUA, onde integrou o coletivo International Women’s Film Project e realizou uma série de filmes de temática feminista, como “The Emerging Woman” e “A Dupla Jornada”. Nas décadas seguintes dirigiu documentários para emissoras de televisão norte-americanas em países da América Latina, dentre os quais “Das Cinzas... Nicarágua Hoje” (1982), “Chile: Pela Razão ou Pela Força” (1983) e “A Terra Proibida” (1990). Seu retorno ao Brasil acompanha o lançamento de “Carmen Miranda, Bananas Is My Business” (1994), longa-metragem premiado internacionalmente e produzido por seu companheiro David Meyer. Em 2004, realizou seu primeiro longa de ficção: “Vida de Menina”. Em 2008 ganhou o troféu de Melhor Direção para o documentário “Palavra Encantada”, sobre a música e literatura brasileira. Em 2013, em Co-Direção com David Meyer, lançou o longa-metragem “A Alma da Gente”, sobre um grupo de dança da Maré, no Rio de Janeiro. Sua obra mais recente, “Meu Corpo Minha Vida”, aborda um dos debates mais importantes no contexto brasileiro atual, que é o direito ao aborto, completando a trajetória prolífica desta cineasta de singular sensibilidade.

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CURADORIA


—Ceiça Ferreira Doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), na linha de pesquisa Imagem, Som e Escrita; Professora e pesquisadora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão nas áreas de comunicação e cultura, cinema, raça e gênero.

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O CINEMA DE HELENA SOLBERG CEIÇA FERREIRA (UEG)1

A oportunidade de conhecer a obra de Helena Solberg nos possibilita repensar a história do cinema brasileiro. Mesmo com 50 anos de carreira e uma filmografia que abrange o Cinema Novo, a militância feminista nos Estados Unidos e na América Latina, a ficção e o documentário contemporâneo, essa cineasta ainda é pouco conhecida no Brasil2. Diante da necessidade de reconhecimento de sua relevância histórica no cinema nacional, é que a quarta edição do PirenópolisDoc – Festival de Documentário Brasileiro apresenta uma mostra retrospectiva com oito filmes, que integram a trajetória singular de Helena Solberg. A seleção inclui os seus primeiros filmes, os curtas A entrevista (1966) e Meio-dia (1970), realizados durante o Cinema Novo; as produções feministas feitas no período em que viveu nos Estados Unidos: A Nova Mulher (1974), A Dupla Jornada (1975) e Simplesmente Jenny (1977); o premiado Carmen Miranda: Bananas Is My Business (1995), com o qual Helena Solberg ganha visibilidade no cinema brasileiro; e também o curta Brasil em Cores Vivas (1997), produzido para uma emissora de televisão inglesa, além de seu filme mais recente, Meu Corpo Minha Vida

—1 Doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), na linha de pesquisa Imagem, Som e Escrita; Professora e pesquisadora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão nas áreas de comunicação e cultura, cinema, raça e gênero. —2 Somente em 2014, no “É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários” essa lacuna começa a ser reparada com uma mostra de seus principais filmes e o lançamento do livro “Helena Solberg: do cinema novo ao documentário contemporâneo”, da pesquisadora Mariana Tavares; e também em Março de 2018, o Centro Cultural Banco do Brasil realizou uma mostra integral de sua obra em Brasília, São Paulo e no Rio de Janeiro.

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(2017), que coloca em pauta a descriminalização do aborto, questão urgente na sociedade brasileira. Tais produções reiteram a vitalidade e o legado crítico da filmografia dessa cineasta, realizada nas últimas cinco décadas. Helena Solberg estreia como Diretora em 1966 com o curta-metragem A Entrevista, documentário no qual problematiza a condição feminina e as assimetrias de gênero no contexto da classe média carioca, na qual ela mesma se inseria. Dessa forma, a Diretora utiliza o cinema como um lugar de encontro, no qual partilha com outras mulheres suas próprias inquietações acerca de temas como casamento, sexo, filhos, estudos e carreira. Tais questões que poderiam ser consideradas apenas no âmbito pessoal são articuladas no filme com uma reflexão mais ampla da sociedade brasileira, em especial o contexto social e político, com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade e o golpe militar de 1964. Além do modo reflexivo de representação, também o uso da ficção no documentário com a preparação de uma noiva, encenação da qual emergem as falas das entrevistadas, fazem com que “o documentário de Helena Solberg já nasça moderno”, conforme aponta Tavares (2014, p. 17). Em seu segundo filme e primeira ficção, o curta Meio-Dia (1970), Helena utiliza o ambiente escolar como alegoria da ordem social vigente, mas também destaca a rebeldia infantil. Crianças e adolescentes matam o professor, destroem a escola e comemoram brincando e dançando num momento festivo, que tem como trilha sonora a canção “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso (ARAÚJO; SOUTO, 2018). Dessa forma, suas primeiras produções indicam o engajamento político que será uma constante em sua filmografia.

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A partir de 1971, Helena passa a morar nos Estados Unidos e com o desejo de fazer um filme sobre a história do movimento feminista no país, conhece militantes no meio universitário de Washignton-DC, juntamente com as quais realiza, em 1974, em uma experiência de criação coletiva, o média metragem The Emerging Woman (A Nova Mulher). Neste projeto são utilizadas vozes femininas na interpretação de textos escritos por ativistas, além de imagens de arquivo, fragmentos de discursos, filmes e propagandas antigas para contar 200 anos de história da luta das mulheres. Reconhecido como um importante documento histórico, The Emerging Woman marca o surgimento do grupo International Women’s Project, organização independente composta por Helena e outras mulheres de várias nacionalidades; e, principalmente, possibilita a realização dos próximos filmes que irão abordar, sob uma perspectiva feminista, a realidade de mulheres latino-americanas. As desigualdades de gênero no contexto familiar e no mercado de trabalho são discutidas em The Double Day (A Dupla Jornada), que desnaturaliza os lugares sociais impostos a homens e mulheres e reflete sobre a exploração da força de trabalho feminina nas atividades domésticas e nas fábricas. Já em Simplesmente Jenny (1977), a Diretora propõe uma leitura crítica dos modelos de feminilidade e pureza transmitidos pela mídia e pela formação cristã, confrontando-os com as histórias de três meninas bolivianas (Patricia, Marly e Jenny) que estão em um reformatório e compartilham experiências de violência sexual e prostituição. Nos anos seguintes, Helena Solberg realiza os documentários Das Cinzas...Nicarágua Hoje (1982), A Conexão Brasileira, a luta pela democracia, (1982/1983), Chile, pela razão ou pela força (1983), que investigam as relações políticas entre os Estados Unidos e a América Latina e a mobilização popular frente aos regimes totalitários; e no contexto brasileiro, a expectativa de eleições após 18 anos de ditadura militar, aliada à crise econômica com o aumento da dívida externa. Posteriormente, a cineasta também dirige Retrato de um Terrorista (1985), que tem como foco os sequestros de motivação política; Terra dos Bravos (1986) e A Terra Proibida (1990), documentários que, em geral, mostram a luta pela terra, empreendida por lideranças indígenas em diferentes países; e também no Brasil, com a atuação da ala progressista da Igreja Católica e seu apoio à luta dos trabalhadores sem terra. A partir de um posicio-

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namento que descortina as relações de poder, esses filmes indicam a perspectiva dos oprimidos como possibilidade de construção histórica (AMARAL; ITALIANO, 2018). No documentário Carmen Miranda: Bananas Is My Business (Carmen Miranda, Meu Negócio é Bananas,1994), Helena Solberg retorna à temática feminina ao construir o que ela chama de biografia afetiva de Carmen, cantora luso-brasileira que se torna a representação do nosso país e da América Latina no contexto da política da boa vizinhança entre Brasil e EUA, no período da Segunda Guerra Mundial. Essa abordagem afetiva se expressa na forma como a Diretora, a partir de um relato pessoal e íntimo, expõe os desafios encontrados na pesquisa e coleta de documentos ao longo de três anos, bem como os próprios dramas vividos pela cantora, como por exemplo, diante das críticas de ter se americanizado e do desafio de traduzir a música e cultura brasileira para a América do Norte. Aliada a essa pesquisa minuciosa, a memória de pessoas que conviveram e/ou trabalharam com a artista, bem como o uso da ficção para mostrar Carmem Miranda adolescente (interpretação da atriz Letícia Monte) e adulta (atuação do ator e transformista Erik Barreto) são elementos que confirmam a relevância desse documentário na história do cinema nacional, em especial no período da retomada. Prova disso foram os prêmios recebidos em vários festivais, como o Festival de Brasília e de Havana, e as diversas exibições em mostras nacionais e internacionais (TAVARES, 2014; 2017b). O lançamento da revista RAÇA, direcionada ao público negro no Brasil e seu sucesso editorial, que contrariou todas as expectativas, atraiu o

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interesse da Channel 4 Television da Inglaterra, para a qual Helena Solberg fez o documentário “Brasil em Cores Vivas” (1997). A partir dessa publicação, criada pelo jornalista Aroldo Macedo, o filme reúne entrevistas com atrizes, diretores e militantes do Movimento Negro, como Zezé Motta, Taís Araújo, Luiz Antônio Pilar e Sueli Carneiro numa reflexão sobre a necessidade de criar novas narrativas e novos regimes de visibilidade para a população negra brasileira. O reconhecimento alcançado com Carmen Miranda: Bananas Is My Business possibilita Helena Solberg realizar a produção do longa-metragem de ficção, Vida de Menina (2004), uma adaptação do livro Helena Morley, Minha Vida de Menina, da escritora Alice Dayrell Caldeira Brant. Esse filme, realizado um ano depois do retorno da Diretora ao Brasil, integra a fase atual de sua carreira, na qual também se inserem os documentários Palavra (En)cantada (2009), que investiga as relações entre poesia e música popular; e Alma da Gente (2013), no qual ela relaciona as expectativas de dez anos antes com a realidade atual de adolescentes que participaram do projeto Corpo de Dança da Maré, coordenado pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo. Meu Corpo Minha Vida (2017) é o trabalho mais recente de Helena Solberg e destaca um assunto urgente: o aborto. A partir da morte de Jandyra dos Santos, em decorrência de um aborto realizado em uma clínica clandestina, a Diretora retoma a perspectiva feminista e as questões já trabalhadas em seus primeiros filmes, como o modelo idealizado de mulher e de casamento, agora inseridos em um contexto marcado pela posição retrógrada de grupos e políticos evangélicos; e também pela mobilização de mulheres, que vão às ruas protestar contra a violência e a opressão e em defesa da descriminalização do aborto e da liberdade de seus corpos (TAVARES, 2017a; 2017b). Além da exibição dos filmes, a Mostra Helena Solberg no IV PirenópolisDoc – Festival de Documentário Brasileiro terá debates com a participação da Diretora, e também o lançamento do livro “Feminino e plural: Mulheres no cinema brasileiro”, coletânea organizada por Katia Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco, que apresenta um panorama da produção cinematográfica feita por mulheres desde o cinema silencioso brasileiro até a atualidade.

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—Referências AMARAL, Leonardo; ITALIANO, Carla (Orgs.). Catálogo Retrospectiva Helena Solberg. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2018. ARAÚJO, Mateus; SOUTO, Mariana. Um 1968 mirim? Notas sobre Meiodia, de Helena Solberg. Revista ECO-Pós, v. 21, n. 1, p. 263-276, 2018. TAVARES, Mariana Ribeiro. Helena Solberg: do cinema novo ao documentário contemporâneo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2014. Da militância feminista ao documentário contemporâneo: a trajetória incomum de Helena Solberg. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO 11 & 13th WOMEN’S WORLDS CONGRESS, 2017a, Florianópolis. Anais Eletrônicos...2017a, p.1-12. Helena Solberg: militância feminista e política nas Américas. In: HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti. (orgs.). Feminino e plural: Mulheres no cinema brasileiro. Campinas, SP: Papirus, 2017b, p. 89-100.

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FILMES


A ENTREVISTA 20’ | BRASIL | 1966 | HELENA SOLBERG

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O filme teve como base uma série de entrevistas feitas pela realizadora com jovens do mesmo meio social. Por trás dessas entrevistas surge um perfil convencional de “mulher”, figura idealizada por certa aura de romantismo, costurado por uma montagem que relaciona questões da opressão feminina com a repressão militar vivida pelo país.

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MEIO-DIA 11’ | BRASIL | 1970 | HELENA SOLBERG

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Um aluno revoltado imagina um motim onde sua escola é destruída, tendo como contexto o período da ditadura militar e a música de Caetano Veloso “É Proibido Proibir”.

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A NOVA MULHER

THE EMERGING WOMAN 40’ | EUA | 1974 | HELENA SOLBERG

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Primeiro filme dirigido pela cineasta nos EUA, A Nova Mulher percorre 170 anos de história do movimento feminista no país e na Inglaterra (de 1800 até 1974), através de diários, manifestos, reportagens, cartas e livros de ativistas. O documentário conta também com fotografias e imagens de arquivo de jornais cinematográficos, inaugurando a série “Trilogia da Mulher”, realizada em conjunto com o coletivo International Women’s Film Project.

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A DUPLA JORNADA

THE DOUBLE DAY LA DOBLE JORNADA

54’ | ARGENTINA/MÉXICO/BOLÍVIA/VENEZUELA | 1975 | HELENA SOLBERG

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Filmado em fábricas no México e na Argentina, e em minas na Bolívia e Venezuela, A Dupla Jornada examina as condições da mão de obra feminina como força de trabalho na América Latina.

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SIMPLESMENTE JENNY 32’ | BOLÍVIA | 1977 | HELENA SOLBERG

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Três meninas (Jenny, Marli e Patrícia) relatam suas histórias de prostituição forçada e suas fantasias de ascensão social, casamento e felicidade, em um reformatório para adolescentes na Bolívia.

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BRASIL EM CORES VIVAS

BRAZIL IN LIVING COLOURS 26’ | BRASIL | 1997 | HELENA SOLBERG

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Brasil em Cores Vivas é um documentário encomendado pelo Channel 4 Television, da Inglaterra, sobre a nova revista RAÇA direcionada ao público negro brasileiro, fundada pelo jornalista Aroldo Macedo em 1996. Pensaram na época que a revista não teria leitores, mas RAÇA contrariou todas as expectativas e foi um sucesso imediato.

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MEU CORPO MINHA VIDA 73’ | BRASIL | 2017 | HELENA SOLBERG

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Documentário sobre o aborto no Brasil, um assunto controverso e explosivo. O filme acompanha o caso de Jandyra Magdalena dos Santos, personagem chave que nos conduzirá através deste conflito.

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MOSTRAS COMPETITIVAS


JÚRI


—Rodrigo Cássio Rodrigo Cássio Oliveira é professor da Universidade Federal de Goiás, onde atua na Faculdade de Informação e Comunicação e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Performances Culturais (Mestrado e Doutorado), da Faculdade de Ciências Sociais. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais e Mestre em Comunicação Social pela UFG, desenvolveu pesquisas nas linhas de Estética e Filosofia da Arte e Comunicação e Cultura. Atualmente coordena o Grupo de Estudos Forma, Arte e Tecnologia (GEFAT) no Media Lab/BR da UFG. Autor de Filmes do Brasil Secreto (2014), livro em que analisa o cinema brasileiro dos anos 1990-2000, tem diversos trabalhos publicados em revistas de crítica de cinema. É atualmente colunista do blog Estado da Arte, do jornal Estadão.

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—Renée Castelo Branco Renée Castelo Branco é curadora de documentários da GloboNews há quatro anos, quando a faixa foi criada. Foi Supervisora dos programas internacionais do canal. Foi Editora-Chefe do programa Sem Fronteiras desde a sua criação. Na TV, começou em São Paulo, em 1981, e foi Editora de internacional em Londres e de vários programas na Rede Globo. É jornalista deste 1974. Trabalhou nos veículos impressos mais importantes de São Paulo. Participou da produção de todos os documentários de João Jardim, como pesquisadora, coordenadora e colaboradora dos roteiros.

M O ST R As competitivas júri

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—Tetê Mattos Niteroiense, é Doutora em Comunicação pela UERJ (2018) e Mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense (2000). Cursou História na UFF entre 1984 a 1998 e ingressou no curso de Cinema em 1993 (incompleto). Desde 1997 é professora do Departamento de Artes da UFF, onde ministra disciplinas para o curso de Produção Cultural. Dirigiu os documentários premiados "Era Araribóia um Astronauta?" (RJ, 27min, 16mm, 1998), "A Maldita" (RJ, 20min, 35mm, 2007) e "Fantasias de Papel" (RJ, 15min, DCP, 2015). Atualmente finaliza o seu primeiro longa-metragem "Maldita FM". Publica artigos em revistas e livros especializados em cinema. Exerce atividades de curadoria e consultoria em mostras e festivais, como Amazonas Film Festival, CineFoot, Curta Brasília, entre outros. Foi Diretora do Araribóia Cine – Festival de Niterói, realizado entre 2002 e 2013. Como pesquisadora do OBEC-RJ, coordenou a pesquisa "Mapeamento dos Festivais Audiovisuais Fluminenses".

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JÚRI JOVEM

—Amanda Ramos (UEG) Tem 21 anos e é graduanda do 8º período de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás – UEG. Em 2017, trabalhou como roteirista júnior no desenvolvimento da série Exterminadora, da Panaceia Filmes, uma vez que roteiro é uma área na qual pretende se especializar. Ainda em 2017 teve a oportunidade de realizar um documentário de curta-metragem sobre seu avô, chamado “LBP”, junto com uma equipe de alunos na disciplina de Cinema Documentário da UEG, e participou ainda do Laboratório de Séries do 50º Festival de Brasília com uma websérie que está em desenvolvimento. Atualmente escreve críticas para o site Pipoca com Pequi (idealizado pela UEG) e está produzindo o filme "Fome" do qual é Roteirista e Diretora.

M O ST R As competitivas jÚr i jo vem

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—Éder dos Santos (UEG) Começou a produzir material para o YouTube por uma paixão por cubo mágico, por fim, a paixão pelo audiovisual ficou maior. Ingressou para o curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás - UEG em 2016. Comerciais, filmes, videoclipes e os sempre presentes vídeos para a internet foram produzidos com mais frequência nos últimos dois anos. Hoje, com amigos também universitários, gere a Hfilmz e a Hmidiaz (essa última voltada para a publicidade). Atualmente também faz parte do Conselho de Programação da UEG TV (como representante discente) e é Diretor de Projetos da Panorâmica Filmes (empresa júnior de distribuição de filmes da UEG).

—Yolanda Margarida (IFG) Estudante de Cinema pelo Instituto Federal de Goiás – IFG, vem se promovendo como realizadora e pesquisadora audiovisual nos últimos anos, dando enfoque em métodos criativos e narrativas que privilegiam a consciência feminina.

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MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL


NACIONAL


CURADORIA


—Fabiana Assis Fabiana Assis é Curadora e Pesquisadora de Cinema. É Diretora da Violeta Filmes, realizadora do Festival de Documentários Brasileiros PirenópolisDoc e Mestranda do Programa de Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás – UFG, com pesquisa e produção artística centrada no documentário brasileiro e no ensaio no cinema. Especializou-se em Cinema Documentário pela Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Atua no mercado audiovisual desde 2008, como Diretora, Roteirista e Produtora. Seu primeiro longa-metragem será lançado no 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

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—Rafael De Almeida Rafael de Almeida é Realizador e Pesquisador de Cinema e Audiovisual. Professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás – UEG. Doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Dirigiu alguns filmes de curta-metragem, entre os quais: Para Não Esquecer (2016), Carrossel (2013), A Saudade é um Filme Sem Fim (2009) e Impej (2007). Seus interesses artísticos e científicos estão centrados hoje nos diálogos entre o cinema documentário, o filme-ensaio e o found footage.

M O ST R A competitiva nacional curado ri a

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—Uliana Duarte Uliana Duarte vive e trabalha em Goiânia. Desenvolve pesquisa e produção dedicada ao cinema documentário desde 2006. Sócia da produtora Nonanuvem Filmes, concluiu Mestrado em Gestão do Patrimônio Cultural na PUC GO e é Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da FAV - UFG. Além de fazer parte da equipe curadora do festival PirenópolisDoc, se dedica atualmente à coordenação da 2a Rodada de Estudos Audiovisuais – REAU, que acontece em Goiânia em Setembro de 2018.

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CURTAS-METRAGENS


À CURA DO RIO 18’ | BELO HORIZONTE, MG | 2018

Um velho conhecido da etnia Krenak, o Watú – famoso Rio Doce – está doente. Através de um ritual xamânico, corpo e natureza se unem para um diálogo profético que enxerga a catástrofe, mas também a salvação do rio.

M OST R A competitiva nacional CURT AS-ME T RAGENS

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Em 2015 uma gigantesca barragem de rejeitos de minério de ferro se rompeu na região de Mariana, Minas Gerais, Brasil, e alcançou o Rio Doce, um dos mais importantes rios brasileiros. O maior desastre ambiental enfrentado pelo país impactou a vida de 3,5 milhões de pessoas e de todo o ecossistema ao longo do curso do rio. O filme ritual Direção: Mariana Fagundes Azevedo

foi gravado no Parque Nacional do Rio Doce, MG, na região da Ponte Queimada – local onde os indígenas viviam antes do processo de colonização. As imagens não propõem a cura, mas sim, um ato de resistência dos sobreviventes. Os índios Krenak – etnia que tem os Botocudos como ancestrais – consideram como entidades vivas os rios que banham suas terras; mais que isso, o Watú, como chamam o Rio Doce, é para eles um parente próximo, um avô. Seus netos cantam para ele, assim como para todas as nascentes e para os rios que o formam. Diante da enfermidade, surge a urgência de ação, mesmo que seja expor a ferida que se encontra aberta. O ritual – e o filme que o apresenta – mostram-se como possibilidades de redenção do Rio Doce. À Cura do Rio é um manifesto pela natureza e por todos aqueles que vivem em harmonia com ela.

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BORÁ 14’ | RIO DE JANEIRO, RJ | 2017

Em Setembro de 2012, o prefeito de Borá escreve uma postagem no Facebook.

M OST R A competitiva nacional CURT AS-ME T RAGENS

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À moda dos centros urbanos brasileiros que vivem uma polarização superficial entre coxinhas e petralhas, a pequena Borá também vive a sua divisão política particular. Durante as filmagens, ficou flagrante que a população da cidade estava fragmentada: entre aqueles que eram favoráveis aos novos tempos e à chegada da modernidade (trazida Direção: Angelo Defanti

por apenas nove pessoas a mais na população?) e aqueles que eram contra a perda de sossego e das tradições (exterminadas por apenas nove pessoas a mais na população?). As origens deste imbróglio ganharam protagonismo no filme.

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C(ELAS) 18’ | VITÓRIA, ES | 2017

Os meses finais da gravidez e os primeiros após o nascimento de um bebê são experiências únicas na vida de uma mulher. E quando esse cotidiano é vivido dentro de uma penitenciária?

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O filme trata da relação entre maternagem e o sistema prisional no Brasil a partir da experiência e do encontro entre uma equipe de set constituída exclusivamente por mulheres, a fim de abordar uma temática importante para a teoria feminista — a maternagem em um ambiente específico: a ala materno-infantil da Penitenciária Feminina Direção: Gabriela Santos Alves

de Cariacica, localizada no ES, Brasil. Desse encontro entre mulheres, especialmente a partir de suas conversas, o filme foi desenhado. Para a equipe, ouvir as mulheres grávidas e/ou com filhos recém-nascidos em situação de privação de liberdade foi a principal ação — o que essas mulheres tinham a dizer? O dado que impulsionou a escrita do argumento e do projeto do filme foi o crescimento alarmante e contínuo da população prisional feminina no Brasil nos últimos 15 anos, que foi de 567,4%.

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CORPOSTYLEDANCEMACHINE 7’ | CACHOEIRA, BA | 2017

“Ando por mistério, vivo por mistério [...] Nosso corpo é uma máquina, ou cuida ou sabe como é, né?” Entre memórias da boate e relatos de resistências cotidianas; Tikal, importante personalidade LGBTI do Recôncavo da Bahia, dança e afronta as normas.

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'CorpoStyleDanceMachine’ nasce do meu encontro com Tikal pelas ruas de Cachoeira e São Félix. Éramos dois universos em aproximação: eu, que fui morar no Recôncavo Baiano para cursar Cinema e Audiovisual, e ele que já havia atravessado muitas décadas daquele lugar e compartilhava comigo coisas que tinha vivido. Com a maturação da nossa Direção: Ulisses Arthur

amizade, tornei-me um admirador de sua personalidade, de seu visual e da forma como enfrentava seus desafios, afinal, sustentar durante a vida inteira o brilho e a ousadia no contexto patriarcal das cidades do interior, é um ato de resistência. Inspirados pelas boates da década de 80, das quais Tikal tanto sente saudades, entrelaçamos seus relatos com nuvens de gelo seco e disco music numa tentativa e desejo de homenagear Tikal e a liberdade LGBTI.

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INCONFISSÕES 21’ | RIO DE JANEIRO, RJ | 2018

Luiz Roberto Galizia foi uma figura importante para a cena teatral nas décadas de 1970 e 1980. Foi, também, um tio que não conheci. Este documentário procura um resgate do vivido, a partir do registro feito em fotografias e filmes super 8 pelo tio Luiz, e encontrado por mim 30 anos depois da sua morte.

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Luiz Roberto Galizia foi uma figura importante para a cena teatral nas décadas de 1970 e 1980. Foi, também, um tio que não conheci. Ele morreu muito jovem em decorrência da AIDS, em 1985. Trinta anos depois, encontrei imagens, filmes super 8 e cartas deixadas por ele. Inconfissões é, portanto, um gesto de apropriação desses arquivos que, quando Direção: Ana Galizia

colocados em relação com imagens, temporalidades, textos e sons, reencenam uma possibilidade de vida, imaginação e afirmação. Sem o interesse de ligar os fios e preencher lacunas entre um tempo e outro, mas identificar as sobrevivências e coincidências, uma investida na capacidade expressiva do documentário. Fazer ver, presentificar o que não está ali, e ao mesmo tempo está, dar visibilidade a parte de uma história pessoal silenciada pela minha família.

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MINI MISS 15’ | RECIFE, PE | 2018

Filmado inteiramente da perspectiva de uma criança de quatro anos, MINI MISS acompanha cinco meninas entre três e cinco anos que participam do concurso de beleza Mini Miss Baby Brasil. O filme oferece uma visão única sobre a primeira infância, mostrando a capacidade nata de resistência das crianças num mundo dominado por normas e desejos de adultos.

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Mini Miss acompanha cinco meninas entre 3 e 5 anos que participam do concurso de beleza Mini Miss Baby Brasil. O filme foi filmado inteiramente da perspectiva de uma criança de quatro anos, oferecendo uma visão única sobre a primeira infância e como as meninas reagem num espaço delimitado, dominado por normas e desejos de adultos. Direção: Rachel Daisy Clarke Ellis

O dispositivo de observação que fica na altura das crianças é uma tentativa de capturar a experiência única dessas meninas participantes de um concurso de beleza infantil. Queria explorar a experiência única de interação que as meninas realizam entre elas, entre elas e os adultos fora do quadro, e a relação delas com o evento, que está sempre em segundo plano. O filme é sobre como as meninas se divertem, fabulam, resistem e rebelam.

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O GOLPE EM 50 CORTES OU A CORTE EM 50 GOLPES 9’ | BELO HORIZONTE, MG | 2017

Bessias, sangrias, acordos e tornozeleiras contam uma das histórias do impeachment de Dilma.

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– “Tem telefone aí?” – “Não, não, deixei tudo no carro.” O Golpe em 50 Cortes ou A Corte em 50 Golpes é uma das histórias possíveis sobre o golpe de Estado no Brasil, em 2016. O filme é composto por trechos de grampos telefônicos e presenciais envolvendo políticos. A partir desse recorte e de um dispositivo – um contador de cortes – a montagem Direção: Lucas Campolina

procura evidenciar o que para muitos é óbvio: Dilma caiu para que a Lava Jato acabasse.

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PRAÇA DO PEIXE 17’ | BELO HORIZONTE, MG | 2018

Uma noite no baixo centro de Belo Horizonte, na praça onde giram com o vento estátuas de peixes.

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A Praça do Peixe está situada em uma região central de Belo Horizonte e é um espaço de circulação de todo tipo de pessoas. Moradores de rua, trabalhadores, prostitutas, ambulantes e usuários de crack dividem por ali os seus dias. Um ambiente ao mesmo tempo cheio de vida e permeado por uma constante tensão de violência. Além do mais, a região concentra um número considerável de peixarias, que acabam por dar nome à praça. E é nos fundos de uma dessas peixarias que acontece, na madrugada da Sexta-Feira da Paixão, a tradicional distribuição de sardinhas. Realizada há mais de 20 anos, o gesto de solidariedade de um anônimo benfeitor acabou se transformando em um evento marcante na capital mineira. O que deveria ser parte das celebrações cristãs dessa época do ano acaba se transformando em uma noite de muitas outras pulsões.

Direção: Bernard Machado, Florence Defawes, Marina Sandim e Ralph Antunes

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SR. RAPOSO 22’ | GOIÂNIA, GO / CATALÃO, GO / RIO DE JANEIRO, RJ | 2018

Em 1995 Acácio teve um sonho, ele andava de mãos dadas com um homem e uma mulher por um campo todo verde.

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No carnaval de 2012, “Acácio” me falou sobre um sonho que teve há vinte e poucos anos atrás. No sonho, ele caminhava entre um homem e uma mulher, os três estavam de mãos dadas, andaram lado a lado por um campo completamente verde até que chegaram a um rio. Ele atravessou o rio, e quando olhou para a outra margem, para o outro lado, percebeu Direção: Daniel Nolasco

que os dois companheiros não estavam mais lá, que desapareceram. No dia seguinte a esse sonho, em 1995, ele descobriu que era soropositivo e passou a acreditar que o sonho representava sua vida naquele momento – estava sozinho do outro lado do rio. “Sr. Raposo” cria uma narrativa a partir da história de “Acácio” e dos seus sonhos, procurando borrar os limites do que seria real e do que é sonhado, da realidade e da fabulação.

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TERREMOTO SANTO 19’ | RECIFE, PE | 2017

Em Terremoto Santo, Barbara Wagner e Benjamin de Burca estabeleceram parceria com cantores de música gospel da região da Zona da Mata Sul de Pernambuco, a fim de tratar dos aspectos sociais e estéticos da prática pentecostal. A liturgia dos cultos evangélicos é especialmente musical nessa região, marcada pela história da cana-de-açúcar e habitada por jovens que buscam nos cantos de louvor uma nova forma de trabalho.

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Até a década de 1970, as práticas religiosas da Zona da Mata Sul de Pernambuco – historicamente marcada pela economia da cana-de-açúcar – se dividiam predominantemente entre rituais afro-brasileiros e o catolicismo. Hoje, nessa região cercada de engenhos, muitos jovens já nascem evangélicos e encontram nos cantos e hinos da Direção: Bárbara Wagner e Benjamin de Burca

liturgia Pentecostal uma nova forma de expressão artística e profissional. Agregando o desejo de muitos deles de gravarem seus primeiros CDs, DVDs e videoclipes, a Gravadora Mata Sul funciona há mais de um ano na cidade de Palmares, a 150 km de Recife. “Terremoto Santo” é um filme feito em parceria com essa nova geração de artistas que veem na música evangélica uma nova forma de empreendedorismo, empregando sua fé na construção de performances que visam tanto à superação de obstáculos sociais quanto à obtenção de bem-estar espiritual. Como uma sequência de esquetes musicais compostos pelos próprios participantes, o filme toca em aspectos morais, éticos e estéticos de uma prática religiosa – cuja representação é ainda tabu nas artes visuais e no cinema – e sua relação com o espaço, a mídia e a cultura pop.

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TOXITOUR 25’ | SÃO PAULO, SP | 2017

Enquanto uma família vive seu dia a dia na Amazônia equatoriana, um guia voluntário nos leva em um tour para descobrir o que está encoberto pela selva.

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Há mais de 20 anos, equatorianos movem um processo judicial contra a Texaco, hoje Chevron, pela recuperação ambiental de uma região no interior da Amazônia. Em um processo bilionário com uma destruição tão evidente, papéis e documentos deveriam formar pontes e não barreiras para a justiça. Mas nada é muito fácil ali. Assim, voluntários Direção: Raoni Maddalena

criaram o Toxitour. A disposição dos guias em andar pela mata com rejeitos tóxicos mostra a sua força de vontade. Desde 2009, já fiz o tour 12 vezes, sozinho ou em grupo. Impotentes, percebemos que estamos à mercê de decisões de esferas inalcançáveis. Assombra a ideia de que o Toxitour pode se tornar uma tendência. Hoje podemos visitar Auschwitz e masmorras. Em breve Chernobyl e talvez campos de minas em Angola. Serão estes os cenários de nossas futuras viagens?

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TRAVESSIA 5’ | RIO DE JANEIRO, RJ | 2017

Utilizando uma linguagem poética, Travessia parte da busca pela memória fotográfica das famílias negras e assume uma postura crítica e afirmativa diante da quase ausência e da estigmatização da representação do negro.

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Travessia é o curta que realizei a partir da memória estilhaçada, fruto do apagamento histórico da população negra no Brasil. Foi pela ausência de fotografias de minha bisavó e avó materna, e por eu ser agora uma mulher negra com uma câmera na mão e muitos sonhos no peito, que o curta se fez. Foi no gesto de garimpar fotografias de muDireção: Safira Moreira

lheres negras nas feiras de antiguidade do Rio de Janeiro que encontrei a fotografia que abre o filme, todas as fotos que encontrei nesse espaço provinham de álbuns de famílias brancas, logo, elas refletiam esse apagamento. A ausência é algo que perpassa a vida de homens e mulheres negras na diáspora, ela pode ser também percebida de forma latente no audiovisual nacional: nossos corpos podem (até) estar ali, mas nossas vidas, trajetórias, subjetividades, normalmente são ignoradas. Exibir Travessia em festivais, e nos cinemas, é mostrar que o sonho de um cinema genuinamente brasileiro – que incorpore todas nossas possibilidades de existência – é possível. Travessia parte da dor e da ausência, mas encontra caminhos de cura.

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LONGAS-METRAGENS


A PARTE DO MUNDO QUE ME PERTENCE 84’ | BELO HORIZONTE, MG | 2017

Documentário sobre sonhos e desejos de pessoas comuns. A vida cotidiana de diferentes personagens anônimos, que constroem suas histórias distantes dos tradicionais cartões-postais de uma cidade. Um filme sobre os combustíveis que nos movem diariamente: felicidade, reconhecimento, estabilidade financeira, casamento, distração, saúde, diversão, alguns quilos a menos, gozo, tranquilidade, superação, sucesso ou – até mesmo – uma simples e humilde pipa. Gente comum em busca de seus pequenos desejos cotidianos. Uma obra sobre esferas privadas mínimas, que revela que parte da grandeza do ser humano reside nas sutilezas de seus pequenos gestos. Um olhar íntimo e comprometido com o que somos, de sol a sol, por trás das paredes e telhados de uma cidade.

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Um documentário sobre os combustíveis que nos movem diariamente em busca daquilo que almejamos, mas ainda não alcançamos. Lentamente, o filme faz falarem tanto os gestos, quanto os silêncios de seus protagonistas, mergulhando nas esferas subjetivas do cotidiano e construindo uma proximidade cada vez mais sólida com cada Direção: Marcos Pimentel

um dos personagens. Uma história onde não existem grandes acontecimentos, onde o encanto se faz presente na beleza dos pequenos atos, na magia da simplicidade, nos pequenos momentos da vida cotidiana, que geralmente passam despercebidos de corpos apressados e olhares já viciados. Os protagonistas de A PARTE DO MUNDO QUE ME PERTENCE são heróis da esfera doméstica, que esmiúçam seus dias com muita paciência e nenhuma lágrima. Sem grandes vitórias, nem grandes derrotas... E sem desistir de lutar por suas pequenas conquistas. Gente comum em busca de seus simples desejos cotidianos.

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DIANTE DOS MEUS OLHOS 81’ | VITÓRIA, ES | 2018

45 anos após a dissolução da banda Os Mamíferos, Marco Antônio, Afonso e Mario Ruy vivem um cotidiano simples. Em meio às luzes da cidade, recordam suas glórias e fracassos e ajudam a recuperar um fragmento fundamental da música popular brasileira.

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Na concepção de Diante dos Meus Olhos nunca se perderam de vista as limitações que a vida impõe à criação. É o documentário e sua documentalidade. O que resta é a banda que pulsa em cada um de nós e o que o tempo fez com a gente. Afonso, Marco Antônio e Mario Ruy visitam um passado que precisa passar por nós para que daí advenha Direção: André Félix

algo novo, como na frase de Perguy (citada por Jean-Marie Straub): ’Uma revolução também é relembrar algo antigo, muito antigo, que nós já havíamos esquecido.’

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DIÁRIOS DE CLASSE 72’ | SALVADOR, BA | 2018 EXIBIÇÃO TAMBÉM EM SESSÃO ACESSÍVEL COM TRADUÇÃO EM LIBRAS, AUDIODESCRIÇÃO E LEGENDA DESCRITIVA

Diários de Classe acompanha o cotidiano de três mulheres – uma jovem trans, uma mãe encarcerada e uma empregada doméstica – estudantes de centros de alfabetização para adultos em Salvador. Embora trilhem caminhos distintos, suas trajetórias coincidem nos preconceitos e injustiças sofridos cotidianamente. O documentário em estilo direto aposta no recorte espacial da sala de aula a fim de se aprofundar no dia a dia dessas personagens, revelando suas tentativas diárias de contornar o apagamento sistemático de suas existências.

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Diários de Classe é um filme que parte de salas de aulas de alfabetização para adultos para encontrar as histórias de três mulheres: uma jovem trans, uma empregada doméstica e uma encarcerada por tráfico de drogas. Mulheres que desde a infância enfrentam um sistema que atua para retirar as suas liberdades. Abordando esses Direção: Maria Carolina e Igor Souza

percursos de vida como percursos de resistência, Diários de Classe nos diz que o mapa do analfabetismo se encontra com o mapa da pobreza, do racismo, do desemprego, do preconceito de gênero. Desde o início das pesquisas tínhamos o objetivo de discutir questões estruturais da nossa sociedade sem as quais nunca poderemos efetivamente reconstruí-la. E, longe de ter uma abordagem focada em números e porcentagens, quisemos fazer um filme que nos aproximasse das questões levantadas, a partir da vida cotidiana dessas mulheres.

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ELEGIA DE UM CRIME 92’ | SÃO PAULO, SP | 2018

Uberlândia, Minas Gerais, 24 de Fevereiro de 2011. Isabel Burlan da Silva, mãe do Diretor, é assassinada pelo parceiro. “Elegia de um crime” encerra a “Trilogia do luto”, que aborda a trágica história da família. Diante da impunidade, o filme mergulha numa viagem vertiginosa para reconstruir a imagem e a vida de Isabel.

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’Elegia de um crime’ finaliza a ’Trilogia do Luto’ que se iniciou em 2007, com o documentário “Construção” em homenagem ao meu pai. Em “Mataram Meu Irmão”, reconstituo os detalhes do seu assassinato, o que me conduziu a um círculo de violência em torno dos bairros da periferia paulistana. Encerro a trilogia com o documentário sobre Direção: Cristiano Burlan

o assassinato da minha mãe. Ela foi morta pelo seu companheiro, que segue foragido. O filme finda um ciclo em que me debrucei sobre a minha tragédia familiar. Fazer o documentário foi mergulhar em memórias esquecidas, em fotografias envelhecidas, em verdades nunca ditas. Se o meu irmão Rafael ou o meu pai estivessem vivos, eles já teriam vingado a morte da minha mãe, enquanto isso, eu só consigo fazer filmes. Esse é o meu ato criminoso.

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ESPERA 76’ | BELO HORIZONTE, MG | 2018

Esperar é reconhecer-se incompleto.

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O cinema, assim como a espera, se relacionam com o tempo. O tempo do cinema cada vez mais se distancia do tempo da vida. As imagens contemporâneas são frenéticas, acumulam o maior número possível de acontecimentos em uma curta duração. Hoje em dia, todos nós, inclusive o espectador de cinema, temos cada vez mais dificuldade Direção: Cao Guimarães

de esperar. Tarkovsky dizia da importância de se esculpir o tempo no cinema. Algo que estamos desaprendendo. A espera é uma escultura temporal projetada para o futuro e quem espera tem que, irremediavelmente, lidar com sua forma. Parece difícil lidarmos com a forma de um tempo “morto”, a forma do vazio, da inutilidade. Temos buscado, constantemente, a sensação de preenchimento, de satisfação imediata. Ao registrar personagens e situações em diferentes situações de espera, este filme se volta para o que há de singular e expressivo nestes estados em ponto-morto.

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O CHALÉ É UMA ILHA BATIDA DE VENTO E CHUVA 94’ | RIO DE JANEIRO, RJ | 2018

Dalcídio Jurandir nasceu em 1909 e faleceu em 1979. Escreveu 11 livros, dez deles passados no Marajó. Neles, conta a saga de Alfredo, da infância em Cachoeira do Arari aos percalços da vida adulta em Belém, culminando no retorno ao arquipélago. Em 1939, aos 30 anos, recém-saído da prisão por protestar contra a ditadura Varguista, Dalcídio aceita um trabalho que ninguém desejava: percorrer a maior ilha flúvio-marítima do mundo, inspecionando escolas públicas. Nessa viagem, escreve cartas para sua mulher, Guiomarina e para seu filho com nove meses de idade, Alfredo. Em 2017, a cineasta Letícia Simões viaja ao Marajó em busca dos personagens de Dalcídio.

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’O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva’ é um documentário de aproximação a Dalcídio Jurandir. O escritor nasceu na Ilha do Marajó e a teve como epicentro de toda a sua obra, percorrendo seus personagens e suas histórias. O Marajó é uma paisagem que baila entre o desconhecido e o exótico. Durante toda a sua vida, Dalcídio buscou sair Direção: Letícia Simões

do superficial e aprofundar-se na dimensão humana e política dessa região. Seus livros são documentários e sua estética é profundamente contemporânea: ele recolhe as vozes marajoaras e nos aproxima de seus contornos, de suas peles, de suas noites. “O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva” é uma viagem de encontros pelo Arquipélago do Marajó. Nesse trajeto, o filme espelha na realidade atual o pensamento estético de Dalcídio e recria cinematograficamente sua arquitetura de trabalho.

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MOSTRA COMPETITIVA REGIONAL CURTAS-METRAGENS


REGIONAL


CURADORIA


—Anderson Mello Produtor Cultural, Professor e Pesquisador de Literatura e Cultura Visual (Fotografia e Cinema), é Mestre pela Universidade de Brasília – UNB, membro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual e da Associação Brasileira de Literatura Comparada, com experiência em ensino, pesquisa e produção artística em poéticas visuais. Fundador e Coordenador da Cinemateca Santa Dica, programa permanente de cultura audiovisual, que atua, desde 2013, na cidade de Pirenópolis. Fundador e Editor da Lucarna Casa Editorial, especializada em publicações de livros de fotografia, livros de artista e literatura.

I V PI C RU EN R AD Ó PO OR LIS A DOC



FILMES


A FILHA DO XINGU 15’ | GOIÂNIA, GO | 2018

Mavira, um encontro com o passado.

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Um documentário de um encontro com Mavira, índia Kamayura que mora na aldeia Santa Isabel, na Ilha do Bananal. O filme resgata a memória de uma mulher índia que teve sua história encoberta pela cultura branca dominante. Mavira foi impedida de criar a filha que teve com o indianista Leonardo Villas Bôas. As imagens do filme foram capturadas Direção: Rochane Torres

com “uma câmera na mão”, sem som direto, sem equipe. “A Filha do Xingu” é um filme de montagem, de um encontro, e um resgate de uma história esquecida.

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DIRITI DE BDÈ BURÈ 18’ | GOIÁS, GO | 2018

Diriti de Bdé Burê é um documentário etnobiográfico que trata da vida de uma indígena mestra ceramista que trabalha com a feitura da boneca Karajá e suas relações intraetnia numa perspectiva de continuidade da cultura, além da manutenção econômica.

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Diriti de Bdè Burè é um documentário etnobiográfico que relaciona o presente com o passado para criar e pensar o futuro, projetando luz sobre a vida de uma mulher mestra ceramista Karajá que luta pela preservação de sua língua e o modo de fazer de seu povo. O filme mostra que a postura da indígena Diriti pelo fazer Ritchoko tem um capital soDireção: Silvana Beline

cial fundamental para o desenvolvimento da vida individual buscando sua própria subsistência econômica, na medida em que esta postura também altera a própria coletividade ao transmitir saberes que mantêm a cultura preservada. Assim, a feitura da boneca pode ser identificada como possibilidade de manutenção da cultura do povo Karajá juntamente com a subsistência das mulheres, sempre numa lógica de busca de reconhecimento, ao mesmo tempo em que prescinde da redistribuição.

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FEIRA LIVRE 11’ | GOIÂNIA, GO | 2017

“Feira Livre” é um documentário que trata da temática da informalidade e precarização do trabalho na Feira da Marreta, uma das mais tradicionais de Goiânia. O personagem central da narrativa se chama Antônio, que lá trabalha há muitos anos. Ele é um ponto de acesso para a problematização proposta. Além dele, outros feirantes e compradores contribuem para a elaboração de memórias e experiências individuais e coletivas em torno da feira.

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A Feira da Marreta é a mais estigmatizada feira de Goiânia. Ouvi dizer a vida toda que era um lugar de comercialização de coisas roubadas. O filme surge da curiosidade de conhecer o lugar, tendo em mente o recorte da precariedade do trabalho informal, que resulta em um olhar sobre sonhos, anseios e histórias das pessoas que lá trabalham e Direção: Fernão Carvalho Burgos

constroem naquele espaço seu sustento. O bom é que minha experiência me mostrou um universo muito mais rico e diverso do que o estigmatizado.

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KRIS BRONZE 23’ | GOIÂNIA, GO | 2018

No dia 8 de Março, Kelly Cristina prepara uma festa apenas para mulheres.

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O filme conta o dia de preparação da festa que Kelly Cristina faz todo ano no Dia da Mulher, e um pouco do que gira em torno deste evento. É um filme de farra, de resenha, pessoas que se juntam, propõem, e um lugar que reúne tudo isso. O Kris Bronze surgiu a partir de uma pesquisa no Google Maps para um roteiro originalmente de ficção, que tinha Direção: Larry Machado

como personagem principal uma depiladora ou uma trabalhadora da estética. A partir do primeiro contato com a Kelly Cristina, que foi, primeiramente, pelo colorido dos painéis de seu espaço e logo depois pelos vídeos do Instagram, o filme se transformou a cada encontro, como uma tentativa de diálogo sincero entre quem filma e quem é filmado, uma tentativa de documentar a ficção ou ficcionalizar o documentário, e foi assim até os últimos dias de montagem.

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MARCAS DA DITADURA NA VIDA DE UM ATOR 17’ | GOIÂNIA, GO | 2017

Este documentário traz à tona um fato político muito sério que envolveu a vida do ator goiano Almir de Amorim, vítima da ditadura militar brasileira. Para aqueles que defendem a volta dos militares, esse documentário é fundamental para uma reflexão profunda sobre o tema.

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O documentário “Marcas da Ditadura na Vida de Um Ator”, trata da história do ator goiano Almir de Amorim, que foi preso durante o regime ditatorial brasileiro. Almir foi colocado em um hospital psiquiátrico por três anos pelo fato de participar de movimentos contra o regime político da época. Nesse documentário utilizamos a técnica de animação Direção: Rosa Berardo

misturada a entrevistas com o personagem para poder reconstituir partes de sua história. O estilo de iluminação na fotografia do filme nos remete ao Expressionismo Alemão, com luzes duras e sombras contrastantes. A temática abordada, apesar de real, nos faz pensar também sobre os temas do cinema expressionista, como: loucura, crimes, underground. Infelizmente, uma realidade do regime ditatorial brasileiro dos nos 60 e 70.

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O HAITI É AQUI 7’ | GOIÂNIA, GO | 2017

Neste documentário sobre a comunidade haitiana em Goiânia, a igreja aparece em primeiro plano, enquanto evento teatral, espaço de construção de relações por meio da língua, do gestual, do rito, da encenação. Lugar de companhia, de unidade cultural, de antagonismos, de colonização e de voz – a voz que acolhe, a voz que escapa, a voz que afeta. Espaço onde podemos identificar a população brasileira escrava, quilombola, favelada, esquecida e resiliente. Lugar onde eles são o Haiti e também são o Brasil.

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’O Haiti é Aqui’ nasce como um exercício da Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UEG. Nós, alunos, buscamos nos vestir de observadores antropológicos para documentar a expressiva comunidade de haitianos vivendo em Goiânia. Pessoas que enfrentam dificuldades de adaptação à cultura, língua, menosprezadas pela sua oriDireção: Isabela Veiga

gem, pela cor de sua pele, motivo de piada pela sua forma de se vestir, mas que encontram seu lugar de fala, sua identidade e sua autoestima na vida em comunidade, por meio da igreja. Durante nossa pesquisa queríamos apreender os laços culturais dos haitianos em comunidade, mas nossa observação revelou um olhar tristemente xenofóbico por parte de brasileiros que não parecem entender ou respeitar uma cultura diferente. Resta a pergunta: O Haiti é Aqui?

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O MALABARISTA 11’ | GOIÂNIA, GO | 2018

Documentário em animação sobre o cotidiano dos malabaristas de rua, que colorem a rotina monótona das grandes cidades.

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Primeiro veio a pesquisa, seguida das entrevistas, que desde o princípio já estavam planejadas para entrar apenas na camada sonora do filme. Depois de emergir no universo dos malabaristas, criei um roteiro para a animação, com o objetivo de contar de forma lúdica a história de um dia na vida de um malabarista de rua. Sou fascinado pelo circo Direção: Iuri Moreno

desde criança e me encanta, principalmente, quando vejo suas cores invadirem um meio que não está preparado para recebê-las, mas que mesmo assim as recebe. A cidade se fecha num cinza constante, e a arte, acompanhada do amor, traz alívio e leveza a um ambiente insistentemente opressor.

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TEKO HAXY – SER IMPERFEITA 39’ | GOIÂNIA, GO | 2018

Um encontro íntimo entre duas mulheres que se filmam. O documentário experimental é a relação de duas artistas, uma cineasta indígena e uma artista visual e antropóloga não-indígena. Diante da consciência da imperfeição do ser, entram em conflitos e se criam material e espiritualmente. Nesse processo, se descobrem iguais e diferentes na justeza de suas imagens.

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Nosso filme “Teko Haxy – Ser Imperfeita” é uma aventura existencial, um mergulho espiritual no ser mulher. Diante da câmera, criamos personagens, mas colocamos nossos assuntos mais íntimos. A estética do filme é caseira, um experimento visual feito por nós, duas mulheres de diferentes mundos que criaram uma relação dentro dessas diferenças. Transitamos entre sermos iguais e diferentes. Tivemos que nos adaptar às nossas condições de existência e transformar nossas realidades. Em nossa relação fílmica, nos lançamos rumo ao desconhecido visual. Embora tivéssemos nossos temas guiando as filmagens, nossa experiência e a espontaneidade nos guiavam. Nesse proDireção: Patrícia Ferreira e Sophia Pinheiro

cesso, o que de mais verdadeiro este filme pode oferecer é a justeza das nossas imagens, em que o pessoal é político.

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PREMIAÇÕES

—TROFÉUS PIRENÓPOLIS DOC JÚRI OFICIAL: Melhor Longa-Metragem Nacional Melhor Curta-Metragem Nacional Melhor Filme Regional

JÚRI JOVEM: Melhor Filme do Festival

JÚRI POPULAR: —Melhor Filme do Festival

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—PRÊMIO AQUISIÇÃO SESC TV Prêmio SescTv no valor de 4 mil reais para o melhor curta-metragem em competição.

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CONEXÕES IBERO-AMÉRICA CONSTELAÇÃO GUZMÁN


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— Patrício Guzmán Patrício Guzmán nasceu em Santiago do Chile. Depois do golpe de Estado que derrubou Salvador Allende, Guzmán foi preso e levado para o Estádio Nacional de Santiago, onde permaneceu incomunicável e ameaçado de fuzilamento. Liberado, abandonou o país em Novembro de 1973. Viveu em Cuba, Espanha e França, onde reside atualmente. Seis de seus filmes estrearam o Festival de Cannes, entre eles: A Batalha do Chile, O Caso Pinochet, Salvador Allende, e Nostalgia da Luz. Com este último, recebeu o Grande Prêmio da Academia Europeia, em 2010. É fundador e presidente do Festival de Documentários de Santiago (FIDOCS). Retrospectivas de seus filmes foram feitas por Harvard Film Archaive (2010) e British Film Institute (2011). Em 2013, foi convidado a integrar a Academia de Hollywood. Em 2014, a revista inglesa Sight & Sound publicou uma lista com os melhores documentários de todos os tempos, entre os 20 primeiros estão A Batalha do Chile e Nostalgia da Luz. Agradecimento: Atacama Productions

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CURADORIA


—Rafael de Almeida Rafael de Almeida é Realizador e Pesquisador de Cinema e Audiovisual. Professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás – UEG. Doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Dirigiu alguns filmes de curta-metragem, entre os quais: Para Não Esquecer (2016), Carrossel (2013), A Saudade é um Filme Sem Fim (2009) e Impej (2007). Seus interesses artísticos e científicos estão centrados hoje nos diálogos entre o cinema documentário, o filme-ensaio e o found footage.

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PATRICIO GUZMÁN: POR UMA CONSTELAÇÃO RAFAEL DE ALMEIDA

Noite. Distâncias gigantescas separam as estrelas umas das outras. Apesar disso, somos capazes de olhar para o céu e traçar linhas imaginárias entre elas. Ao conectar essas estrelas e outros objetos celestes em um pedaço de céu, criamos ao longo do tempo uma série de figuras imaginárias: objetos, pessoas, animais, seres mitológicos. Constelação é como popularmente chamamos esse conjunto de astros brilhantes. Frutos do fascínio que desde sempre nutrimos pelo céu, as constelações não passam de invenções fictícias do ser humano. Logo, inúteis. Apesar de seu aparente caráter irreal, com o passar do tempo a inutilidade demonstrou-se frutífera. O interesse por aqueles agrupamentos de astros ajudaram os povos a reconhecer o tempo de cada coisa: a época de caçar e de pescar, de plantar e de colher. Por outra parte, esses mesmos conjuntos celestes ajudaram viajantes a se orientar pelo espaço e percorrer grandes distâncias, tendo o Sol, a Lua e as estrelas como guias. Uma orientação espaço-temporal primitiva, obviamente. Se penso em filmes enquanto corpos celestes, como fazer uma constelação deles? Como agrupar filmes por um olhar longínquo e fascinado, apesar das distâncias temáticas e formais que guardam entre si? Como gerar uma figura imaginária, pela conexão entre essas obras, que (não sem alguma dificuldade) outros pudessem reconhecer? A mostra Constelação Guzmán assume esse desafio. A constelação enquanto metáfora para uma mostra. Portanto, um elogio ao inútil e primitivo. Uma mostra-constelação que, em sua inutilidade, nos permita identificar a necessidade de aguçar a nossa percepção tanto do tempo que nos cerca, quanto do céu que está acima de nossas cabeças. Uma mostra-constelação que, em que seu caráter primitivo, nos guie

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enquanto espectadores tanto por um trajeto pouco explorado entre a produção documental de Guzmán, quanto por aquele que revela o interesse do realizador chileno pelo cosmos percebido como acervo que abriga histórias (in)visíveis a depender de quem as olha. Em sua constelação, a mostra reúne oito obras de Patricio Guzmán, um dos mais expressivos documentaristas latino-americanos internacionalmente. Tendo nascido em 1941 na cidade de Santiago do Chile, Guzmán deixou o país em novembro de 1973, sob ameaça de execução, após o golpe de Estado que assolou o Chile. Nostalgia da Luz é um dos seis filmes do cineasta que estrearam no Festival de Cannes. O Botão de Pérola, seu documentário mais recente, foi premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim, em 2015. A produção do realizador é amparada por uma metodologia de trabalho própria. Metodologia por ele difundida em cursos ao redor do mundo. Guzmán sustenta seu processo criativo por meio da escritura fílmica de pontos de vista próprios sobre as coisas do mundo. Afinal, segundo o cineasta, “jamais o documentário foi um espelho imparcial da vida, mas um olhar singular” (GUZMÁN, 2017, p. 24). Pontos de vista os quais, apesar de marcadamente subjetivos, se distanciam criticamente com a intenção de “valer-se do cinema para compreender o momento político em que alguém filma” (COMOLLI, 2008, p. 124). Filmar politicamente sempre foi a busca de Patricio Guzmán. Nesse sentido, a mostra Constelação Guzmán busca dar relevo a uma dimensão menos conhecida do filmar politicamente do realizador. A mostra congrega trabalhos em que a dimensão política, traço marcante da filmografia do documentarista chileno, se mescla suavemente com a investigação formal e estética de maneira mais apurada. São filmes que

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demonstram o interesse de Guzmán pela astronomia e suas paisagens, pelos astrônomos e seus inventos, pelos astros e seu reflexo na vida cotidiana dos povos originários e das comunidades urbanas. Ao reunir tais filmes, nos interessa questionar: “O que a forma me diz sobre o sentido? Como os objetivos – que são sempre desafios de sentido: ideológicos, simbólicos, sociais, o que quer que sejam – trabalham a escritura?” (COMOLLI, 2008, p. 319). Nossa constelação de obras, ao mesmo tempo em que valoriza e dá ênfase à produção curta-metragista do documentarista – formato que permite ao realizador explorar seu fascínio sobre determinados personagens; acolhe seus longas mais recentes, em que o documentário ganha feições ensaísticas. Por um lado, uma constelação revela o processo de seu próprio (re) conhecimento espacial, da figura que guarda dentro de si, a partir das linhas que marcam suas distâncias internas entre os astros que a compõem. Por outro, uma constelação está ancorada nitidamente em uma representação visual, em um misto de observação e invenção, reflexão e criação, documentação e ficção. O caso de nossa mostra-constelação não é diferente. Eis a figura da Constelação Guzmán.

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Em uma constelação, as estrelas mais brilhantes nem sempre são as maiores. Em geral, são aquelas que temos acesso visual com mais facilidade, as que estão mais próximas de nosso ponto de vista. Nostalgia da Luz e O Botão de Pérola, sem dúvida, são as obras mais acessíveis de Guzmán que constam em nossa mostra-constelação, por esse motivo elas formam a coluna dorsal de nossa figura em forma de peixe. Elas conectam o deserto e o mar pela exploração cinematográfica do espaço cósmico e da memória. Madrid também pode ser vista com relativa facilidade, sobretudo em dias luminosos. Aqueles em que o céu é intensamente azul e o Sol desenha fortes sombras sobre o chão de pedra das ruas próximas à Puerta del Sol. O astro-rei costuma encher a cidade (que também é minha) de vida. Os curtas-metragens de Guzmán certamente são os astros de mais difícil visibilidade, a partir das terras brasileiras. Talvez nunca tenham sido vistos em uma mostra por aqui. Tanto Maria Teresa e a Anã Marrom quanto Jose Maza, o Viajante do Céu apresentam astrônomos cientistas do Chile, de renome mundial e interesses singulares. Astrônomos do Meu Bairro e Oscar Saa, o Técnico das Estrelas revelam especialistas na fabricação e manutenção de telescópios e instrumentos de observação do cosmos, tanto em âmbito amador quanto profissional. Alfredo Prieto perpassa pela cosmovisão indígena dos Selknam: povos originários da Patagônia, que conheciam muito bem o céu e acreditavam que as estrelas eram pessoas que haviam partido, seres-estrela. A mostra Constelação Guzmán parte da compreensão do documentarista chileno enquanto um viajante do céu, um técnico das estrelas, um astrônomo da América Latina, que a observa à distância e subjetivamente. Patricio Guzmán disse em inúmeras ocasiões que um país, uma região, uma cidade, que não tem cinema documentário é como uma família sem álbum de fotografias. Ou seja, uma comunidade sem imagem, sem memória. As obras aqui arranjadas acolhem histórias (in)visíveis. Trata-se de uma mostra-constelação que nos convida a assumir sua forma de imagem-peixe e mergulhar no universo-memória.

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—Referências bibliográficas COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder: a inocência perdida – cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. GUZMÁN, Patricio. Filmar o que não se vê: um modo de fazer documentários. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017.

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FILMES


ALFREDO PRIETO 12' | CHILE | 2010 | PATRICIO GUZMÁN

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Um século antes de Pinochet lançar prisioneiros políticos no mar, os nativos da Patagônia foram eliminados pela chegada do homem branco. Indígenas foram mortos por caçadores ou morreram das doenças trazidas pelos colonizadores. Durante milênios, os índios navegaram pelos mares da Patagônia em frágeis canoas de madeira.

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ASTRÔNOMOS DO MEU BAIRRO 14’ | CHILE | 2010 | PATRICIO GUZMÁN

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Uma sociedade de astrônomos amadores, “El club de los telescoperos”, fabrica seus próprios instrumentos no Chile. São pessoas do bairro, modestas. Fazem as cúpulas, espelhos, tripés e todas as peças de um observatório moderno com suas próprias mãos, seguindo o modelo dos grandes dispositivos que estão no deserto de Atacama.

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JOSÉ MAZA, O VIAJANTE DO CÉU 13’ | CHILE | 2010 | PATRICIO GUZMÁN

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O enigma dos buracos negros, o mistério das explosões galácticas, a “energia escura” e os canais marcianos são os temas favoritos do astrônomo José Maza, um cientista de renome mundial e professor com senso de humor.

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MADRI 41’ | CHILE | 2002 | PATRICIO GUZMÁN

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A 600 metros de altura e no meio do planalto castelhano (na região central da Espanha) ergue-se uma cidade luminosa com um céu intensamente azul. O sol projeta sombras negras que parecem desenhadas com tinta chinesa. É uma cidade cheia de vida onde existem 20 tipos diferentes de pães para acompanhar o café e onde há 10 tipos de torrone para saborear. E a cada 300 metros há um bom bistrô para saborear diversas “tapas” que você pode puxar esticando o braço. Se come, se bebe, se fala e alguns até dançam flamenco. Tem um mercado gigantesco que abre aos finais de semana, “El Rastro”, onde você pode comprar de tudo. Tem duas grandes pinacotecas onde se encontra o melhor de Velázquez, Goya, Jerónimo Bosch, etc. É uma cidade onde todo fim de semana parece haver uma festa coletiva, onde pessoas de todas as idades se encontram. É uma cidade moderna, mas sob o seu solo existem ruínas romanas, gregas, árabes e judaicas. Madri é uma das cidades mais cosmopolitas da Europa. No entanto, é uma metrópole com a atmosfera de um povo de província.

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MARIA TERESA E A ANÃ MARROM 12’ | CHILE | 2010 | PATRICIO GUZMÁN

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Uma astrônoma chilena foi a primeira a descobrir uma “anã marrom” se movendo pelo universo. Essa descoberta exige uma paciência extraordinária. Ele recebeu o National Science Award e tornou-se famosa nos círculos astronômicos ao redor do mundo. Sua paciência é o resultado de seus dois hobbies pessoais: tecer tapetes de lã e procurar nas praias, ágatas trazidas pelo Oceano Pacífico.

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NOSTALGIA DA LUZ 90’ | CHILE | 2010 | PATRICIO GUZMÁN

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No deserto de Atacama, astrônomos de todo o mundo se reúnem para observar as estrelas. Nessa região do Chile, a três mil metros de altitude, o calor do sol mantém intactos restos mortais de seres humanos. Ao mesmo tempo em que os astrônomos pesquisam as galáxias em busca de vida extraterrestre, um grupo de mulheres procura os corpos de parentes perseguidos durante o período da ditadura militar de Pinochet.

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O BOTÃO DE PÉROLA 82’ | CHILE | 2015 | PATRICIO GUZMÁN

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O Oceano Pacífico contém a história de toda a humanidade. Dentro, estão as vozes da Terra e também as vozes que vêm do espaço. A água recebe o impulso dos planetas e o transmite a todas as criaturas... O Chile, com seus 4.000 quilômetros de costa, nos propõe uma paisagem terrestre e humana inquietante. Aqui existem milhares de fiordes e cascatas de gelo. Aqui estão as vozes dos povos indígenas da Patagônia, dos primeiros navegadores ingleses e também dos presos políticos da ditadura de Pinochet. Alguns dizem que a água tem memória. Este filme demonstra, claramente, que também tem voz.

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OSCAR SAA, O TÉCNICO DAS ESTRELAS 10’ | CHILE | 2010 | PATRICIO GUZMÁN

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Nos observatórios astronômicos há pessoas que nunca olham para o céu. Não conhecem a escuridão do cosmos. Trabalham durante o dia... São os mecânicos, os especialistas, os engenheiros altamente qualificados que cuidam e reparam as máquinas que dão vida aos telescópios.

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ATIVIDADES DE FORMAÇÃO


CURSO DE CINEMA DOCUMENTÁRIO E EXPERIMENTAL


Neste curso pretende-se apresentar uma pequena história do documentário e pensá-lo como um campo de experimentação narrativa e estética capaz de ampliar as possibilidades de compreensão do real. Nesse sentido, a oficina propõe um recorte que trata das grandes discussões e transformações do campo do documentário, mas busca lançar um olhar atento para os filmes de intervenção social e militantes latino-americanos e o recente panorama do cinema brasileiro. Passando ao largo de modelos hegemônicos de historiografia que encontram na sucessão temporal, na circunscrição geográfica das produções ou na ideia de resposta sucessiva de um movimento a outro o fio condutor para a construção de uma narrativa, o percurso formativo da oficina propõe-se a pensar como os filmes se constroem narrativamente, articulam regimes de imagens e engendram pensamentos. Nesse sentido, a proposta da formação permite estabelecer relações entre diferentes movimentos e filmes, associando formas narrativas e estéticas que, embora estejam distantes temporal e geograficamente, mantêm uma sensível proximidade ao articular gestos e construções comuns.

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—Luís Henrique Leal (Recife, 1985) é Mestre em Cinema e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Desenvolve pesquisa nos campos do Cinema e da Fotografia e ministra oficinas de formação audiovisual. Dirigiu os curtas Retinianas (2010), Velho Recife Novo (2012), Fotograma (2016), “Galinhas no Porto” (em pós-produção) e colabora como Diretor de Fotografia em projetos de outros realizadores. Integra a Parabelo Filmes e participou dos coletivos audiovisuais Contravento e do movimento #OcupeEstelita.

atividades de formação CURSO DE CINEMA DOCUMEN T ÁRIO E EXPERIMENT AL 1 5 3


CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

—Primórdios do Documentário: etnografia, propaganda, verdade. Nanook, o esquimó, de Robert Flaherty Coal Face, de Alberto Cavalcanti e John Grierson Why We Fight: the nazi strike, Frank Capra

—Cinema de Poesia: Chuva, de Joris Ivens Vida, de Peleshian, Limite, de Mário Peixoto

— Vanguardas e Cinema Experimental: Um homem com uma câmera, Dziga Vertov Berlim: Sinfonia de uma metrópole, Walter Ruttmann

—Observação e não-intervenção: A saída dos operários da fábrica, irmãos Lumiére Primárias, de Bob Drew Entreatos, de João Moreira Salles Hospital, de Frederik Wiseman Justiça, de Maria Augusta Ramos Dos meses sin sueldo, MAFI

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—Cinema Verdade, etnografia e relações coloniais: Eu, um negro, de Jean Rouch A pirâmide humana, de Jean Rouch Afrique 50, de René Vautier As estátuas também morrem, de Alain Resnais e Chris Marker

—A fenda entre as palavras e as imagens: Sem Sol, de Chris Marker A saída dos operários da fábrica, de Harun Farocki Histórias do Cinema, de Jean-Luc Godard Reminiscências de uma viagem à Lituânia, de Jonas Mékas A imagem que falta, de Rithy Panh

—A vida dos arquivos: Retratos de identificação, de Anita Leandro Juventude Alemã, de Jean-Gabriel Périot No intenso agora, de João Moreira Salles A escuridão do dia, de Jay Rosenblatt

—A crença nas palavras: Edifício Master, de Eduardo Coutinho Shoah, de Claude Lanzmann Peões, de Eduardo Coutinho

atividades de formação CURSO DE CINEMA DOCUMEN T ÁRIO E EXPERIMENT AL 1 5 5


—Documentário, luta de classes e urgência: ABC da Greve, de Leon Hirszman A Batalha do Chile: A insurreição da burguesia, de Patrício Guzmán Me matan si no trabajo y si trabajo me matan, de Grupo Cine de la Base / Raimundo Gleyzer Hanoi, martes 13, de Santiago Alvarez Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros Na missão com Kadu, Aiano Benfica, Kadu Freitas e Pedro Maia Brito

—Dispositivo cinematográfico e inscrições políticas nas imagens: O prisioneiro da grade de ferro, de Paulo Sacramento Doméstica, de Gabriel Mascaro Pacific, de Marcelo Pedroso

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O Programa Primeiro Corte – PPC é um dos pilares do PirenópolisDoc e a cada ano se fortalece como um dos únicos laboratórios de montagem para filmes documentários do Brasil. O PPC constitui-se em uma oportunidade de imersão e reflexão para realizadores de filmes de longa-metragem em fase de pós-produção. Durante o processo, as obras selecionadas são projetadas e debatidas entre os autores, participantes e tutores. Nesta edição, pela primeira vez, acontece a consultoria de mercado, com Renée Castelo Branco, para guiar as obras participantes sob as perspectivas de venda do documentário no Brasil. Além disso, a Zumbi Post , laboratório digital focado em correção de cor e qualidade na pós-produção de conteúdo audiovisual, irá premiar um dos projetos participantes com serviços finalização de imagem.

atividades de formação I V PI R E N ÓPPO ROGRAMA L I S D O C PRIMEIRO CORT E


—Marcelo Pedroso é documentarista, natural de Recife. Entre os filmes que realizou estão os longas-metragens Brasil S/A (Melhor Roteiro e Direção – Festival de Brasília), Pacific (Melhor Filme – CineEsquemaNovo), KFZ-1348 (Prêmio do Júri – Mostra de São Paulo) e os curtas Câmara Escura (Melhor Filme no Curta Cinema – RJ) e Corpo Presente (Melhor montagem na Mostra de Londrina). É Mestre em Cinema pela Universidade Federal de Pernambuco, com pesquisa sobre Documentário Contemporâneo, onde atualmente cursa também o Doutorado em Cinema. Atua como educador e pesquisador, ministrando cursos e oficinas em diversas regiões do país.

atividades de formação CURSO DE CINEMA DOCUMEN T ÁRIO E EXPERIMENT AL 1 5 9


—Renée Castelo Branco é responsável pela faixa de documentários da GloboNews, criada há quatro anos, curadora dos projetos apresentados em parceria com a Globo Filmes e dos documentários produzidos internamente. É jornalista desde 1976, foi repórter da Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e Gazeta Mercantil. Entrou para a TV Globo de SP em 1981. Trabalhou também no Rio e em Londres. De volta ao Brasil, entrou em 1997 para a GloboNews onde criou o programa Sem Fronteiras dedicado a assuntos internacionais. Colaborou como pesquisadora e coordenadora dos documentários do diretor João Jardim: “Janela da Alma”, “Pro Dia Nascer Feliz”, “Lixo Extraordinário”, e “Amor?”. Formada em Ciências Sociais com pós-graduação em Ciência Política pela USP, e em Jornalismo pela Fundação Cásper Líbero.

atividades de Iformação V PI R E N Ó PO PLROGRAMA IS DOC PRIMEIRO CORT E


PROJETOS SELECIONADOS

ANDANTE SÃO JOÃO DA BOA VISTA E SÃO PAULO, SP

Direção: Isaac Pipano Co-Direção: Giuliano Gerbasi Montagem: Giuliano Gerbasi e Lucas Andrade Existe um lugar onde santas fazem peixes caírem do céu, onde crianças conversam com mortos, onde fantasmas caminham à luz do dia, onde milagres acontecem. Entre religiosidade, fé, devoção, temor, folclore e cultura, o filme "Andante" percorre o Caminho da Fé, que tem como marco zero a cidade paulista de Águas da Prata, e na Basílica de Nossa Senhora Aparecida (em Aparecida – SP), seu ponto final, buscando construir uma cartografia espiritual e simbólica das relações que atravessam a construção do imaginário de uma população marcada por uma formação católica-cristã, de origem escravocrata, e o peso de um passado que se atualiza nas histórias e invenções coletivas atuais. Com início em 2014, contemplado pelo Prêmio PROAC de Incentivo à Realização de Curta-Metragem, o filme foi rodado em Abril de 2016 como projeto de longa e encontra-se em fase de reelaboração após uma versão de 20 minutos ter circulado por alguns festivais e mostras, mobilizando debates sobre o projeto de montagem atual. Finalmente, o longa-metragem "ANDANTE" pretende, durante todo o processo de edição e finalização, costurar novas camadas de interpretação sobre o interior paulista contemporâneo e convocar o espectador para uma viagem sensível em torno da fé, do mágico e do invisível.

atividades de formação CURSO DE CINEMA DOCUMEN T ÁRIO E EXPERIMENT AL 1 6 1


A ÚLTIMA IMAGEM GOIÂNIA, GO

Direção: Benedito Ferreira Montagem: Thomaz Magalhães Benedito é cego desde os 14 anos. Talvez por esta razão, sua vida, memórias do Amazonas e seus poemas sejam tão visuais. Em Paris, ele conhece e se casa com Jean-Luc, que se torna, de alguma forma, seus olhos. Também na França, ele conhece outro Benedito, um cineasta, gay e também brasileiro. Juntos eles decidem construir esse filme, mas muita coisa parecia diferente.

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CORPO E MURO SÃO PAULO, SP

Direção: Júlia Hannud e Catharina Scarpellini Montagem: Renato Maia Corpo e Muro é a história de cinco mulheres encarceradas que reflete a realidade de um sistema social desigual. Nina, Leia, Coringa, Sandra e Elisabette são detentas da Cadeia Pública de Franca, no Estado de São Paulo. O documentário acompanha o dia a dia dessas vidas esquecidas e propõe uma reflexão sobre a complexidade e contradição da nossa sociedade. Além de dar voz a esta realidade, Corpo e Muro é uma grande imersão nas expectativas e frustrações dessas mulheres. Sobretudo, é um filme sobre o humano.

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DIA DE FOLGA BRASÍLIA, DF

Direção: Patrícia Antunes Montagem: Patrícia Antunes / Sérgio Serpa / Januário Júnior "Dia de Folga" é um documentário que traz como temática central a vida das mulheres. Hoje, elas compartilham com os homens o trabalho remunerado e mantêm as responsabilidades sobre as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos. Como a mulher está conciliando a vida familiar, vida pessoal e a vida no trabalho? Onde e como essas mulheres estão vivendo o seu dia de folga? O filme retrata a vida de quatro mulheres brasileiras, que se veem obrigadas a conciliar a vida familiar, a vida pessoal e o trabalho.

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JAPÃO GOIÂNIA, GO

Direção e Montagem: Henrique Borela No interior de uma mina subterrânea de 250 metros de profundidade, um grupo de garimpeiros trabalha a procura de esmeralda, enquanto tentam sobreviver e voltar vivos para casa.

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OKUNRIN SALVADOR, BA

Direção: David Aynan Montagem: David Aynan e Vinícius Silva Okunrin é um documentário híbrido de longa-metragem que busca fazer uma investigação sobre o homem negro através do registro cotidiano.

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QUANDO A GENTE É JUNTO GOIÂNIA, GO / SÃO PAULO, SP

Direção: Lu Hiroshi; Nu Abe; Kaco Olímpio Montagem: Agnes Vilseki "Quando a Gente é Junto" aborda as vidas de pessoas trans, dentro do contexto afetivo e artístico e considerando o poder do "olhar de dentro". Lu Hiroshi e Nube Abe têm feito registros desse grupo do qual os dois são pertencentes. O objetivo é alcançar com essas imagens de arquivo um projeto conciso que consiga passar a mensagem dessa investigação onde, pela primeira vez, os protagonistas da trama também ocupam o lugar por detrás das câmeras.

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RAÍZES SÂO PAULO, SP

Direção: Wellington Amorim e Simone Nascimento Montagem: Nayara Mendl O documentário “Raízes” mostra a busca de Kelton pelo passado de sua família e sua origem. Nessa trajetória, se depara não apenas com as raízes de sua árvore genealógica, mas com o apagamento da história do povo negro brasileiro.

atividades de formação I V PI R E N ÓPPO ROGRAMA L I S D O C PRIMEIRO CORT E


UM FILME DE VERÃO RIO DE JANEIRO, RJ

Direção: Jo Serfaty Montagem: Cristina Amaral Durante o verão, Karol, Junior, Ronaldo e Caio estão no último mês das aulas na escola pública do Rio de Janeiro. Quando as férias chegam, as temperaturas alcançam 40 graus. Imersos nos fios emaranhados que cobrem o céu da favela e os súbitos apagões, estes quatro jovens são afetados pela crise da cidade e se reinventam diante da adversidade.

atividades de formação CURSO DE CINEMA DOCUMEN T ÁRIO E EXPERIMENT AL 1 6 9


atividades de formação I V PI R E N ÓPPO ROGRAMA L I S D O C PRIMEIRO CORT E


atividades de formação CURSO DE CINEMA DOCUMEN T ÁRIO E EXPERIMENT AL 1 7 1


LANÇAMENTO LITERÁRIO

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FEMININO E PLURAL: MULHERES NO CINEMA BRASILEIRO ORGANIZAÇÃO: KARLA HOLANDA E MARINA CAVALCANTI TEDESCO EDITORA: PAPIRUS DATA: 05/09/18 HORÁRIO: 19H LOCAL: ENTRONCAMENTO CULTURAL - CINE PIRENEUS

É com grande alegria que o Pirenópolis Doc faz o lançamento do livro Feminino e Plural: Mulheres no cinema brasileiro, organizado por Karla Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco e publicado pela editora Papirus em 2017. O livro é lançado em um momento importante para o audiovisual brasileiro e mundial, que busca se ancorar em mais diversidade e representatividade.

LA N ÇA M E NTO F EMININO E P LURAL : MUL H ERES NO CINEMA BRASILEIRO

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Através de 16 capítulos escritos por 23 pesquisadoras e três pesquisadores é possível fazer um retrospecto da presença feminina, especialmente na direção, em filmes realizados no Brasil desde a década de 20, rememorando nomes muitas vezes esquecidos por nossa cinematografia. O livro reivindica a autoria feminina no cinema brasileiro e apresenta filmes, assim como diretoras que tiveram um importante protagonismo no cinema nacional, em momentos decisivos, como no período da ditadura militar, mas que foram ofuscadas pela história. É possível, ainda, como apresentado no título reconhecer a pluralidade de temas e narrativas realizadas pela ótica de mulheres ao longo das décadas, o que ratifica a importância da obra ao dar luz tanto à história de diretoras e filmes, quanto à uma importante cinematografia. Nesse importante lançamento teremos a presença de duas pesquisadoras, são elas: Mariana Tavares, que escreveu o sexto capítulo do livro: “Helena Solberg: militância feminista e política nas Américas” E Ceiça Ferreira que escreveu o décimo segundo capítulo, “Formas de visibilidade e (re)existência no cinema de mulheres negras"

LA N ÇA M E NTO F EMININO EI VPPI LURAL R E N Ó: PO MUL LIS H ERES D O C NO CINEMA BRASILEIRO



ENSAIOS E ENTREVISTA


CARMEN MIRANDA, BANANAS IS MY BUSINESS O ENCONTRO COM NOSSA IDENTIDADE CULTURAL MARIANA RIBEIRO TAVARES1

Cartaz do filme Carmen Miranda, Bananas Is My Business (1994).

Acervo Radiante Filmes.

—1 Pós-Doutoranda na Escola de Belas Artes-UFMG. Autora do livro Helena Solberg, do Cinema Novo ao Documentário Contemporâneo (É Tudo Verdade/Imprensa Oficial de SP, 2014).

E N SA I O S E E N T R E V I STA C a rm e n M i ra n d a , B ananas Is My Busi ness

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Carmen Miranda, Bananas Is My Business (1994) percorre a vida e obra da cantora luso-brasileira Carmen Miranda, de seu nascimento, em 1909, em Marco de Canaveses (Portugal)2, até sua morte precoce, em 1955, com apenas 46 anos de idade, em sua casa em Bervely Hills, no Estado da Califórnia – Estados Unidos. O documentário está entre os principais filmes da retomada do cinema nacional e prenuncia o boom dos documentários musicais que emergem na década seguinte no Brasil. Realizado entre os Estados Unidos e o Brasil durante o delicado período da era Collor (entre 1990 e 1992) e lançado no Festival de Brasília em 1994, dois anos após a renúncia de Fernando Collor de Mello da Presidência da República, o filme causou impacto no Festival, ao trazer à tona a trajetória de uma cantora/intérprete luso-brasileira bem sucedida nos Estados Unidos e ainda pouco conhecida das novas gerações. Em sua linguagem, o filme apresenta o diálogo com a ficção e o uso da voz over reflexiva da cineasta Helena Solberg, que pontua de forma pessoal e emotiva a narrativa, inserindo-a no plano da memória afetiva – dispositivos que ainda eram pouco utilizados no documentário brasileiro do período e que singularizam o filme. Películas do arquivo pessoal

—2 Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu numa família pobre. Seus pais emigraram para o Brasil em 1910, quando ela tinha 1 ano de idade. Estabeleceram-se no Rio de Janeiro, onde o pai trabalhou como barbeiro. Carmen estudou numa escola para pobres de um convento francês no Rio de Janeiro. Aos 16 anos de idade, teve que parar de estudar para trabalhar: primeiro, na confecção de chapéus (daí, sua criatividade para criar seu próprio figurino de cantora/intérprete inspirado nos trajes das baianas); depois, como vendedora numa loja de gravatas para homens. (Press Release do filme Carmen Miranda, Bananas Is My Business, 1994).

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de Carmen Miranda e de nove filmes em que ela atuou para a produtora brasileira Cinédia e para os estúdios norte-americanos 20th Century Fox, Columbia Pictures e Republic Pictures Corporation nos revelam a transformação da imagem da cantora ao longo dos quinze anos em que viveu nos EUA (1940 a 1955). O documentário traz, ainda, depoimentos de 16 pessoas que conviveram com Carmen, como o produtor musical Aloysio de Oliveira3; a irmã e cantora Aurora Miranda4; o jornalista Caribé da Rocha e compositores que criaram canções especialmente para ela, como Synval Silva e Laurindo Almeida. A montagem articula esses elementos alternando memória, momentos reflexivos e outros apoteóticos, o que mantém o suspense. Estes são alguns dos elementos que diferenciam o filme, resultando em sua recepção positiva no Brasil e no exterior (com seleção e premiações em importantes festivais como os de Chicago, Havana e Uruguai). Em sua gênese, traz uma tensão entre dois olhares: o de uma brasileira (a cineasta Helena Solberg) que vivia nos Estados Unidos, e o de seu marido e produtor do filme, o norte-americano David Meyer. Ainda criança, Meyer assistia a cartoons, desenhos e filmes que parodiavam Carmen Miranda na televisão e julgava, ainda menino, que Carmen fosse norte-americana. Durante cerca de três anos, Helena e David investigaram a trajetória de Carmen visando reconstruir sua identidade soterrada pela caricaturização de sua imagem transformada num ícone exótico-tropical, cheio de frutas na cabeça. Nas palavras de Helena Solberg: Uma coisa meio de detetive na busca de um personagem: quem era? Que mistério havia por trás desta mulher? [...] O que era aquela máscara? Por que a cara era quase sempre a mesma? O sorriso... Havia uma coisa meio máscara em Carmen. Que era

—3 Músico, produtor, empresário, Aloysio de Oliveira é uma figura lendária da história da música brasileira. Seu grupo “Bando da Lua” acompanhou Carmen Miranda por alguns anos no Brasil e por quinze anos nos Estados Unidos. —4 Aurora Miranda (1915–2005), irmã de Carmen Miranda, seis anos mais nova, foi cantora e atriz no Brasil e também nos Estados Unidos. Bem nova, começou a acompanhar a irmã mais velha em todos os seus compromissos profissionais e cedo começou a dividir o palco com ela. Aos 18 anos de idade, fez sua primeira gravação. Rapidamente, as irmãs Miranda estavam fazendo tournées pelo Brasil e Argentina.

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uma coisa que depois eu achei que também era uma forma de se proteger bastante. Porque era uma pessoa bastante tímida.5 Solberg já vivia nos Estados Unidos por vinte anos quando decidiu realizar o filme. Naquele momento, já havia feito seis documentários nos quais havia analisado o apoio político e econômico do governo do Presidente Ronald Reagan às ditaduras na América Latina na década de 1980. Já havia, igualmente, dirigido os documentários de sua Trilogia da Mulher sobre a condição da mulher na América Latina e nos EUA. Esses filmes serviram como preparação para se debruçar na investigação da trajetória política e pessoal de Carmen Miranda, bem como na manipulação de sua imagem pelos produtos audiovisuais estadunidenses. Na construção da narrativa, a ficção tornou-se uma aliada: a atriz Letícia Monte, irmã da cantora Marisa Monte, interpretou Carmen adolescente e recriou situações de seu cotidiano. A Carmen adulta que irá viver e trabalhar nos Estados Unidos é encenada pelo artista transformista Erick Barreto6 especialista na mímica da cantora, tendo realizado vários shows em que a interpretava.

Erick Barreto interpreta Carmen Miranda.

—5 Helena Solberg, em entrevista a Mariana Tavares, em Junho de 2005, para dissertação de Mestrado. —6 Erick Barreto (1961-2008) fez carreira interpretando Carmen e outros cantores brasileiros e internacionais, com enorme talento e competência. Eram comuns suas participações em programas de televisão, como Sílvio Santos, Programa da Hebe etc. Para atuar em Carmen Miranda, Bananas Is My Business, viajou para Portugal, Inglaterra e Nova York. (Press release do filme. Tradução nossa.)

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Além da verossimilhança na interpretação de Erick Barreto vivenciando passagens da vida da cantora, o filme se apropria desta imagem para associá-la ao que os próprios estúdios norte-americanos haviam feito com ela, como esclarece Helena Solberg: Decidimos tentar usar o fake em nossa vantagem. Mas o uso de atores na encenação de alguns momentos na carreira de Carmen deveria ser feito com muito cuidado para não criar dúvidas a respeito da veracidade do material em geral. A ideia do fake tem fundamento na imagem que Hollywood criou de Carmen. Uma imagem que começou real, mas que foi transformada em algo mais, uma imagem que era desconfortável para nós brasileiros, quando o Brasil estava buscando sua identidade. No entanto, nós (brasileiros) rejeitamos Carmen por muito tempo. Nossa reconciliação com ela é de alguma forma, nossa reconciliação com nós mesmos. (Grifo nosso) O jogo entre ficção e documentário também se manifesta na atuação da personagem de Cynthia Adler (atriz norte-americana). Ela vivencia uma radialista influente que, em tom crítico, comenta a atuação de Carmen em filmes e também os figurinos e estilo da cantora. Os diálogos da atriz foram transcrições literais de notícias da época, criando novamente um hibridismo entre o real e a ficção. As interpretações da voz da própria Carmen Miranda (lendo uma antiga carta de amor de sua autoria para seu primeiro namorado, Mário Cunha); da voz do padre que a teria batizado em Aliviada, Portugal, lendo sua certidão de batismo, e da voz do jornalista David Nasser, em uma crítica bombástica na imprensa brasileira reforçam o hibridismo, evidenciando uma estrutura de montagem sofisticada. A encenação dessas vozes foi feita por atrizes e atores convidados para o filme. É nesse jogo entre o real e o imaginado que reside a singularidade do filme, que propõe várias camadas de interpretação: trata-se de um documentário sobre a ascensão e queda de uma importante artista mal compreendida em seu país natal e também naquele que adotou como segunda pátria. É também um filme sobre as relações políticas entre a América Latina e os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e o papel do Brasil dentro da política da boa vizinhança proposta pelo

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governo Roosevelt. Mas é também um documentário sobre a apropriação de uma imagem (Carmen Miranda) pela mídia e sua manipulação para fins políticos e comerciais. Temática sempre atual num mundo globalizado, permeado pela reprodução e consequente banalização das imagens. Daí a atemporalidade do filme e a urgência em assisti-lo. O contato com Carmen Miranda, Bananas Is My Business provoca uma imersão em aspectos esquecidos de nossa história e identidade cultural. É filme para ver e rever. Boa sessão!

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ENTREVISTA COM HELENA SOLBERG POR CEIÇA FERREIRA1

CF— Nos últimos anos, várias pesquisas acadêmicas têm apontado as desigualdades de gênero na produção cinematográfica e destacado a produção de Diretoras como você, Ana Carolina, Vera de Figueiredo, Adélia Sampaio, entre outras. Mas ainda predomina uma perspectiva masculina no cinema brasileiro. Como você vê isso? HS — Eu acho que essa é a história do mundo! Isso não acontece só no Brasil! A gente ainda vive numa sociedade que está começando a contestar uma série de coisas agora, aliás, começando não, porque fizeram antes de nós também! Mas é uma longa luta, porque a sociedade é machista, em geral, e continua sendo. Quer dizer, eu acho que está acontecendo uma coisa muito interessante e muito forte e que não vai recuar. Nos anos 60 se andou pra trás, houve uma reação que sempre acontece quando você força essas conquistas, você tem resultados de ataques ou reações. Agora está bastante interessante, eu acho que, dessa vez, a gente vai dar um passo pra frente, mas às vezes acontece de você dar um pra frente e dois pra trás. Mas eu acho que você tem que forçar a barra.

CF— Essas questões vêm sendo discutidas cada vez mais na pesquisa em Cinema, mas ainda é difícil encontrar referências sobre a

—1 Doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), na linha de pesquisa Imagem, Som e Escrita; Professora e pesquisadora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão nas áreas de comunicação e cultura, cinema, raça e gênero.

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produção de mulheres cineastas. HS — É muito difícil! É também por questão da memória! Eu acho que a gente tem que contar, a mulher tem que contar suas histórias pra passar para as outras, para você ver o que há em comum.

CF— Pensando ainda essa questão da memória no cinema, no seu primeiro curta, A Entrevista, de 1966, você aborda a realidade da mulher carioca de classe média, e assim vai na contramão da ótica cinemanovista, que priorizava a representação da alteridade social, das classes populares. De que forma você enxerga essa escolha? HS — Na época eu não achei que eu estava fazendo uma grande escolha ou eu não pensei nisso nestes termos, pensei que eu queria entender quem eu era, o que pra mim era essencial. Quer dizer, o outro, com o qual você tem que se confrontar, ele também é um elemento que vai te transformar se você chegar à realidade dele, mas naquele momento eu queria me entender. Eu venho de uma família em que eu tinha três irmãos homens em casa e eu, a única mulher, e eu não gostava da diferença da nossa educação, o que se esperava deles e o que se esperava de mim. Esperava-se que eles fossem médicos, advogados, engenheiros e de mim, que eu ia casar um dia. Essa realidade me incomodava muito e eu queria ouvir de outras mulheres, amigas, conhecidas, se isso era também uma preocupação delas ou se eu estava sozinha, se eu era maluca. Então foi uma curiosidade, uma vontade de descoberta

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mesmo, de querer descobrir quem eu era.

CF— Como você articula no filme essas falas das mulheres com a encenação da preparação de uma noiva? HS — Eu usei essa imagem romantizada, essa imagem da noiva sendo preparada como para um grande sacrifício que a sociedade esperava dela. Eu acho curioso até hoje que se as mulheres, as moças tivessem aceitado que eu as filmasse, eu teria feito um filme de entrevistas. Mas foi exatamente a dificuldade (algo que acontece muito no documentário, e é maravilhoso) que fez o filme diferente, me obrigou a pensar numa forma de representar aquilo e eu acho que enriqueceu muito, acho que foi o caminho certo. Porque quando eu fui rever as entrevistas transcritas era tão incrível a incoerência, a loucura, a confusão dessas pessoas que eu achei que isso podia ajudar, que isso ia desconstruir essa imagem romântica e mostrar outra realidade. Acho que eu consegui e pelo menos hoje esse filme está sendo visto!

CF— Qual a influência do Cinema Novo e da convivência com cineastas vinculados a esse movimento na sua formação? HS — Nós estávamos imbuídos disso, estávamos vivendo não só esses filmes [do cinema nacional], mas também os filmes do Neorrealismo Italiano, da Nouvelle Vague, que foram uma escola. Era de uma riqueza! E é evidente que isso fica dentro de você como um arquivo de imagens, de colocação de câmera, de enquadramento. Eu acho que certamente em tudo aquilo que a gente faz existe por atrás os que fizeram antes, e acaba tudo sendo o mesmo caldeirão de onde vêm novas coisas.

CF— Também sobre esse contexto, gostaria que você comentasse os diálogos entre o seu segundo filme e primeira ficção, o curta Meio-Dia, com esse momento de renovação no cinema, com a Nouvelle Vague e com outros filmes brasileiros que discutiram a

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opressão do regime militar.

HS — Eu acho que foi 67/68, quando a coisa estava muito feia, bastante ameaçadora, e havia também a censura, então o filme na verdade é uma alegoria. Quando saiu a música “É Proibido Proibir”, de Caetano – que foi proibida – eu vi essa história, essa possibilidade! Eu gostava muito dos filmes do Jean Vigo, o Zéro de Conduite (Zero de Conduta) e o Les Quatre Cents Coups (Os incompreendidos), do François Truffaut, e eu pensei nessa ideia desse menino que está absolutamente desesperado. O filme já começa com ele colocando um plástico no rosto, uma alusão à tortura, a um tipo de tortura que se usava naquela época; e ele joga os livros fora no rio questionando para quê serve tudo aquilo, para quê serve a cultura se você está sendo censurado. Depois ele tem um delírio, e aí o filme passa pra dentro de uma sala de aula, onde ele acaba com tudo aquilo, mata um professor, aquela coisa toda, e ele volta da escola correndo e vê que ela ainda está lá. Eu digo que é o meu filme anarquista, meu filme-poema!

CF— No filme The Emerging Woman (A Nova Mulher), que você fez nos Estados Unidos, e também nas produções seguintes, como A Dupla Jornada e Simplesmente Jenny, realizadas na América Latina, além de priorizar o ponto de vista das mulheres, observa-se a dimensão coletiva de se fazer cinema, evidenciada na atuação da equipe, composta somente por mulheres. Como hoje você avalia essa experiência na militância feminista? HS — Eu tinha chegado aos Estados Unidos e eu não conhecia ninguém. Estava no auge do movimento feminista americano e eu queria entender aquilo, queria saber como era aquilo, porque já era um feminismo organizado, havia núcleos, debates, estudos das mulheres nas universidades. E foi nesses departamentos que eu procurei quem quisesse trabalhar comigo em um projeto de um filme que contasse a história desse feminismo. Na verdade, o que eu queria era entender como era essa história, e aproveitava e fazia um filme. Era isso! Era muito simples! E era também o fim

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dos anos 60 e o início dos anos 70, quando havia essa ideia de repartir tudo, essa ideia de coletivos, a gente ia discutir em grupo as coisas, inclusive a autoria, havia muito isso. Eu acho que foi muito rica essa experiência, porque “A Entrevista” e “Meio-Dia” eu fiz só, não tive esse convívio com esses grupos de debates. E além de ter sido muito bom para a minha formação, o The Emerging Woman acabou dando muito certo porque é um filme relativamente simples, é feito com stills, com fotografias, você tem pouca imagem em movimento, mas como é muito didático, as escolas, as universidades queriam esse filme para os estudos de mulheres. Então pra mim foi maravilhoso! Foi uma contribuição inesperada num país estrangeiro, onde eu fui me meter a contar história!

CF— É possível perceber nesse filme questões que ainda continuam em debate, como a diferença entre as mulheres, pontuando a experiência de mulheres negras e indígenas. HS — A questão racial da mulher é muito importante no The Emerging Woman! Foi uma coisa que nós debatemos muito e achamos que era essencial não deixar de lado essa questão.

CF— Além da referência ao discurso da abolicionista afro-americana Soujourner Truth2, há também música I Wish I Knew How It Would Feel To Be Free, de Nina Simone na trilha sonora do filme. HS — É maravilhoso esse discurso! E a música, a Nina Simone nos cedeu, porque a gente não tinha dinheiro pra pagar pelos direitos, aí ela assistiu ao filme e disse: é de vocês! Foi maravilhoso! Uma outra pessoa que entrou em contato conosco naquela época foi a Yoko Ono, que ia fazer uma trilha sonora. Eu a levei para o estúdio

—2 Ex-escravizada, a afro-americana Sojourner Truth (1797-1883) se tornou abolicionista e ativista dos direitos da mulher negra. Na Convenção dos Direitos da Mulher na cidade de Akron (realizada em 1851, em Ohio), ela pronunciou o discurso “Não sou uma mulher?” (“Ain’t I a woman?”), no qual questiona a categoria “mulheres” e expõe a invisibilidade das mulheres negras.

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e ela começou a dar urros, gritava, era uma trilha sonora completamente doida, e não tinha a ver com o filme! E eu disse “não, muito obrigada!”. Depois eu fiquei pensando: “puxa se pusesse ela no filme, mesmo gritando, o filme ia ter mais distribuição!” Mas não, não tinha nada a ver.

CF— O seu filme Brazil in Living Colours (Brasil em Cores Vivas), que aborda o surgimento da revista Raça, em 1996, tem a participação de integrantes do movimento negro nessa discussão sobre visibilidade, que hoje está ainda mais intensa. HS — Esse filme foi encomendado pela BBC. Os ingleses viram uma notícia no jornal sobre o sucesso inesperado dessa revista, apesar de terem dito que ela não teria chance nenhuma de acontecer. Isso mostrava que havia leitores e um evidente público para esse assunto. Aí eu fui procurar o Aroldo Macedo [o criador da revista] e foi ótimo, foi interessante esse filme! Acho que agora ele teria uma audiência! Pensando nisso, acredito que foi genial a Filmes de Quintal3 ter legendado os filmes, porque eles nunca tinham sido vistos no Brasil. Então agora tem uma chance! Tem uma produtora que quer distribuir todos os filmes e eu estou vendo se é possível. Já se passaram 20, 30 anos e alguns deles continuam atuais. A gente pensa que anda pra frente, mas às vezes... Que bom que não vão ficar na prateleira! São interessantes de se ver agora por essa questão da memória, você lembrar o caminho percorrido e quem eram determinadas pessoas naquela época.

CF— Você teve mais possibilidades de fazer filmes por estar nos Estados Unidos nesse período da ditadura militar no Brasil. De que forma isso contribuiu para a construção desse “olhar de fora”? HS — Eu aprendi muito! Por exemplo, essa noção do continente da

—3 Associação cultural que organizou a mostra “Retrospectiva Helena Solberg”, realizada em Março de 2018, no Centro Cultural Banco do Brasil (Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo) e na qual foi exibida a obra completa da cineasta.

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América do Sul, que quando se vive num país enorme como o Brasil (isso também acontece com os americanos), você está virado pra dentro de si mesmo, você não reconhece os bolivianos, os argentinos, os chilenos! A gente não se considera parte disso! Agora que está se começando a ver essa necessidade de uma dimensão continental. Eu acho que foi uma experiência incrível filmar nesses países! Eu amo a Bolívia! A Bolívia é um dos países mais interessantes da América do Sul! México, Venezuela, eu filmei em todos esses países, então foi uma descoberta pra mim, foi uma descoberta muito importante!

CF— A desconstrução das imagens femininas, em especial na propaganda, é uma questão que você aborda no filme Simplesmente Jenny e também em outros filmes, onde nos possibilita pensar esse imaginário sobre o que é ser mulher, do que é considerado feminino. HS — Agora tem muita gente trabalhando isso! Isso é muito bom e vai ficar como possibilidade para outras mulheres estudarem e terem isso em arquivos. Eu acho isso sensacional! Que isso seja guardado pra poder ser usado!

CF— A partir da história da Jandyra dos Santos, o filme Meu corpo, Minha Vida destaca as histórias de várias outras mulheres que morreram e morrem em decorrência de abortos feitos em clínicas clandestinas. Você acha que essa articulação entre as dimensões do individual e do coletivo confirmam o quanto pensar gênero é político? HS — É sempre interessante você usar o pessoal, fazer quem está assistindo se aproximar de alguém e conhecê-la bem para entender o seu drama, quais foram as opções que ela tinha. Ela tentou tudo! Não foi a família, não foi a igreja, não foi o Estado... ninguém para socorrê-la! É uma situação desesperadora! E o perfil dessa mulher – as Nações Unidas e a pesquisa da Débora

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Diniz4 dizem que essa mulher que busca interromper a gravidez e acaba recorrendo a clínicas clandestinas é uma mulher casada, já com filhos e religiosa. Olha só a ironia! Então, a ideia popular que se divulga de que essa mulher é promíscua e que por isso merecia, é totalmente falsa! A gente tem que destruir esses mitos!

CF— Fica evidente nas falas de alguns entrevistados, principalmente políticos da bancada evangélica, o quanto incomoda discutir direitos reprodutivos no Brasil. HS — Eu acho que Double Day [A Dupla Jornada] fala um pouco disso também. A ideia de que a mulher reproduz com o corpo dela a força de trabalho, é ela que gera a humanidade; e como é que isso se torna propriedade do homem ou do Estado. Enfim, tem muito o que se contar ainda!

CF— Acerca dessa naturalização das desigualdades, eu me lembro de uma sequência de A Dupla Jornada gravada numa escola, onde meninas e meninos estão em filas separadas para entrar no refeitório e, ao você questionar isso ao professor, ele argumenta que é por causa do tamanho das mesas e das crianças, mas depois acaba admitindo que a divisão é por sexo. Ao ser novamente interpelado, o professor afirma que não consegue entender. HS — Eu também adoro aquele outro entrevistado que diz que as mulheres têm as mãozinhas muito delicadas, que é para o trabalho mais tedioso e mais difícil, porque os homens são muito distraídos, não conseguem fazer esse trabalho, eles gostam é de jogar bola. Eu quase dei um beijo nele e disse obrigada pela entrevista,

—4 Antropóloga e professora da UnB, Debora Diniz é reconhecida mundialmente pela atuação no debate sobre os direitos reprodutivos das mulheres, em especial na defesa pela descriminalização do aborto no Brasil, por isso vem sendo perseguida. Em Julho de 2018, após sofrer ameaças de morte e agressão por parte de um grupo contra os direitos das mulheres ligado à extrema-direita, a pesquisadora deixou o Distrito Federal e foi incluída no programa de proteção do Governo Federal.

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porque eu não acreditei que ele estava dizendo aquilo! Ele estava falando sério!

CF— Sobre o filme Carmem Miranda: Bananas is My Business, em algumas entrevistas você afirma que fez uma biografia afetiva da cantora, e isso é perceptível na forma como você se propõe a conhecer a história dessa mulher, que se tornou a representação do Brasil e da América Latina durante a Política de Boa Vizinhança, e assim novamente problematiza gênero e raça. HS — Eu acho muito interessante pensar essa coisa de se traduzir para o estrangeiro, e também o que se perde nessa tradução, nesse esforço de se explicar para o outro. Foi um filme difícil, eu não tinha muita ideia formada sobre aquela personagem doida com aquelas bananas na cabeça, sobre aquela mulher, mas à medida que eu fui mergulhando na pesquisa sobre ela eu fui vendo uma tragédia, um drama pessoal. Eu achei que era mesmo a história de um ícone, que tinha tantas vertentes que me interessavam, que me levavam para história dela; tinha toda essa relação Brasil-Estados Unidos, a questão da mulher, do racismo, da língua, era um assunto muito rico. Também foi difícil essa ideia de narrar o filme! Eu quase desisti, porque é horrível você ouvir sua própria voz! É insuportável! Eu dizia: eu não posso, eu não vou fazer isso, é ridículo! E eu fiquei trabalhando naquilo até encontrar um tom que eu me sentia confortável e que eu acho que era sincero, transmitia o que eu queria, mas foi difícil! Foi um filme difícil!

CF— Esse longa possibilita, a partir das personagens que Carmem Miranda interpretava, discutir também esse imaginário sobre a mulher latina. HS — Sim! Tem uma entrevista com a [atriz porto-riquenha] Rita Moreno, na qual ela diz que depois de ganhar o Oscar no filme West Side Story [Amor, Sublime Amor, 1961], só era chamada para

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fazer papel de chiquita5 e que ela teve que recusar, se não ela ficaria rotulada com aquilo para sempre. É difícil, viu? É difícil ser mulher! É difícil ser latina!

—5 Chiquitas e Rositas eram personagens femininas de origem latino-americana, comumente caracterizadas de forma extravagante e estereotipada em comédias musicais; embora engraçadas, não eram passíveis de casamento.

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A IMPORTÂNCIA DO CINEMA DOCUMENTÁRIO1 GUZMÁN | MADRI, PARIS, 1997.

—Um país que não tem cinema documentário é como uma família sem álbum de fotografias O cinema documentário nasceu exatamente no ano de 1922 com a estreia do filme Nonook do Norte, de Robert Flaherty. Desde então, o chamado “segundo gênero” não fez outra coisa que crescer, percorrendo um caminho surpreendente, casual e variado. Os primeiros documentaristas foram grandes exploradores (Flaherty, Vertov, Grierson) que puseram em funcionamento penosas expedições aos pontos mais remotos da terra para filmar, pela primeira vez, acontecimentos ou culturas que ninguém conhecia. Assim trabalhou e viveu a primeira e a segunda onda formada por homens lendários como Medvedkin, Karmen, Ivens, Marker, Drew, Brault, Perrault, Rouch e Depardon. A televisão, a partir da década de 1960, ameaçou gravemente esses pioneiros, obrigando-os a repensar o trabalho, substituindo-os em partes por modernas equipes de reportagem que dobraram a capacidade de viajar. No entanto, depois dessa data, pouco a pouco os diretores de documentários descobriram que podiam fazer filmes sem praticamente sair do bairro. Apareceram incontáveis fitas de documentário sobre qualquer atividade humana: filmes sobre pintura, arquitetura, música, política, esportes, literatura, medicina, etc., demonstrando que o gênero documentário não era apenas útil para mostrar geografias ou conflitos distantes, mas também para observar, analisar e fotografar qualquer aspecto da sociedade.

—1 "A Importância do Cinema Documentário" em Filmar o que não se vê, Patricio Guzmán, São Paulo: Edições Sesc, 2017, p. 125-127.

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—Um cinema mais humano Assim começou a se consolidar o chamado ”documentário de autor”, que até hoje consiste em mostrar qualquer atividade humana, por mais simples que seja, mas sempre sob o ponto de vista pessoal do cineasta. São filmes com maiores recursos narrativos que os velhos documentários, em que nem sempre a técnica ou o dinheiro são o mais importante, mas sim a maneira de contar as histórias, expondo cada tema com maior sentido de relato e usando melhor a linguagem cinematográfica. A aparição desse novo tipo de documentário elevou a categoria de gênero, que abandonou o “realismo” e a retórica educativa dos primeiros tempos. A partir dos anos 1980 e 90, foram produzidas muitas horas desse cinema na Europa, embora a produção autoral de hoje tenha diminuído. A duração média desses filmes é de 52 a 100 minutos, e seu custo habitual é seis vezes menor que o do filme de ficção mais barato. As principais redes que apoiam esse cinema são: Arte, France-2, France-3, France-5, Canal Plus, Planète, Histoire, Voyage, Ushuaïa, Mezzo, Première, dentre outras (na França); ZDF e WDR (na Alemanha); Channel Four e BBC (na Inglaterra). Em alguns casos, trata-se de canais públicos que se adaptaram melhor à competição mercantil, sem abandonar a cultura. Anualmente, esses e outros países organizam importantes festivais e feiras de cinema documental em todos os cantos: Marselha, Lussas, Amsterdã, Nyon, Sheffield, Cork, Gotemburgo, Leipzig, Biarritz (Fipa), Paris (Cinéma du Réel), Florença (Dei Popoli), Bombaim, Seul, Yamagata, Sundence, São Francisco, Toronto (Hot Docs), Roma, Oscar de Hollywood etc. São muitos os que acolhem os documentaristas em suas Academias de Cinema.

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—A necessidade de produzir documentários No presente e no futuro, é fundamental apoiar e financiar os diretores independentes de documentários, por várias razões. Primeira: o surgimento dos canais de televisão temáticos está criando uma demanda cada vez maior por cinema não ficcional. É extremamente necessário, portanto, que no futuro cada país disponha desses profissionais e não se veja na obrigação de importar todo o material que consome. Cada cultura, além disso, possui uma maneira distinta de se expressar, e os filmes documentários contribuem para fortalecer essa voz diferenciada. Segunda: a população universitária da América Latina cresceu mais de quinze vezes desde 1970. Milhões de jovens puderam ter acesso à educação superior. Uma juventude com novos códigos de vestuário, sexualidade e cultura irrompeu há tempos no seio de nossas sociedades, sem que mudanças significativas (ou nenhuma) ocorressem na velha estrutura dos canais de televisão. Esses setores mais ilustrados, no futuro, aceitarão a programação convencional das cadeias de TV, ainda sem espaços culturais amplos, ou todos escolherão a internet? Terceira: se essas grandes redes não mudarem – o que é provável - continuarão surgindo cada vez mais canais de televisão pequenos, de cidades, povoados, bairros, que representam o futuro, com multidifusão ou programas à la carte, ou simplesmente canais alternativos, independentes. Trata-se de um contexto mais apropriado para o gênero documentário.

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Quarta: também surgiram os documentários que vêm das escolas de cinema, muitas delas profissionais, sob qualquer ponto de vista. A produção vai se expandir além das “produtoras”, porque muitos grupos ou pessoas podem comprar ou compartilhar uma câmera e ter em sua própria casa um programa de montagem digital. A “autoprodução” vai se impor a todos os lugares.

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PROGRAMAÇÃO


04 TER 20H

ABERTURA Cine Pireneus

CARMEN MIRANDA: BANANAS IS MY BUSINESS 92’ | Brasil | 1994 | 14 anos Direção: Helena Solberg DEBATE COM HELENA SOLBERG

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05 QUA 14H

RETROSPECTIVA HELENA SOLBERG Cine Pireneus A ENTREVISTA 20’ | Brasil | 1966 | 14 anos MEIO-DIA 11’ | Brasil | 1970 | 14 anos A NOVA MULHER 40’ | EUA | 1974 | 14 anos DEBATE COM HELENA SOLBERG

16H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE CURTAS-METRAGENS Cine Pireneus TOXITOUR 25’ | São Paulo, SP | 2017 l 12 anos Direção: Raoni Maddalena BORÁ 14’ | Rio de Janeiro, RJ | 2017 l Livre Direção: Angelo Defanti PRAÇA DO PEIXE 17’ | Belo Horizonte, MG | 2018 l Livre Direção: Bernard Machado, Florence Defawes, Marina Sandim e Ralph Antunes DEBATE COM OS REALIZADORES

PR O G R A M AÇÃO 0 5 q ua

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18H

MOSTRA COMPETITIVA REGIONAL Cine Pireneus O MALABARISTA 11’ | Goiânia, GO | 2018 l Livre Direção: Iuri Moreno A FILHA DO XINGU 15’ | Goiânia, GO | 2018 l Livre Direção: Rochane Torres KRIS BRONZE 23’ | Goiânia, GO | 2018 l 14 anos Direção: Larry Machado DIRITI DE BDÈ BURÈ 18’ | Goiás, GO | 2018 l Livre Direção: Silvana Beline DEBATE COM OS REALIZADORES

19H

LANÇAMENTO DO LIVRO “FEMININO E PLURAL: MULHERES NO CINEMA BRASILEIRO”ORGANIZADO POR KARLA HOLANDA E MARINA CAVALCANTE TEDESCO Entroncamento Cultural

20H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS-METRAGENS Cine Pireneus DIANTE DOS MEUS OLHOS 81’ | Vitória, ES | 2018 l 12 anos Direção: André Félix

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06 QUI 14H

RETROSPECTIVA HELENA SOLBERG Cine Pireneus A DUPLA JORNADA 54’ | Argentina/ México/ Bolívia/ Venezuela | 1975 | 16 anos SIMPLESMENTE JENNY 32’ | Bolívia | 1977 | 16 anos BRASIL EM CORES VIVAS 26’ | Brasil | 1997 | 14 anos

16H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE CURTAS-METRAGENS Cine Pireneus O GOLPE EM 50 CORTES OU A CORTE EM 50 GOLPES 9’ | Belo Horizonte, MG | 2017 l 10 anos Direção: Lucas Campolina C(ELAS) 18’ l Vitória, ES | 2017 l 16 anos Direção: Gabriela Santos Alves MINI MISS 15’ | Recife, PE | 2018 l Livre Direção: Rachel Daisy Clarke Ellis DEBATE COM OS REALIZADORES

PR O G R A M AÇÃO 0 6 q ui

201


18H

MOSTRA COMPETITIVA REGIONAL Cine Pireneus FEIRA LIVRE 11’ | Goiânia, GO | 2017 l Livre Direção: Fernão Carvalho Burgos O HAITI É AQUI 7’ | Goiânia, GO | 2017 l Livre Direção: Isabela Veiga MARCAS DA DITADURA NA VIDA DE UM ATOR 17’ | Goiânia, GO | 2017 l 12 anos Direção: Rosa Berardo TEKO HAXY – SER IMPERFEITA 39’ | Goiânia, GO | 2018 l Livre Direção: Patrícia Ferreria e Sophia Pinheiro DEBATE COM OS REALIZADORES

20H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS-METRAGENS Cine Pireneus A PARTE DO MUNDO QUE ME PERTENCE 84’ | Belo Horizonte, MG | 2017 l Livre Direção: Marcos Pimentel DEBATE COM O REALIZADOR

I V PI R E N Ó PO L I S D O C


07 SEX 14H

RETROSPECTIVA HELENA SOLBERG Cine Pireneus MEU CORPO, MINHA VIDA 73’ | Brasil | 2017 | 16 anos DEBATE COM HELENA SOLBERG

16H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE CURTAS-METRAGENS Cine Pireneus CORPOSTYLEDANCEMACHINE 7’ | Cachoeira, BA | 2017 l 12 anos Direção: Ulisses Arthur SR. RAPOSO 22’ | Goiânia, GO / Catalão, GO / Rio de Janeiro, RJ | 2018 l 18 anos Direção: Daniel Nolasco INCONFISSÕES 21’ | Rio de Janeiro, RJ | 2018 l 16 anos Direção: Ana Galízia DEBATE COM OS REALIZADORES

PR O G R AM AÇÃO 0 7 s e x

203


18H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS-METRAGENS Cine Pireneus ESPERA 76’ | Belo Horizonte, MG | 2018 l Livre Direção: Cao Guimarães DEBATE COM O REALIZADOR

20H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS-METRAGENS Cine Pireneus O CHALÉ É UMA ILHA BATIDA DE VENTO E CHUVA 94’ l Rio de Janeiro, RJ | Livre Direção: Letícia Simões DEBATE COM A REALIZADORA

I V PI R E N Ó PO L I S D O C


08 SAB 14H

CONEXÕES IBERO-AMÉRICA: CONSTELAÇÃO GUZMÁN Cine Pireneus MARIA TERESA E A ANÃ MARROM 12’ | Chile | 2010 l Livre JOSE MAZA, O VIAJANTE DO CÉU 13’ | Chile | 2010 l Livre MADRI 41’ | Chile | 2002 l Livre

16H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE CURTAS-METRAGENS Cine Pireneus TRAVESSIA 5 ’ | Rio de Janeiro, RJ | 2017 l Livre Direção: Safira Moreira À CURA DO RIO 18’ l | Belo Horizonte, MG | 2018 l Livre Direção: Marina Fagundes Azevedo TERREMOTO SANTO 19’ | Recife, PE | 2017 l Livre Direção: Bárbara Wagner e Benjamin de Burca DEBATE COM OS REALIZADORES

PR O G R A M AÇÃO 0 8 s ab

205


18H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS-METRAGENS Cine Pireneus DIÁRIOS DE CLASSE 72’ l | Salvador, BA | 2018 l Livre Direção: Maria Carolina e Igor Souza DEBATE COM A REALIZADORA

20H

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS-METRAGENS Cine Pireneus ELEGIA DE UM CRIME 92’ | São Paulo, SP | 2018 l 16 anos Direção: Cristiano Burlan DEBATE COM O REALIZADOR

I V PI R E N Ó PO L I S D O C


09 DOM 14H

CONEXÕES IBERO–AMÉRICA: CONSTELAÇÃO GUZMÁN (PRIMEIRA PARTE) Cine Pireneus ALFREDO PRIETO 12' | Chile | 2010 | Livre NOSTALGIA DA LUZ 90’ | Chile | 2010 | Livre

16H

SESSÃO ACESSÍVEL (com tradução em libras, audiodescrição e legenda descritiva) Cine Pireneus DIÁRIOS DE CLASSE 72’ | Salvador, BA | 2018 | Livre Direção: Maria Carolina e Igor Souza DEBATE COM A REALIZADORA

PR O G R AM AÇÃO 0 9 dom

207


18H

CONEXÕES IBERO–AMÉRICA: CONSTELAÇÃO GUZMÁN (SEGUNDA PARTE) Cine Pireneus ASTRÔNOMOS DO MEU BAIRRO 14’ | Chile | 2010 | Livre OSCAR SAA, O TÉCNICO DAS ESTRELAS 10’ | Chile | 2010 | Livre O BOTÃO DE PÉROLA 82’ | Chile | 2015 | Livre

20H

PREMIAÇÃO Cine Pireneus

I V PI R E N Ó PO L I S D O C


ATIVIDADES DE FORMAÇÃO 05 A 08

PROGRAMA PRIMEIRO CORTE

10H / 18H

Local: Salão Paroquial - Igreja Nossa Senhora Do Rosário Tutor: Marcelo Pedroso

08

CONSULTORIA DE MERCADO

10H / 12H

Local: Cine Pireneus Consultora: Renée Castelo Branco

07 A 09

CURSO DE CINEMA DOCUMENTÁRIO

10H / 13H

E EXPERIMENTAL Local: Centro Municipal de Artes e Música Ita e Alaor Tutor: Luís Henrique Leal

PR O G R A M AÇÃO A T I V IDADES DE FORMA ÇÃO

209



EQUIPE


Direção e Curadoria: Fabiana Assis Coordenação: Lidiana Reis Produção: Michely Ascari Kássio Pires Walker Meykom Captação e Tráfego de Filmes: Luís Fernando de Sousa Finalização DCP: Sierra Filmes Pós-Produção Produção – Atividades de Formação: Kacyana Rodrigues Produção – Receptivo: Vitória Melo Monitores: Paulo Sérgio Bárbara Santana Bruna Petrone Iara Cristina Guilherme Nélio Produção – Entroncamento Cultural: Natália Ribeiro Produção – Executiva: Micael Vieira Bispo

I V PI R Eequipe N Ó PO L I S D O C


— Curadoria Curadoria Mostra Competitiva Nacional: Fabiana Assis Rafael de Almeida Uliana Duarte Curadoria Mostra Competitiva Regional: Anderson Mello Curadoria Retrospectiva Helena Solberg: Ceiça Ferreira Curadoria Conexões Ibero-América, Constelação Guzmán: Rafael de Almeida

—Júri Júri Oficial: Rodrigo Cássio Renée Castelo Branco Tetê Mattos Júri Jovem: Yolanda Margarida (IFG) Éder dos Santos (UEG) Amanda Ramos (UEG)

— Mediação de Debates Mostras Competitivas: Georgia Cynara Rafael de Almeida Uliana Duarte Retrospectiva Helena Solberg: Ceiça Ferreira

—Sessão Acessível Intérprete de Libras: Kátia Marilene de Moraes Pina

equipe A T I V IDADES DE F ORMA ÇÃO

213


— Comunicação Assessoria de Comunicação e Imprensa: Camila Pessoa Identidade Visual e Design: Gabriel Godinho Stories e Mídias Sociais: Yuri Félix Fotografia: Pedro Henrique Making Of: Ítalo Lopes Vinheta: Rafael de Almeida Diagramação do Catálogo: Gustavo Gontijo Site: onest.work Projeção: Kinoland — Constelação Guzmán Tradução: Renata Martins Gornattes Legendagem: Érico José

I V PI R Eequipe N Ó PO L I S D O C


PARCEIROS


A P R E S E N TA Ç Ã O

PAT R O C Í N I O

APOIO

APOIO INSTITUCIONAL

COLABORAÇÃO

REALIZAÇÃO

I V PI R parceiros E N Ó PO L I S D O C

INCENTIVO




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