Jornalismo
Itajaí, maio de 2015
Profissão
C perigoso
Uma das tarefas mais importantes para a sociedade também é uma das mais arriscadas
Gabriel Elias da Silva
Banco de imagens
24 horas, seriam as denúncias de corrupção no partido. O jornalista ucraniano Oles Buzina foi assassinado no dia 16 de abril deste ano, na porta de casa. Oles era conhecido por suas visões “pró-russas”. No dia anterior à morte do jornalista, o político “prórusso”, Oleh Kalashnikov, foi encontrado morto. Ainda no mês de abril, o STF negou habeas corpus ao acusado de matar o jornalista Décio Sá, assassinado com cinco tiros no dia 23 de abril de 2012. Décio era repórter político do jornal O Estado do Maranhão, e mantinha um blog independente chamado Blog do Décio. A polícia diz que o jornalista foi morto por causa de uma publicação em seu blog sobre o assassinato do empresário Fábio Brasil, envolvido em trama de pistolagem com os integrantes de uma quadrilha. Décio deixou a esposa, que estava grávida. 2014 – ano violento para os jornalistas
V
encedor do Prêmio Esso de Jornalismo em 2010, o jornalista James Alberti, egresso da Univali, está sob ameaça de morte. Repórter investigativo, James agora é obrigado a se esconder para preservar sua vida. Formado pela Univali em 1996 e hoje trabalhando como produtor da RPC TV, afiliada da Rede Globo no Paraná, James estava em Londrina, investigando uma rede de corrupção e pedofilia na Receita Estadual. Após a veiculação da denúncia e a prisão de cerca de 20 envolvidos, ele foi ameaçado. Segundo o Sindicato dos Jornalistas, James foi perseguido, e um esquema para matá-lo por meio de um assalto simulado veio à tona. A RPC TV teve que providenciar a remoção do jornalista da cidade e do estado. Mas a emissora fez questão de continuar na cobertura do caso. Em abril, mais jornalistas paranaenses sofreram
ameaças: repórteres do jornal Gazeta do Povo estavam sendo forçados por policiais civis e militares a quebrar o sigilo de fonte e revelar como obtiveram informações para uma série de reportagens que denunciavam desvios de conduta de policiais. Em Goiás, o jornalista Cristiano Silva, do site Goiás 24 horas, foi ameaçado por Sílvio Eduardo, assessor da deputada estadual Adriana Accorsi, do PT. O jornalista recebeu ameaças do tipo: “Lá fora eu quero ver, eu te acho, eu te mato”. Uma das causas das ameaças, segundo o próprio site Goiás
Apesar desse cenário tenebroso, segundo o relatório anual da FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas, 2014 teve uma redução de casos de agressão em comparação com o ano de 2013. Assim mesmo, o jornalismo foi eleito a profissão mais perigosa no Brasil em 2014. O maior número de agressões ocorreu em manifestações populares: 65 jornalistas foram agredidos durante manifestações de rua, enquanto em 2013 o número era de 143 agressões. Em 2014, por ser ano de eleições no país, partidos e candidatos recorreram à Justiça para tentar impedir
a circulação de conteúdos, principalmente na internet. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), numa parceria com o Google, contabilizou cerca de 190 ações judiciais, a maioria delas contra o próprio Google, tratando de propaganda eleitoral e não da divulgação de informações jornalísticas. A região brasileira com mais registros de violência contra jornalistas em 2014 é o Sudeste, com 72 casos. Seguido do Nordeste, com 24 casos; Sul, com 16; Norte, com 10 e Centro-Oeste, com 7 casos. Ao todo, 76,74% dos atos de violência são contra jornalistas do sexo masculino, e 17,06% contra jornalistas do sexo feminino. Os tipos de mídia também são contabilizados: 32,56% dos casos de violência são contra jornais impressos; 24,03% contra a TV; 10,85% contra agências de notícias; 10,85% contra mídias digitais; 8,53% contra freelancers; 3,88% contra revistas e 2,33% contra rádios. Os agressores são, na maioria dos casos, policiais e guardas municipais. Torcedores esportivos são os menos violentos com jornalistas. O relatório completo, com detalhamento de cada caso, encontra-se disponível ao
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. George Orwell.
03
público no site fenaj.org.br. Novo ano, novas estatísticas No dia 15 de maio deste ano, o Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná e do Paraná, e a FENAJ organizaram uma manifestação no calçadão de Londrina. O ato marcou o lançamento da campanha “Basta de Perseguição à Jornalistas”. O presidente da FENAJ, Celso Schroder, disse na ocasião que “enquanto permanecer a impunidade e a falta de atitudes concretas por parte das autoridades para proteção ao trabalho dos jornalistas, continuaremos caminhando para um quadro alarmante de ameaça à democracia no país”. Uma pesquisa dos EUA aponta que “repórter de jornal” é a pior profissão de 2015. Se já não bastasse isso, com o avanço da internet e a diminuição de jornais impressos devido às publicações digitais, a profissão de repórter também está sob ameaça, considerando a diminuição do número de assinaturas de jornais. A perspectiva de contratação de repórteres até 2022 é de -13%. Contudo, o jornalismo, seja ele impresso ou digital, se renova a cada dia, dando espaço e oportunidade para todos os profissionais. Quem quer ir além, tem a capacidade de renovar o jornalismo e fazer da profissão mais que um ganha-pão, uma paixão. Por isso, a equipe do Jornal Cobaia e o corpo docente da Univali desejam força a James Alberti, e vida longa ao nosso bom e velho jornalismo, seja impresso, audiovisual ou digital!