VOR
Itajaí no mapa mundi Única parada da Volvo Ocean Race na América Latina, cidade bateu recorde de público Gabriel Elias
A
maior competição de vela do mundo passou por Itajaí, transformando a cidade no novo polo náutico do Brasil. Durante 15 dias, o município foi sede da Volvo Ocean Race, Itajaí Stopover, e abrigou seis veleiros de diferentes países. A Vila da Regata recebeu mais de 300 mil visitantes vindos de outras cidades e estados, que vieram acompanhar, de perto, um evento que já entrou pra memória da regata: além de ser a única cidade da América Latina a sediar a corrida, Itajaí foi a “melhor stopover da história da Volvo Ocean Race”, segundo os próprios organizadores do evento. A experiência do repórter
Corrida feita não apenas por atletas A Vila da Regata em Itajaí não foi feita apenas por veleiros e velejadores. Um grande número de pessoas trabalhou nesta edição do evento: pessoal da segurança, de limpeza, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, cozinheiros, toda a equipe das secretarias de Comunicação e de Turismo de Itajaí, e um grande número de voluntários, sem contar todo o time de organização da própria
Foto: Ainhoa Sanchez
Eu iniciei meu serviço voluntário na Volvo uma semana antes de a Vila ser aberta ao público. Ainda estou surpreso de como eles conseguiram montar uma estrutura tão grande em tão pouco tempo. A interação com todos aqueles jornalistas brasileiros e estrangeiros me motivou a ajudar em tudo o que era necessário. Aos poucos, fui ganhando a confiança dos “gringos” e, para apoiá-los, até reserva em restaurantes ou consultas em dentistas eu marquei. Em alguns dias, ao cair da noite, chegaram a ministrar aulas de samba na Stopover. Acabou, mas apenas para Itajaí. Os navegadores seguem para Newport, Estados Unidos, e ainda vão passar por Lisboa, em Portugal, e Lorient, na França, até chegarem a
Gothenburg, na Suécia. Um diferencial nesta edição é a parada de 24 horas que os veleiros farão em Hague, na Holanda: eles partem exatamente 24 horas depois de chegarem ao porto. A perna 5, de Auckland para Itajaí, é a mais comprida e difícil de todas as 9 pernas do circuito. O mastro da equipe chinesa Dongfeng quebrou quando eles passavam pela Argentina. O novo mastro chegou a Itajaí durante a madrugada do dia 13 de abril, e os navegadores puderam continuar a corrida a partir daqui. A equipe feminina SCA, única embarcação tripulada apenas por mulheres, também enfrentou algumas dificuldades: o barco das 12 velejadoras virou, ficando de lado. Elas conseguiram reverter a situação, mas um problema na quilha atrasou de novo o percurso. Para adiantar, elas passaram a navegar mais próximas da costa gaúcha, de modo a pegar mais vento. Outra dificuldade da equipe SCA é a falta de experiência das atletas: apenas duas já haviam participado da Regata.
Volvo. A francesa Agathe Armand foi uma das pessoas que eu tive o privilégio de conhecer durante o trabalho na Vila da Regata. Ela é a escritora do site da Volvo, e se reveza em visita aos países com Juno, outra escritora: “Eu vou para um país, para uma stopover, e Juno vai para outro”, conta. “Nós escrevemos as histórias que vão para o website, fazemos todo o conteúdo e as entrevistas para o site. Trabalhamos muito quando os botes estão chegando ou partindo. Todo dia é alguma coisa diferente”. Agathe trabalha para a corrida há quatro anos. Antes, não viajava tanto quanto viaja agora. Quando eu perguntei como era trabalhar em algo assim, os olhos dela brilharam: “Eu me sinto sortuda. Eu amo essa corrida, faço bons amigos, conheço lugares maravilhosos. Cada viagem é uma lição, um aprendizado diferente. Eu estive em Cape Town (África do Sul), Sanya (China) e agora em Itajaí e estou amando a cidade, as praias, os restaurantes, as festas. Eu amei o Brasil”, ela diz. Outra pessoa que faz o conteúdo do website da Volvo é o britânico Rhys Dyer. “Eu faço o conteúdo de vídeo que vai para o website, filmo os botes, os velejadores. Trabalhar aqui é bom, as pessoas aqui são uma equipe, somos amigos. Itajaí é uma ótima cidade”, afirma. Eu acredito que esse seja um emprego cobiçado por qualquer um: viajar o mundo fazendo o que você gosta, e sendo pago pra isso. Algumas pessoas não viajam o mundo com a Volvo, mas tiveram a oportunidade de trabalhar no evento em Itajaí. É o caso da egressa de Jornalismo, Raquel Cruz. Ela integra a equipe da Secretaria de Comunicação da Prefeitura local, e dentro da Itajaí Stopover, Raquel era gerente do Media Centre, onde eram acolhidos os jornalistas locais e de outros estados, ou estrangeiros. “Eu me mudei da prefeitura pra Vila da Regata algumas semanas antes de o evento começar, pra acompanhar todo o processo
de montagem do Media Centre, desde onde as mesas seriam postas, até como funcionaria o sistema de internet, que neste ambiente é bem importante”, conta Raquel. As primeiras equipes de jornalistas estrangeiros começaram a chegar ao Media Centre um dia antes da abertura oficial da Vila da Regata. Os locais não se instalaram ali, já que têm seus próprios escritórios na cidade. O Media Centre tinha capacidade para receber 60 jornalistas simultaneamente, além dos telões para acompanhar ao vivo as chegadas e as largadas dos barcos. Também havia barcos de imprensa, para que as equipes de jornalistas pudessem acompanhar de perto as corridas in-port e as chegadas ou saídas dos botes. “A gente teve um pico de trabalho nos primeiros dias, quando o fluxo de pessoas e informações era muito rápido, por conta da chegada de quatro barcos num intervalo de tempo de 55 minutos, e dois dias depois a chegada de um novo barco. Eu acho que é o nosso dever dar as boas-vindas a todo mundo, acolher da melhor forma possível e fazer com que o período em que eles estejam em Itajaí seja o mais produtivo possível. Eu acho que essa troca de experiência, entre jornalistas mais novos e jornalistas mais velhos, jornalistas que nunca vieram ao Brasil, jornalistas que já passaram por aqui outras vezes em outros eventos, essa troca é muito rica e é isso que torna a cobertura do evento ainda mais interessante”, avalia Raquel. Ela diz que a diferença entre trabalhar com brasileiros e estrangeiros é pouca, é mais questão de idiomas. A essência da pessoa, reforça, é independente da bandeira de qualquer país. “É a primeira vez que eu trabalho em um evento nessa função, estando na organização local. Eu tive outras experiências em que eu estava em outras posições, ou estava em veículos de comunicação, trabalhando do outro lado do balcão, ou então pela própria organização da regata, mas
não como comitê local. Mas é interessante porque tu acabas entendendo os vários lados. É uma bagagem que, nos próximos anos, eu ainda vou colher frutos desta experiência. Eu espero que vários outros eventos deste porte ou desta natureza apareçam pela frente”. Minions - Serviço Voluntário Outras pessoas que trabalharam no evento foram os voluntários. Os “Minions”, como se autointitularam por causa do uniforme amarelo, fizeram todo o diferencial no evento, trabalhando em diversas áreas da Vila da Regata, desde o balcão de informações, o Dome, o Planetário, o Media Centre, até a Cross Section e outros lugares, recebendo o público, passando informações e orientações. Um trabalho elogiado por toda a organização do evento. O serviço voluntário, coordenado pela equipe de Gestão de Eventos da Univali, foi considerado o mais organizado de todos. Tanto que a equipe ganhou um presente da Volvo: o sorteio de uma viagem a Portugal, para conhecer a Vila da Regata em Lisboa. O sortudo foi Douglas Werner Lima, de 23 anos, estudante de Administração. Douglas fez aniversário dia 22 de abril, e ganhou este presentão. Ele participou das duas edições da Volvo em Itajaí, e diz que foram experiências incríveis. “não somente por ser voluntário e ter ajudado na organização do evento, mas por estar em contato com outros idiomas, diferentes culturas e costumes. E representar não só a cidade, mas o estado, o pais, na Volvo de Lisboa, será grande”, ele diz. A Vila da Regata fechou. Restam as lembranças, as fotos, e as amizades feitas no decorrer desse período. Itajaí já se candidatou para sede da próxima corrida, dentro de três anos. As negociações começam em junho e se estendem até dezembro. Agora, é torcer pra repetir o feito.
A largada para a próxima etapa da corrida aconteceu dia 19 de abril
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Cobaia
Itajaí, abril de 2015
Benn, coordenador de voluntários da Volvo Ocean Race. O programa de voluntários é incrivelmente importante. Sem os voluntários, nós simplesmente não poderíamos fazer este evento. Alguns podem dizer que são os velejadores ou membros das equipes, mas, para mim, são os voluntários. Eles representam o país e são responsáveis por nos ajudar na comunicação com as pessoas que não falam inglês. Os voluntários daqui foram os mais engajados, mais entusiasmados, o melhor grupo com que eu estive. Foi um prazer trabalhar com os voluntários todos os dias. Eu estou animado em conhecer outro país, mas estou triste em ter que deixar o Brasil.
Alan, 25 anos, estudante de construção naval na Univali. É um evento novo de que eu estou participando, eu me mudei pra cá faz uns três meses. Eu vim também pra conhecer o evento, conhecer novas pessoas e ganhar novas experiências. Trabalhar aqui foi bem divertido. Não tive a oportunidade de conversar diretamente com os velejadores, mas eu trabalhei no estaleiro, no Dome, no planetário, no Marejópolis. As pessoas pediam informações, a gente explicava, caso a gente não soubesse a gente corria atrás da informação.
Ana Claudia, coordenadora assistente. O trabalho dos voluntários foi muito bom. A gente já havia tido experiência com os voluntários na outra edição do evento, e realmente é muito positivo, porque a gente vê que quem vem retorna, e retorna com vontade, querendo trabalhar sempre, querendo fazer mais turnos do que estava escalado. Então o pessoal se envolve e isso deixa a gente muito contente.
Amanda, 20 anos, estuda fisioterapia na Univali. Foi minha primeira vez como voluntária neste evento. Eu gostei muito. A gente fez muitas amizades. Eu sou Terapeuta da Alegria, então eu fui convidada pela Helena, organizadora do evento, para estar acompanhando a equipe Alvimedica no hospital pequeno anjo, como a mascote, Wisdom. Foi uma experiência muito bacana também, tanto para o lado pessoal quanto profissional. Se tiver de novo eu estarei aqui, com certeza.
Humberto, 18 anos, descobriu o trabalho voluntário através do site da Univali. A minha experiência na Volvo foi muito boa, eu trabalhei em vários setores, mas, a melhor experiência foi na Cross Section, onde aprendi muito sobre barcos. Foi uma experiência muito boa. Estou muito grato. Eu vou me lembrar e me emocionar muito por isso.
João, 29 anos, descobriu o voluntariado através da televisão. Eu curti demais. Eu fui mascote da festa. Os adultos trataram o mascote (um albatroz) muito bem, e as crianças adoraram. Foi muito legal. Muito importante.
Eduardo, 33 anos, estudante de Fotografia na Univali. É a segunda vez que eu trabalho como voluntário na Regata. Mais uma vez foi muito bom. Tive bastante experiência, fiz bastante contato, bastante amizade. É uma experiência boa. É legal fazer parte deste evento que traz bastante coisa boa pra cidade.
Foto: Eduardo da Rocha
A população de Itajaí e turistas marcaram presença no último dia
Itajaí, abril de 2015
Igor Coimbra, coordenador de voluntários. O trabalho de voluntários foi muito bom, foi elogiado de todas as partes, tanto da Volvo quanto da Univali. E a gente está bem contente com o envolvimento e com o trabalho de cada um dos voluntários, que, realmente, fez toda a diferença.
Foto: Buda Mendes
Aline, 25 anos, descobriu o voluntariado através do facebook da prefeitura. Eu queria ter participado na outra edição, mas não consegui. Então, eu aguardei pra que, quando abrisse a vaga, eu pudesse me inscrever. Participar do evento foi muito legal, porque eu pude fazer coisas que eu nunca tinha feito. Pude conhecer o pessoal das equipes, o pessoal da organização. Foi muito bom poder ir nos barcos, poder conhecer. É diferente de você como público, porque você tem acesso a uma informação, e aqui, ajudando, trabalhando, você tem outra informação. Foi melhor do que eu esperava.
Luana, 17 anos, estudante de Publicidade e Propaganda na Univali. Eu adorei, foi uma experiência ótima. Eu não sou daqui, sou de Salvador, e conheci muitas pessoas, treinei um pouco do inglês também, foi bem divertido. Tem pessoas que vêm aqui, que você vê que agradecem mesmo. No primeiro dia, logo de início, a primeira pessoa que a gente atendeu foi muito carinhosa, abraçou e beijou a gente. Então, isso é legal, é recompensador.
Cobaia
Os voluntários deram um show, inclusive ajudando as crianças
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