Revista Primeira Mão 152, novembro 2018

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novembro 2018 - ano XXIX

nยบ 152

e-Sports

cada vez mais

esporte


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CULTURA E ESPORTE SÃO TEMA DESTA EDIÇÃO Uma das recentes decisões do próximo governo de reduzir o número de ministérios do seu governo, acendeu no país críticas às suas medidas antes mesmo da posse, no dia 1º de janeiro de 2019. Os ministérios da Cultura e do Esporte, que possuem grande importância para a promoção social por meio de políticas públicas devem ser aglutinados pela pasta da Educação. Apesar de as áreas fundidas se auxiliarem, cada uma responde por demandas sociais que merecem uma atenção específica, por meio da destinação de recursos e desenvolvimento de ações singulares. Caso contrário, há risco de negligência e precarização do que é ofertado. Ao reconhecer a importância da Cultura e do Esporte, a edição 152 da Revista Primeira Mão aborda as transformações e os desafios desses segmentos. Na cultura, os destaques são para a valorização da memória por meio da dança e pela volta do vinil, pelo

reconhecimento da cultura capixaba através de seu sotaque particular, pelas produções audiovisuais e difusão de celebridades do estado em diversos setores artísticos. Temas como o sagrado feminino, educação por meio de cinema de animação e o trabalho dos produtores culturais também ganham espaço na revista. No esporte, os jogos digitais, que conquistam cada vez mais destaque no mercado e encabeçam a matéria principal desta publicação, trazem à tona uma discussão sobre a natireza dos e-sports. Além disso, os estádios capixabas se tornam ponto de preocupação devido à falta de investimentos na manutenção da infraestrutura, o que tem acarretado a demolição de grandes palcos históricos do Espírito Santo. O futebol feminino e a tradicional “pelada” relatam não só a importância da prática esportiva mas também como ambos segmentos do futebol têm crescido no estado. Desejamos uma boa leitura!

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Revista laboratório produzida pelos alunos do 6º período do curso Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Equipe Alice Soares, Ana Carolina Favalessa, Ana Luiza Dias, Andressa Ventura, Artur Meireles, Beatriz de Paula, Bernardo Barbosa, Carmen Oliveira, Daniel Pasti, Daniel Santiago, Israel Magioni, Iury Demuner, Lucas Santos, Nicolas Rodrigues, Marcus Freire, Mariana Cristina, Matheus Galvão, Paula Romanha, Reinaldo Fonseca, Sthefany Duhz, Vinícius Viana, Vinícius Nery e Yvena Plotegher.

Editores Lucas Santos & Yvena Plotegher

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Diagramadores

Freepik

LIÇÕES ANIMADAS Filmes infantis tem se tornado cada vez mais comum no cotidiano

Marcus Freire & Vinícius Viana

Ilustrações:

NÓS TEMOS 06 YES, CINEMA

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Professora orientadora

CELEBRIDADES Novos nomes da cultura e do esporte ganham projeção

Ruth Reis Redes sociais

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ARTIGO

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PRODUTORAS CULTURAIS

@revistaprimeiramao

twitter.com/ revista1mao

Os desafios e dificuldades de quem promove cultura

issuu.com/ jornal1mao

medium.com/ @primeiramao

facebook.com/ primeiramao/

Bola em campo, diversidade no banco

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O VINIL TÁ DE VOLTA Demanda por LPs tem crescido ao redor do mundo


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ESPORTES ELETRONICOS MC CAMPEÃO Cesar MC detaca a importância do rap produzido no ES

MARCAS DA CULTURA Raízes da formação do ES são celebradas em festas e costumes

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O SOTAQUE CAPIXABA Particularidades inscritas na fala cotidiana revela nossas raizes e influências

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DEIXA O BRASIL DANÇAR Grupo de dança Andora resgata cultura nacional para o Brasil e o mundo

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ESTÁDIOS EM EXTINÇÃO FUTEBOL DESCONTRAÍDO A pelada sobrevive nos pés e no coração de quem curte o esporte mais popular do planeta

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PARQUES URBANOS As opções de lazer para relaxar e se distanciar da agitação da cidade

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CRÔNICA

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Saudades de um amigo

No limite

AS BRUXAS VOLTARAM Filosofia naturalista resgata ancestralidade dos ciclos da mulher 5


yes,NÓS TEMOS CINE texto ALICE SOARES E CARMEN OLIVEIRA imagens SERGIO CARDOSO

O cinema capixaba existe e cresce cada vez mais. São inúmeras produções audiovisuais, com durações, temas e gêneros variados, num cenário que existe desde 1920, iniciado pelo relojoeiro, Ludovico Percise, em Castelo, que utilizou uma câmera feita a mão para documentar a história da região e produzir filmes de ficção. Entre os principais gêneros do estado estão o Documentário e o Cinema de Bordas, realizado por produtores autodidatas em cidades do interior, com material técnico e produção limitados, retratam a realidade das comunidades, área em que se destaca o produtor Seu Manoelzinho. Além disso, destaca-se o cinema de terror, que tem como principal representante o cineasta Rodrigo Aragão, escritor e diretor do longa-metragem Mangue Negro (2008). Em 2018, o Festival de Cinema de Vitória atraiu cerca de 400 mil pessoas, que puderam assistir quase 2 mil curtas e mais de 150 longas-metragens em cinco dias de evento. Na noite do dia 3 setembro, abertura da 7º Mostra Foco Capixaba, a sala de

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cinema do Sesc Glória, no centro de Vitória, ficou lotada para a exibição exclusiva de filmes produzidos no estado. Apesar da grande receptividade do público, os principais consumidores já estão, muitas vezes, inseridos no meio audiovisual capixaba. “O que precisamos fazer é aumentar o número de janelas de exibição, para que as pessoas tenham mais oportunidades de conhecer o cinema lindo que é produzido no ES”, aponta Larissa Debone, organizadora do festival. A produtora, diretora e professora do Departamento de Comunicação Social da Ufes, Gabriela Santos Alves, explica que há uma necessidade de investir na formação do público, incentivando o consumo de produções audiovisuais espiritossantenses. Além disso, ela fala sobre as dificuldades na hora da produção: “é “difícil porque a gente conta só com as iniciativas públicas, as privadas

não percebem o audiovisual como uma cadeia importante para investir”. Mas o problema não é só no Espírito Santo, o cenário brasileiro, como um todo, não tem grande participação do público. Segundo dados da Ancine, de 1 de janeiro a 31 de agosto de 2018, a bilheteria de filmes brasileiros foi equivalente a apenas 17,3% do total de ingressos vendidos em todos os cinemas do país. Em terras capixabas, o resultado não é muito diferente, a porcentagem de participação dos espectadores do estado em exibições de filmes brasileiros é de 18,9%. “Infelizmente, há uma cultura de achar que filme brasileiro não é bom, o que não é verdade, isso está ligado a uma cultura do circuito de exibição, que precisa ser mudada”, aponta Gabriela. Onde encontrar O Festival de Cinema de Vitória é realizado há 25 anos, acontece anualmente


Dicas de filmes capixabas

EMA!

Longas: Entreturnos (2014) - Edson Ferreira As horas vulgares (2013) Vitor Graize e Rodrigo de Oliveira Os incontestáveis (2017) - Alexandre Serafini Curtas: Perto da minha casa (2013) - Diego Locatelli e Carolini Covre Uma volta na lama (2010) - Úrsula Dart Vitória F.C. (2014) Vitor Graize e Igor Pontini (Sugestões de Daniela Zanetti, professora do curso de Cinema, Ufes)

e reúne curtas e longas de idealizadores capixabas. Para quem quer assistir produções capixabas sem sair do sofá, a dica é o Programa Curta Vídeo, da TV Educativa que exibe, toda terça-feira, às 22h30, peças audiovisuais de realizadores capixabas. As mostras de cinema e o movimento cineclubista também agitam esse cenário. O Cine Metrópolis, na Ufes, o Cine Jardins, em Jardim da Penha e o Sesc Glória, no Centro de Vitória são exemplos de lugares que recebem esse tipo de evento. Neste ano, a Mostra de Cinema Teresa de Benguela movimentou o Cine Metrópolis do dia 13 ao dia 15 de agosto, com filmes produzidos, dirigidos e roteirizados por mulheres negras. Outra referência é o Cineclube Colorado, espaço itinerante destinado à exibição de filmes, valorização da cultura cinematográfica local e socialização de ideias.

O que falta para o cinema capixaba decolar? Gabriela Santos Alves, produtora, diretora e professora do Departamento de Comunicação Social da Ufes.“Investimento. Cinema custa caro e equipamento faz a diferença, ainda que se tenha a possibilidade de usar o celular ou câmeras mais baratas. Pensando num todo é muito importante que hajam investimentos para viabilizar a produção” Victória Brasil, estudante de Cinema e Audiovisual da Ufes. “Falta esse movimento conjunto de pessoas, se ajudando para construir um nome para o estado para fazer todo mundo ver que sim, tem gente querendo fazer filme aqui e tem algo acontecendo.” Murilo Maifredi, designer formado na Ufes, já produziu e exibiu dois curtas. “De alguma forma o mercado de cinema aqui no estado acaba ficando muito fechado, por não estar totalmente inserido no meio não tive acesso a muitos recursos que poderiam facilitar.”

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Lições animadas Um jeito lúdico de aprender desde cedo a complexidade social

texto BEATRIZ DE PAULA E LUCAS SANTOS

O

s personagens encantados que dão vida às animações certamente conquistam crianças há muito tempo. Mesmo depois de crescidos, a paixão pelas animações continua forte, afinal, quem nunca se imaginou como uma princesa da Disney? Ou em uma história de aventura com dragões, elfos e unicórnios? Ou até mesmo tendo seu próprio Pokémon ou Digimon de estimação? Pois é, as animações conquistam um público variado há mais de 80 anos e tiveram sua produção intensificada após o Oscar, incluir, em 2001, Melhor Filme de Animação em sua lista de categorias de premiação. Em toda a sua trajetória, a norte-americana Pixar Animation garantiu a maioria dos prêmios com grandes clássicos do cinema como Procurando Nemo, Os Incríveis, Divertidamente, o mais recente, Viva - A Vida é uma Festa, dentre outros. Por muitos anos as animações abordaram, principalmente, princesas frágeis à espera de um 8

príncipe encantado para resgatá-las e viverem um amor de conto de fadas, como os clássicos Branca de Neve, Rapunzel, A Pequena Sereia e as histórias da Barbie, por exemplo. Contudo, na última década, as produções tomaram um rumo diferente, abordando de forma lúdica temas como empoderamento feminino, racismo, relacionamentos homoafetivos entre outros que são considerados tabus até mesmo para os adultos. É o que explica o pesquisador e mestrando em Comunicação e Territorialidades na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Arthur Gomes. “Identidade, morte, violência, raça, gênero são temas aparentemente difíceis de abordar com o público infantil. Sendo assim, ter desenhos com essas temáticas facilita o começo de um diálogo, conversar com elas a partir de um ponto de referência que faz parte do seu dia a dia”, afirma. Atualmente, o pesquisador leciona a disciplina optativa “História e Estética

do Desenho Animado” no curso de Cinema e Audiovisual da Ufes. Ele comenta ainda que o desenho animado nunca foi apolítico. “As animações sempre se encontram em um contexto e é nítido. Podemos encontrar desenhos do Pato Donald e Pernalonga sendo usados como propaganda política nos Estados Unidos nos anos 1940, ou sátiras de políticos norte-americanos nos desenhos para TV dos anos 1950. Mas, as temáticas abordadas estão cada vez mais diversas, principalmente quando se fala em políticas de inclusão de minorias”, conclui. A infância é uma fase crucial para todos, afinal é quando ocorre a maior parte da compreensão de mundo e se definem as características determinantes da personalidade. Fabiana Plotegher, mãe de três filhos, se preocupa com a influência que os peque-


nos sofrem pelo bombardeio de informação. “Tem coisas que são saudáveis, é interessante que eles tenham acesso. Mas o apelo ao consumo é muito grande, o que acaba sendo negativo. Como eles assistem a muitos filmes, pedem muitas coisas de super-heróis, por exemplo. Querem ir ao shopping só para comprar esses produtos e nunca estão satisfeitos”, diz O coordenador do curso de Psicologia da Doctum, Eduardo Miranda, salienta que o comportamento infantil não é construído apenas por meio das animações. “Se um determinado filme tem um conteúdo violento, a reprodução dessa violência não se dará de forma direta pela mera imitação. Ele pode até tentar começar, mas só vai dar continuidade a esse tipo de conduta se o contexto fa-

miliar em que está inserido for favorável”, explica. Miranda não descarta a possibilidade de os enredos transmitirem valores positivos às crianças. “O mais interessante é que sejam valores que contemplam a vida em sociedade e o respeito às pessoas, o respeito às diferenças, o cuidado com o meio ambiente. Então, se esses valores estiveram lá colocados, é mais interessante pra todo mundo, crianças e adultos” É isso o que ocorre com o filme “Viva - A Vida é Uma Festa”, que atraiu público de todas as faixas etárias no início do ano abordando temas complexos. Seja na forma como os adultos compreendem a morte, ou até mesmo como as crianças entendem o amor por suas famílias, Viva se tornou grande referência no audiovisual por retratar temas como a celebração do dia dos mortos, o que para os ocidentais soa bem diferente e desperta uma grande curiosidade. O filme conquistou o Oscar de melhor animação este ano e também quebrou recordes mundiais em bilheteria.

OSCAR NA CATEGORIA “ITI MALIA” O que pensam as crianças sobre as animações “Eu queria ser o Homem-Aranha porque ele luta pela justiça”. (Miguel, 10 anos) “Os desenhos me ensinam a conviver bem com as pessoas e que os meus amigos podem ser de qualquer jeito. Se eles forem feios ou bonitos, eles são os meus amigos”. (Anna Júlia, 9 anos) “Com o Bob Esponja eu aprendi a fazer hamburguer e que os amigos são importantes. Eu gostaria de ser a Barbie, porque ela tem muitas roupas bonitas e uma casa dos sonhos”. (Ana Luiza, 8 anos) “Eu não queria ser nenhum personagem. Eu prefiro ser eu.” (Kenzo, 8 anos) “Eu só sei que Dragon Ball é top.” (Nicolas, 9 anos)

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Investimentos texto e imagens MATHEUS GALVÃO

CULTURA /

Estamos no caminho certo?

Os editais de cultura ganham espaço como incentivadores de produção cultural, ao buscar democratizar o acesso ao financiamento de produtos culturais locais, levando-os ao conhecimento da população. No entanto, ainda há questionamentos sobre os resultados provenientes desta política. As discussões giram em torno da dificuldade que há, principalmente, ao requerer as leis de incentivo à cultura, visto que uma proposta para um projeto cultural precisa ser feita em um documento formal, muitas vezes de difícil entendimento, e burocrático. Com isso, a parte da população que desconhece essa metodologia acaba ficando de fora desse incentivo.

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A artista plástica e professora universitária Rosana Paste acredita que os editais institucionalizam produções que deveriam ser espontâneas. “O que falta aos gestores do estado é entender o que é cultura para o indivíduo e como ele atua socialmente. É parar de ter os mesmos eventos o tempo todo, ouvir o que as pessoas têm para falar e discernir o que é ‘evento’ e o que é cultura”, afirmou ela. Os que defendem os editais também não os isentam de críticas. “Acho interessante essa maneira de construir os eventos, porque abre o acesso para a sociedade. Só acho que deveria ser mais simples. No início era bem complicado de eu conseguir uma aprovação porque eu não sabia como montar o documento”, contou a artista Mirelle Barcelos. No Espírito Santo, o Viradão, atividade que comemorou os 467 anos de Vitória, com mais de 88 atrações, foi realizado por meio de editais de cultura que deram acesso aos mais

diversos grupos culturais a participarem da festa. O Secretário Municipal de Cultura e um dos organizadores do evento, Francisco Grijó, afirma que o Viradão é importante para o desenvolvimento da cidade e defende a organização de mais eventos por meio dos editais. “Queremos passar cultura e receber informações da comunidade. Em resumo, é uma grande festa da cidade para a cidade. E essa política garante essa possibilidade”, argumentou. O Viradão lotou as ruas e praças do Centro. A Prefeitura de Vitória estimou em 40 mil o público participantes. A ocasião foi considerada por muitos cidadãos como um evento de entretenimento e não cultural. “Eu senti falta da produção espontânea que a cultura pode nos oferecer. Apesar de tudo muito lindo e importante, parece que o Espírito Santo ainda tem muito para mostrar da sua cultura”, avaliou o estudante Ramon Cezanna, que compareceu à festa.


/ ESPORTE

texto IURY DEMUNER

Uma nova chance Mais de R$ 392 milhões foram investidos nos últimos oito anos pelo governo do estado. Essess investimento, no entanto, não têm obtido uma regularidade, o que afeta programas importantes. A falta

Investimentos alavancados pela reforma e ampliação do estádio Kleber Andrade

de incentivo atinge modalidades que, ainda assim, conseguem ser lembradas por destaques individuais, a exemplo do beach soccer capixaba que já foi uma referência nacional e hoje passa por dificuldades.

R$ milhões

Investimentos no esporte por ano em milhões

Gastos totais do Governo do Estado entre 2011 e 2018 R$ 50, 1 bilhões Renato Casagrande - 2011-2014

0,63%

R$ 50, 6 bilhões Paulo Hartung - 2015-2018

0,14%

Foram destinados à Secretaria de Esporte

Tempos difíceis O desinteresse dos governantes pelo beach soccer percorre todos os oito anos de nosso levantamento. Em 2011, apenas 0,69% do total de investimento foi em prol da modalidade, já em 2018 o número corresponde 0,65%. “Nós passamos por dificuldades de gestão das federações e engessamento dos editais que dificultam a realização dos campeonatos gerando um afastamento dos capixabas, uma vez que são oferecidos poucos campeonatos”, avaliou Bruno Malias, ex-jogador e dirigente do Rio Branco Beach Soccer. 11


MAIS UM ESTÁDIO RISCADO DO MAPA texto DANIEL PASTI

Estádio Governdor Bley

A recente demolição do Joaquim Calmon destrói mais uma parte da história do futebol capixaba Linhares perdeu um de seus maiores personagens no mês de setembro: o estádio Joaquim Calmon. Palco de importantes conquistas de times da cidade, foi demolido e dará lugar a um hipermercado. Na arena, atuou o Linhares Futebol Clube, que se profissionalizou em 2001 e conquistou o Capixabão de 2007, único título profissional do estádio. A equipe hoje disputa a segunda divisão Capixaba. Apesar de mandar seus jogos principalmente no Guilhermão, o Linhares Esporte Clube, que surgiu de uma fusão do América com o Industrial, também atuou no Joaquim Calmon até o encerramento das suas atividades em 2001. A equipe teve quatro títulos do Capixabão e a melhor campanha de um time do estado em competições na12

cionais; um terceiro lugar na Copa do Brasil de 1993. Isso não é novidade no futebol capixaba. O descaso com o esporte no estado vem produzindo algumas sequelas há anos, e o maior exemplo disso é o fato de nenhum time espírito-santense figurar na Série C há 10 anos. Em 2008, Serra e Linhares protagonizaram a última participação de uma equipe Capixaba na terceira divisão brasileira. Na Série A, a situação é ainda mais preocupante; a última participação foi da Desportiva, em 1993. Já na B, o Serra foi o último representante, em 2001. Para o repórter do Globo Esporte José Renato Siqueira Campos, o descaso de alguns dos mandatários do futebol é um fator que atrapalha no desenvolvimento dos times. “Isso pas-

sa pelas péssimas gestões às quais os clubes são submetidos e um baixíssimo investimento nas categorias de base”, diz. Sobre os estádios, o jornalista cita a falta de infraestrutura como fator impactante no insucesso do futebol Capixaba. “Muitos torcedores não vão acompanhar os jogos nos estádios. A maioria não tem refletores, fazendo com que muitas partidas sejam disputadas à tarde, em horário comercial, distanciando o público. Além disso, banheiros e bares de baixa qualidade desanimam os torcedores”, afirma. Os estádios Capixabas são um bom reflexo da situação do nosso futebol e, nesta edição, separamos alguns exemplos de arenas que já passaram por situações delicadas.


GOVERNADOR BLEY O Estádio Governador João Punaro Bley foi o primeiro construído em solo espírito-santense, inaugurado em maio de 1936. Localizado em Jucutuquara, foi a primeira casa do Rio Branco e, à época, era o terceiro maior estádio do Brasil, atrás apenas do São Januário, do Vasco, e das Laranjeiras, do Fluminense, ambos no Rio de Janeiro. O nome é uma homenagem ao governador que cedeu o terreno ao Rio Branco. A equipe viveu brigas judiciais com o governo por estar afundado em dívidas. Em 1972, o presidente, Kléber Andrade, vendeu o estádio para o Governo Federal, que o transformou em parte do campus do IFES. O Rio Branco mandou jogos no “Bley” até 1974. O campo hoje não permite que sejam disputadas partidas profissionais de futebol. GUILHERMÃO O Guilherme Augusto de Carvalho pertencia à família Carvalho, recebendo este nome em referência ao ex-presidente do Industrial, dono do estádio, extinto time de Linhares. Foi construído em 1951, pouco antes do dono da casa se profissionalizar, em 1954. O Guilhermão não sediou nenhum título com o primeiro mandante, mas viveu anos de glória com o Linhares Esporte Clube, equipe que surgiu a partir da fusão do Industrial com o América em 1991, e atingiu a melhor campanha de uma equipe capixaba em competições em nível nacional, um surpreendente terceiro lugar na Copa do Brasil de 1993, além de ter sido tetracampeão capixaba na década de 1990. O Guilhermão foi demolido em 2002 devido às dívidas trabalhistas acumuladas pela família Carvalho, dando lugar a um hipermercado. JOAQUIM CALMON O “Estádio do América” foi erguido pela família Calmon em 1953, recebendo o nome do ex-presidente do América e prefeito de Linhares, Joaquim Calmon, um dos maiores incentivadores da construção do estádio, juntando dinheiro e comprando o terreno para a obra. O estádio se tornou a principal arena esportiva da cidade em 2002, após a demolição do Guilhermão, e teve um título em seu gramado: o campeonato Capixaba de 2007, conquistado pelo Linhares Futebol Clube. A demolição, iniciada no começo de setembro, foi lamentada por jogadores, imprensa e torcedores, principalmente pelo fato de a cidade, agora, não ter um estádio apto para receber partidas de futebol profissional. KLEBER ANDRADE O famoso “Klebão” era a casa do Rio Branco Atlético Clube, de Jucutuquara, que, em 1972, acertou a compra de um terreno em Cariacica para a construção do seu novo estádio. O nome é uma homenagem ao ex-presidente do Brancão, Kléber José de Andrade, um dos maiores entusiastas do projeto. Foi inaugurado em 1983 e seu maior público foi de 32.328 pagantes no jogo entre Rio Branco e Vasco da Gama pelo Brasileirão de 1986. Porém, extraoficialmente, foram mais de 50 mil pessoas, contando os que assistiam ao jogo sentados nas colinas que cercavam o estádio. Em 2004, foi comprado pelo governo do Estado, e passou por uma longa reforma para modernização. A obra, porém, ainda não foi concluída, apesar de o estádio estar liberado para partidas, por isso tanto os torcedores quanto a imprensa e os jogadores reclamam de alguns setores do estádio. 13


texto ANDRESSA VENTURA Roberto Carlos e Rubem Braga por muitos anos levaram o nome do Espírito Santo por todo o Brasil. Atualmente, diversas novas celebridades capixabas estão surgindo e conquistando espaços na cena cultural nacional. O estado, que já é popular por abranger uma vasta riqueza cultural, ganha ainda mais representatividade através de produções artísticas que percorrem o país. Do rap ao forró, artistas de vários estilos orgulham o capixaba.

Solveris

No ano de 2017, o que havia iniciado como uma simples parceria, consolidou-se como Solveris. O grupo de rap, formado no município de Vila Velha, é composto por Magro, Morena, Leozi e Duk. As produções do quarteto levam a identidade do rap capixaba a percorrer todo o país. Neste ano, eles conquistaram 500 mil visuali14

Divulgação

celebridades

NEM SÓ DE ROBERTO CARLOS E RUBEM BRAGA VIVE O ES

Silva

Capixabas como Silva (acima) estão conquistando o cenário nacional zações no Youtube com o clipe CherryBlossom, uma parceria com Dj Caique. Segundo os integrantes, o principal objetivo do grupo era produzir um conteúdo que atraísse os capixabas a consumirem o rap da cena local, ao invés de ir em busca de sons vindos de outros estados. Toda a repercussão de Solveris mostra que isso tem dado certo, já que, atualmente, o grupo é o mais influente do rap capixaba.

Anderson Freire

Conhecido como “hitmaker” no mundo gospel, Anderson Freire nasceu em Cachoeiro do Itapemirim. Foi no interior do ES que o grande nome da música gospel iniciou sua carreira. Num grupo vocal formado por ele e os irmãos, seguiu no anonimato até que seu talento para compor foi descoberto por uma grande gravadora. Atualmente, o cachoeirense é compositor de uma série de canções de grande sucesso no cenário cristão. Alemão do Forró Nascido na cidade de Ele foi quatro vezes indiLinhares, o cantor coloca cado ao Grammy Latino muita gente para “arrastar (2013, 2014, 2015 e 2016) e a chinela” pelo Brasil afora. venceu em 2016. Aos 31 anos, o linharense Silva já ganhou o título de “Rei Lúcio Silva de Souza se do Forró” e sua fama não tornou recentemente o para de crescer. Seu suces- mais popular ídolo capixaso, que começou ainda no ba. O cantor, que nasceu município de Linhares, se na capital, ganha cada vez expandiu por todo o Espí- mais a cena nacional com rito Santo e hoje atravessa suas canções. Ele já atinfronteiras, chegando a paí- giu a marca de 20 milhões ses como os Estados Uni- de visualizações no videodos, onde Alemão do Forró clipe da música “Fica Tudo em breve fará uma turnê. Bem”, em parceria com a cantora Anitta.


Artigo

Bola em campo,

diversidade no banco

texto DANIEL SANTIAGO Existem aqueles que não são realmente representados ou mesmo incluídos pela cultura futebolística do nosso país e é importante que seja visto esse outro lado da moeda. O campo é visto como um lugar para macho, e quem participa, jogando ou assistindo, assim tenta se mostrar. Se você não faz parte da parcela da população que leva a mão à genitália com frequência sem motivo aparente e sem nenhum pudor, não é bem-vindo. A cultura da “paixão nacional” continua perpetuando estereótipos de gênero. Não discordará a menina que já deixou de entrar numa pelada por ser “coisa de menino” ou que já foi tachada de sapatão por bater uma bolinha. Muitos torcedores ainda ofendem os adversários apelando para sua sexualidade, como se fugir do padrão heteronormativo imposto pelo esporte diminuísse o indivíduo. Não é de se espantar que qualquer homem que foge ao estereótipo de machão não

se sinta à vontade onde os torcedores dos times adversários são chamados de bambi. Não é também de se estranhar que o número de jogadores profissionais assumidamente gays seja ínfimo. O “país do futebol” foi o sexto no ranking dos que mais pagaram multas à Fifa por conta de gritos homofóbicos nos estádios nas eliminatórias da Copa de 2018, segundo divulgou a Folha de São Paulo. Há quem diga que as músicas carregadas de preconceito que ecoam nas arquibancadas não passam de brincadeiras, mas “brincadeiras” acabam naturalizando atitudes discriminatórias. Para os torcedores que jogam bananas em campo em atitudes claramente racistas, tudo provavelmente não passa de brincadeira. Trocando em miúdos, enquanto chamar alguém de “viadinho” for um comportamento aceito e normalizado nos campos e quadras do país, o futebol não será sinônimo de inclusão e, muito menos, de respeito à diversidade.

E o que dizer das mulheres que têm sua opinião e sua inteligência menosprezadas quando a pauta é futebol? Se você é uma torcedora, algum homem provavelmente já lhe perguntou se você sabe o que é um impedimento. E muitas das que já passaram por isso são profissionais do mundo do esporte, a exemplo de árbitras e jornalistas esportivas, o que só comprova que vozes femininas e masculinas acabam não tendo o mesmo peso. Dito isso, é possível perceber que boa parte da população brasileira não é abraçada pelo futebol. Ainda não vivemos em um país no qual todo e qualquer cidadão pode verdadeiramente comemorar um gol e vibrar em meio à torcida sem medo de sentir-se rejeitado ou de não ter sua opinião respeitada e levada em consideração. O Brasil pode até conseguir o hexa na próxima Copa do Mundo, mas só será campeão quando todos os brasileiros puderem sentir que são parte dessa vitória.

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WB)

A produção é uma das partes mais essenciais num evento cultural. E os profissionais envolvidos enfrentam inúmeras dificuldades texto MARCUS FREIRE E STHEFANY DUHZ Como espectador, vamos ao teatro, ao cinema ou algum espetáculo, nos sentamos e esperamos sempre um grande show. Mas muitos de nós nem imaginamos que por trás de toda arte em palco, há profissionais quase invisíveis que fazem de tudo para aquilo acontecer. Esses maestros detrás das cortinas são os produtores. A especialidade esses profissionais é enfrentar desafios, pois o acesso à cultura, assegurado pela Constituição Federal de 1988, não é executado em sua plenitude. Entretanto, eles lutam para levar a arte 16

às pessoas. O papel do produtor, na montagem de um espetáculo é o de coordenar todo o panorama de criação, que vai desde o início da preparação até o dia da apresentação, segundo Wesley Telles, diretor executivo da WB Produções, empresa focada na produção de peças teatrais. “As pessoas têm um visão um pouco distorcida do que é o produtor. É como se fosse um grande maestro”, diz. Telles esclarece como é feita a escolha de um espetáculo. “A gente tem uma área de curadoria dentro da empresa, que viaja para

poder ver os espetáculos, para entender a estrutura técnica, para ver se os teatros de Vitória comportam e também o público, o que ele espera de uma peça”, exemplifica. Após o processo de análise dos espetáculos, o diretor da WB explica que a empresa ainda cuida de toda a logística do evento, que vai desde a compra de passagem dos atores até o plano de divulgação. “Depois de selecionar os espetáculos, a produção local cuida de toda a logística. Desde hotel, passagem aérea, assessoria de imprensa, plano de divulgação, vendas, recepção dos artistas, etc”, conta. Para o produtor conseguir executar um evento é necessário recursos fi-

Bruna Dornellas e Wesley Telles (arquivo

Os maestros por trás do espetáculo


arquivo pessoal Carol Ruas

do para o desenvolvimento da economia criativa no estado. “Os editais da Cultura têm possibilitado que os capixabas realizem projetos culturais de interesse público, estimulando a inovação, a experimentação e abordagens criativas por meio de questões culturais” comenta Vasconcellos.

arquivo pessoal

458 de 21/10/2008). Segundo ele, em 2018, houve um aumento de verba nos editais publicados pela pasta. “Os investimentos totalizam mais de R$ 10 milhões com recursos do Funcultura, R$ 3,718 milhões com recursos de parceria com a Secretaria de Direitos Humanos e Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvomento (Setades) , além da parceria para coinvestimento com o Fundo Setorial do Audiovisual/ Ancine (FSA)”, informa o secretário por meio da assessoria de imprensa. Para o chefe da pasta, o Espírito Santo tem um potencial cultural muito forte e a Secretaria de Cultura tem investido e contribuí-

Reprodução

nanceiros, o que também é mais um obstáculo enfrentado. A produtora Bruna Dornellas, que é diretora executiva da WB Produções, explica como alcança potenciais investidores. “A gente faz um book de captação e apresenta às empresas anualmente. Nossos projetos são aprovados pela Lei Rouanet, mas as empresas desconhecem ou têm medo desse benefício”, aponta Dornellas. A lei permite que empresas deixem de recolher impostos ao estado (renúncia fiscal) e, invistam em projetos que incentivem a arte e a cultura. A Lei Rouanet (Lei 8.313/91), cujo nome que homenageia seu criador, o então secretário nacional de Cultura, Sérgio Paulo Rouanet, é uma das fontes que alimentam o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). As prefeituras e os estados também fazem aportes financeiros para promover eventos, por meio de editais. No caso do Espírito Santo, o secretário de Cultura, João Gualberto Vasconcellos, explica que a cultura tem sido beneficiada pela verba do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura, Lei Complementar nº

Amanda Brommonschenkel

Expressão artística, social e política Além do aspecto comercial por trás da produção, existe o social, focado na construção cultural e política da sociedade. Amanda Brommonschenkel, arte-educadora e produtora cultural conta que após suas experiências com produção, passou a compreender o seu trabalho a partir de uma concepção política da cultura. “Eu comecei a estudar um pouco mais e entender que a cultura não é só eventos, ela é algo que nos produz cotidianamente. Então, eu comecei a estudar mais sobre diversidade cultural, a entender as manifestações religiosas, artísticas, os movimentos, as diferenças étnicas e como a cultura nos mantém vivos e vivas”, analisa. A jornalista e produtora independente há oito anos, Carol Ruas fala das suas expectativas para com a cultura capixaba e brasileira, desejando que as pessoas conheçam e participem mais das manifestações artísticas e da diversidade cultural. “Eu espero que mais pessoas possam ter acesso à arte e às manifestações culturais do Espírito Santo e do Brasil, que mais gente tenha acesso aos meios de produção para se expressar também e que a gente aprenda a valorizar os momentos de fruição cultural como algo essencial para a nossa formação como seres humanos. E, claro, que a gente se divirta coletivamente e não na solidão dos nossos apartamentos,” expõe.

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e-Sports

cada vez m

esporte

Com o aumento da influência das comunidades online, os jogos eletrônicos vêm se inovando e chegam a desafiar o próprio conceito de esporte.

texto e fotos YVENA PLOTEGHER E REINALDO FONSECA

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s

mais

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DXMA, na Enseada do Suá, dá suporte às equipes JawBreakers e a Bulldozer, que treinam seus times de League of Legends, Dota 2 e Counter-Strike

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Grande parte das pessoas está acostumada à ideia de que esporte sempre envolve o suor, esforço físico e muita movimentação. Mas, essa concepção está em mudança, devido ao destaque que um novo segmento vem ganhando nos últimos anos: o dos cyber-atletas. Apesar de uma menor utilização do corpo, eles seguem uma rotina de treinos tão rígida quanto a de um jogador de futebol, porém, no ambiente virtual, além de terem um desgaste mental grande. Amanda “Kiit” Toniato, que atua pelo JawBreakers e-Sports, é um bom exemplo dessa nova área de competição. Ela começou a jogar bem nova com seus irmãos e familiares, mas nunca tinha pensado em seguir a carreira de gamer. Em 2015, Kiit passou a trilhar seu caminho no esporte eletrônico, também conhecido como e-Sport. Nessa época, ela morava um tempo em São Paulo e acompanhava de perto o trabalho do técnico Giovanni “JooW” Federici, na paiN Gaming, organização de esportes eletrônicos com a maior torcida no Brasil. Hoje, dedica-se integralmente aos jogos e é profissional no jogo League of Legends, popularmente conhecido como LoL. Atualmente, o segmento movimenta milhões de dólares, o que contribui para aumentar sua visibilidade, número de adeptos e de pessoas como Kiit, que visam chegar à elite de suas modalidades.

Seja League of Legends, Counter-Strike, Dota 2, Fortnite, Hearthstone, ou, até mesmo FIFA, é inegável o crescimento e a consolidação dos esportes eletrônicos. A possibilidade de tornar um hobby em uma profissão tem se mostrado bastante atrativa a um público cada vez mais diverso. O Brasil é o 13º país no mundo que mais investe na área de jogos eletrônicos, de acordo com o site especializado em games Newzoo. Em 2017, foram arrecadados US$ 1,3 bilhões e, em 2018, a receita já ultrapassou a do ano anterior, tendo chegado a US$ 1,5 bilhões. No entanto, ainda há divergências sobre a inclusão dos esportes eletrônicos na categoria esporte. A dificuldade ocorre, principalmente, devido à sua dinâmica, que não envolve uma esforço físico evidente. O pós-doutor em sociologia do esporte Otávio Guimarães Tavares da Silva destaca que não existe uma definição de esporte específica. “Há cerca de 20 anos, surgiu o conceito de polissemia e polimorfia do esporte para explicar diversas manifestações esportivas novas, tradicionais, modificadas e combinadas. Para alguns, esporte é aquilo que as pessoas entendem que é esporte - definição indutiva. Para outros, apesar da polissemia, existe um núcleo duro, com regras, competição e rendimento. A estes três eu acrescentaria “humano”, ou seja,

competição entre humanos e rendimento humano”. “Sou de opinião que o e-Sport não é esporte. Nem tudo que tem competição, performance, regras e excitação é esporte. Se não o poker, o gamão, o Banco Imobiliário ou o pregão da bolsa de valores seriam esporte”, afirma Tavares da Silva. Ele completa que, “é um entretenimento eletrônico de competição, mas não depende do desempenho físico humano”. Para Kiit, videogames podem ser entretenimento, mas o que os times fazem é completamente diferente. “Nós temos rotinas, focos, competitividade e muito estresse envolvido. Há bem pouco de entretenimento”, declara. O fortalecimento dessa concepção contribuiu para que novas empresas e algumas já existentes no mercado se moldassem ao ramo. É o caso da DXCMA e-Sports, localizada na Enseada do Suá, em Vitória. O estabelecimento dá suporte a duas equipes, a JawBreakers e a Bulldozer, que treinam seus times de League of Legends, Dota 2 e Counter-Strike. Canal de esportes e líder de audiência no Brasil, o SporTV também passou a dar mais atenção ao ramo ao incluir em sua programação o campeonato brasileiro de LoL, o CBLoL, e os grandes campeonatos de Counter-Strike, conhecidos como Majors,. Times consagrados como Corinthians e Santos forma-

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ram suas próprias equipes de e-Sports e investem cada vez mais no cenário. O Flamengo, por exemplo, além de criar seu time de League of Legends, contratou de dois jogadores da Coréia do Sul, que é considerada a região com o melhor desempenho do mundo. O técnico JooW ressalta que há um impacto cada vez maior desse cenário, o que leva a mais marcas e investidores a entrarem na área. “A sociedade aqui é altamente influenciável e é questão de tempo até aceitarem plenamente o esporte que, provavelmente, já é um dos mais jogados do país”, pontua. Sobre a inclusão dos esportes eletrônicos como modalidade olímpica nos Jogos de Paris, em 2024, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, declarou ao site do El País. que ainda não está claro se os e-Sports são realmente esportes no que diz respeito à atividade física e quanto ao que é necessário para que sejam considerados como tal. “Não existe uma organização ou uma entidade que nos dê a certeza e a garantia de que essa modalidade respeita e cumpre as regras e valores olímpicos do esporte ou que essas regras possam ser implementadas e monitoradas com segurança”, declara. A fala de Bach evidencia uma outra característica presente no cenário competitivo online que contribui para a sua não aceitação: a falta de um órgão que institucionalize seus eventos, premiações e regulamentos. Por se tratar de jogos diferentes, com propostas, públicos e jogabilidades que também divergem entre si, os cam-

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peonatos de grande porte, normalmente, são organizados pelas próprias desenvolvedoras, empresas como a Riot Games, Epic Games, EA Sports e Blizzard. Isso contribui para que haja um isolamento entre as várias modalidades. Até mesmo os títulos das mesmas desenvolvedoras têm uma grande diferença em seu nível de tratamento em relação ao competitivo e suas recompensas. A exemplo do Counter-Strike e do Dota 2, ambos propriedades da Valve, há uma diferença de U$ 23.826.734 milhões em suas recompensas.

Tanto Giovanni, quanto Otávio acreditam que caso adquirisse um caráter de esporte olímpico, os e-Sports alcançariam uma mudança em sua própria configuração e na maneira como o público enxerga suas atividades. “Acho que seria uma significativa transformação dos jogos em direção a algo que ele hoje não é”, declara o Otávio Tavares da Silva Por sua vez, Joow caracteriza os e-Sports como o “esporte do futuro”, e complementa, “trazê-los para as Olimpíadas consagra ainda mais esse termo e aumenta o interesse dos jovens atuais no evento”.

De olho no público A Revista Primeira Mão procurou conhecer a opinião do público, por meio de formulário online. Com 229 respostas envolvendo pessoas do sexo feminino e masculino, entre 13 e 47 anos, o resultado foi que 62.4% consideram os e-Sports como uma modalidade esportiva. “Estamos condicionados a manter certos dogmas e frear mudanças de comportamento, mas a vida virtual como um todo é a cada dia mais real. Com os esportes não deve ser diferente. Apesar de nem sempre haver esforço físico, tudo o que envolve os esportes eletrônicos o caracterizam como tal. Este novo mundo cresce e se constrói como uma nova modalidade esportiva”. (Marlon Marques, 35 anos, jornalista) “Eu acho que faltam algumas camadas. O foco no lúdico e na dinâmica de jogo não são suficientes para considerar esporte. Eu comparo com o xadrez, que, para mim, também não é esporte. Pode ser divertido, competitivo, mas falta a dinâmica física, que também é fundamental.” (André Luiz Gatti, 27 anos, professor de História)


Participação feminina nos e-Sports A comunidade de jogos eletrônicos ainda tem muito a evoluir em relação à sua tolerância e aceitabilidade. Numa conversa com a Primeira Mão, Amanda “Kiit” Toniato fala sobre o início de sua carreira como profissional, os estudos e, principalmente, como lida com o fato de ser uma mulher que desafia visões conservadoras dentro do jogo. Como você começou sua trajetória de cyber-atleta e o que te motivou a seguir esse caminho? Comecei a jogar bem cedo com meus irmãos e familiares, mas nunca tinha pensado nessa carreira. Em 2015, fui morar em São Paulo e acompanhei de perto o JooW em uma carreira na paiN, o que me motivou a buscar esse lado. Comecei a praticar para subir meu nível e resolvi me dedicar para ser profissional nessa área. Você continua seus estudos de maneira regular ou fez algo como um su-

pletivo/Enem para completar o ensino médio? Pensei em tentar algumas faculdades, mas atualmente me dedico integralmente ao jogo. O que você acha da participação feminina em campeonatos? Acredita que ela acrescenta algo para a comunidade? Acho que precisa aumentar cada vez mais. Ainda existe aquele preconceito de que videogame é coisa de menino, e que menina brinca de boneca. Dentro de jogo, ouvimos muito que mulher só deve fazer suporte (função auxiliar dentro de jogo), e mais mulheres jogando em todas as posições e modalidades apenas reforça que isso é um preconceito sem fundamento. O que acha desse machismo presente nos jogos? Você já foi “atacada” alguma vez pelo fato de ser mulher?

Gosto de desafiar esse estigma, mas de vez em quando alguém nos ataca por isso. Esse tipo de posição (atiradora) costuma obter destaque dentro de jogo e nem todo mundo gosta de ver uma mulher brilhar dentro da partida, então acabam nos atacando, mas a comu n i d a d e está, aos poucos, ficando m a i s consciente.

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O VINIL ESTÁ DE VOLTA Aumento da demanda por LPs tem crescido ao redor do mundo e ampliado o mercado para colecionadores e amantes do formato.

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esenvolvido no final da década de 1940 e um dos grandes símbolos da indústria fonográfica, o disco de vinil tem retornado às prateleiras das lojas e encontrado consumidores saudosistas. Apesar de a tecnologia ter engolido boa parte dos produtos físicos com a popularização da cultura de streaming, o atual consumo dos LPs é uma prova de que essas novas práticas de se ouvir música não são substitutas perfeitas. De acordo com dados da Nielsen Music, apenas nos Estados Unidos, no ano passado, foram comercializados mais de 14 milhões de cópias no formato, um aumento de 9% em relação a 2016. Para atender essa nova demanda, a Sony Music Enterteinament, quase 30 anos após cancelar a fabricação dos discos de vinil, decidiu retomar a produção também em 2017. No Brasil, as duas únicas empresas produtoras dos LPs, Polysom e Vinil Brasil, não conseguem atender as exigências do público. De acordo com as fábricas são produzidos, no total, apenas 450 mil cópias por ano. O número não é sufi24

ciente para absorver as demandas dos consumidores interessados em adquirir a experiência do disco de vinil que inclui desde sentimentos nostálgicos, até uma qualidade de som melhor. Valderedo Souza de Carvalho, proprietário do Sebo Veredas, localizado em Jardim da Penha, em Vitória, comercializa o formato há alguns anos e afirma que ainda existe alta procura pelos discos. “É um mercado que voltou muito à ativa. Além da diferença de som, acho que as pessoas querem resgatar o passado. Um álbum de jazz, por exemplo, é muito diferente de se ouvir em um CD. Parece que algumas músicas são feitas para se escutar no vinil”, destaca. No ano passado, pela primeira vez, desde 2011, os discos de vinil superaram os downloads digitais, segundo a Associação Americana da Indústria Fonográfica

(RIAA). O levantamento indica que os LPs correspondem a 8,5% da receita total de música, enquanto os serviços de streaming, como Spotify, Deezer e Apple Music, somam 65%. A estudante Livia Rozalem é apaixonada pelo formato e possui uma coleção de discos favoritos. Atualmente este é seu hobby, e além do som, ela curte a


texto e foto ANA LUIZA DIAS E VINÍCIUS VIANA

prod u ção visual dos LPs. “Acho uma sensação muito boa conseguir achar um disco que queria muito, parar para ouvi-lo com calma e apenas apreciar a música. O som do vinil é mais “vivo” e soa muito mais bonito, na minha opinião”, comenta. Para a também estudante, Giuliana Azevedo, a influência da cultura “vintage” é um fator decisivo para a nova popularização

dos discos de vinil. Além de participar de grupos nas redes sociais com outros colecionadores de LPs, Giuliana recentemente também iniciou sua coleção e está considerando uma ótima experiência. “Acho que ter o vinil de um artista que se gosta é diferente de apenas ouvir nas plataformas de streaming. Há uma satisfação em superar a dificuldade de conseguir encontrar algum que há muito se buscava. Gosto do Engenheiros do Hawaii, por exemplo, e ter um LP da época que foi lançado é incrível”, ressalta. A ideia do retrô e o sentimento de nostalgia são agregados ao valor cultural da coleção de LPs, que não se perdeu com o tempo. Artistas contemporâneos têm procurado disponibilizar os recentes lançamentos também como discos de vinil a fim de ampliar o público e as vendas da música em diferentes supor-

tes. Produções de Ed Sheeran e Amy Winehouse e as trilhas sonoras dos filmes La La Land e Guardiões da Galáxia foram convertidos em LPs e encerraram o ano de 2017 no top 10 de discos de vinil mais vendidos nos Estados Unidos, de acordo com a Nielsen Music.

ONDE ENCONTRAR? No Espírito Santo, atualmente, é possível encontrar algumas lojas que ainda vendem e compram discos no formato. No centro de Vitória, a tradicional Golias Discos, comercializa uma grande variedade de LPs. Também é possível encontrar no Shopping Praia da Costa, em Vila Velha, numa feira itinerante que busca atender as demandas dos capixabas mais saudosistas.

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A gente se movimenta pela fome”

Em entrevista sobre o rap no Estado, Cesar MC fala do título de primeiro capixaba campeão do Duelo Nacional de Mc’s.

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texto PAULA ROMANHA


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om uma batida rápida e acelerada, o rap nasceu como forma de resistência, com letras que fazem críticas de questões sociais vivenciadas por moradores de periferias, como a pobreza, a violência e o racismo. Considerado um dos cinco pilares fundamentais da cultura do Hip Hop, o rap foi criado na Jamaica na década de 60, mas o som só começou a fazer parte da indústria fonográfica e ganhou as rádios no Brasil a partir dos anos 90. Desde então, foi ganhando cada vez mais força, sendo hoje um dos estilos musicais que mais crescem no país. Numa mistura de gírias, gestos, ritmo e poesia, jovens se expressam por meio da música e buscam, através dela, atrair olhares da sociedade para uma realidade muitas vezes invisível aos olhos de quem não a vive. Aqui, no Espírito Santo, o rap também cumpre esse papel. Tomando cada vez mais espaço em praças, parques e ruas do estado, o estilo musical vem transformando a vida de muitos jovens capixabas. E hoje, quando juntamos as palavras rap, transformação e capixaba na mesma conversa, fica difícil não citar Cesar Resende Lemos, o Cesar MC. Nascido e criado no Morro do Quadro, em Vitória, o jovem de 21 anos é um exemplo de que quando alguém tem talento, vontade e, principalmente, algo a dizer, o resultado não pode ser outro além das conquistas que tem alcançado num curto espaço de tempo. Cesar se tornou o primeiro capixaba campeão do Duelo Nacional de Mc’s, em 2017, feito histórico para o rap no estado e que, segundo ele,

ajudou a quebrar parte de uma barreira entre o rap capixaba e o rap nacional, contribuindo para a busca de uma maior visibilidade para os artistas daqui.

“Talvez minha importância para a cena tenha sido romper essa ponte, mostrar que o ES está aqui. Alcançar algo inédito me traz um sentimento de orgulho e de motivação para continuar, eu sei que isso tudo é uma consequência de outras pessoas que também se levantaram para fazer. De forma alguma me coloco à frente de ninguém, eu sei que cada vez que eu rompo uma ponte, outras pessoas ganham com isso, e, se alguém rompe uma ponte, eu também ganho com isso”. Cesar teve seu rap “Quem tem boca vaia Roma” produzido pelo canal Pineapple, um dos mais consagrados na cena do rap nacional. Além de prestígio, este fato traz um peso maior aos ombros de Cesar, que tem consciência da sua influência como artista na vida de outros jovens que buscam alcançar feitos como esses. “Para mim vai ser sempre um choque quando alguém fala que me tem como inspiração, eu não consigo levar isso de forma natural. Essa responsabilidade me faz sempre buscar excelência e coisas que agreguem ao que eu faço. Não é a arte pela arte, mas a arte pelo sentimento e pelo poder transformador que ela tem. E olhando pra essa galera que está começando, eu me vejo totalmente neles, é muita von-

tade de aprender, e isso foi primordial para mim, o amor e a vontade que eu tinha de fazer, a fome que eu tinha de rimar. Por isso eu sempre falo muito de fome para as pessoas, porque é com isso que a gente se movimenta, é só pela fome, e, talvez em todos os sentidos da palavra, essa seja uma das coisas mais poderosas que temos para nos mover. Para o MC, além da dedicação desses artistas, é necessário um olhar mais sensível do restante do país, principalmente da região Sudeste, para o rap no estado, que vem evoluindo cada vez mais, mas ainda não tem o reconhecimento que merece. “No final de 2014, eu estava rimando para oito pessoas numa praça, sem ninguém nem para filmar. Já na última etapa classificatória do campeonato nacional que aconteceu aqui no estado, nós tínhamos a praça Costa Pereira completamente lotada. Rap capixaba é um rótulo que está na hora arrancar. Está na hora de a gente começar a gritar mais alto até que a cena pare de fingir que não escuta, porque o que temos de talento e pessoas que mandam bem é surreal. O sudeste precisa entender que existe um potencial muito grande aqui e que muitas vezes é excluído por Rio, São Paulo e Minas. Eu até entendendo que, por serem pioneiros na arte, de alguma forma vão sair na frente, mas o que temos plantado aqui por muito tempo é de excelente qualidade, e eu acredito que está na hora da nossa colheita”.

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Marcas da cultura capixaba A identidade cultural do Espírito Santo é expressa nas características herdadas da experiência dos povos de diversas etnias que viviam nessas terras, com destaque para as africanas, indígenas, portuguesa, italiana e alemã. Cada pedaço do Espírito Santo evoca um pouco dessas raízes, que lembram nossa formação cultural.

texto VINICIUS NERY O Convento da Penha é um dos santuários religiosos mais antigos do Brasil. Foi tombado como patrimônio histórico cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1943. Até os dias de hoje, são realizadas missas na igreja, que é cercada pela bela paisagem da região da Grande Vitória. Morador de Vila Velha, o estudante de Administração Guilherme Fávero considera o Convento a principal referência religiosa e turística do estado. “Percebo que é muito comum que as pessoas de fora façam visitas ao convento como primeiro passeio. Já morei em outros lugares e pude constatar que a vista tanto de dentro do convento como de fora é uma das mais bonitas”, disse o estudante.

A mestranda em Nutrição Ana Kelles hoje mora em Vitória, mas viveu sua infância e adolescência no município de Venda Nova do Imigrante, onde se realiza a Festa da Polenta, todo mês de outubro. “Sempre há uma equipe de voluntários envolvidos nos preparativos e realização das festas. Todo ano temos a presença de turistas dos municípios e dos estados vizinhos”, disse Kelles. A Festa da Polenta é marcada pela forte tradição italiana e tem em sua programação shows nacionais e atrações como o desfile do queijo gigante. E nunca faltam restaurantes montados especialmente para a festa com a tradicional polenta e outras guloseimas de origem italiana.

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Uma das principais m trazidas pelos escravos a nial, o congo é uma expr zada pelo uso de cânticos, res e trajes específicos. O e os municípios de Fundã cultura, com as festas de tecem no fim do ano. A pós doutoranda Elisa Saberes do Congo, Saber como projetos bibliográfi colóquios sobre o tema. E com os congueiros. “Os m congo como carnavalesc te religiosidade dos mem específica e os Mestre do religioso”, destaca.


manifestações folclóricas ao Brasil no período coloressão religiosa, caracteri, coreografias típicas, tamboO bairro da Barra do Jucu, em Vila Velha, ão e Serra têm uma forte presença dessa São Benedito e São Sebastião que acon-

a Ramalho Ortigão faz parte da pesquisa res da Universidade, na Ufes, com ações ficos, educativos e videográficos, além de Ela afirma que o Estado não se comunica meios de comunicação veem a prática do ca, ignorando sua complexidade e a formbros. O Congo é uma fé, uma religião o Congo são os detentores desse saber

Um dos mais conhecidos pontos turísticos da capital, o Galpão das Paneleiras de Goiabeiras é um espaço em que as mulheres confeccionam e vendem panelas, potes, travessas e vários recipientes feitas de barro. O processo de fabricação é praticamente o mesmo que os índios usavam quando os portugueses chegaram às terras brasileiras. Elas se organizam em uma espécie de cooperativa onde cada uma faz seu trabalho individual. A paneleira Eronildes Menezes, que trabalha no local há 43 anos, diz que a função garante renda para muitas famílias. “Além de mim, outras nove pessoas da minha família trabalham aqui e muitas outras também estão aqui há muitos anos. Cada um tem seu espaço e todos têm uma história com o bairro de Goiabeiras, reforçando a identidade do nosso trabalho”, disse Eronildes.

O festival Forró de Itaúnas visa dar oportunidade e visibilidade para novos talentos do forró pé de serra. A ideia do festival surgiu em 2001, já que o norte do Espírito Santo sempre foi caracterizado por uma presença forte desse gênero musical. Sucesso entre os paulistas, os shows são realizados na última semana de julho. A vila de Itaúnas já foi o palco que revelou grupos como o Falamansa, Rastapé e Trio Virgulino. A arquiteta Bruna Sardinha é de Pedro Canário, que fica a 50km do local, e relata que o forró é muito forte em toda região norte. “Tenho a impressão de que todos sabem dançar. Muitas festas, grandes ou pequenas, acontecem durante o ano inteiro. Nas ruas, acontecem aulas de forró. Na minha cidade temos um evento anual, o Forró da Tábua Lascada, que ganhou este nome porque no início as pessoas dançavam em cima de uma tábua e, ao redor, as outras esperavam a sua vez de entrar. Essa cultura é muito forte aqui”, declara.

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Percepções divergentes sobre o jeito capixaba de falar Pesquisa mostra que a variedade linguística capixaba ainda não é bem clara, mas algumas marcas particulares são percebidas.

texto MARIANA CRISTINA É comum identificar mineiro, paulista, carioca, gaúcho e pessoas de outros estados do país pelo seu sotaque característico. A forma de pronunciar o “R”, o “S” e algumas palavras, além das mais diversas gírias, ajudam a formar a identidade de algumas regiões. Porém, no Espírito Santo, essa marca na pronúncia não é muito conhecida, o que gera uma difícil identificação. Por isso, a pergunta que fica é: o capixaba tem ou não sotaque? A revista Primeira Mão realizou uma pesquisa online com 156 participantes para saber a opinião das pessoas sobre o tema, e 64,7% responderam que, para eles, o capixaba não tem sotaque. Do total de pessoas pesquisadas, a maioria, que é do estado, também acredita que não tem nenhuma particularidade ao falar, enquanto que pessoas de outras regiões do Brasil responderam que nós temos, sim, o nosso jeitinho. O estudante Walter Igor, nascido e criado em Vitória, está no time dos que não encontram sotaque no capixaba. Filho de baiana e mineiro, acredita que a marca do estado são as palavras regionais. “É difícil achar famílias que são 100% capixabas. Tenho um amigo carioca e uma vez

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Você acha que o capixaba tem sotaque? Perspectiva de pessoas de outros estados sobre o sotaque capixaba 47,2% Não

52,8% Sim

Opinião de quem não é capixaba

35,8% Sim

64,2% Não

Opinião dos capixabas


fui brincar com ele dizendo umas palavras daqui, do Espírito Santo. Ele ficou o dia inteiro tentando entender. Ele disse que a gente não tem sotaque, e sim algumas palavras que achava estranho, e nisso eu concordo com ele”, relata. Já para Kaúla Rocha, moradora de Uberlândia, interior de Minas Gerais, “os capixabas falam meio cantando. Às vezes, as palavras saem arrastadas, mas é bem tranquilo de entender tudo”. Na sua última visita ao estado, em 2016, as gírias que mais escutou foram “massa” e “véi”. Marcas regionais A identidade linguística do capixaba não é muito reconhecida, o que contribui com a convicção de que não existe sotaque por aqui. Mas a verdade é que, quem é do Espírito Santo, tem sotaque sim. Mesmo não sendo muito nítido. É o que apontam estudos do projeto Português Falado na Cidade de Vitória (PortVix). Organizado pelas professoras de sociolinguística Lilian Yacovenco, Maria Scherre e Leila Tesch, junto a estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o PortVix surgiu como um projeto de pesquisa, para estudar as falas na cidade de Vitória. Porém, existem também análises de estudantes de outras regiões do estado. As pesquisas realizadas pelo projeto mostram que a variedade linguística ca-

pixaba ainda não é bem clara, mas algumas marcas lexicais são percebidas, e se destacam, como o verbo “pocar”, e seus vários sentidos, além de “gastura”, “taruíra”e “ir pro rock”, por exemplo. A professora Leila Tesch afirma que, apesar do sotaque não ser tão nítido, é possível percebê-lo em algumas palavras. “O capixaba não tem marcas tão claras. A gente coloca um “i” nas palavras, que chamamos de ditongação, como “deiz”, “arroiz”. Na sociolinguística um processo de ditongação ocorre quando colocamos um ditongo onde não existe”, explica. Variações linguísticas Formado por 78 municípios numa área de 46.095 km² e população estimada em 3,9 milhões de habitantes, O ES tem formação cultural diversificada. Este é um dos fatores que podem explicar as particularidades linguísticas por aqui. Comunidades nativas, africanos e europeus de diversos pontos povoaram diferentes regiões , promovendo variações tanto na forma de dizer algumas palavras, quanto nas gírias. “Você pode identificar o capixaba pensando no Espírito Santo. Mas mesmo dentro do estado nós temos sotaques também. Nessa identificação você pode ter um olhar mais macro ou mais regional”, analisa Leila Tesch.

Entrevista

Leila Tech,

Professora de sociolinguística

Como identificar um sotaque? Existem níveis de variação. Tem o nível lexical, que é a palavra. Tem o nível morfossintático, que é essa coisa do “ocê” e “tu”. Tem o fonológico, que é a forma como a gente pronuncia, por exemplo o “dez”; e o nível discursivo, como “tipo”, “né”, “massa” e “véi”, por exemplo. Pode variar de região? Sim, e uma coisa é certa: o capixaba não tem marcas de fácil identificação, por isso ele é caracterizado por não ter marcas. A nossa variedade está muito próxima do que a gente vê na televisão. A gente não tem o “tú”, o chiado, o “ocê”. E às vezes o que caracteriza muito a gente são os vocabulários, que são os famosos “pocar”, taruíra”, “gastura”. Podemos considerar essas palavras como parte do nosso sotaque? Podemos sim. É o que a gente chama de variação lexical, que são marcas lexicais de sotaque. Dentro desse campo você tem “tilt”, “iá”, “nossa senhora da penha”, “nó”. E a outra que é muito forte é a de falar cantando. Tem um nome na linguística que define isso: prosódia diferente. Prosódia é uma curva melódica. O falar cantando seria no nível prosódico.

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Abre espaço, minha gente,] deixa o Brasil dançar! Grupo de dança Andora realiza apresentações para resgate e valorização da cultura popular brasileira por meio de apresentações culturais

texto NICOLAS RODRIGUES Você já dançou frevo? Congo? Ou já chamou alguém para dançar Jongo? Talvez quem vê ou ouve esses nomes nem sequer saiba do que se trata. Apesar do seu desconhecimento pelos brasileiros, essas são manifestações tradicionais do país, e que carregam uma forte influência afro-brasileira, indígena e europeia. E para que essa memória não se perca, grupos se mobilizam para que essas danças continuem fazendo parte da cultura, a exemplo do Andora. A Cia de Dança Andora, também conhecida como Grupo Parafolclórico Andora, é fruto de um projeto de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e tem como sede o Centro de Educação Física e Desportos. Desde 2008, o grupo trabalha 32

com o repertório de danças tradicionais do Brasil, realizando apresentações em escolas, em eventos da universidades, festivais de dança folclórica, festas religiosas, entre outros. O Andora é composto, em sua maioria, por estudantes da Ufes, que atuam de forma voluntária no projeto. São mais de 35 integrantes das mais diversas áreas de atuação. O professor de educação física e também aluno do curso de especialização em ‘Ensino da Dança’ Webert da Silva, participa do grupo desde 2013, e conta que a dança foi uma das primeiras atividades que realizou quando ingressou na Ufes. “Quando cheguei no curso, a primeira disciplina que fiz foi oficina de danças populares. E quando surgiu o convite para entrar no gru-

po, eu aceitei de primeira, pois sempre gostei de dançar”, conta. Sobre a importância da participação do jovem em divulgar manifestações culturais tradicionais dos brasileiros, ele acredita que “quando o público vê essa juventude dançando, amando o que


está fazendo, isso faz com o que as pessoas também abracem essa causa”. Resgate Cultural Muitas manifestações culturais têm sido esquecidas ao longo dos anos, devido a diferentes fatores. Para Laís Loyola, também

formada em educação física, o resgate da memória do povo é importante. “Grande parte do grupo trabalha em escolas, então nós temos um referencial quando tratamos da cultura, porque estudamos tais manifestações e sistematizamos para que possa ficar disponível para o público”, ressalta. O Andora leva o repertório de danças capixabas, como Ticumbí e Congo, não somente para outras regiões do país, como também para o exterior. Segundo o professor do departamento de Educação Física da Ufes Antônio Moraes, o grupo já se destacou em festivais de dança em diversos estados e já carimbou o passaporte para seis países. Além do resgate, a companhia de dança também trabalha para a divulgar a cultura capixaba em festivais internacionais. “Às vezes nos festivais o público espera ver o samba, porque já está enraizado que o Brasil é só samba. Mas o Andora mostra a outra parte que o Brasil tem”, completa. Identidade As apresentações do grupo envolvem muito mais do que a reprodução de passos. A cada espetáculo, uma história é apresentada com brincadeiras, narrações, figurinos que remetem a personagens históricos, canções carregadas de sotaque com versos que relatam a história do povo brasileiro, do cativeiro ao cangaço. Ramon Matteus, aluno do curso de Educação Física, e um dos mais novos integrantes do grupo, tem

apenas três meses de casa. “Eu comecei a me interessar por questões relacionadas à cultura afrobrasileira em um momento de aproximação com práticas corporais que me levassem a conhecer mais a cultura africana e a brasileira. O Andora para mim é um movimento de resistência”, pondera Ramon. Integração Latina Augustina Fonseca Estevez veio do Uruguai e é mestranda em Política Social. Há mais de um ano ela está no Andora e se interessou após fazer aulas em uma oficina de danças populares. A mestranda já teve contato com danças folclóricas uruguaias ao estudá-las antes. “Esses ritmos são pouco conhecidos no cotidiano. São caracterizadas pela cultura gauchesca, de século XVIII, da forte presença do campo e seus costumes”, conta. Estevez ainda ressalta a importância da dança para reforçar os laços entre os povos da América Latina. “Acredito que toda expressão cultural é significativa e construtora de subjetividades similares na América Latina. Nosso passado de colonialismo, imperialismo, opressão dos povos originários, escravidão, exploração das pessoas e dos recursos naturais, permitiu que fossem criadas formas artísticas de união através de uma história comum às especificidades dos povos na América Latina”, conclui.

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[As bruxas voltaram] Filosofia naturalista do Sagrado Feminino resgata ancestralidade e consciĂŞncia dos ciclos da mulher

texto ANA CAROLINA

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Sabe quando dizem que existe relação entre a mulher e a lua? Ou que a Terra possui energia feminina? Essas associações existem há milênios e fazem parte de uma filosofia naturalista chamada de Sagrado Feminino, que busca despertar a consciência da sacralidade da mulher, de sua natureza cíclica, devido aos ciclos menstruais, e de que tudo que a envolve é divino, inclusive o planeta e os seres vivos. A filosofia surgiu na Antiguidade, quando a figura feminina tinha papel social sagrado por ter capacidade de reprodução e de criar a vida no próprio corpo. O útero, órgão que se renova a partir da menstruação, gera mudanças físicas e emocionais que podem ser comparadas às fases do satélite natural. Porém, por conta do patriarcado, a mulher ficou restrita ao trabalho doméstico e aos cuidados com o lar durante muitos anos. Para resgatar a ancestralidade feminina, surgiu a filosofia do Sagrado Feminino, que busca encontrar a cura para algum problema ou desequilíbrio do corpo, isto é, a transformação após toda a opressão vivida ao longo da história, por meio do autoconhecimento e do olhar interior. As que aderem à filosofia reúnem-se nos chamados círculos de mulheres, onde compartilham sentimentos e percepções. Luiza Faresin, gestora ambiental e terapeuta holística, é adepta da filosofia há quatro anos e conta que os encontros são repletos de acolhimento, trocas saudáveis de energia, amor e cuidado. “Sentamos em roda, dançamos e cantamos, sempre em

conexão com a Mãe Terra, ser feminino que nos envolve e que é a nossa casa”, relata. Ela acrescenta que a ancestralidade esquecida, os padrões so-

O Sagrado retira a mulher da posição de objeto e a coloca como divina e criadora” ciais e as crenças limitantes podem ser curados por meio de uma consciência mais elevada, o auxílio de muitas terapias que envolvem magia, força de cristais, plantas, flores e energias como um todo. “O Sagrado vem tirar a mulher da posição de objeto e colocá-la como divina e criadora, que tem poder sobre si e de decidir sobre o próprio corpo”, explica. Gabriela Romanha é formada em Serviço Social, também leva a filosofia como modo de vida há quase quatro anos e participa somente de círculos virtuais. “Quando comecei a ler sobre o Feminismo, enquanto movimento social, e a ter contato com uma leitura de realidade numa perspectiva mais crítica, senti falta de algum aspecto espiritual. Foi nesse momento que conheci o Sagrado Feminino, que me dá luz e direção espiritual. É uma válvula de escape e ao mesmo tempo esperança”, acredita. Para a psicóloga e especialista clínica Elaine Bello Bonorino, filosofias como o Sagrado Femi-

nino, que consideram a mulher com grande força interior, juntamente a movimentos feministas, que possuem causas sociais, quebram com o estereótipo de sexo frágil e contribuem para que as mulheres conquistem autonomia. “Ao despertar uma nova consciência de si, a mulher eleva a autoestima, principalmente a interna, e se liberta para o que quiser ser, longe de cobranças e padrões de beleza. Empoderamento e amor próprio são fundamentais para que ela contribua para uma sociedade melhor e enfrente as discriminações sociais que existem”, afirma. A psicóloga lembra, ainda, acontecimentos marcantes que resultaram do discurso de ódio extremo contra a figura feminina: a “caça às bruxas”, que ocorreu entre os séculos XV e XVIII, quando milhares de mulheres consideradas praticantes de bruxaria foram mortas. “Nós, mulheres, temos força, sensibilidade e intuição muito intensas. No período da Santa Inquisição, aquelas que trabalhavam com chás ou que faziam algum tipo de ritual voltado para a natureza, utilizando essas habilidades, eram consideradas bruxas e condenadas. Muitas foram mortas porque falavam o que sentiam”, explica. Por isso, quando o Sagrado Feminino fala sobre “despertar a bruxa que há dentro de si”, significa manifestar o conhecimento e a força que tantas mulheres tinham no passado e por esse motivo foram condenadas. A ideia da filosofia é de que a figura feminina tem sabedoria sobre os campos energéticos dos animais, das plantas e do pensamento e é capaz de uni-los em prol de algum objetivo, o que é chamado de magia.

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Em pé: Ayla, Flávia, Camila, Laís, Juliana Ferreira, Lígia. Agachadas: Camila Nascimento, Brunella, Carol, Mariana, Nathalia e Juliana.

o d í a r t n o c s e d l o O futeb a i r ó t i V e d s e t i o das n as na capital As “peladas” noturn em curte o são o hobby para qu r do planeta esporte mais popula

O esporte mais popular no mundo, sem dúvidas, é o futebol. Segundo dados da Federação Internacional de Futebol (FIFA), cerca de 270 milhões de pessoas atuam em atividades diretamente relacionadas ao esporte, sem contar os torcedores dos respectivos clubes. No Brasil, o futebol foi trazido por Charles Miller, estudante paulista que retornou da Inglaterra em 1894 e trouxe consigo artigos ligados ao jogo como bolas, uniformes e um livro com as regras da modalidade. Mais de 100 anos do desporto em terras brasileiras, a seleção Canarinho tornou-se a única a conquistar cinco títulos mundiais. 36

texto A BERNARDO BARBOS

seleção. Pelé, no Santos, Garrincha, no Botafogo, Zico, no Flamengo, Romário, no Vasco e Ronaldinho Gaúcho, no Grêmio, são exemplos disso. Por ser tão popular, o esporte não ficou apenas em quem se destaca nos grandes clubes. Quem, de fato, acompanha o futebol, também gosta de se aventurar nas horas vagas jogando seja com amigos do trabalho, escola, faculdade e marcam a famosa “pelada” um futebol mais Murilo Cuzzuol, um dos que descontraído que reúne agitam a turma desde a pridesde o excelente jogador meira pelada ao que nunca entendeu de Vários jogadores popu- bola. Na pelada, o que vale larizaram o futebol entre é a descontração durante e os brasileiros tanto nos pós-jogo. É o que ocorre com clubes quanto na própria essas turmas em Vitória.


Segunda-feira. Início de semana. Geralmente as pessoas ainda estão digerindo o sábado e o domingo que ficaram para trás e torcendo para que o dia passe mais rápido. Porém, para essa gente, a segunda-feira é sagrada. Além de trabalharem todo o dia, ainda têm uma última missão: jogar bola. Última porque o horário do jogo é incomum, às 22h45. A “Pelada Multimídia”, formada em sua maioria por jornalistas, acontece toda segunda-feira em um campo society, em Vitória. Idealizador desde a primeira “pelada”, goleiro nos jogos, o jornalista Murilo Cuzzuol conta como nasceu o encontro. “Jogamos há sete anos. Originalmente, com pessoas da Gazeta. Com o tempo, algumas foram saindo, se desligando da empresa, e começou a cair o número mínimo de jogadores. Por isso, começamos a chamar amigos próximos para completar, e, dentre essas pessoas, muitas também são de outras empresas jornalísticas”. Com a abertura para pessoas de fora do meio, hoje o grupo conta com mais de 20 “peladeiros” que voltam

), Camila NasMariana (número 12 Brunella (número 4), estão juntas 9) ) e Juliana (número cimento (número 19 a. desde a primeira pelad

para suas casas já no início das terças-feiras. O horário não interfere no seu dia-a-dia. “Como minha rotina de trabalho é voltada para o fechamento do jornal, eu entro por volta de 15h, 16h, até o horário em que o jornal fecha. Então, não tenho problema em acordar cedo no outro dia. Só é ruim quando tenho algum outro compromisso”, explica.

Elas também

Fãs do futebol de Marta, Formiga, Cristiane – ícones do futebol feminino nacional -, entre outras, as meninas do Aposentadas Futebol Clube também jogam todas as segundas-feiras, porém mais cedo, às 19h40. Iniciado por amigas que já praticaram futsal e bea-

As segundas-feiras desta turma só termina após o futebol.

ch soccer há anos e colegas de faculdade, o grupo começou a atuar em janeiro de 2017. Além disso, a organização é o que chama atenção da turma. “Nosso grupo tem 22 meninas. Abrimos a lista todo domingo, às 12h. Temos lista de espera, caso alguém desista, a primeira da lista entra. Também sorteamos os times antes das “peladas”, se estiver desequilibrado, trocamos algumas meninas. Além disso, cada jogo possui uma súmula contendo informações como gols e assistências”, explicou Brunella Serpa, uma das idealizadoras do time. Após cada jogo, há sempre tem a famosa resenha fora do campo, o registro fotográfico dos times, e um pequeno texto sobre o dia na página oficial do grupo no Facebook. Como nada é de graça, as peladas também não são. Geralmente o aluguel dos campos fica em torno de R$150,00 a hora, mas dependendo da quantidade de pessoas que compõem os times, o preço por pessoa fica mais em conta. 37


PARQUES URBANOS: refúgios naturais das cidades Os parques são excelentes opções de lazer para relaxar e se distanciar da agitação da cidade. Somente na capital capixaba são treze opções de “respiros urbanos”

A preocupação com as diversas tarefas do dia a dia faz com que as pessoas fiquem cada vez mais estressadas e desgastadas. As atividades de lazer são boas alternativas de descanso, divertimento e até desenvolvimento, que trazem inúmeros benefícios não apenas para a saúde física, mas também para a saúde mental. Mas, como encontrar esses momentos? Para relaxar não é preciso sair da rotina e fazer uma viagem, por exemplo. Esses momentos podem ser encontrados facilmente no cotidiano. Os parques urbanos são excelentes espaços para esporte e lazer, onde é possível aproveitar momentos agradáveis sozinho, com amigos ou em família. Essas atividades trazem diversos benefícios, como a diminuição do sedentarismo e do estresse.

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Na capital capixaba são treze opções de “respiros urbanos”, que representam 3% da área da cidade. O parque mais antigo é o centenário Parque Moscoso, no Centro, e o mais novo é a Chácara Paraíso, no bairro Barro Vermelho. As amigas Maria de Lima, 65 anos, Diva Miranda, 63, Margarida Liger, 55, e Carmen Tonon, 59, vão todos os dias da semana ao parque Pedra da Cebola, em Mata da Praia, para realizar atividades físicas. Elas fazem alongamento, dança, yoga e ginástica no Serviço de Orientação ao Exercício da prefeitura de Vitória, que oferece aulas gratuitas à comunidade. Para a autônoma Carmen, o local é importante para as pessoas, independentemente da idade, realizarem atividades que proporcionam me-

texto ARTUR MEIRELES

lhora na qualidade de vida. “A gente que está sempre aqui no parque vê muitos jovens e adultos se exercitando e relaxando todos os dias. Gente de todas as idades. E a vantagem, sem dúvidas, é a melhora na saúde e no bem estar dessas pessoas”, diz. Além de proporcionar tranquilidade, na Pedra da Cebola podem ser encontrados diversos animais que proporcionam entretenimento para quem visita o parque e reforça a proximidade dos visitantes com a natureza. O jogador de futebol Ramon Alves costuma ir ao parque quatro vezes por semana para treinar e com um amigo. O atleta capixaba jogava em um time profissional, em Santa Catarina, e está se preparando para assinar contrato com um novo clube. Para


Vale a pena conhecer! PARQUE MOSCOSO: Inaugurado em 1912, é o parque mais antigo da capital capixaba. Ele foi restaurado em 2012, em comemoração aos seus 100 anos. Possui uma academia popular, além da Concha Acústica, que é palco de inúmeros espetáculos. PARQUE DA FONTE GRANDE: Com localização e paisagens privilegiadas, a região tem mirantes naturais, que proporcionam espetaculares visões da capital capixaba e de seu entorno. O parque fica na Avenida Serafim Derenzi. PARQUE PEDRA DA CEBOLA: O espaço tem parquinhos, lagos e um campo de futebol. Utilizado para as atividades esportivas para momentos de lazer, o parque tem a capacidade de reunir as mais diversas tribos.

ele, o espaço amplo e tranquilo contribui de forma positiva para o seu desenvolvimento nos treinos. “Como o campo é grande e não há muito barulho e agitação, eu consigo me exercitar melhor e me manter mais focado no meu objetivo”, relata. De acordo com a arquiteta e urbanista Karen Silva, os parques são importantes para as pessoas por criarem uma sensação de pertencimento pela cidade. Com o passar dos anos, os moradores estão deixando de frequentar os espa-

ços e optando por espaços privados. “Nós estamos privatizando cada vez mais os espaços de convivência para encontro, diversão e lazer. A população está vivendo em volta de muros. São shoppings, condomínios e lugares fechados que fazem perder a noção de cidade, de

É importante o incentivo dos parques para a compreensão de que esse espaço faz parte da nossa formação e construção enquanto indivíduo”

espaço urbano, de natureza e principalmente de convivência com o outro”, analisa. A arquiteta ressalta que é fundamental incentivar o uso do espaço público para a formação do indivíduo e que as prefeituras devem preservar esses locais e fazer com que sejam utilizados pelos cidadãos. “É importante o incentivo dos parques e a marcação desse ambiente para a compreensão de que esse espaço faz parte da nossa formação e de nossa construção enquanto indivíduo”, argumenta. Além de ser um local para estudar, relaxar ou se exercitar, os parques são ambientes propícios para estabelecer o contato social com a diversidade. É um lugar de relaxamento, onde é possível se distanciar da agitação e do stress da cidade.

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Crônica crônicaSaudades

de um velho amigo

texto ISRAEL MOGIONI Tinha acabado de realizar uma apresentação. Era a abertura de uma exposição. Naquele momento, os que eu acolhia se dedicavam a trocar experiências e esquecíamos as feridas em nossos corpos. A alegria dava lugar às lágrimas. O sorriso vencia a dor. Era felicidade. Descansar aquele resto de noite e me preparar para receber mais um grupo de crianças, ou abrir espaço para alguma performance, sempre contando nossa história. No entanto, aquele domingo se consumou o crime já anunciado. Mataram meu irmão! Senti, a mais de 500 km de distância, o ardor das chamas que o consumiam. Poderia ter sido eu. Cada tentativa em vão de apagar as labaredas que o destruíam era uma facada que lançavam a mim. Quantos milhões de arquivos se perderam; e nem em computador estavam. Quantas milhões de histórias que agora serão lendas. Quantas centenas de vida que em poucas horas viraram cinzas. Crueldade. No pacote, levaram nossa filha mais ilustre, nossa progenitora. Luzia não está mais aqui. A história do povo negro perde. A minha história perde. Um dos caçulas, já com 25 anos de idade, eu sempre me espelhei nos 200 anos da história rica que ele continha. A imponência de alguém que sabe sua importância. Ao mesmo tempo que conhecia suas fragilidades. Pena eu não poder ajudá-lo. A nós foi vedada a certeza. Mas não a esperança. Resistimos. Ser um museu é ser o guardião da caminhada dos seres. Ser um museu capixaba é ser resistente e cumprir seu papel, apesar das adversidades e da falta de investimento. Ser um museu capixaba sobre o povo preto é ser resiliente. É ser guerreiro. É ser um lar. É ser orgulho. É ser guerreiro para superar as dificuldades de precariedade material. O pouco que se tem, serve para reparos. Como se remediar fosse mais proveitoso do que prevenir. Mesmo sendo referência na cultura afro-brasileira, visitado por artistas famosos, não se tem uma página no Facebook atualizada que contenha a programação. Site? Um sonho. A campanha é boca a boca. Lar. A ideia de ser o Mucane é a familiaridade. É ser a casa de quem quer co-

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nhecer a nossa cultura. É ser espaço para meu povo. Fico grato quando pessoas como o Jefferson Tavares, um dos meus frequentadores assíduos, dizem frases como: “Quando estou num ambiente voltado à comunidade negra, me sinto feliz, representado, energizado e em contato com minha ancestralidade”. Não só de exposição de antiguidades vivem os museus. Existe um receio de que o contato com o passado afasta as pessoas desses espaços. No entanto, estamos abertos para o futuro. Sobretudo, estamos abertos à conexão. Abrigo obras de arte, seminários, cineclubes, dança, música e, principalmente, a representatividade, de quem quer que tenha interesse em expô-las. Jefferson, o velho amigo que sempre se faz presente no meu abrigo, fez uma oficina durante dois meses.No último dia, rolou uma apresentação do Coletivo Emaranhado. Na sala, tinha velas formando um barco. As janelas estavam fechadas com papel. E a professora de dança estava maravilhosa. Com um jarro, ela performava e cantava ao som do professor de percussão. “Fiquei todo arrepiado e só tive vontade de chorar de tanta emoção e de como me senti tocado”, confidenciou Jefferson. Infelizmente nem sempre de experiências boas vivemos. Uma forma de apagar a história do povo negro é inferiorizando nossa cultura. Entre 2008 e 2012 a sede foi tirada de mim. Penso na situação do meu irmão, Museu Nacional, que a cada ano recebia menos para prover sua existência, porém manteve-se aberto. É o risco que corremos, pelo nosso público, pelo nosso povo, pela nossa história. Dessas insistências em estar com os nossos, abrimos espaços para sermos um. Meus filhos me ajudam apresentando seus trabalhos aqui. Movimentam meu espaço. Criam obras, danças, palestras. Disseminam cultura. Estamos aqui. Eu, Mucane, sobrevivendo com a força de quem me visita e me enche de energia viva. Meu irmão ressurgirá aos poucos. Nós resistiremos e cresceremos. Ser o Museu Capixaba do Negro, por tudo isso, é ser orgulho.


ENSAIO FOTOGRÁFICO

No limite William Caldeira

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ensaio

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