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Está nas mãos do juiz da 12ª Vara
Foto: Larissa Pinto
de segurança mínimo necessário. Ainda está ineficiente a tentativa de elevar o fator de segurança simplesmente pela drenagem da barragem. Esse foi um dos motivos que levaram o auditor a sugerir a elevação para o nível dois.
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A Defesa Civil não tem estrutura física, equipamentos e mão de obra qualificada para elaborar técnicas de monitoramento, a fim de dizer se uma barragem está em risco, ou não, e tomar ações. Isso não é função da Defesa Civil. Isso é função do empreendedor [Vale] e da Agência Nacional de Mineração (ANM), que é o órgão fiscalizador máximo dessas barragens no Brasil. A partir do momento em que o auditor externo, independente ou não, ou a ANM, ou a própria empresa, nos apresenta esses resultados, aí nós vamos agir, garantindo a segurança da população em cima do que nos foi falado.
Charles Romazâmu Murta, geólogo da Defesa Civil Municipal de Ouro Preto
Apesar de a ZAS ser a área de maior risco, há um clima de tensão em toda a comunidade de Antônio Pereira, visto que a mineradora não tem sido clara em suas informações. Segundo moradores(as), essas informações são repassadas por grupos de WhatsApp, o que gera, por um lado, pânico e, por outro, desconfiança do real perigo que a barragem do Doutor possa apresentar.
Eu lembro bem de um dia, dando aula na parte da manhã, uma sirene tocou sem aviso prévio. Estava num período de bastante medo, a fala sobre a barragem era bastante recorrente e soou uma sirene em horário de aula. A gente não tinha tido notificação nenhuma de que haveria um teste e nós ficamos todos apreensivos. Os alunos ficaram com muito medo e chorando.
A escola é considerada um ponto de encontro, mas não tem estrutura, nem pessoal, para lidar com uma situação de crise, como um rompimento. O nosso cotidiano é encontrar alunos que relatam que a família faz vigília de madrugada para o caso de uma barragem se romper; ou que talvez vão se mudar pra outro lugar, porque veio, segundo eles, uma pessoa da Vale falando que tem que sair da casa. Existe um grau de adoecimento muito grande da comunidade como um todo. Não só dos moradores que estão na ZAS, porque a desinformação é tamanha que eles também nem sabem.
Patrícia Ferreira Ramos, professora na Escola Estadual Daura de Carvalho Neto, em Antônio Pereira
Foto: Arquivo Pessoal de Ana Carla de Carvalho Cota
Caminhões de mudança no dia 30 de abril, na Vila Samarco.
O risco que nós passamos, há dois anos, com a Vale operando essa barragem, jogando rejeito nela e a Vale brigando na justiça pra falar que a barragem era segura... Hoje, nós estamos sendo removidos, a empresa quer remover a gente alegando que o risco é da barragem sem dar nenhuma garantia para os moradores, então, a gente não acha justo isso.
Geraldo Pereira de Souza, morador de Antônio Pereira
Para quem saiu de suas casas, deixou para trás anos de história, suor e trabalho, indo viver de incertezas, visto que são tratados com desdém e omissão. Para quem ficou e não faz parte da ZAS, como é o meu caso e de muitos moradores aqui, restou a incerteza, a angústia e o medo do que possa acontecer no amanhã.
Com o isolamento social devido à pandemia, não recebemos notícias de como está a estabilidade da barragem e, tampouco, sobre os direitos que nós, atingidos de forma direta e indireta pela barragem do Doutor, temos. Vivemos como reféns de uma mineração selvagem cujo lucro supera a vida.
Elizabeth Cristina da Costa, moradora de Antônio Pereira
Esse período escancarou ainda mais o que é a Vale e a mineração predatória que ela promove. Nós continuamos defendendo um outro modelo de mineração que seja organizado pelos trabalhadores. Que seja organizado pela comunidade para que os recursos sejam voltados para o bem-estar, para a garantia de vida das pessoas, com informação, com direito à memória do lugar. Direitos sem riscos à saúde, sem riscos à vida. Que a gente também pense que um novo modelo de mineração é possível.