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“Põe o trator na minha mão que eu resolvo isso em meia hora”
Na estrada de terra que divide Bento Rodrigues do reassentamento, a comunidade precisou, mais uma vez, convocar uma reunião com a Renova para reivindicar o acesso ao território original. Desde o ano passado, quando a entidade se comprometeu a fazer manutenções na via, a situação não melhorou. Devido ao período de chuvas que se estende até o fim de março, a Defesa Civil interditou a passagem por questões de segurança, o que dificultou as tradicionais celebrações que acontecem no Bento origem.
Para chegar até lá, enquanto isso, moradores e moradoras precisam passar por Santa Rita Durão ou Santarém, caminhos mais longos e inseguros, por dentro da área industrial da Samarco e próximo a barragens.
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Estavam presentes para tentar uma solução, no dia 8 de fevereiro, representantes de Renova, Samarco, construtoras, Defesa Civil, Cáritas e Câmara Municipal, pela Comissão de Obras. A Vale foi convidada a participar, mas não compareceu. Para levar as demandas, representantes da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF).
Durante a reunião, houve dificuldade em responsabilizar alguma das empresas presentes pela má execução do projeto anterior. A Renova se absteve ao dizer que não tinha liberdade para modificar o percurso, já que ele está em propriedade da Vale e não teria sido resultado do rompimento da barragem de Fundão. Enquanto uma resolução não surgia, mais um problema foi encontrado. A água empoçada em um dos trechos é mais um risco de desabamento. No entanto, novamente a Renova, responsável pela estrada, não sabia de nada.
A manutenção anterior ocorreu entre agosto e outubro de 2022. Devido às irregularidades, a terra voltou a ceder e a impedir a passagem (falamos sobre isso nas edições 72, 74 e 80). Naquele momento, pessoas atingidas de Ben- to Rodrigues reabriram a estrada em um esforço coletivo, e temem que isso tenha de ser feito novamente.
A Câmara Municipal se encarregou de relatar, em um documento com fotos, as demandas e encaminhar para as mineradoras responsáveis. Nenhuma data foi estabelecida para a execução das obras.
Março de 2023
“Essa demanda não é de agora, é desde o ano passado. A situação chegou a esse ponto porque a Fundação Renova tem a função de reparar os danos, e isso não vem acontecendo. No ano passado, nos foi passado que a Renova entendia que não era obrigação dela executar a obra, mas, por bondade, ela ia ceder a verba e fazer a contratação da empresa para executar, e o município ia entrar com a fiscalização.
A obra começou no final de agosto e, no dia 12 de outubro, o caminho foi liberado pra gente. Posterior a isso, não se viu mais movimentação de funcionários mexendo no acesso e, desde então, a gente questionou. Não precisa entender de obras, nem ser engenheiro, pra ver que a obra não foi executada como deveria e que a gente voltaria a ter problemas nesse ponto de novo, e aqui estamos.
Ano passado, a gente mendigou pra Fundação Renova colocar uma placa pras pessoas que fazem esse percurso terem ciência do que estava acontecendo, porque muita gente vinha e se deparava com o buraco, então quem não conhecia a estrada corria um grande risco. A placa só foi colocada depois que abrimos o acesso, mas para alertar os funcionários.
O que eu quero saber é o seguinte: a gente vai ficar mais nove meses esperando pra ver se a Renova vai executar a função dela? Eu espero sair daqui com uma resposta, já que tem gente aqui de todos os órgãos que deveriam estar. Espero sair daqui com um cronograma de quando o acesso vai estar liberado pra gente. Espero que não seja preciso que nós, moradores, tenhamos que executar a obra como a gente fez ano passado.
É responsabilidade da Renova sim. Antes do rompimento, essa estrada que a gente está não era a estrada principal, esse foi o acesso que os moradores abriram. E isso é consequência do rompimento da barragem sim, pois a Fundação Renova, que foi constituída para reparar os danos e manter a estrada, não fez o trabalho com a urgência que precisava. Tem vários ofícios em que a comissão pede essa manutenção, e foi por isso que a estrada cedeu.”
Mônica dos Santos, moradora de Bento Rodrigues
“Quantos anos o Bento tem? Quando nós morava no Bento, quem conservava os acesso tudo era a gente. Passava por aqui todo dia caminhões com 120 toneladas de bauxita e nunca deu problema na estrada. Quando a Vale comprou esse terreno, e ali tá a placa que fala que aqui é propriedade da Vale, o Bento já tinha 300 anos. Se quiser, eu venho fiscalizar sem ganhar um centavo. A Renova foi criada pra quê? Pra sanar todos os danos, igual ou melhor. Eu falo com consciência, tá tudo pior. Põe o trator na minha mão que eu resolvo isso em meia hora.
O que a Renova cumpre? Fica a pergunta no ar. Não existe nada que pede para Renova que é cumprido. A gente tá cansado, como comissão, de mandar ofício e a Renova não responder. É cinco ou seis meses pra responder. Tá tudo pior que nós tinha. É doído ver gente da Renova que só quer ‘mamar’, não executar a obra, desculpa a franqueza.”
José do Nascimento Jesus (Seu Zezinho), morador de Bento Rodrigue
“Eu quero colocar que estamos fazendo várias reuniões pra resolver um assunto. A gente vai na Renova, cobra a Renova e a Renova vai na prefeitura. Poxa, de quem é a responsabilidade? Va- mos fazer mais quantas reunião pra que isso seja resolvido? Basta querer. Máquina tem demais na Renova, dinheiro tá jogando fora. Eu não consigo entender, tem gente criando obstáculo. E a gente vai abrir, a gente quer nosso caminho. A gente vai abrir na enxada. Tá passando carro de firma toda hora aqui, por que nós não podemos passar? É proibido pra nós e pros outros não.”
Sidney Sobreira (Dinei), morador de Bento Rodrigue