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Bioenergia é destacada como fator decisivo na diminuição da emissão de carbono
Especialistas destacaram as tendências da cana
A bioenergia vem sendo apontada como fator decisivo na diminuição da emissão de carbono por especialistas, principalmente no contexto de transi− ção energética, se tornando cada vez mais impor− tante e valorizada. Este tema, assim como as tendên− cias na cadeia da cana−de−açúcar sob a ótica so− cioeconômica foram debatidos no 5º Encontro Pre− paratório da 4ª edição do EsalqShow, organizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Quei− roz (Esalq/USP),no dia 31 de agosto.
Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da União da Indústria da Cana−de−Açúcar (Unica) ressaltou a movimentação mundial do açúcar, des− tacando seu potencial de exportação, importação e consumo. “Temos três grandes exportadores de açú− car no mundo são eles Brasil com 42,4%,Tailândia 14,1% e Índia 6,9%, já sobre o consumo mundial, a atividade está presente principalmente na região les− te em destaque na Ásia com 40% do consumo glo− bal. Por fim, os principais importadores são Ásia e África, com 80% das importações globais ” .
Sobre o etanol, Sousa citou a dependência de políticas públicas, seus benefícios e os mandatos ob− rigatórios de mistura. “Atualmente 61 países apre− sentam alguma forma de mandato de mistura. No Brasil e na Índia, por exemplo, temos quantidades enormes abrangendo 27% e 10%, respectivamente ” .
O professor Gonçalo Pereira, da Unicamp, de− fendeu a bioenergia como fator decisivo na dimi− nuição da emissão de carbono. Pereira traçou um panorama energético, falou das alternativas disponí− veis de tecnologia empregada em indústrias como a automobilística e de que maneira o aproveitamento de terras degradadas pode evitar uma crise mundial.
“Temos na biomassa nossa grande oportunida− de para aumentar a produção de etanol mundial e evitar crises migratórias. No Brasil e na África, por exemplo, temos quantidades enormes de pastos de− gradados que podem ser utilizados para a produção de etanol e consequente geração de empregos ” .
Na sequência, Júlio Maria Borges, professor da FEA/USP e diretor da JOB Consultoria, abordou o mercado de açúcar, destacando seu presente e futu− ro. Borges traçou um panorama sobre as oportuni− dades e riscos do açúcar e do etanol.
“O cenário para as safras futuras em um perío− do de cinco anos, apresenta boas perspectivas. Quando falamos sobre um panorama de médio pra− zo temos que ficar atentos com quatro fatores im− portantes que definem uma boa expectativa para o futuro, são eles o cenário de preços, às demandas de açúcar e etanol, e pôr fim a oferta que são os con− correntes, ou seja, empresas maiores e mais eficien− tes que geram a competição no setor ” , disse.
Guilherme Todanu Belotti Melo, gerente de Consultoria Agro do Itaú−BBA, falou sobre saúde financeira do setor sucroenergético. Belotti lembrou que na safra 2019/20 houve aumento das margens operacionais, reflexo de políticas assertivas com re− lação à otimização de custos.
“A partir de então o cenário é de recuperação. Os grupos mais capitalizados aumentaram os inves− timentos, promovendo otimização da logística agrí− cola, expansão de canaviais e aumento da capacida− de. Para a safra 21/22, a expectativa é de redução da dívida do setor, pois, a partir das altas de preços, o que naturalmente promoverá geração de caixa, mes− mo considerando as diferentes realidades da cadeia ” .
Já Denis Arroyo Alvez, da Orplana, destacou a sustentabilidade do produtor de cana. Ao narrar o caso da Orplana, lembrou que a entidade trabalha para manter um ambiente favorável ao produtor e garantir a competitividade do setor.Alvez defendeu a força dos produtores quando associados e apresen− tou a parceria com o Solidaridad, uma organização internacional com atuação em mais de 40 países.
“Uma das ações empregadas é o Programa Mu− da Cana, que oferece aos produtores, assistência téc− nica para promover capacitação e gerenciamento sustentável.Ações em parceria fortalece o produtor, pois, propicia maior representatividade política em assuntos de interesse da categoria
Eduardo Leão
BIOMASSA DA CANA GANHA FORÇA COMO FONTE DE ENERGIA ALTERNATIVA
Nesse momento de transição energética, o bagaço da cana-deaçúcar vai se consolidando como importante fonte de matriz renovável
A escassez de recursos hídricos, aliada a poluição ambiental, vai afuni− lando o cerco na busca de fontes de energias limpas e renováveis. À me− dida em que o mundo vai avançando nesse período de transição energética, a eletricidade gerada a partir da bio− massa da cana−de−açúcar passa a fi− gurar cada vez com maior destaque, como uma das possíveis e concretas soluções para se dirimir o problema.
Para Zilmar Souza, gerente de Bioeletricidade da União da Indús− tria de Cana−de−Açúcar (UNICA), o setor elétrico brasileiro é hoje um dos mais renováveis entre as maiores economias mundiais, com 83% de renováveis em sua matriz, e destaca a importante contribuição da bioele− tricidade sucroenergética, que detém 12 GW e 7% de participação na ma− triz brasileira.
O último Plano Nacional de Energia indica que no melhor cená− rio a biomassa pode chegar a 29 GW em 2050, equivalente a mais do que duas Itaipu, mas no pior cenário pode ficar em apenas 13 GW, ou seja, cres− cimento imaterial até 2050. “Enten− demos que a atual contribuição da bioeletricidade é um diferencial geo− político e deve ser mantida, ou melhor, expandida nesse movimento global da transição energética, rumo ao melhor cenário de aproveitamento dessa im− portante fonte renovável e sustentá− vel” , analisa.
Atualmente, apenas 15% da ener− gia gerada a partir dos resíduos da ca− na−de−açúcar são aproveitados na re− de nacional de energia (Sistema Inter− ligado Nacional). Levantamento da UNICA e da Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia) aponta que centrais movidas a bio− massa principalmente de bagaço de cana poderiam gerar 1.249 GWh (gi− gawatts−hora) adicionais em energia entre julho e dezembro de 2021 e mais que o dobro disso em 2022 com medidas de incentivo do governo, co− mo um leilão emergencial para com− pra da produção extra.
Por ser de baixo carbono, estima− se que a geração de bioeletricidade de cana em 2020 tenha evitado adicio− nalmente a emissão de 6,3 milhões de toneladas de CO2, marca que so− mente seria atingida com o cultivo de 44 milhões de árvores nativas ao lon− go de 20 anos.
Em 2020, a oferta de bioeletrici− dade para a rede nacional de energia pelo setor sucroenergético cresceu 1% em relação a 2019, com um volume de 22.604 GWh. Sendo que 83% des− se total foi ofertado no período seco, entre maio e novembro – período de diminuição de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas.
Em recente Fórum, promovido pela LIDE de Energia, diversos espe− cialistas do setor se reuniram para dis− cutir a transição da matriz energética.
Para o CEO da Tereos, Pierre Santoul, o Brasil é destaque mundial quando se fala em energia limpa, com quase 50% de sua energia pro− veniente de fontes renováveis. E com relação à oferta interna, 48,5% dessa energia limpa é proveniente da cana−de−açúcar. Para ele é indis− pensável que nesse processo de transição sejam considerados os combustíveis. para o mercado de trabalho, pois hoje, no mundo, temos cerca 2,5 milhões de pessoas empregadas gra− ças ao setor de combustíveis não fósseis. E no Brasil, 1 milhão é o número de pessoas que o setor su− croenergético emprega direta ou indiretamente ” , lembrou. 2% é o que representa o setor no PIB do Brasil. Para Pierre, além da clara relevância na geração de em− prego e renda, o setor se destaca na questão sócio ambiental. “O Reno− vaBio deve contribuir nos próximos 10 anos, com a redução de 606 mi− lhões de toneladas de CO² na at− mosfera ” , afirmou.
O presidente da Toyota, Rafael Chang, considerou que “ num futuro próximo, será o consumidor quem decidirá qual a tecnologia com im− pacto socioambiental ele usufruirá” . Chang ressaltou que o objetivo da companhia é estar um passo à frente nos investimentos tecnológicos que tragam benefícios ambientais, mas trabalhando de maneira e com prazos realistas. Ele destacou que o Brasil tem uma oportunidade gigantesca, precisamente por contar com matriz energética tão limpa. Segundo o pre− sidente da Toyota, o caminho para o carbono neutro, é um caminho sem retorno, porém a velocidade com que isso vai acontecer dependerá de pla− nejamento e ações muito coordena− das entre os atores envolvidos.
LÍDER ENERGIA
Rafael Chang
Pierre Santoul