KLEBER CARVALHO DOS SANTOS MARIA ARACI MAGALHÃES SANTINA APARECIDA FERREIRA MENDES ORGANIZADORAS
O FAZER DA EXTENSÃO NO IFNMG: Retrospectivas e Perspectivas
Montes Claros 2019
SUMÁRIO Entre vontade assistencial e o processo contínuo e negociado
Kleber Carvalho dos Santos/Maria Araci Magalhães................................................................................. 09
Campus Almenara: um farol extensionista iluminando os Vales Gerais.
Angela Gama Dias de Oliva/Joaquim Neto de Souza Santos/Joan Bralio Mendes Pereira Lima/ Kleber Carvalho dos Santos/Santina Aparecida Ferreira Mendes..................... 27
O Fazer da Extensão no IFNMG: uma reflexão baseada nas ações de
Extensão do campus Araçuaí
Marli Pinheiro de Aguilar/Narjara Fonseca Souza/ Ricardo Jardim Neiva/Santina Aparecida Ferreira Mendes................................................................................................. 41
Memórias e Estórias: o fazer da Extensão no IFNMG - campus Arinos
Josué Reis Batista Júnior/Daiane Aparecida Ribeiro Queiroz/Marcele Maria Ferreira Lopes/Cláudio Márcio Dias Ferreira................................................................................. 53
Do Espinhaço ao Ato: relatos de ações extensionistas dos primeiros anos do IFNMG campus Diamantina
Carla Pereira Silva/Emerson Delano Lopes/João Antônio Motta Neto/Paulo Giovane Aparecido Lemos/Josilene de Fátima Cardoso de Sá................................................................................... 69
A Extensão Dialógica: falando e ouvindo no Vale do Gorutuba
Kleber Carvalho dos Santos/Santina Aparecida Ferreira Mendes/WadingthonVeloso e Silva/Hellen Vivian Moreira dos Anjos/Fernando Nunes dos Santos.................................................... 81
A Extensão em destaque: desafios e Perspectivas no IFNMG-
campus Januária
Eduardo Souza do Nascimento /Ivy Daniela Monteiro Matos/Izabel Alves Macedo Mendes/Kleber Carvalho dos Santos/ Suzana Alves Escobar ...................................................................91
Extensão no campus Montes Claros IFNMG: o Fazer
Extensionista nas Trilhas do Coração Robusto da Princesinha do Norte
Rony Enderson de Oliveira/Mário Sérgio Costa da Silveira......................................................................109
Campus Pirapora: Uma ponte extensionista neste porto da história
de Minas
Alessandro Carneiro Ribeiro/Lunna Chaves Costa/Maria do Socorro Vieira Barreto/Rony Enderson de Oliveira/ Santina Aparecida Ferreira Mendes.......................................................................117
Relatos e percursos da memória extensionista do campus Porteirinha Igor Sérgio de Oliveira Freitas/Santina Aparecida Ferreira Mendes/Graziela Ferreira da Silva/Pedro Paulo Pereira Brito/ Joyce Meire da Silva França..........................................................131
Da Escola Agrotécnica ao IFNMG campus Salinas: Uma busca incessante pela interação dialógica no fazer extensionista
Fernando Antônio Tomé/Maria Araci Magalhães/Romildo Lopes de Oliveira/Rosilene Reny Soares Leal/Santina Aparecida Ferreira Mendes.............................................................................. 143
A Prática Extensionista no IFNMG - campus Teófilo Otoni Maíra Queiroz Rezende /Yuri Bento Marques/Luara Cristiane Dourado Neves ..................................165
Apresentação
No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas (IFNMG), a extensão está articulada ao ensino, em todos os níveis e modalidades da educação profissional e tecnológica, e à pesquisa, trabalhando de forma indissociável para que a relação entre este instituto e as comunidades, interna e externa, propicie o desenvolvimento social e regional e o aprimoramento das políticas públicas. Ao reconhecer a importância da diversidade ambiental, social, cultural e econômica de sua área de atuação, o IFNMG amplia o alcance de suas ações, garantindo a oferta de educação gratuita e de qualidade por meio da ação de seus campi e da busca pela criação de novas unidades. E cada campus instalado traz consigo a responsabilidade de interagir com a população local e dos arredores para conhecer as potencialidades e as necessidades da região e de seu público-alvo. A partir do reconhecimento das características locais e regionais, os campi têm condições de propor ações que auxiliem na busca por resultados que realmente transformem a realidade dessas comunidades. Assim, os projetos de extensão são concebidos, considerando-se os problemas e o potencial local a fim de atuarem na solução de questões que afetam negativamente a população e na divulgação do que a região tem de melhor, atraindo benefícios para as localidades. O livro de extensão “O fazer da Extensão no IFNMG: retrospectivas e perspectivas” vem trazer, ao público em geral, uma visão do trabalho extensionista ao longo da existência deste Instituto. Oportunidade em que poderemos mergulhar um pouco na história da instituição por meio dos relatos dos campi e, principalmente, conhecer os projetos desenvolvidos a partir do funcionamento de cada campus. Esses projetos refletem o cotidiano e a diversidade enfrentada pelas unidades deste Instituto ao tratarem de situações específicas de cada região, mostrando que o IFNMG mantém seu compromisso de contribuir para o progresso socioeconômico local, regional e nacional, almejando sempre o desenvolvimento sustentável e a integração com a comunidade e com o setor produtivo. Os artigos que compõem este livro refletem também a visão dos campi, -5-
com relação aos projetos de extensão, na perspectiva do desenvolvimento de seus discentes, docentes e demais servidores, que, assim como a sociedade local, beneficiam-se do desenvolvimento dessas ações, gerando experiência em consonância com o conhecimento: o saber e o fazer caminhando juntos, em prol da educação. Desejo que a leitura desta obra inspire a comunidade acadêmica a desenvolver sempre o seu melhor, e que a sociedade em geral possa, de fato, conhecer o árduo, mas recompensador, trabalho que todos os campi executam por meio da extensão, em favor das comunidades nas quais interagem. Prof. José Ricardo Martins da Silva Reitor do IFNMG
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Prefácio
“Numa sociedade cuja quantidade e qualidade de vida assenta em configurações cada vez mais complexas de saberes, a legitimidade da universidade só será cumprida quando as atividades, hoje ditas de extensão, se aprofundarem tanto que desapareçam enquanto tais e passem a ser parte integrante das atividades de investigação e de ensino”. Essa citação do professor Boaventura de Souza Santos está em perfeita articulação com as diretrizes das ações extensionistas no âmbito do IFNMG como sendo um espaço privilegiado de diálogo, de produção e de difusão do conhecimento e práticas produzidos no âmbito da tríade formativa de tal modo que ensino, pesquisa e extensão se imbriquem na tessitura de uma mesma direção: a escuta ética, cidadã e sensível das demandas das comunidades. É esta a concepção ético-política que acolhemos como norte para nossas ações extensionistas, compreendidas, não somente como institucionalização de programas, projetos e ações, mas, sobretudo, como um percurso possível para a formação de sujeitos educandos e profissionais cidadãos comprometidos com sua realidade e concatenados com a função social do conhecimento através do processo de democratização, de inclusão e de transformação social. Para além do genuíno desejo de alçar as ações extensionistas desenvolvidas nos cenários férteis dos campi e enfatizar o necessário debate da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, a proposta da produção deste livro foi a de resgatar e dar maior visibilidade ao fazer extensionista no IFNMG, buscando ressaltar as suas retrospectivas e prospectivas, como também registrar a história e a memória destas práticas, destes fazeres e saberes de nossas comunidades escolares/acadêmicas e do entorno ao IFNMG, desde os tempos em que algumas unidades do Instituto ofertavam a formação de profissionais, sob a denominação de Escola Agrotécnica e Cefet, até o presente momento, em que, consolidadas em Institutos federais, conectam-se com as novas perspectivas extensionistas na atual estrutura organizacional e nas exigências do mundo contemporâneo. -7-
A leitura dos artigos nos dá o tom e a cor da propositura educativa quealmejamos para as atividades de extensão. Essas têm alicerces pautados em um projeto de instituição que desejamos ser considerado e visto como um importante mediador e aliado das interações sociais, das dimensões do mundo do trabalho, da inclusão social, das políticas públicas. O intuito é que as extensões representem um farol iluminando as demandas, as agruras, os sonhos e a avidez destas gentes dos vales, montes e sertões. É nesta perspectiva que queremos e estamos construindo o nosso caminhar extensionista. Este livro, que ora vos apresento, traz o resultado de uma pesquisa exploratória assentada e legitimada nas/pelas memórias e histórias de quem fez, faz e continua fazendo essa profusa experiência de aprendizagem e de transformação social nas cercanias de nossas unidades federais de ensino. Ao longo do processo de execução dos projetos,quer sejam na área social, de extensão tecnológica que sejam nas áreas artísticas e culturais, ouvimos relatos e depoimentos profundamente marcados pelas vivências extensionistas nas vozes entusiastas, afetivas, sensíveis, perceptivas e de aprendizado dos estudantes, servidores e sociedade. Desses relatos foi retirado o oportuno aprendizado de que precisamos romper os muros de nossa instituição porque é isso que dá o sentido pleno para nossa existência. Problematizar, discutir e refletir acerca destas experiências e vivências extensionistas dos nossos discentes e servidores numa relação dialógica com nossas comunidades e de como esse processo possibilita a apreensão da realidade e possibilita aliar a teoria à prática, permite-me tomar como minhas as palavras do educador Paulo Freire: “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Neste sentido, agradeço imensamente a todos que contribuíram para que legássemos esse fazer extensionista para esta e para as futuras gerações. Por fim e motivada pelo orgulho e deleite, deixo o convite à leitura do livro “O Fazer da Extensão no IFNMG: Retrospectivas e Perspectivas”, o qual certamente, será mais eloquente do que meu breve discurso. Afetuoso abraço, Maria Araci Magalhães Pró-reitora de Extensão do IFNMG
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Retrospectivas e Perspectivas
Entre vontade assistencial e o processo contínuo e negociado Kleber Carvalho dos Santos1 Maria Araci Magalhães2
Resumo As situações-problema advindas das comunidades ao entorno da Instituição de Ensino devem ser ponto de partida para se agregar as experiências cotidianas dos atores locais, os habilitando-os a formularem os seus próprios projetos de desenvolvimento, interagindo com os projetos apresentados por agentes externos? É responsabilidade da extensão desenvolver e implementar estratégias, visando integrar as comunidades ao seu entorno, transformando-as em participantes de mudanças locais? O Assistencialismo e políticas compensatórias devem guiar as ações de extensão? A difusão tecnológica e de conhecimento é a prática da extensão? A difusão de tecnologias produzidas no âmbito do IFNMG não é a maior responsabilidade do fazer extensionista? Estas assertivas, são as bases para identificar e discutir com qual entendimento as ações de extensão são orientadas nos diversos campi do IFNMG. No intuito de responder às questões evocadas, utilizou-se a pesquisa de cunho exploratória amparada na análise dos relatos de extensão inseridos nas três edições da Revista Institucional da Extensão – Contação. Justifica-se a análise ao prover a crítica e indicar novo caminho teórico para o fazer extensionista da Instituição. Percebeu-se formas e orientações diversificadas de intervenção adotadas pelo IFNMG, adotando desde formas assistencialista até formas dialógicas. Porém não se tem como base conceitual a ideia de ser as intervenções processo contínuo e negociado. Palavras-chave: Extensão. Intervenção. Contínuo. Negociado.
1 Professor Titular do IFNMG, Graduado em Administração, Ciências Contábeis, Licenciado em Economia Rural, Mestre em Administração de Empresas e Doutor em Desenvolvimento Rural. 2 Professora do IFNMG, Graduada em Geografia e Administração, Mestre em Geografia e Doutora em Geografia com dupla diplomação: Universidade Federal de Uberlândia e Universidade do Minho - Portugal
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Retrospectivas e Perspectivas
Introdução O Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), criado a partir da união do Centro Federal de Educação Tecnológica de Januária e a Escola Agrotécnica de Salinas, vem fazendo extensão de forma continuada a partir de 2008, porém, mesmo antes desta data, as duas unidades formadoras tinham experiências em intervenções em comunidades ao seu entorno. A questão central posta neste estudo é: a partir de qual base conceitual se realiza extensão no âmbito do IFNMG ? O conceito de “extensão universitária” é um conceito em disputa. Historicamente vai da disseminação dos conhecimentos técnicos, no sentido de levar, depositar, dar ao povo; passando pela ideia, nas universidades americanas, de prestação de serviços; indo para as universidades populares europeias onde a concepção é disseminar e consolidar conhecimento por meio “de cursos voltados para os ausentes da instituição que, sem formação acadêmica regular, desejam obter maior grau de instrução”(TAVARES, 1996, p. 27). Na América Latina, com destaque para o Movimento de Córdoba, vinculada aos movimentos sociais, indica como essência da extensão universitária a sua relação com a sociedade, sendo função social da universidade os problemas nacionais e a luta contra as ditaduras regionais e o imperialismo (BLONDY, 1978). Segundo Rocha (2001) esta concepção também seria incorporada pela União Nacional dos Estudantes (UNE). O Ministério da Educação e Cultura (MEC) (BRASIL/MEC, 1985) entra na seara da discussão conceitual e fundamentando-se na diversidade de atividades da extensão procura identificar a natureza da extensão. Assim indica como atribuição da extensão como sendo a “difusão dos conhecimentos obtidos; a continuidade dos serviços oferecidos à população; a contínua ação recíproca entre a extensão, por um lado e, por outro, o ensino e a pesquisa” (Ibid., p.32). Já o I Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão de Universidades Públicas, em Brasília indica a extensão como “Processo educativo, cultural e científico que articula, o ensino e a pesquisa de, forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e a sociedade”. A extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. - 12 -
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Neste sentido Gurgel (1986), ao construir uma retrospectiva ideológica sobre a trajetória da extensão universitária no Brasil, assevera estar, inicialmente centrada na prestação de serviços/assistencialismo. Pode-se apresentar este momento inicial da extensão como autoritário, que desconhecendo a cultura e o saber popular, apresentava-se como detentora de um saber absoluto, superior e redentor da ignorância. Tem-se como nascedouro o movimento produzido pelas ações educativas desenvolvida pelos jesuítas “fora do muro de seus colégios”, que tinham como objetivo a ação filantrópica, o atendimento aos pobres; bem como do movimento cooperativista do século XIX, de Owen. Mas esse “modus operandi” da extensão ainda não insiste e persiste nos tempos atuais? De modo diferente, a ação de extensão pode adotar o tom professoral, quando o “receptor” é visto como forma acolhedora de conhecimento advindos do pensamento de excelência, forjado em centros de saberes. A difusão via receituário, com a transmissão de sangue, se torna vital e determinante para aqueles que são identificados como os que nada sabem e têm, e por isso, devem receber o conhecimento notório de quem sabe. Este modelo conforme (AlENCAR, 1997) não tem o propósito de construir um espaço garantidor da comunicação livre das coerções e sim de invadir o território do outro a meros objetivos de sua ação. Também indaga-se: isto não é atual? De forma semelhante, mas ao reverso da proposição anterior, indica-se haver saberes diversos, sendo o saber científico apenas um deles. O reconhecimento dos saberes locais é parte e vetor para escolha dos caminhos a seguir, quando se busca o desenvolvimento de uma comunidade. (CHAMBERS, 1983) Percebe, grosso modo, a prática do fazer extensionistas, acolhendo esta diretriz? Também é indicado a possibilidade, dos atores imersos nas comunidades, mesmo em condições as mais adversas e amarrados em estruturas de dominação, subserviência, necessidades plenas, forjarem ações cuja essência remete para constituírem modos de vida específica e autônoma. Assim o desenvolvimento de um espaço para Long (2007) não é promovido por determinismo externo e estabelecido apenas por meio de conhecimento técnico-científico alheio aquele lugar. É formado pela agregação das experiências cotidianas dos atores locais, os habilitando a formular os seus próprios projetos de desenvolvimento interagindo com os projetos apresentados por agentes externos. (SANTOS, 2013) E o acolhimento deste entendimento é recepcionado na prá- 13 -
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tica da extensão? É sob essa diversidade de pensamentos do fazer extensionistas e indagações que realiza-se a investigação no sentido de compreender como se encaminha as ações do fazer extensionista no âmbito do IFNMG. Buscar-se-á por meio da análise dos relatos inseridos nas três edições da Revista Contação da Proex, responder as questões centrais orientadoras deste Artigo: as situações-problema indicadas pelas comunidades ao entorno da instituição de ensino, devem ser ponto de partida e chegada para se agregar as experiências cotidianas dos atores locais, os habilitando a formular os seus próprios projetos de desenvolvimento interagindo com os projetos apresentados por agentes externos? É responsabilidade da extensão desenvolver e implementar estratégias, visando integrar as comunidades ao seu entorno, transformando-as em participantes de mudanças locais? O assistencialismo e políticas compensatórias devem guiar as ações de extensão? A difusão de tecnologias produzidas no âmbito do IFNMG não é a maior responsabilidade do fazer extensionista? Justifica-se o estudo por permitir refletir como enxergamos o outro que se encontra envolvido no processo da intervenção. Também se ganha ao compreender a diversidade de pensamentos elaborados nas academias sobre o conceito e a função da extensão. Outro, é o refletir sobre a perspectiva mais adequada para o fazer extensionista no IFNMG. Este ensaio encontra-se estruturado, em cinco seções. Além desta introdução, são apresentados na segunda seção os modelos de intervenção em comunidades, demonstrando, com base em diversos autores, as suas limitações e perspectivas. Na terceira seção procura-se apresentar os aspectos conceituais da Perspectiva Orientada ao Ator (POA), lastreando-se principalmente no autor Norman Long. Na quarta seção, elabora discussão a partir dos editoriais e relatos de extensão inseridos nas três edições da revista Contação, sobre o fazer extensionista no âmbito do IFNMG. A última seção, dedica-se as considerações finais.
Do assistencialismo a intervenção dialógica O contato com a vida social por meio da “extensão universitária”, (MARIÁTEGUI, 1928) serviria de base para greve dos estudantes de Córdoba, Argentina, em 1918, que declararam: “As universidades chegaram a ser assim o fiel reflexo destas sociedades decadentes, que se empenham em oferecer o - 14 -
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triste espetáculo de uma imobilidade senil”. (MANIFIESTO, 2008, p. 194) Como a experiência de Córdoba viria impactar as universidades brasileiras, nesta época, especificamente no fazer extensionista? Pode-se asseverar que, no primeiro momento, praticamente em nada. O Estatuto da Universidade Brasileira – Decreto nº 19.851 de 11 de abril de 1931 Art. 42, atribuía A extensão universitária a “difusão de conhecimento úteis à vida individual ou coletiva, à solução de problemas sociais ou a propagação de ideias e princípios”. A ideia de difusão e propagação, já sinalizava para o não reconhecimento do outro, “o recebedor”, como capaz de agência. Entendendo agência baseando na definição de Long (2007), como sendo a capacidade de processar a experiência social e desenhar maneiras de lidar com a vida, mesmo sob as formas mais extremas de coerção. Neste sentido os atores têm capacidade de saber e agir. O enfoque de difusão/propagação, seria questionado nos anos de 1960, sendo substituído pela vontade de “inserção na realidade socioeconômica”, mas logo deixado de lado, quando da Reforma Universitária de 68, cuja centralidade indicava a indissociabilidade entre ensino/pesquisa/extensão, no caráter não dialógico e no reforço da difusão tecnológica e no direcionamento ao assistencialismo. Duas ações, uma de cunho assistencialista o Projeto Rondon e outra de cunho difusionista de inovações, capitaneada pelos EUA, denominada modernização conservadora da agricultura (Revolução Verde) marcariam de forma significativa a atuação extensionista brasileira. Esta última, centrada na perspectiva funcionalista e tendo como veio a comunicação de massa e voltada com o intuito de prover o desenvolvimento rural. (DeFELUR e BALL-ROKEACH, 1993; McQUAIL, 1994) Assim, Segundo (BOURDON e BOURRICAUD, 2001 p.161) difusão é “[...] o processo pelo qual uma informação [...] uma opinião, uma atitude ou uma prática [...] se expandem numa população dada”. Quanto à inovação nas palavras de Roger e Shoemaker (1971 p. 12) “[...] é uma ideia, prática, ou objeto que é percebido como novo por um indivíduo ou outra unidade de adoção”. Em suma, a difusão tornou-se “mainstream” nas terras brasileiras. Os agricultores adotantes da inovação eram identificados como modernos, enquanto, os outros eram qualificados com atrasados. Também neste mesmo tempo, outra ação, de cunho nacionalista e acolhido pelas universidades brasileiras, toma lugar de destaque na prática extensionista brasileira: o Projeto Rondon. Em sua primeira fase tomou-se como de- 15 -
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safio o enfrentamento de problemas sócioeconômico e ambientais brasileiros. Santos e Mendes (2005) asseveram ser objetivos do programa a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, gerando ganhos para o Brasil, via integração nacional e ao mesmo tempo preparando os universitários para o exercício da cidadania. Como forma de contraposição aos modelos, cuja intenção era receitar soluções, principalmente o modelo inspirador da Revolução verde, Chambers (1983) aponta como desafio o ato de ouvir e aprender com os agricultores, encorajando-os a expressarem suas categorias, definições e prioridades e tratá-los não somente como colegas e colaboradores profissionais, mas também como professores. O entendimento deste autor é que os cidadãos participantes do processo de intervenção devem desempenhar papel ativo e central nas ações de desenvolvimento. De forma mais assertiva, Freire descreve que “o conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles que se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações.” (FREIRE, 2006, p. 36) Neste sentido, Santos (2013), recorrendo a Freire (2006b) relata ser o ato de extensão, uma ato educativo, onde nessa inter-relação da aprendizagem se travam conhecimentos diversos originados em espaços diferentes onde interesses difusos, valores e crenças se manifestam. Assim, o conhecer, na dimensão humana para Freire, não é o comportamento dócil, passivo e domesticado do sujeito transformado em objeto, e com tal comporta-se no ato da aprendizagem. Críticas são trazidas ao lume a estes modos de pensamento especificamente a questão da idealização do conhecimento popular, identificando este como mais apropriado que o científico. Apontam (KITCHING, 1989) haver uma interpretação acrítica dos conhecimentos idealizados. De modo semelhante, e aqui aplicando as intervenções de cunho prescritiva, pode recorrer a Habermas (1987), que assegura haver um desgaste progressivo e um distanciamento significativo entre as relações travadas no dia a dia e os interesses da burocracia e do mercado, mediados pelo dinheiro e poder, autonomizados, aninham-se sub-repticiamente aos atos de fala e se instalam no mundo vital cultural, provocando diversas patologias. Na perspectiva de enfrentamento destes dilemas, ou patologias, Habermas (1987) propõe o - 16 -
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direcionamento das conquistas das ciências incorporadas nas tecnologias para o desenvolvimento das inter-relações. Interrelações onde as partes reconheçam a individualidade a autonomia dos participantes. Segundo Abbagnano (1999, p. 97), o termo autonomia foi introduzido na filosofia por Kant para “determinar a interdependência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto do desejo e a sua capacidade de determinar-se em conformidade com uma lei própria, que é a da razão”. Nessa direção o reconhecimento da autonomia em extensão pode estar vinculada a para que, para quem e como devemos produzir e difundir conhecimento (BUARQUE, 1994). E mais ainda a capacidade individual das pessoas narrarem suas histórias e dentro do enredo, construir a troca de experiências. Neste sentido de validar as narrativas e reconhecer o poder de agência humana dos envolvidos no processo de intervenção extensionista, é que ampara-se na Perspectiva Orientada aos Atores, como abordagem a auxiliar no entendimento e respeito as partes envolvidas no processo: o cidadão, o aluno e o professor. Também segundo Contreras (2002), uma autonomia madura requer um processo de reflexão crítica no qual as práticas, valores e instituições sejam problematizados.
O Projeto Construído Continuamente Para Long (2007, p. 127) deve-se recorrer, quando das intervenções às “[...] narrativas, interesses, repertórios culturais, ações estratégicas e modos de sustentos” das partes envolvidas. Também entende não haver um plano com resultados previamente esperado, por trata-se de um processo contínuo e socialmente negociado. Ao vincular a intervenção a processo negociado, Long (2007) rompe com discussões cujo posicionamento sustentam-se em métodos de indicação de desenvolvimento gerado por ações vindas “de cima para baixo”, de “baixo para cima”, tutoriais, prescritiva ou de forma não dialógica. Mais ainda, retira a valoração superior de conhecimento de especialistas, porém não idealiza o conhecimento prático. A valorização se dar pelas capacidades organizadoras desenvolvidas no local onde ocorre a trama da intervenção. De outra forma, os atores utilizam-se dos recursos materiais e simbólicos para influenciar sua interação com os outros atores. Também aprendem a experimentar e a querer experimentar, traduzindo em novos relacionamentos, - 17 -
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novos significados, gerando novos propósitos e projetos novos dentro dessa arena de interesses. Nesta maneira de encarar a extensão, empreende-se fuga da questão de “dar” poder a quem se encontra apenas como receptores passivos da dádiva. Entende-se que os indivíduos, mesmo submetidos as mais extremas formas de coerção agem no sentido de reagirem à situação tanto no sentido de confirmá-la como de transformá-la. Desta forma, agem na tessitura dos acontecimentos e nesse sentido revelam “poder”. (ROMANO, 2002) Assim, pode-se entender, conforme indicado por Santos (2013) a partir do conceito de agência moldado por Long (2007) que ao conceber a intervenção não como um plano ou estabelecida de forma planejada, para processo contínuo, leva a discussão para outra esfera. O posto é entender como os fatores externos advindos por meio do processo de intervenção afetam a vida dos indivíduos e concomitantemente são afetados por esses; o reverso também acontece, surgindo as iniciativas do interior para fora. Este entendimento acolhe que mesmo os processos de intervenção instituídos fora dos espaços onde se destinaram são ressignificados, reinterpretados e transformados quando da sua execução pelos envolvidos (atores, mediadores e organizações locais). Esta base teórica, do assistencialismo a processo de intervenção elaborado de forma contínua pelas partes envolvidas, guiaram as análises dos relatos de extensão inseridos nas três edições da Revista Contação.
Intervenção como determinador da prática extensionista Recortes dos Editoriais das edições da Revista Contação, revelam, a cada ano, como os gestores da Pró-Reitoria de Extensão, descrevem o entendimento sobre o fazer da extensão do IFNMG. A primeira edição, a diretriz para a Extensão era “acolher demandas e saberes diversos e superar a dicotomia e a dominação do conhecimento acadêmico sobre o popular”; no outro o sentido foi colaborar “para democratizar o acesso e a produção de conhecimentos, ao reconhecer diferentes sujeitos como produtores de saberes importante a transformação e democratização social”; e, no terceiro, “o exercício humano da construção das redes de solidariedade e conhecimento, entre nossa instituição e a comunidade externa”. Extrai-se da análise destas escritas direcionamentos e preocupações em conduzir a extensão do IFNMG, para a visibilidade dos dois saberes, o aca- 18 -
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dêmico e o popular, seja pelo reconhecimento do outro, seja ao reconhecer diferentes sujeitos como produtores de saberes, na construção das redes de conhecimento ou acolher demandas e saberes diversos e superar a dicotomia e a dominação do conhecimento acadêmico sobre o popular”. Não percebeu a diretriz de tratar a extensão como processo continuamente negociado. Este entendimento avança sobre a ideia de reconhecimento do outro e de seus saberes, por conta de tratar a ação da extensão não como um plano ou um planejamento já elaborado, e sim como uma proposição inicial com abertura ampla para ser acolhido, ressignificado e transformados quando da sua execução. Quanto aos relatos inseridos nas edições, percebe-se direcionamentos múltiplos. O primeiro vincula-se a redução das desigualdades sociais, seja com o provimento aos cidadãos de oportunidades, práticas compensatórias e trocas afetivas. Nestas ações não incluem uma reflexão sobre as desigualdades presentes na sociedade e atuam mais em estar presente nestes lugares, como suavizadores do sofrimento ou necessidade alheia. A extensão baseia-se no atendimento das carências imediatas da população, numa perspectiva apolítica e assistencialista. Ao encontro desta dinâmica a solidariedade e generosidade são os inspiradores da ação. As narrativas a seguir, confirmam esta análise quando mencionam ‘‘busca criar elos com as comunidades carentes e tirar adolescentes da situação de risco social!”; ou na fala de que a intervenção consentida nos espaços sociais de acolhimento de idoso, crianças e apenados, foi a convicção de que somente podem ter resolutividade, mediante a manifestação da solidariedade humana. (REVISTA 1, p. 23, 33) Outro direcionamento se remete a geração de renda e inclusão social dos cidadãos ao entorno do IFNMG, por meio de emprego de tecnologia, melhoria do processo de gestão, organização social dos produtores. Nesta perspectiva a extensão se investe na posição do Estado, dando suporte técnico, capacitações e, inclusive prover recursos em editais para o estabelecimento de grupos produtivos. Implícito fica a função articuladora da extensão entre as demandas sociais e o IFNMG. O relato extraído subsidia a discussão anterior quanto ao aspecto da geração de renda, neste sentido uma narrativa do projeto menciona ter “como objetivo principal capacitar e fortalecer o grupo comunitário empreendedor, contribuindo para a geração de renda”. (REVISTA 1, p. 12) Também é manifesta o direcionamento para disseminar e consolidar co- 19 -
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nhecimento por meio de cursos voltados para os ausentes da instituição que, sem formação acadêmica regular, desejam obter maior grau de instrução, faz-se também presente nos relatos de extensão, seja pela inclusão digital, pela oferta de cursos de Formação Inicial e Continuada, por prática da consultoria e pelo manejo de animais. Contudo a difusão de conhecimento incorporado a técnica e tecnologia ainda é vertente significativamente presente e pode ser visto nos relatos seja por meio da elaboração de equipamento (REVISTA 1, p. 52); pela introdução de fogões de queima limpa, na prática de manejo de animais, da flora e do processo de gestão (REVISTA 2, p. 48, 52) e (REVISTA 3, p. 60, 76). Nestes casos, a ação de Extensão pode adotar o tom professoral, quando o “receptor” é visto como forma acolhedora de conhecimento advindos do pensamento de excelência, forjado em centros de saberes. A difusão via receituário, com a transmissão de sangue, se torna vital e determinante para aqueles que devem receber o conhecimento notório de quem sabe. Também a forma de idealizar ou priorizar o conhecimento popular, onde os conhecimentos e técnicas locais são colocados em primeiro plano podem ser visto em vários relatos e sob fundamentações diversas. A execução dos projetos sustentaram em diversos entendimentos, como tratar-se de experiência “realizada numa prática diferenciada de extensão rual, que buscava o desenvolvimento comunitário, a partir da valorização humana e do respeito à cultura do povo” (REVISTA 1, p. 7); e, “As tecnologias sociais, setor notadamente potencial, não são percebidas pela maioria dos gestores (…) como sendo fundamentais para implantação de programas estratégicos” (...). (REVISTA 1, p. 46) Porém a forma mais recorrente de se realizar a intervenção via IFNMG nas comunidades é a que busca desenvolver e implementar estratégias, visando integrar as comunidades ao seu entorno, transformando-as em participantes de mudanças locais. Pode-se compreender esta escolha nas seguintes descrições onde a forma é a “difusão das técnicas tradicionais realizadas pela comunidade vazanteira (…), bem como das técnicas agroecológicas realizadas no Campus (…), numa troca mútua de conhecimento” (REVISTA 1, p. 39 ); na qual tem-se a oportunidade de “(…) intensa troca de saberes e experiências”. (REVISTA 1, p. 14) Na prática, esta forma de se fazer extensão se traduz e se manifesta conforme se confrontava com as diversidades das realidades comunitárias por um lado e as estratégias de atendimento, intervenção e mediação pelas partes - 20 -
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interessadas, por outro. Pode tomar a forma assistencial e de política compensatória, quando a justificativa aparente é a emergência das comunidades e as suas necessidades. Em outras a difusão de tecnologias se coloca como a estratégia mais imediata para solução das questões postas. Também a vontade de dialogar e trocar saberes é diretriz em muitos momentos. E até a capacitação se apresenta como forma de realizar o pretendido pela intervenção.
Considerações finais Chega-se a um entendimento de impossibilidade de discussão da Extensão sem trazer para o centro da reflexão o projeto global de Instituto Federal do Norte de Minas Gerais que buscamos. Por conta do fazer extensionista estar vinculado a realidade (ao mundo da vida) e ter a possibilidade de propor estratégias diversas para o fazer acadêmico e institucional. Isto não vincula o fazer acadêmico e institucional a ideia de que um grupo de professores e alunos possam libertar os cidadãos em situação de vulnerabilidade ou se transformar em agente político responsável pela transformação social, econômica e política de um espaço social. Mas se prende a possibilidade de cumprir com a sua missão institucional e transbordá-la para a articulação e organização das comunidades, aumentando a autonomia dos seus cidadãos. É sob esse entendimento de não haver um plano com resultados previamente esperado, por trata-se de um processo contínuo e socialmente negociado com os envolvidos, que se pode construir um modo de intervenção diferente em comunidades. Assim a partir de identificação de situação-problema da comunidade ao entorno dos diversos campi do IFNMG e o encaminhamento destes como desafio a comunidade acadêmica, para essa interagir com a demandante e encaminhar a solução via processo contínuo e negociado, valorizando-se a possibilidade de construir o conhecimento, tendo-se por base todos os envolvidos no processo de intervenção e não apenas um polo como ativo. Concebe-se a ação de extensão, como um ato educativo, onde nessa inter-relação da aprendizagem se dinamizam conhecimentos diversos originados em espaços diferentes onde interesses difusos, valores e crenças se manifestam. Se acolhido esse entendimento, passa-se a ser a base do fazer institucional as situações-problema das diversas instituições e comunidades ao entorno do IFNMG. Os Trabalhos de Conclusão de Curso toma forma e vinculo com a realidade; as pesquisas respondem as questões para que, para quem e como - 21 -
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devemos produzir e difundir conhecimento e a extensão como bom comunicador, se investe na verdadeira vocação de criar as redes de inter-relação dos envolvidos. É importante entender inter-relação não contida apenas em duas pessoas, e sim uma convergência entre mundos da vida, entre campos sociais ou entre níveis de organização social onde divergência de valores, poder, interesses e conhecimentos podem ser identificados. Mais ainda, somente acolhendo este entendimento de interface social é que o chamamento governamental no sentido de destinar 10% da carga horária dos cursos superiores a prática de atividades de extensão pode ser atendida, sem que esta ação caia na vala comum da disciplinarização. Dessa forma, cada participante com seu repertório de conhecimento, cultural, com seus recursos e normas, em posição de interface, estabelecem inter-relações e constituem ações sociais bastante específicas e forjadas dentro do contexto da curricularização. É importante entender interface não contida apenas em dois lados, e sim uma convergência entre mundos da vida, entre campos sociais ou entre níveis de organização social onde divergência de valores, poder, interesses e conhecimentos podem ser identificados.
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Campus Almenara:
Um farol extensionista iluminando os Vales Gerais Angela Gama Dias de Oliva1, Joaquim Neto de Sousa Santos2, Joan Bralio Mendes Pereira Lima3, Kleber Carvalho dos Santos4, Santina Aparecida Ferreira Mendes5
Resumo O presente artigo trata-se de uma descrição e análise das práticas extensionistas desenvolvidas pelo campus Almenara, ao longo destes 10 anos de existência. Para além do registro da memória e da história deste fazer extensionista, o que se pretende é refletir e avaliar se estas ações têm contribuído de forma efetiva para o desenvolvimento socioambiental, cultural e econômico e para a autonomia das comunidades de abrangência do campus; se integram, efetivamente, às atividades do ensino e da pesquisa representando, assim, um dos suportes da indissociabilidade do tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, como preconizam as bases legais da Extensão na rede de Educação Profissional e Tecnológica e, por fim, se buscam formar profissionais comprometidos com as demandas da realidade local. Neste sentido, adotou-se como caminho metodológico a História Oral Temática (HOT) mediante entrevistas aos sujeitos envolvidos no processo. Utilizou-se também a pesquisa documental e bibliográfica: Relatórios de Gestão do IFNMG, Revista de Extensão “Contação”, legislações vigentes sobre extensão e trabalhos acadêmicos sobre o tema e sobre a região. Conclui-se que as ações extensionistas desenvolvidas no campus são de grande relevância para o desenvolvimento e autonomia da região em que se encontra inserido. Numa relação de diálogo constante com as comunidades, o campus vem buscando, cada vez mais, atender suas demandas e deixar suas marcas nesta paisagem vale jequitinhonhense tão relegada pelas políticas públicas, apesar das suas potencialidades. A extensão, nestes vales gerais, tem sido um passo importante em direção ao reconhecimento da extensão como um espaço de diálogo, de produção e difusão do conhecimento produzido. Palavras-chave: Instituto Federal. Extensão. Interação Dialógica. 1 Técnico Administrativo em Educação – Pós-Graduação em Gestão de Negócios com ênfase em pessoas 2 Professor do IFNMG, Licenciado em Biologia, Mestre e doutor em Biologia Animal 3 Professor do IFNMG, Médico Veterinário, Mestre e Doutor em Zootecnia 4 Professor Titular do IFNMG, Mestre em Administração e Doutor em Desenvolvimento Rural 5 Professora do IFNMG e Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
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Introdução Ruas (1998, p.46) afirma que “Almenara é um dos principais núcleos do nordeste de Minas Gerais, fazendo parte de uma problemática região, do ponto de vista socioeconômico e financeiro, denominada Vale do Jequitinhonha”. Esta visão é corroborada por Ansani (2016) ao argumentar que o Vale do Jequitinhonha traz sobre si, desde meados do século passado, o estigma de “vale da pobreza”, tendo sido alvo de projetos e programas governamentais com o objetivo de elevar os indicadores sociais da região, entretanto, pouca mudança foi observada devido ao fato de que estes programas e projetos, na sua implementação, não levavam em consideração as especificidades históricas, culturais e sociais da região. O Vale também é reconhecido por seus aspectos culturais como as danças, as músicas e o artesanato, sendo bastante povoado, entretanto, “de menor Índice de Desenvolvimento Humano de Minas Gerais, mas que ainda mantém grande diversidade produtiva, tanto vegetal, quanto animal, além da atividade extrativista”. (ANSANI, 2016, p.40) Em face do exposto, fica fácil afirmar que o campus Almenara representa um importante farol alumiando em direção ao reconhecimento da extensão como um espaço de diálogo, de produção e difusão do conhecimento produzido, que objetiva uma formação acadêmica contextualizada, dinâmica e cidadã capaz de promover o desenvolvimento e autonomia da região. O presente artigo pretende, assim, descrever e analisar as práticas extensionistas desenvolvidas pelo campus Almenara, ao longo de sua existência. O registro da memória e da história deste fazer extensionista permitirá que se reflita sobre se estas têm de fato contribuído para o desenvolvimento socioambiental, cultural e econômico e a para a autonomia das comunidades de abrangência do campus, se primam pela indissociabilidade do tripé formativo Ensino, Pesquisa e Extensão e se estão comprometidas com uma formação profissional cidadã capaz de atender as demandas da realidade local.
Metodologia
A pesquisa representa um estudo exploratório, explicativo e descritivo em um enfoque qualiquantitativo, mediada pela História Oral Temática (HOT), cujo objetivo é identificar e analisar o percurso extensionista percorrido pelo - 30 -
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campus, através de entrevistas com os envolvidos nesta prática. A HOT visa escrever a história nos dias atuais e se aplica ao que se convencionar chamar “História do Tempo Presente” porque discute a representação que as pessoas fazem, no tempo presente, do fato passado, através da memória (THOMPSOM, 1998). Utilizou-se também a pesquisa documental e bibliográfica: Relatórios de Gestão do IFNMG, Revista de Extensão “Contação”, legislações vigentes sobre extensão e trabalhos acadêmicos sobre o tema e sobre a região.
Caracterização e histórico do IFNMG campus Almenara O IFNMG campus Almenara está situado na cidade de mesmo nome, a qual se localiza no Vale do Jequitinhonha, região situada a nordeste do Estado de Minas Gerais. Vários rios cortam a região, entre eles, o Rio Jequitinhonha, que em tempos passados possuía sua maior praia fluvial, a Praia da Saudade. Devido ao inadequado processo de extração de ouro com a utilização de mercúrio, o rio sofreu imensos danos, os quais provocou a diminuição do seu volume d´Água e alteração do seu curso. Entretanto, a bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha ainda representa a esperança da região, porque apesar disso, é uma das cidades mais populosas e economicamente viável do Vale do Jequitinhonha. De acordo com Ferreira (2013, p.21) “A maioria das cidades localizadas às margens do rio Jequitinhonha originaram-se de antigos postos de vigilância instalados para fiscalizar o escoamento de ouro e diamante entre o Arraial do Tijuco (Diamantina/MG) e Belmonte/BA”. Com Almenara não foi diferente. Originada da língua árabe, a palavra Almenara significa “farol”. Belmonte, na foz do Jequitinhonha, na Bahia, até as nascentes do Rio, o Posto da Vigia, ou hoje, simplesmente, Almenara, mero posto de aquartelamento de tropas e sentinela avançada à margem direta do Jequitinhonha, estrategicamente localizado numa colina, tornou-se, nas eras antigas, o reduto inexpugnável para vigilância e combate de contrabando de pedras e ouro, garantindo também a segurança de populações que para ali iam se deslocando, à medida que a colonização progredia em todo o Vale. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALMENARA, 2018)
Face ao exposto, é fácil imaginar que o campus Almenara representa hoje um importante farol que vem apontando e vigiando grandes oportunidades de desenvolvimento e autonomia de suas comunidades de abrangência através da tríade: Ensino, Pesquisa e Extensão. - 31 -
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O Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - campus Almenara está situado na Rodovia BR 367, km 111, s/n, Almenara/Jequitinhonha, no município de Almenara - Minas Gerais , cujo município possui uma Área da unidade territorial (km²) de 2.294,426km, com população estimada em 2015 de 41.296 habitantes (IBGE, 2010). A história do IFNMG campus Almenara remete à Chamada Pública MEC/ SETEC nº 001 de 24 de abril de 2007, do Ministério da Educação, que acolheu propostas de apoio à implantação de 150 novas Instituições Federais de Educação Tecnológica no âmbito do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica – Fase II. A construção escrita da proposta de implantação deste campus, até então do Cefet, ficou na responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação de Almenara. Para esta construção ser consolidada, foram realizadas audiências públicas na cidade de Almenara as quais contaram com a participação efetiva da comunidade almenarense e do poder público. Em 29 de Janeiro de 2010, foi autorizado o funcionamento do campus. No dia 5 de Outubro de 2010, aconteceu o primeiro dia de aula do campus, no qual 120 alunos dos cursos Técnicos em Enfermagem, Informática e Gerência em Saúde foram recebidos por todos os servidores. Em 21 de outubro de 2010, ocorreu a solenidade de abertura do pleno funcionamento das atividades didático-pedagógicas do campus Almenara. O campus Almenara hoje é uma realidade no Baixo Jequitinhonha com capacidade de atender a região através da tríade: Ensino, Pesquisa e Extensão através dos cursos que oferta: Técnico de Enfermagem subsequente; Técnico de Informática Integrado ao Ensino Médio; Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio; Técnico em Zootecnia Integrado ao Ensino Médio; e, Técnico em Administração Concomitante e Subsequente. E os cursos superiores em Tecnologia em Análises e Desenvolvimento de Sistemas (ADS); Tecnologia em Processos Gerenciais; e, Bacharel em Agronomia.
Desenvolvimento A lei de criação dos Institutos Federais estabelece que as atividades de extensão “devem ser desenvolvidas de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica em articulação com o mundo do trabalho e segmentos sociais e, com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos”. (BRASIL, 2008) - 32 -
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De acordo com o Forproext - Fórum de Pró-Reitores de Extensão dos Institutos Federais, extensão pode ser assim definida: Processo educativo, cultural, social, científico e tecnológico que promove a in-
teração entre as instituições, os segmentos sociais e o mundo do trabalho com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos visando o desenvolvimento socioeconômico sustentável local e regional. (CONIF, 2013)
Com este propósito, o Campus Almenara vem desenvolvendo diversas atividades extensionistas como viagens técnicas, palestras, cursos, oficinas, eventos esportivos, sociais e culturais, estágio, assistência estudantil, acompanhamento de egressos e projetos de extensão Pibed – Programa Institucional de bolsas de Extensão para discentes. Neste ano de 2018, visando ampliar a força de trabalho nos campi, a Pró-Reitoria de extensão criou os projetos de demanda induzida, denominado Pibed II. Neste contexto, estão sendo desenvolvidos no campus Almenara os projetos: Festival Intercampi de Culturas: Encantos dos Vales, Montes e Sertões; Portfólio de Oportunidades; Acompanhamento de Egressos; Clube do Empreendedor; e, Sustentabilidade Ambiental. Todos contam, com um coordenador no campus e, no mínimo, dois discentes bolsistas, além dos voluntários.
O fazer extensionista do IFNMG campus Almenara O Vale do Jequitinhonha sempre foi cantado e decantado pelas suas potencialidades artísticas e culturais nos famosos Festivales permeados por música, dança, artesanato, artes cênicas e outros, bem como nas cantigas das lavadeiras de Almenara. Em relação a esta questão, Santos (2018, p.9) assim se expressa: Lavar roupas no rio é um costume dessa região. Enquanto trabalham, as lavadeiras do Vale entoam antigas canções que foram passadas de gerações para gerações – batuques, moçambiques, sambas, chulas de terreiro, rezas, modinhas e toadas, cuja origem está guardada na memória do tempo. São cantigas de trabalho e de louvação, de influência africana, indígena e portuguesa. Elas revelam a mistura étnica que deu origem à cultura brasileira, em especial, a música popular brasileira. Através do canto das lavadeiras, a cultura da região do Jequitinhonha é preservada. (SANTOS, 2018) - 33 -
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Desta forma, de acordo com Santos (2018, p.11), a memória coletiva do Vale do Jequitinhonha vem sendo reconstruída e preservada, pois as lavadeiras, enquanto lavam roupas no rio, “trocam ideias, recordam de fatos ocorridos” e cantam suas memórias individual e coletiva. Além das belezas naturais, as belezas culturais da cidade, além do Coral das Lavandeiras, possui fortes expressões culturais, tais como o Coral da Igreja de São João Batista e o Coral de Almenara, típicas expressões musicais da cidade. Identificando e buscando fortalecer essa peculiaridade cultural da região, o campus Almenara tomou essa dimensão como o ensejador inicial do fazer extensionista. Um dos seus primeiros projeto, intitulado “Cantando as coisas do Vale”, acolhe esse direcionamento para consolidar esta vocação. Não se tratava apenas de cantar, mas, por meio da voz dos discentes, e até em oposição aos ditames dos sucessos ditados pela mídia, fazer releitura de músicas da região, com gosto e prazer (REVISTA, 2015). O projeto, coordenado pelo professor Rômulo Lima Meira, promoveu talentos e proporcionou a criação de um Coral integrado por estudantes e ex-estudantes, o qual fez várias apresentações em culminância de vários projetos do campus, contribuindo, de forma significativa, para a formação integral do ser humano. “A questão cultural está impregnada na população de Almenara. Nesta direção, o campus vem desenvolvendo ações de integração das pessoas com a cultura do Baixo Jequitinhonha por intermédio da música e da dança, objetivando promover esta natural vocação”, esclareceu o atual diretor-geral, destacando a participação do campus Almenara em eventos promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura, como o Encontro de Comunicadores do Vale. Além do cantar e encantar, outras iniciativas na consolidação do fazer cultural do campus foi presenciado nestes 10 anos de sua existência, como a “Mostra de Dança”, quando o reconhecimento das manifestações culturais indígenas, africanas e portuguesa foram trazidos à baila pelo olhar curioso dos discentes. O projeto “Mostra de Dança” começou no ano de 2016, com a finalidade de proporcionar um momento cultural na instituição através da vivência da expressão corporal. A coordenadora do projeto, professora Sueli Fernandes Guimarães, acredita que “Práticas pedagógicas que permitem a valorização cultural proporcionam uma educação de indivíduos mais criativos e críticos sobre seu próprio povo e cultura”. Kennedy Sales Pereira, que se formou no curso Técnico de nível médio em Agropecuária e participou da I Mostra em 2016, em relação à II Mostra de Dança”, relata: “Foi maravilhoso. Queria ter participado - 34 -
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também. Parabéns, ficou lindo”. (REVISTA, no prelo) Ao cantar e ao dançar, juntou-se o estímulo do olhar. O projeto “Uma Imagem Vale Mais”, coordenado pelo professor Rômulo Meira, visando eternizar momentos e expor pontos de vista, chama a atenção para o olhar sobre os aspectos naturais e físicos do Baixo Jequitinhonha. Como bem dito, “não é apenas apertar o botão e dar o clique, mas, sim, congelar um instante e ter a possibilidade de mostrar ao mundo” o que foi captado pela retina do olhar do observador e registrado pela máquina de captar sensibilidade, cujo apelido é máquina fotográfica. Sobre o projeto, assim se manifestou o pedagogo do Campus, Adalvan Soares de Oliveira: “A exposição fotográfica é um recurso pedagógico muito importante no resgate da cultura, do espaço e da história da região, pois considero que a apreciação da fotografia combinada a um processo sistemático de reflexão (…) permite que o aluno amplie sua visão (...)”. (REVISTA 2017, p. 7-9)
Desde o ano 2012, o campus Almenara vem desenvolvendo projetos na área de esporte, através do seu coordenador e professor de Educação Física, Aherton Batista Júnior. No ano de 2013, o projeto “Recreação em Futsal” deu continuidade aos projetos extensionistas na área esportiva. O esporte também esteve presente através do Projeto “Iniciação e treinamento em corrida de rua”, no ano de 2014, coordenado pelo professor e hoje diretor geral do campus, Joan Brálio Mendes Pereira Lima. O objetivo do projeto era atender uma prática de atividade esportiva para os alunos e servidores do campus Almenara, tendo em vista a melhoria na qualidade de vida e uma maior integração com o esporte. “Segundo Joan Brálio, “A partir desta ação extensionista, diversos servidores que não tinham pratica na corrida começaram a treinar. E os alunos passaram a ter interesse em participar de competições locais e regionais, corridas rústicas em praia, sendo uma experiência bastante positiva no campus.”
Vale destacar também o projeto do “Centro de Línguas”, coordenado pela professora Paula Rodrigues Diamantino, o qual proporcionou aos estudantes e comunidade de Almenara cursos preparatórios para concursos em Língua Portuguesa e oportunidade de aprendizagem em línguas espanholas e inglesa. Na visão de Joan Bralio, “o Centro de Línguas é uma ação muito forte da extensão pois, fortalece o elo do campus com a comunidade”. - 35 -
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A partir do ano de 2017, consolidou-se no campus o projeto de extensão “IFMUNDO”, coordenado pelo professor Alex Lara Martins. O projeto trouxe a proposta de tornar o campus Almenara um dos polos promotores e divulgadores do Modelo de Simulação da Organização das Nações Unidas nos Vale do Jequitinhonha e Mucuri, bem como no Norte de Minas Gerais. Debatendo e formulando propostas para questões de cidadania global, pretendeu-se integrar conteúdos e métodos de ensino entre as disciplinas do núcleo comum e técnicas, frutificando ente os estudantes a mentalidade cooperativista, visando paz, promoção dos direitos humanos e auxílio ao desenvolvimento social através de praticas sustentáveis e reprodução dos valores máximos da ONU. Em 2017, o projeto reuniu cerca de 50 estudantes das escolas estaduais do município, além de 300 estudantes dos cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio Integrado do Campus Almenara, numa simulação de seis comitês da ONU: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA); Organização Mundial do Turismo (OMT); Organização Mundial do Comércio (OMC); Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU); e, Comitê de Imprensa (Primal Times). Segundo o coordenador do projeto, essa prática pedagógica “é uma forma de inclusão sociopolítica, de modo a frutificar em nosso alunado e nos alunos de escolas da região a mentalidade cooperativa, que vise a paz, promova os direitos humanos e auxilie no desenvolvimento local e social, através de práticas sustentáveis”(Revista, no prelo). O projeto foi selecionado e apresentado como experiência exitosa do Campus, na Reunião de Dirigentes das Instituições de Educação Profissional e Tecnológica - Reditec-2018. No âmbito do curso Técnico em Enfermagem, vários ações extensionistas são desenvolvidas no tocante ao atendimento ao público, como, por exemplo, aferição da pressão arterial da população nas feiras semanais, no mercado municipal. Neste contexto, destaca-se ainda, o projeto “Papo Teen”, coordenado pela professora Fabrícia Maria Diamantino Corrêa, o qual contribuiu para a promoção da saúde integral do adolescente, favorecendo as relações interpessoais e minimizando os comportamentos de risco no espaço escolar. Vários projetos na área da informática vêm transpondo os muros da escola e levando até as comunidades de abrangência, cursos de informática básica. Na área da administração, o campus vem firmando parceria com o Sebrae na implantação de projetos de empreendedorismo. Estas ações contribuem, - 36 -
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de forma efetiva, para a minimização da exclusão digital e para a valorização das potencialidades da região, para a autonomia da população e para a geração de emprego e renda. Ferreira (2013, p. 3) afirma que, a bacia do rio Jequitinhonha apresenta uma diversidade relativamente grande de usos da terra e atividades econômicas, desenvolvidas sobre uma natureza heterogênea. (...) As políticas de desenvolvimento têm desconsiderado a heterogeneidade interna e as características próprias do sistema produtivo humano da região. Novas alternativas afinadas com a realidade físico-ambiental e cultural devem ser avaliadas e sugeridas. (FERREIRA, 2013, p.3)
Com este propósito e sabedores de que o cultivo da mandioca possui grande importância social e econômica para o município de Almenara, através da agricultura familiar, sendo, inclusive, celebrada, desde 2002, em festa típica “Festa da Mandioca”, na área das Ciências Agrárias, muitos projetos de extensão foram desenvolvidos nas comunidades tradicionais e quilombolas com o propósito de fortalecer estes arranjos produtivos locais. Foi com este objetivo que foi desenvolvido o projeto “Desempenho de cultivares de mandioca mansa e brava no Baixo Jequitinhonha”, coordenado pelo professor Edmilson Alves Barbosa. Destaca-se, neste cenário, o projeto “Levantamento e estudo das demandas nas comunidades rurais de Pedra Grande, São José do Prata e Sacode, Almenara-MG”, coordenado por professor Joaquim Neto de Souza Santos, teve um papel de extrema importância porque possibilitou criar, segundo seu coordenador “diretrizes para futuros projetos e ações diversas do Ensino, Pesquisa e Extensão do IFNMG que considerem as especificidades da região nas comunidades circunvizinhas a esta Instituição, que tem como uma das suas missões promover o desenvolvimento regional”(Revista, no prelo). Este projeto possibilitou conhecer as comunidades de abrangência do campus, fato que vem ao encontro do que afirma Ferreira (2013, p. 3): “Acredita-se que as características socioculturais de uma população podem ser razoavelmente percebidas quando se analisa a origem de suas atividades econômicas, o processo de ocupação e uso do seu território”.
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Considerações finais As ações extensionistas do campus Almenara através de cursos de capacitação, oficinas, palestras, projetos, atividades artísticas e culturais, dentre outras, aproximam a comunidade acadêmica com a população, e possibilitam aos estudantes aplicarem, na prática, o que aprenderam em sala de aula. O fazer extensionista é um espaço de diálogo entre o conhecimento acadêmico e popular. Deste modo, a extensão assume uma posição relevante no processo ensino aprendizagem porque, com a pesquisa e o ensino, forma um tripé que permite um diferencial na vida do estudante e na vivência dele na instituição. O estudante quando se envolve na atividade de extensão, de fato ele se insere na vida da sociedade, contribuindo e vivenciando suas demandas. A extensão no campus Almenara tem desenvolvido vários projetos que permitem essa vivência porque procura-se atuar na perspectiva de mudar o olhar da extensão para que os projetos não contemplem demandas internas, mas que estejam estritamente ligados com as demandas da sociedade. Desenvolver projetos que possibilitem o desenvolvimento de ações neste sentido é ainda um grande desafio do campus na área extensionista. Mas, as experiências exitosas desenvolvidas na área de extensão até o presente momento, permitem afirmar que estamos no caminho certo. Há ainda muito por fazer, muitos caminhos a percorrer, entretanto, numa relação dialógica com a comunidade e sustentados pelo tripé Ensino, Pesquisa e Extensão vislumbramos um futuro de excelência, quando seremos capazes de implementar ações que promovam o desenvolvimento da região e que levem em consideração suas especificidades históricas culturais e sociais. Este é o sonho que nos move.
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Retrospectivas e Perspectivas
SANTOS, LAZARA APARECIDA ANDRADE DOS. Cultura e Identidade no Léxico das Canções das Lavadeiras do Vale do Jequitinhonha. Universidade Vale do Rio Verde, UNINCOR: 2018. Dissertação de Mestrado.
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O fazer da extensão no IFNMG:
uma reflexão baseada nas ações de Extensão do campus Araçuaí Marli Pinheiro de Aguilar1; Narjara Fonseca Souza2; Ricardo Jardim Neiva3; Santina Aparecida Ferreira Mendes4
Resumo O presente artigo propôs-se a identificar e avaliar as principais incursões extensionistas do campus Araçuaí desenvolvidas nestes dez anos de percurso, objetivando refletir acerca da eficiência destas ações no contexto educacional da tríade formativa: Ensino, Pesquisa e Extensão, de modo a resguardar suas memórias e refletir sobre as repercussões sociais para as comunidades de abrangência. A pesquisa representou um estudo exploratório quali-quantitativo de natureza explicativa. E a História Oral Temática (HOT) foi o caminho metodológico escolhido e o referencial teórico ancorou-se nas análises baseadas na Perspectiva Orientada ao Ator (POA), proposta por Norman Long, e no paradigma crítico-emancipatório de modelo de extensão, baseada na comunicação e no diálogo preconizado pelo educador Paulo Freire. Após percurso metodológico descrito, concluiu-se que os projetos de extensão desenvolvidos no campus contribuíram para o reconhecimento da importância da extensão para uma formação acadêmica contextualizada e integrada ao Ensino e à Pesquisa, para a formação crítico e social da comunidade escolar e para a produção e difusão do conhecimento no atendimento às demandas das comunidades de abrangência numa relação dialógica e autônoma. Palavras-chave: Projetos de Extensão. Relação Dialógica. Comunidade de abrangência. Relatos.
1 Servidora do IFNMG, Licenciada em História e Pedagogia, Especialista em Inspeção Escolar 2 Servidora do IFNMG, Graduada em Serviço Social, Especialista em Responsabilidade Social Sustentável 3 Professor do IFNMG, Especialista em Saúde da Família, Especialista em Administração Pública, Mestre em Sociologia Política 4 Professora do IFNMG, Licenciada em História e Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
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Introdução A questão que norteou a escrita deste artigo diz respeito à identificação da importância das atividades de extensão desenvolvidas pelo campus Araçuaí para as comunidades de abrangência, uma vez que a instituição é um espaço que possibilita a agregação de vários saberes por meio de suas ações de ensino, pesquisa e extensão, voltadas, principalmente, para a formação de um profissional cidadão relacionado com a apropriação e produção de conhecimentos científicos comprometidos com a realidade social. Neste tripé do ideário educacional, o que se propõe é identificar como se consolida e se fortalece a articulação dessa tríade e qual o papel da extensão do campus para uma formação profissional contextualizada, humanizada e voltada para as reais necessidades da população. A extensão desenvolvida no campus articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre o campus e a sociedade? Oportuniza a elaboração da prática de um conhecimento acadêmico? É uma ação assistencialista ou uma ação que possibilita a autonomia dos sujeitos e a transformação social? Acreditamos que ao responder a estas questões pretendemos dar visibilidade ao espaço de potencial atuação do campus como ambiente de formação de profissionais cidadãos com capacidade de desenvolverem atividades voltadas para a melhoria da qualidade de vida da sociedade, como também apontamos possíveis caminhos para resignificação das ações extensionistas do campus Araçuaí, de modo específico, e do IFNMG, de modo geral.
Metodologia A pesquisa constituiu-se como um estudo exploratório qualiquantitativo de natureza explicativa. E a História Oral Temática (HOT) foi o caminho metodológico escolhido para mapear e refletir sobre a história e memória da extensão que constam nos arquivos institucionais e nas narrativas dos entrevistados. A pesquisa envolveu antigos e atuais coordenadores de extensão do campus e sujeitos envolvidos nos projetos de extensão. A HO permitiu discutir a representação que as pessoas fazem, no presente, do fato passado, constituindo-se em uma história do tempo presente porque implica na percepção do passado como continuidade no tempo presente. O referencial teórico que ancorou as análises - 44 -
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baseou-se na Perspectiva Orientada ao Ator (POA), proposta por Norman Long, e no paradigma crítico emancipatório de modelo de extensão, baseada na comunicação e no diálogo preconizada pelo educador Paulo Freire.
Caracterização da área O campus Araçuaí está localizado na cidade de mesmo nome que se localiza no Norte de Minas Gerais, Médio Jequitinhonha, e contabiliza uma população de aproximadamente 36.013 habitantes, ocupando uma área de 2.236,275 km² (IBGE 2010). O campus foi projetado no ano de 2007, no âmbito do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica – Fase II. Inicialmente, era uma Universidade Nacional de Educação a Distância (Uned) pertencente ao antigo Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) - Rio Pomba, que posteriormente, passou a compor o Instituto Federal (IF) Sudeste MG. Foi criado, oficialmente, através da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Em 6 de janeiro de 2009, o campus Araçuaí foi integrado ao IFNMG, de acordo com a Portaria MEC nº 4, de 6 de janeiro de 2009. A inauguração ocorreu em 19 de janeiro de 2010 e obteve autorização para funcionamento através da Portaria Ministerial n° 111, do dia 29 de janeiro de 2010, iniciando suas atividades pedagógicas, em 8 de março de 2010. O campus Araçuaí oferta, atualmente, os cursos técnicos em Agrimensura (integrado); Agroecologia (integrado); em Comércio (concomitante/subsequente); em Enfermagem (subsequente); em Manutenção e Suporte de Informática (concomitante/subsequente); em Meio Ambiente (integrado). Bacharelado em Administração; Tecnologia em Gestão Ambiental; Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Engenharia Agrícola e Ambiental.
O fazer extensionista do campus Araçuaí Em meio à efervescência dos debates acerca de políticas públicas e ações afirmativas no Brasil, resultando da expansão da Rede Federal e interiorização do ensino, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia assumem a função de agentes estratégicos na estruturação das políticas públicas na região que polarizam, estabelecendo uma interação mais direta junto ao poder público e às comunidades locais (PACHECO, 2010). Neste contexto, o campus Araçuaí - 45 -
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nasceu em janeiro de 2010 e, desde então, vem crescendo como grande referencial de Ensino, despertando sonhos e expectativas numa região onde a taxa de escolarização (para pessoas de 6 a 14 anos), conforme o último censo de 2010, foi de 97.5%, conferindo-lhe a posição 475 dentre os 853 municípios do estado e 2.904, dentre os 5.570 municípios do Brasil. (IBGE, 2010) A maioria do público que concorre e ingressa nos cursos ofertados pelo campus Araçuaí é egressa de escolas públicas. Há ainda estudantes oriundos dos povos indígenas aranã, pankararu-pataxó e de comunidades quilombolas (Chapada do Norte, Coronel Murta, Jenipapo de Minas e Virgem da Lapa) certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Em 2014, o salário médio mensal era de 1,7 salário-mínimo no município de Araçuaí. Considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário-mínimo por pessoa, 47.3% da população encontrava-se nessas condições, fato que coloca o município na posição 106 de 853, dentre os municípios do estado e, na posição 1.840 de 5570, dentre os municípios do Brasil (IBGE, 2017), o que demonstra que é expressiva a população de baixa renda. No entanto, Araçuaí está entre os municípios de maior índice de Desenvolvimento Humano - IDH regional se comparado com o Médio Vale do Jequitinhonha, que aparece no cenário nacional entre as regiões de mais baixo IDH nacional. Diante da realidade sócioeconômica e histórica da região que atende, o campus Araçuaí apresenta-se como importante oportunidade de inserção social e educacional, tanto no que se refere à diversidade étnica quanto à baixa renda, principalmente, se considerarmos que, dentre as justificativas que legitimam as Políticas Públicas Educacionais, encontra-se referência à Educação como instrumento de ascensão social e de desenvolvimento social do país. (MOEHLECKE, 2002) Em face do exposto, muitas ações extensionistas vêm sendo desenvolvidas no campus. Além dos projetos e estágios, até o ano de 2017, antes da criação do Naec (Núcleo de Apoio Estudantil e Comunitário), a Coordenadoria de Extensão também era responsável pela Assistência Estudantil. A criação do Naec veio definir e otimizar o atendimento às demandas, mas há que se considerar que o atendimento a estas três frentes: estágio, assistência estudantil e extensão, possibilitou ao setor grande alcance à comunidade, permitindo-lhe conhecer suas vulnerabilidades e demeandas, firmando parcerias permanentes e significativas para o fortalecimento de suas ações. - 46 -
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A comunidade apropriou-se do fazer extensionista, o qual nunca representou apenas a prestação de serviço, mas produção de tecnologias sociais, estabelecimento de parcerias e integração comunitária com o o Campus por meio de parcerias público-privadas que continuam a acontecer. Órgãos que já produzem ações integrativas, como a Emater - MG, Associar, Cáritas Diocesana, Arasempre, Superintendência Regional de Ensino, Companhia Brasileira de Lítio, Hospital São Vicente de Paulo, Ação Social Santo Antonio, Prefeitura Municipal de Araçuaí, Neo Soluções Ambientais, CPCD/ Cooperativa Dedo de Gente, Fazenda Maravilha, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra, Museu de Araçuaí, dentre outras, uniram-se ao IFNMG campus Araçuaí para colaboração técnica e exposição da prática de aprendizagem pelo discente. As atividades extensionistas abrem caminhos para a produção e difusão do conhecimento entre o campus e a comunidade, gerando a interação desta com o ambiente acadêmico que, apesar de ser uma instituição nova, configura-se como de extrema necessidade para esta gente desta terra rica em lutas e conquistas, marcada pela seca e pelas desigualdades sociais. De acordo com a servidora do campus Marli Pinheiro de Aguilar, Araçuaí é conhecida por ser quente e quem a conhece pode comprovar que o calor humano supera as altas temperaturas marcadas nos termômetros, revelando a realidade maravilhosamente ilustrada no fazer cultural, maior riqueza do seu povo, que cultiva a esperança e a garantia da sobrevivência em terra árida, mas fértil. (Marli Pinheiro de Aguilar, servidora do campus Araçuai, em entrevista concedida em agosto de 2018) É este ambiente que proporciona à extensão caminho de parcerias, trocas constantes e construção de novos saberes. Deste processo de construção, surgiram parcerias consolidadas nas áreas das ciências agrárias, saúde, arte e humanidades, dentre outras. Trazer neste registro, todos os projetos e eventos de extensão desenvolvidos no campus Araçuaí significaria escrever capítulos inteiros, mas, cuidadosa e respeitosamente, optou-se por apresentar a contribuição em forma de relatos. A servidora Narjara Fonseca Souza, Técnica Administrativa em Educação do IFNMG, Gestora do Programa Mulheres Mil, no período de 2011 a 2012 e membro da equipe executora do Projeto Piloto de Extensão de Arborização do Bairro São Francisco, situado no município de Araçuái-MG, no período de 2014 a 2015, descreve sobre sua vivência extensionista: - 47 -
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“A experiência na Coordenadoria de Extensão, no campus Araçuaí, foi um momento de grande significado pessoal, institucional e profissional. O Programa Mulheres Mil possibilitou a formação de 79 alunas em quatro cursos de qualificação profissional e tecnológica: Bordado Ponto-Cruz e Crochê, Cuidador Infantil, Pintura Aquarelada, Pintura em Cerâmica e Vidro. Ao longo dos cursos, foram abordados assuntos variados que abarcam o mundo feminino e, portanto, acreditamos que isso foi o diferencial, a questão de trabalhar a autoestima, discutir gênero e desigualdade”. (Narjara Fonseca Souza, ex-Coordenadora de Extensão, em entrevista concedida em agosto de 2018)
De acordo com Narjara Fonseca Souza, o Programa Mulheres Mil oportunizou a participação de sete alunas, no II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, na cidade de Florianópolis-SC, realizado no período de 28 de maio a 1º de junho de 2012, onde elas apresentaram o trabalho produzido nos cursos. Sobre as ações do programa Mulheres Mil, afirmou que: “O programa oportunizou uma integração significativa entre técnicos em administração e docentes, os quais ministraram disciplinas nos quatro cursos. Um destaque importante foi a parceria com instituições locais, aproximadamente 10, seja desde o momento de divulgação das inscrições até a formatura em setembro de 2012. Essa parceria fortaleceu o próprio programa, mas também possibilitou uma ligação da comunidade interna com a externa, cumprindo com o papel extensionista do campus Araçuaí”. (Narjara Fonseca Souza, ex-Coordenadora de Extensão, em entrevista concedida em agosto de 2018)
A ex-coordenadora de Extensão destacou ainda o Projeto Piloto de Extensão de Arborização do bairro São Francisco, no município de Araçuaí-MG, o qual foi realizado nos anos de 2014 e 2015. A equipe de execução do projeto contou com a participação efetiva de docentes, técnicos administrativos, alunos bolsistas e alunos voluntários do campus. O projeto contou com a participação da comunidade externa que colaborou diretamente, seja na doação de insumos, seja no próprio plantio de, aproximadamente, 100 mudas no bairro são Francisco. Para o desenvolvimento do projeto, a ex-coordenadora ressaltou a participação de organizações parceiras, tais como: Companhia Brasileira de Lítio - CBL, Flor & Cultura, Rotary-Araçuaí e Prefeitura Municipal de Araçuaí. Sobre a importância do projeto, ressaltou que: “Considero que neste processo, além da comunidade externa ter sido contemplada com o plantio das mudas doadas pelo IEF-Regional Teófilo Otoni, houve uma participação expressiva dos alunos, tanto bolsistas, como voluntários em - 48 -
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todas as etapas de execução do projeto, que refletiu de forma muito positiva, pois no trabalho de campo, os alunos, orientados pelo professores Edilson Luiz Cândido e Paulo Ivan, aprenderam na prática, técnicas de plantio, bem como formas de comunicação com a comunidade”.
Acerca do Programa Mulheres Mil e do Projeto Piloto de Extensão de Arborização do Bairro São Francisco, no município de Araçuaí-MG, assim esclareceu: “Acredito que estes dois projetos, desenvolvidos no âmbito do Campus Araçuaí, contribuíram para que o próprio IFNMG fosse (re)conhecido diante da comunidade externa, principalmente no que se refere às comunidades periféricas, tão pouco valorizadas e lembradas, atentando o olhar institucional sobre o a comunidade, suas necessidades, seus desafios e potencialidades. (Narjara Fonseca Souza, ex-coordenadora de Extensão, em entrevista concedida em agosto de 2018)”
A Revista da Extensão “Contação”, destacou vários projetos e atividade de extensão desenvolvidos no Campus Araçuaí, nos anos 2015, 2016 e 2017, os quais agregaram em formação acadêmica, cultural e social. Do elenco de projetos desenvolvidos no ano de 2017, destacam-se as contribuições do Projeto Acompanhamento e Capacitação de Agricultores Familiares em Sistema “PAIS no Médio Jequitinhonha”, coordenado por Adriene Martins dos Santos, Engenheira Agrícola e Ambiental do Campus Araçuaí, realizado nas comunidades rurais Pega, Limoeiro, São Domingos, Bela Vista, Barra do Vacaria, e Marimbondo, no município de Virgem da Lapa; Alagadiço, Lage e São José, no município de Coronel Murta; e, Manguara e São José da Ponte, em Francisco Badaró. A partir da necessidade de capacitação de agricultores familiares beneficiários do projeto Promoção da Soberania alimentar em regiões atingidas por barragens, através da Tecnologia Social PAIS e placas solares de aquecimento de água – Minas Gerais, em 2016, foi firmado um Convênio entre o IFNMG-Campus Araçuaí e a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas). Este projeto atendeu 38 famílias de agricultores, promoveu a articulação entre Extensão e Ensino através da prática dos alunos, os quais prepararam e ministraram oficinas temáticas, atendendo às demandas sociais de capacitação dos agricultores. O projeto frutificou em um trabalho de conclusão do curso Tecnologia em Gestão Ambiental e firmou parceria com a Aedas, ampliando os horizontes de futuros estagiários. Frente à demanda, apresentada pela servidora do campus Araçuaí, Marli - 49 -
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Pinheiro de Aguilar, merece destaque o curso de Formação Inicial e Continuada - FIC, Metodologia Científica para Elaboração de Projetos Acadêmicos, coordenado pelo professor Fabrício Luiz Pereira, contando com equipe executora formada por docentes do campus, o qual possibilitou a aprendizagem e aprimoramento da escrita acadêmica a servidores do campus Araçuaí e das redes municipal e estadual de ensino do município. Ministrado por profissionais de excelência, o curso atendeu à demanda, resultando na aprovação de cinco projetos construídos no decorrer do curso para vagas de mestrado institucional. Uma mostra clara de como a troca de experiências e a valorização dos saberes podem gerar novos saberes. Vencendo desafios, abrindo caminhos, o campus Araçuaí, construiu e tem construído, ao longo destes quase 10 anos de existência, através das atividades extensionistas, parcerias importantes e permanentes, oportunizando aos discentes e educadores vivências e aprendizados riquíssimos. A partir da implantação do Setor de Estágio e a abertura à comunidade, as demandas nesta área surgiram e floresceram no campus Araçuaí, sobremaneira, pela disponibilidade da comunidade local e empenho em firmar parcerias com a instituição. Até 2017, a quase totalidade dos campos de estágio disponibilizados, através de convênios para os alunos, eram oriundos de demanda espontânea da instituição concedente. Este setor cumpre, portanto, um papel social e estratégico na sedimentação do IFNMG junto à comunidade, ao mesmo tempo que impulsiona a produtividade discente numa gama de áreas que possibilitem uma formação com múltiplos olhares.
Considerações finais A reflexão e análise das ações extensionistas desenvolvidas pelo campus Araçuaí permitem afirmar que a sociedade e a comunidade acadêmica vivenciam experiências de aprendizagens, saberes e fazeres de benefícios mútuos. As ações extensionistas rompem com os muros da escola e fortalecem a relação com as comunidades de abrangência e comunidade acadêmica, na medida em que proporciona melhoria da qualidade de vida do cidadão e o despertar da agência social que, segundo Long (2007), é a capacidade que os sujeitos sociais têm de saber e atuar como um agente coletivo a partir da interação com os outros. A capacidade de agência dos atores está vinculada aos processos de conhecimento e redes de construção de novas relações sociais. Não são relações conflituosas, - 50 -
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mas “processos de interação social” que geram um “produto conjunto” e “fusão de horizontes”. (LONG, 2007, p.55) Observa-se que o desenvolvimento dos projetos extensionistas, centrados nos atores sociais, possibilitou um processo reflexivo a partir da consciência da capacidade destes de refletirem e buscarem soluções conjuntas para as reais necessidades das comunidades de entorno, observando, desta forma, o cumprimento de sua missão no desenvolvimento social, político, educacional, tecnológico, econômico e cultural das regiões de abrangência. Desta forma, os projetos de extensão desenvolvidos no campus contribuíram para o reconhecimento da importância da extensão para uma formação acadêmica contextualizada e integrada ao Ensino e à Pesquisa e para a formação continuada dos servidores. O campus Araçuaí, ao desenvolver os projetos, procura cumprir a função social, na medida que busca transformar a realidade socioespacial local, contribuindo para formação crítico social do estudante e, não menos importante, articular o saber e o fazer do campus com a comunidade numa interação dialógica.
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Referências bibliográficas BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Plano Nacional de extensão Universitária: MEC/CRUB, 1999. Documento do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. ______. Plano Nacional de Extensão Universitária. Edição atualizada (2001/2002) Disponível em: <https://coec.jatai.ufg.br/up/431/o/ NEX.pdf>. Acesso em: 18 de jul. 2007. ______. Lei n° 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892. htm>. Acesso em: 18 jul. 2018. FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983, 93p. LONG, N. Sociología del desarrollo: una perspectiva centrada em elactor: México, Centro de Investigaciones y Estudios Superiores em Antropología Social: El Colegio de San Luis, 2007. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2015-. Anual. ISSN 2447-3480. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2016-. Anual. ISSN 2447-3480. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2017-. Anual. ISSN 2447-3480. MOEHLECKE, Sabrina. Ação afirmativa: História e debates no Brasil. Cad. Pesqui., São Paulo, n. 117, p. 197-217, Nov. 2002. PACHECO, E. OS INSTITUTOS FEDERAIS Uma Revolução na Educação Profissional e Tecnológica; Natal : IFRN, 28 p., 2010.
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Memórias e Estórias:
o fazer da Extensão no IFNMG campus Arinos Josué Reis Batista Júnior1; Daiane Aparecida Ribeiro Queiroz2; Marcele Maria Ferreira Lopes3; Cláudio Márcio Dias Ferreira4
Resumo O presente trabalho tem como objetivo trazer à baila um breve histórico de algumas atividades de extensão desenvolvidas pelo IFNMG - Campus Arinos. A fundamentação teórica tem base em Xavier et al. (2013), Nogueira (2103), Paula (2013), Filho e Silveira (2016), a fim de descrever as diversas faces que a Extensão assumiu ao longo do contexto histórico e em Morais e Morais (2016) para tratar da caracterização da região na qual o IFNMG - campus Arinos atua. Quanto ao percurso metodológico, trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, tendo como procedimento técnico a análise documental dos relatórios de execução de quatro projetos considerados de maior relevância social, bem como a entrevista aos executores dos respectivos projetos. Os resultados da pesquisa demonstraram que, ainda que o campus tenha iniciado suas atividades na região em 2007, as principais ações extensionistas foram efetuadas a partir do ano 2010, principalmente com ações voltadas aos Pequenos Agricultores Familiares e Cursos Fics para atender demandas locais. Inicialmente, as ações foram executadas através de eventos e atividades, coordenadas por professores, servidores técnicos administrativos e alunos. Foi possível perceber também que, com a implantação de cursos técnicos integrados e superiores, as ações extensionistas começaram a ter um crescimento expressivo, chegando a trinta e dois projetos cadastrados em 2018, distribuídos em várias temáticas, com o objetivo fim de contribuir para o desenvolvimento da região do Vale do Urucuia. Palavras-Chave: Extensão. Educação Profissional e Tecnológica. Desenvolvimento Local e Regional 1 Bacharel em Ciências Contábeis e especialista em Auditoria e Educação à Distância (Unimontes). Professor EBTT Administração no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - Campus Arinos. 2 Mestranda em Educação Profissional e Tecnológica (IFG). Assistente Social do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - Campus Arinos. 3 Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública (UFJF). Professora EBTT Língua Portuguesa no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - Campus Arinos. 4 Mestre em Administração (UFBA). Administrador no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais- Reitoria.
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Introdução Entende-se que o ensino, a pesquisa e a extensão compõem o tripé que deve ser predominante nas ações da educação oferecida nas instituições de ensino técnico e superior, e que estas devem estar ligadas entre si. Tendo como base essa premissa, nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, devem prevalecer atividades e projetos com o objetivo de atuar, com igualdade de oportunidades, na construção de conhecimentos técnicos, filosóficos e científicos e de contribuir para o desenvolvimento pessoal e regional. Para atender a estes objetivos, as ações e atividades extensionistas passam a ter maior relevância dentro dos Institutos Federais, criados para ofertar uma educação profissional e tecnológica de qualidade. Nesse contexto, e ainda com a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão, o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), especificamente o campus Arinos, começou a ter, em suas ações, a presença forte de projetos voltados à transferência de tecnologia e de conhecimentos; a consultorias e formação de mão de obra especializada; à contribuição para diminuir a desigualdade de oportunidades, especialmente para agricultores familiares, bairros e comunidades. No intuito de rememorar o caminho da extensão no campus Arinos e de contar, por meio do registrar formal, passos tão significativos desse caminhar que vem crescendo gradativamente, são apresentados quatro projetos de extensão desenvolvidos no campus nos últimos anos. São eles: “Caracterização de Capacitação da Agricultura Familiar”, cujo foco está no aperfeiçoamento das vendas de pequenos agricultores familiares de Arinos e região; “Tesouros da Narrativa: Uma Linguagem Verbal e Corporal”, o qual leva aos alunos da APAE Arinos práticas de contação de história com o intuito de auxiliar no desenvolvimento da linguagem verbal e corporal; “Curso de Capacitação para Cuidadoras Infantis”, que, em parceria com o Centro de Cultura Natália, ofereceu formação de mão de obra qualificada à trabalhadoras em situação de trabalho informal e “Pedais do Sertão”, cujo objetivo está em incentivar a prática do ciclismo como esporte e em conhecer as belezas naturais do Vale do Urucuia durante passeios ciclísticos. Dessa forma, com os projetos apresentados, o campus Arinos marca presença na comunidade local em diversos âmbitos, da formação ao lazer, atendendo parte dos anseios da população e fortalecendo os laços com a mesma. - 56 -
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Metodologia Para o delineamento deste estudo, foi realizado um levantamento bibliográfico, a fim de elaborar a revisão de literatura que se fundamentou nas concepções que a extensão tem assumido. Em relação aos objetivos, a pesquisa é do tipo exploratória, pois buscou apontar uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca do fato aqui exposto. E, no que se refere à abordagem, trata-se de pesquisa de natureza qualitativa que, segundo Minayo (2002), responde a questões muito particulares. Esse tipo de pesquisa se preocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, posto que “ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. (MINAYO, 2002, p. 22) Em relação ao procedimento técnico utilizado, o estudo se constitui numa pesquisa documental que, segundo Lüdke e André, se constitui em uma importante técnica de abordagem de dados qualitativos, sendo os documentos analisados “uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do pesquisador”. (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 39) A partir disso, foram analisados os relatórios de execução de quatro projetos de extensão que foram desenvolvidos no IFNMG campus Arinos e que são considerados de maior relevância social. Além desse procedimento, foram realizadas entrevistas com os proponentes do projeto com o objetivo de, através da narrativa, reconstruir e rememorar o que outrora foi vivido durante a execução dos projetos.
Caracterização da área O município de Arinos está localizado na região noroeste do estado de Minas Gerais e sudeste do Brasil. Arinos é, atualmente, o 6° maior município de Minas Gerais em extensão territorial, e, conforme dados do IBGE (2018), conta com uma população estimada de 17.888 habitantes e área territorial de 5.279,419 km. Destaca-se que Arinos está localizado a aproximadamente 660 km da capital mineira, a 340 km de Montes Claros, um polo regional, e a apenas 250 km - 57 -
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da capital nacional, Brasília/DF, o que a torna um local atraente para os seus moradores. (MORAIS e MORAIS, 2016) Arinos pertence a região denominada Vale do Urucuia, composta por onze municípios (Arinos, Bonfinópolis de Minas, Buritis, Cabeceiras - GO), Chapada Gaúcha, Formoso, Pintópolis, Riachinho, São Romão, Uruana de Minas e Urucuia) aos quais o IFNMG campus Arinos atende direta ou indiretamente. Região está bem marcada na produção literária de Guimarães Rosa, fato que contribui para o desejo de se registrar as memórias e as estórias do espaço em que o campus atua.
As diferentes faces da extensão: breves concepções Ao relembrar o tripé constitutivo das Universidades, nota-se que a Extensão foi a última dimensão a ser constituída. Apesar disso, seu histórico não é tão recente, pois as primeiras ações de extensão no contexto universitário datam da segunda metade do século XIX, na Inglaterra. Posteriormente, essas ações passaram a ser desenvolvidas em outros países europeus. No contexto brasileiro, as primeiras experiências de extensão foram registradas no início do século XX, por meio da oferta de cursos e conferências tendo como público-alvo a população em geral. (NOGUEIRA, 2013; PAULA, 2013; FILHO e SILVEIRA, 2016) Desde então, o conceito de extensão assumiu várias nuances e diretrizes conceituais que permeiam desde a extensão como serviço, como prática assistencial à extensão cidadã. Sobre essa questão, Filho e Silveira (2016) descrevem, ao fazer um resgate histórico sobre o conceito de extensão, que ela tem sido compreendida sob o viés de três perspectivas distintas: quais sejam: como forma de socialização do saber, como prestação de serviço à comunidade e como prática acadêmica. Contribuindo para o debate, Paula (2013) destaca que a extensão não tem sido compreendida e assimilada adequadamente, o que pode ser justificado por ter sido a última dimensão acadêmica a surgir. Esse fato também pode estar relacionado à característica intrínseca de interdisciplinaridade, ao atendimento de demandas por conhecimento e informação de um público amplo e, ao mesmo tempo, difuso e heterogêneo ou ainda por extrapolar, na maioria das vezes, as salas de aula e laboratórios. Ainda nas análises empreendidas por Paula (2013) e em contribuições de - 58 -
Retrospectivas e Perspectivas
Nogueira (2013), as ideias de Paulo Freire influenciaram, de modo assertivo, as concepções e práticas de extensão universitária no Brasil. Isso porque Freire reflete sobre a concepção de extensão e denuncia os sentidos que lhe são atribuídos. Destaca que a extensão é tomada pela ação de estender algo à alguém, num movimento que é unilateral, isto é, estende-se algo, neste caso, o saber, a alguém, àquele que não sabe, que não tem conhecimento. E o sujeito, ao estender algo a alguém, invade o espaço sociocultural do outro, impondo os seus valores. Nesta perspectiva, a extensão estabelece uma relação de poder, de superioridade, de assistencialismo e de invasão cultural. Frente a isso, Freire destaca a necessidade de que as práticas extensionistas, assim como as educativas, sejam pensadas e executadas numa perspectiva emancipadora, libertadora e humanista (NOGUEIRA, 2013). Esta proposta fez com que a extensão universitária refletisse sobre referências e práticas e “obrigou aos que quiseram continuar a usar o termo a uma radical reconceptualização” (PAULA, 2013, p. 18). Desse modo, a concepção de extensão que vem se construindo desde a década de 1980 é a de articulação entre as dimensões Ensino e Pesquisa com as demandas da sociedade, “é o momento de devolução e articulação do saber, o qual deve ser (re)construído, testado e alimentado permanentemente, a partir do confronto com as situações concretas”. (NOGUEIRA, 2013, p. 31) No âmbito da Educação Profissional, Xavier et al. (2013) descreve que, com a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (EPCT), por meio da Lei 11.892 de 29 de dezembro de 2008, a extensão passou a ser sistematizada e institucionalizada, exigindo a elaboração de ações integradoras do currículo com base no princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Desse modo, a extensão profissional, científica e tecnológica é, segundo o Fórum de Extensão da Rede Federal da EPCT, compreendida como um processo educativo, cultural, social e tecnológico que integra as instituições, os segmentos sociais e o mundo do trabalho, com vistas a produzir e a difundir conhecimentos científicos e tecnológicos para o desenvolvimento socioeconômico sustentável local e regional. (XAVIER et al., 2013)
O fazer da Extensão no IFNMG campus Arinos Desde 2010, o IFNMG - campus Arinos vem se firmando na região noroeste do Estado, com a missão de contribuir para o desenvolvimento socioeco- 59 -
Retrospectivas e Perspectivas
nômico local e regional. Morais e Morais (2016) destacam que os objetivos das unidades de ensino que compõem os Institutos Federais abarcam a consolidação e o fortalecimento dos arranjos produtivos, sociais e culturais locais; a expansão, ampliação, interiorização e consolidação da rede de Institutos, democratizando e ampliando o acesso a vagas na educação profissional. E é sob essa égide que o campus Arinos, atualmente, orienta suas realizações no processo de educação na Região do Vale do Urucuia. Como contributo para esse processo, a extensão tem assumido um importante papel de propulsor ao longo dos anos, como demonstram os dados que tangenciam as atividades extensionistas no campus. Isso é possível observar no Gráfico 1, que demonstra de forma cristalina a evolução das ações, projetos e programas desenvolvidos pelo corpo docente e administrativo e que têm beneficiado a comunidade do entorno no espaço social de atuação. Gráfico 1 - Número de Projetos extensionistas desenvolvidos no campus Arinos
Fonte: Coordenação de Programas, Projetos Registro das Atividades de Extensão, da Pró-Reitoria de Extensão do IFNMG
Os dados demonstram que, em 2012, quarto ano de funcionamento do Campus Arinos, existiam seis atividades extensionistas cadastradas na Pró-Reitoria de Extensão. Em 2018, existem 32 desenvolvidas e em desenvolvimento, - 60 -
Retrospectivas e Perspectivas
o que corresponde a um aumento substancial de vinte e cinco ações ou 433%, demonstrando um panorama de consolidação e franca expansão das atividades extensionistas no âmbito do campus Arinos. Dentre as ações desenvolvidas, destacam-se quatro projetos, cuja essência é de emancipação dos sujeitos e transformação social, os quais serão apresentados a seguir.
Caracterização de Capacitação da Agricultura Familiar No decorrer dos anos, o IFNMG campus Arinos vem desenvolvendo diversas ações com os agricultores familiares da região noroeste de Minas Gerais, dentre os quais pode-se destacar o projeto denominado de “Caracterização dos Agricultores Familiares”. Por meio desse projeto, foi possível verificar, dentre outras constatações, que 70% da produção dos agricultores são comercializadas através de feiras locais ou são destinadas para o consumo próprio e o restante, 30%, destinam a produção para venda e comercialização. Com base nessa informação, uma equipe de docentes e estudantes do curso de Administração, com a colaboração de outros profissionais, propôs ações de extensão cujo objetivo precípuo foi a realização de uma capacitação para execução da chamada pública do Programa Nacional de Alimentação escolar (PNAE) a fim de levar conhecimento aos agricultores dos procedimentos acerca da submissão de propostas ao PNAE. Para atender aos objetivos propostos, foi criado um grupo de trabalho e apoio aos agricultores familiares para ampliar a participação destas famílias nas chamadas públicas das Instituições Públicas do Município de Arinos a fim de contribuir para com a redução das deficiências que atingem os agricultores familiares dessa região. A criação desse grupo possibilitou a realização de capacitações técnicas, de modo especial, para conhecer as prerrogativas da Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, que institui o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Foram realizadas, ainda, capacitações e acompanhamentos aos agricultores para a participação dos mesmos na Chamada Pública nº 001/2017, realizada pela Prefeitura Municipal de Arinos. Continuando com os trabalhos, após a capacitação, o grupo pôde acompanhar os resultados do agricultores familiares na participação da Chamada Pública nº 001/2017, a qual resultou na venda de R$ 108.678,29 de produtos - 61 -
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específicos destes agricultores, totalizando 50% dos recursos destinado à Prefeitura pelo Programa Pnae no ano de 2017. Este valor, comparado ao ano exercício de 2016, no qual foram executados R$ 20.495,00, representou um aumento significativo de 430% de comercialização de produtos originados da agricultura familiar do município de Arinos.
Tesouros da Narrativa: uma linguagem verbal e corporal Sabendo que é através da comunicação que os seres humanos trocam informações entre si, facilitando a vida em sociedade, foi proposto o projeto Tesouros da Narrativa, que vem sendo desenvolvido desde 2016, na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Arinos e objetiva contribuir para a ampliação das linguagens, das interações e da leitura de mundo por parte dos estudantes atendidos pela instituição. A proposta do projeto é desenvolver atividades literárias por meio de oficinas que contemplem práticas corporais que dialogam com a cultura de movimento das crianças e que contribuam para a reconstrução de sentidos para a prática. Além disso, a proposta é desenvolver atividades que possibilitem a criação de vínculos afetivos, a transmissão de valores, a estimulação da aprendizagem e o desenvolvimento da imaginação, formando leitores autônomos, capazes de dialogar com o meio sociocultural em que estão inseridos. Para o desenvolvimento das oficinas, os estudantes participantes do projeto utilizam livros infantis e infantojuvenis, adereços e fantasias, num ambiente previamente preparado para o momento. Cada história é contada mediante uma performance do contador, enfatizando a linguagem corporal associada ao contexto comunicativo. Logo após, as crianças são incentivadas a escolher um livro e a contar uma história a sua maneira, fazendo uso de adereços disponíveis no “Baú dos Tesouros”. Num processo avaliativo, os relatos do projeto demonstram que os professores perceberam uma melhoria dos estudantes que participam do projeto, pois “desenvolveram mais a atenção, a linguagem oral e visual, o interesse e o gosto em ouvir mais histórias”. Por esta razão, percebeu-se que o projeto tem tido êxito, pois é perceptível que os alunos adquiriram mais autonomia para interagir socialmente. Os resultados, contudo, não favorecem apenas os estudantes atendidos pelo Apae, mas também os estudantes bolsistas e voluntários, pois, ao desen- 62 -
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volverem as ações do projeto, foi possível perceber o envolvimento na busca e a contribuição para uma sociedade melhor.
Curso de Capacitação para cuidadoras infantis Este projeto foi executado entre os meses de abril e novembro de 2017 e teve como objetivo a qualificação de um grupo de vinte e cinco mulheres do município de Arinos. Todas elas são moradoras do bairro Crispim Santana, bairro local marcado pela exclusão social, por condições precárias de vida e por exíguas oportunidades de emprego formal e dignamente remunerado. De outro modo, pode-se dizer que o objetivo do projeto foi oportunizar uma inclusão ativa que contribuísse não apenas para a qualificação para o mercado de trabalho, mas que, sobretudo, possibilitasse o conhecimento dos direitos enquanto mulheres e cidadãs. O curso foi uma demanda da comunidade e contemplou disciplinas específicas com as seguintes temáticas: acolhimento, alimentação, higiene, conforto, noções de primeiros socorros e prevenção de acidentes, educação da criança e legislação, proteção e promoção de ambientes lúdicos, desenvolvimento motor, aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. E, ainda, disciplinas mais abrangentes, como direitos das mulheres, empreendedorismo, marketing, informática, microbiologia e ética no trabalho. Para ministrar os conteúdos do curso, o projeto contou com o apoio de técnicos administrativos (Assistente em Administração, Assistente Social, Psicólogo, Técnicos em Assuntos Educacionais, Técnico de Enfermagem), de docentes, de estudantes do curso de Administração e de profissionais externos. As aulas foram ministradas no Centro de Cultura Natália (CCN) e teve a duração de três meses e meio. Foram 100 horas de aulas presenciais, incluindo estágios em três creches municipais, o que foi viabilizado com o apoio da Secretaria Municipal de Educação. Conforme descrito pela coordenadora, o projeto possibilitou conceber um currículo personalizado que incluiu conhecimento técnico e a difusão de conhecimentos sobre a emancipação feminina. Ainda segundo a Coordenadora, o curso permitiu que o campus Arinos atendesse a uma demanda específica de formação de trabalhadoras, além de ter propiciado visibilidade ao Centro de Cultura Nathália, organização parceira do campus há vários anos. - 63 -
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Pedais do Sertão O Projeto Pedais do Sertão vem sendo desenvolvido no campus Arinos desde 2013, por um grupo formado por servidores técnicos e docentes, funcionários terceirizados, alunos e membros da comunidade em geral. O projeto teve origem a partir de um passeio de bicicleta semanal realizado por um grupo de servidores que acreditavam ser essa atividade física, além de excelente para a saúde, importante para desenvolver um ideal ecológico, por ser praticada na natureza, além de disseminar a cultura biker entre os habitantes da região. O projeto se constituiu, inicialmente, de passeios ciclísticos programados e orientados, palestras sobre conservação da natureza, artesanato e teatro, também chamados de “Oficinas Culturais e Específicas”. Com o projeto, os membros não só participavam dos passeios, como também ministravam minicursos sobre consciência ambiental, o que proporcionou o desenvolvimento do seu potencial por meio do exercício da sensibilidade. Como já exposto, Arinos é o sexto maior município mineiro em extensão, banhado pelo Rio Urucuia e parte integrante da região turística conhecida como Circuito Grande Sertão Varedas, com pontos turísticos de grande potencial, mas ainda pouco explorados, o que pode ser favorecido por meio de passeios ciclísticos, pedaladas e "pedais". Dessa forma, o projeto atinge também aos municípios vizinhos, com visitas à cachoeiras e serras. O ciclismo é uma prática esportiva com muitos adeptos em Arinos e em toda a região, propiciando o contato direto com a natureza local, valorizando o respeito e o cuidado com o meio ambiente, colocando em prática ações esportivas que garantem melhor qualidade de vida - o que impacta diretamente na saúde individual e coletiva da população. Além disso, o centro urbano de Arinos tem geografia favorável à prática do ciclismo, uma vez que o relevo é plano e, por conta disso, muitas pessoas se locomovem cotidianamente usando a bicicleta. O projeto atua em favor não só dos ciclistas experientes do município, mas, principalmente, em favor de quem pretende fazer do simples meio de locomoção uma prática esportiva. Segundo o coordenador no projeto em 2013, o Projeto “Pedais do Sertão”, além de conscientizar aluno, funcionários terceirizados e servidores, busca criar elos com a comunidade carente e tirar adolescentes da situação de risco social, criando oportunidades para sua socialização. - 64 -
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Considerações finais A extensão tecnológica da Rede Federal de EPCT, enquanto política educacional, objetiva atender aos diversos segmentos sociais, bem como desenvolver ações voltadas para o mundo do trabalho, dando ênfase à inclusão social, ao desenvolvimento regional e local, à emancipação dos sujeitos e à difusão do conhecimento científico e tecnológico produzido no interior das instituições. Nota-se, ainda, que Arinos, por ser um município muito extenso em território, mas carente em desenvolvimento, necessita de ações que contemplem a parcela mais carente da população, e, nesse sentido, o IFNMG campus Arinos tem trabalhado para que os projetos de extensão cheguem a essas pessoas. Por estas razões, e tendo como base a discussão desenvolvida neste, foi possível verificar que as ações de extensão no IFNMG campus Arinos vêm crescendo exponencialmente desde a sua criação. Tratam-se de ações desenvolvidas com o intuito de, não somente contribuir para o desenvolvimento regional e para a transformação social, mas também promover a emancipação dos sujeitos envolvidos no processo, de modo especial, a comunidade e os estudantes. Esses projetos que vêm produzindo ricas memórias que contribuirão para novas ações extensionistas. Muitos são os projetos que não puderam ser citados neste artigo, mas que contribuem significativamente com o princípio do fortalecimento da efetiva participação do campus na comunidade local, em consonância com os anseios da população. Recentemente, foram iniciados projetos voltados a reutilização de pneus, à preparação para a redação no Enem, ao desenvolvimento da cultura da mandioca e outros vegetais, à inseminação artificial em bovinos para pequenos produtores, ao controle de fraude no leite, ao desperdício e perdas de frutas e hortaliças, etc. Futuras estórias serão contadas a partir deles. Espera-se que o fazer extensionista do campus Arinos amplie-se a cada ano, inovando suas ações de forma a atender ainda mais parcelas da comunidade local, por meio da oferta de formação, de capacitação técnica e da difusão de tecnologia. Deseja-se a ampliação do leque de possibilidades de atuação, uma vez que o a instituição conta com uma gama variada de profissionais, que podem ampliar a extensão para caminhos ainda pouco explorados, e de alunos interessados em atuar como bolsistas. - 65 -
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Retrospectivas e Perspectivas
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Do Espinhaço ao Ato: relatos de ações extensionistas dos primeiros anos do IFNMG campus Diamantina
Carla Pereira Silva1, Emerson Delano Lopes2, João Antônio Motta Neto3 Paulo Giovane Aparecido Lemos4, Josilene de Fátima Cardoso de Sá5
Reconhecendo e valorizando a diversidade ambiental, social, cultural e econômica de sua área de abrangência, o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais ampliou o cumprimento de sua missão institucional, dando mais um passo em direção à oferta de educação gratuita e de qualidade com a criação do campus Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. Nesse artigo, convidamos o leitor a percorrer a serra do Espinhaço, passando por pontes que ligam o Alto às demais regiões do Jequitinhonha, rio que deságua no litoral sul da Bahia. Esse rico Vale, localizado na mesorregião nordeste de Minas Gerais, é subdividido em microrregiões e a de Diamantina é composta pelos municípios, Couto de Magalhães, Datas, Diamantina, Felício dos Santos, Gouveia, Presidente Kubitschek, São Gonçalo do Rio Preto e Senador Modestino Gonçalves. Nas terras do antigo Arraial do Tijuco, hoje, cidade de Diamantina, há muitas histórias e preciosidades, para além dos conhecidos diamantes. Há uma diversidade ambiental e uma efervescência de manifestações culturais, dignas de atenção, cuidado e reconhecimento. No campo ambiental, destacaremos a seguir, ações extensionistas que pretenderam conhecer para conservar os meios físico, biótipo e antrópico, bem como, compreender a relação entre os três. O Alto Jequitinhonha é coberto pela vegetação de cerrado, com gradações e denominações diferentes: campos, carrascos, catingas e capões são as mais frequentes. A paisagem é marcada por planaltos - as chapadas, cujas altitudes variam entre 900 a 1000 metros, entrecortadas por depressões profundas de vales, conhecidas na região como grotas. (RIBEIRO e GALIZONI, 2010, p. 238)
1 Professora do IFNMG,Bacharelado em Ciências Sociais e Mestrado em Relações Internacionais 2 Professor do IFNMG, Engenheiro Florestal, Mestrado em Agronomia e Doutorado em Biocombustíveis 3 Professor do IFNMG, Engenheiro Agrônomo, Mestrado em Ciência do Solo 4 Professor do IFNMG, Licenciatura em Matemática e Mestrado em Matemática 5 Servidora do IFNMG, Graduada em Administração e Especialização em Gestão Pública
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O primeiro Projeto de Extensão que apresentamos é o “Florestas para o futuro”, coordenado pelo professor Emerson Delano Lopes em 2016 e retomado em 2018, contou sempre com a participação de alunos do curso técnico em Meio Ambiente. Nas palavras do engenheiro florestal e coordenador do projeto, “as áreas de Cerrado estão gradativamente sendo substituídas por áreas agrícolas e industriais. Assim, a restauração da cobertura vegetal desse bioma vem sendo objeto de estudo na tentativa de reverter o acelerado processo de degradação dos seus recursos naturais”.
Fonte: Arquivo do Projeto Florestas para o futuro, 2018.
Diante disso, o projeto objetivou o levantamento de espécies florestais nativas com potencial de exploração econômica para compor modelos de uso múltiplo de restauração florestal para região Diamantina (MG). Foram realizados levantamentos florísticos em fragmentos do cerrado stricto sensu na região para a identificação das espécies e, em seguida, realizou-se ampla revisão bibliográfica na qual as principais arbóreas nativas foram classificadas e listadas quanto ao seu potencial para manejo em modelos de uso múltiplo.
Figura 1 - Levantamento de espécies florestais nativas do Cerrado
Quanto ao segundo projeto de extensão, podemos considerá-lo como uma “pesquisAção”, ao objetivar a identificação do perfil dos usuários da trilha da área de proteção especial Pau de Fruta – Diamantina (MG). Coordenado pelo professor e engenheiro agrônomo João Antônio Motta Neto, teve como integrantes os professores Paulo Marinho de Oliveira e Emerson Delano Lopes e contou com a participação expressiva dos alunos do curso técnico em Meio Ambiente durante o ano de 2016. Segundo os professores da equipe do projeto, a área de proteção especial Pau de Fruta, região importante para o abastecimento de água de Diamantina (MG), - 72 -
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Fonte: Arquivo do Projeto APE Pau de Fruta – Diamantina, 2016.
sofre com vários problemas ambientais. Ao mesmo tempo, a localidade é muito frequentada por praticantes de atividades ao ar livre. Buscando identificar o perfil destas pessoas, foram aplicados questionários in loco, no segundo semestre de 2016, e a equipe do projeto concluiu que a APE Pau de Fruta é importante não só para o abastecimento de água municipal, como também para a prática de esportes ao ar livre e contemplação paisagística. O público frequentador tem consciência ambiental, podendo participar ativamente na conservação da área. Devido aos processos de ocupação imobiliária existentes, é necessária a realização de ações conservacionistas na APE Pau de Fruta.
Figura 2 - Visita à APE Pau de Fruta
A terceira ação extensionista no campo ambiental, mas com uma conversa muito próxima com o universo da informática e seus usos sociais, é o projeto Gestão integrada das nascentes da sub-bacia hidrográfica (SBH) do Ribeirão das Pedras - área de proteção ambiental do Pau de Fruta (Diamantina - MG) desenvolvido ao longo de 2016, foi coordenado pelo professor e engenheiro ambiental, Paulo Marinho de Oliveira, com a participação dos professores João Antônio Motta Neto e Emerson Delano Lopes e a contribuição dos alunos do curso técnico em Meio Ambiente. O projeto teve como objetivo realizar o levantamento da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão das Pedras na APA do Pau de Fruta, reserva aquífera da Copasa, destinada ao abastecimento da população da cidade de Diamantina – MG. A caracterização dos recursos hídricos foi realizada através da geração de um mapa temático da hidrografia e de um modelo digital de elevação (MDE), utilizando para isso os softwares AutoCAD, Google Earth Pro e SketchUp. Também foram feitas incursões na área para reconhecimento em campo e registro fotográfico. - 73 -
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A partir do ano de 2017, os projetos socioambientais do campus Diamantina incorporaram mais uma linha de ação, ampliando os esforços para o aumento da sensibilização ambiental também em ambientes urbanos. Com essa motivação, nasceu o projeto Mapeamento dos pontos de entrega voluntária (PEV) de material reciclável no município de Diamantina (MG), coordenado pelo professor João Antônio Motta Neto e apoiado pelos demais professores do curso técnico em Meio Ambiente, Paulo Marinho de Oliveira, Emerson Delano Lopes e a recém-chegada ao time, professora e socióloga Carla Pereira Silva. A equipe buscou contribuir para a melhoria de aspectos qualiquantitativos da coleta de material reciclável no município de Diamantina (MG) através do georreferenciamento dos pontos de entrega voluntária - PEVs existentes e de ações de educação ambiental relativas à coleta seletiva. Nesse projeto, o envolvimento dos discentes do curso técnico em Meio Ambiente foi fundamental, enquanto agentes multiplicadores em toda a cidade de Diamantina. O projeto foi bem aceito pela Prefeitura Municipal, influenciando ações do poder público nessa direção. Demonstrando fôlego e importância, a temática dos resíduos sólidos se consolidou no campus Diamantina, e o projeto em desenvolvimento no ano de 2018, entitulado Sustentabilidade ambiental - eixo resíduos sólidos, coordenado pelo professor Emerson Delano Lopes, com a participação ativa do professor João Antônio Motta Neto e dos alunos do curso técnico em Meio Ambiente, tem como objetivo principal ampliar as ações que promovam práticas de sustentabilidade ambiental no âmbito de atuação do IFNMG, visando melhorias sanitárias e ambientais voltadas para a temática dos resíduos sólidos, embasadas nas problemáticas identificadas no campus e/ou comunidade externa, propondo soluções que vão ao encontro do uso racional dos recursos naturais. Isto posto, caminhamos em direção ao campo da cultura, terreno fértil para a atuação do campus Diamantina. Muitas ações extensionistas foram desenvolvidas dentro do eixo tecnológico Produção Cultural e Design, demonstrando a força e o potencial criativo da diversidade cultural do/no Jequitinhonha. Para tanto, é importante considerarmos a amplitude do significado do termo cultura, e nesse artigo, nos inspiramos nas palavras do antropólogo José Márcio Barros: - 74 -
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Por cultura penso, como a Antropologia o faz, um processo através do qual o homem atribui sentidos ao mundo. Códigos através dos quais pessoas, grupos e sociedades classificam e ordenam a realidade. A cultura é a instância onde o homem realiza sua humanidade. Como fenômeno anterior e exterior ao indivíduo, a cultura realiza-se quando incorporada e tornada identidade. (BARROS, 2011, p.50)
Buscando contribuir para o fortalecimento da identidade do campus Diamantina por meio da divulgação de suas ações, foi desenvolvido ao longo de 2016, o projeto Assessoria de Comunicação do Campus Diamantina, coordenado pela professora e artista Flor Murta, com a participação dos servidores Crislaine Guimarães, Mariana Emiliano Simões, Alyson Trindade Fernandes, Dayse Lúcide Santos e Emerson Lopes Delano e Adeizete Gomes Silveira, juntamente com três discentes do campus. Seu objetivo principal foi aproximar o IFNMG campus Diamantina à comunidade do seu território de atuação. A realização em 2016 do Festival de Inverno de Diamantina, com protagonismo da equipe do campus, foi um dos exemplos da importante tarefa institucional de “pensar e agir com a cultura”, isto é, Fazer do pensar uma forma de agir e do agir uma possibilidade de ação transformadora. Pensar, antes de agir, preparar para ser e não apenas para intervir, baseados em três aspectos: diversidade, criatividade e igualdade. “Pensar para agir” exige competências que comportem a invenção e a experimentação. Acreditamos na formação para além do “treinamento” de forma a mediar experiências que garantam percursos formativos coerentes com o novo lugar que a cultura ocupa na sociedade contemporânea. (BARROS & OLIVEIRA JUNIOR, 2011, p. 30)
Nesse sentido, outra ação importante no decorrer do ano foi o desenvolvimento do projeto Núcleo de Produção em Artes Cênicas, que segundo a coordenadora, professora e diretora teatral Mariana Emiliano Simões, tinha como objetivo produzir pequenos eventos na área teatral no âmbito do IFNMG, em diálogo com a cidade de Diamantina e divulgar outros eventos realizados na cidade no campo das Artes Cênicas. O projeto, dentre outras ações, promoveu o Workshop Maquiagem Cenográfica e o Auto de Natal da - 75 -
JUNIOR, 2011, p. 30)
Fonte: Arquivo do campus Diamantina, 2016.
Nesse sentido, outra ação importante no decorrer do ano foi o desenvolvimento do Núcleo de Produção em Artes Cênicas, que segundo a coordenadora, professora e direto Mariana Emiliano Simões, seu objetivo foi produzir pequenos eventos na área teatral no âm Retrospectivas e Perspectivas IFNMG, em diálogo com a cidade de Diamantina e divulgar outros eventos realizados na c cidade Diamantina, peladentre Prefeitura em parceria campo das de Artes Cênicas. realizado O projeto, outrasMunicipal ações, promoveu o com Workshop Ma Cenográfica e o Auto de cidade Diamantina, pela Prefeitura Munic diversas instituições da Natal cidade.da O Auto de de Natal foi, assim, a realizado grande estréia dos parceria com diversas instituições da cidade. O Auto de Natal, foi assim, a grande estréia dos p primeiros discentes do curso técnico em teatro.
Figura 3 - Discentes e servidores do campus Diamantina durante o Auto de
Fonte: Arquivo do Projeto Tribo Corpo Raiz, 2018.
Natal da cidade de Diamantina discentes doOCurso Técnico em Teatro. Ato (do latim actu) que inaugurou o ano de 2017 foi a intervenção artística DESintegra, coordenada pelo professor e diretor teatral Daniel Alberti Perez, O Ato (do latim actu) que inaugurou o ano de 2017 foi a intervenção artística DES a convite da Universidade dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha - UFVJM, como coordenada pelo professor e diretor teatral, Daniel Alberti Perez, a convite da Universidade dos apresentação de encerramento Semana da Integração Ensino, Pesquisa Exten- da Integração Mucuri e Jequitinhonha - UFVJM,dacomo apresentação de encerramento da eSemana são -eSintegra. o diretor, a apresentação teve o objetivo de problePesquisa ExtensãoSegundo - Sintegra. Segundo, o diretor, ateatral apresentação teatral teve o objetivo de prob matizar o temaem integração em seus diversos âmbitos. o tema integração, seus diversos âmbitos.
Figura 4- Apresentação da Tribo Corpo Raiz na VII Semana Integrada de Eventos do IFNMG
A arte como uma forma de celebração também se fez presente na trajetória extens A Diamantina, arte como uma forma celebração também se Vivência fez presente trajetória Campus como porde exemplo, com o evento dena Saberes Femininos, lid professora Mariana Emiliano Simões, a partir do desenvolvimento do curso extensionista do Campus Diamantina, como o evento Vivência de Saberes Femi- de Formação Continuada - FIC entitulado Corpo, Arte e Empoderamento Feminino. Vivenciar uma nova - 76 comemorar o Dia da Mulher e corporificar a diversa experiência do feminino, foram a propósitos das ações extensionistas que colocaram a Mulher no centro. Outras ações nesse sen a Mostra Corpo Morada e o Hafla de Fim de Ano, ambos resultado do Projeto Tribo Corpo
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Figura 5- Mostra de Cenas Curtas
A conclusão de um curso é o momento de bração entre discentes e servidores, a favor da educação ica, de qualidade e inclusiva, como também fizeram os icipantes do curso de Formação Inicial e Continuada Figura 6 - Participante do curso FIC em Informática em Informática Básica, durante o Festival de Inverno de Diamantina.
Fonte: Arquivo do campus Diamantina, 2017.
Fonte: Arquivo do campus Diamantina, 2017.
ninos, liderado pela professora Mariana Emiliano Simões, a partir do desenvolvimento do curso de Formação Inicial e Continuada - FIC entitulado Corpo, Arte e Empoderamento Feminino. Vivenciar uma nova forma de comemorar o Dia da A arte como uma forma de celebração também se fez presente na trajetória extensionista do Mulher e corporificar a diversa experiência do feminino foram alguns dos propósimpus Diamantina, como por exemplo, com o evento Vivência de Saberes Femininos, liderado pela das ações extensionistas quedesenvolvimento colocaram a Mulher no centro. Outras ações essora MarianatosEmiliano Simões, a partir do do curso de Formação Inicialnesse e tinuada - FIC entitulado Corpo, Arte e Empoderamento Feminino. Vivenciar uma nova forma de sentido foram a Mostra Corpo Morada e o Hafla de Fim de Ano, ambos resultado emorar o Dia da Mulher e corporificar a diversa experiência do feminino, foram alguns dos doextensionistas Projeto Tribo Corpo Raiz. a Mulher no centro. Outras ações nesse sentido foram pósitos das ações que colocaram ostra Corpo Morada No e o Hafla de Ano,teatral, ambos resultado do Projeto TriboaCorpo Raiz. campodedaFim produção se destacaram, em 2017, Mostra de Cenas e o projeto Produção Cultural: mão na massa, coordenados profesNo campoCurtas da produção teatral se destacaram em 2017, a Mostra de Cenas Curtas pelos e o projeto dução Cultural: mãoDaniel na massa, coordenados pelosMurta, professores Daniel AlbertiAmbos Perez e foram Flor Murta, sores Alberti Perez e Flor respectivamente. espaços ectivamente. Ambos foram espaços integrados de ensino-aprendizagem para os docentes e discentes integrados de ensino-aprendizagem para os docentes e discentes do Curso Técnico Curso Técnico em Teatro e culminaram no Espetáculo de Formatura Hoje é dia de rock, festejando em Teatro e do culminaram no Espetáculo m, o êxito da primeira turma curso Técnico em Teatro. de Formatura Hoje é dia de rock, festejando, o êxito da primeira turma do curso Técnico em Teatro.
Básica e professor João Motta
A conclusão de um curso é o momento de celebração entre discentes e servidores a favor da educação pública, de qualidade e inclusiva, como também fizeram os participantes do curso de Formação Inicial e Continuada -FIC em Informática Básica, durante o Festival de Inverno de Diamantina. - 77 -
celebração entre discentes e servidores, a favor da educação pública, de qualidade e inclusiva, como também fizeram os participantes do curso de Formação Inicial e Continuada FIC em Informática Básica, durante o Festival de Inverno de Diamantina.
Fonte: Arquivo do campus Diamantina, 2017.
Retrospectivas e Perspectivas
Figura 7 - Participantes do curso FIC em Informática Básica e servidores
Em 2018, o campus Diamantina deu um salto significativo em direção ao desenvolvimento de ações em todos os eixos da extensão a partir do aumento e diversificação dos projetos. Ao todo, quinze projetos de extensão com a participaEm 2018, o Campus Diamantina deu um salto significativo em direção ao desen ção de quarenta e cinco bolsistas dodaPrograma de Bolsas de Extensãodos projetos. A ações em todos os eixos extensão, Institucional a partir do aumento e diversificação Discente - Pibed foram selecionados em dois editais, sendo um de demanda induzida, seguindo as diretrizes institucionais do Comitê de Extensão e da Pró-reitoria de Extensão. As temáticas relacionadas à sustentabilidade ambiental e à produção cultural permanecem em destaque, como os projetos Formação de Herbário e Viveiro de Mudas para Espécies Medicinais do Mosaico do Espinhaço (Alto do Jequitinhonha); Reciclando e brincando; Micro-organismos: vilões ou heróis?; a criação da banda DIAmantes composta por discentes e docente do campus; a realização da Mostra de Performances Diversidade e Relações-étnico raciais, Sarau Teatral, Espetáculo Silêncios Cotidianos e o Espetáculo de Formatura “Bailei na Curva” da segunda turma do Curso Técnico em Teatro, sendo todos apoiados e produzidos pelo Projeto Produção cultural: mão na massa, coordenado pela professora Carla Pereira Silva. Ademais, destacam-se também projetos nas áreas de ensino de química e pensamento computacional. Entretanto, o incentivo ao empreendedorismo, a identificação de oportunidades e o acompanhamento de egressos também são eixos que estão sendo desenvolvidos, em 2018, sob a liderança de técnicos e docentes do campus Diamantina. Isto posto, chegamos ao final de um breve relato de apenas algumas das ações de extensão desenvolvidas pelo campus Diamantina, compreendendo que a extensão possibilita valiosas oportunidades que produzem desenvolvimento e mo- 78 -
Retrospectivas e Perspectivas
vimento de forma direta e indireta à comunidade. Que a extensão sempre associada ao ensino e à pesquisa seja um tripé forte, diverso e reconhecido em todo IFNMG, contribuindo para um Norte Minas mais equânime, sustentável, próspero e alegre. E, assim, continuaremos vivendo e cantando “Vale que vale cantar, Vale que vale viver”!
Referências bibliográficas BARROS, José Márcio & JÚNIOR OLIVEIRA, JOSÉ. Pensar e Agir com a Cultura: desafios da gestão cultural. Belo Horizonte: Observatório da Diversidade Cultural, 2011. RIBEIRO, Eduardo Magalhães & GALIZONI, Flávia Maria. A Cultura Material, Agricultura Familiar e Políticas Públicas para o Alto Jequitinhonha. In: SOUZA, João Valdir Alves de & HENRIQUES, Márcio Simeone. (orgs) Vale do Jequitinhonha: Formação Histórica, Populações e Movimentos. Belo Horizonte: UFMG PROEX, 2010. SOUZA, João Valdir Alves de; HENRIQUES, Márcio Simeone. Vale do Jequitinhonha: Formação Histórica, Populações e Movimentos. Belo Horizonte: UFMG PROEX, 2010. IFNMG. Projetos de Extensão do campus Diamantina, 2016, 2017 e 2018. Disponível em:https://www.ifnmg.edu.br/projetos-cadastrados/campusdiamantina. Acesso em: 3 set. 20018.
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Retrospectivas e Perspectivas
A Extensão Dialógica:
falando e ouvindo no Vale do Gorutuba Kleber Carvalho dos Santos1, Santina Aparecida Ferreira Mendes2, Wadingthon Veloso e Silva3, Hellen Vivian Moreira dos Anjos4, Fernando Nunes dos Santos5
Resumo Fazer Extensão Acadêmica/Escolar em um campus nascente é abrigar, no nascedouro, a vontade de estar sempre presente na comunidade acolhedora da instituição. Neste sentido, identificar e revelar as estratégias tomadas pelo Campus Avançado Janaúba permitem compreender os desafios e oportunidades desta prática em um lócus ainda desconhecido. No intuito de responder a este desafio, utilizou-se da pesquisa de cunho exploratória, amparada na análise dos relatos de Extensão cadastrados na Pró-Reitoria de Extensão. Justifica-se a análise ao prover a crítica e indicar novo caminho prático para o fazer extensionista da Instituição e com a especificidade de ser uma unidade estreante no fazer extensionista na comunidade ao entorno. Percebeu-se ter o Campus decidido como estratégia a forma dialógica de aproximação com o fito de conhecer, no primeiro momento, e aprofundar as redes de relacionamento e execução no momento seguinte. Palavras-chave: Extensão. aproximação. projetos. dialógico
Introdução O Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), criado a partir da união do Centro Federal de Educação Tecnológica de Januária e a Escola Agrotécnica de Salinas, vem fazendo extensão de forma continuada a partir de 2008, porém, o campus avançado Janaúba somente inicia as suas atividades a partir do ano de 2015. A pergunta central é: o que é extensão universitária/acadêmica? Não é um conceito plenamente pacificado e aceito. Porém, de uma forma ou de outra, encontra-se amplamente vinculada à ideia de intervenção ou, de forma mais branda, de mediação. A primeira ideia, vincula-se a vários sentidos, seja o de 1 Professor Titular do IFNMG e Doutor em Desenvolvimento Rural pela UFRGS 2 Professora do IFNMG, Licenciada em História e Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente 3 Servidor do IFNMG, Graduado em Administração e Mestrando em Educação 4 Professora do IFNMG e Mestre em Educação 5 Professor do IFNMG, Licenciado em História, Especialização em Docência do Ensino Superior e Mestre em Educação
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Retrospectivas e Perspectivas
disseminação dos conhecimentos técnicos, no sentido de levar, depositar, dar ao povo; de prover prestação de serviços; também vincula-se a disseminar e consolidar conhecimento por meio “de cursos voltados para os ausentes da instituição que, sem formação acadêmica regular, desejam obter maior grau de instrução”. (TAVARES, 1996, p. 27) Quanto a segunda ideia, mediação, é aqui entendida como a forma de superar desafios por meio de emprego das capacidades das Organizações, destinatários, atores envolvidos, saberes profissionais associados em rede. Especificamente na nossa seara educativa, o MEC (BRASIL, 1985) conceituou como atividades da extensão aquelas vinculadas à “difusão dos conhecimentos obtidos; a continuidade dos serviços oferecidos à população; a contínua ação recíproca entre a extensão, por um lado e, por outro, o ensino e a pesquisa”. (Ibid., p. 32) Unido às ideias, o fazer extensionista consolida várias vertentes, incorporando a ideia do assistencialismo, da difusão tecnológica e até a da concepção do processo contínuo e negociado. Diante deste leque de possibilidades foi que se analisou, a partir dos relatos dos projetos de extensão registrados na Proex, o fazer extensionista no campus avançado Janaúba. Justifica-se o estudo por permitir compreender como os servidores de forma geral, discentes e a própria comunidade gestaram as estratégias para condução das atividades de Extensão.
Caracterização do locus O nome da cidade de Janaúba é de origem indígena, cujo significado é planta leitosa, também conhecida como algodão-de-seda. Os primeiros habitantes foram um povo cafuzo ou caboré, mescla de índios tapuias e quilombos de negros que, fugindo do cativeiro, estabeleceram-se no Vale do Gorutuba, tornando-se conhecidos como gorutubanos. A história do município e de seu desenvolvimento está ligado a duas forças impulsionadoras que se fazem presentes: a localização geográfica privilegiada e ao pioneirismo e capacidade empreendedora de seus habitantes. O campus do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – IFNMG, implantado em Janaúba/MG está localizado na Mesorregião do Norte de Minas, na área mineira do Semiárido brasileiro e na microrregião da Serra Geral de Minas. Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010) a população da cidade era de 66.803 habitantes e com estimativa para 2018 de 71.265 pessoas e com uma área de 2.181,319 - 84 -
Retrospectivas e Perspectivas
km². A taxa de escolarização (para pessoas de 6 a 14 anos) foi de 98.5% em 2010. Isso põe o município na posição 212 de 853 dentre as cidades do estado e na posição 1.288 de 5.570 dentre as cidades do Brasil no ranqueamento de escolaridade. O salário médio mensal dos trabalhadores formais em 2016 foi de 1,7 salário-mínimo. Contudo, 40,9% da sua população tem rendimento nominal mensal per capita de até 1/2 salário-mínimo. O campus do IFNMG em Janaúba iniciou suas atividades em 2015, ofertando os cursos Técnico em Informática, Técnico em Administração e Técnico em Segurança do Trabalho. Em 2018, houve formalmente a inauguração do campus avançado na cidade. Atualmente, a instituição atende a 350 estudantes presenciais em curso técnicos nas modalidades Integrado, Proeja- Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos e Concomitante/Subsequente, além de 600 estudantes na modalidade de educação a distância em cursos técnicos que atendem estudantes de Janaúba e de outras cidades ao seu entorno, e 186 discentes matriculados em Cursos de Formação Inicial e Continuada – FIC, presenciais. O campus também inicia, de forma pioneira na instituição, o lançamento de três cursos FIC em EaD, sem fomento de órgãos exteriores, o que somará mais de mil novas matrículas no segundo semestre de 2018.
Nasce o campus e com ele a sua voz e prática: o fazer extensionista A sensibilidade de definir como estratégia extensionista, o trilhar, o caminho a partir da aproximação prévia das comunidades ao entorno do campus, visando dar o tom e a cor do pensamento dos envolvidos, concomitantemente ao nascimento de uma unidade acadêmica/escolar, trazemos à luz alguns dos projetos exemplificadores de como se fez realidade esta estratégia. Nesta toada, a proponente e executora do projeto intitulado “Cantando o Gorutuba” definiu como objetivo central, buscar a compreensão da cultura geral da população local – o povo gorutubano por meio das suas manifestações culturais musicais, vinculadas ao universo das lavadeiras do rio Gorutuba à dança do pote e ao batuque. Também buscou-se nas manifestações culturais religiosas, como danças de chamamento à chuva, realizadas pelas populações quilombolas, tão enraizadas neste território, ampliar a aproximação com as comunidades, como assevera a Professora Hellen Vivian, - 85 -
Retrospectivas e Perspectivas
Escancarando o compromisso institucional de aproximação das suas comunidades, este projeto mostrou o quão imperiosa foi a realização de um estudo que envolvesse o entendimento da cultura geral do povo gorutubano, dando especial ênfase às músicas ligadas à tradição desta gente. Pretendeu-se levantar canções ligadas ao universo das lavadeiras do rio Gorutuba, às manifestações culturais religiosas, como dança do Pote, danças de chamamento à chuva nesta região assolada pela falta d’água realizada por populações quilombolas, dentre outras.
Além da pesquisa da cultura gorutubana, o projeto resultou na criação do grupo músico teatral, com o intuito de se apresentarem em eventos municipais em instituições públicas e privadas da cidade. Desta forma, segundo Hellen Vivian, “o projeto contribuiu para o alargamento da cultura local, tornando-se uma das referências culturais nesta cidade de Janaúba em termos de música”. Percebe-se na estratégia acima a vontade de conhecer, compreender e valorizar as raízes das comunidades e, a partir daí, já detendo indicativos do outro, iniciar as tratativas e negociações para entender e propor soluções para situações-problema vivenciadas pela comunidade. De forma confirmadora da estratégia de compreender para agir, o projeto nomeado “Vozes Silenciadas das Margens do Gorutuba”, segundo o Professor Fernando Nunes, coordenador do mesmo, visa Dar voz àquelas pessoas e/ou grupos sociais, aos quais a realidade socio-histórica e político-econômica têm negado espaço. Por meio de produções filmográficas, fotográficas e literárias, bem como a partir de espaços de debates e discussões, pretendeu-se registrar e divulgar as diversidades socioculturais que pululam a região da Cidadania da Serra Geral.
Mesmo tendo como ideia inicial dar voz aos grupos sociais aos quais haviam sido negados este direito, ampliou-se o entendimento para a concepção de conquista de direito e acolheu, como propósito do projeto, absorver e dar destaque a “outras vozes, que se silenciaram pela dinâmica histórico-social do Brasil. Assim, o projeto acrescentou temáticas relativas às mulheres, aos jovens, às pessoas com necessidades especiais, destacando, como diretriz, a oportunização a qualquer grupo que se qualifique como minoria social”, esclareceu o professor Fernando Nunes. Nesta direção, o projeto Vozes Silenciadas das Margens do Gorutuba continha a intenção de buscar, pelas vozes das comunidades ao entorno do Campus, o entendimento de sua composição social, com vistas da jogar luz sobre suas minorias, buscando articular junto à sociedade civil organizada, mecanismos e ações para superar as desigualdades históricos-sociais. - 86 -
Retrospectivas e Perspectivas
Não é possível, muito menos desejável que uma instituição acadêmica, cuja premissa da indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão esteja estatuída em lei, que não se busque conhecer e lutar contra todos os tipos de exclusões socioculturais. Assim, o Vozes Silenciadas busca gritar para a instituição e a sociedade como um todo, que precismos sempre avançar.
Assim, compreende-se que o Vozes Silenciadas ambicionava sinalizar e mostrar à comunidade acadêmica/escolar o direcionamento a ser incorporado pelas partes interessadas em fazer extensão. O caminho indicado, de forma simples, foi fazer extensão vinculada à compreensão antecipada sobre a quem se dirigem os programas, projetos e atividades de extensão. Neste contexto, as ideias contidas nos projetos anteriormente sumarizados também serviram como incentivadores para a proposição, pela Proex, do projeto identificado como Portfólio de Oportunidade. Projeto encampado, no primeiro momento, pelo campus avançado Janaúba. Em essência, o Portfólio contém como objetivo central identificar situações-problema que dificultam o viver coletivo e individual, formuladas por meio de perguntas por cidadãos-demandantes, organizadas em áreas temáticas da Extensão, tendo como acesso palavras-chave e como resultado soluções elaboradas pelos colaboradores da Rede de Soluções Tecnológicas. As áreas temáticas da extensão: Comunicação, Educação, Tecnologia e Produção, Saúde, Cultura, Trabalho, Direitos Humanos e Justiça e Meio ambiente. Compreendendo que a literatura pode estabelecer conexões com outras artes, como no caso do cinema, do teatro e da música, o projeto “Cine Literário”, coordenado pela professora Dinamor Chicarelli, se propôs ao estudo de adaptações cinematográficas de obras literárias com o objetivo de desenvolver o olhar estético e o espírito crítico de leitores em formação, especialmente os adolescentes, além de estimular o interesse pela leitura literária. De acordo com a coordenadora, Através de reuniões intensas de debates, releituras e visitações de diversos portadores textuais que engendraram as obras do Paes, o tema INFÂNCIA passou por diversas releituras e em especial, num diálogo interfônico entre Carlos Drummond e Cora Coralina. Como produto, de tais momentos, foi realizada uma apresentação musical, com teatro e poesia - artes que passou por um processo de revisitação dos cenários tradicionais e típicos de Minas e Goiás
No percurso extensionista de aproximação do campus com a comunidade, observa-se a relevante ação da I Mostra de Ciência e Tecnologia, realizada sob - 87 -
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a coordenação do professor Júlio Cézar, em parceria com algumas escolas públicas da cidade de Janaúba. Érica, ex-estudante das escolas públicas de Janaúba, atualmente estudante de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, destacou “a simplicidade dos experimentos que, com materiais usados em nosso dia a dia, conseguem mostrar que a ciência ali está presente”. A professora Carla, da escola Barão do Gorutuba, acrescentou que “a mostra traz para a prática os conhecimentos abordados nas aulas de ciências”. “Portanto, constatamos que a I Mostra de Ciência e Tecnologia do Campus Avançado Janaúba possibilitou a integração dos nossos alunos com os alunos de outras escolas”, concluiu o coordenador do projeto. O projeto “Pequenos Gigantes”, coordenado pela professora Bruna Tatianne, foi desenvolvido na cidade de Nova Porteirinha e contou com a participação de 17 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, identificados junto à rede socioassistencial do município. O objetivo central “foi discutir temáticas que apresentassem semelhança com o contexto de vida dos sujeitos participantes e que pudessem impactar na compreensão da realidade, na re (construção) de projetos de vida”, esclareceu a coordenadora. O projeto foi realizado por meio de encontros semanais, nos quais foram discutidos vários temas de interesse das crianças e adolescentes de forma lúdica, mediante brincadeiras, confecção de artigos com material reciclável, exibição de filmes, teatro, etc.. O depoimento abaixo reflete a importância do fazer extensionista vinculado aos interesses e reais necessidades da comunidade, por representar um fio condutor significativo para o autoconhecimento, valorização, fortalecimento da identidade e superação de situações adversas tão corriqueiras nestes vales semiáridos. O desenvolvimento do projeto possibilitou que muitos participantes criassem um vínculo, um laço forte com a equipe do projeto. Apesar da indisciplina em muitos momentos, percebeu-se também o carinho e o respeito, “do jeito deles”, inclusive em espaços externos ao projeto. O projeto permitiu à equipe, portanto, conhecer os participantes e entender que alguns comportamentos são reflexo das adversidades vividas no âmbito familiar, como dificuldade financeira, violências físicas e verbais, relações familiares conflituosas, dentre outras.
Considerações finais Na caminhada deste fazer extensionista que por ora se inicia, o campus Janaúba já revela que o caminho é o que aponta para uma aproximação e acolhida - 88 -
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ética, cidadã e sensível das vozes, silêncios, lamentos, carências, potencialidades e desejos das comunidades do seu entorno. Cora Coralina nos afirma que “o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada”. Assim, caminhando e semeando uma extensão dialógica e de escuta, a comunidade escolar/acadêmica e de entorno do campus Janaúba, apesar das dificuldades e falhas inerentes ao processo extencionista, já começa a perceber os efeitos positivos desse trabalho, cujos resultados puderam ser sentidos no fortalecimento da história, identidade e memória do povo gorutubano, na discussão de temas sensíveis a essa comunidade, na elevação da autoestima de crianças marginalizadas e vulneráveis socialmente e no estreitamento do IFNMG campus avançado Janaúba com as escolas públicas estaduais, numa relação de parceria e de significativas trocas. Fazendo um balanço das ações extensionistas do campus, e tratando das perspectivas para o futuro dessas mesmas ações, o coordenador de Extensão do campus avançado Janaúba observa que, “olhando pro passado, vemos o quanto avançamos. Não se esperava nada disso de um campus avançado. Somos um campus pequeno. Costumamos brincar que somos a maior densidade demográfica dentre os campi da Rede Federal de Educação em âmbito nacional. E provavelmente a brincadeira se confirmaria numa análise empírica. Os desafios para fazer extensão acadêmica já são enormes para uma instituição nova como os Institutos Federais. Em se tratando de campus avançados, eles são ainda mais prementes. Somos poucos servidores, e o trabalho a ser feito não leva esse dado em conta. Avançamos bastante. Muitos diziam que não era possível ou necessário fazer extensão em campus avançado. Mas acreditamos que o que não é possível é dissociar aquilo que é indissociável. Se existe ensino, tem que existir pesquisa e, necessariamente, tem que haver extensão. Para o futuro, precisamos avançar mais. Partindo das análises e levantamentos de demandas do nosso entorno, precisemos propor soluções práticas e concretas para a realidade e necessidades da sociedade que tem que parar de nos rodear, e nos integrar plenamente”. Esses é o primeiro capítulo escrito pelo campus em muitos outros que almeja trilhar. A região da cidadania da Serra Geral, tendo como cidade polo o município de Janaúba, certamente tem muito a ganhar com este trabalho. Quando uma comunidade tem o privilégio de receber uma instituição pública federal de ensino como o IFNMG, certamente muito se espera dela, inclusive que esta instituição seja capaz de colaborar para disseminação e alargamento da cultura do seu povo. - 89 -
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Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Uma nova política para educação superior. Comissão nacional para a reformulação da educação superior. Brasília, l985. ______. Decreto n. 19.851, de 11 de abril de 1931. Dispõe que o ensino superior no Brasil obedecerá, de preferência, ao sistema universitário, podendo ainda ser ministrado em institutos isolados, e que a organização técnica e administrativa das universidades é instituída no presente Decreto, regendo-se os institutos isolados pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos do seguinte Estatuto das Universidades Brasileiras. Disponível em: <http:// www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/ decreto-19851-11-abril-1931-505837-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 11 nov. 2018. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2015-. Anual. ISSN 2447-3480. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2016-. Anual. ISSN 2447-3480. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2017-. Anual. ISSN 2447-3480. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2018-. Anual. ISSN 2447-3480. TAVARES, Maria das Graças Medeiros. Extensão universitária : novo paradigma de universidade? Faculdade de Educação da UFRJ. Rio de Janeiro, l996. Tese de Doutoramento.
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Retrospectivas e Perspectivas
A Extensão em destaque:
Desafios e Perspectivas no IFNMG campus Januária Eduardo Souza do Nascimento1, Ivy Daniela Monteiro Matos2, Izabel Alves Macedo Mendes3, Kleber Carvalho dos Santos4, Suzana Alves Escobar5
Resumo O trabalho tem como objetivo retomar, historicamente, as atividades de extensão, articuladas ao ensino e à pesquisa, tendo em vista uma reflexão sobre as ações extensionistas, desenvolvidas no âmbito do IFNMG campus Januária, ao longo de sua história, cuja origem remonta a um modelo de educação tecnicista, orientado para o mercado de trabalho. Percebe-se, por meio da pesquisa efetuada, o caráter, inicialmente, assistencialista da instituição, que, devido a sua proximidade com as demandas regionais, registra-se mesmo que de forma pontual, a sua atuação na comunidade do entorno. Verificou-se que a, princípio, a extensão rural era ofertada por meio da boa vontade de professores e alunos, sem, contudo, haver uma reflexão, sobre esta prática, no debate institucional. Na busca pela democratização de um ensino considerado de qualidade, gradativamente, a instituição passou a ofertar a educação profissional em várias modalidades, desde a adoção de cursos técnicos integrados ao ensino médio, concomitantes e subsequentes, ao ensino de nível superior; fator que contribui para um crescimento, considerável nas ações extensionistas do campus. A criação dos Institutos Federais em todo o Brasil, a partir do reordenamento das escolas técnicas, agrotécnicas e dos então Cefet’s, emerge um novo modelo de educação profissional, que busca contemplar os até então excluídos do processo educativo. Especialmente no tocante ao campus Januária, a transformação da Escola Agrotécnica em Cefet Januária, apresenta-se como o primeiro marco legal para a oferta de cursos superiores, habilitando a instituição para uma nova forma de fazer extensão. Palavras-Chave: Ensino. Pesquisa. Extensão. Educação Profissional. Institutos Federais. 1 Eduardo Souza do Nascimento – Professor da EBTT do Ifnmg-campus Januária com formação em Zootecnia e Ciências Agrícolas, possui Mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2 Ivy Daniela Monteiro Matos – Professora da EBTT do Ifnmg- campus Januária com formação em Letras Português/Inglês, possui Mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. 3 Izabel Alves Macedo Mendes – Servidora do quadro Técnico-administrativo do Ifnmg-campus Januária com formação em Letras Português/Inglês, possui Mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. 4 Kleber Carvalho dos Santos – Professor da EBTT do Ifnmg com formação em Administração e Economia Rural, possui mestrado em Administração pela Universidade Federal de Lavras e doutorado em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 5 Suzana Alves Escobar – Professora da EBTT do Ifnmg-campus Januária com formação em Pedagogia, possui mestrado em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia e doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais.
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Retrospectivas e Perspectivas
Introdução O advento dos dez anos do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) nos insere em um contexto de substantivas reflexões, as quais remetem à importância de se compreender o verdadeiro papel das instituições federais de educação profissional na região em que estão inseridas, tendo em vista a magnitude da educação profissional para a população de abrangência. Nesse contexto, a articulação das atividades de extensão ao ensino e à pesquisa nas universidades contribuem não só com a aplicação do conhecimento adquirido em sala de aula, mas também como um instrumento de confronto entre teoria e prática, permitindo a concretização de ações que ultrapassam os muros da instituição, com vistas a atingir a dimensão social, em diversos setores da sociedade. Considerando o princípio legal que trata da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, no artigo 207 da Constituição Federal, verifica-se que tais funções são também constitucionalmente equiparadas, de forma que as instituições de ensino superior, em todo o país, devem respeitar o princípio da igualdade a cada segmento, do contrário, estariam violando o princípio legal. Desse modo, a oferta da extensão passa a ser um compromisso das universidades, que também se estende aos Institutos Federais, tendo em vista que tais instituições foram equiparadas às universidades por intermédio da promulgação da lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, responsável pela criação dos Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia, em todo o país6. Nesse contexto, ainda considerando a tríade, ensino, pesquisa e extensão e relacionando-a com a sua aplicação no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), mais precisamente, no IFNMG campus Januária, lócus do trabalho em pauta, as ações de extensão na instituição estão vinculadas às atividades de cunho científico, tecnológico, artístico, esportivo e cultural e são realizadas por meio de programas, projetos e cursos, tendo como objetivo principal, além da promoção da indissociabilidade dos três eixos temáticos já mencionados, “o fortalecimento do vínculo do IFNMG com a sua área de abrangência”, cuja prerrogativa possui estreita relação com a sua missão institucional7. Para suscitar este debate, o artigo busca promover uma reflexão sobre as ações extensionistas do IFNMG campus Januária, a partir de uma retomada histórica, tendo em vista que a instituição, em vias de seus 58 anos de atuação no 6 Art. 2o § 1o - Para efeito da incidência das disposições que regem a regulação, avaliação e supervisão das instituições e dos cursos de educação superior, os Institutos Federais são equiparados às universidades federais. 7 Produzir, disseminar e aplicar o conhecimento tecnológico e acadêmico, para a formação cidadã, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, contribuindo para o progresso socioeconômico local, regional e nacional, na perspectiva do desenvolvimento sustentável e da integração com as demandas da sociedade e do setor produtivo (PDI 2014 a 2018, p.14).
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Retrospectivas e Perspectivas
Norte de Minas Gerais, sempre teve na pauta dos seus projetos, a prestação de assistência à comunidade do seu entorno, principalmente na área agrícola. Sendo assim, busca-se ainda, por meio desta pesquisa, relacionar projetos de grande impacto tanto para a instituição quanto para a comunidade, como também verificar com que concepção de extensão, essas atividades eram ofertadas e ainda se houve alteração em relação à concepção inicial de extensão para a concepção atual.
Discutindo o conceito Para efetivar a reflexão proposta, necessário se faz compreender in locus, o conceito de extensão, tendo em vista que essa palavra é um termo em disputa, que aparece, inicialmente, com o sentido de levar, depositar, transferir, dar ao povo, tendo sua origem nas universidades populares europeias e no modelo extensionista dos EUA de prestação de serviço (GURGEL, 1986; NOGUEIRA, 2005). No intuito de uma melhor compreensão dos fatos, recorremos a uma análise histórica da extensão, elaborada por Gurgel (1986), em que o autor destaca três momentos distintos da trajetória da extensão no Brasil, sendo “o período das experiências pioneiras (1912 a 1930); o período das experiências isoladas (1930 a 1968) e o período de institucionalização da extensão universitária (1969 a 1976)” (GURGEL, 1986, p. 54-55). Nessa retrospectiva, Gurgel aponta para uma extensão, inicialmente, assistencialista. Nesse contexto, considerando a diversidade de pensamento que embasa o fazer extensionista no meio científico, autores alertam que as práticas que colocam o receptor no papel daquele que nada sabe e nada tem, enxergando-o apenas como recebedor do conhecimento notório elaborado nas universidades (ALENCAR, 1997), partem de uma concepção isenta do propósito de construção de um espaço que garante uma comunicação livre das repressões, sendo uma ação invasora do território do outro. Partilhando desse pensamento, Long (2007), considera que o desenvolvimento de um espaço não é promovido por determinismo externo e estabelecido apenas por meio de conhecimento técnico-científico alheio àquele lugar, e sim formado pela agregação das experiências cotidianas dos atores locais, habilitando-os a formular os seus próprios projetos de desenvolvimento, interagindo com os projetos apresentados por agentes externos (SANTOS, 2013). Assim, o reconhecimento dos saberes locais é parte e vetor para escolha dos caminhos a seguir, quando se busca o desenvolvimento de uma comunidade (CHAMBERS, 1983). Logo, a extensão deve ser vista como um espaço possibilitador de estabelecimento de uma ligação com a classe trabalhadora que permita um intercâmbio de conhecimentos, no qual a universidade aprenda a partir do saber popular e - 95 -
Retrospectivas e Perspectivas
assessore as populações no sentido de sua emancipação crítica (GURGEL, 1986). Nessa concepção, o MEC (BRASIL, 1985) buscando encontrar uma expressão que desse conta de explicar as ações decorrentes das práticas extensionistas nas universidades, pautada na natureza dessas atividades, concebe a extensão como a “difusão dos conhecimentos obtidos; a continuidade dos serviços oferecidos à população; a contínua ação recíproca entre a extensão, por um lado e, por outro, o ensino e a pesquisa” (Ibid. p. 32). Ampliando a discussão, o I Encontro Nacional de Pró-Reitores de Extensão de Universidades Públicas, em Brasília, em 19878, entende a extensão como “Processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e a sociedade”.
Metodologia O presente trabalho foi efetuado por meio de pesquisa exploratória a partir de uma revisão de literatura, tendo em vista o debate que embala o universo acadêmico sobre a temática, no cenário mundial. Da mesma forma, lançou mão também da análise documental e fotográfica, assim como a transcrição de arquivos audiovisuais, cujos conteúdos são parte do acervo do IFNMG-campus Januária, além de entrevistas orais e escuta de relatos que acrescentaram para o desenvolvimento do artigo, tanto com os sujeitos beneficiados, como com os promotores das atividades de extensão na instituição. Sobre a pesquisa exploratória, GIL, (2007) esclarece que a grande maioria dessas pesquisas envolve: levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão e foi seguindo as orientações de Gil (2007), que a pesquisa foi realizada.
Caracterização Para uma melhor localização da pesquisa em pauta, o IFNMG-campus Januária está situado na cidade de Januária, às margens do Rio São Francisco, mais precisamente, no Norte de Minas Gerais, cuja população é estimada, 68.584 habitantes (IBGE, 2017). O município ocupa uma área de 6.661,591 km² (IBGE, 2017). Porém a sua área de atuação extrapola a microrregião em que se insere, atingido até o Sul da Bahia. 8 L encontro de pró-reitores de extensão das universidades públicas brasileiras.
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De Escola Agrotécnica a Instituto Federal: um longo caminho No intuito de uma melhor compreensão dos fatos, necessário se faz uma abordagem dos vários momentos pelos quais a instituição tem percorrido, nas vésperas dos seus 58 anos de existência. Documentos apontam que o IFNMG surgiu, a partir de uma medida política que trouxe profundas transformações nas estruturas administrativa, pedagógica e financeira das antigas instituições de ensino que compunham RFEPT. A lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que criou os Institutos Federais, trouxe também um novo modelo de instituição, a partir de um reordenamento e aproveitamento da estrutura já existente das antigas escolas técnicas, agrotécnicas e Cefets. Desse modo, as unidades já consolidadas deixaram para trás suas denominações anteriores, para serem conhecidas como campi dos Institutos Federais, seguidas do nome das cidades, as quais pertencem. Retomando aos fatos, na esfera federal, o ensino técnico profissional surgiu a partir do ano de 1909, com a assinatura do Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, pelo então presidente da República, Nilo Peçanha, com a criação das escolas de aprendizes e artífices, cujas instituições tinham por finalidade a formação de contramestres e operários. Como parte desse processo, no ano de 1960, emerge a Antiga Escola Agrotécnica de Januária, criada pela Lei Federal nº 3.853, de 18 de dezembro de 1960. Ao longo de sua história, a instituição passou por profundas transformações, que a fez experimentar várias mudanças de nomenclaturas, desde a denominação de Escola Agrotécnica de Januária em 1960, a Colégio Agrícola de Januária - em 1964, transformando-se em Escola Agrotécnica Federal de Januária (EAF Januária), em 1979, e posteriormente, Centro Federal de Educação Tecnológica de Januária, (Cefet Januária), em 2002, culminando-se no atual Ifnmg campus Januária em 2008.
O Projeto Pé na Caminhada como divisor de águas para as atividades extensionistas na instituição Ao longo de sua história, o campus Januária vivenciou a implementação de vários projetos de cunho social, sendo que o Projeto pedagógico de extensão rural, denominado “Projeto Pé na Caminhada”, foi um marco para a história da extensão no campus, passando de um projeto da então Escola Agrotécnica Federal de Januária (EAFJ), para se transformar em um suporte de reflexão, motivando outras atividades de pesquisa e extensão na instituição. Vale ressaltar que a atuação da EAFJ, junto ao referido projeto, não era realizada como parte da sua função como - 97 -
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entidade extensionista, mas, fruto da boa vontade de pessoas que se sensibilizavam com as comunidades vulneráveis do entorno. Desenvolvido no período de 1993 a 1998, pela então EAFJ, o projeto Pé na Caminhada atuava com comunidades excluídas da dinâmica social, política e econômica e com as peculiaridades culturais, mais precisamente algumas aldeias do povo indígena Xakriabá, e também de comunidades ribeirinhas, moradores próximo ao Rio São Francisco e uma comunidade de assentados da reforma agrária - Fazenda Picos. Tratava-se de uma experiência pedagógica pautada em uma prática diferenciada de extensão rural que buscava o desenvolvimento comunitário, a partir da valorização humana e do respeito à cultura daquele povo. O relato a seguir trata de uma experiência com um grupo de pesquisa, formado por alguns docentes e discentes do curso Técnico em Agropecuária, sendo coordenado pela pedagoga da instituição, na época. O grupo contou também com a parceria de agentes externos, que se compunham de integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) 9. Registros apontam que nos primeiros contatos com as comunidades, a metodologia de intervenção se restringia à transmissão de conhecimentos tecnológicos. Os técnicos da escola planejavam e implantavam projetos agropecuários nos locais selecionados e às comunidades cabiam seguir as orientações dadas, para garantir o resultado satisfatório, que nem sempre se efetivava. Após alguns insucessos nas atividades desenvolvidas, chegou-se à conclusão de que os projetos deveriam partir do interior das comunidades e que, somente em uma interlocução entre elas e a escola, adquiririam reais chances de êxito. Assim, as comunidades passaram a ser consideradas a partir dos seus sujeitos - seus costumes, valores, sentimentos, expectativas. Logo, mesmo que o projeto tivesse como objetivo contribuir para minimizar a pobreza das comunidades envolvidas, isso deveria ser consequência direta dos arranjos, nas discussões internas, realizadas de maneira autônoma e sem dependência dos agentes externos. Como ilustração do exposto, consta em relatório de trabalho (CIMI, 1997) que, a partir das ações do referido projeto, os Xakriabás conseguiram produzir uma quantidade excedente da cultura do feijão, maior que a habitual, que excedia também o consumo daquele povo. Tal excedente fez com que os proponentes considerassem uma possível falha na condução dos projetos por não incluírem a discussão e as soluções sobre estratégias de mercado que incluiriam a figura do possível escoamento do excedente da produção de subsis9 Órgão não-governamental, associado à CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil -, ator importante no processo histórico recente dos xakriabá.
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tência, o que resultaria na venda da produção fora da Terra Indígena. Em investigação posterior (ESCOBAR, 2012), os dados comprovaram que não houve nem desperdício nem prejuízo com a experiência da colheita abundante do feijão. Pelo contrário, a experiência constituiu também, internamente, em oportunidade para a realização do sistema de troca, próprio da tradição daquela sociedade indígena. No entanto, naquela ocasião, faltou discutir com os próprios indígenas, a questão da destinação do resultado da produção, respeitando a lógica interna.
O Projeto Mulheres em Ação - jogando limpo com a natureza como gerador de renda por meio do desenvolvimento sustentável O Projeto Mulheres em ação - jogando limpo com a natureza sinaliza o início de um processo de institucionalização da extensão no Ifnmg-campus Januária, por estar diretamente relacionado com os princípios da oferta de projetos de extensão universitária. Tal iniciativa remete ao então Cefet Januária, uma vez que foi implementado no ano de 2008, em cuja data, a instituição dava os seus primeiros passos na oferta do ensino superior. O projeto teve como objetivo a geração de emprego e renda de um grupo de mulheres, denominado Mulheres em ação, a partir do incentivo e facilitação da produção comunitária de sabão em barra caseiro, na utilização do óleo vegetal comestível usado, como matéria-prima, de forma a contribuir diretamente na redução do descarte inadequado destes resíduos no meio ambiente. Resumidamente, a proposta fundamentou-se em dois pilares básicos: geração de renda e sustentabilidade ambiental. A iniciativa transcorreu a partir da mobilização dos alunos dos cursos superiores de Administração (Gestão Comercial) e Análise em Desenvolvimento de Sistemas e o grupo Mulheres em Ação, formado por mulheres dos bairros Jussara, Eldorado e Alto dos Poções que já produziam sabão em barra, a partir da reutilização do óleo de cozinha usado. Tendo em vista a contemplação do referido projeto com financiamento do ProExt 2007 – Sesu, após submissão de proposta, devido ao recurso financeiro favorável, os acadêmicos e professores, com o grupo Mulheres em Ação definiram estratégias para o início das ações. Após euforia do processo de conscientização que mobilizou a comunidade interna e externa para armazenamento e doação do óleo utilizado, iniciou-se a atividade de melhoria do processo produtivo do sabão, já confeccionado artesanalmente pelas referidas mulheres. Devido ao acompanhamento técnico de profissionais do então Cefet Januária, associado - 99 -
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à aquisição e instalação do maquinário adquirido com recursos do ProExt, foi agregado ao sabão, padronização, fragrância, cor e demais atributos necessários à comercialização. Assim, a ação do Instituto foi efetivada através da disponibilização de assessoria técnica através de uma equipe multidisciplinar que viabilizou a efetiva implantação e funcionamento de uma microindústria comunitária de sabão em barra como uma estratégia de fortalecimento de grupos comunitários, buscando a autonomia e a sustentabilidade econômica e ambiental. Transcorridos pouco mais de 2 anos da implementação do projeto em pauta, (NEVES, et al., 2010) constatou o grande impacto social do projeto, tendo em vista que a aceitação do sabão fabricado a partir do óleo comestível reciclável foi bastante expressiva. Segundo os autores, o trabalho de conscientização realizado pelo grupo, em relação à reciclagem do óleo e colaboração da comunidade no recolhimento dos resíduos teve forte impacto social, culminando em novas parcerias e apoio de diferentes setores da sociedade local. Por intermédio da investigação de (NEVES, et al., 2010), as atividades de produção de sabão caseiro geraram renda de forma direta para cerca de 20 famílias ou 86 pessoas e, indiretamente para cerca de 2.500 pessoas, cujo número, estima-se, que contempla os moradores dos bairros Jussara, Eldorado e Alto dos Poções.
A atuação do NEA Minas d’Água junto às comunidades extrativistas do Peruaçu O Núcleo de Estudos em Produção Orgânica e Agroecológica NEA Minas d’Água foi compreendido ente os anos de 2013 a 2017. O NEA foi criado a partir de um edital do CNPq/Mapa/MCTI, com o intuito de formalizar um grupo de servidores e discentes do IFNMG, com parceiros atuantes na região, para atuação e divulgação de temas relacionados à agroecologia, extrativismo e desenvolvimento rural sustentável. Desde o princípio, o NEA encontrou terreno muito fértil para suas atividades em algumas comunidades na região do Peruaçu, as quais participaram efetivamente de várias etapas dos projetos que lá foram desenvolvidos. Os parceiros que proporcionaram a criação e apoiaram todas as ações do NEA, nesse caminho, foram a Cáritas Diocesana de Januária, WWF, Funatura, Fundação Banco do Brasil e ICMBio. Nesses cinco anos, o NEA desenvolveu dois macros projetos e apoiou vários outros que resultaram na melhoria de vida para os moradores das comunidades atendidas. - 100 -
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O primeiro macro projeto foi realizado entre 2013 e 2015 e proporcionou a criação formal do NEA Minas d’Água. Como principais ações, destacam-se o diagnóstico realizado a campo para subsidiar as ações de implantação das tecnologias sociais e unidades demonstrativas de hortas, criação de animais em parceria com os projetos “Implementando tecnologias sociais em favor de sua gente e rio” e “Água Brasil”. Esses projetos foram encabeçados pelos parceiros e foi a primeira aproximação do IFNMG com as comunidades, estabelecendo um vínculo de confiança com os demais atores envolvidos. O segundo macro, também fruto de edital lançado pelo CNPq/Mapa e MCTI, foi realizado entre 2015 e 2017 e a temática trabalhada foi o extrativismo sustentável no Peruaçu. Segundo projetos de pesquisa que apoiaram o projeto de extensão, toda família campesina no Peruaçu pratica o extrativismo de frutos do cerrado. No entanto, apesar de ser uma atividade passada de geração para geração que conserva conhecimentos tradicionais importantes, o extrativismo pode se tornar predatório. As ações do NEA auxiliaram a criação da cooperativa de extrativistas do Peruaçu, a Cooperuaçu, que vem atuando no processamento e beneficiamento de fruteiras. Conforme relatos de alguns extrativistas envolvidos, essa atividade tem se tornado rentável e os projetos desenvolvidos no Peruaçu através da atuação do NEA, trouxeram esperança e outras expectativas de desenvolvimento para a região. Os projetos desenvolvidos idealizavam incorporar mudanças nas comunidades por meio de tecnologias e capacitações para que os sujeitos beneficiados pudessem viver nesse ambiente de mudança, recuperando e conservando a natureza, com geração de renda e fixação do homem no campo. O projeto pretendeu, ao aperfeiçoar metodologias de aproximação das comunidades, cultivando um relacionamento de respeito e confiança com elas, estabelecer uma via de mão dupla, numa doação recíproca.
A inclusão digital na comunidade Quilombola de Palmeirinha Outra experiência no desenvolvimento de projetos de extensão, no campus Januária, foi o Projeto de Inclusão Digital na Comunidade Quilombola de Palmeirinha, município de Pedras de Maria da Cruz/MG. A iniciativa se deu em dois momentos distintos, o primeiro foi o projeto “Inclusão Digital dos Jovens Agricultores Familiares da Comunidade Quilombola de Palmeirinha” realizado em 2012 com financiamento do Ministério das Comunicações. A proposta resultou na implantação de um telecentro na comunidade, equipado com 15 compu- 101 -
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tadores e acesso à internet, capacitando 60 jovens no uso do computador e na utilização da tecnologia da informação e da Internet como mecanismo para obtenção de informação para o trabalho agrícola. A principal atividade na comunidade de Palmeirinha é a agricultura familiar, motivo pelo qual muitos dos jovens dessa comunidade, frequentemente, migram para outras regiões em busca de melhores oportunidades de trabalho. Visando ampliar para os demais membros da comunidade, o conhecimento em informática, no ano de 2014, foi executado o projeto “Informática na Escola: Uso do Computador na Escola da Comunidade Quilombola de Palmeirinha como Recurso Pedagógico” que foi financiado pelo Pibex do Ifnmg-campus Januária. Nesse projeto, 15 professores foram capacitados no uso do sistema Linux Educacional, sendo habilitados para introduzir o conhecimento em informática, já nos anos iniciais do ensino fundamental.
O projeto Agrofloresta como alternativa para fixação do agricultor no campo O Projeto Agrofloresta para produção de alimentos com conservação do solo e da água foi desenvolvido nos meses compreendido entre maio a novembro de 2016. O projeto teve como objetivo garantir a sustentabilidade e a permanência do pequeno agricultor no campo, por meio da produção de espécies perenes, como fruteiras e outros alimentos, no período chuvoso, como milho, feijão, abóbora entre outras culturas. A experiência foi aplicada na propriedade do senhor José Tourino, na comunidade de Olhos d’ Água, pertencente à região do Peruaçu, após realização de diagnóstico que constatou o desânimo do agricultor, devido às recorrentes perdas, por causa da escassez da chuva. A iniciativa surgiu a partir de uma proposta para implementação de técnicas de conservação do solo para aumentar a infiltração da água de chuva, garantindo que esta água ficasse disponível no solo para ser utilizada pelas plantas, durante os dias de estiagem, permitindo, a conclusão do ciclo até a colheita. Tendo o proprietário aceito o desafio, foram implementados os terra10 ços na área. Ao ver os terraços cheios de água, o produtor passou a acreditar que era possível plantar o milho como de costume. Na oportunidade, plantou-se, não apenas o milho, como o feijão andu, que é muito bom para aumentar a fertilidade do solo e diminuir a compactação, pois, a raiz apro10 Prática mecânica para conservação de solo e água da chuva.
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funda, quebrando a camada compactada, sendo que as folhas mortas cobrem o solo, tornando-se fontes de nutrientes, e, consequentemente, passam a ser adubo natural. A partir dessa experiência, o senhor José Tourino relata que foi o único entre seus vizinhos da região que conseguiu colher milho. Além disso, foram plantadas também na propriedade, mudas de árvores que estão em desenvolvimento e a partir do terceiro ano já começarão a produzir frutas que, com certeza, agregarão à alimentação e, consequentemente, à renda da família. José Tourino afirmou estar muito feliz com a experiência, acrescentando que possui uma agrofloresta em sua propriedade, devido a plantação de mudas de várias árvores, incluindo diferentes espécies de plantas frutíferas como, umbu, caju, laranja, manga e tamarindo. Este projeto pretendeu melhorar a convivência com o semiárido, suprindo deficiências básicas em comunidades carentes e buscando aprimorar as atividades humanas na região para gestão de renda, cultura, saúde e desenvolvimento local.
Atuais dados da extensão no IFNMG campus Januária Além dos projetos apontados, são inúmeras as ações que a instituição registra dentro dos eixos, social, cultural, artístico, esportivo, tecnológico e de empreendedorismo. Somente no ano de 2018, a tabela abaixo nos apresenta 56 projetos cadastrados, sendo que entre estes, 46 foram custeados com fomento interno e 11 são projetos voluntários. Ainda conforme a tabela, os projetos de extensão em 2018, contam com 58 bolsistas, 126, discentes voluntários envolvidos e total de 124.320, 20 em recursos financeiros investidos.
Considerações finais Se a história dos 10 anos dos Institutos Federais é recente para a consolidação das ações de extensão em cada campus, no Campus Januária esta história caminha para os seus 58 anos, desde a criação da Escola Agrotécnica de Januária, em 1960. Evidente que as configurações legais nas primeiras décadas de existência da instituição não favoreciam as atividades de extensão, nem de forma organizacional, muito menos financeira. No entanto, a assistência técnica agrícola, vocação primeira da instituição, estava sempre presente, somando-se ao apoio de parcerias como, a Emater, o Cimi, a Cáritas entre outros. - 103 -
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As demandas apresentadas pelas parceiras e comunidades da área de abrangência foram mola propulsora importante para alavancar as ações de extensão, bem como a busca pela inserção dos educandos na realidade local, como bem descrito no projeto Pé na caminhada. O progressivo aumento das atividades de extensão apresentado no transcorrer deste artigo também foi alavancado pela condição da carga horária docente, pelo investimento financeiro, e pela estrutura organizacional que valorizasse a extensão dentro da fomentasse a instituição. O Regulamento para Gestão das Atividades Docentes do IFNMG, aprovado pela Resolução CS nº 35/2013, de 29 de novembro de 2013, esclarece as atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão como atividades inerentes às atribuições dos docentes e mais: quando define o máximo de 16 horas para carga horária voltada para o ensino, abre espaço para carga horária disponível às outras atividades, dentre elas a extensão. Esta medida contrasta com situações, até então de alta carga horária em sala de aula, impedindo o envolvimento dos docentes com as demais atividades. Como Instituto Federal, o antigo Cefet Januária pôde transformar a Ciec, Coordenação Instituição Empresa-Comunidade em Departamento de Extensão e, posteriormente em Diretoria de Extensão. Como Ciec, as ações visavam à integração com o mercado de trabalho, prioritariamente na oferta de estágio. A melhoria na estrutura organizacional da extensão permitiu o olhar prioritário sobre as ações de extensão, delegando ao estágio uma coordenação, subordinada à Diretoria. A estruturação organizacional, de infraestrutura e de pessoal, permitiu e - 104 -
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exigiu a estruturação financeira, com repassasse de recurso para gestão direta pela extensão, regido por editais, incentivando a participação dos servidores. O registro de outras atribuições dos docentes, que não somente o ensino, permitiu que a execução dessas ações fossem pontuadas nos processos institucionais, tais como progressão funcional e afastamento para qualificação, o que fortalece a busca dos servidores por tais ações. Como se vê, o percurso das ações de extensão do campus Januária é extenso, mas não se pode negar que adquiriu outras configurações, a partir de dois marcos importantes: a transformação em Cefet, no ano de 2002, que com a oferta de cursos superiores, coloca ênfase nas ações de extensão a partir do art. 207 da Constituição Federal: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Evidente que a instituição não havia se transformado em universidade, mas a permissão para ofertar cursos superiores exigia que todas as prerrogativas das universidades fossem implantadas, inclusive a extensão. O projeto Mulheres em Ação coloca-se como um marco deste momento institucional. Outro marco foi à transformação do Cefet Januária em IFNMG, a partir da Lei nº 11.892/2008, que trouxe um investimento organizacional e de recurso para a extensão, como descrito acima. No entanto, faz-se também necessário refletir, a partir de que momento as ações de extensão do campus Januária abandonaram o caráter de cunho assistencialista, pautado no levar, depositar, transferir, cuja concepção reflete, historicamente, os primórdios de um fazer extensionista, a nível mundial, transformando-se em proposta de desenvolvimento do protagonismo social. A pesquisa demonstrou que mesmo antes do Cefet Januária e da oferta da educação superior, o projeto “Pé na Caminhada” já trazia um cunho protagonista, colocando-se como um divisor de águas a partir de uma ação que passa por um processo de reflexão, ainda durante a sua implementação, mesmo que os propósitos não estivessem bem definidos. Apesar das falhas em ouvir inicialmente as comunidades, as ações voltaram-se para o seu fortalecimento por meio da melhoria da produção. Atualmente, o desafio da extensão passa pela discussão da sua curricularização. Apesar de ser uma medida que ainda está se estruturando, tanto documental quanto no envolvimento dos servidores, a proposta vem com o objetivo de estreitar ainda mais a relação entre o saber produzido e as comunidades, em um processo de fortalecimento mútuo, embasado em uma educação para a solução das demandas sociais. - 105 -
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IFNMG Montes Claros:
o fazer extensionista nas trilhas do coração robusto da Princesinha do Norte Rony Enderson de Oliveira1; Mario Sérgio Costa da Silveira2
Resumo O presente artigo tem como objetivo discutir sobre a importância da extensão para o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, em especial no campus Montes Claros. O artigo destaca as ações de extensão desenvolvidas no campus Montes Claros a partir do início das atividades do campus em 2010. Não é nem foi a intenção do artigo classificar por importância os projetos, mas sim descrever algumas atividades desenvolvidas. A pesquisa representou um estudo exploratório qualiquantitativo por meio de análise das experiências de servidores do campus citado, de relatos publicados na Revista Contação e dos projetos cadastrados na Proex. Palavras-chave: Extensão. Institutos Federais. Comunidade.
Introdução Este artigo é resultado de uma pesquisa sobre a extensão no campus Montes Claros e teve como princípio identificar a contribuição dos projetos de extensão para a formação dos alunos e do atendimento do campus às demandas das comunidades da área de abrangência do campus. Descrevemos aqui alguns projetos desenvolvidos pelo campus desde o início das suas atividades na cidade de Montes Claros no ano de 2010. Percebemos que após a mudança para a sede própria o campus ampliou o atendimento a várias demandas de atividades extensionistas.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo e um estudo exploratório. 1 Servidor do IFNMG e Mestre em Saúde, Sociedade e Ambiente 2 Professor do IFNMG, Licenciado em Geografia, Pós-Graduado em Geografia e Gestão Ambiental e em Educação a Distância e Mestre em Sociologia Política.
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Quanto à abordagem qualitativa adotada nesse trabalho, se fez jus, porque se buscou compreender, de forma mais aprofundada, o desenvolvimento das ações de extensão no campus Montes Claros. No que diz respeito ao método qualitativo na pesquisa, Terence e Filho (2006) destacam que: Na abordagem qualitativa o pesquisador procura aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda ações dos indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente e contexto social interpretando-o segundo a perspectiva dos participantes da situação enfocada, sem se preocupar com as representações numéricas, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito. (TERENCE e FILHO, 2006, p. 02)
Para desenvolvimento do artigo fez-se uso da pesquisa exploratória e foram consultados vários documentos, sites, reportagens que promoveram a divulgação das ações de extensão que foram desenvolvidas no campus desde o início das atividades, além do relato de experiências de servidores do campus que atuaram de forma direta no desenvolvimento de ações extensionistas.
Caracterização da cidade de Montes Claros O município de Montes Claros é o sexto maior município do Estado de Minas Gerais em população residente com estimativa do IBGE de 402.027 habitantes em Julho de 2017. É considerada cidade polo da região já que, na ótica de Silveira (2003), concentra uma diversidade de serviços urbanos, tanto públicos como privados, além de concentração de capitais de forma a influenciar as cidades do seu entorno. Fonseca (2010, p. 86) ainda complementa essa ideia quando afirma que “o quadro urbano na região de Montes Claros agrega os valores concebidos pela lógica industrial e formata uma urbanização orientada pelo processo de industrialização”. Além disso, de acordo com os dados da Fundação João Pinheiro (2017), Montes Claros destaca-se como o 10º maior PIB do estado de Minas Gerais e o 111º do Brasil, com ênfase para os serviços e a atividade industrial. Assim, a cidade figura-se como a mais importante da porção centro-norte do estado de Minas Gerais. Essa característica influenciou de forma direta nas atividades extensionistas que foram desenvolvidos pelo IFNMG-campus Montes Claros, tema que será tratado no próximo item desse trabalho.
A extensão no campus Montes Claros Com o início das suas atividades em 2010, o campus Montes Claros começa suas ações de extensão com a oferta de cursos de informática básica e de vendas que foram formatados juntamente com a Secretária Municipal de Educação de Montes - 112 -
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Claros e representante da Fundação Irmã Dulce. É marcante na atuação da extensão do Campus a busca de parcerias que norteassem as ações. Desta forma, juntamente com o CRAS JK-Village do Lago foram desenvolvidos cursos de pedreiro e auxiliar de pedreiro, e com a Associação de Municípios da Área Mineira da Sudene (Amans), cursos na área de informática. A mudança do campus para a sua sede própria potencializou a extensão. Agora podendo contar com mais salas de aula, auditório e laboratórios de informática, química, eletrotécnica e segurança do trabalho, houve a possibilidade de diversificação. Assim, foram desenvolvidas ações nas áreas de ciências, química, informática, eletrotécnica e segurança do trabalho atendendo, principalmente, as comunidades do entorno do campus. O projeto “Pré-Técnico” merece destaque3. Este foi um curso preparatório para os processos seletivos do IFNMG voltados alunos das séries finais do ensino fundamental das escolas públicas dos bairros da região nordeste de Montes Claros. Além deste, desenvolveu-se ainda em 2012 o “Programa de Assistência Técnica (Proast)”, projeto que teve como principal objetivo a assistência técnica na área de eletrotécnica para as comunidades do entorno do campus. As experiências exitosas dessas ações fizeram com o que o campus institui-se o direcionamento de recursos específicos para o financiamento de projetos de extensão a partir de editais próprios. No ano de 2012, deu-se início ainda à política de aproximação do Campus com o mundo do trabalho e produção. Desta forma, foi realizada a Primeira Visita Empresarial que renderam bons frutos relacionados a estágios e emprego para os discentes e significativas parcerias para o desenvolvimento de projetos de pesquisa, extensão e ensino. A partir do exposto pode-se notar um norteamento do campus Montes Claros para duas vertentes: o atendimento das demandas dos bairros do entorno e a aproximação com as empresas da cidade buscando atender as suas necessidades. No período de 2013 a 2018, houve um aumento das ações que foram desenvolvidas devido à ampliação do número de alunos matriculados nos cursos regulares e da conscientização da comunidade acadêmico-escolar com relação a importância da extensão para a consolidação do campus na região.
3 Esclarece-se que esses dois projetos foram institucionalizados, ou seja, são executados atualmente com financiamento do campus sem a necessidade de concorrer em edital. Essa medida foi tomada já que ambos impactam diretamente na política de aproximação com as comunidades dos bairros próximos ao campus.
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Gráfico 1. Evolução de projetos do campus Montes Claros cadastrados na Proex/IFNMG 25 21 19
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Fonte: Dados da PROEX-IFNMG. Org.: OLIVEIRA, 2018.
Houve também crescimento do número pessoas atendidas como pode-se ver no gráfico abaixo. Gráfico 2. Evolução do número de atendidos por projetos de extensão do campus Montes Claros 35000 30945 30000 25000 20000
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Fonte: Dados da CEX-IFNMG Campus Montes Claros.Org.: SILVEIRA, 2018. - 114 -
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Os dados expressos evidenciam a melhoria de desempenho na extensão do Campus. A busca por parcerias foi um dos pontos chave para esse sucesso. Destaca-se as assinaturas de convênios para o desenvolvimento de ações de ensino, pesquisa e extensão com Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (ICA-UFMG), com as Faculdades Santos Agostinho, com o município de Montes Claros e com o Centro de Educação Popular e Apoio ao Desenvolvimento das Comunidades Rurais do Cerrado, além da intermediação dos convênio de estágio com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e com a Fundação Educacional Montes Claros (FEMC). O convênio com o ICA-UFMG merece ênfase já que tem rendido vagas de estágio, bolsas de iniciação científica, projetos em conjunto e compartilhamento de equipamentos. Outra instituição que atua de forma próxima ao Campus é a Unimontes onde, além de vagas de estágio, já foram executados eventos em parceria como a Escola de Verão em Computação nos anos de 2013 e 2014, e a VII Maratona Mineira de Programação no ano de 2018. Nos últimos anos, uma das ações da extensão do campus é o incentivo ao empreendedorismo e inovação. Desta forma, foi criado o Núcleo de Relações Empresariais e Comunitárias (NREC) que tem como objetivo, além da busca de parcerias para estágio e emprego, impulsionar o desenvolvimento de empresas juniores, o empreendedorismo e inovação na comunidade acadêmico-escolar. Hoje o campus possui duas empresas juniores sendo uma de Ciência da Computação e outra de Engenharia Química4. Além disso, em conjunto com a Coordenadoria de Pesquisa e Inovação, o campus participa do grupo que vem organizando o Meio Ambiente de Inovação de Montes Claros. Ademais, vem sendo desenvolvido pelo campus visitas a empresas, visando abrir o leque de oportunidades para atuação.
Considerações finais A extensão representa no Instituto Federal a materialização do ensino, da pesquisa e da gestão. É através da extensão que o Instituto possibilita que as comunidades usufruam das pesquisas e das ações desenvolvidas. Assim, o campus Montes Claros vem direcionando as suas ações para o atendimento de demandas da sociedade principalmente dos bairros do seu entorno e também das empresas. Frutos desse esforço já foram colhidos especialmente quando se observa a quantidade de alunos do campus que conseguiram ingressar no mercado de trabalho pelas parcerias para o desenvolvimento de projetos e pela inserção 4 A empresa júnior de Ciência da Computação encontra-se registrada e com CNPJ ativo. Já a de Engenharia Química está ainda em processo de registro.
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do campus nas comunidades do entorno. Todavia entende-se que o trabalho só se iniciou já que as demandas que vem chegando mostram que há possibilidade de crescimento para as ações da extensão do IFNMG campus Montes Claros. Referências bibliográficas Fundação João Pinheiro, Diretoria de Estatística e Informações. Produto Interno Bruto dos Municípios de Minas Gerais: 2015. Belo Horizonte: FJP, 2017. FONSECA, Luciana Silva. Planejamento urbano: análise da configuração do espaço da cidade de Montes Claros-MG. Montes Claros: Unimontes, 2010. Disponível em: < http://www.ppgds.unimontes.br/index. php/2010?task=document.download&id=66>. Acesso em: 10 de abr. 2014. SILVEIRA, Yara Maria Soares Costa da. Montes Claros e o bairro Cidade Industrial: retrato de um centro polarizador no norte-mineiro. Uberlândia: UFU, 2003. TERENCE, A. C. ; FILHO, E. E. A. Abordagem quantitativa, qualitativa e a utilização da pesquisa-ação nos estudos organizacionais. Fortaleza - CE: XXVI Enegep, 2006.
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Campus Pirapora: Uma ponte extensionista neste porto da história de Minas. Alessandro Carneiro Ribeiro1; Lunna Chaves Costa2; Maria do Socorro Vieira Barreto3; Rony Enderson de Oliveira4; Santina Aparecida Ferreira Mendes5.
Resumo Este trabalho busca identificar, descrever e refletir sobre as ações de extensão desenvolvidas no âmbito do campus Pirapora, situado no município homônimo, o qual se localiza na mesorregião Norte de Minas Gerais, à margem direita do rio São Francisco. A pesquisa trata-se de um estudo exploratório e descritivo baseada na História Oral Temática (HOT). Através de entrevistas com os sujeitos destas ações, foi possível reconstituir este percurso. Na coleta de dados, utilizou-se ainda a pesquisa documental e bibliográfica, sobretudo, a Revista da Extensão “Contação”. As atividades de extensão desenvolvidas pelo campus têm viabilizado a articulação entre ensino e pesquisa, valorizado a troca de experiências e saberes e possibilitado a aproximação do Campus com a comunidade externa, numa escuta dialógica, objetivando atender aos seus anseios, numa perspectiva de fortalecimento do tripé formativo, formação profissional cidadã, desenvolvimento local e regional e autonomia da população. Palavras-chave: campus Pirapora. Extensão. Interação Dialógica.
Introdução O IFNMG campus Pirapora é um espaço criado para possibilitar a agregação de inúmeros saberes, a produção e difusão de conhecimentos. Um dos seus pilares e expressões do compromisso social do campus com as comunidades de abrangência é o desenvolvimento de ações extensionistas, voltadas para a formação de um profissional cidadão e para a construção de estratégias e ações comprometidas com a realidade social. 1 Professor do IFNMG, Mestre em Informática, Especialista em Engenharia de Sistemas. 2 Professora do IFNMG, Graduada em Arquitetura e Urbanismo, Pós-graduada em Docência do Ensino Superior e Mestranda em Sociedade, Ambiente e Território 3 Professora do IFNMG, Mestre em Educação e especialista em Processo Ensino-aprendizagem 4 Servidor do IFNMG, Mestre em Saúde, Sociedade e Ambiente 5 Professora do IFNMG, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
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É na efetiva relação dialógica entre comunidade interna e externa que os sujeitos vão se situando historicamente, culturalmente, identitariamente e se propondo a ouvir e atender as demandas da população local. Deste modo, priorizar uma formação profissional cidadã, no âmbito da extensão no campus, estritamente ligada ao ensino e à pesquisa, é de grande importância para que os estudantes sejam capazes de refletir sobre suas vivências, experiências e aprendizagens em sala de aula e outros ambientes escolares, no convívio com a comunidade, bem como colocar essas vivências a serviço de um projeto social comprometido com a melhoria das condições materiais e de vida da população. Frente ao exposto acima, os questionamentos que nos motivam a descrever e refletir sobre as práticas extensionistas do campus Pirapora são: quais as relações atuais existentes entre o campus e as comunidades de abrangência? Estas ações estão comprometidas com o desenvolvimento e a autonomia da população local? Esta proposta justifica-se pela possibilidade de reflexão sobre este caminhar extensionista, objetivando avaliar se estas estão possibilitando a construção de um projeto social capaz de transformar o conhecimento em ponte neste “Porto da História de Minas”, que permita interligar o campus Pirapora aos anseios da comunidade, com vistas ao desenvolvimento e ampliação das ações e parcerias realizadas e ao exercício do papel social do campus na geração de tecnologias, saberes e inovações a serviço da comunidade.
Metodologia
A pesquisa foi realizada no campus Pirapora, situado no município homônimo que se localiza na mesorregião Norte de Minas Gerais, Alto São Francisco, à margem direita do rio São Francisco, tendo como municípios limítrofes Buritizeiro e Várzea da Palma. Possui uma área de 549,514 km² e uma população de 53.368 habitantes. A pesquisa refere-se a um estudo exploratório e descritivo baseada na História Oral Temática (HOT), a qual deve ser compreendida como um método que possibilita a construção de interpretações sobre processos históricos referidos a um passado recente que, muitas vezes, só é dado a conhecer por intermédio de pessoas que participaram ou testemunharam algum tipo de acontecimento (THOMPSOM, 1998). A finalidade da pesquisa foi identificar, descrever e analisar as ações de extensão desenvolvidas no campus, através de entrevistas com os sujeitos destas ações. Na coleta de dados, utilizou-se ainda a pesquisa documental e bibliográfica, sobretudo a Revista de Extensão “Contação”. - 120 -
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Caracterização do município e histórico do IFNMG campus Pirapora Situada no Alto São Francisco, a cidade de Pirapora fica à margem direita do rio São Francisco. Conforme dados do IBGE (2010), o município de Pirapora está localizado também na mesorregião Norte de Minas Gerais tendo como municípios limítrofes Buritizeiro e Várzea da Palma. Possui uma área de 549,514 km² e uma população de 53.368 habitantes. Segundo Neves (1999), o nome Pirapora originou-se da língua Tupi, apresentando o seguinte significado: pirá (peixe) e pora (habitante de). Assim, Pirapora significa o “lugar onde moram os peixes” ou “morada dos peixes”. Souza (2008, p.75), entretanto, afirma que “entre os habitantes locais, outra tradução da palavra, tradicionalmente aceita como “lugar onde o peixe salta” é mais comumente utilizada” De acordo com dados oficiais do site da Prefeitura Municipal de Pirapora, a origem da cidade está intimamente ligada aos índios Cariris que teriam subido o rio São Francisco e aportado na área hoje compreendida pelo município de Pirapora, estabelecendo uma aldeia onde atualmente se situa a praça Cariris, no centro da cidade. Vieram também garimpeiros, pescadores, pequenos criadores de gado e aventureiros que, sob influência da cultura indígena, construíram suas casas de enchimento, cobertas de palha de buriti, e passaram a se dedicar a diversas atividades, dentre estas, a pesca. Desde 1871, já havia navegação a vapor pelo rio São Francisco, entretanto, somente em 1902 os vapores “Saldanha Marinho” e “Mata Machado” iniciaram o tráfego regular. Por muitos anos a Estrada de Ferro Central do Brasil – EFCB, representou um importante meio de transporte e comunicação com os grandes centros urbanos do centro-sul do país. Corroborando estes dados, Drumond (2007, p. 48) afirma que “Pirapora desenvolveu-se sustentada em dois fatores determinantes: ponto inicial da navegação do Velho Chico – porto fluvial e a Estrada de Ferro Central do Brasil – EFCB (1918)”. O rio São Francisco sempre ocupou um lugar de destaque na história do município de Pirapora porque possibilitou a migração de pessoas para aquela localidade e promoveu o desenvolvimento de atividades econômicas, sobretudo, a venda do pescado, as “culturas de vazante” que produziam mandioca, milho, melancia e cana, e o transporte fluvial realizado pelo rio. Santos (2017, p. 25) destaca que “no século XVIII, especialmente em seu final, já havia muitas barcas singrando as águas do rio São Francisco, transportando pessoas e cargas, sendo o sal o principal produto comercializado”. - 121 -
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Lamentavelmente, Souza (2008, p. 84) esclarece que, Ultimamente, o trecho entre Pirapora e a barragem de Sobradinho vem apresentando longos trechos com baixas profundidades no período de estiagem, o que representa graves riscos para a navegação local, resultado de desmatamentos, destruição da mata ciliar e assoreamento do leito do rio. O baixo nível do rio já inviabilizou o transporte de cargas em alguns períodos, como em 2000. A degradação contribui para a alteração do regime fluvial e aumento de sedimentos transportados. Com os desmatamentos, tal regime se caracteriza por fortes cheias e vazantes, o que somado ao aumento de sedimentos provoca mudanças no canal fluvial, de retilíneo para anastomosado, tornando o São Francisco um rio de leito migratório. Souza (2008, p. 78) ainda acrescenta que diversas festas populares também atraem grande número de pessoas para o município, como o carnaval, a “Festa do Sol”, a “Festa da Uva”, encontros de motociclistas, festivais de pesca, aniversário do município e exposições agropecuárias. Segundo dados oficiais do site do campus Pirapora, a inserção desta primeira instituição federal de ensino, neste “Porto da História de Minas”, representou uma importante conquista para o desenvolvimento da região ao promover uma educação pública de qualidade e buscar atender as demandas dos arranjos produtivos, sociais e culturais locais. O campus Pirapora foi criado através da Lei n.º 11.892, de 29 de dezembro de 2008, a partir da integração do Cefet de Januária e da Escola Agrotécnica Federal de Salinas, juntamente com as Unidades de Ensino Descentralizadas (Uneds) de Almenara, Araçuaí, Arinos e Montes Claros. Assim, o campus Pirapora tornou-se uma das Unidades de Ensino integrantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais - IFNMG, que é administrado, coordenado e supervisionado pela Reitoria, órgão executivo do IFNMG, localizada em Montes Claros. A execução da estrutura física do campus Pirapora iniciou-se no segundo semestre de 2009 e foi concluída no segundo semestre de 2010, com uma área construída de 4.520 m², contendo salas administrativas, salas de aula, laboratórios de informática, enfermagem, Química/Biologia e Física/Matemática, além de ampla biblioteca, sala de multimeios, anfiteatro com 300 lugares, cantina com área de convivência, estacionamento, dentre outros ambientes necessários para propiciar o ensino-aprendizagem de seus educandos. Atualmente, o campus Pirapora oferta cursos técnicos integrados ao - 122 -
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médio em Edificações, Informática e Vendas; cursos técnicos nas modalidades concomitante/subsequente em Administração, Edificações, Informática e Segurança do Trabalho; cursos superiores em Administração, Engenharia Civil e Sistemas de Informação.
O fazer extensionista do IFNMG campus Pirapora A Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, na Seção III, em seu artigo 7º, inciso IV, aponta como um dos objetivos dos Institutos Federais o desenvolvimento de “atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais, e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos”. Nesta perspectiva, o eixo fundamental do campus Pirapora é atuar de forma comprometida com o atendimento das demandas da sociedade, buscando obedecer ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. A indissociabilidade, neste contexto, precisa considerar as relações entre ensino, pesquisa e extensão, bem como as relações entre o conhecimento científico e aquele produzido pelas comunidades de entorno. Na ótica de Paulo Freire (1983), a extensão é uma situação educativa, onde estudantes e professores assumem o papel de sujeitos cognoscentes, mediatizados pela realidade. Para Freire, ou a extensão ocorre de forma dialógica, ou ela representa um instrumento de dominação e de invasão cultural. Com este propósito, as atividades de extensão desenvolvidas pelo campus, através de projetos, programas, viagens técnicas, eventos, cursos, minicursos, palestras, oficinas, dentre outras, busca um diálogo constante com a comunidade, tendo em vista valorizar seus saberes e fazeres, bem como atender aos seus anseios. De acordo com a diretora geral do campus Pirapora, professora Joaquina Aparecida Nobre da Silva: A extensão é ensino, é pesquisa, é internacionalização, é comunidade, é gente, é povo, é mundo real. A extensão é a grande oportunidade de entender que o conhecimento tem um objetivo amplo: contemplar o indivíduo na sua coletividade, no seio da sua comunidade, imbricado de culturas, de tecnologias, de essência. A integração de saberes, a formação sólida que dialoga com o entendimento da capacitação profissional, encontra nas atividades extensionistas muitos dos objetivos de uma Instituição de Ensino que desaliena e apropria o humano como ator de participação no mundo do trabalho, na comunidade, na política e na aca- 123 -
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demia. Assim, as atividades extensionistas no Campus Pirapora vêm integrando a comunidade! É uma alegria ouvir o som da fanfarra ecoando pelo Campus e pelo bairro, o som dos tambores que acompanham a capoeira, o movimento de
pessoas e de ideias perpassando por vários espaços na cidade. Dentre os projetos de extensão desenvolvidos no campus Pirapora, menciona-se o projeto “Reciclando com a Cooprarte - Cooperativa de Produção Artesanal de Pirapora”, desenvolvido no período de agosto de 2013 a outubro de 2014, no âmbito do curso de Bacharelado em Administração, coordenado pelos professores Juliara Lopes da Fonseca e Willy de Oliveira, o qual contou com discentes bolsistas. O projeto teve como principal finalidade diagnosticar e analisar o processo de coleta seletiva formal de resíduos sólidos no município de Pirapora, tendo em vista propor soluções para a melhoria deste serviço. Essa ação extensionista possibilitou identificar que o município ainda carece de investimentos a fim de estruturar a coleta seletiva no município. Neste contexto, os resultados do projeto proporcionaram ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto – SAAE, conhecer a realidade da Cooprarte e propor sugestões de fortalecimento da cooperativa, através da associação de catadores informais e a criação de pontos de entrega voluntária para o descarte de materiais reciclados. Numa perspectiva solidária, em 2014, o projeto de extensão “Projetos de Vida na Ponta do Lápis” coordenado pela professora Juliana Silva Ramires, promoveu orientações sobre planejamento e gerenciamento do orçamento familiar, através de minicursos e palestras no campus Pirapora nos eventos promovidos pelo IFNMG e nas empresas que solicitaram palestras. O projeto atendeu mais de 300 pessoas dentre acadêmicos, membros das famílias de baixa renda, estudantes das escolas da rede pública estadual e servidores do Campus Pirapora. De acordo com a coordenadora, “O projeto proporcionou aos participantes o conhecimento de conceitos financeiros e contribuiu para a implementação de uma gestão eficiente dos recursos financeiros através de três elementos, renda, consumo e poupança” (id Ibid:59). O campus Pirapora, sob a coordenação da Professora Maria do Socorro Vieira Barreto desenvolve, desde 2015, o Projeto de Extensão “Adolescentes e idosos: encontro de gerações por meio da Arte”, o qual busca proporcionar uma interação saudável entre os 33 residentes do Lar dos Idosos São Vicente de Paulo e adolescentes dos cursos técnico integrado ao ensino médio. Por meio de visitas semanais ao asilo, são promovidas ações educativas e cultu- 124 -
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rais de modo a contribuir com a formação humana e cidadã dos estudantes e o bem-estar dos idosos. Espera-se que os vínculos sociais entre pessoas que estão em diferentes fases da vida oportunizem a reflexão acerca da valorização da diversidade e da superação do preconceito. O projeto permite a discussão acerca do processo de envelhecimento e, ainda, possibilita o prazer de interagir, compartilhar saberes e internalizar valores tais como a solidariedade e o respeito pelo ser humano. Neste sentido, são ilustrativos os depoimentos dos bolsistas. A bolsista Karen explica suas percepções acerca das visitas: Observo que os idosos vêm mostrando afetividade, eles interagiram e conversaram bastante conosco. [...] D. Sebatiana me disse: ‘Volte sempre e traga alegria para nós’. Eles nos perguntam quando iremos voltar e isso é muito gratificante!
Ao relatar uma das visitas, em que foi proposto trabalhos com plantas medicinais, a bolsista Victória diz: Sugerimos que cada institucionalizado pegasse, sentisse o cheiro do ramo de alecrim e, expressando os sentidos, falasse das suas funções. Emocionei-me ao ouvi-los falando do preparo de chás que, segundo a tradição cultural eram bons remédios para gripe, coração e bronquite.
O bolsista David relata sua percepção dos momentos de interação: Tínhamos preparado algo diferente para os idosos, que iria alegrá-los muito, uma apresentação de teatro, música com violão, brincadeira do afunda ou não afunda e dinâmica da flor. Percebi que eles se soltaram mais um pouco, mas ainda muitas coisas podem melhorar para a integração deles com a gente. Eles ainda precisam de um tempo para se acostumar com a gente.
Enquanto canal de diálogo entre essas duas gerações, o projeto é uma forma de afirmar o compromisso do IFNMG com a responsabilidade social e a inclusão. No ano de 2016, com o objetivo de promover a inclusão social e tecnológica de jovens entre 11 e 17 anos, por meio do ensino de ferramentas gratuitas para o desenvolvimento de aplicativos para celular, foi desenvolvido o projeto “Criando aplicativos para celular utilizando a plataforma APP Inventor”, coordenado pelo professor Daniel Cosme Mendonça Maia, através de curso em ambiente virtual (AVA), palestras, oficinas e minicursos. Com o desenvolvimento desta ação extensionista, foi possível estabelecer diversas parcerias e, - 125 -
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para além das ações extensionistas de atendimento às comunidades de Pirapora-MG, Januária-MG e Itatiba-SP, foi possível conquistar o reconhecimento do projeto por instituições de renome nacional como Technovation e o Instituto Ayrton Senna. Nas palavras do professor Daniel Maia: “O resultado expressivo do projeto se deu pelo planejamento sistemático das ações a serem realizadas, bem como pela utilização de ferramentas de gestão que permitiram a toda equipe obter uma visão compartilhada dos objetivos”. O discente bolsista, Lucas Firmino, foi convidado a participar do júri de avaliação de aplicativos na Tech Oscar 2016, promovida pela prefeitura de Itatiba-SP e pelo Instituto Ayrton Sena, onde como convidado de honra, participou da entrega dos prêmios. Em relação ao projeto, Lucas Firmino disse que a sua participação possibilitou sentir-se mais seguro quanto à sua atuação profissional e adquirir uma nova visão quanto ao empreendedorismo (REVISTA, 2017, p. 78-79). Com o propósito de fomentar as potencialidades turísticas da região, foi desenvolvido, em 2016 e 2017, o projeto ”Formação de multiplicadores e disseminadores da atividade turística do município de Pirapora e região”, cujo objetivo foi capacitar a comunidade em relação aos atrativos turísticos existentes, por meio de três minicursos sobre a temática Conheça Pirapora. O primeiro apresentou e discutiu os principais pontos turísticos da cidade: Igreja São Sebastião, Igreja Bom Jesus de Matosinhos, Ponte Marechal Hermes, Carrancas, Vapor Benjamin Guimarães e o Instituto de Promoção Cultural Antônia Diniz Dumont – Icad. O segundo minicurso, ministrado pelo turismólogo Romulo Melo, tratou do turismo receptivo e de aventura na região e apresentou suas potencialidades ecológicas: as cachoeiras, trilhas, passeios, pontos turísticos naturais preservados, e ainda a estrutura necessária para receber o turista interessado neste tipo de passeio. Dando continuidade ao projeto, no mês de fevereiro de 2017, foi realizado o terceiro e último minicurso com o tema “Cultura e Arte”, o qual tratou de temas como culinária, grupos teatrais e de dança e sobre a capoeira. O evento contou com a participação especial do Mestre Jabá que apresentou um pouco da história da capoeira na cidade, bem como seu trabalho de conservação desta cultura através do ensino da capoeira a crianças e adolescentes. Em julho de 2016, no contexto do projeto “O perfil do egresso como fonte de informação para melhoria da qualidade do curso superior de Administração do IFNMG-campus Pirapora”, coordenado pela professora Juliara Lopes da Fonseca, foi - 126 -
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promovido o I Encontro de Egressos do Curso Superior de Bacharelado em Administração, ocasião em que o professor Daniel Maia ministrou a palestra “Desafios do Mercado de Trabalho”. O Encontro permitiu discutir e avaliar o curso e, consequentemente, a instituição em três dimensões: perfil dos egressos, percepção em relação ao conselho de classe, percepção em relação à formação obtida e percepção em relação à profissão do administrador, além de ter possibilitado o estreitamento dos vínculos e parcerias com a sociedade, através dos arranjos produtivos locais. No ano de 2017, no que concerne ao trabalho com a prática da consultoria, o projeto “A prática da consultoria no ensino da administração mercadológica”, desenvolvido e coordenado pela professora Juliara Lopes da Fonseca, incluiu ações de consultoria junto a cinco empresas da cidade de Pirapora e uma de Buritizeiro. Destaca-se que o projeto além de incentivar os acadêmicos do curso superior em Administração a desenvolver a prática de consultoria, possibilitou a integração do IFNMG com as empresas locais, fato de suma importância para que o acadêmico tenha esse contato com o mundo do trabalho e se prepare para atuar nele (REVISTA DE EXTENSÃO- CONTAÇÃO, 2017). Para além dos muros da Instituição, o alegre batuque tem invadido a Praça Cariris, localizada no centro de Pirapora, através do projeto IF Fanfarra, coordenado pela servidora Fernanda Antunes Almeida. O projeto teve início em setembro de 2017 e “desde esse momento a adesão tem superado as expectativas, faltam instrumentos para conseguir atender toda a demanda”, esclareceu a coordenadora. O projeto conta com a contribuição e parceria do músico Jhoelber Batista Barbosa e a participação de 70 estudantes do ensino médio de várias escolas da cidade de Pirapora, incluindo o campus Pirapora. A Fanfarra tem realizado apresentações no próprio campus, em eventos como a Semana da Ciência e Tecnologia, na acolhida aos alunos ingressantes no primeiro semestre de 2018 e também apresentação durante o intervalo de aulas – intervalo com música. Outro evento importante e marcante do qual a Fanfarra fez parte foi o III Festival de dança do Studio T – Studio T Show, o primeiro evento de grande público que os estudantes puderam participar. Segundo Jhoelber Batista Barbosa, o projeto traz vários benefícios para os estudantes, como desenvolvimento na escola e convivência social e familiar, “e eles me retribuem com o melhor sentimento que um professor pode receber... GRATIDÃO”, concluiu. No ano de 2017, o campus Pirapora vem desenvolvendo o projeto “WEB Dev: Ensinando desenvolvimento web e cultivando grandes talentos”. O projeto é uma ação de cunho social que teve a finalidade de estimular e cultivar - 127 -
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grandes talentos pessoais e profissionais em jovens estudantes de escolas públicas estaduais, entre 14 e 21 anos, através do ensino e prática de técnicas de desenvolvimento web e utilizando a metodologia Coaching com PNL (Programação Neurolinguística). De acordo com o coordenador do projeto, Professor Daniel Maia, “o aprendizado do conhecimento técnico é extremamente importante para o dia a dia do trabalho, mas a inteligência emocional é que vai determinar a qualidade das ações e por consequência o sucesso dos projetos que serão desenvolvidos pelos alunos, por isso nos preocupamos com esse conteúdo extra” (REVISTA DE EXTENSÃO - CONTAÇÃO, 2018). De acordo com o atual Coordenador de Extensão no campus, professor Alessandro Carneiro Ribeiro: As atividades de extensão têm papel fundamental na socialização dos recursos destinados às instituições públicas federais, pois através delas, qualquer pessoa poderá usufruir dos benefícios oferecidos pelos Projetos de Extensão, Cursos FIC, Programas de Extensão, dentre outras ações de extensão dos Campi. O Campus Pirapora, através da Coordenadoria de Extensão, tem proporcionado às comunidades do entorno do campus, oportunidades que, muitas vezes, o ensino e a pesquisa não têm o alcance necessário. Ainda oportuniza aos projetos já existentes nas comunidades, a utilização da infraestrutura do Campus assim como o seu patrimônio intelectual e operacional.
Neste ano de 2018, os projetos de demanda induzida, Acompanhamento de Egresso, Clube do Empreendedor, Festival Intercampi de Culturas: Encantos dos Vales, Montes e Sertões, Sustentabilidade Ambiental e Portfólio de Oportunidades do IFNMG, por intermédio de uma ação da Pró-reitoria de Extensão – Proex/IFNMG, impulsionaram as ações extensionistas no campus. Cada um dos projetos conta com um coordenador e, no mínimo, dois bolsistas para seu desenvolvimento. Os resultados dos mesmos serão apresentados na Semana Integrada de Eventos da Extensão, que se realizará no mês de novembro, no campus Montes Claros.
Considerações finais
As atividades de extensão desenvolvidas pelo campus têm viabilizado a articulação entre ensino e pesquisa, valorizado a troca de experiências e saberes e possibilitado a aproximação do campus com a comunidade externa, numa escuta dialógica, objetivando atender aos seus anseios da população, numa perspectiva de fortalecimento do tripé ensino, pesquisa e extensão, - 128 -
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formação profissional cidadã, desenvolvimento local e regional e autonomia da população. A vivência dos projetos de extensão já desenvolvidos ou em desenvolvimento demonstra a necessidade do campus ampliar, cada vez mais, este espaço de acolhimento das demandas da população, visando fortalecer os vínculos já existentes, firmar novas parcerias e proporcionar transformação da realidade social. Referências bibliográficas ____ Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (FORPROEX). Extensão Universitária: Organização e Sistematização. Belo Horizonte: COOPMED, 2007. Disponível em: https://www.ufmg. br/proex/renex/images/documentos/Organizacao-e-Sistematizacao.pdf. Acesso em novembro de 2017. BRASIL. Lei n° 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Disponível em: ttp:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm>. Acesso em: 18 jul. 2018. ______. Plano Nacional de Extensão Universitária. Edição atualizada (2001/2002) Disponível em:< https://coec.jatai.ufg.br/up/431/o/PNEX.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2007. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Plano Nacional de extensão Universitária: MEC/CRUB, 1999. Documento do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras; BRASIL, Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. Política Nacional de Extensão Universitária: Manaus, AM, maio de 2012. FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983, 93p. IBGE – Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia, 2010. Disponível em: http://www.pirapora.mg.gov.br/cidade. Acesso em: 24 set. 2018. NEVES, Zanoni. Pirapora: ensaios de tempos idos. Belo Horizonte: NECM, 1999. SANTOS, Ralph José Neves dos. A Trajetória de Desenvolvimento do Município de Pirapora (MG): dos vapores ao turismo. Apresentado ao - 129 -
Retrospectivas e Perspectivas
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social, da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, 2017. Dissertação de mestrado. Revista de Extensão. Contação. Aprende-se ensinando nos Vales e Gerais. Nº 1 – Nov./2015. Revista de Extensão. Contação. Aprende-se ensinando nos Vales e Gerais. Nº 2 – Nov./2016. Revista de Extensão. Contação. Aprende-se ensinando nos Vales e Gerais. Nº 3 – Nov./2017. SOUZA, Antônio Carlos da Silva. Pirapora, uma cidade média no Norte de Minas Gerais. Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
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Retrospectivas e Perspectivas
Relatos e percursos da memória extensionista do campus Porteirinha Igor Sérgio de Oliveira Freitas1; Santina Aparecida Ferreira Mendes2; Graziela Ferreira da Silva3; Pedro Paulo Pereira Brito4; Joyce Meire da Silva França5
Resumo O presente artigo tem por objetivo descrever e analisar as ações extensionistas desenvolvidas no âmbito do campus avançado Porteirinha. Pretende-se também refletir e avaliar se estas ações têm contribuído para o desenvolvimento da região de abrangência em consonância com os arranjos produtivos locais e para a integração do ensino e da pesquisa. Na metodologia, adotou-se uma abordagem exploratória descritiva, numa perspectiva qualitativa a partir das experiências vivenciadas pelos sujeitos envolvidos na execução dos projetos extensionistas: estudantes e servidores. A História Oral Temática (HOT) foi a metodologia adotada. Na coleta de dados, utilizou-se entrevistas e pesquisa documental: relatos da Revista de Extensão “Contação”, no prelo, sites oficiais da Prefeitura Municipal de Porteirinha e do IFNMG - Campus Avançado Porteirinha. Antes da implantação do Campus, foram realizadas várias audiências públicas, as quais contaram com a participação efetiva da população e, é nesta direção, que o décimo primeiro Campus do IFNMG, pretende construir sua caminhada extensionista sempre buscando uma estreita interlocução com as comunidades de abrangência. A proposta é que o Campus Avançado Porteirinha continue, neste fazer extensionista, sendo porta voz da população porteirinhense nestas serras e nortes gerais. Palavras-chave: Instituto Federal. Extensão. Interação Dialógica. Introdução O campus avançado Porteirinha tem como concepção de criação a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e a formação de profissionais comprometidos com as necessidades da região. As audiências públicas realizadas antes da implantação do campus revelaram o desejo da sociedade porteirinhense em 1 Professor do IFNMG, Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialista em Instalações Elétricas Industriais pela Universidade Cândido Mendes. 2 Professora do IFNMG, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente 3 Servidora do IFNMG, graduada em Pedagogia, Pós-graduada em Docência no Ensino Superior e Inspeção Escolar 4 Professor do IFNMG, Graduado em Pedagogia Especialização em Educação e Novas Tecnologias pela Universidade Federal de Lavras (2000) e Docência do Ensino Superior pela FUNORTE 5 Professora do IFNMG, Graduada em Ciência da Computação. Mestre e Doutora em Engenharia de software.
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Retrospectivas e Perspectivas
ter na região uma instituição federal de ensino que dialogasse de maneira efetiva com os arranjos produtivos locais e que promovesse o desenvolvimento socioambiental, cultural e econômico e a autonomia das comunidades de abrangência do campus. Neste contexto, a extensão é parte imprescindível deste processo porque possibilita, conforme preconiza o documento do Fórum de extensão da rede de educação profissional, científica e tecnológica – Forproext (2012, p. 13), “o acesso aos saberes produzidos e experiências acadêmicas, oportunizando, dessa forma, o usufruto direto e indireto, por parte de diversos segmentos sociais, a qual se revela numa prática que vai além da visão tradicional de formas de acesso como também de participação”. O presente artigo teve como finalidade descrever e analisar as práticas extensionistas do mais novo Campus do IFNMG, o campus avançado Porteirinha, tendo em vista socializar e difundir os projetos desenvolvidos em seu âmbito, analisar a efetividade dos mesmos no cumprimento de sua missão nestas serras e norte gerais, bem como possibilitar o aprimoramento desta caminhada extensionista, tão recente, mas significativa pela diferença que tem feito e que poderá fazer pelos caminhos que trilhou e doravante, trilhará.
Metodologia
Na metodologia, adotou-se uma abordagem exploratória descritiva, numa perspectiva qualitativa a partir das experiências vivenciadas pelos sujeitos envolvidos na execução dos projetos extensionistas: estudantes e servidores. A História Oral Temática (HOT) permitiu traçar a trajetória extensionista do campus através da memória destes sujeitos. A HO é a história do tempo presente, pois implica a percepção do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado. Nesta direção, na coleta de dados, utilizou-se entrevistas e pesquisa documental: relatos da Revista de Extensão “Contação”, no prelo, sites oficiais da Prefeitura Municipal de Porteirinha e do IFNMG- campus avançado Porteirinha.
Caracterização do município e histórico do IFNMG campus avançado Porteirinha O campus Porteirinha está situado na cidade de Porteirinha, Norte de Minas Gerais, microrregião da Serra Geral de Minas, no Polígono das Secas, abrangendo uma área de 1.749,68 km2 e com uma população de aproximadamente 40 mil habitantes. - 134 -
Retrospectivas e Perspectivas
De acordo com a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística vigente desde 2017, o município pertence às Regiões Geográficas Intermediária de Montes Claros e Imediata de Janaúba (IBGE). A região teve sua origem a partir de uma pousada de viajantes à margem rio Mosquito, sendo apenas ponto de pousada para os viajantes, principalmente de Minas e da Bahia. “Uma brecha entre os altos troncos, de um lado e de outro da clareira, na entrada norte, lhe servia de acesso. Era como uma porteira” (IBGE). Deste modo, tornou-se tradição os viajantes se referirem ao local como “Porteirinha”. Os primeiros habitantes, segundo a tradição, foram tropeiros e retirantes que se estabeleceram na região, nos primórdios do século XVIII, atraídos pelas terras férteis e pelas águas do Rio Mosquito. Outros, os bandeirantes, vieram prospectar ouro. Findo este período, alguns se tornaram latifundiários que se dedicavam às lavouras, empregando os escravos em suas propriedades. Naquela época, não havia escrituras e as terras estavam à disposição de quem as quisesse ocupar. Chamavam o aglomerado de São Joaquim da Porteirinha (IBGE). Segundo dados do site oficial da Prefeitura Municipal de Porteirinha, o município na atualidade dedica-se à bovinocultura de corte e leite; agricultura familiar organizada em cooperativas e associações, voltada para a pequena produção de hortifrutigranjeiros, mel e extrativismo sustentável, visando a produção de polpas, pequenas agroindústrias de leite e derivados, cana e derivados, mandioca e derivados; cerâmicas de telhas e tijolos; comércio e prestadoras de serviços bastante diversificados. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é 0,633 e a taxa de analfabetismo é de 37,5%. É neste cenário que se instala o campus avançado Porteirinha, o décimo primeiro campus do Instituto Federal, a partir do desejo da população, que carecia de uma instituição de ensino técnico e profissional de qualidade e gratuita, ampliando a gama de cursos para capacitação da mão de obra local relacionadas à área de engenharia e informática. No dia 23 de fevereiro de 2015, teve-se o primeiro grande marco na história do campus, com a posse do primeiro diretor da instituição, Professor Tarso Guilherme Macedo Pires. Servidor no Instituto desde 2009, atuou como professor de administração nos campus de Januária e Montes Claros, além disso no período de sua nomeação para diretor exercia o cargo de Coordenador Geral do Bolsa Formação – Pronatec – IFNMG. Após esse período, teve início os trabalhos de verificação e adequação do prédio doado para ser instalado o campus avançado Porteirinha, que conforme os registros estruturais, a área doada foi de aproximadamente 20 mil m2, localizada na parte urbana da cidade, e de fácil acesso para os moradores. O prédio era “popu- 135 -
Retrospectivas e Perspectivas
larmente” conhecido na cidade como Caic (Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente), construído durante a execução do projeto Minha Gente, sob a coordenação do antigo Ministério da Criança. Em meados de 2015, chega ao campus o segundo servidor, Professor Pedro Paulo Pereira Brito, com a função de dar início aos trabalhos pedagógicos ao assumir a direção de Ensino, tendo em vista a sua formação e atuação, anteriormente, na área pedagógica no Campus Arinos. No final do referido ano e início do ano de 2016, o campus recebe mais quatro servidores, sendo que um deles era a primeira técnica administrativa da instituição, a servidora Anamaria Azevedo Lafetá Rabelo, e os demais eram os três primeiros professores da área de informática: Alano Pereira David, Alysson Frederico Gonçalves Santos e Joyce Meire da Silva França. Atualmente, o campus avançado Porteirinha apresenta um quadro de 22 servidores, divididos em: 11 técnicos administrativos e 11 professores, distribuídos da seguinte forma: 1 professor da área de pedagogia, que exerce o cargo de diretor do campus, um professor da área de Pedagogia, que exerce o cargo de diretor do campus, um professor da área de Educação Física, que atua como diretor de ensino, cinco professores da área de informática e quatro da área de Engenharia Elétrica. O campus avançado Porteirinha, hoje, sob a direção do professor Pedro Paulo Pereira Brito, sempre primou por cumprir sua missão através das ações de ensino, pesquisa e extensão visando o desenvolvimento da região e a autonomia das comunidades de abrangência. O campus oferta os seguintes cursos: Técnico em Informática para Internet e Técnico em Eletroeletrônica (subsequente/concomitante); E o curso superior em Sistemas de Informação.
O fazer extensionista do IFNMG campus avançado Porteirinha A portaria nº 1.291, de 30 de dezembro de 2013, que estabelece as diretrizes para a organização dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e define parâmetros e normas para a sua expansão, cria os campus avançados. Em seu Artigo 3º, Inciso II, assim os define, Campus Avançado, vinculado administrativamente a um campus ou, em caráter excepcional, à Reitoria, e destinado ao desenvolvimento da educação profissional por meio de atividades de ensino e extensão circunscritas a áreas temáticas ou especializadas, prioritariamente por meio da oferta de cursos técnicos e de cursos de formação inicial e continuada. (BRASIL, 2013)
A rápida expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnoló- 136 -
Retrospectivas e Perspectivas
gica nestas serras e norte gerais, transformou profundamente a configuração da educação profissional no município de Porteirinha, envolvendo professores, funcionários técnico-administrativos, estudantes e comunidades de entorno. Aos poucos, o prédio, que até então era conhecido na cidade como Caic, tomava a identidade de uma Instituição Federal do Norte de Minas Gerais com a chegada de novos servidores, reforma da fachada, adequação dos setores, salas de aulas e laboratórios. A partir da estruturação física e humana do campus, começaram a ser desenvolvidas as primeiras atividades de extensão. Dentre elas, destaca-se a oferta de três cursos básicos: Criação de Vídeos para Redes Sociais, Fundamentos em Mineração de Bitcoin e Segurança em Redes Sociais, com duração de 4 horas. Os professores ministraram os cursos no laboratório móvel, o qual ficou instalado na praça principal da cidade, onde oportunizaram à população conhecimentos nestas áreas. Sobre esta ação, a professora Joyce ressalta que “esses cursos chamaram bastante atenção da população, pois todos puderam ter acesso a computadores, internet e, principalmente, aos cursos de forma gratuita”. Em fevereiro de 2016, teve início as atividades docentes com o ingresso das duas primeiras turmas do Curso Técnico em Informática para Internet, na modalidade concomitante/subsequente. Um mês após, chegam ao Campus os dois primeiros professores da área de engenharia elétrica, Professora Bárbara Mara Ferreira Gonçalves e o Professor Igor Sérgio de Oliveira Freitas. A chegada dos novos professores possibilitou o início dos trabalhos para implantação do segundo curso técnico na área de eletrotécnica/eletrônica. Diante do novo quadro, nos meses seguintes, as atividades extensionistas passaram a ser mais frequentes na instituição, podendo destacar a realização de cursos de formação inicial e continuada: Instalador Eletricista Predial de Baixa Tensão (200 horas) e o curso de Operador de Computador (160 horas).
Porteirinha após a criação da Coordenadoria de Extensão Os Institutos têm o importante papel de articular ações de desenvolvimento regional mediado pela ciência e tecnologia. Com este propósito, o Campus começou a ofertar cursos em sintonia com os arranjos sociais, culturais e produtivos locais, por meio das ações extensionistas, buscando contribuir com o processo de qualificação de jovens e adultos na perspectiva da construção de estratégias de inclusão social. Neste sentido, visando maximizar as ações extensionistas do campus, no dia primeiro de junho de 2016, foi criada a Coordenadoria de Extensão, com a - 137 -
Retrospectivas e Perspectivas
nomeação do primeiro coordenador, Professor Igor Sérgio de Oliveira Freitas. Sua gestão foi de aproximadamente um ano e oito meses, sendo substituído pela atual coordenadora, a Servidora Graziela Ferreira da Silva. Durante estes dois anos e dois meses de existência da coordenadoria, foram executadas diversas atividades extensionistas, podendo citar a realização de 14 projetos de extensão com participação total de 34 alunos, entre bolsistas e voluntários, 10 cursos de Formação Inicial e Continuada que atenderam ao todo 328 pessoas da população local e diversos eventos e campanhas realizados juntamente com parceiros, como a Secretaria de Desenvolvimento Social, do Meio Ambiente e o Espaço do Empreendedor. Dentre os eventos, vale apontar o “I Encontro de Lideranças para o Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Energias Renováveis na Microrregião da Serra Geral”, ocorrido no dia 5 de fevereiro de 2018, organizado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais – Sedinor, em parceria com o campus avançado Porteirinha, que representou um passo importante para a discussão acerca das possibilidades de investimentos e desenvolvimento de produção de energias renováveis na Microrregião da Serra Geral, com ênfase na energia fotovoltaica. O ex-diretor-geral do campus avançado Porteirinha, na oportunidade, salientou que, O contexto atual representa um momento ímpar para o desenvolvimento do Norte de Minas, pois grandes investimentos já estão em curso e essa é somente a primeira fase de desenvolvimento de uma cadeia produtiva que terá grande impacto social e econômico na região. O Campus Avançado Porteirinha é a única unidade do IFNMG que foi criada já tendo como missão uma atuação efetiva neste setor da economia, haja vista que na fase de audiências públicas, que antecederam à implantação do campus, ficou ajustado com a sociedade a oferta de cursos técnicos e superiores que dialoguem com essa realidade. É o que explica, por exemplo, a oferta do Curso Técnico em Eletroeletrônica e no futuro próximo o Técnico em Energias Renováveis e a Engenharia Elétrica.
Em 2017, destacou-se o projeto coordenado pelo professor Pedro Paulo Pereira Brito, “Hortas sustentáveis: Práticas comunitárias de segurança alimentar e agricultura urbana no campus Porteirinha”, possibilitando a inserção da temática educação ambiental na rotina dos estudantes e comunidade externa, uma vez que hortas comunitárias são espaços produtivos que agregam múltiplos saberes e fazeres, os quais possibilitam a convivência e a integração entre o campus e a comunidade, além da recriação da paisagem e da função social dos espaços urbanos. No ano de 2017, foram desenvolvidos também os projetos “Inglês Instru- 138 -
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mental para alunos de informática”, coordenado pela professora Joice Meira da Silva França e “Ensino de Programação com o Software Scratch”, coordenado pelo professor Igor Sérgio de Oliveira Freitas. O projeto “Inglês Instrumental para alunos de informática” tem por objetivo tornar o acesso à língua inglesa mais acessível aos alunos do Curso Técnico em Informática, tendo em vista que, nesta área, o domínio da língua inglesa torna-se essencial devido a grande quantidade de termos técnicos que não são traduzidos para o português. O discente bolsista, Marco Antônio Pedroso, descreve como foi a experiência em participar deste projeto de extensão: “Foi uma experiência muito gratificante pois além de aumentar o meu vocabulário, escrita e entendimento do inglês, proporcionou uma maior aproximação e amizade entre os colegas.” O discente bolsista, Jader Soares, também destaca a importância do projeto com uma visão social: “Alguns dos alunos do curso de Informática necessitavam dessa importante ajuda para aprender inglês.”. (REVISTA DE EXTENÇAO CONTAÇÃO, 2018) A professora Joyce França destaca que “Por mais que a quantidade de aulas tenha sido pequena com certeza foi possível notar que o aprendizado foi muito útil para aqueles que puderam comparecer. Esse projeto de extensão foi importante para compartilhar o conhecimento de inglês com alunos que não possuem acesso às escolas de idiomas”. (REVISTA DE EXTENÇAO CONTAÇÃO, 2018.) O projeto “Ensino de Programação com o Software Scratch” objetivou disseminar ferramentas tecnológicas que auxiliam no processo de ensino-aprendizagem nas escolas, permitindo aos professores, de qualquer nível da educação, trabalhar conteúdos tradicionais de forma diferenciada com o intuito de despertar o interesse dos alunos. O software livre Scratch auxilia na aprendizagem de programação de maneira lúdica e criativa, podendo ser usado por crianças desde 8 anos de idade a pessoas que não possuem nenhum conhecimento de programação. O projeto envolveu 25 estudantes da Escola Estadual Miguel José da Cunha, com idade entre 10 e 11 anos, que estavam cursando o 5ª ano do ensino fundamental. De acordo com o coordenador, professor Igor Freitas, “o projeto foi um sucesso, pois permitiu trabalhar o ensino da linguagem de programação de forma multidisciplinar, estimulando a criatividade, imaginação, raciocínio lógico e, principalmente, o protagonismo infanto-juvenil nas tomadas de decisões para o desenvolvimento do trabalho final”. Os depoimentos dos estudantes bolsistas Brenda Mendes e Tiago Hebert, envolvidos no projeto, merecem destaque. Brenda Mendes ressalta ter vivenciado uma experiência enriquecedora. - 139 -
Retrospectivas e Perspectivas
”Foi uma experiência nova e única, onde pude participar do desenvolvimento dos alunos e acompanhar de perto o progresso de cada um. É gratificante saber que fiz parte do aprendizado deles”. Para o Bolsista Thiago Hebert, o projeto mostrou o verdadeiro valor da educação. “No projeto, vivi experiências inesquecíveis, como por exemplo, as crianças fazendo os projetos no Scratch e mostrando aos colegas. Foram poucos dias de aula, mas cada aula tinha um momento novo que aproveitei tanto quanto as crianças. Os alunos descobriram que com persistência e determinação, os desafios se tornavam apenas detalhes, fáceis de serem quebrados”. (REVISTA, no prelo) Neste ano de 2018, estão sendo desenvolvidos os projetos “Robótica com Arduíno na Infância” e “Matemática em Problemas”, ambos coordenados pelo professor e ex-coordenador de extensão, Igor Sérgio de Oliveira Freitas. O projeto “Robótica com Arduíno na Infância” propõe o uso da robótica no Ensino Fundamental como ferramenta para melhorar o desenvolvimento do aprendizado dos conteúdos abordados em sala de aula através do software S4A (Scratch for Arduino), o qual é uma adaptação do Scratch que permite programação simples do Arduíno. As crianças envolvidas no projeto têm idade entre 11 e 12 anos e estão cursando o Ensino Fundamental II. As atividades desenvolvidas visam produzir conhecimento sobre a construção de protótipos robóticos, sua programação e controle. O projeto “Matemática em Problemas” apresenta uma alternativa para o ensino da matemática por meio da metodologia de problematização de modo a construir um cenário que favoreça a aprendizado. Os beneficiários do projeto são estudantes matriculados no 5º ano das escolas públicas e estudantes surdos a fim de validar a efetividade da metodologia para educação inclusiva. De acordo com o ex-coordenador da Coordenadoria de Extensão e atual coordenador de projetos de extensão, professor Igor Freitas, “trabalhar na extensão é gratificante, pois o contato com a comunidade externa, além da sala de aula, te permite vivenciar momentos inesquecíveis”. Sobre a importância das atividades extensionistas desenvolvidas pelo campus, a atual coordenadora de Extensão, a servidora Graziela Ferreira da Silva, assim se manifestou, Entrei na Coordenação de Extensão daqui do Campus Porteirinha em maio deste ano e durante esse curto período que estou à frente da extensão do referido campus, pude visualizar como é impactante nas pessoas as atividades extensionistas. Estou acompanhando o desenvolvimento dos projetos que estão em andamento e vejo o quanto esses trabalhos contribuem para a ampliação das - 140 -
Retrospectivas e Perspectivas
possibilidades de crescimento pessoal, científico, artístico, cultural e esportivo dos nossos alunos e de toda comunidade. Estive presente na primeira aula do curso de Formação Inicial de Agricultor Orgânico e pude perceber o quanto todos estavam motivados e animados com a nossa parceria com o sindicato dos Trabalhadores Rurais para que esse curso pudesse acontecer, é uma oportunidade que a Instituição oferece de aperfeiçoar os trabalhos da nossa comunidade. A extensão contribui para que os alunos tenham maturidade em relação a consciência social. (Coordenadora da Coordenadoria de Extensão, Graziela Ferreira da Silva, em entrevista cedida no dia 20 de setembro de 2018)
Em relação ao papel desempenhado pelas ações extensionistas do Campus Avançado Porteirinha para a comunidade de entorno, o professor Pedro Paulo Pereira Brito, Diretor-geral, afirmou que: As ações da extensão para o Instituto Federal do Norte de Minas, especificamente para o Campus Porteirinha é uma maneira de aproximar aquilo que se tem em termos de ações dentro do campus, com as necessidades da comunidade. Eu vejo também como uma forma em que uma instituição pública possa responder de forma direta e rápida, aos anseios da comunidade, seja através de minicursos, palestras, ou uma ação que vá atender diretamente a alguma comunidade. Através de todas estas ações, o Instituto Federal do Norte de Minas, especificamente o campus Porteirinha, se aproxima das necessidades que a comunidade tem. Tivemos vários projetos no campus através dos quais percebemos o quanto a comunidade tem necessidade de ações extensionistas como estas. Eu percebo que se o instituto quer estar inserido na sociedade é necessário que saia dos muros da instituição e vá mais além atendendo as necessidades da população.
Considerações finais As ações extensionistas do campusa avançado Porteirinha desempenha um papel preponderante para a sociedade, pois possibilita o contato dos estudantes com a comunidade, onde as teorias aprendidas em sala de aula se concretizam e se solidificam. Os projetos desenvolvidos, neste pouco tempo de existência, possibilitam afirmar que o caminhar extensionista do campus está em consonância com as concepções, dimensões e diretrizes da extensão, na medida que, articulados com o ensino e a pesquisa, têm buscado atender as demandas da população com ênfase no mundo do trabalho, na inclusão social, na autonomia do cidadão, favorecendo o desenvolvimento local e regional e a difusão do conhecimento científico e tecnológico. - 141 -
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Referências bibliográficas BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Plano Nacional de extensão Universitária: MEC/CRUB, 1999. Documento do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. _____. Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. Política Nacional de Extensão Universitária: Manaus, AM, 2012. _____. Portaria nº 1.291, de 30 de dezembro de 2013, que estabelece diretrizes para a organização dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e define parâmetros e normas para a sua expansão. ____ Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (Forproex). Extensão Universitária: Organização e Sistematização. Belo Horizonte: COOPMED, 2007. Disponível em: <https://www.ufmg.br/proex/ renex/images/documentos/Organizacao-e-Sistematizacao.pdf>. Acesso em: nov. 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em 18 de julho de 2018. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/porteirinha/historico. Acesso em 19de julho de 2018. http://portal.mec.gov.br/docman/41001-por-1291-2013-393-2016-setec-pdf/ file. Acesso em 20 de setembro de 2018 https://www.ifnmg.edu.br/porteirinha (acesso em 20 de setembro de 2018)
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Retrospectivas e Perspectivas
Da Escola Agrotécnica ao IFNMG campus Salinas: Uma busca incessante pela interação dialógica no fazer extensionista Fernando Antônio Thomé Andrade1; Maria Araci Magalhães2; Romildo Lopes de Oliveira3; Rosilene Reny Soares Leal4; Santina Aparecida Ferreira Mendes5
Resumo O presente artigo pretende analisar as práticas extensionistas desenvolvidas pelo campus Salinas e refletir sobre a contribuição deste percurso para uma formação crítico social dos futuros profissionais que integrarão o mundo do trabalho e para a autonomia das comunidades de abrangência, compreendendo a extensão como um espaço de diálogo, de produção e difusão do conhecimento produzido no âmbito da tríade formativa: ensino, pesquisa e extensão. A pesquisa constituiu-se em um estudo exploratório qualiquantitativo de natureza descritiva e explicativa. Sua relevância reside na possibilidade de socialização dos resultados e dos desafios dessas ações. Os procedimentos metodológicos utilizados foram: pesquisa documental e bibliográfica, tendo como referências os Relatórios de Gestão do IFNMG, a Revista de Extensão “Contação”, legislações vigentes sobre extensão, os Planos para a extensão definidos pelo Fórum de Pró Reitores de Extensão das Universidades Federais (Forproex) e pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão da Rede de Educação Profissional e Tecnológica (Forproext), além de trabalhos acadêmicos sobre o tema. Utilizou-se também entrevistas mediadas pela História Oral Temática (HOT) para mapear e refletir sobre a história e memória do percurso extensionista percorrido pelo campus. O crescimento quantitativo e qualitativo das ações extensionistas desenvolvidas pelo campus reflete o fortalecimento crescente da institucionalização da extensão na instituição. A pesquisa identificou como desafio a necessidade de maior zelo pelo registro e acompanhamento das atividades de extensão no campus, visto que muitas não foram e/ou continuam não sendo devidamente registradas/ publicizadas, fato que dificulta uma análise mais aprofundada dessa prática ins1 Servidor Ministério das Minas e Energia, Graduado em Administração 2 Professora do IFNMG, Graduada em Geografia e Administração, Mestre em Geografia e Doutora em Geografia com dupla diplomação: Universidade Federal de Uberlândia e Universidade do Minho - Portugal 3 Professor do IFNMG, Graduado em Engenharia Florestal e Mestre em Ciências Florestais 4 Servidora do IFNMG, Bacharel em Serviço Social e Especialista em Políticas Públicas; Direitos Humanos e Intervenção Junto a Família. 5 Professora do IFNMG, Licenciada em História e Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
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Retrospectivas e Perspectivas
titucional. Apesar das limitações, concluiu-se que os projetos desenvolvidos no campus contribuíram para o reconhecimento da importância da extensão para uma formação acadêmica contextualizada e integrada ao Ensino e à Pesquisa e para a formação continuada da comunidade escolar/acadêmica. Os resultados permitem afirmar que a instituição busca priorizar o atendimento de questões sociais demandadas pelas comunidades de abrangência, como também promover sua autonomia, além de fortalecer a relação dialógica entre o conhecimento acadêmico e tecnológico produzido pelo campus e as comunidades com vistas ao desenvolvimento social, político, ambiental, educacional, tecnológico, econômico e cultural das regiões de abrangência. Palavras-chave: Instituto Federal; Extensão; Interação Dialógica.
Introdução Este trabalho teve como objetivo principal analisar as práticas extensionistas desenvolvidas pelo campus Salinas e refletir sobre a contribuição deste percurso extensionista para uma formação crítico social dos futuros profissionais que integrarão o mundo do trabalho e para a autonomia das comunidades de abrangência, compreendendo a extensão como um espaço de diálogo, de produção e difusão do conhecimento produzido no âmbito da tríade formativa: ensino, pesquisa e extensão. Para tanto, procurou-se fazer uma breve apresentação do conceito de extensão no Brasil com base nas concepções contidas nos referências normativos e legislações, nos Planos para a extensão definidos pelo Fórum de Pró Reitores de Extensão das Universidades Federais (Forproex) e pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão da Rede de Educação Profissional e Tecnológica (Forproext), além de trabalhos acadêmicos sobre o tema. Em seguida, descreveu-se e analisou-se o processo da política de extensão desenvolvida desde a criação da Escola de Iniciação Agrícola de Salinas até a implementação do IFNMG-campus Salinas. A relevância da pesquisa residiu na possibilidade de socialização dos resultados e dos desafios apresentados por essas ações, além da análise acerca da importância destas para uma formação acadêmica contextualizada e integrada ao Ensino e à Pesquisa, para a formação continuada da comunidade escolar/acadêmica e para a promoção da autonomia e desenvolvimento das comunidades de abrangência. O Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – campus Salinas tem por princípio e missão colocar em relevância o processo educativo que se - 146 -
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sustenta sobre três pilares: ensino, pesquisa e extensão que são dimensões formativas, indissociáveis e interdependentes. Neste contexto, a extensão possibilita a difusão, a socialização e a democratização do conhecimento produzido nessa tríade formativa numa relação dialógica entre o conhecimento acadêmico e tecnológico e a comunidade, promovendo a troca de saberes e propiciando um espaço em que haja promoção, dinamicidade e articulação entre o saber fazer e a realidade socioeconômica, cultural e ambiental das comunidades de abrangência tendo como principal perspectiva o desenvolvimento local e regional.
Metodologia
A pesquisa tratou-se de um estudo exploratório qualiquantitativo de natureza descritiva e explicativa. Na metodologia foi utilizada a História Oral Temática (HOT) que buscou mapear e refletir sobre a história e memória do percurso extensionista percorrido pelo campus mediante entrevista com sujeitos envolvidos no processo histórico extensionista. Através da memória individual dos entrevistados que vivenciaram o processo, tecemos a história extensionista do campus. Valemo-nos ainda da pesquisa documental e bibliográfica, tendo como referências os Relatórios de Gestão do IFNMG, a Revista de Extensão “Contação”, legislações vigentes sobre extensão, os Planos para a extensão definidos pelo Fórum de Pró Reitores de Extensão das Universidades Federais (Forproex) e pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão da Rede de Educação Profissional e Tecnológica (Forproext), além de trabalhos acadêmicos sobre o tema.
Caracterização e histórico do do município e do IFNMG campus Salinas O município de Salinas está situado no Norte de Minas Gerais, Alto Rio Pardo e Médio Jequitinhonha. De acordo com dados oficiais do site da Prefeitura Municipal de Salinas, a grande investida pela região onde se encontra inserido o município, teve início em 13 de junho de 1554, quando o desbravador Francisco Bruzza de Espinosa, acompanhado do padre João Aspiulcueta Navarro, partiu de Porto Seguro, no Estado da Bahia, percorrendo o Norte de Minas, o Vale do Jequitinhonha, Rio Pardo, Serra das Almas, Itacambira e outras. Um século depois, em 1698, o bandeirante Antônio Luiz dos Passos, - 147 -
Retrospectivas e Perspectivas
após ganhar uma sesmaria na região, estabeleceu uma fazenda de criação de gado às margens do Rio Pardo. Numa das incursões pelo território, visando prospectar metais preciosos, deparou-se com um rio pouco caudaloso onde encontrou ricas jazidas de salgemas, produto precioso e raro naquela época. As notícias da existência das jazidas de salgema atraíram várias pessoas, as quais vieram para esta região e aqui fixaram residência. Mais tarde, em alusão a essas jazidas, batizou-se, finalmente, o município pelo nome de “Salinas”. Atualmente, o município é referência nacional em cachaça de qualidade sendo conhecida como Capital Mundial da Cachaça. A cachaça começou a ser produzida pelos primeiros fazendeiros, no rastro da pecuária dos primeiros rebanhos bovinos que vieram da Bahia quando do início do povoamento. Santos & Figueiredo (2015) afirmam que o município vem se destacando com a expansão e melhoramento da agroindústria da produção de cachaça artesanal nos últimos tempos, fato que tem contribuído para o desenvolvimento econômico local, para a dinamização do mercado de trabalho, do emprego e renda no município. Situado na Fazenda Varginha, km 3, MG 404, no município de Salinas,, o IFNMG campus Salinas foi criado originalmente como Escola de Iniciação Agrícola de Salinas, tendo a “Pedra Fundamental” lançada no dia 2 de setembro de 1953 e as primeiras aulas ministradas a partir de março de 1956. Em 1964, a instituição passou a denominar-se “Ginásio Agrícola de Salinas” e, em 1969, Ginásio Agrícola “Dr. Clemente Medrado”. Em 1979, passou a denominar-se Escola Agrotécnica Federal de Salinas “Dr. Clemente Medrado”, formando sua primeira turma de Técnicos em Agropecuária, no ano de 1980. Em 29 de dezembro de 2008, a Lei nº 11.892 cria os Institutos Federais e transforma a instituição em uma das Unidades de Ensino integrantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG, passando a nominar-se IFNMG - campus Salinas que, atualmente oferta cursos Técnicos integrados ao Ensino Médio em Agroindústria, Agropecuária e Informática. Curso superior em Tecnologia em Produção de Cachaça; Bacharelados em Engenharia de Alimentos; Engenharia Florestal; Medicina Veterinária, e; Sistemas de Informação; Licenciaturas em Biologia; Física; Matemática e Química. Em sua estrutura física, possui além dos prédios acadêmicos, administrativos e de gabinetes de professores, laboratórios, ambientes esportivos, refeitório, alojamento, Unidades Educativas de Produção (UEP’s), Avicultu- 148 -
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ra, Bovinocultura, Suinocultura e Hospital Veterinário. Possui também a Fazenda Santa Isabel, localizada às margens da Barragem do Rio Salinas, onde são desenvolvidas atividades de fruticultura e cana-de-açúcar para projetos de produção de cachaça de alambique.
Concepções de Extensão A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº. 9.394, de 1996, preconiza que a Extensão é um tripé indissociável entre Ensino, Pesquisa e Extensão (BRASIL, 1996). A produção do conhecimento através da extensão é norteada pela troca de saberes acadêmicos e populares, democratizando o conhecimento e transformando a universidade numa escola ao alcance da comunidade (FORPROEX, 1998), tornando-as espaços de troca de saberes e conhecimentos. A partir de um debate amplo e aberto, desenvolvido nos XXVII e XXVIII Encontros Nacionais, realizados em 2009 e 2010, respectivamente, o Forproex apresenta às Universidades Públicas e à sociedade o conceito de Extensão Universitária, qual seja, A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade (BRASIL., 2012)
As diretrizes que devem orientar a formulação e implementação das ações de Extensão Universitária, pactuadas no Forproex, de forma ampla e aberta são as seguintes: Interação Dialógica; Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade; Indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão; Impacto na Formação do Estudante e; Impacto e Transformação Social (NOGUEIRA, 2000). A Lei 11.892/2008, do Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de atender regiões onde o acesso à educação, à ciência e à tecnologia era restrito, criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia que, por meio de seus multicampi, consistiriam em agentes de desenvolvimento socioeconômico e culturais nas regiões de abrangência. A lei de criação dos Institutos estabelece que a Pesquisa Aplicada e a Extensão são atividades finalísticas destas instituições. Assim, a Rede EPCT começa a compartilhar com as Universidades a missão de oferecer cursos de - 149 -
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graduação e pós-graduação e de atuar junto à sociedade na investigação e divulgação científica. No caso particular da Extensão, a legislação sugere que a atuação dos Institutos deve ocorrer com ênfase na difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos e na promoção do desenvolvimento socioeconômico através da transferência de tecnologias sociais. O Fórum de Pró-Reitores de Extensão dos Institutos Federais, que assume o nome de Forproext (já agregando o “Tecnológico” à sua identidade) vem trabalhando na construção de uma política nacional para a Extensão da Rede EPCT. De acordo com esse Fórum, a Extensão praticada pelos Institutos Federais pode ser assim definida: Processo educativo, cultural, social, científico e tecnológico que promove a interação entre as instituições, os segmentos sociais e o mundo do trabalho com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos visando o desenvolvimento socioeconômico sustentável local e regional. (CONIF, 2013) Dentre as diversas finalidades de criação do IFNMG está o desenvolvimento socioeconômico e cultural, além do desenvolvimento de programas de extensão e divulgação científica e tecnológica, mediante a democratização dos conhecimentos gerados pelo tripé formativo: Ensino, Pesquisa e Extensão, com ênfase na inclusão social. A extensão não é apenas uma troca entre o conhecimento universitário e o saber popular, mas um trabalho social que coloca o conhecimento a serviço da transformação social, considerando as pessoas sujeitos agentes na realidade social e na transformação cultural. (FREIRE, 1983)
O fazer extensionista da Escola de Iniciação Agrícola de Salinas à Escola Agrotécnica Federal de Salinas Desde o Ginásio Agrícola de Salinas (1964-1979), já se observa registros do desenvolvimento de ações extensionistas na instituição, embora não se utilizasse a terminologia “extensão”. Dados históricos apontam que o termo extensão universitária foi utilizado pela primeira vez na legislação brasileira no Decreto-Lei 19.851, de 1931. MENDES (2009) afirma que a lavoura de tomate na comunidade de Nova Matrona, distrito de Salinas, foi implantada em fins da década de 1960 - 150 -
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e início da década de 1970, com o apoio e incentivo do Ginásio Agrícola de Salinas, juntamente com a antiga Acar - Associação de Crédito e Assistência Rural hoje Emater - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais. A primeira reunião com os produtores foi realizada na Fazenda Imbaúba, de propriedade do Senhor Preto Cândido, distrito de Nova Matrona, ocasião em que estas duas instituições difundiram, em uma ação de campo, as vantagens e as técnicas do cultivo do tomate com o objetivo de melhorar as condições socioeconômicas das famílias do meio rural. Em seguida, os produtores ficaram alojados por três dias no Ginásio Agrícola de Salinas onde aprenderam as técnicas e manejo do plantio do tomate. O fazer da extensão na Escola Agrotécnica Federal de Salinas centrava-se no atendimento às necessidades sociais regionais, na maioria das vezes, como uma prática de assistencialismo ou prestação de serviços. Programas e ações eram desenvolvidos nas comunidades de entorno com o objetivo de resolver as situações-problema locais. A terminologia utilizada era “Integração Escola-Comunidade”, apesar de já constar na matriz curricular dos cursos a disciplina Extensão Rural que era desenvolvida de forma a solidificar as bases teóricas e prospectar a interação escola/comunidade. O Professor e ex-diretor da Escola Agrotécnica Federal de Salinas Eurico Sarmento, em seu depoimento, analisa que a instituição teve grande relevância regional no que tange aos hábitos alimentares de hortaliças e foi responsável pelas mudanças culturais da produção e uso de alimentos pela população local e regional. Relatou que a primeira horta foi feita em 1973 e os seus produtos abasteciam o refeitório e o excedente era levado ao mercado municipal, onde a instituição tinha um ponto de revenda. No início, ao fim da feira, voltava-se com grande parte das hortaliças, tais como a cenoura e a couve-flor, pois as pessoas, naquela época, não possuíam o hábito de fazer uso de verduras na alimentação. Lembrou ainda que o maxixe, produto da flora nativa, mas que somente era produzido no período das chuvas, mediante seleção das sementes, passou a ser cultivado e produzido durante todo o ano pela Escola Agrotécnica Federal de Salinas. Segundo o Professor Eurico, o lema da instituição, naquela época, era “Fazendo para aprender”. Neste contexto, Os alunos de fato colocavam a mão na massa e aprendiam fazendo, bem como levavam suas experiências para suas comunidades de origem. Além disso, na escola existiam dois projetos Laboratório de Produção Agrícola e Produção Agrícola Orientada. Cabe salientar que nessa época, existia a Cooperativa Escolar. Esta financiava os projetos elaborados pelos alunos com o acompanhamento dos professores para planejamento financeiro e - 151 -
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estabelecimento de metas. O interessante era que ao finalizar o projeto os alunos pagavam os custos gerados e o lucro era destinado ao aluno responsável pelo projeto.
O entrevistado afirmou que o aluno participava integralmente de toda produção. Ele tinha oportunidade de aprender na prática desde o preparo do solo à colheita; desde a contenção do animal à vacinação. Desta forma, os alunos aprendiam integralmente e ainda disseminavam os seus conhecimentos. Para ilustrar, citou o caso da marcenaria da escola, “onde o aluno aprendia a colocar cabo nas enxadas, fazer e consertar arreios, usar serrotes, a fazer ancinho para ordenha, entre outros aprendizados, afirmando que a prática era muito intensa”. O Professor Eurico Sarmento concluiu sua entrevista dizendo que, naquela época, a difusão de tecnologias por parte da instituição contribuiu, significativamente, para a melhoria das práticas culturais, citando o primeiro curral de confinamento feito na instituição. Sob sua ótica, “A escola contribuiu de forma intensa nas atividades agrícolas de um modo geral e mudanças dos hábitos e práticas alimentares local e regional”. Em entrevista com o Professor Murilo Nonato Bastos, ex-diretor da Escola Agrotécnica Federal de Salinas, “A Escola representou um marco para o desenvolvimento regional e também para os cidadãos”. Citou os desfiles de 07 de setembro que eram realizados pelas ruas e avenidas da cidade de Salinas, os quais representavam atividades de entretenimento e cultura para a população do município e cidades circunvizinhas, difundindo a história, a cultura, a tradição e os conhecimentos/produtos produzidos pela instituição. Na sua opinião, “As atividades esportivas foram fundamentais para extrapolarmos os muros institucionais, pois, além dos jovens se destacarem em diversas modalidades, eram vitrine de atração para novos alunos ingressarem e permanecerem na instituição”. Sobre o papel da instituição no tocante ao desenvolvimento local e regional, ressaltou que a instituição possibilitou a fixação dos jovens nas suas regiões de origem, onde puderam exercer e aplicar os conhecimentos adquiridos, contribuindo para a melhoria da realidade socioeconômica local. Concluiu dizendo que, Cada gestor, a sua maneira e de acordo com a estrutura política e econômica do país contribuíram para a melhoria regional e este resultado se reflete na somatória dos esforços de todos. Tenho por esta instituição um amor imensurável. Para mim morrer tem dois momentos: dia que sair desta ins- 152 -
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tituição e o dia que de fato for desta vida. (Professor Murilo Nonato Bastos, Ex-Diretor da EAFSAL, em entrevista concedida em agosto de 2018)
De acordo com Silvânia Batista, ex-coordenadora do CIEC – Coordenadoria de Integração Escola-Comunidade, as ações extensionistas da Escola Agrotécnica de Salinas eram norteadas pela proximidade com os fazendeiros e empresas locais, com vistas a propiciar estágio aos discentes, bem como, potencializar atividades práticas correlacionadas às bases teóricas. Com este propósito, o CIEC promovia dias de campo para viabilizar um maior intercâmbio entre pais, produtores, empresas, servidores e alunos numa interação dialógica, com troca de conhecimentos e efetivação de parcerias. Nestes encontros, realizavam-se palestras, minicursos, práticas agrícolas, exposição de equipamentos e difusão de novas tecnologias propiciando a transferência de tecnologias e conhecimentos em via de mão dupla. “O acompanhamento de egressos era sempre feito por meio de cartas encaminhadas ao endereço dos ex-alunos da instituição, um trabalho hercúleo que consolidava numa relação de maior proximidade e acompanhamento discente”, esclareceu a ex-coordenadora. Em relação às visitas técnicas, lembrou que as mesmas eram difundidas e realizadas em propriedades rurais, bem como, em empresas parceiras com a finalidade de aperfeiçoar os conhecimentos e aliar a teoria à prática, citando como ação costumeira dos professores e alunos do 3º ano do segundo grau, a visita técnica ao projeto Jaíba, que desenvolve a produção agrícola irrigada e que foi criado com o objetivo de aumentar as oportunidades de emprego rural. Outra atividade relevante apontada pela ex-coordenadora, que tinha por objetivo aproximar a escola da comunidade, era a festa dos ex-alunos, cuja realização se dava de 02 em 02 anos com a finalidade de trazer ao educandário os alunos egressos. “Tal momento contava com uma diversidade de ações como palestras, minicursos, plantio de árvores e horas de lazer com resgate da memória e história de momentos vividos, conquistas e fracassos”, afirmou. A entrevistada lembrou ainda que, quando da implantação do Curso Superior em Tecnologia de Produção de Cachaça, único no mundo, a comunidade acadêmica da EAFSAL procurou contribuir para o fortalecimento dos arranjos produtivos locais da produção da cachaça artesanal que juntamente com a Associação de Produtores de Cachaça de Salinas – APACS, sempre foi parceira importante na realização do Festival Mundial da Ca- 153 -
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chaça. O evento, que se tornou tradição local e hoje faz parte do calendário de eventos permanentes da cidade, representa uma importante espaço de aprendizagem, diálogo, democratização, socialização e acesso aos conhecimentos produzidos pela instituição na área da produção de cachaça de alambique. Concluiu ressaltando que, Naquele período, em que os olhos se voltam ao empreendedorismo, a equipe daquela época além de propiciar oportunidade aos alunos como dito anteriormente, ofertava ainda, cursos de empreendedorismo aos servidores institucionais com o objetivo de estimular o espírito empreendedor. A Fundação da Escola Agrotécnica de Salinas, a Fadetec, criada para dar suporte as ações institucionais, estabeleceu convênio de parceria com as Secretarias de Estado de Minas Gerais para a formação, em escala da população norte mineira, em cursos de Formação inicial e continuada. Juntamente com a Cemig, permanece, até o presente momento, o projeto de repovoamento de peixes nas águas da região.
Ana Amélia Ferreira dos Santos Leite, ex-coordenadora do CIEC, a qual presenciou a transição da Escola Federal Agrotécnica de Salinas em IFNMG campus Salinas, ao ser questionada sobre como as atividades extensionistas eram desenvolvidas na EAFSAL, afirmou que, As visitas técnicas, naquela época, eram muito frequentes e proveitosas, sendo uma oportunidade dos alunos vivenciarem na prática, atividades nas áreas de zootecnia, agricultura e agroindústria. No estágio, o coordenador orientava, organizava a documentação, contato e convênios com as empresas. Em relação às oportunidades de emprego, vários de nossos ex-alunos foram efetivados em empresas que atuaram como estagiários. Sempre havia pedidos de indicação de ex-alunos para vaga de emprego. Em relação ao acompanhamento de egressos, naquele período de atuação no Ciec, entre tantas atividades, estávamos sempre preocupados em saber onde e como estavam nossos ex-alunos. Conseguimos, com muito trabalho, criar um mecanismo de interação com os egressos, mas infelizmente, com a criação do Instituto Federal, o projeto não foi praticado. Por meio do Ciec, eram feitos, todos os anos, a divulgação do exame de seleção, através do rádio, TV e visitas às escolas de Salinas e todas as cidades de abrangência da EAFSAL em Minas e Sul da Bahia.
Depreende-se da memória e dos relatos dos entrevistados que a instituição primava pela aplicação, na prática, dos conhecimentos assimilados em sala de aula, os quais eram socializados pelos alunos em suas comunidades de origem, contribuindo para a melhoria das condições de vida da socie- 154 -
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dade. Percebe-se que a Coordenadoria de Integração Escola-Comunidade, mediante cada coordenador, ao seu modo, foi traçando uma trajetória de enfrentamento, apoio, parceria e desenvolvimento em busca da proximidade com as comunidades de abrangência visando a transformação da realidade regional. O discurso do empresário salinense, senhor Natalício Mendes, corrobora esta análise quando afirma ter transformado sua vida e a forma de empreender numa oportunidade de visita de campo realizada pela Escola Agrotécnica Federal de Salinas, “ocasião em que pude perceber e acreditar em novos horizontes”. Desta forma, ressalta-se que a Escola Agrotécnica Federal de Salinas, trouxe no bojo do seu percurso extensionista possibilidades de atuar de forma empreendedora, dialógica em prol do desenvolvimento da região, transformando vidas e realidades deixando, enfim, marcas e pegadas significativas.
O fazer extensionista do IFNMG campus Salinas Ao analisar a lei de criação dos Institutos Federais que preconiza que “as atividades de extensão devem ser desenvolvidas de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica em articulação com o mundo do trabalho e segmentos sociais e, com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos” (BRASIL, 2008), nos leva a compreender que o Campus Salinas sempre buscou aproximar da realidade regional e promover o desenvolvimento e a emancipação socioeconômico e ambiental das comunidades de abrangência. Ao longo da história extensionista institucional, diversas atividades foram desenvolvidas e/ou alocadas no, hoje existente, Departamento de Extensão do campus (DEX). Dentre os programas e projetos desenvolvidos, cabe ressaltar: as palestras/minicursos, as viagens técnicas, os projetos de extensão (Pibed e Voluntários), o acompanhamento de egressos, o programa de estágio e emprego e o programa de assistência estudantil. Este último, desvinculou-se do DEX em 2017, sendo direcionado ao Núcleo de Assuntos Estudantis e Comunitários. O Quadro abaixo destaca, em números, as mais diversas atividades extensionistas desenvolvidas no campus Salinas, no período de 2014-2017. Estes dados foram retirados dos relatórios de gestão elaborados pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex) do IFNMG.
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Quadro 1 – Atividades e ações extensionistas realizadas no período de 2014 a 2017. Atividades/Ações *Projetos Desenvolvidos Visitas Técnicas Estágios **Auxílios Concedidos ***Atendimentos MHOS
2014 21 12 197 843 147190
2015 43 72 393 1073 173151
2016 56 48 271 1260 302409
2017 55 18 354 ---
* Projetos Desenvolvidos: (Pibed e voluntários) – sociais; artísticos e culturais; esportivos; serviços tecnológicos; atividade empreendedora. **Auxílios Concedidos: permanência; alimentação; transporte; moradia; cópia e impressão; uniforme; auxílio viagem; monitoria. ***Atividades MHOS (Médico-Hospitalares; Odontológicas; Sociais): enfermagem; odontologia; medicina geral; atendimento social e psicológico; refeições servidas. O fazer extensionista constitui-se em um espaço de troca de saberes e fazeres entre o conhecimento acadêmico e popular, compreendendo que o conhecimento acadêmico não é hegemônico. Assim, comunidade acadêmica e comunidades de abrangência numa relação dialógica, cada uma com suas especificidades, buscam contribuir para a mitigação/solução das situações-problemas tendo em vista o desenvolvimento, a autonomia, melhoria da qualidade material de vida e mudanças sociais, bem como ao fortalecimento dos arranjos produtivos, sociais e culturais, locais e regionais. Dentre as ações extensionistas desenvolvidas no Campus, chamam atenção os projetos “fogões de queima limpa: Uma alternativa para as comunidades rurais”, coordenado pelo servidor Rogério Alves Amorim (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016, p. 48-50); “Restaurando a mata ciliar do Rio Salinas”, coordenado pelos professores Vinícius Orlandi Babosa Lima e Santina Aparecida Ferreira Mendes (ibid, p. 37-38); “Viveiro Itinerante: Um Incentivo à Recomposição Florestal de Matas Ciliares na Comunidade Santana II - Rio Pardo de Minas/MG”, coordenado pela servidora Jéssica Costa de Oliveira (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016.); e, “Revitalização de micro barragens no Baixo Bananal”, coordenado pela professora Wânia Silvinha Loiola de Oliveira (ibid), por integrarem, na prática, inovação e associação com a preservação do meio ambiente, com a conservação e uso consciente dos recursos naturais, visando ao desenvolvimento desta região semiárida imersa em sérios conflitos ambientas, os quais representam ainda um grande desafio para o fazer extensionista, entretanto sinaliza um olhar de esperança para as comunidades de abrangência do campus. - 156 -
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Neste contexto, destacam-se os seguintes depoimentos: Para que a quantidade, e qualidade da água seja adequada as finalidades de uso é preciso que a ocupação no entorno do Baixo Bananal seja devidamente planejada, associando a preservação do meio ambiente à conservação e uso consciente da água. (Professora Wânia Silvinha Loiola de Oliveira, coordenadora do projeto “Revitalização de micro barragens no Baixo Bananal”) Os resultados do projeto repercutiram na comunidade e motivou representantes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rio Pardo de Minas a apresentarem a ideia para o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Gerais, que manifestou interesse em difundir a tecnologia. (Rogério Alves Amorim, coordenador do projeto “FOGÕES DE QUEIMA LIMPA: Uma alternativa para as comunidades rurais”).
Silva e Silva Júnior (2010, p. 533) afirmam que, no município de Salinas, “a agricultura apresenta importância significativa para a economia do município, como o cultivo principalmente de milho e feijão, para a comercialização e consumo próprio”. Visando fortalecer a atividade, implementar ações empreendedoras, como também apoiar o desenvolvimento rural sustentável neste semiárido, fundamentado na convivência e articulação às dimensões sociopolíticas, ambientais, culturais, econômicas e tecnológicas da região, vários projetos foram desenvolvidos, dentre eles: “Caracterização dos agricultores familiares da comunidade de Buqueirão/ MG”, coordenado pelos professores Magalhães Teixeira de Souza e Fabiano Matos Pereira (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016, p. 41) “Carneiro Hidráulico de Baixo Custo”, coordenado pelos professores Fabiano Magalhães e Marcelo Rossi Vicente e o servidor, técnico em edificações, Rogério Amorim (ibid, p. 52);“Manejo Sustentável do Jatobazeiro”, coordenado pelo professor Vinícius Orlandi Barbosa Lima (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016, pág. 54-55) “Análise da Viabilidade Econômica do Aproveitamento do Resíduo de banana in natura em feira livre e supermercados na região de Salinas – MG para a elaboração de banana passa e doces”, coordenado pela professora Edilene Alves Barbosa. (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016) e, “Produção Orgânica como Uma Realidade Possível para o Norte de Minas”, coordenado pela professora Andréia de Paula Viana. (ibid) Em relação aos resultados dos projetos, são dignos de menção os depoimentos abaixo. Aliado ao manejo extrativista sustentável e à conservação da vegetação - 157 -
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ativa, o projeto teve como principal resultado a melhoria da qualidade de vida dos moradores da comunidade a partir da incorporação do jatobá do cerrado como fonte alimentar e alternativa de renda. (Professor Vinícius Orlandi Barbosa Lima, coordenador do projeto “Manejo Sustentável do Jatobazeiro”) O projeto possibilitou a discussão e demonstração das boas práticas de elaboração dos produtos como banana-passa e bananada, permitindo a compreensão da viabilidade da produção. Posso afirmar que o projeto obteve retorno positivo, especialmente na confiabilidade dos dados e alcance nas expectativas dos envolvidos. (Professora Edilene Alves Barbosa, coordenadora do projeto “Análise da viabilidade econômica do aproveitamento do resíduo de banana in natura em feira livre e supermercados na região de Salinas – MG para a elaboração de banana-passa e doces”) Ainda de acordo com Silva e Silva Júnior (2010, p. 533), o município de Salinas “possui como principal atividade rual a pecuária, com forte expressão para a criação de bovinos, sendo que estes estão presentes em 1.248 (mil, duzentas e quarenta e oito ) propriedades rurais, das 2084 (duas mil, oitocentas e quatro) existentes no município.” Neste sentido, dentre os projetos desenvolvidos nesta área, destacamos aqueles que, pela proposta de melhoria e aumento da renda e da produção desta atividade, com ênfase em práticas sustentáveis e em segurança alimentar no meio rural, dialogaram de forma efetiva com as comunidades rurais: “Irrigação de pastagens como alternativa”, coordenado pelos professores, Marcelo Rossi Vicente e Antônio Carlos Pinheiro Cani (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016, pág. 60) “Utilização de alimentos alternativos na nutrição do rebanho leiteiro de produtores rurais associados à Coopersa”, coordenado pelo professor Fernando Matos Pereira (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016, pág. 87-88) “Caracterização e capacitação dos produtores de leite cru que realizam venda informal na cidade de Salinas-MG”, coordenado pelo professor Thiago Moreira dos Santos (ibid, p. 85-86) “Avaliação das condições higiênico-sanitárias da carne bovina comercializada na cidade de Salinas-MG”, coordenado pela professora Isis Celena Amaral (REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO, 2016); “Capacitação dos produtores de queijo cabacinha do município de Cachoeira de Pajeú -MG, sobre os aspectos legais de produção e comercialização do queijo”, coordenado pela professora Roberta Magalhães Dias Cardozo (ibid). - 158 -
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O fazer extensionista possibilita contribuições significativas porque aproxima a comunidade acadêmica com a população, além de oportunizar aos estudantes colocarem em prática as teorias aprendidas em sala de aula. Neste contexto, os projetos desenvolvidos possuem um papel essencial tanto para os acadêmicos e comunidade escolar como um todo, quanto para as pessoas que usufruem deste aprendizado. Os relatos abaixo refletem o exposto acima: “O projeto possibilitou que os produtores conhecessem as características físico-químicas e microbiológicas do queijo cabacinha, através de visitas às propriedades, aplicação de questionários, acompanhamento da produção e oficina de capacitação O apoio dos colaboradores e demais membros da equipe IFNMG é prova que o tripé ensino, pesquisa e extensão tem gerado frutos a toda comunidade e uma a equipe multidisciplinar propicia maior interação entre as áreas estudadas, gerando resultados confiáveis.” (Professora Roberta Magalhães Cardozo, coordenadora do projeto “Capacitação dos produtores de queijo cabacinha do município de Cachoeira de Pajeú -MG, sobre os aspectos legais de produção e comercialização do queijo”) Esta foi mais uma conquista que nós produtores rurais conseguimos: fazer um curso dos derivados do leite. Um curso que nos trouxe muitos conhecimentos, aprendizagem e tecnologia, e que nos mostrou o que não devemos fazer com leite para não perder suas proteínas, vitaminas, etc. Aprendemos a fazer muçarela, queijo Minas Frescal e achocolatado reutilizando o soro. Um curso prático e moderno, com pessoas maravilhosas que amam a profissão e alunas que estavam ali de corpo e alma para ensinar tudo que tinham aprendido com os professores. Esperamos mais cursos muito proveitosos com período mais longo, pois é muito bom aprender para atender melhor nossos clientes. (Renilda Alves de Souza, produtora rural, participante da capacitação realizada no âmbito do projeto “Treinamento de Boas Práticas de Fabricação para os produtores de lácteos que comercializam seus produtos no Mercado Municipal de Salinas – MG”, coordenado pela professora Solimar Gonçalves Machado)
Nas áreas da educação, saúde e serviços apontamos ainda os projetos “Uma proposta de capacitação docente ao uso de novas tecnologias ensino”, coordenado pela professora Ana Clara Gonçalves Alves de Meira (Revista Contação, 2018, no prelo); “Avaliação da aceitabilidade da alimentação oferecida aos escolares da Rede Pública de Ensino da cidade de Salinas-MG: uma contribuição para redução do desperdício de alimentos” coordenado pela professora Daniela Caetano (id ibid); “Prevalência de toxoplasmose em gestantes do município de Salinas, norte de Minas – Gerais: Prevenção por meio da vigilância em Saúde”, coordenado pela professora Vanessa Paulino da Cruz Vieira (id ibid); e, “Análise e mapeamento do perfil dos hóspedes da rede hoteleira de Salinas- 159 -
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-MG”, coordenado pelo professor Leonardo Luiz Silveira da Silva (id ibid). Com relação ao projeto “Uma proposta de capacitação docente ao uso de novas tecnologias ensino”, a professora Ana Clara Gonçalves Alves Meira afirmou que, “através do projeto foi possível disseminar o conhecimento acadêmico, divulgar os trabalhos realizados na instituição e, de alguma forma, colaborar no desenvolvimento social da comunidade de Salinas”. Dentre os projetos na área artístico-cultural desenvolvidos, seja no âmbito da Escola Agrotécnica Federal de Salinas e do campus Salinas, destaca-se o Grupo de Teatro “Cores da Vida” que desde 1997, ano de sua criação, vem incentivando e despertando na comunidade escolar o gosto pelo teatro e promovendo novos talentos. Ao longo destas duas décadas de existência, foram montadas várias peças de Teatro com destaque para Sensatez, Nosso Rio, Nossa Terra, Nossa Gente , Enfim, Instituto Federal e Meu Nome é Mulher, as quais foram apresentadas em vários eventos de relevância como, por exemplo, no Seminário de Meio Ambiente, na capital mineira, em 2004; na 4ª Conferência Internacional das águas, na cidade do Rio de Janeiro, em 2006; no 8º Simpósio Brasileiro de Climatologia, na cidade de Alto Caparaó-MG, em 2008; nas solenidades alusivas aos 40 anos do Instituto de Geografia, na Universidade Federal de Uberlândia – UFU, em 2011; nos II e III Fórum de Educação Profissional e Tecnológica, respectivamente, nas cidades de Florianópólis-SC e em Recife-PE, nos anos de 2012 e 2015, além de apresentações diversas no campus Salinas e cidades circunvizinhas. Ao longo desses anos, o grupo “Cores da Vida” vem inscrevendo, nos vários palcos que apresenta, o nome do campus Salinas e do IFNMG, revelando sua singular missão de contribuir para a formação de sujeitos capazes de compreender o mundo e agir nele de forma crítica, ética, autônoma e cidadã. Sobre a importância do papel desempenhado pelo grupo de Teatro “Cores da Vida”, assim externou, em entrevista, uma das pedagogas do campus: O teatro é um momento de controlar emoções e de se relacionar com o outro. Quem atua deve atuar com o outro, ainda mesmo sendo um monólogo, deve-se saber se relacionar com os demais. Então, eu vejo no teatro disciplina, tolerância com o outro e possibilidade de reflexão sobre temas importantes. Fazer om que os alunos reflitam a respeito desses é um papel muito importante do teatro.
O grupo de Teatro “Cores da Vida”, como um projeto de extensão, sem- 160 -
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pre ocupou uma posição de destaque na vida da comunidade escolar/acadêmica e da comunidade externa, levando a instituição a muitos lugares como instrumento capaz de provocar problematizações e reflexões de maneira lúdica acerca de vários temas da atualidade. As práticas teatrais desempenham ainda, um papel importante no tocante ao processo ensino-aprendizagem e às ações extensionistas do Campus ao propor intervenção ativa do sujeito ator/expectador na sociedade, contribuindo para a formação de pessoas que sejam capazes de pensar o ambiente onde vivem numa perspectiva transformadora, libertadora e emancipatória. (CBEU, 2018)
Considerações finais A extensão como uma prática acadêmica interliga o campus em suas atividades de pesquisa, ensino e extensão na busca da formação de um profissional cidadão, visando legitimar-se junto à sociedade como um espaço de produção de conhecimento acadêmico que aliado ao popular, busca atender às reais necessidades das comunidades. Através da extensão, a comunidade acadêmica constitui-se sujeito no processo ensino aprendizagem, socializando e aplicando o saber acadêmico, intensificando sua relação com a pesquisa, compartilhando conhecimentos produzidos e, desta forma, contribuindo para a melhoria das condições de vida da sociedade. Ao analisar as práticas extensionistas desenvolvidas pelo campus Salinas e refletir sobre a contribuição deste percurso para as comunidades de abrangência, que carecem de políticas públicas, concluímos que o fazer extensionista do Campus Salinas vem tornando-se cada vez mais relevante porque possibilitam a difusão do conhecimento, a autonomia das comunidades e a relação dialógica entre o conhecimento acadêmico e tecnológico produzido pelo campus e sociedade com vistas ao desenvolvimento social, político, ambiental, educacional, tecnológico, econômico e cultural das regiões de abrangência, além de aproximar estudantes, docentes e técnicos das demandas essenciais da população, agregando maior destaque à tríade Ensino, Pesquisa e Extensão. Com o decorrer dos anos, observa-se um aumento considerável no número de atividades e ações extensionistas desenvolvidas no campus Salinas. Tais ações são o resultado do interesse dos docentes, dos técnicos administrativos e dos discentes em participar mais ativamente junto à comunidade, bem como, se aproximar das práticas profissionais exigidas pelo mercado de trabalho. Cabe ressaltar, que o apoio institucional, via Proex e direção geral do campus, tem possibilitado que o Departamento de Extensão possa desempenhar seu papel de forma mais articulada e estratégica. - 161 -
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Entretanto, grandes desafios ainda estão sendo enfrentados pelo Departamento de Extensão do Campus Salinas e pela Proex-Pró Reitoria de Extensão no cumprimento de seu papel social, como por exemplo, a inserção dos conteúdos de extensão nas matrizes curriculares dos seus diversos cursos que se denomina “Curricularização da Extensão”, bem como a criação e disponibilização de um banco de soluções tecnológicas com vistas a minimizar/solucionar as situações-problema apresentadas pela comunidade. Somos uma instituição nova que apresenta uma identidade híbrida, pois além de ter sido construída a partir das antigas Escolas Agrotécnicas e Cefets, temos em nosso quadro docente professores com graduação, especialização, mestres, doutores na perspectiva da oferta de uma educação básica técnica e tecnológica. Contudo, essa hibridez é combustível para os conflitos conceituais e para a prática do exercício da extensão. Não anulamos os conflitos porque sabemos que eles são a condição necessária para a efetivação de uma sociedade democrática e justa. Esses conflitos, o modo de pensar e de agir, frutos de demandas plurais, registram o modo de fazer e conceber a extensão no âmbito do campus Salinas. Nossa política extensionista é ampliar e aprofundar o modo de conceber e fazer Extensão, não centrada somente na prestação de serviços e no assistencialismo, mas sim, na prática extensionista dialógica. Entendemos que a extensão, hoje, apresenta-se como espaço democrático que possibilita a transformação social conforme as demandas que são trazidas até ela. No entanto, é preciso que aproximemos cada vez mais das comunidades e que os conhecimentos acadêmicos produzidos, não se tornem obsoletos nas nossas bibliotecas, mas que ganhem vida indo ao encontro das soluções para as demandas regionais. Em nossa caminhada estamos, cada vez mais, assumindo quem somos, o que somos, como somos e para quem existimos como instituição. Afinal, o IFNMG campus Salinas é o resultado de política pública e tem como uma das suas finalidades a inclusão social e a extensão constrói os seus percursos e o caminho? Como diz o poeta espanhol, Antônio Machado, “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”. Referências bibliográficas BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Plano Nacional de extensão Universitária: MEC/CRUB, 1999. 1999. Documento do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. ______. Fórum de Pró-Reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. Política Nacional de Extensão Universitária: Manaus, AM, maio de 2012. - 162 -
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2016-. Anual. ISSN 2447-3480. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2017-. Anual. ISSN 2447-3480. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2018-. Anual. ISSN 2447-3480. SANTOS, S. P.; FIGUEIREDO, M. N. S.de. Indústria, desenvolvimento local e renda: o caso da produção de cachaça em Salinas/MG. Trabalho publicado nos anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 - 22 - 23 de setembro de 2015. SILVA, J. da; JÚNIOR SILVA, M. F. Representações sociais e agricultura familiar: indícios de práticas agrícolas sustentáveis no Vale do Bananal - Salinas, Minas Gerais. Revista Sociedade e Natureza, Uberlândia 22 (3): 524-538, dez. 2010.
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A prática extensionista no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, campus Teófilo Otoni Maíra Queiroz Rezende1; Yuri Bento Marques2; Luara Cristiane Dourado Neves3
Resumo A extensão é responsável por estreitar e fortalecer os laços entre o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) e os diferentes setores da sociedade. Suas diversas ações visam contribuir para o desenvolvimento local e regional onde o IFNMG se insere, ampliar o processo formativo dos discentes enquanto cidadãos e contextualizar o ensino e a pesquisa, uma vez que essas atividades devem ser indissociadas da extensão. O Campus Teófilo Otoni tem se dedicado a realizar atividades de extensão desde 2015, tendo desenvolvido projetos voluntários e fomentados pelo Programa Institucional de Bolsas de Extensão para Discentes (PIBED), eventos de diversas naturezas, Cursos de Formação Inicial e Continuada (FICs), além de visitas e viagens técnicas. Neste capítulo propõe-se realizar um resgate histórico das principais atividades de extensão realizadas no IFNMG campus Teófilo Otoni. Palavras-chave: Projetos. Eventos. Cursos. Sociedade
Introdução O Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) é Instituição Federal de Ensino pública e gratuita. Atualmente, são ofertados no campus Teófilo Otoni o curso Técnico de Informática para a Internet Integrado ao Ensino Médio; o curso Técnico em Meio Ambiente Integrado ao Ensino Médio; os cursos Técnicos concomitantes/subsequentes em Meio Ambiente, Informática e Administração; o curso Superior em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, além dos cursos dos programas Pronatec e E-TEC, totalizando cerca de 700 alunos matriculados, dos diferentes municípios da área de influência da instituição. O Campus Teófilo Otoni conta com um quantitativo atual de 47 servidores sendo 23 docentes (dois especialistas, 16 mestres e três doutores) e 24 Técnicos Administrativos. Quanto aos recursos materiais, o IFNMG campus Teófilo Otoni é dotado de um prédio pedagógico-administrativo com seis salas de aulas, dois laboratórios de Informática, um laboratório Interdisciplinar, uma biblioteca e uma Fazenda Experimental. O IFNMG campus Teófilo Otoni. visa manter e ampliar o reconheci______________________ 1 Professora do IFNMG, Campus Teófilo Otoni e Doutora em Entomologia pela UFV 2 Professor do IFNMG, Campus Teófilo Otoni e Mestre em Ciência da Computação pela UFV 3 Professora do IFNMG, Campus Teófilo Otoni e Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG
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O IFNMG, Campusde Teófilo Otoni, visa manter e ampliar o reconhecimento como instimento como instituição excelência em educação profissional, científica e tectuição de excelência em educação profissional, científica e tecnológica na sua área de influênnológica na sua área de influência, sendo pautada pelos valores éticos, de inclusão cia, sendo pautada pelos valores éticos,edetransparência. inclusão social, dePossui responsabilidade e transsocial, de responsabilidade social a missãosocial institucional de produzir, disseminar e aplicar odeconhecimento tecnológico e acadêmico, parência. Possui a missão institucional produzir, disseminar e aplicar o conhecimento tecno-para a formação cidadã, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, contribuindo lógico e acadêmico, para a formação cidadã, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, para o progresso socioeconômico local, regional e nacional, na perspectiva do contribuindo para o progresso socioeconômico local, regional e nacional, na perspectiva do desenvolvimento sustentável e da integração com as demandas da sociedade e desenvolvimento sustentável e da integração com as demandas da sociedade e do setor produdo setor produtivo. tivo. Para que o IFNMG cumpra seu papel social é imprescindível o fortao IFNMG cumpra seu papel social é imprescindível fortalecimento das ações e a lecimentoPara dasqueações de extensão na região. A extensãoopromove o diálogo de extensão na região. A extensão promove o diálogo e a troca de saberes o IFNMGse e ospautroca de saberes entre o IFNMG e os diferentes setores daentre sociedade, tando sempre em da ações que integre o sempre ensinoeme ações a pesquisa de oforma diferentes setores sociedade, se pautando que integre ensino eindissociada. a pesquisa A extensão viabiliza a aproximação entre o IFNMG e a sociedade, priorizando de forma indissociada. A extensão viabiliza a aproximação entre o IFNMG e a sociedade, sempre em suas ações as demandas de relevância social, para priorizando sempre em suas ações as demandas de relevância social,contribuindo contribuindo para o o desenvolvimento local e regional e para o processo formativo dos discentes endesenvolvimento local e regional e para o processo formativo dos discentes enquanto cidadãos. quanto cidadãos. Desde o início de suas atividades, em 4 de fevereiro de 2015, Desde o início de suas atividades, em 04 de fevereiro de 2015, o IFNMG Campus Teófilo Otoni o IFNMG Campus Teófilo Otoni tem se dedicado a realizar atividades de extem setendo dedicado a realizar atividades de extensão, tendo desenvolvido projetos fomentados pelo tensão, desenvolvido projetos fomentados pelo Programa Institucional Programade Institucional de Bolsas de Extensão para Discentes (PIBED)de a partir de 2015. A cada de Bolsas Extensão para Discentes (Pibed) a partir 2015. A cada ano o ano o Campus tem aumentado o número de projetos e de servidores e discentes envolvidos Campus tem aumentado o número de projetos e de servidores e discentes envolvidos 1). (Tabela(Tabela 1). Tabela 1. Dados dos projetos de extensão executados no IFNMG, Campus Teófilo Otoni desde sua implantação.
Número de
Número de
Número de
Número de
População
Projetos
Coordenadores
Bolsistas
voluntários
atendida
2015
3
3
6
0
510
2016
7
5
12
6
558
2017
18
10
30
36
2.439
2018
16
7
33
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-
Ano
Além dos projetos de extensão, ao longo desses anos também foram desenvolvidos di-
Além dos projetos de extensão, ao longo desses anos também foram deversos eventos envolvendo a comunidade externa, Cursos de Formação InicialCursos e Continuada senvolvidos diversos eventos envolvendo a comunidade externa, de For(FICs), além de visitas técnicas visando aproximar os discentes do IFNMG do mundo do tra- 168 -
balho e colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula.
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mação Inicial e Continuada (FICs), além de visitas técnicas visando aproximar os discentes do IFNMG do mundo do trabalho e colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula.
Metodologia A fim de reconstruir a história e memória da extensão do campus Teófilo Otoni, foi realizado levantamento bibliográfico dos relatos sobre a extensão publicados na Revista Contação e uma análise documental nos arquivos institucionais. Foram consultadas informações sobre o município de Teófilo Otoni no Banco de Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e no Atlas de Desenvolvimento Humano (IPEA) para a caracterização do município e sua área de abrangência.
Caracterização da área O município de Teófilo Otoni conta com um campus do IFNMG e está localizado na porção nordeste do estado de Minas Gerais (Mesorregião do Mucuri), desempenhando a função de subsidiar o desenvolvimento regional que compreende outros 22 municípios, a saber: Águas Formosas, Ataléia, Bertópolis, Carlos Chagas, Catuji, Crisólita, Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira dos Vales, Itaipé, Ladainha, Machacalis, Malacacheta, Nanuque, Novo Oriente de Minas, Ouro Verde de Minas, Pavão, Poté, Santa Helena de Minas, Serra dos Aimorés, Setubinha e Umburatiba. A área de influência do IFNMG campus Teófilo Otoni (Figura 1) corresponde às microrregiões de Nanuque e Teófilo Otoni, ambas pertencentes à mesorregião do Mucuri que, conforme dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentava em 2016 uma população absoluta de 409.252 habitantes e tem como limítrofes, o Vale do Rio Doce ao sul, o Vale do Jequitinhonha ao norte, o Estado da Bahia a nordeste e o Estado do Espírito Santo a sudeste (IBGE, 2016).
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Figura 1. Municípios que constituem a mesorregião do Vale do Mucuri e a população absoluta. Fonte: IBGE (2016).
O Fazer da Extensão no IFNMG: uma reflexão baseada nas ações de Extensão do campus Teófilo Otoni Figura 1. Municípios que constituem a mesorregião do Vale do Mucuri e a população absoluta. Fonte: IBGE (2016). Em 2015, ano de criação da Coordenadoria de Extensão no IFNMG campus Teófilo Otoni, foram realizadas as primeiras ações de extensão na região de abrangência do campus. O professor Yuri Bento Marques, nomeado como o 4. O Fazer da Extensão no IFNMG: uma reflexão baseada nas ações de Extensão do primeiro coordenador da Coordenadoria de Extensão, destaca o empenho dos Campusservidores Teófilo Otoni primeiros do IFNMG campus Teófilo Otoni nas atividades extenEm 2015, ano de criação da Coordenadoria de Extensão no IFNMG Campus Teófilo sionistas. Dentre as diversas atividades ano, foram realizados três do projetos Otoni, foram realizadas as primeiras ações de no extensão na região de abrangência Campus.de extensão: “Introdução a Programação de Computadores com a ferramenta ScraO professor Yuri Bento Marques, nomeado como o primeiro coordenador da Coordenadoria de tch 2 para alunos do 9º ano do ensino fundamental”, coordenado pelo professor Extensão, destaca o empenho dos primeiros servidores do IFNMG Campus Teófilo Otoni nas Yuri Bento Marques (Marques, 2016) e os projetos “Reciclagem do óleo de coziatividades nha: umextensionistas. problema ambiental a menos, uma fonte de renda a mais” e “Arborização do município Teófilo Otoni”,no coordenados pelo professor Ivan Carlos CarreiDentre as de diversas atividades ano, foram realizados três projetos de extensão: ro Almeida (Almeida, 2016). De acordo com o professor Yuri Bento Marques, o “Introdução a Programação de Computadores com a ferramenta Scratch 2 para alunos do nono projeto possibilitou que alunos do ensino fundamental tivessem um contato com anoprogramação do ensino fundamental”, coordenadode pelo professor Yurie Bento (Marques, 2016), de computadores forma lúdica aindaMarques auxiliou na divulgação e os do óleo de cozinha:doumcampus problema ambiental a menos, fonte de doprojetos curso “Reciclagem integrado em informática Teófilo Otoni, que uma iniciaria sua primeira turma no ano seguinte. O professor Ivan destaca que seus projetos renda a mais” e “Arborização do município de Teófilo Otoni”, coordenados pelo professor Ivan possibilitaram uma maior conscientização sobre a importância da arborização
Carlos Carreiro Almeida (Almeida, 2016). De acordo com o professor Yuri Bento Marques, o - 170 - tivessem um contato com programação projeto possibilitou que alunos do ensino fundamental
de computadores de forma lúdica e ainda auxiliou na divulgação do curso integrado em informática do Campus Teófilo Otoni, que iniciaria sua primeira turma no ano seguinte. O
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urbana e comportamento responsável em relação ao meio ambiente. Além disto, os coordenadores e bolsistas destes projetos participaram do da segunda edição do evento “Instituto na Praça”. Adicionalmente, foram realizados quatro eventos: “Instituto na Praça”, o qual possibilitou uma maior aproximação com a comunidade. Ainda nesta primeira edição do evento, foram realizadas mostras de componentes computadores e atividades para conscientização ambiental e recuperação de áreas degradadas. Já em sua segunda edição, o evento também contou com mesa-redonda, presença do laboratório móvel do IFNMG, diversos minicursos e oficinas gratuitas, distribuição de 140 mudas e panfletos informativos sobre o IFNMG campus Teófilo Otoni. Por consequência disto, de acordo com o professor Henrique Faria de Oliveira, evento “Instituto na Praça” atingiu o objetivo principal, que era divulgar a instituição para a comunidade. Ainda, o núcleo de informática do IFNMG campus Teófilo Otoni em parceria com a UFVJM e Universidade Unipac, realizou o evento “Workshop em Computação”. Este evento contou com palestrantes externos e oito minicursos de computação para os estudantes das instituições envolvidas. Por fim, o núcleo de meio ambiente do IFNMG campus Teófilo Otoni em parceria o Internato Rural e Embrapa Hortaliças realizou o “I Seminário sobre sistema de plantio direto em hortaliças”. Além disto, os discentes do IFNMG, campus Teófilo Otoni, orientados por docentes dos núcleos de Informática, Administração e Meio Ambiente, participaram do “Inotec – Desafio de Empreendedorismo dos Vales”. O professor Yuri Bento Marques, orientador dos discentes, destaca que mesmo concorrendo contra alunos dos cursos superiores da UFVJM, Doctum e Unipac, os nossos discentes conseguiram submeter projetos que obtiveram a segunda, terceira e quarta colocações na competição. Ainda, foram ofertados quatro cursos FIC (Formação Inicial e Continuada) para a comunidade: “Introdução a Programação de dispositivos móveis Android”, coordenado pelo Prof. Thiago Miranda, “Dinâmicas de Grupo e Brincadeiras Populares”, coordenado pelo Prof. Lucas Teixeira Ferrari, “Tratamento de Resíduos Sólidos Orgânicos”, coordenado pelo Prof. Alexandre Petusk Filipe, duas turmas do curso de “Inglês básico”, coordenados pelos professores Ivan Carlos Carreiro Almeida e Tiago Horácio Lott e “Auxiliar de recursos humanos”, coordenado pelo Prof. Gustavo Henrique Silva de Souza. Por fim, os docentes proporcionaram uma aprendizagem ainda mais significativa para os discentes, ao coordenarem viagens e visitas técnicas ao Parques Estaduais do Rio Preto, Parque Nacional das Sempre vivas, Horto Florestal do IEF, Produtores de Mudas – Lajinha, Construção do campus Teófilo Otoni, Laboratório de Hidráulica e Laboratório portátil de Meteorologia UFVJM, Aterro de Teófilo - 171 -
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Otoni, Ascanovi, Copasa Teófilo Otoni e no Internato Rural Teófilo Otoni. Em 2016, a coordenação de extensão foi assumida pela Profª. Maíra Queiroz Rezende. Neste ano, foram realizados sete projetos de extensão com bolsistas financiados pelo PIBED: Os projetos “Inglês Básico” e “Cinema e Ensino de Língua Inglesa: A leitura crítico-reflexiva da arte”, coordenados pelo Prof. Tiago Horácio Lott visaram desenvolver competências e habilidades para o reconhecimento, funcionamento e uso da língua inglesa, através das quatro habilidades (writing, reading, speaking e listening) e aprimorar o conhecimento cultural e linguístico da comunidade interna e externa ao campus Teófilo Otoni, através do uso da linguagem cinematográfica na educação (LOTT, 2017). Além disso, intentou-se facilitar o acesso a produções cinematográficas que contribuíssem para a formação crítico-reflexiva do jovem e do adulto, a ampliação do seu repertório cultural, o desenvolvimento da sua competência leitora e o diálogo entre o currículo escolar e as questões socioculturais mais amplas. O projeto “Arborização de espaços públicos: sombra para todos”, coordenado pelo Prof. Alexandre Petusk Filipe objetivou suprir a necessidade de sementes para o viveiro florestal e mudas para serem plantadas nas dependências do IFNMG, campus Teófilo Otoni; e desenvolver no âmbito escolar e social práticas ambientais que estruturam a ideia de manter um ambiente ecologicamente equilibrado e sustentável. O projeto “Manejo de Pragas para Agroecossistemas em Transição Agroecológica”, coordenado pela Profª Maíra, visou levantar informações a respeito da agricultura familiar e iniciativas agroecológicas no município visando elaborar um curso para estudantes e agricultores sobre práticas agroecológicas de manejo de pragas. O projeto “Estratégias para mensurar o envolvimento de alunos em cursos on-line”, coordenado pelo Prof. Rômulo Batista da Silva objetivou propor estratégias de gamificação viáveis para aplicação em cursos on-line. Por fim, os projetos “Introdução à programação de computadores com ferramenta scratch 2 para alunos do ensino fundamental e médio” e “Conhecimentos de primeiros socorros por meio de um ambiente virtual de aprendizagem”, coordenados pelo Prof. Yuri Bento Marques visaram capacitar estudantes para aprender e disseminar o uso da ferramenta Scratch 2 e disponibilizar uma plataforma online para que discentes de todas as escolas de Teófilo Otoni e servidores ou funcionários das mesmas possam aprimorar seus conhecimentos sobre primeiros socorros. Adicionalmente, foram realizados três projetos voluntários neste ano. O projeto “Estratificação ambiental participativa no Quilombo Córrego Santa Cruz, Ouro Verde de Minas-MG”, coordenado pelo Prof. Lucas Teixeira Ferrari, que teve como objetivo resgatar e sistematizar o conhecimento de uma comu- 172 -
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nidade remanescente de quilombola para promover uma estratificação ambiental participativa (FERRARI, 2017). O projeto “Conjugação de Ler”, coordenado pelo Prof. Leandro de Paula Liberato, que visou despertar o prazer pela leitura através da utilização de espaço diferenciado dentro do Campus para leitura e livros doados e emprestados por servidores e estudantes (LIBERATO, 2017). O projeto “Preparatório Enem 2016 – Segundo Dia”, coordenado pelo Prof. Tiago Horário Lott, que propiciou aulas expositivas e dialogadas, nas quais os envolvidos tiveram a oportunidade de relembrarem e aprenderem os conteúdos do segundo dia de provas do Enem, nomeadamente Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias e Redação, trabalhando, ainda, questões de edições anteriores do exame. Ainda, foram ofertados três cursos FIC: “Cuidador de Idoso”, coordenado pela Profª. Luara Cristiane Dourado Neves, “Operador de Computadores”, coordenado pelo Prof. Rômulo Batista da Silva e “Inglês básico”, coordenado pelo Prof. Tiago Horácio Lott. Por fim, foram realizadas visitas técnicas à empresa Certo Distribuição, Parque Estadual do Rio Doce, Cenibra e Central de Tratamento de Resíduos do Vale do Aço, Parque Nacional do Caparaó, Lar de idosos Recanto Frei Dimas e Lar de idosos Alziro Zarur (LBV). No ano de 2017, dois editais do Programa Institucional de Bolsas de Extensão para Discentes (Pibed) (Edital Nº 12/2017 e Nº 51/2017) selecionaram 18 projetos no campus Teófilo Otoni, coordenados por dez docentes. O projeto “Controle automático de irrigação para pequenos e médios produtores rurais e produtores da agricultura familiar”, coordenado pelo Prof. Helder Caldas Palmieri, teve como objetivo criar um protótipo de automatização de irrigação de plantios e áreas de produção rural, baseado em plataforma de programação livre e placas de controle arduíno. O projeto “O uso de sistemas de informação gerenciais em microempresas: avaliação, conscientização e captação de gestores e microempresários de Teófilo Otoni-MG”, coordenado pelo Prof. Henrique Faria de Oliveira, buscou analisar o cenário das microempresas de Teófilo Otoni quanto ao uso dos sistemas de informação enquanto ferramentas operacionais e gerenciais, bem como ofertar a qualificação relacionada aos responsáveis pelas mesmas. O projeto “Estratégias para melhorar o envolvimento de alunos nas disciplinas do Ensino Médio, coordenado pelo Prof. Rômulo Batista Silva, teve como objetivo propor estratégias de gameficação viáveis para aplicação em disciplinas do Ensino Médio, de acordo com seus respectivos objetivos educacionais, ou seja, as necessárias competências a serem desenvolvidas. Deste projeto, derivou-se um segundo projeto, intitulado “Proposta para criação de um jogo de tabuleiro voltado para as disciplinas do Ensino Médio”, sob coordenação do mesmo - 173 -
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professor, desta vez criando um jogo de tabuleiro passível de ser utilizado como ferramenta de apoio pedagógico nas disciplinas do Ensino Médio. O Projeto “Introdução à programação de computadores com a ferramenta Scratch 2 para alunos do ensino fundamental e médio”, coordenado pelo Prof. Yuri Bento Marques, visou realizar um minicurso de introdução a programação de computadores de forma lúdica, por meio da ferramenta Scratch 2, tendo como público-alvo alunos do ensino fundamental e médio, visando despertar nestes jovens o interesse na área de desenvolvimento de softwares. O projeto “Árvore delivery - arborização do município de Teófilo Otoni-MG”, sob coordenação do Prof. Ivan Carlos Carreiro Almeida, pretendeu a produção, distribuição e plantio de mudas arbóreas florestais e frutíferas na cidade de Teófilo Otoni de acordo com a solicitação dos moradores. Foram realizadas campanha de divulgação nos principais meios de comunicação, tendo sido plantadas ao todo mais de 300 mudas no município. O projeto “Adequação de um protocolo de avaliação rápida para monitorar o impacto ambiental macroscópico das nascentes urbanas de Teófilo Otoni-MG”, sob coordenação do Prof. Sérgio Lana Morais, buscou mapear e avaliar a condição ambiental das nascentes urbanas e produzir informações técnicas para futuras ações de recuperação ambiental, uma vez que pouco se sabia sobre o estado de conservação ambiental e os principais impactos socioambientais que afetavam as nascentes que constituem a rede de drenagem das microbacias urbanas da cidade. O projeto intitulado “Pré-IFNMG: meritocracia, igualdade de oportunidades e equidade”, coordenado pelo Prof. Paulo Sérgio de Souza e Silva, teve como propósito ofertar um tipo de Cursinho Popular nas dependências do campus, para jovens em idade escolar oriundos de famílias de baixa renda, com vistas à aprovação e ingresso dos participantes nos cursos do Ensino Médio Integrado do campus Teófilo Otoni. Deste modo, além de promover uma divulgação das ações do IFNMG em sua área de abrangência, fez-se mecanismo de inclusão social, democratizando o acesso à instituição de ensino por jovens de baixa renda, além de incentivar o protagonismo juvenil. O projeto “Amizade Sem idade”, coordenado pela Profª Luara Cristiane Dourado Neves, pretendeu promover, por meio de ações individuais e coletivas, a integração social entre idosos institucionalizados do Recanto Frei Dimas e público externo, sobretudo discentes do IFNMG campus Teófilo Otoni, como possibilidade de motivar o resgate de sua dignidade e autoestima. Para isso, adotou-se uma agenda de visitas quinzenais à instituição, oportunidade em que se promoviam diversas ações junto aos residentes, como bingos, serestas, sessões de cinema, rodas de conversa, dentre outras. O Projeto “Diálogos Impertinentes: abordagens de conteúdos transversais ao ensino e de interesse da juventude”, coordenado pelo Prof. Paulo Sérgio de Souza e Silva, buscou viabilizar a criação de abordagens sobre temas tranversais - 174 -
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ao ensino, a partir do interesse de jovens e adolescentes, com a promoção de interações socioculturais entre os mesmos, estimulando o desenvolvimento de debates, além da produção e veiculação de conhecimentos em diferentes mídias, com o intuito de despertar o engajamento, a formação cidadã e o protagonismo juvenil. O projeto “Conjugação de ler”, sob coordenação do Prof. Leandro de Paula Liberato, teve como objetivo construir um espaço aconchegante e funcional, alternativo ao da biblioteca formal, o qual estimulasse o apreço pela leitura, permitisse o acesso a diversos tipos de textos literários e não literários e promovesse o empréstimo/ troca de livros entre membros da comunidade escolar. O projeto:“CinIF 2017: Cinema e Linguagem”, foi coordenado pelo Prof. Tiago Horácio Lott, com vistas a aprimorar o conhecimento cultural e linguístico dos discentes envolvidos, favorecendo o acesso à produção cinematográfica de diferentes categorias e gêneros, além de funcionar como um recurso de apoio para a prática educativa. O projeto “Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica: construindo experiências agroecológicas no Vale do Mucuri”, coordenado pelo Prof. Ivan Carlos Carreiro Almeida, visou mobilizar agricultores para a transição agroecológica no Vale do Mucuri e ofertar um curso de Agricultor Orgânico e Agroecológico. O projeto “Horta nas escolas”, coordenado pelo Prof. Alexandre Petusk Filipe visou implementar hortas em escolas estaduais e municipais. Por fim, os projetos “Conscientização e descarte do lixo eletrônico” e “Medidor de vazão de água e consumo de energia de chuveiros elétricos usando arduino”, coordenados pelo Prof. Helder Luiz Palmieri Caldas tiveram como objetivo, respectivamente, conscientizar a população de Teófilo Otoni e região sobre a importância de realizar de forma correta o descarte do lixo eletrônico e construir um sistema supervisório de consumo de água e energia elétrica, utilizando a plataforma arduíno a fim de oferecer à população uma alternativa tecnológica para acompanhar o consumo do chuveiro elétrico. Em 2017, somente um curso de Formação Inicial e Continuada foi ofertado. O Curso Agricultor(a) Orgânico(a) e Agroecológico(a) foi oferecido no formato de módulos nas comunidades rurais e intercâmbios para diferentes municípios, visando a troca de conhecimentos para o fortalecimento da agroecologia no Vale do Mucuri. Teve como público-alvo agricultores familiares, estudantes de Escolas Famílias Agrícolas, agricultores de comunidades tradicionais e assentados de reforma agrária, e foi coordenado pela Profª. Maíra Queiroz Rezende em parceria com a Universidade Federal dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha (UFVJM) e diversos outros parceiros que compõem o Núcleo Mucuri de Agroecologia. Ainda em 2017, diversos eventos institucionais foram promovidos no Campus, cumprindo sua função social de compartilhar e disseminar saberes e práticas, em uma relação dialógica junto à comunidade. O “I Seminário: Construindo - 175 -
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Experiências Agroecológicas no Vale do Mucuri” organizado pelo Núcleo Mucuri de Agroecologia, discutiu e promoveu ações e políticas públicas de agroecologia para promoção do desenvolvimento rural sustentável do Vale do Mucuri por meio do protagonismo e participação de agricultores(as) familiares. O “I Seminário do Núcleo de Atendimento a Pessoa com Necessidades Específicas (NAPNE): Cidadania e inclusão”, promovido pelo Núcleo homônimo, promoveu debates atuais sobre o desenvolvimento da educação para a convivência, com a oferta de exposições formativas e informativas sobre questões que envolvem o cotidiano das pessoas com necessidades específicas. O “Ciclo de Palestras na Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac)”, teve a participação de diversos servidores do campus, buscando contribuir na promoção de ações promotoras de cidadania e cumprir a função social do IFNMG. Todas as palestras tiveram as temáticas definidas pelos próprios recuperandos. Foram discutidos temas como: projetos de vida, uso e abuso de cigarro e álcool, práticas conservacionistas de solo e água, empreendedorismo, primeiros socorros, dentre outros. O “I Sarau do IFNMG - campus Teófilo Otoni: Viver é preciso” cumpriu seu objetivo de promover a integração entre servidores, estudantes e familiares. O evento esteve inserido no contexto do Setembro Amarelo, uma campanha iniciada no Brasil desde 2014 que objetiva a conscientização sobre a prevenção do suicídio. Na oportunidade, foram apresentados recitais de poesia, números musicais, dança, teatro, dentre outras manifestações artísticas. A “I Startup Talk: Empreendedorismo e Negócio” teve como escopo promover conexões entre pessoas interessadas em compartilhar experiências sobre empreendedorismo, inovação, negócios, tecnologias e tendências de mercado. Além disso, foram realizados no campus o “Dia do Técnico em Meio Ambiente”, o “Dia Mundial da Água”, a “I Semana do Meio Ambiente”, e a “Semana Nacional de Ciência e Tecnologia”, um evento realizado em parceria com a UFVJM que contou com diversas atividades e recebeu no campus Teófilo Otoni, mais de 600 pessoas da comunidade externa. Com o propósito de aperfeiçoar a prática profissional dos discentes, em 2017 foram realizadas viagens e visitas técnicas às seguintes instituições: Instituto Terra (Aimorés-MG), Usina Hidrelétrica (Aimorés-MG), Cenibra - Celulose Nipo-Brasileira S/A (Belo Oriente) e Parque Estadual do Rio Doce (Ipatinga-MG). No ano de 2018, tivemos uma novidade na extensão do IFNMG, com o Edital de Demanda Induzida (Edital Nº 52/2018) lançado pela Pró-Reitoria de Extensão do IFNMG (Proex). Nesse edital, foram contemplados cinco projetos que estão sendo executados em todos os Campi. O projeto “Desenvolvendo o Empreendedorismo Local: Ações Extensivas Para Novos Negócios e Execução do Clube - 176 -
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do Empreendedor”, coordenado pelo Prof. Gustavo Henrique Silva de Souza, visa organizar e executar a primeira etapa do Clube do Empreendedor, uma seleção de duplas de concorrentes que apresentem ideias de negócio inovadoras. A dupla com a melhor ideia irá representar o campus em uma atividade que envolverá todos os campi do IFNMG na Semana Integrada de Eventos de 2018, que acontecerá no campus Montes Claros. O projeto “Sustentabilidade Ambiental: Gerenciamento de Resíduos Sólidos no campus Teófilo Otoni”, coordenado pelo Prof. Ivan Carlos Carreiro Almeida, tem como principal objetivo realizar a efetiva coleta seletiva dos resíduos sólidos gerados no campus, destinando somente os rejeitos para o aterro sanitário. Os materiais recicláveis estão sendo utilizados em parte para realização de oficinas de artesanato e destinados a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Teófilo Otoni (Ascanovi). O óleo de cozinha usado está sendo utilizado para a produção de sabão caseiro. Também está sendo feita a coleta de pilhas e baterias de equipamentos eletrônicos, que serão destinados a empresas especializadas na coleta destes materiais. O projeto “Mucuri Cultura e Arte”, coordenado pelo Prof. Leandro de Paula Liberato, tem por objetivo principal potencializar, incentivar e disseminar a produção artística e cultural, suas linguagens e símbolos subjacentes, em toda a comunidade escolar do IFNMG campus Teófilo Otoni e atividades culturais que tenham sido desenvolvidas no campus para o II Festival Intercampi de Culturas: Encantos dos Vales, Montes e Sertões do IFNMG. O projeto “Projeto Acompanhamento de Egressos”, coordenado pelo Prof. Yuri Bento Marques, visa recolher informações para identificar as experiências profissionais que configuram as trajetórias dos egressos, sobretudo investigar sobre como eles estão inseridos no mundo do trabalho e quais as práticas educativas relevantes para a formação deles como profissionais. Além disso, esse projeto vai contribuir para o planejamento, definição e retroalimentação das políticas educacionais do IFNMG, em nível mais específico, podendo contribuir para uma redefinição didática, curricular e avaliativa dos Projetos de Curso. Por último, o projeto “Elaboração do Portfólio de Oportunidades do IFNMG”, também coordenado pelo Prof. Yuri Bento Marques, tem como objetivo descrever as situações-problema das comunidades onde o campus Teófilo Otoni está inserido, visando propor soluções tecnológicas advindas das áreas de extensão, pesquisa e ensino por meio de programas, projetos ou atividades. Está sendo elaborado um portfólio contendo as situações-problemas para que servidores possam se organizar em Grupos de Soluções Tecnológicas para buscando soluções para as dificuldades enfrentadas na região. Também está sendo criada uma plataforma digital onde qualquer cidadão poderá pesquisar por assunto ou município as situações-problema, podendo inclusive propor ferramentas para solucionar alguma situação descrita. - 177 -
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Além do Edital de Demanda Induzida realizado pela Proex, o Programa Institucional de Bolsas de Extensão para Discentes (Pibed) de 2018 (Edital Nº 01/2018) selecionou 11 projetos no campus Teófilo Otoni, que estão sendo coordenados por seis docentes. O projeto “Conservação e produção rural sustentável: uma parceria para a vida”, coordenado pelo Prof. Alexandre Petusk Felipe, tem como objetivo apoiar a produção de projetos e confecção de documentos no Instituto Estadual de Florestas (IEF) a fim organizar os trabalhos a serem desenvolvidos nas propriedades do município de Teófilo Otoni que solicitaram a implantação de um projeto de recuperação e manutenção da biodiversidade local. O projeto “Árvore Delivery: Fomento da Arborização e Mapeamento das Árvores Urbanas de Teófilo Otoni – MG, coordenado pelo Prof. Ivan Carlos Carreiro Almeida, visa fomentar o plantio de árvores de forma a atender os padrões corretos de arborização com a criação de um canal on-line facilitando o contato entre o IFNMG e o IEF, que serão produtores de mudas arbóreas, e o cidadão que tem o anseio de plantar árvore(s) na calçada ou quintal de sua casa. O projeto “Produtores de água em Teófilo Otoni: Parceria pela Vida”, também coordenado pelo Prof. Ivan Carlos Carreiro Almeida, está realizando um diagnóstico socioambiental e o georreferenciamento de produtores rurais parceiros que têm vontade de executar em suas propriedades ações conservacionistas. Esse projeto está sendo realizado em parceria com o IEF e contribui com parte de um projeto maior financiado pela Agência Nacional de Águas (ANA). O projeto “IFNMG Cultura e Arte”, coordenado pelo Prof. Leandro de Paula Liberato, pretende impulsionar os estudantes do IFNMG - campus Teófilo Otoni nas habilidades de interpretação e representação com vistas ao fortalecimento dos processos de identidade e cidadania. Para tanto, a proposta é ir além das salas de aulas e dos portões da instituição com a finalidade de executar apresentações artístico-culturais, valorizando arte, literatura e cultura em um contexto socialmente desfavorecido. O projeto “Mapeamento participativo de sementes crioulas para o fortalecimento da agroecologia no município de Teófilo Otoni-MG”, coordenado pela Profª. Maíra Queiroz Rezende, está mapeando as experiências agroecológicas e as sementes crioulas cultivadas por agricultores e agricultoras familiares no município de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri-MG, a fim identificar as experiências agroecológicas na região e contribuir para o intercâmbio, trocas e manutenção da agrobiodiversidade local. O projeto “O mapa da mina: mapeando as nascentes urbanas de Teófilo Otoni-MG”, coordenado pelo Prof. Sérgio Lana Morais, tem por objetivo avaliar a condição ambiental das nascentes urbanas do município de Teófilo Otoni através de um Protocolo de Avalição Rápida (PAR) com vistas à geração de informações técnicas confiáveis que possam nortear futuras ações de recuperação ambiental. O projeto - 178 -
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“Identificação e divulgação dos agentes, eventos, projetos e espaços culturais na cidade de Teófilo Otoni/MG”, coordenado pelo Prof. Yuri Bento Marques, está identificando os diversos agentes culturais, grupos, coletivos, arranjos criativos, manifestações, espaços da cidade de Teófilo Otoni/MG e cadastrar no website do Mapa da Cultura do vale do Mucuri. Por fim, o projeto “Introdução à Programação de Computadores para alunos do ensino fundamental e médio por meio da ferramenta Scratch 2”, também coordenado pelo Prof. Yuri Bento Marques, está realizando minicursos sobre a ferramenta Scratch 2 em uma escola pública de ensino fundamental e médio a fim de despertar o interesse dos alunos na programação de computadores, o que pode contribuir na inclusão social, geração de oportunidades de emprego e renda, incremento na quantidade de futuros candidatos para os cursos de informática integrado e superior do IFNMG campus Téofilo Otoni, divulgação da marca do IFNMG nas escolas visitadas e viabilização da relação transformadora entre o IFNMG e a sociedade. Em 2018, foi realizado o evento “As oportunidades de trabalho para um técnico em Meio Ambiente no Vale do Mucuri”, organizada pelo Prof. Sérgio Lana Morais, oficinas de teatro e circo, organizadas pelo Prof. Leandro de Paula Liberato, o “Ciclo de Palestras em comemoração ao mês do Administrador”, organizado pela Profª Ana Cláudia Gonçalves de Sá Jardim e o evento interinstitucional “Seminário de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva (SEPTI 2018)”, organizado por diversos servidores, que contou com ampla participação da comunidade externa e de servidores de todos os Campi do IFNMG. Ainda estão previstas para esse 2018 diversas atividades, tais como a “Semana Nacional de Ciência e Tecnologia” e a “II Semana do Livro e da Biblioteca”. Com relação aos Cursos de Formação Inicial e Continuado, tivemos em 2018 duas ofertas do curso “Cuidador Infantil”, com 160 horas cada, coordenados pela Profª Luara Cristiane Dourado Neves.
Considerações finais Apesar da história ainda recente, o campus Teófilo Otoni tem se destacado nas ações de extensão, tendo desenvolvido projetos de cunho tecnológico, social e artístico-cultural. As múltiplas frentes da extensão tem aproximado a comunidade acadêmica dos diversos setores da sociedade, tanto urbanos quanto rurais. Nesse sentido, o IFNMG, campus Teófilo Otoni acredita estar cumprindo com sua missão institucional e buscando solucionar problemas sociais com base nas demandas locais. Muito ainda precisa ser alcançado, especialmente no que tange à articulação entre a extensão, o ensino e a pesquisa. A extensão precisa ser amplamente deba- 179 -
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tida e fortalecida para que possa de fato contribuir para o desenvolvimento social, econômico e cultural das regiões onde o IFNMG se insere. Referências bibliográficas ALMEIDA, I.C.C. Reciclagem do óleo de cozinha: um problema ambiental a menos, uma fonte de renda a mais. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2016-. Anual. ISSN 2447-3480. Página 71 FERRARI, L.T. Estratificação ambiental participativa. REVISTA DE EXTENSÃO CONTAÇÃO. Montes Claros: IFNMG, 2017-. Anual. ISSN 2447-3480. Página 83-84. IBGE. Perfil dos Municípios Brasileiros. 2016. Disponível em: https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/ Acesso em: 15 de outubro de 2018. LIBERATO, L.P. Conjugação de ler. Revista de Extensão Contação. Aprende-se ensinando nos Vales e Gerais. Nº 3 – Nov./2017. LOTT, T.H. Cinema e ensino de língua inglesa. Revista de Extensão Contação. Aprende-se ensinando nos Vales e Gerais. Nº 3 – Nov./2017. MARQUES, Y.B. Introdução a Programação de Computadores com a ferramenta Scratch 2 para alunos do nono ano do ensino fundamental. Revista de Extensão Contação. Aprende-se ensinando nos Vales e Gerais. Nº 2 – Nov./2016.
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