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Artes de fazer e viver o Vale do Jequitinhonha

Equipe do projeto trabalha na catalogação do acervo do museu

Artes de fazer e viver o Vale do Jequitinhonha: Projeto inventário participativo do acervo do museu Araçuaí

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OMuseu Araçuaí foi criado com o intuito de armazenar o acervo de objetos e documentos que registra a religiosidade, os costumes, usos e ofícios que constituem a história de Araçuaí e região. Isto é, trata-se de uma instituição que desenvolve atividades de divulgação e salvaguarda do rico acervo das memórias de Araçuaí e do Vale do Jequitinhonha, reunido ao longo dos últimos cinquenta anos por Lira Marques e Frei Xico, grandes nomes de forte influência na valorização da cultura regional do Vale. Está localizado no Médio Jequitinhonha, em uma região marcada por suas carências. O denuncismo do “Vale da Miséria” cristalizou

Desde 2018, o IFNMG-Campus Araçuaí e o Museu de Araçuaí vêm desenvolvendo parcerias, no que tange a proteção e preservação de documentação museológica, quando se iniciou as ações de gestão documental, que envolve o inventário participativo e a catalogação do acervo museológico. Procuramos desenvolver uma gestão eficaz do acervo do Museu, de modo a prosseguir com o inventário das coleções, contribuindo para a produção e para a difusão do conhecimento histórico de seus objetos e potencializando a comunicação e salvaguarda do acervo. Toda a ação do projeto esteve ancorada nos três elementos, que inter-relacionados, compõem a gestão do acervo: registro, preservação e acesso controlado. Nosso intuito foi realizar um inventário participativo e pôr em prática um dos princípios do Código de Ética do ICOM para Museus, o qual determina que os museus devem trabalhar “em estreita cooperação com as comunidades de onde provêm seus acervos, assim como com aquelas às quais servem”. e de educação, valorizando a história, os ofícios e os modos de ser e de viver no Vale do Jequitinhonha e favorecendo a intercomunicação e a intersubjetividade.

Para o cumprimento efetivo de sua missão institucional e o desenvolvimento de práticas mais efetivas de preservação e conservação de sua coleção, o Museu de Araçuaí manifestou interesse em firmar uma parceria com o IFNMG - Campus Araçuaí em prol do desenvolvimento de um projeto de gestão documental, que envolve o inventário participativo e a catalogação de seu acervo, projeto que desenvolvemos em 2018 através de editais de Extensão do IFNMG - Campus Araçuaí. representações sociais negativas, que impactam fortemente nas construções das identidades do povo do Vale do Jequitinhonha, tornando-se um fardo para a autoimagem da população local. Potencializar a ação formativa do Museu de Araçuaí é fornecer as bases para que o mesmo se fortaleça como lugar de memória

Reunião do inventário participativo com Frei Xico

Aline Sena Carmona

União de esforços D essa maneira, a parceria entre o Museu e o IFNMG-Campus Araçuaí, buscou superar a deficiência em termos de documentação, pesquisa histórica e gestão do acervo do Museu Araçuaí. A ausência de uma gestão de acervo mais sistemática tem comprometido o cumprimento da missão institucional do Museu Araçuaí. O Museu Araçuaí está em fase de regularização documental e necessita desenvolver os instrumentos de gestão de acervo, a política de catalogação e a pesquisa histórica básica sobre os objetos que compõem seu acervo, de modo a efetivar a tríade que envolve a salvaguarda do acervo museal, a saber: pesquisa, comunicação e preservação.

Este projeto de Extensão se estruturou a partir da demanda apresentada pelos responsáveis pelas atividades do Museu Araçuaí. Auxiliamos no cumprimento das funções social, cultural e de pesquisa do museu, em suas ações de salvaguarda, pesquisa e comunicação dos seus bens culturais que integram o acervo da instituição. Pretende-se continuar a desenvolver ferramentas e metodologias específicas de gestão de acervos, visando aperfeiçoar os processos de documentação, conservação e divulgação do acervo do Museu Araçuaí.

Junto com os bolsistas, criamos o sistema de documentação, registrando individualmente os objetos que compõe o acervo, identificando-os em suas múltiplas possibilidades informacionais. Trata-se de uma ação de suma importância, pois o objeto se torna museológico, patrimônio cultural, quando lhe é outorgado intencionalmente um valor documental, patrimonial e informacional, por meio da seleção, interpretação, registro, organização e armazenamento. Em prol de uma gestão eficaz I niciamos o inventário do acervo do Museu Araçuaí de forma participativa, ancorado no princípio da Ecologia de Saberes. Realizamos rodas de conversa com os idealizadores do museu e demais gestores, Frei Xico, Lira Marques e Aline Sena Carmona, ocasiões em que coletamos informações preciosas para proceder com o inventários das peças do acervo. O registro da informação de cada objeto museológico pertencente ao museu respeitou o princípio do reconhecimento da pluralidade epistemológica. As informações complementares foram adquiridas por meio de outras fontes bibliográficas, tais como fontes orais, documentais, fotográficas, em estreito diálogo com a comunidade. Fizemos a abertura do livro de Tombo do museu e sistematizamos a confecção de fichas catalográficas para cada objeto. O desenvolvimento das ferramentas de gestão do acervo do Museu Araçuaí obteve como parâmetro A Declaração dos Princípios de Documentação em Museus, o Thesaurus para acervo

museológico (1987), elaborado por Ferrez e Bianchini, o Caderno de Diretrizes Museológicas da Superintendência de Museus do Estado de Minas Gerais e as Diretrizes internacionais sobre Objetos de Museus: Categorias de Informação do Comitê Internacional de Documentação (CIDOC-ICOM).

Pretende-se, pois, continuar contribuindo para o desenvolvimento de uma gestão eficaz do acervo do Museu Araçuaí, de modo a realizar a documentação adequada de sua coleção, contribuindo para a produção e para a difusão do conhecimento histórico de seus objetos e potencializando a comunicação e salvaguarda do acervo. Toda a ação do projeto esteve ancorada nos três elementos, que inter-relacionados, compõem a gestão do acervo: registro, preservação e acesso controlado. Nosso intuito é realizar um inventário participativo e pôr em prática um dos princípios do Código de Ética do ICOM para Museus, o qual determina que os museus devem trabalhar “em estreita cooperação com as comunidades de onde provêm seus acervos, assim como com aquelas às quais servem”. Através do resgate da história e da memória emersos dos objetos do museu, é possível compreender também as tradições, os desafios que perpetuam a região e o quanto os objetos revelam a estruturação das representações históricas e culturais do Vale do Jequitinhonha.

Todo o público potencial do Museu Araçuaí foi beneficiário dos resultados do projeto, que teve por objetivo estabelecer caminhos para o tratamento documental e inventário do acervo do museu, de modo a incentivar o acesso à informação dos objetos museológicos e cumprimento das funções social, cultural e de pesquisa do museu.

Observamos que os objetos de devoção pessoal aparecem em maior número, são objetos como: santinhos, rosários e oratórios. Já os de construção artística são esculturas feitas de argila e barro cru pelos grandes artesãos da região, tais como obras de arte das artesãs Zefa e Lira Marques. Destacamos também os acessórios de transporte terrestre, ligados aos ofícios importantes na história da região, como o ofício de seleiro e tropeiro: estribos, caçamba, guizeira, sela, chicotes. Outros objetos aparecem em menor número, mas são de importante valor para a história do Vale do Jequitinhonha.

O Museu Araçuaí possui um valor cultural importante para a cidade e região. Todos os trabalhos realizados referentes à catalogação dos objetos do acervo estão contribuindo para a potencialização das funções sociais e culturais do museu. Tornando-se assim um dos principais espaços de disseminação e de comunicação do legado histórico e cultural da cidade. O Museu Araçuaí também conta com estreita relação com escolas, ONGs, movimentos sociais, artistas, artesãos e grandes agentes de cultura na região. A partir do projeto do inventário participativo foi possível fortalecer o enraizamento social, de forma a incentivar o acesso à informação dos objetos museológicos do Museu Araçuaí, bem como os laços de pertencimento, a valorização e a preservação da memória histórica e cultural do Vale do Jequitinhonha, expressas nas coleções reunidas por Frei Xico e Lira Marques, que compõem o acervo do Museu de Araçuaí. Tudo isso contribui para selar uma outra memória no imaginário social, que não somente a da miséria e da pobreza, mas a da riqueza cultural, dos saberes, dos fazeres, das rezas, dos cantos, do povo resistente e trabalhador do Médio Vale do Jequitinhonha.

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