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Impactos na paisagem do rio Jequitinhonha

Coordenador: José Fernando Vieira de Faria Bolsistas: Joyce Pereira da Silva e Gilmária Veiga Santos Colaboradores: Adriene Matos Santos, Charles Augusto Soares Morais, Ernani Calazans de Oliveira, Harley Alves Lima, João Luiz Jacinto, Juvenal Martins Gomes, Ricardo Jardim Neiva e Wellington Danilo Marques Alencar Texto: José Fernando Vieira de Faria Campus: Araçuaí

Início dos trabalhos da 1ª fase – Itira, Araçuaí, MG

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Impactos na paisagem do rio Jequitinhonha Projeto à jusante da Barragem de Irapé (1ª fase)

Ésabido que a energia das grandes usinas hidrelétricas, após ser lançada para as redes de transmissão, é direcionada a quaisquer regiões do país, pois toda a rede de produção e transmissão das diferentes regiões está interligada e recebe o nome de Sistema Interligado Nacional (SIN). Contudo, os distúrbios e impactos resultantes da construção e operação dessas grandes obras são herdados, exclusivamente, pelas regiões onde são construídas, como é o caso da Usina Hidrelétrica de Irapé, no Vale do Jequitinhonha.

De acordo com a CEMIG, a Usina de Irapé oferta, em produção, 399 MW de potência, podendo abastecer 1 milhão de pessoas ou quase toda a população do Vale do Jequitinhonha. O projeto de identificação de “Impactos na paisagem do rio Jequitinhonha à jusante da Barragem de Irapé” contempla aspectos paisagísticos de um trecho do rio Jequitinhonha, em seu médio curso, mais especificamente, a jusante do eixo da usina até sua confluência com o rio Araçuaí, no distrito de Itira. Foi concebido com o objetivo de produzir material para um comparativo de mudanças na paisagem e, consequentemente, socioeconômicas e ambientais, ocorridas em função da construção dessa obra. Trata-se de um projeto ambiental com enfoque em dois contextos distintos: o antes e o depois da Barragem de Irapé. O projeto conseguiu obter a correta implantação e manutenção da área verde, seguida pela colheita de verduras essenciais para uma boa alimentação Dia de campo, Agrovila Alagadiço Joyce Silva

Joyce Silva

No tocante à construção de grandes usinas hidrelétricas, torna-se inevitável a contraposição de duas grandes frentes: de um lado, o empreendedor, representado pelo setor elétrico, que enxerga o território e seus recursos naturais como uma oportunidade de negócios, e de outro, as comunidades ribeirinhas e a população de todo entorno da barragem, que

Coleta de amostra de água, em Sobradinho, Coronel Murta, MG

veem o território como palco de sua reprodução social autóctone.

Junto com o barramento do rio Jequitinhonha e a formação do lago de Irapé, vieram dúvidas, a dificuldade de prognosticar os impactos sobre a biota local e a resposta da biodiversidade a essa perturbação, a acomodação do canal fluvial no tocante a sua forma e padrão, além da imprevisibilidade sobre a dimen

Ernani Calazans

são da interferência sobre aspectos socioculturais.

Caberia perguntar qual a dimensão da perturbação ocorrida na paisagem natural, em consequência da implantação da Barragem de Irapé. Ora, o conjunto de elementos naturais, tais como relevo, hidrografia, clima e vegetação, entre outros, forma uma paisagem única. Assim, a interferência em qualquer um desses elementos pela ação antrópica pode refletir de modo positivo ou negativo nos outros. Nesse sentido, este estudo se colocou como um testemunho perante o contexto atual, detectando impactos decorrentes da alteração do escoamento do canal fluvial e da fragmentação do ecossistema.

O rio Araçuaí, maior afluente do rio Jequitinhonha, é capaz de diluir suas águas, amenizando quaisquer alterações, físicas ou químicas, ocorridas após o barramento de Irapé, além de dar aporte ao fluxo gênico, a partir de sua confluência, pois, segundo dados do Atlas Digital das Águas de Minas (2011), com uma contribuição de 134,9 m³/s, é

Dia de campo, Itira, Araçuaí, MG

responsável por cerca de 29,52 % da vazão média de longo período do rio Jequitinhonha. Assim, a equipe executora do projeto definiu o trecho que se inicia na foz do rio Araçuaí até o eixo da barragem, com, aproximadamente, 86 km, como área prioritária para estudo, considerando que este é o trecho de jusante mais sensível às mudanças ocorridas em função da construção e operação desta obra, além de ser o trecho mais impactado pela regularização do fluxo e seus efeitos frontais sobre o modo de vida da população ribeirinha.

Esse comparativo, feito a partir das mudanças na paisagem fluvial do trecho em evidência, busca aprofundar o estudo sobre os fenômenos específicos ocorridos, ou seja, a abordagem busca provocar a curiosidade de diferentes profissionais das mais diferentes áreas do conhecimento, para que o estudo evolua para um diagnóstico mais pormenorizado sobre a problemática que se revela: as perturbações ocorridas no ecossistema fluvial do rio Jequitinhonha, a partir da construção e operação da usina de Irapé e as consequências no modo de vida da população atingida.

Vale ressaltar que este estudo foi pensado para mostrar a trajetória de mudanças na paisagem e suas consequências, negativas ou positivas, para as populações residentes no trecho da jusante do eixo da barragem de Irapé, sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, que é extenso e extrapola os limites deste trabalho.

Ainda nessa primeira etapa, foram recolhidos depoimentos dos moradores ribeirinhos em relação às alterações ocorridas em seu modus vivendi, em função da construção e inauguração da barragem. A análise do discurso foi construída na perspectiva das representações sociais do fato em si e em sua amplitude.

Uma segunda etapa desta proposta, a ser realizada em 2019, refere-se à organização e disponibilização de um e-book de fotografias dos locais que sofreram o impacto da construção, apresentando um tempo anterior a Irapé. As fotografias serão acompanhadas por textos técnicos e aqueles transcritos a partir das entrevistas com os ribeirinhos, buscando uma sensibilização dos “olhares e sentidos” dos leitores; paralelamente, será organizada uma exposição dessas fotos nas dependências do Campus Araçuaí, um convite à reflexão, e estará aberta ao público em geral.

A análise dos dados obtidos neste comparativo ambiental revelam uma nova realidade, resultando na formação de um banco de informações que demonstra a evolução das alterações no meio ambiente e o desequilíbrio sobre seus serviços ecossistêmicos, o que, além de promover a socialização da informação como condutora da proposta, ao mesmo tempo, pode dar voz à sociedade, permitindo a esta se associar à produção desse conhecimento.

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