Braganรงa Paulista
Sexta 25 Marรงo 2016
Nยบ 841 - ano XIV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
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Para pensar
Jornal do Meio 841 Sexta 25 • Março • 2016
Expediente
Páscoa sempre! por Mons. Giovanni Baresse
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
“Eis que eu estou con-
e essa lembrança seja refor-
Ela vai perpassando todos os
partida num motor que deve
vosco todos os dias,
çada nos corações daqueles
momentos como um fogo que
impulsionar a máquina para que
até a consumação dos
que crêem que Jesus vive e é o
purifica, aquece e faz a chama
produza o que dela se espera.
séculos” (Mateus 28,20; cf.
Senhor. Não é demais sempre
da esperança se tornar cada vez
A Páscoa é sinal daquilo que
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão.
João 14,18ss). Estas palavras,
reafirmar que a Páscoa é a festa
mais esplendorosa. Há que se
cada um se propõe a realizar no
As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS
na linguagem dos evangelistas,
fundamental da fé dos cristãos.
ter uma consciência profunda
seguimento de Cristo. Capaz de ir
trazem segurança para os cris-
Sem ela as outras festas fica-
daquilo que a realidade pascal
até a cruz, como doação plena e
tãos. Segurança de que o vencer
riam simplesmente colocadas
deve despertar em cada cora-
total, para ressurgir e trazer vida
a morte de Jesus se perpetua
como possíveis rememorações
ção. A certeza absoluta de que
nova. Os nossos dias precisam
vida e ao testemunho na trans-
numa presença que garante a
históricas, lembranças queri-
o Deus da Vida nos quer vivos,
do testemunho forte de todos os
formação de nós mesmos e das
perenidade da ação salvífica que
das de quem só fez o bem. Só
participantes da sua Vida. E
que celebram a Páscoa. Como
estruturas da nossa convivência.
o fez vir até nós, tornando-se
lembranças. A festa da Páscoa
que há uma necessidade fun-
compromisso de levar Jesus
A mentalidade individualista e
carne, vivendo a nossa condição
é a fonte perene que faz com
damental de conversão pessoal
Vivo, razão de nossa esperan-
gananciosa dos nossos tempos,
humana, esvaziando-se de sua
que todos os acontecimentos
e comunitária para que os va-
ça. Não podemos nos limitar a
a tentação do levar vantagem
divindade, morrendo por nós
da vida de Cristo e da sua
lores do Evangelho se tornem
celebrações, por mais belas e
e da corrupção, serão vencidas
para que todos tivessem vida
Igreja, ao longo dos séculos,
a Lei que governa o nosso agir.
significativas que sejam, se não
por corações marcados, de forma
abundantemente (João 10,10).
permaneçam como expressão
“Fazer a Páscoa” não pode ser
nos comprometerem com o dia
indelével, pela proposta daquele
É por isso que a Páscoa é uma
de vida inesgotável. A Páscoa
expressão que contempla a par-
a dia. E Jesus ao dar a sua vida
que nos amou dando a sua vida.
festa que perpassa todos os
é como uma nascente a jorrar,
ticipação em gestos religiosos
o fez para que todos pudessem
Nada pode obscurecer o fato da
dias. Se é celebrada, de for-
de forma pujante, a vida que se
do tempo precioso da Semana
experimentar, de novo, o fato
Páscoa. Porque um Deus não
ma mais intensa na Semana
multiplica no coração de cada
Santa e depois nada mais tem
da filiação divina perdida pelo
morre à toa. E nós, seus irmãos
Santa, é para que o seu fulgor
pessoa que se compromete com
a ver com o resto do ano. “Fa-
pecado. Será o caminhar pela
e irmãs, não podemos viver
resplandeça mais fortemente
Jesus Cristo e com a sua missão.
zer a Páscoa” é como que dar
trilha pascal a dar solidez à
à toa.
Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Reflexão e Práxis
Jornal do Meio 841 Sexta 25 • Março • 2016
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
"Ar", em "aeronave" Delgada São estudados pela Acústica Hortaliça consumida crua em saladas Andar a cavalo de forma rápida
Agência Nacional de Águas (sigla) Boi sagrado dos antigos egípcios (Mit.) "O (?) cabrito não berra" (dito)
Niki Lauda, ex-piloto de F1
A namorada do "Vagabundo" (Disney) Berço das mais antigas civilizações
Artigo indefinido plural A moeda nacional Interjeição telefônica
Caráter do resultado do cara ou coroa Que causam desgostos e aflições
Termo elipsado em "Vamos sair" Fiscal do comércio de rua (bras.) Conceito-base da filosofia de Lao-tse
Recurso hídrico como o Tietê
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Solução
L C U M L E A N S
R D O O EL A R O S I S T E O N S L N I O O S
R
BANCO
Magnetismo pessoal (ingl.)
L A N A D A E S A P N E A R U E A N T O O S
mos. Talvez ela pretenda fazer o que ela e os governos anteriores não fizeram antes – moralizar o Brasil, mas seria fundamental que ela e o governo procurarem se moralizar antes de mentir sobre moralizar a nossa vida pública. A Política desde Maquiavel lida com dois fatores ligados ao Poder – a estrutura de Poder e a conjuntura de Poder. Honesto seria fazermos as seguintes perguntas – a conjuntura política se modificada pelo impeachment irá tornar o nosso país em algo melhor, sem injustiças e sem corrupção? A manutenção de um governo que sofre com sérias acusações é justificável? Ao que parece, não há solução simples e nem mágica. É preciso pensar o seguinte – como modificar uma estrutura de Poder que é montada para ser corrupta e para alimentar a corrupção? Alguns podem pensar que esta ideia é um exagero, mas vejamos o seguinte. Quais são os mecanismos conhecidos e eficientes que temos para questionarmos o governo ou os demais poderes? Quais são as satisfações que recebemos por suas ações? Como saber quais são os seus gastos de dinheiro público? É possível acreditar em uma estrutura que é conhecida e se orgulha de sua corrupção endêmica? Legítimo pensar, portanto, não há saída ou solução viável? Devemos substituir tudo e todos como defendem alguns dos despolitizados manifestantes? Não, é claro que não, seria irresponsável e perigoso defender algo assim. Entretanto, existem na Constituição elementos legais para conseguirmos estas respostas. Cabe ao Poder Judiciário oferecer e apresentar os caminhos legais para tanto. Pergunta que fica dentro desta conjuntura atual – o Poder Judiciário pode se politizar? A resposta é clara e óbvia – não, ele não pode. Para alguns, ele está comprometido, para outros ele está em uma cruzada messiânica, com seus heróis. Quem tem razão? Só o tempo dirá. E a Moral? Bem, esta foi morta nesta última semana.
A
A nomeação do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil, para alguns uma devolução da gentileza de Lula para com Dilma, esta ministra da Casa Civil no governo Lula, ou uma afronta a justiça para outros, marcou a última semana de uma forma tão intensa e apaixonada que muitos se esqueceram de uma regra apresentada a todos nós por Maquiavel, pensador político, que, em sua obra O Príncipe, foi o primeiro a separar a Política e a Moral. A Política, já sabemos, é a ciência do Poder, ou seja, ela é o instrumento para a conquista e a manutenção do Poder, alvo máximo da Política e o desejo maior dos políticos profissionais brasileiros que não podem, de forma alguma e sob nenhuma condição, serem chamados de homens públicos. Por aqui, o desejo de Poder entorpece as mentes, tira o bom senso e apaga a ideia da coisa pública e a nomeação do ex-presidente é o caso mais recente desta perversa lógica política que é aplicada no Brasil. O fato do governo comprar uma briga desta dimensão é explicitar que a Política está acima de toda leitura política do momento e que a vida dos partidos políticos e de seus quadros é o objetivo primordial de todos eles, mas ela se mostra uma decisão essencialmente política por procurar preservar a figura mais notória do PT, ainda que esta figura seja alvo de investigação em mais um dos inúmeros e esquecidos casos de corrupção que alguns brasileiros defendem e justificam com a absurda frase – “se ao menos roubasse, mas fizesse algo”; frase aterradora que ouvimos muitas vezes. A nomeação ou as liminares contra a nomeação tem se tornado uma confusão jurídica tão grande que nós, pessoas sem formação jurídica, somos tragados por um turbilhão de informações que se criam rapidamente e que só aumentam a nossa falta de visão sobre o quê está acontecendo nas esferas política e jurídica. Fato é que a oposição tem capitalizado o momento para criar a falsa ideia de que ela, a oposição tão corrupta quanto o governo, irá nos salvar. Salvar de quem? De si mesma? Do governo? De quem? Talvez ela pretenda nos salvar de nós mes-
Calos (?): consolidam as fraturas
Vitória arrasadora (fut.)
B A O P M A R A L E O R
por pedro marcelo galasso
Papai (?), personagem natalino
M A C A B G O F I N S O T S R A G A L D A O R A S I A D O L
e a Moral
2/it. 3/cab — lan — tao. 4/lume. 6/ósseos. 8/maculado. 9/dolorosos.
A Política em Maquiavel
© Revistas COQUETEL
Trazer a O bife recheado com (?): tornar Localiza- bacon e público cenoura ção de Oferecer Machu Picchu
Autoridades judiciárias que Auxílio podem se inscrever para as monetário eleições até 6 meses acrescentado ao antes do pleito vencimento Enodoado; manchado Táxi, em inglês Cria caricaturas de tipos cariocas
Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
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Jornal do Meio 841 Sexta 25 • Março • 2016
por Shel Almeida
A crise econômica está afetando
bem mais caro que o ano passado, já que
também a Páscoa dos brasilei-
o preço do peixe também subiu. Minha
ros. Com os ovos de chocolate
esposa, minha filha e eu tínhamos o cos-
custando mais caro, em comparação ao
tume de fazer um passeio em família no
ano passado, a população tem buscado
feriado de páscoa, mas este ano também
alternativas para não deixar de manter
não será possível porque isso iria pesar
a tradição. Para conferir como tem sido
no orçamento”, diz.
essa nova realidade, o Jornal do Meio saiu às ruas para saber como os bragantinos
Quase preço de custo
estão lidando com a situação.
Íris Scaglioni de Oliveira costuma com-
Descobrimos que alguns optam por
prar um ovo de páscoa para o filho, todo
comprar ovos menores, outros preferem
ano. Já chegou a comprar ovos feitos de
deixar de comprar ovos industrializados
forma artesanal, por serem mais baratos
e passam a adquirir aqueles produzidos
do que os industrializados. Este ano, co-
de forma artesanal e, há também, quem
mo o garoto pediu por um ovo de time de
decida arregaçar as mangas e confeccionar,
futebol, precisou procurar alternativas.
em casa, os próprios ovos. Em comum,
“Fiz pesquisa de preço no ano passado e
todos têm a mesma intenção: economizar.
também neste ano e deu para perceber
Existe, ainda, uma pequena parcela da
que realmente está bem mais caro. An-
população que já deixou de comprar os
tes de pesquisar eu achei que iria poder
ovos há algum tempo pois prefere gastar
comprar no supermercado, mas o valor
com caixas de bombom ou mesmo barras
era mais alto do que eu esperava. Como
de chocolate para que, assim, possam
tenho uma prima que trabalha na empre-
presentear mais pessoas. Como, em geral,
sa que fabrica o ovo que meu filho quer,
a diferença de preço entre o ovo e a barra
consegui comprar mais em conta. Se não
do mesmo chocolate chega a ser até três
fosse dessa forma, acredito que teria que
vezes maior, a economia é realmente sig-
comprar outro ovo. Mas, mesmo assim,
nificativa. No entanto, essa alternativa é
vai ser um ovo menor do que eu pretendia
invalida para quem tem criança porque,
comprar. Meu filho é compreensivo, para
para os pequenos, páscoa só é páscoa
ele o mais importante é o brinquedo que
com ovo de chocolate.
vem dentro do que o tamanho. Mas, para
Aumento de preço Ingrid C. Morais diz que este ano não pensa em comprar ovo de páscoa por conta
as crianças é sempre mais complicado entender porque não dá para ser o eles que querem”, fala.
do preço. Antes, ela tinha o costume de
Produção caseira
comprar pelo menos um ovo de choco-
A má experiência da páscoa passada fez
late para a família. Este ano acha que irá
com que Sueli Aparecida Pereira e Silva
comprar apenas caixas de bombom. “Se
se adiantasse e decidisse que, neste ano,
formos analisar, compensa muito mais
iria fazer em casa, ela própria, os ovos de
comprar a barra, que é do mesmo cho-
chocolate para o casal de filhos. “No ano
colate, e custa bem mais barato. No ano
retrasado, como meus filhos costumam
passado eu comprei um ovo para casa e
ganhar ovos da família, eu deixei para
dei caixas de bombom de presente para
comprar depois da páscoa, o que me va-
a família. Este ano vou comprar bombom
leu uma boa economia. Um ovo que na
até mesmo para mim. Antes da crise eu
semana da páscoa custava cerca de R$
já preferia comprar o ovo artesanal e não
30,00, eu comprei por R$ 10,00. Deixei para
o de marca, por conta do preço. Dá para
fazer a mesma coisa no ano passado, só
ver que a crise afetou a páscoa sim. Este
que não deu certo, porque não tinha mais
ano, até o ovo artesanal está mais caro. Só
tanta promoção. Eu acredito que, como
para minha afilhada eu sempre comprei o
no ano anterior havia sobrado muitos
ovo industrializado porque ela espera pelo
ovos, os comerciantes tenham resolvido
brinquedo que vem dentro. Provavelmente
fazer um estoque menor. A conclusão é
vou comprar de novo este ano, mas vai
que no ano passado, eu acabei não dan-
ter que ser um de tamanho menor”, fala.
do ovos de páscoa para os meus filhos.
Orçamento baixo
Talvez Ingrid compre apenas o ovo da afilhada este ano, por conta do preço. Pra ela e a família, será apenas caixa de bombom.
Para Ramón, a crise afeta a páscoa como um todo. Além de diminuir a quantidade e o tamanho dos ovos, o almoço também será afetado pelo aumento do preço do peixe.
Eles não se importaram muito porque já tinham ganhado vários ovos da família,
Ramón César Chaile explica que ainda não
o que foi a minha sorte. Como este ano
fez pesquisa de preço, mas sabe que este ano
eu prevejo que as promoções pós páscoa
terá que comprar apenas um ovo, ao invés
serão ainda menores, eu já decidi fazer eu
dos dois de costume, por conta do orça-
mesma os ovos em casa. Eu tinha receio
mento familiar, que diminui. “Normalmente
de não dar certo, mas como minha irmã
eu comprava dois ovos de meio quilo, um
já faz isso há alguns anos, eu resolvi fazer
para minha filha e outro para eu e minha
também. Claro que, se o preço estivesse
esposa. Este ano comprarei apenas um e,
acessível, eu preferiria comprar pronto,
provavelmente, de tamanho menor. Nós
pela comodidade. Mas subiu tudo, até a
já tínhamos o costume de comprar o ovo
barra de chocolate para fazer o ovo está
artesanal em uma loja da cidade porque,
mais cara. Mas, mesmo assim vale a pena,
além de ser mais em conta, ainda é uma
porque o preço que eu pagaria em um
forma de estimular o comércio local”, fala.
ovo de um quilo, por exemplo, dá para eu
Para ele, a crise não afetou apenas a
comprar várias barras e fazer ovos para
escolha do ovo de chocolate mas sim
distribuir para a família inteira. É uma
a páscoa como um todo. “O almoço de
economia que dá para sentir no bolso.
páscoa também será diferente este ano
Para as crianças o tamanho é relativo,
porque o dinheiro está curto para tudo.
eles se importam mais com o formato
Se desde sexta formos comer peixe, sairá
do ovo”, analisa.
Sueli, que ano passado comprou ovos depois da páscoa por conta da economia, este ano irá fazer os chocolates em casa.
Jornal do Meio 841 Sexta 25 • Março • 2016
Momento Pet
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Antenado
Autora somali trata
da mulher na ditadura por NATÁLIA PORTINARI/FOLHAPRESS
Aos nove anos, a menina Deqo é punida por errar numa apresentação de dança em um comício do ditador somali Siad Barre. Ela não é a única a sofrer com a repressão da ditadura em vigor em 1987. “O Pomar das Almas Perdidas”, de Nadifa Mohamed, narra a dor de três mulheres de diferentes gerações durante o período. Após Deqo ser espancada, Kawsar, uma senhora de quase 60 anos, tenta resgatá-la e acaba presa. É igualmente agredida por uma policial, Filsan, que, por sua vez, segue a sina das mulheres da narrativa e sofre em um ciclo de violência em todas as suas formas. A guerra civil na Somália (1986-1992) acabou com duas décadas de ditadura militar na região e motivou a migração da família da autora para a Inglaterra na década de 1980. “Quis escrever sobre mulheres e pensar em como eu teria sido afetada se tivesse ficado na Somália”, diz Nadifa, em entrevista à Folha. Seu pai, marinheiro, viajou para o Reino Unido com a família em 1986 e decidiu não voltar. Expatriada desde os cinco anos, Nadifa fez faculdade de história e política na St. Hilda’s College, vinculada à Universidade de Oxford, e se tornou escritora. O seu primeiro romance, “Black Mamba Boy” (2010), é uma adaptação da biografia de seu pai que, quando jovem, peregrinou o continente africano em busca de sua origem familiar. A fórmula de resgate ancestral se repete no segundo livro. Dessa vez, Nadifa adaptou a história da avó, que, assim como Kawsar, quebrou a bacia e ficou paralisada. Após ser atropelada, fica sem assistência durante a guerra. O romance aborda os efeitos da ditadura militar na vida das mulheres, vítimas de violências específicas dentro do regime: “Em uma sociedade patriarcal, uma das poucas coisas que as mulheres têm são redes de apoio entre elas. Na Somália, essas
relações eram muito fortes. Mas a ditadura destrói qualquer rede que possa desafiar sua autoridade”. Segundo a escritora, a quebra dessas relações levou muitas mulheres a virarem “espiãs do Estado”, denunciando as atividades de suas vizinhas e de suas famílias. Isso explica por que personagens como a soldado Filsan perderam seus laços comunitários. “Alguém como ela não é capaz de solidariedade genuína. Talvez ela não tenha sido ensinada a ser solidária, e sim a obedecer e suspeitar dos outros”, diz. nacionalidade Apesar de a Somália ser o cenário de suas obras e estar em seu sangue, Nadifa não se identifica como uma escritora somali –ela se sente inglesa após 29 anos fora do país natal. Especialmente porque a Somália hoje é um lugar completamente diferente do que ficou em sua memória afetiva. “Atualmente há mais conservadorismo, mas as mulheres têm mais oportunidades.” Seu sucesso chegou ao país de origem, no entanto. Segundo a autora, “Black Mamba Boy” é o livro mais encomendado na prisão de Hargeisa, apesar de ainda não estar traduzido para o idioma local. Ela agora trabalha no terceiro livro, sobre um marinheiro executado injustamente por um crime que não cometeu. Também é uma história real, que ela ouviu de seu pai. O POMAR DAS ALMAS PERDIDAS AUTORA Nadifa Mohamed TRADUÇÃO Otacilio Nunes EDITORA Tordesilhas QUANTO R$ 39,90 (296 págs.) “Em uma sociedade patriarcal, uma das poucas coisas que as mulheres têm são redes de apoio entre elas. Na Somália, essas relações eram muito fortes. Mas a ditadura destrói qualquer desafio a sua autoridade NADIFA MOHAMED - ESCRITORA
Foto: Divulgação
Nadifa Mohamed, autora de “O Pomar das Almas Perdidas”.
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Saúde
Jornal do Meio 841 Sexta 25 • Março • 2016
Menopausa exige alimentação
natural para controlar sintomas por ANGELA BOLDRINI/FOLHAPRESS
Os sintomas da meno-
Além de ingerir alimentos na-
podem levar ao ganho de peso
pausa surgem com força
turais, fugindo de enlatados,
nessa fase da vida, entre eles a
a partir dos 45 anos e,
embutidos ou excessivamente
inatividade física e até mesmo
para controlá-los, é preciso ter
industrializados, a mulher deve
fatores psicológicos e fisiológicos
uma alimentação balanceada.
ter tranquilidade na hora de
que podem provocar o aumento
Como ocorre em outras fases
comer, evitando compensar a
da ingestão de alimentos”, diz
da vida, comer é sempre muito
ansiedade com comida. “Na
Edvânia Soares, nutricionista
bom, mas exige cuidados com
hora da refeição, a mulher deve
da Estima Nutrição. (William
os exageros e pratos muito
tentar não pensar nos proble-
Cardoso)
industrializados.
mas. Ela deve procurar buscar
‘Em primeiro lugar, a alimenta-
o prazer e a sensação de bem
ção deve ser variada e composta
estar, mesmo que a refeição
Consumo de cálcio tem de ser reforçado
por alimentos que ofereçam as
seja composta apenas de uma
O endocrinologista Renato Zili,
quantidades necessárias de
fruta”, afirma o ginecologista
do Hospital Sírio-Libanês, afirma
nutrientes. O consumo mo-
e obstetra Domingos Mantelli.
que junto com a menopausa vem
derado de alimentos ricos em
a perda de massa óssea. Por isso,
fitoestrógeno [soja] pode ser
Obesidade
é importante consumir alimentos
um hábito de vida saudável e
Um dos problemas que podem
ricos em cálcio, como vegetais
benéfico’, diz a nutricionista
acompanhar a menopausa é o
com folhas verdes escuras e
Erika Romano.
ganho de peso, muito associado
derivados de leite desnatados.
Para Erika, é importante ter uma
à falta de atividade física de
“As dietas normalmente são
boa programação alimentar para
algumas mulheres nessa faixa
pobres em cálcio e existe um
não passar apuros. ‘A mulher
etária. Para compensar, é pre-
declínio importante da massa
não deve fugir de alimentos de
ciso comer direito. “Nem toda
óssea nos cinco primeiros anos
que gosta. Ela deve comê-los
mulher engorda na menopausa.
damenopausa”, diz o especia-
com prazer e programação.’
São inúmeros os fatores que
lista. (WC)
Comportamento
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Mudei de escola, e agora? Crise econômica faz crescer número de crianças que trocam de colégio
por MIRIAN GOLDENBERG /FOLHAPRESS
João Roig, 11, precisou mudar
“Meu colégio era grandão e tinha um
É o que está fazendo João Mortari,
DE COLÉGIO
de colégio neste ano, para um
parque bem gostoso para brincar.
11. Apesar de ter feito novos colegas
Converse com seus pais sobre a
com mensalidade mais barata.
O novo, não”, afirma.
na nova escola, ele mantém contato
mudança e tire todas as dúvidas.
“Minha mãe falou que a situação
Já com Lucas Ferreira, 9, aconteceu
com os antigos –no WhatsApp e
É preciso entender que mudar é
econômica apertou. Fiquei sabendo
o contrário: as áreas de lazer da
indo à casa deles de vez em quando.
necessário e confiar nos adultos.
que muitos alunos da minha sala
nova escola têm menos restrições,
Os amigos costumam ser a parte
Mas dê sua opinião sobre tudo.
também saíram”, conta o garoto,
principalmente nos intervalos. Agora
mais sensível dessa mudança. Mas
O medo do desconhecido é normal.
que participou da escolha do novo
ele consegue mostrar seu talento
podem existir vantagens. Pedro
Não desista na primeira dificuldade.
colégio, olhando os sites das escolas
futebolístico. “Aqui pode jogar bola.
Medeiros, 12, está agora em uma
Chegue ao novo colégio e se apre-
e visitando os lugares.
Antes eu não podia.”
sala com mais alunos (subiu de
sente para os colegas. Assim é mais
Já Lucas Ferreira, 9, saiu, no ano
Para a psicóloga Roseli Caldas, é
12 para 30). “Antes as conversas
fácil fazer novas amizades.
passado, do colégio público onde
importante que a mudança não seja
acabavam rápido. Agora não fal-
Lembre que você tem colegas
estudava para um particular. Neste
brusca, pois isso pode atrapalhar
ta assunto.” (MATEUS LUIZ DE
antigos e mantenha contato com
ano, no entanto, seus pais o cha-
o desenvolvimento. “Uma forma de
SOUZA)
eles. Mudar de escola não é mudar
maram para conversar. O motivo?
deixar a criança mais tranquila é
“Eles me disseram que não ia dar
manter amizades anteriores”, diz.
para pagar mais um ano de mensalidade, porque estava muito caro”. Essa é uma realidade enfrentada por muitas famílias. Segundo a Federação Nacional das Escolas Particulares, o número de matrículas em escolas privadas caiu 12% neste ano, principalmente por causa da crise econômica. Só que mudar de colégio não é fácil. A psicóloga Roseli Caldas aconselha pais e filhos a conversarem sobre a situação e incentiva a criança a participar da escolha da nova escola, como fez a família de João. “Não é para deixar o filho ter a palavra final, mas tentar diminuir a insegurança dele”, afirma (veja, na pág. 3, dicas de como se adaptar à nova escola).
Novo rumo Veja como as crianças estão se adaptando à vida nas novas escolas Entrar em uma nova escola pode não ser fácil e certamente requer adaptações, mas não significa necessariamente perder amigos. Para Carmen Diana, 6, a troca foi em dose tripla: mudou de colégio, de período e começou o 1º ano, quando o conteúdo fica mais puxado, segundo ela. “Tenho mais lição”, conta. O lado positivo é ter a tarde livre. “Posso brincar até o fim do dia.” Ela só sente falta de uma coisa:
de amigos, mas uma oportunidade 4 DICAS NA HORA DE MUDAR
de fazer o grupo crescer.
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