Braganรงa Paulista
Sexta
19 Agosto 2016
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jornal do meio
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Para pensar
Jornal do Meio 862 Sexta 19 • Agosto • 2016
Expediente
A assunção de maria, a situação
do país e as próximas eleições. por Mons. Giovanni Baresse
A Igreja Católica celebra no dia 15 de agosto a festa da Assunção de Maria. Quando o dia 15 não é domingo a festa é celebrada no domingo que segue o dia 15. Por antiga tradição, desde os primórdios, nos meios das comunidades cristãs, sempre se pensou que a Mãe de Jesus Cristo, Filho de Deus, não podia passar pela mesma situação dos que são marcados pelo pecado original. Como mãe do Salvador ela não poderia estar sujeita ao pecado. Em 1854 o papa Pio IX proclamou a sua Imaculada Conceição. Consequência desse modo de crer, no ano de 1950, o papa Pio XII declarou como fé católica o crer que Maria não passou pela morte do mesmo jeito que os demais pecadores. A morte física foi vista, durante muito tempo, como consequência do pecado. Hoje compreendemos que a morte física faz parte da condição dos seres criados. Para afirmar a “imunidade” de Maria em relação à morte a Igreja definia sua ida para Deus como assumida em corpo e alma no final de seus dias terrenos. As afirmações ao redor da “assunção” de Maria estão na linha de que ela vive a plenitude dos que foram fieis ao Senhor. Um
cristão protestante, que me honra com a leitura destas linhas, questionou-me sobre este assunto. Afinal onde estariam as raízes bíblicas dessa verdade de fé católica. Onde estão as bases dos dogmas marianos? Porque na Bíblia não há nada que fale explicitamente nem de “imaculada” e nem de “assunção”. Comentei com ele que entre os católicos e os protestantes existe a questão da aceitação ou não da Tradição, vida vivida da Igreja como normativa da fé. Quando a Reforma Protestante propugnou pela Escritura Sagrada (“sola Scriptura”) como fonte única da fé, criou-se uma dificuldade no caminhar teológico comum. Eu dizia ao amigo que a afirmação da Bíblia como fonte única da fé, a meu ver, deve ser entendida e vista no contexto da situação eclesial da Idade Média e do Renascimento. Com todos os abusos que a história nos mostra e com afirmações teológicas que colocavam a Jesus Cristo num lugar que não era o seu e promoviam devoções a Maria e aos santos, muito mais marcadas pela superstição e pela ganância dos bens e do poder, não é estranho que os reformadores fincassem o pé naquilo que literalmente a Escritura dizia. Creio
que superadas as dificuldades vividas naqueles tempos é hoje possível ter diálogo sereno e franco. Que possa aprofundar o saber teológico. Mesmo porque nenhuma proposta de fé pode contrariar a Bíblia. Mas não se podem negar passos de fé que não tenham forma literal, mas possam ser intuídos a partir das verdades que a Bíblia propõe. Já foram dados muitos passos. E existe hoje um grande trabalho ecumênico para que as igrejas cristãs se conheçam melhor, vejam o que há em comum e saibam a razão das diferenças. Possam colaborar na busca da verdade e da concretização daquele que é o maior mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Nossa conversa derivou para toda a situação de corrupção que tem sacudido nosso país. Dizia o meu amigo que no canto de Maria (“Magnificat”, no evangelho de Lucas, 1,46-55) na visita a Isabel, há toda uma proclamação da ação libertadora de Deus. E da justiça que ele quer para o seu povo. E que, muitas vezes, não era fácil falar do assunto porque, se Maria cantou isso há mais de dois mil anos, como se explica a demora da realização do plano de Deus? Nossa reflexão
nos levou a ter bem claro que a demora não é de Deus. Uma vez que Ele é fiel. A demora é nossa. Tendo a proclamação do sonho de Deus e nos afirmando seus filhos, crentes Nele, a questão é de coerência da nossa parte. Afinal, por que acontecem fatos de corrupção? E para cutucar um pouco mais eu disse: se pelo menos noventa por cento da população brasileira se declara cristã (entre católicos e protestantes), como aceitamos tudo o que acontece? Como deixamos isso acontecer? Enveredamos pela responsabilidade de cidadãos na hora das campanhas políticas, das candidaturas, das eleições... E concluímos que há um árduo trabalho de conversão para todos nós. Falamos até das tentações de buscar hegemonia na visão da fé e da política como caminho para o poder. Ligar o voto à denominação religiosa. Desembocaria na ditadura de ver a realidade de um lado só. E no fanatismo que já existe. E a “catolicidade” da fé (sua universalidade) seria transformada em monólito. Terminamos nossa conversa refletindo na força da Palavra de Deus como explicadora dos sonhos Dele e incentivadora a buscar os meios para que esses
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
sonhos se realizem. Lembramos de que o apelo de Deus passa pelo coração e desemboca na arquitetura das instituições. Todas elas. Igrejas também. Há necessidade de um diálogo que saiba refletir sobre o passado. Sem negá-lo. Mas sabendo fazer justiça histórica. Que empurre para a fraternidade de quem crê nos mesmos ideais. No mesmo Deus. Há necessidade de empenhos concretos para a superação das tentações da corrupção. A fé cristã deve brilhar mais no contexto do dia a dia. Especialmente pelo testemunho dos que se dizem cristãos. E terminamos concordes que o que cremos ou não sobre a Mãe de Jesus não nos pode fazer adversários. Mas solidários na busca do bem para todos.
Comportamento
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
trata mal, um aluno que me ignora, um
“Eu também morro um pouco junto com
colega que me desrespeita, motoristas
todos que estão sendo assassinados,
que me cortam e me xingam, um ex-
roubados, estuprados. Perdi a esperan-
-marido que só me critica e desvaloriza.
ça de que o Brasil renasça das cinzas
A falta de reconhecimento também é
e podridão. Costumava acompanhar
uma violência. Preciso me controlar para
obsessivamente todas as notícias dos
não chorar nestes momentos. O clima
jornais e televisão. Agora, não aguento
de violência, roubalheira e desrespeito é
mais ouvir casos e mais casos de violência
tamanho que afetou todo mundo. Todos
e de corrupção. Parece uma novela velha
que conheço estão muito irritados, in-
e interminável, que repete os mesmos
tolerantes e violentos. Está muito difícil
capítulos todos os dias. Nenhum filme
sobreviver no meio de tanta violência”.
vai conseguir reproduzir o drama que
Ela tomou a decisão de remar contra a
estamos vivendo”.
maré. De tanto levar “porradas”, decidiu
A violência acabou afetando o seu tra-
reagir de uma forma diferente. Em vez
balho.
de responder com a mesma agressivi-
“Sinto uma angústia enorme, uma impo-
dade, tenta ser cada vez mais atencio-
tência, uma espécie de ressaca física e
sa, carinhosa e delicada. Quanto mais
emocional. Estou exausto, desanimado
violenta é a pessoa, mais educada ela
e deprimido. Estou me sentindo inútil,
é. Resolveu que não vai se contaminar
nada do que faço tem importância e
com este clima de ódio.
significado com tanta miséria e violên-
Se violência gera violência, é possível
cia. Não estou conseguindo produzir
que gentileza gere gentileza. Será que
nada, parece até que estou paralisado,
agindo assim vamos conseguir desarmar
esperando o país mudar para retomar
a energia negativa e a agressividade dos
os meus projetos. Só canto aquela mú-
que nos cercam?
Pano de fundo cultural da época dos Grandes Descobrimentos
Ilustríssima (abrev.) Jogada Rio que de bola deságua alta, no no mar Cáspio tênis
A barriga de quem padece de ascite
Ambientes de estudos científicos Usa-se na primeira demão de muros Auxiliar do Estado nas ações sociais O setor mais caro do hospital (sigla) Idioma da Nova Zelândia Primeira parada do bondinho do Pão de Açúcar
BANCO
Encontrar, em inglês
Energia dos orixás Sacudir (o frasco)
MIRIAN GOLDENBERG é antropólo-
Uma professora de 53 anos disse que
ga, professora titular da Universidade
nunca se sentiu tão insegura e vulnerável.
Federal do Rio de Janeiro e autora
“As pessoas estão muito mais agressivas.
de “A Bela Velhice” (Ed. Record)
Tudo, em inglês Bolo em camadas
Trinitrotolueno Cantor sertanejo
Moeda de Hong Kong Operação bancária Marajó e Grande
Porém; contudo Chapéu, em inglês Afirmou que não
“Ruim com ele, (?) sem ele” (dito)
Deustouro do Egito Antigo
Cabeça de gado Ajuda, em inglês
E as demais coisas (abrev.)
R E S Diz-se da mulher bonita (gíria) Fruto amarelo de sabor intenso
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Solução
sica: ‘Não, não posso parar, se eu paro eu penso. Se eu penso, eu choro”.
A fronteira oeste do Maranhão
E A G L E
um músico de 47 anos:
P A R A
qualquer motivo. Um vendedor que me
D O R U D O E B N T O ME E T O I D OC I O S L L H A T A R DO S A E V I T I R C A
a extrema violência no país, como
Capitão (?), criação de Júlio Verne
N E G O U
São violências diárias, cotidianas, sem
Que sofre de disfunção erétil (Med.)
Não é? (bras. pop.)
A T I N E R N T O A I U S C I M I L M A I P U M O S R A T O A X E L TN T L E O P A R I A TA O R I R O D A
Os brasileiros estão sofrendo com
Sinal da letra “u”, em “baú”
IN C A C E E N RE N A T I VO L L A BO O C A ON G I T A R
por MIRIAN GOLDENBERG/FOLHAPRESS
Águia, em Relativos aos inglês autômatos indus(?) Lara, atriz triais paulistana
S U M M O
nossas vidas
Efeito psicológico da violência urbana
3/aid — all — hat — lob. 4/meet. 5/eagle — maori. 10/anticlímax.
A violência que cerca
© Revistas COQUETEL
Fator associado Figura de linguagem ao programa go- de gradação desvernamental “Mi- cendente de sentido nha Casa Melhor” O palco (Teatro) Aparelho destinado a queimar detritos
Casas em Condomínio
Jd. das Palmeiras..................................................................................................................R$ 650 mil Florestas de São Vicente (nova)..............................................................................................R$ 580 mil Euroville (nova).....................................................................................................................R$ 950 mil Portal de Bragança (nova)................................................................................................R$ 1.3 milhões Village Santa Helena....................................................................................................R$ 1.490 milhões Portal Bragança Horizonte (nova)..........................................................................................R$ 770 mil Villa Real (nova)....................................................................................................................R$ 900 mil Rosário de Fátima ( Ac imóvel – valor)............................................................................R$ consulte-nos
Terrenos em Condomínio
Villa Real 428m²...................................................................................................................R$ 160 mil Colinas de São Francisco 616m²............................................................(parcelamos em 10x) R$ 300 mil Terras de Santa Cruz 600m²...................................................................................................R$ 120 mil Portal Bragança Horizonte 341m²..........................................................................................R$ 200 mil Jd. Nova Bragança 300 m².....................................................................................................R$ 200 mil
Apartamentos
Ed. Piazza de Siena................................................................................................................ R$ 950 mil Apto. Jardim do Lago............................................................................................................. R$ 300 mil Apto. Centro (novo)................................................................................................................R$ 255 mil Apto. Jd nova Bragança ( Alto Padrão 230m² 3vagas)...................................................... R$ Consulte-nos Apto. Ed. Clipper (Centro) Reformado 3dorm. 1gar....................................................................R$ 450mil
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Casa Jd. Europa.....................................................................................................................R$ 530 mil Terreno Jd do Lago Comercial 600m² com terra planagem feita............................................. R$ 580 mil Imóvel Comercial AV. Norte-Sul.............................................................................................R$ 630 mil
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por CLÁUDIA COLLUCCI/FOLHAPRESS
Encravado nas serras gaúchas, Ve-
mente, amar muito. O amor na frente, sem
ranópolis será o primeiro município
ele implode tudo”, diz De Toni, de mãos
do país a entrar no seleto clube
dadas à mulher.
mundial de 320 cidades tidas oficialmente
Nilza lembra da importância do convívio
como “amigas dos idosos” pela OMS (Or-
social. “Temos muita amizade e consideração
ganização Mundial da Saúde).
com a vizinhança.”
Há 22 anos, o local se tornou um laborató-
O casal Ampílio Affonso, 90, e Landy, 80,
rio do envelhecimento. Na época, tinha a
há quase 60 anos juntos, aponta a boa
maior expectativa de vida ao nascer (77,7
alimentação como a chave de uma vida
anos), uma década a mais do que no resto
longeva. “Evitamos as porcarias que tem
do Brasil (que era 67,7 anos e agora chegou
no mercado. O gado, o porco e a galinha a
aos 75 anos).
gente cria, a verdura, os legumes, as frutas,
Desde então, os idosos da “terra da longe-
a gente planta”, diz Affonso.
vidade”, como é conhecida, foram objetos
Ele produz e consome o próprio vinho. “Um
de estudo de 25 dissertações de mestrado,
copo no almoço e outro na janta.”
11 teses de doutorado, 19 artigos científicos
Avelino Sangalli, 91, e Helena, 88, comemo-
e mais de 50 trabalhos apresentados em
raram “bodas de vinho” (70 anos de casa-
congressos nacionais e internacionais.
dos) em maio. Têm sete filhos, 15 netos e
Antes as pesquisas tinham foco na saúde
sete bisnetos. Mesmo com limitações (ele é
individual e nos fatores determinantes
cego e ela tem surdez), são independentes.
para um envelhecimento ativo, como boa
Sangalli racha lenha e faz cestos de vime.
alimentação, atividade física e convívio social.
Vende cada um por R$ 25.
“A comida dos nonos e nonas é muito sau-
Helena cuida da casa, da horta, do jardim e,
dável. A polenta é assada no fogão à lenha.
em especial, do marido. “Até comida na boca
O milho vem do quintal, o gado e o frango
ela me dá”, conta ele. “É assim mesmo. No
são criados soltos. Muitos fabricam o próprio
começo [da vida] e no fim”, diz ela.
vinho”, relata o geriatra Emílio Moriguchi, precursor dos estudos em Veranópolis e professor na UFRGS (Universidade Federal
- Avelino Sangalli, 91, e Helena, 88, que seguem ativos mesmo com cegueira e surdez; casal comemorou 70 anos de união Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
Ajuda de idosas atraiu clientes a restaurante
do Rio Grande do Sul) e na Unisinos.
O antigo conselho de “ouvir os mais velhos”
Agora as pesquisas na cidade estão centradas
foi levado ao pé da letra pelo empresário
nas políticas públicas necessárias aos idosos
Juliano Brandalise, 31, ao assumir um res-
de hoje e do amanhã. A partir delas, algumas
taurante quase falido oito anos atrás em
ações já foram feitas, como colocação de
Veranópolis (RS).
rampas e barras em lugares públicos.
O local não poderia ser melhor, mas a comi-
Segundo o médico Alexandre Kalache,
da do empreendimento–que tem quase 80
presidente do Centro Internacional de
metros de altura, é giratório e com vista de
Longevidade, parceiro no projeto, é preci-
360 graus para a serra do Rio das Antas– não
so rigor acadêmico, comprometimento do
possuía identidade com o lugar.
poder público, da sociedade civil e do setor
A primeira providência de Brandalise, nas-
privado para que as políticas funcionem.
cido em Veranópolis, foi chamar um grupo
“Conseguimos casar esses quatro elementos
de 60 idosas da cidade e discutir com elas
em Veranópolis”, diz Kalache, que foi diretor
a elaboração de um novo cardápio para o
por 14 anos do programa de envelhecimento
restaurante.
da OMS. O projeto teve incentivo de R$ 510
“As nonas nos trouxeram as receitas dos
mil da CPFL.
primeiros imigrantes italianos e poloneses,
Para o médico, várias cidades no país e no
que colonizaram Veranópolis entre o final do
mundo se intitulam “amigas do idoso”, mas
século 19 e início do 20”, explica.
não cumprem os requisitos para isso. “Colo-
Entre os pratos estão a massa à bolonhesa,
car rampa e corrimão é fácil. Mas é preciso
o espaguete à carbonara e o radicci (almei-
ir além. Ter política de mobilidade, oferecer
rão) com bacon.
segurança, acesso aos serviços de saúde e
“Tem gente que fala: ‘em São Paulo a massa
ações para evitar o abuso e a negligência.”
carbonara não é assim’. Explicamos: ‘a nossa
Pesquisa com 836 idosos da cidade mostra
é assim porque tem uma história, é uma
que entre as principais queixas estão calça-
receita típica e legítima do local’.”
das escorregadias, falta de estacionamento
As idosas também ajudaram na decoração
e de espaços planos para caminhadas. Dos
do restaurante, com fotos e objetos familia-
23 mil moradores, quase 16% têm acima de
res antigos, além de toalhas de cores vivas.
60 anos –no Brasil, a taxa é de 12,5%.
“Não existe toalha branca aqui.”
‘BODAS DE VINHO’
Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
O casal Landy, 80, e Ampílio Affonso, 90, que cria gado, planta verduras e produz vinho Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
O empresário Juliano Brandalise, que consultou as “nonas” para elaborar cardápio Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
A nova proposta agradou a freguesia e hoje o local é o mais visitado da cidade.
O município está entre os de maior IDHM
Para Alexandre Kalache, especialista em
(Índice de Desenvolvimento Humano) do
envelhecimento, a experiência mostra a
país. A longevidade é o fator que mais con-
importância de a sociedade valorizar os
tribui, seguido de renda e educação.
mais velhos.
Veranópolis reúne casais com 60 e até 70 anos
“A sociedade deveria replicar o que o res-
de união. O advogado Severino De Toni, 87,
taurante fez na prática: buscar a voz do
e a professora Nilza, 87, estão casados há 64
idoso, valorizar a sua sabedoria. Quem se
anos. Têm nove filhos.
beneficiou? O restaurante, que atraiu mais
O segredo da longevidade? “Levar uma vida
clientes, o município que arrecadou mais
sem exageros, não ficar parado e, principal-
impostos. É uma corrente do bem.”
Portal na entrada de Veranópolis, conhecida na região como a terra da longevidade
Antenado
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Colombiano cria belo relato do
choque entre o público e o privado por CARLOS GRAIEB COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No começo do século 20, na Colômbia, o caricaturista Ricardo Rendón era idolatrado pelas ruas na mesma medida em que era temido pelos políticos. Com “As Reputações”, o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez -aos 43, um dos nomes ascendentes da ficção em espanhol- cria um herdeiro espiritual para essa figura histórica. Javier Mallarino também vive de confrontar o poder com seus desenhos. Rendón, no entanto, se matou jovem, sem deixar maiores explicações, na mesa de um café em Bogotá. E isso não escapa nem a Vásquez nem ao herói de seu romance, que julga ver Rendón caminhar por uma praça, como um fantasma, logo nas primeiras páginas da história. Será que o seu renome é valioso o bastante, pergunta-se Mallarino? Às custas do que ele foi alcançado? São essas as questões que o aferroam, neste livro belo e inteligente sobre os choques entre identidade pública e vida privada. “As Reputações” começa pouco antes de Mallarino ser homenageado em uma cerimônia de gala. Ele cumpre o seu papel, mas não está inteiramente à vontade. Dá-se conta que se transformou em uma das grandes vozes públicas de seu país ao preço do isolamento. A mulher o deixou há tempos, embora ainda exista carinho entre eles. A filha vive no exterior. Ele mora sozinho em uma casa na montanha. No dia seguinte à cerimônia, Mallarino recebe uma jovem que diz querer entrevistá-lo. Mas ela revela que tem outro propósito na visita. Quase três décadas antes, ela esteve ali numa festa, como amiga da filha de Mallarino. No meio da confusão, as meninas se embebedaram e foram deixadas num quarto, apagadas. Mais tarde, alguém vê sair do quarto um político que está na festa sem ter sido convidado, e a quem o anfitrião despreza. A menina continua na cama, mas agora numa posição estranha, com roupas desarranjadas. Todos saltam para a conclusão de que algo aconteceu. Mallarino publica uma charge que devasta a vida do político. Mas não há certeza nenhuma na história. Trinta anos depois continua a não haver, inclusive para a própria -suposta- vítima. O tema das reputações destruídas não é estranho à obra de Vásquez. Seu romance mais celebrado, “Os Informantes”, fala de como alemães, italianos e japoneses entraram para listas negras na Colômbia na 2ª Guerra,
bastando que alguém os apontassem como simpatizantes do nazismo, ainda que sem razão. Esse “poder terrível de acabar com alguém” é enfocado em “As Reputações” por um outro prisma. Mas agora Vásquez também se interessa pela maneira como o respeito público é conquistado. No caso de Mallarino, o custo de montar no cavalo branco da autoridade
moral foi a solidão. E ele por fim se dá conta que também infligiu sofrimento enquanto lutava contra a injustiça. “As Reputações” é um livro aberto. Não apenas a ocorrência do estupro fica em suspenso, como o romance não se atreve a passar um julgamento sobre Mallarino. Ao livro se aplica com perfeição a fórmula de Milan Kundera sobre o romance: “O terre-
no onde o julgamento moral é suspenso”. Vásquez se inscreve naquela linhagem de autores, cada vez mais raros, que fazem arte para suscitar perguntas, e não dar respostas. AS REPUTAÇÕES AUTOR Juan Gabriel Vásquez TRADUÇÃO Joana Angélica d’Ávila Melo EDITORA Bertrand Brasil QUANTO: R$ 34,90 (140 págs.) FOTO:Adriano Vizoni - 5.jul.2012/Folhapress
O colombiano Juan gabriel Vásquez durante a Flip de 2012 FOTO:Adriano Vizoni - 5.jul.2012/Folhapress
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Saúde
Distração exagerada Pode ser sintoma de doença em criança, transtorno que tem origem no cérebro pode levar criança a ter dificuldade no aprendizado escolar
por FOLHAPRESS Arte: Folhapress
Nem sempre a criança que não termina seus deveres e não presta atenção em nada é preguiçosa. Quando esse tipo de comportamento se repete com muita frequência, pode ser um dos sinais do TDAH (transtorno de deficit de atenção e hiperatividade), ocasionado por uma disfunção na parte frontal do cérebro e geralmente passado de pai para filho. Fazer o diagnóstico não é fácil, segundo o neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein Erasmo Casella. A criança pode ser desatenta ou hiperativa ou ser as duas coisas ao mesmo tempo. “Todo mundo tem sintomas de deficit de atenção, hiperatividade e impulsividade. Para caracterizar, tem que ser frequente, ocorrer em pelo menos dois locais diferentes, e trazer prejuízo à vida da pessoa”, explica o neurologista. Geralmente, o diagnóstico é feito em crianças com seis anos ou mais. Neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento, Deborah Moss lembra que é preciso afastar outras causas antes de investigar possível TDAH. “Às vezes a criança é desatenta porque tem um problema de visão ou audição, por exemplo”, diz. Ansiedade também pode confundir, segundo Casella. Já os hiperativos são facilmente identificados porque ficam se mexendo, falando e gesticulando. Segundo Moss, eles podem ser mais hiperativos ou impulsivos. Crianças com TDAH podem ser prejudicadas no aprendizado, ou por serem afastadas do convívio social ou por serem tratadas como burras ou incapazes, por exemplo. Como não há exames que detectem essa disfunção, o diagnóstico é feito na base da conversa. O tratamento costuma incluir remédios e terapia com psicólogo, mas pode envolver outros profissionais. Há chances de melhoras importantes, mas não garantia de cura. “A pessoa aprende a viver com seus limites”, diz Moss. (Gislaine Gutierre) Metade leva transtorno à vida adulta Metade das crianças que sofrem do transtorno do deficit de atenção e hiperatividade serão adultos com o distúrbio. Segundo o neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein Erasmo Casella, parte delas pode ter os sintomas amenizados conforme a área frontal do cérebro amadurece. “Há um atraso médio de três anos na maturação, nesses casos”, diz. As melhoras costumam ocorrer até os 21 anos. (GG)
Informática & tecnologia
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Pokémon Go
Veja como economizar a bateria do celular jogando ‘Pokémon Go’ por FELIPE MAIA/FOLHAPRESS
Há algumas semanas a Folha vem
consumir mais bateria, mas fez atualizações
cam armazenados na memória “cache” do
como usuários intensos têm feito e recorrer
questionando jogadores de “Pokémon
de software para reduzir o consumo.
celular -sem a atualização em tempo real
a uma bateria externa. Há modelos que
Go” sobre dicas para usar melhor o
Franzim diz, por exemplo, que mapas de
pela internet, o consumo é menor.
permitem duas cargas completas vendidos
jogo. Quase todos recomendaram: use uma
regiões que o usuário frequenta muito fi-
Se isso não for suficiente, é possível fazer
por cerca de R$ 50.
bateria externa. O game, de fato, consome
Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
mais energia que os aplicativos que as pessoas costumam usar. Ao usar o jogo, em que o objetivo é caçar pokémons no mundo real, usuários têm visto a bateria do smartphone acabar em poucas horas. O problema é que o jogo acaba usando vários elementos críticos para a bateria ao mesmo tempo, como a tela acesa, o GPS e a rede de internet, explica José Mauricio Rosolen, pesquisador da área de baterias e professor da USP de Ribeirão Preto. “Normalmente os equipamentos tentam fazer um balanceamento. Se o aparelho está usando muito a rede, ele tenta baixar o consumo da tela. Só que nesse caso fica difícil porque tudo está sendo usado ao mesmo tempo”, diz ele. Com outros aplicativos, isso em geral não acontece: ao ouvir uma música no Spotify, mesmo que no modo streaming, que gastar mais bateria, o usuário tende a deixar o aparelho no bolso, com a tela desligada. Para mandar ou receber mensagens no
Ana Júlia Gregorim, 18, Daniela Gomes, 19, Ariane Iamasaki, 19 jogam no Cemitério da consolação. Foto: Rubens Cavallari/Folhapress
WhatsApp, a tela fica aberta por apenas alguns minutos. “Pokémon Go” tem um modo de economia de energia na versão para Android (pressione a pokebola na parte de baixo da tela, depois “Settings” e depois “Battery Saver”). Segundo a Niantic, a função foi removida da versão para iOS por apresentar problemas, mas será restabelecida em breve. Uma medida para economizar bateria é reduzir o brilho da tela, especialmente a céu aberto: no modo automático, o aparelho tende aumentar o nível de luminosidade. Isso pode, entretanto, dificultar o uso do game. “Meus filhos usam a tela bem escura para poder jogar por mais tempo, mas eu não consigo. Se você está a céu aberto, não consegue deixar uma luminosidade tão baixa”, diz Renato Franzin, professor da Poli-USP. Uma alternativa, menos eficaz, é desabilitar o som do jogo. Além de não esquecer de fechar o jogo quando não estiver usando. A tendência é que o problema seja reduzido no futuro. No passado, o Waze costumava
Nas Pokestops, é possível encontrar pokémons e capturar ou comprar itens de jogo, como pokébolas.
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