877 Edição 02.12.2016

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Braganรงa Paulista

Sexta

2 Dezembro 2016

Nยบ 877 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


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Para pensar

Jornal do Meio 877 Sexta 2 • Dezembro • 2016

Expediente

Um maluco cheio

de esperança por Mons. Giovanni Baresse

Por volta do século oitavo antes de Cristo o reino da Babilônia conhece enorme expansão. Chega à Israel. O temor se apodera dos reis israelitas. Diante do poderio babilônico começam alianças espúrias. Colocam-se na contramão dos princípios da Torá. As alianças manifestam descrédito na Aliança. Profetas vão levantando suas vozes. Alertam autoridades e povo para que corrijam atitudes. Convocam à fidelidade como resposta à Aliança. Não são ouvidos. São perseguidos, exilados, mortos. Mesmo assim, vendo tudo encaminhar-se para o pior não deixam de apontar para a concretização da Promessa que Deus fizera a seu povo. Na predição da ruína falam da reconstrução. Uma dessas falas está no profeta Isaias (2,2-5). É a promessa de paz perpétua. Proclamada em meio à certeza da destruição e do sofrimento que chegariam: “Dias virão em que o monte da casa de Javé

será estabelecido no mais alto das montanhas e se alçara acima de todos os outeiros. A ele acorrerão todas as nações, muitos povos virão dizendo: - Vinde, subamos ao monte de Iahweh, à casa do Deus de Jacó, para que nos instrua a respeito dos seus caminhos e assim andemos em suas veredas. - Com efeito, de Sião sairá a Lei, e de Jerusalém, a palavra de Iahweh. Ele julgara as nações, ele corrigirá muitos povos. Eles quebrarão suas espadas, as transformarão em enxadas, e as suas lanças, a fim de fazerem foices. Uma nação não levantará a espada contra a outra, e nem se aprenderá mais a fazer guerra. Ó casa de Jacó, vinde, andemos na luz de Iahweh”. Certamente muita gente pensou que Isaias era maluco para dizer palavras de esperança e de confiança em Deus em meio à situação catastrófica que começava a se desenhar. E sabemos que muitas invasões aconteceram. Com destruição e mortes. Até o

acontecimento do Exílio para a Babilônia. As palavras de Isaias estavam alicerçadas na certeza de que Deus não abandonaria seu povo. E contaria com gente que o ouvisse para executar os processos de libertação e reconstrução. Nada disso estava no horizonte da maior parte das autoridades e do povo de sua época. Mas ele não duvidou do seu Deus. E soube antever o dia em que a cidade santa se tornaria o ponto de convergência de todos os povos. E que estes povos, por conhecerem a Deus, modificariam seu modo de agir. E que armas se tornariam instrumentos para o trabalho que geraria vida! A Profecia de Isaias bem cabe nestes momentos em que vêm à tona fatos de tráfico de influência, busca de interesses pessoais, manobras para não colocar sob a Lei quem realiza falcatruas. O triste episódio que envolveu o ex-ministro da Casa Civil mostra que se gasta mais tempo na defesa de interesses

pessoais e menores do que na defesa das necessidades da Nação. O ex-ministro da Cultura está sofrendo uma trilha de diminuição por ter desvendado a manobra por conta de uma possível gravação de conversa. Não julgo boa coisa gravar conversa, mas se ela nada tem de escuso não há o que temer! E soma-se o fato de querer, por parte de bom grupo de pessoas envolvidas na política partidária, em buscar anistia para “caixa dois” (segundo advogados um crime ainda não tipificado por lei) e, numa manobra muito esperta, juntar toda espécie de malfeito que envolvesse toda a gama de mau uso do dinheiro. Numa feliz comparação do ex- ministro do STF Ayres Brito “estão querendo colocar jabuti em árvore!” Felizmente houve enorme reação. Esta fez com que os presidentes da República, do Senado e da Câmara dos Deputados declarassem que não aceitariam tal manobra. Resta agora ver se o projeto do Ministério Público Federal, que propõe dez

Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.

medidas para o combate à corrupção, será aprovado. No meio de toda a barafunda parece meio impossível prever tempos bons. Mas eu creio que não podemos perder a esperança. Parece maluquice prever tempos melhores. Mas é maluquice saudável. Ela nos dá alimento para continuar buscando as condições para vida digna. E se juntarmos a certeza de que Deus quer o nosso bem e que este depende do que fazemos vale a pena que nos empenhemos! Afinal a Paz é o desejo de Deus para nós! É o nosso também! E Paz, como sabemos, é plenitude de vida!


Reflexão e Práxis

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

© Revistas COQUETEL

Um dos rios que cortam a capital paulista Expressos de viva voz

(?) Merkel, chanceler da Alemanha (2014)

Emite sons de dor

por MIRIAN GOLDENBERG/folhapress

Alguns estudiosos afirmam que a insônia

vezes até durante a madrugada, lendo

atinge cerca de 40% dos brasileiros. Em

notícias em inúmeros jornais e revistas,

tempos de crises, quando o estresse, a

respondendo e-mails e mensagens do

ansiedade e a depressão aumentam, este

Facebook, preparando aulas e palestras.

número pode chegar a 50%. O Brasil já

Procuro controlar a minha ansiedade,

foi chamado de “Nação Rivotril” por ser

mas ela só diminui um pouco quando

o maior consumidor deste ansiolítico.

consigo concluir a minha infindável lista

Eu tenho muitos medos e fantasmas

de tarefas. Minha sorte é que sou muito

que me assustam, principalmente na

organizada e nunca deixo para amanhã

hora de dormir. Até os meus dez anos

o que posso fazer agora. Mas a lista não

só conseguia dormir abraçada com a

termina nunca, pois sempre tenho novos

minha mãe. Hoje, como são inúmeras

textos para escrever, aulas e palestras

as minhas noites de insônia, adquiri

para preparar, e teses para corrigir.

o hábito de escrever nas madrugadas.

Já tentei de tudo: meditação, respiração,

Não gosto de tomar calmante, e, por

ioga, relaxamento, exercícios, terapias,

isso, minhas insônias frequentes pa-

maracujá, ansiolíticos, não tomar café,

recem verdadeiras sessões de tortura.

não comer antes de dormir, contar car-

Sou professora da Universidade Federal

neirinhos...

do Rio de Janeiro há mais de 23 anos

Muitas mulheres que entrevistei disseram

e, até hoje, sinto inveja daqueles que

que trocariam facilmente alguns praze-

conseguem ter um sono tranquilo antes

res (como sexo, fazer compras e comer

de uma aula.

chocolate) por uma boa noite de sono.

O pior é que a insônia não é apenas

Será que alguém consegue dormir tran-

antes de uma aula ou palestra. Quando

quilamente em um momento como este,

estou exausta e precisando dormir, fico

no meio de tantas tensões, incertezas e

matutando: naquela hora eu poderia ter

crises políticas e econômicas?

Condição do engarrafamento, em metrópoles Lago, em francês Locais onde se fazem reparos em embarcações

Capital de Gana Amalucado (gír.)

MIRIAN GOLDENBERG é antropólo-

da minha pesquisa. E, para piorar ain-

ga, professora titular da Universidade

da mais a situação, nunca consigo me

Federal do Rio de Janeiro e autora de

desligar dos gravíssimos problemas do

“A Bela Velhice” (ed. Record)

O indivíduo que tem aversão ao coito

Comer, em inglês Glândula mamária

Aja como o inventor Sufixo de "bolada"

Assinatura (abrev.) Tipo de preposição

O personagem que sempre "salva o dia" Amuleto do praticante de Candomblé (?) de leite: atribuição comum de mucamas (Hist.) Número (abrev.)

Acusado de um crime Táxi, em inglês

Tecido de algodão usado em calças Espécie de boi selvagem

Marsupial australiano Decâmetro (símbolo) Lançar os (?): arriscar Desértica (a região)

Palco de desfiles de Carnaval (BR)

BANCO

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Solução

respondido assim; eu deveria ter citado aquele autor; não lembrei daquele dado

As peças encontradas no antiquário

Sul, em espanhol Terra de Fagner

A

fico no computador o dia inteiro, muitas

E I R C

principalmente na hora de dormir

I

Nos fins de semana tento relaxar, mas

A C N O GE M E L A R A N O D S R A A D A R O S A S S S E B X U R U R I DA O M O

fantasmas que me assustam,

Dedo em que se usa o anel de noivado

(?) polar, fenômeno óptico que ocorre na Terra, em Marte e em Vênus

L U G A R

país e do mundo.

3/cab — eat — lac — sur. 9/cotidiano — mano a mano. 11/tamanduateí.

Eu tenho muitas incertezas e

Que se encontram sob as ordens de um líder Deus grego do amor (Mit.)

T N O AM O R A A N T I D S U C A E A T A L E R O I A P R E C A N A D B O D

como dormir?

O conterrâneo da atriz Carol Castro São divididos em estriados, lisos e cardíacos De igual para igual (pop.)

C M A A U R S I C O U C L A O E S T H E A U T AM A N S O D S AM

Com tantos medos,

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por Shel Almeida

Muitos jovens já entenderam e

Rurais Entre Serras e Águas e foi o projeto

estão ensinando diariamente às

que reaproximou a Ong da comunidade do

gerações mais velhas (e às mais

entorno”, conta Ivan.

novas também) que o mundo só muda

“Para mim, o mais interessante do cursinho,

se a mudança for por todos e para todos.

além de atender quem não tem acesso,

Atitudes em prol do bem comum sempre

é pensar no resgate desses alunos. Eles

serviram como exemplo motivador e inspi-

chegam aqui sem base escolar e com a

rador para que a ação se torne mais forte

auto estima muito baixa. É um trabalho

do que a insatisfação. É um alento ainda

de retomada. No processo conseguimos

maior saber que diversas pessoas dedicam

fazer eles entenderem que se têm algum

parte de sua juventude, com o tempo e o

déficit, a culpa não é deles, mas do nosso

recurso que lhe são possíveis, para fazer

sistema educacional público. Já a feira,

algo de bom para alguém. De alguma for-

em parceria com a cooperativa, começou

ma, isso sempre parece muito distante da

pequena e depois tomou uma proporção

nossa realidade, mas não é. Atitudes boas

que não imaginávamos. Hoje vem gente de

acontecem aqui do nosso lado, na nossa

todos os lugares de Bragança e até mesmo

cidade, sem nos darmos conta disso.

de cidades vizinhas. As pessoas precisam

Conversamos com jovens bragantinos que

de comida barata e isso é bem perceptível

participam de três grupos diferentes, com

por quem chega aqui com as moedinhas

ações completamente distintas entre si,

contadas. A demanda é atender a população

mas com um propósito em comum: tornar

de baixa renda, mas também é um processo

o mundo, a partir da cidade em que vivem,

de empoderamento da comunidade, no

um lugar melhor para todos.

sentido de mostrar que o espaço está aberto

O Espaço Comunidade Sorriso oferece cur-

e é dela. Hoje, tanto os alunos quanto os

sinho popular, com professores voluntários

frequentadores da feira se tornam agentes

na faixa dos 30 anos. Além disso abre as

de transformação”, conclui Tiago.

portas para que uma cooperativa realize uma feira popular.

Missão de vida

O Projeto Filhos é uma ação social forma-

O Projeto Filhos surgiu em 2015, sob coor-

da por jovens com média de idade de 25

denação de Willian Pires e Walex Moreira.

anos que utiliza a arte como ferramenta

Além deles, 12 outros jovens missionários

de transformação.

se dedicam em prol das crianças e ado-

O Morus Nigra é um grupo de proteção

lescentes do bairro Vila São Caetano, na

animal formado por jovens protetoras in-

periferia da cidade. Dez deles moram na

dependentes de 18 e 20 anos, que resgatam,

casa que serve de sede para o projeto. O

cuidam e encaminham para adoção animais

tempo desses jovens é dividido entre oficinas

de rua ou em situação de risco.

oferecidas à comunidade e ao discipulado

Cursinho e feira populares

O cursinho popular da Comunidade Sorriso começou com cerca de 55 alunos. A mudança mais visível é a melhora da auto estima dos alunos.

A feira popular acontece toda quinta feira, a partir das 20h, em parceria com a Cooperativa dos Produtores Rurais Entre Serras e Águas

bíblico. O que difere esse projeto de outros semelhantes é o fato dos voluntários se

Durante muito tempo a Comunidade Sorri-

dedicarem integralmente a ele, estabele-

so, no bairro do Cruzeiro, foi referencial de

cendo, assim, um novo significado para a

ação social em Bragança Paulista. Depois

palavra missão. Além disso, mesmo que

de um período com as ações paralisadas e

o projeto seja fundamentado nos valores

o prédio fechado, a retomada aconteceu

passados por Cristo, sua base não está sob

quando Ivan Montanari, neto de uma das

a ótica de nenhuma religião e nem tem

fundadoras, percebeu o potencial do lugar.

ligação com alguma igreja, Como explica

Posteriormente, Tiago Fabris Rendelli se

o coordenador Walex, todos ali são jovens

uniu ao amigo e juntos começaram a pensar

que desejam vivenciar os ensinamentos

em como usufruir do espaço e de tudo o que

cristãos na prática. “A vertente do nosso

ele pode oferecer. Diversas ações começa-

trabalho é a do resgate de uma comunida-

ram a ser realizadas ali, desde campeonato

de. Quando se fala em missão, as pessoas

de skate até oficinas artístico-culturais.

logo lembram dos missionários que vão

No começo deste ano, deu-se início, como

para a África, tem o entendimento de que

projeto piloto, ao cursinho popular gratuito,

é uma realidade muito distante da nossa,

após chamamento tanto para professores

mas não. É o que nós vemos aqui. Como

voluntários quanto para alunos interessados.

já tínhamos uma perspectiva de fora, de

“Esse foi o primeiro projeto da Comunida-

trabalhos que realizamos em outras cida-

de Sorriso se reinventando. Começamos o

des, começamos a perceber que o cenário

cursinho pré-vestibular noturno com cerca

daqui é o mesmo. Então resolvemos olhar

de 55 alunos, de todas as idades. A equipe

com uma perspectiva social e fazer aqui o

é toda voluntária, são 12 professores e uma

que faríamos em qualquer lugar do mundo.

coordenadora. No meio do ano já tivemos

Aos poucos fomos treinando e envolvendo

aluno do cursinho que entrou na universi-

pessoas, que se aproximaram pela causa.

dade pela chamada do Sisu. Outra aluna

As pessoas ficam meio perplexas quando

conseguiu bolsa de 100% em uma univer-

falamos que deixamos tudo, inclusive em-

sidade particular. Quando sair o resultado

prego, para nos dedicar exclusivamente

do Enem teremos um parâmetro melhor,

ao projeto. Mas o resultado que fazemos

mas o cursinho já tem resultados positivos

aqui só será percebido a longo prazo. Não

nesse sentido. A feira popular acontece em

adianta apenas eu falar para um jovem

parceria com a Cooperativa dos Produtores

que está envolvido com o tráfico que ele

As atividades oferecidas às crianças funcionam para ocupar o tempo das crianças e também para passar a elas, na prática, os valores que são a base do nosso projeto. Foto 020 - Caroline, Bárbara e Victoria. Jovens do grupo Morus Nigra realizam rifa e bazares para manter os animais que estão sob seus cuidados.

28 animais estão na casa das protetoras, como lar temporário. Apoio da família e amigos é fundamental para que o trabalho avance.


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deve parar com isso porque é errado se ele só conhece essa realidade. Eu tenho que mostrar outra realidade pra ele, assim ele percebe que existem alternativas. Eu trago ele aqui pro nosso espaço para conseguir tirar o alicerce dele e torná-lo vulnerável a ponto de fazer refletir. Aqui ele começa a entender o que é o amor, a alegria, respeito, a se envolver com a música, encontrar caminhos diferentes. Se eu transporto ele para um realidade boa, aquilo já faz ele comparar com a realidade em que ele vive sem eu precisar dizer nada. Aí quando eu falo algo para ele, ele já consegue considerar. É diferente de eu chegar na realidade dele e falar sobre amor sem demonstrar amor por ele. Como ele vai acreditar que é real sem vivenciar? Antes de tudo eu preciso olhar para ele como ser humano e não julgá-lo para que, assim, ele se sinta convidado a participar da minha realidade, do projeto. Quando isso acontece, eu consigo mostrar para ele um leque diferente de possibilidades e atingir a forma como ele pensa para, quem sabe, mudar isso. As oficinas que oferecemos funcionam para ocupar o tempo das crianças e também para passar

- Victor, Tamy, Douglas, Ivan e Tiago são parte da equipe de professores voluntários do cursinho popular. Jovens que dedicam seu tempo para que outros jovens tenham melhores oportunidades.

a elas, na prática, os valores que são a base do nosso projeto”, explica.

Amor aos animais Victória Tavella, Caroline de Moraes Lima e Bárbara Santilli são garotas que, mesmo com pouca idade, surpreendem pela maturidade e responsabilidade que se dedicam à causa animal. A amizade das três começou justamente por conta do trabalho que cada uma desenvolvia em prol dos animais. A união gerou fortalecimento, o que resultou no grupo Morus Nigra. Com isso elas passaram a angariar fundos por meio de rifas e bazares, a fim de manter os animais que estão com elas e custear castrações. O trabalho delas começa desde o resgate dos animais, passa pelo acolhimento deles em lar temporário, que é a casa delas próprias, cuidados básicos com saúde, vermifugação, castração e, posteriormente, doação. “A gente tem que ter o mínimo de responsabilidade na hora de doar, somos exigentes, vamos conhecer a casa do adotante e fazemos acompanhamento durante meses depois da adoção. As pessoas acham exagero, mas não é. Já tivemos animais devolvidos e conhecemos muitos que foram negligencia-

Os jovens missionários do Projeto Filhos se dedicam exclusivamente ao projeto. Walex Moreira, Elias Mendes, Wesley Bafilli, Jaziel Almeida e Jaqueline Ávila são parte dos 14 voluntários que atuam no projeto.

dos. Mas, o que a gente faz não é nada de excepcional. Rifa e bazar qualquer pessoa pode fazer. Mas, essa dedicação, de ficar acordando a noite toda para amamentar gatinhos que foram descartados sem a mãe, as pessoas não querem. E é sempre difícil, por mais que a gente se dedique, não há como termos controle, às vezes temos algumas perdas. É um desgaste, mas vale muito a pena lutar por uma vida. As pessoas querem o animal apenas enquanto ele é funcional. A gente não sai mais, passamos o tempo livre cuidando do animais que estão conosco, que hoje são 28 no total. Os amigos admiram, acham bonito, vão entendendo o que a gente faz e nos apoiando. Nossas famílias apoiam, senão seria muito mais complicado. Não nos imaginamos deixando de fazer o que a gente faz. Vamos continuar fazendo isso a vida toda”, falam.

Para saber mais sobre os projetos e apoiar, acesse as respectivas páginas no facebook. ttps://www.facebook.com/cursinhocomunidadesorriso

- Caroline, Bárbara e Victoria. Jovens do grupo Morus Nigra realizam rifa e bazares para manter os animais que estão sob seus cuidados.


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Saúde

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Diverticulite

Dieta pobre em fibras aumenta risco de no intestino, verduras e frutas ajudam a tratar e a prevenir diverticulite aguda, que ataca em especial os idosos por GISLAINE GUTIERRE/FOLHAPRESS

Uma dieta pobre em fibras, presentes em alimentos como folhas verdes e cereais integrais, pode aumentar o risco de diverticulite aguda. Essa doença é causada pela presença de fezes endurecidas em divertículos, que são saquinhos que podem aparecer no intestino grosso. Essas fezes geram inflamação e infecção por bactérias. Cirurgião geral e coloproctologista do Hospital Samaritano de São Paulo, Paulo Bianchini afirma que mais da metade da população está sujeita a formar esses saquinhos no intestino grosso após os 50 anos de idade, por causa dos efeitos da pressão interna no órgão ao longo do tempo. “Quando eles não estão inflamados, é doença diverticular”, diz ele. Se há inflamação e infecção, é diverticulite aguda. Quem consome poucas fibras ou tem prisão de ventre está mais sujeito à doença porque as fezes ficam mais ressecadas. “Quando a consistência é mais amolecida, é mais fácil de elas saírem”, diz Bianchini. Resultado disso é que, numa crise, a pessoa sente dor crescente no lado inferior esquerdo da barriga. “Depois de 12 horas, ou 24 horas, a pessoa não suporta mais e vai ao pronto-socorro”, diz o médico. Pode haver internação. Quase sempre a doença é tratada só com antibióticos. Cirurgias são para casos extremos. Mas uma dieta costuma ser recomendada. A nutricionista Gabriela Cilla, da Estima Nutrição, recomenda alimentos ricos em água e fibras como verduras (espinafre, agrião, acelga, alface), legumes (cenoura, berinjela), cereais integrais, e frutas (maçã, laranja, pera, ameixa, banana). Segundo Cilla, é preciso beber de dois a três litros de água por dia. Cilla diz que a ingestão de fibras pode aumentar o bolo fecal, e se a pessoa não estiver hidratada, cresce o risco de fezes endurecidas causarem a diverticulite aguda. Caso mais grave pode levar à morte Diverticulite aguda não pede cirurgia na maioria dos casos, nem expõe o paciente a risco de morte, segundo o cirurgião geral e coloproctologista Hospital Samaritano de São Paulo Paulo Bianchini. Casos como o de divertículo perfurado, porém, podem levar a um quadro de infecção em todo o intestino, compossibilidade de morte. Cirurgia, porém, pode servir a quem teve mais de três crises de diverticulite.

Arte: Folhapress


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Revista ‘Wired’ A primeira edição da revista ‘Wired’ brasileira está chegando por RONALDO LEMOS/FOLHAPRESS Foto: Divulgação

Se há uma “bíblia” sobre inovação, talvez ela seja a revista “Wired”. Lançada em 1993 por pensadores que achavam que a tecnologia mudaria o mundo (acertaram), a revista é lida por cientistas e curiosos em geral. Na edição mais recente, Barack Obama foi editor convidado, tratando de inovação. O Brasil apareceu poucas vezes em suas páginas. A mais importante foi em 2004, quando Gilberto Gil deu uma entrevista bombástica, declarando-se ministro da Cultura, hacker e defensor do software livre. Gil citou a antropofagia e o tropicalismo como aliados da tecnologia. O texto vale ser lido ainda hoje. Diz que, para promover o progresso tecnológico, é preciso “abrir a conversa para todos e permitir que o conhecimento científico circule da universidade para a favela e vice-versa”. Depois, o Brasil nunca mais teve o mesmo destaque na revista. Isso vai mudar nas próximas sexta (2) e sábado (3). A “Wired” está realizando seu primeiro festival de palestras no Brasil (no Rio). O evento marcará a primeira edição da revista em português (que aqui será anual). A programação diz que o festival “vai reunir algumas das mentes mais disruptivas e visionárias do mundo para discutir ideias que vão mudar sua vida”. Se é verdade, não importa. O que mais me chama a atenção é algo que ninguém notará. Entre os poucos brasileiros convidados, haverá três nascidos em Araguari. De acordo com o IBGE, Araguari tem pouco mais de 110 mil habitantes. Que tipo de erro estatístico poderia enviesar a representação dessa pequena e pouco conhecida cidade nesse festival de inovação? Será que os organizadores do evento quiseram, secretamente, prestar homenagem à beleza da cidade? Tenho outra explicação. Na década de 1980, Araguari foi escolhida para um experimento. Foi a primeira cidade do país a receber um sistema de TV a cabo para testes. A cidade foi cabeada e de repente passou a contar com dezenas de canais (principalmente estrangeiros e piratas). Isso representou um salto informacional. Quando a Guerra do Golfo começou, em 1990, os araguarinos acompanharam ao vivo pela CNN. Coisa que poucas Redações de jornal em SP ou no Rio tinham. Esse acesso à informação mudou a vida de uma geração. Os três brasileiros de Araguari que estarão no festival da revista “Wired” são: 1) Gustavo Caetano, fundador da empresa de tecnologia Sambatech. Ele é usualmente chamado de o Mark Zuckerberg brasileiro. Uma grande injustiça (Gustavo é muito mais legal que Mark); 2) Manoel Lemos (meu primo de 3º grau), sócio de um dos maiores fundos de investimento em tecnologia da América Latina e cientista da computação. 3) O terceiro é este colunista. Poderia listar outros araguarinos que trabalham com tecnologia e inovação. Mas paro com o bairrismo por aqui. Essa experiência pessoal me ensinou que o acesso ao conhecimento pela tecnologia de fato muda vidas. Mudou a minha. É uma lição que Araguari pode dar à “Wired”.

Capa da revista Wired com o chef Ferran Adrià


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