Braganรงa Paulista
Sexta
23 Dezembro 2016
Nยบ 880 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
2
Para pensar
Jornal do Meio 880 Sexta 23 • Dezembro • 2016
Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919
Natal!
E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli
por Mons. Giovanni Baresse
Estamos no Natal. Mais
nós. O Criador, que nos amou desde
Por essa razão, a celebração do
prestar atenção no essencial dessa
uma vez celebrando o nas-
sempre e nos deu liberdade para
Natal deve ser para todos nós um
celebração. Daí todo o resto tomará
Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
cimento de Jesus Cristo. O
amá-lo ou não, diante da escolha
reafirmar do nosso discipulado.
sentido. E as luzes do Natal perdu-
fervilhar motivador do comércio se
da autossuficiência humana, bus-
Do nosso seguir o Mestre. Assu-
rarão. Tudo o que é luz e enfeite em
faz presente há um bom tempo. Os
cou um jeito de “estar conosco”
mindo suas palavras e seus gestos.
nossas cidades dever servir para
meios de comunicação falam da
para que pudéssemos vislumbrar
Tornando presente, em gestos e
apontar o Aniversariante. Claro
esperança, apesar da crise, “que
a imensidão da felicidade que nos
palavras, o cerne de sua missão:
que muita gente não tem interesse
o Natal seja bom”, isto é, que os
quer dar, do amor que nos tem. Em
a proclamação de que o Reino de
nisso. Interessa o lucro que se tem
resultados financeiros consigam
Jesus Cristo elimina a distância
Deus está em nosso meio! (Mateus
à custa Daquele que é a razão da
amortizar as dificuldades vividas
que há entre o Infinito e o finito:
10,7). E o Reino de Deus é que todos
comemoração. Para os que quere-
durante o ano que chega ao fim.
“Felipe, quem me vê , vê o Pai!”
sejam um. Que todos sejam irmãos.
mos viver o sentido profundo dessa
Parece que a postura dos cristãos
(João 14,9).
Que essa fraternidade se expresse
festa fica a responsabilidade de não
diante deva festa caminhar por
bonitos e louváveis todos os gestos
Todos nós temos sede de felicidade.
na eliminação das injustiças, da
esvaziá-la. O que é feito no Natal
outra estrada. O cristão é aquele
que dão alegria no Natal. Devem,
Ela foi plantada por Deus em nosso
maldade, da ganância, do ódio,
deveria ser feito o ano todo. A beleza
que enxerga a profundidade da
todavia, tornar-se motivadores de
coração. Só que a desejamos saciar
da guerra, das desigualdades que
externa deveria ser expressão da
festa do Natal. E que consegue ver
ações duradouras. Até o dia em que,
olhando o horizonte da vida com
criam seres humanos sem dignidade.
beleza interna que nos leva a ser
que essa data não é referencial que
sonhadoramente, ninguém mais
nossos olhos míopes. Jesus Cristo é
(Mateus 23,8)
solidários. Penso, particularmente,
se esvai no dia seguinte...
necessite senão de um abraço, um
aquele que nasce para nos curar da
Celebrar o nascimento de Jesus
nas festas natalinas oferecidas às
Para todos os que creem em Jesus
beijo, um aperto de mão. Tudo por
visão curta e distorcida (Marcos 8,24).
Cristo é declarar, de forma explíci-
pessoas carentes. Elas devem ser a
Cristo como Filho Unigênito de
um desejo: Feliz Natal! A todos os
A data do Natal é, portanto, a
ta, que se está ao seu lado para o
“cereja” sobre as necessidades que
Deus, que tomou carne humana no
que me dão a honra de acompanhar
afirmação de que o Pai, o Filho
que der e vier. É fazer da vida uma
são vividas o ano todo. O almoço
seio da Virgem Maria, a celebração
minhas reflexões e à suas famílias
e o Espírito Santo nos querem,
doação tão extremada como foi a
de Natal deve ser o mais elaborado,
do Natal é um compromisso que
desejo um Natal muito feliz! Que
tendo-nos feito à sua imagem e
sua. Sendo Deus, “rasgou” a sua
consequência de almoços e jantas
se prolonga por toda a vida. E a
a alegria da reunião familiar seja
semelhança (Gênesis 1,26), como
divindade e se revestiu da nossa
mais simples que oferecemos na
cada celebração que o Senhor da
alicerce para uma crença sempre
filhos no Filho (Efésios 1,5). Com
humanidade. Sendo rico se fez
participação das obras como a
Vida nos dá realizar, esse compro-
mais profunda que é possível um
sua encarnação Jesus Cristo nos
pobre... para nós. (2 Coríntios 8,9).
ação de todos aqueles que tomam
misso torna-se mais “pesado” pela
mundo mais humano e justo. Para
redime da separação e nos faz par-
Na alegria de podermos celebrar
a peito visitar as famílias carentes,
gratuidade de um gesto de amor
isso Cristo nasceu! Por isso eu creio
ticipantes de sua glória, da glória
o Natal, ajudemos nossas famílias,
promover seus direitos, buscar en-
totalmente incompreensível para
Nele! Um grande abraço.
da Trindade Santa.
as pessoas de nossa convivência, a
caminhar para trabalho, etc. São
Feliz Natal
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Reflexão e Práxis
Jornal do Meio 880 Sexta 23 • Dezembro • 2016
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
Significado do "R" na sigla TRE Ingrediente de cervejas Vigorou
por pedro marcelo galasso
Na moda (gíria) Antigo nome da República Democrática do Congo Robert De (?), ator de "Cabo do Medo" A vítima do conto do vigário Título de sócio oferecido como forma de gratidão
Parte mais volumosa do corpo humano
Espécie de saia unissex polinésia
(?) livre: é praticado com a asa-delta
Santa Ana, em relação a Jesus (Catol.)
(?) bolas!, expressão de enfado Nome da letra da vitória Honraria britânica recebida por Elton John
Dar um (?): passear (gíria)
Hiato de "caeté" Vitimou Cazuza
Giuseppe (?), autor da ópera "Aída"
(?) Lanka, país de origem do catamarã
35
Solução
E S A U
G I O M A V E A R U L A E P U T A O R I R E S O R O A E M E UQ
N A L T O P A V O D O A V E S R I D R I
TO
O E M I S CE
O L E O S O S
BANCO
Lantânio (símbolo) Jornal argentino
Leda Nagle, jornalista brasileira A parte mais carnuda da perna das reses
LO
Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
(?) Vegas, cidade dos EUA Veículo como a Apollo 11 Ritual funerário dos índios do Xingu Ilha, em francês Instrumento de sopro de emissão simples
L A N A C I O N
seus “aliados”, e entrou um presidente sem credibilidade e que governa para setores específicos da sociedade brasileira e que nos arrasta velozmente para uma sociedade que abraçará o mesmo projeto neoliberal que destruiu a economia grega, nos lançando ao abismo da dúvida e da incerteza. Provas disso são as justificativas medíocres para a aprovação das PEC 55 e da PEC da Previdência. Como complemento deste panorama político, temos as delações premiadas, ações legais, mas ilegítimas, que citam centenas de congressistas em casos de corrupção trazendo a tona, com provas, o que já sabemos de longa data – o nosso Congresso Nacional, nossas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais são locais de constantes práticas de corrupção que lesam o papel do Estado, roubam e desviam o dinheiro público e que condenam à morte e à pobreza milhões de pessoas todos os dias. E, para piorar, são estes nobres parlamentares os responsáveis pela criação de leis e pela fiscalização contra as ações criminosas que eles próprios praticam. A briga com o Poder Judiciário, um poder nebuloso e moroso, além de nem sempre isento, coroa o péssimo ano de 2016. Caso a Justiça não seja justa, a quem podemos recorrer? O STF, que alega ter em seus quadros as pessoas mais sábias do país, se tornou o local de brigas políticas e de egos que prejudicam a leitura clara e legal do que experimentamos no Brasil. Troca de ofensas, discursos sem fundamentos e decisões absurdas, como a que envolveu o presidente do Senado Renan Calheiros, destroem a credibilidade da instituição que deveria ver e se colocar, legal e juridicamente, acima de tudo isso. O mais assustador é pensar que nenhuma destas decisões vai de se resolver em 2016 e é por isso que este ano não irá acabar.
2/in. 3/île. 4/niro. 5/pareô — torso — valeu — zaire. 6/quarup. 7/quimera. 8/la nación.
É clara a impressão ruim que o ano de 2016 deixou para o Brasil nas mais diversas situações. Um ano difícil, inclusive, para o mundo. Portanto, é justo dizer que 2016 não pretende acabar tão cedo. Carregaremos seu peso e o desastre de algumas decisões por grande parte de 2017 e a percepção disso é clara, ainda que a mudança do ano nos calendários mergulhe nossa imaginação e nossos novos desejos em um mar de esperança que nunca esteve tão raso ou tão distante. A mera mudança no calendário não tem a força suficiente para apagar o que foi feito e nem para mudar, magicamente, o que está por vir. Longe de tentar prever o futuro ou desejar um ano ruim a quem quer que seja algumas ponderações são necessárias. Esta coluna antecede o julgamento sobre o futuro prefeito de Bragança Paulista. Entretanto, o julgamento por si só, independente do seu resultado, deve nos fazer refletir sobre qual cidade queremos e sobre qual futuro almejamos, pois a situação toda é vexatória por alguns motivos. Primeiro, a escolha entre os candidatos para prefeito era a pior possível, marcada por um passado que não deu resultados e por promessas absurdas e abstratas de um futuro do qual nem seus proponentes acreditavam. Segundo, a maioria dos votos para um candidato cuja candidatura era incerta, prova disso é o julgamento, é sintomática de um desespero político sem precedentes já que não há uma renovação concreta de nossos quadros políticos. E, em terceiro, a situação toda é agravada pela eleição de uma Câmara de Vereadores que promete ser muito pior que a atual, façanha que, para alguns, era improvável. Terminamos o ano com o presidente Michel Temer, cuja permanência do cargo é incerta, mostrando aquilo que se podia esperar de seu governo – uma sucessão de atos confusos, anticonstitucionais e que não surtiram, e nem surtirão, os resultados propagandeados por ele e sua equipe ministerial. Saiu uma presidente ruim, que vendeu seus princípios em troca da reeleição e que foi abandonada por
Os três tipos de Monstro cabelos, segundo os com cabeça de esteticistas leão (Mit.) Divisão do texto teatral
O filho primogênito Ponto de Isaac erógeno (Bíblia) feminino
T R L A N Q U I F L I Z A N T B E
O ano que não acaba
Medicamento que combate a ansiedade
© Revistas COQUETEL
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Jornal do Meio 880 Sexta 23 • Dezembro • 2016
por Shel Almeida
Não é de hoje que mulheres mais
na parte de cima do cabelo para disfarçar o
velhas resolveram abandonar os
crescimento e não deixar a raiz tão a mostra.
retoques frequentes de tintura e
cuidados
assumir os fios brancos.
Roni César conta que o que mais faz é man-
A novidade é que esses fios brancos, muitas
dar para casa cliente que quer ficar com
vezes platinados, também andam sendo
os fios platinados, já que poucos cabelos
desejados pelas mais jovens. De quebra,
aguentam o que ele chama de paulada da
quem estava com os cabelos acinzentados
descoloração.
embarcou na moda e passou a pintar o
“O cabelo tem uma vida útil. Você pode até
cabelo de branco quase brilhante.
descolorir tudo de uma vez, mas, quando for
“Os platinados estão voltando. Em alguns
retocar a raiz, na emenda entre o natural e o
casos, misturamos pigmento azul para dei-
loiro, os cabelos podem ficar tão fragilizados
xar bem branco, com um fundo azulado”,
a ponto de cair”, explica o profissional.
explica Roni César, do Circus Hair, salão que
A blogueira Nina Gabriella, 25, tem nos
atrai público moderninho na rua Augusta,
fios cacheados brancos acinzentados sua
em São Paulo.
marca registrada. Há dois anos e meio, a
Os fios artificialmente brancos já passaram
cabeleireira errou e clareou demais os fios.
até pelas cabeças de cantoras pop como
Passado o susto inicial, ela acabou gostando.
Rihanna, Lady Gaga, Pink e Kelly Osbourne.
“Fiquei um ano sem retocar a raiz porque
“As brasileiras demoraram para ter coragem
ele estava muito fragilizado. Passei todo
e daí foi uma febre em 2015 e 2016”, afirma o
esse tempo só tratando do cabelo. E, então,
cabeleireiro e maquiador Wilson Eliodorio.
quando fui retocar, já aproveitei para cortar
As mulheres naturalmente grisalhas se be-
também e tirar toda a ponta fragilizada”,
neficiaram com a proliferação de produtos
conta. A blogueira diz que as mulheres que
específicos para cabelos platinados, brancos
optam por descolorações mais fortes devem
e acinzentados. Xampus roxo (que retiram
estar conscientes de que o cabelo estraga
o aspecto amarelado) e tinturas em dife-
e, uma hora ou outra, terá de passar pela
rentes tons de branco ou loiro platinados
tesoura.
hoje aparecem aos montes nas prateleiras
E olha que Nina trata bem dos fios. Uma vez
de perfumarias.
por semana, ela mistura creme matizador
Cabeleireiro há 35 anos, Ari Persan diz que os
roxo –produto que neutraliza a cor do ca-
tratamentos de pele ajudaram as mulheres
belo e tira tons alaranjados de loiros– com
a assumir os brancos.
hidratante.
“Uma pele mais jovem com os cabelos brancos
Já Soraya conta que usa um xampu lilás
e um corte bacana deixam a mulher moderna
diariamente e também aplica máscaras de
e sensual, sem parecer vovozinha”, diz. Nas
tratamento.
suas clientes, ele gosta de usar tonalizantes
Roni César sugere um cuidado maior: ele
dourados, para evitar que os fios brancos
aconselha quem clareia totalmente os fios
fiquem amarelados.
escuros a fazer cauterização no salão de
A produtora executiva Soraya Chara, 55, já se
beleza a cada um mês e meio, além da ma-
acostumou a ser parada na rua para respon-
nutenção em casa.
der sobre o seu cabelo, totalmente branco.
Quem quiser aderir aos fios claros, deve
“Eu comecei a ficar grisalha muito nova. Em
pesquisar bem antes de escolher o cabe-
2012, o meu cabeleireiro veio com a ideia de
leireiro. Nina indica fuçar nas redes sociais
deixar branco e foi uma libertação’, afirma.
para saber se o profissional já fez esse tipo
Soraya, que usa uma tinta com descolorante
de trabalho. Além disso, a avaliação dos fios
para deixar os fios brancos, agora só retoca
é muito importante. “Se você chegar e ele já
as raízes a cada dois meses. “Antes era um
começar a te preparar para o procedimento,
inferno, a cada 15 dias eu tinha de ir no salão.”
desconfie. É preciso ter muita conversa e
Como sempre pintou o cabelo, Soraya teve
análise antes”, diz.
de cortar curtinho antes de aderir ao branco.
Enquanto as mais jovens apelam para os
Isso porque, como se fala nos salões, tinta
descolorantes mais “pesados”, quem é
não clareia tinta.
naturalmente grisalha caminha na direção
“Se a mulher é grisalha, pinta o cabelo de
oposta. “Há uma tendência de fazer luzes
loiro, e quer ficar branca ou platinada, dá
brancas e platinadas nesses fios. Assim,
para ir clareando algumas mechas e a raiz,
aproveitamos o branco natural para dar
enquanto o cabelo vai crescendo e as pontas
esse efeito iluminado no cabelo”, afirma
sendo cortadas. Mas para quem usa tintas
Wilson Eliodorio.
Foto: Andrew Kelly 15.09.2016/Reuters
Uma modelo apresenta uma criação da coleção Marc Jacobs Primavera/Verão 2017, na New York Fashion Week, em Manhattan, Nova York. Foto: Andrew Kelly 14.09.2015/Reuters
Uma modelo apresenta uma criação da coleção Jeremy Scott Spring/Verão 2016, durante a New York Fashion Week, em Nova York. Foto: Eric Thayer 17.02.2015/Reuters)
escuras, como castanho-médio ou castanho-escuro, o único jeito é cortar o máximo que
DA PASSARELA PARA AS RUAS
puder e esperar crescer”, diz Roni César.
Os tons platinados e gélidos vêm apare-
O motivo é que ao clarear os castanhos ar-
cendo em desfiles das semanas de moda de
tificiais, eles podem ficar alaranjados – um
Nova York, de Paris e também de São Paulo
tom cor de água de salsicha. Para quem não
desde a temporada passada, mas também
quer cortar radicalmente, Persan indica usar
se destacaram neste ano em mulheres de
colorações temporárias somente na frente e
diferentes tons de pele
Os modelos apresentam criações da coleção Skingraft Outono/Inverno de 2015, durante a Semana de Moda de Nova York
Antenado
Jornal do Meio 880 Sexta 23 • Dezembro • 2016
Cartas Inéditas
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Brasileira revela cartas inéditas do poeta português Herberto Helder
Por MAURÍCIO MEIRELES/FOLHAPRESS
É uma voz que vem de longe, mas familiar para quem a conhece: “Penso que uma pessoa escreve para passar desapercebida, para rodear-se de silêncio, para saber objetivamente que está diferente dos outros, para ocultar-se.” Essas palavras foram escritas pelo recluso poeta português Herberto Helder (19302015) a uma pesquisadora brasileira, no dia 27 de julho de 1975. O documento faz parte de um conjunto de 52 cartas, que estiveram guardadas até agora. A brasileira é a poeta e pesquisadora Maria Lúcia Dal Farra, autora de “A Alquimia da Linguagem”, livro sobre a obra de Herberto. Os dois se corresponderam de maio de 1973 até abril de 1988 -uma troca principalmente intelectual (ou seja, sem indiscrições privadas) e, por isso mesmo, valiosa. Os documentos vieram à tona há cerca de duas semanas, em um congresso na Universidade da Madeira, em Portugal, quando Dal Farra anunciou a doação dos papéis para a instituição. “Não tinha mostrado essas cartas nem para o meu marido. Mas estou com 72 anos, achei que elas precisavam ir para um bom lugar. E não estou sendo indiscreta, não são cartas pessoais, bisbilhoteiras”, diz Dal Farra. Segunda vez O poeta sempre foi defensor feroz de sua privacidade -que também era preservada pelos amigos. Por isso, é incomum sua correspondência vir à tona. Esta é apenas a segunda vez em que isso ocorre desde sua morte, em março de 2015. A primeira foi na revista de poesia “Relâmpago”, dirigida por seu amigo Gastão Cruz, que tornou algumas missivas públicas em abril. Poeta altamente experimental, influenciado pelo surrealismo, Herberto parece se ressentir, em uma carta de 1978, de não receber atenção dos críticos: “Dizem que a minha poesia é ‘impenetrável’ e por isso -conforme me constou- não escrevem sobre
ela. [...] Espero que o tempo me dará [sic] as razões e a razão.” No mesmo ano, tenta definir o que a escrita significava para ele: um meio “instável e precário” de introduzir alguma ordem a si e à sua volta. Um jeito de libertar-se de “uma sufocação interior que contaminava cada instante da vida”. O tom das cartas, destaca Dal Farra, passa principalmente pelo ofício literário -mesmo quando é para renegar textos. Surge também um desejo do poeta de encontrar a harmonia -e por vezes a África aparece como um lugar onde isso é possível. “Eu queria estar em África, no Sul de Angola, ou no deserto, numa região que lá é conhecida como Terras-do-Fim-do-Mundo. Penso que acabarei por aí ir parar, fazendo uma vida o mais primitiva e essencial possível”, escreve ele em 1973. Há outras com desejo de mudar-se de Portugal, e o Brasil surge como destino desejado. Por fim, o poeta termina por se estabelecer em Cascais. “Continuarei a queimar-me em meu próprio lume”, diz o autor. Há uma parte confusa, porém, na correspondência: o autor diz ter temido voltar a Lisboa por “motivos políticos” em 1975 -ou seja, depois do movimento que tirou o salazarismo do poder, quando tudo deveria estar bem. “Não sou de direita. Mas nessa altura, e agora também (até quando?), quem não estava (está) com o partido comunista (estalinista) era (é) fascista”, diz Herberto, acrescentando estar decepcionado com a Revolução dos Cravos. “Nesse ano há uma espécie de recuo imposto pela direita ao movimento do 25 de Abril [a Revolução dos Cravos]. Há um mal-estar dos intelectuais vendo as lutas do movimento afetadas”, diz Arnaldo Saraiva, professor da Universidade do Porto e amigo de Herberto. Uma das partes mais comoventes é quando o poeta reflete sobre o desejo de ocultar-se através da escrita. E vê um paradoxo: “Penso que, se é forçoso estar oculto, aspira-se a que nos desocultem, a que nos tirem
a razão, a que nos deixem desarmados, nus, humanos, frágeis. Porque só assim, descobertos, poderemos ser amados.” Obra completa no brasil Embora fosse considerado um dos maiores poetas portugueses desde Fernando Pessoa, Herberto Helder seguiu quase desconhecido no Brasil -e com um culto restrito a escritores. Desde o começo do ano, porém, sua obra completa começou a ser editada pela primeira vez no país, pela Tinta da China. O primeiro livro foi “Os Passos em Volta” (R$ 69, 176 págs.). Agora, acabam de chegar às livrarias os “Poemas Completos” (R$ 99, 736 págs.). Para o futuro estão programados o “O Bebedor Nocturno”, “Poemas Canhotos” e “Photomaton & Vox”. Herberto havia sido editado no país pela Iluminuras e pela Girafa -mas fazia alterações obsessivas em sua obra, daí que se diga que ele escrevia “o poema contínuo”. Leia trechos das cartas: Penso que uma pessoa escreve para passar desapercebida, para rodear-se de silêncio, para saber objectivamente que está [o grifo é dele] diferente dos outros, para ocultar-se. Alguma coisa a este respeito disse eu na parte final do 2º. vol. de “P.T”, nas “Antropofagias”. Mas tudo isso é complexo: penso que, se é forçoso estar oculto, aspira-se a que nos desocultem, a que nos tirem a razão, a que nos deixem desarmados, nus, humanos, frágeis. Porque só assim, descobertos, poderemos ser amados. A decifração é o único acto de amor. Por isso, apenas se é atingido por certo tipo de tentativa de decifração. Por isso a gente pode rir de quase todas as pretensões exegéticas. Olhamos para nós mesmos, e vemo-nos com a mesma roupa. Até que chega - quando chega - o temido e amado decifrador, aquele que realmente traz chaves, o que traz armas - o guerreiro. Isto é a história, noutro plano - de Jacob e o Anjo? É a história geral e contínua - mas particular e rara - da bela adormecida, de todas as demandas e esperas, de todas as
expectações e atenções, de todas as casas à espera de serem habitadas. Assim na vida; assim na outra vida, cumulada, potencializada, sobrecarregada, mais intensa e significativa, do poema. 27 de julho de 1975 Porque eu sou a minha poesia e, de certo modo, sou o que os meus poemas fizeram de mim. Isto não é atitude literária. Muito mais real do que se possa crer. 17 de novembro de 1977 Afinal, a grande mudança e transformação foi deslocada para o infinito. Enfim, as longas e belas histórias do nada. Continuarei a queimar-me no meu próprio e privado lume. A serenidade é um pensamento dos atormentados. E é pelo desejo de salvações que se vê como funciona quem está perdido. Bilhete lúgubre, este. Não dês importância. Já sei que a minha força está em saber manejar a minha fraqueza. Sou hoje uma espécie de campeão nesta estranha ginástica. (...) Estou em ressurreição lenta. _ 20 de novembro de 1978 Estou num estado lamentável: uma grande depressão. Sinto voltarem todos, ou grande parte deles, os sintomas dos meus piores períodos de depressão. Quatro anos de psicanálise parecem não ter feito muito. A ideia de que vou enlouquecer, obsessões de toda a ordem, insónias, alterações de percepção, enfim: o catálogo inteiro de psicopatologia, como eles dizem. Gostaria de morrer. 4 de março de 1976 Com um psicanalista, passei eu tardes inteiras às voltas com a numerologia do “Apocalipse”, cujas revelações (chegamos a essa conclusão, aliás apoiados em certas correntes exegéticas), para terem um verdadeiro sentido de conjunto, devem ser procuradas num esquema numerológico. Incrível, mas o psicanalista suicidou-se passado um mês! Chamava-se Fernando Medina. Ele procurava conciliar uma quantidade de coisas inconciliáveis; suponho que morreu disso, de inconciliação. Como se morre de insolação. Há sóis demasiado fortes para as nossas cabeças. 31 de setembro de 1978
Jesus e Marilis
Que a alegria deste Natal e a esperança de um futuro melhor invadam seu coração
trazendo paz e alegria para você e toda sua família. São nossos sinceros votos. Boas festas!
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Comportamento
Jornal do Meio 880 Sexta 23 • Dezembro • 2016
Precisamos falar sobre a depressão Por SUZANA HERCULANO-HOUZEL/FOLHAPRESS
Todo mundo entende que alguém fique
com um episódio de estresse crônico intenso
Se o sistema de recompensa e motivação
como uma dolorosa paralisia mental, pois
de cama por causa de pneumonia, pé
e incontrolável, que leva à produção de altos
também perde neurônios dopaminérgicos,
ainda que registre seu sofrimento, o cérebro
quebrado ou amigdalite. Até dengue
níveis do hormônio cortisol. Quem não tem
vai-se com eles qualquer possibilidade bio-
não tem forças para se mover ou pensar: o
é respeitada. Por que uma crise depressiva
predisposição genética sai ileso, mas quem tem
lógica de iniciar movimento, ação mental ou
“sopro” dopaminérgico da alma foi embora.
não é digna do mesmo tratamento?
corre o risco de uma falência catastrófica dos
prazer. Esta é a depressão: um estado não
A crise se resolve mais cedo (com remédios)
Porque quem sofre não fala a respeito, eu diria
sistemas afetados. Em uns, o cérebro começa
de tristeza profunda (embora ela seja filha
ou mais tarde (sem), e pode ser prevenida.
–e assim o problema se perpetua. Quem sofre
a destruir sua própria mielina, e tem início
da falta de prazer ou expectativa dele), mas
Mas a falta de compreensão sobre esta do-
não quer, além da doença, lidar com o estigma,
uma crise de esclerose múltipla, com perda
de total falta de força mental, motivação,
ença que mata temporariamente o sopro da
o que é compreensível. Mas quanto menos
sensorial, motora ou cognitiva.
vontade –qualquer coisa que soe como uma
alma só será eliminada quando quem sofre
se fala, menos se entende que a depressão é
Com a perda de neurônios, o hipocampo joga
emoção positiva.
de depressão decidir falar a respeito.
uma doença real cujos sintomas não são dores
a toalha e entra em alarme máximo e perma-
A depressão vem em graus diferentes, mas ver
Suzana Herculano-Houzel é neurocientista,
no corpo, mas a morte temporária da alma.
nente, só aguardando a catástrofe final. Este
alguém em depressão profunda é assustador.
professora da Universidade Vanderbilt e
Então vamos falar a respeito. Uma crise de-
é o estado de ansiedade crônica, exaustivo e
“Não conseguir sair da cama” é tecnicamente
autora do livro “The Human Advantage”
pressiva é exatamente tão real quanto uma
também autoperpetuante, pois o estresse
correto, mas remete a um adolescente de
(Amazon.com);
crise de esclerose múltipla. Ambas começam
alimenta a si mesmo e só faz a situação piorar.
ressaca. Mais exato seria descrever o estado
suzanahh@gmail.com FOTO: DIVULGAÇÃO
saúde
Jornal do Meio 880 Sexta 23 • Dezembro • 2016
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Sensibilidade ao leite Sensibilidade ao leite não é doença, mas requer cuidados
por TATIANA CAVALCANTI/FOLHAPRESS
Pessoas que possuem intolerância à lactose conseguem ter vida normal se fizerem reeducação alimentar A intolerância à lactose, o açúcar natural do leite e de seus derivados, não é considerada uma doença por especialistas, mas causa muito incômodo às pessoas que a desenvolvem. Alessandra Migotto Zoppi Cunha, médica endoscopista do Instituto Endovitta, diz que os sintomas são dores abdominais, gases, náusea, diarreia e coceira, entre outros. “Se isso acontecer, é preciso investigar. O diagnóstico é feito somente pelo médico, após exames laboratoriais”, explica. O distúrbio é comum e afeta pessoas de todas as idades. Em bebês, a sensibilidade à lactose pode ser observada em recém-nascidos -o que é mais raroe após o desmame. Após essa fase, é mais comum a intolerância surgir ainda na infância ou na adolescência, mas em alguns casos aparece em adultos, segundo Adriane Antunes de Moraes, professora do curso de Nutrição da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Segundo Adriane, a intolerância “acontece porque a enzima do corpo que ajuda na digestão do açúcar natural deixa de funcionar.” Apesar de não trazer complicações graves à saúde, esse distúrbio exige do paciente alguns cuidados ao ingerir produtos com leite. “É preciso fazer uma reeducação alimentar, excluindo ou reduzindo a quantidade e a frequência do consumo de alimentos com lactose. Se houver contato com leite e seus derivados, a pessoa deve tomar suplemento à venda em farmácias para amenizar a rejeição”, explica o nutricionista Alan Scaglione, da Estima Nutrição. Isso deve ser feito sob orientação de especialista. Segundo Scaglione, quem tem intolerância à lactose pode comer queijo e tomar leite, mas deve dar preferência a produtos tipo “lactose zero”. Atualmente, é possível encontrar esses alimentos à venda nos supermercados. Alergia é grave e pode levar à morte Há pessoas que desenvolvem alergia às proteínas do leite, que, ao contrário da intolerância, é grave e pode causar até a morte, segundo a professora do curso de Nutrição da Unicamp, Adriane Antunes de Moraes. “A alergia já é identificada nos bebês. Normalmente desaparece entre os três e quatro anos de idade, mas pode prevalecer na vida adulta”, explica a especialista.
Arte: Folhapress
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Jornal do Meio 880 Sexta 23 • Dezembro • 2016