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TJ ‘livra’ deputados acusados de envolvimento na morte do cabo

AA sequer chegou a ser pronunciado; Chico Tenório escapou de ir a júri no ano passado

VERA ALVES

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Especial para o EXTRA

Conhecidos na década de 90 em todo o estado por suas ações violentas a ponto de ficarem famosos como integrantes da Bancada da Bala dentro da Assembleia Legislativa de Alagoas, os deputados Antônio Albuquerque, Francisco Tenório e João Beltrão (falecido em 2019) chegaram a ser denunciados pelo Ministério Público Estadual como diretamente envolvidos na execução de José Gonçalves da Silva Filho. Cabo Gonçalves, como era conhecido, foi assassinado com mais de 40 disparos de arma de fogo no dia 9 de maio de 1996, quando abastecia no Posto Veloz, localizado na entrada do Benedito Bentes, em Maceió.

Antônio Albuquerque sequer chegou a ser pronunciado pela justiça. No dia 18 de dezembro de 2012 o Pleno do Tribunal de Justiça rejeitou a denúncia contra o parlamentar que havia sido ofertada pelo Ministério Público Estadual com base nas investigações da Polícia, do Gecoc (hoje Gaeco – Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, vinculado ao MP) e da 17ª Vara Criminal da Capital. Albuquerque era acusado de ter arquitetado junto com os também deputados Francisco Tenório e João Beltrão a trama que levaria à execução do cabo. Os detalhes teriam sido acertados na fazenda de AA em Limoeiro de Anadia em um encontro que teve a participação do então coronel Manoel Francisco Cavalcante, apontado como líder da Gangue Fardada, o grupo de extermínio a serviço de políticos que contava em sua maioria com policiais militares, incluindo os acusados de matarem o cabo.

O próprio Gonçalves era apontado como criminoso. Integrava a “equipe do João Beltrão” até ter se recusado a assassinar o então prefeito de Coruripe, José Enéas Gama, um desafeto de JB. Passou então para o lado do deputado Francisco Tenório, que tinha seu próprio grupo, mas teria sido por ele traído. No encontro na fazenda de AA, Chico Tenório se dispôs a avisar quando e onde estaria o cabo para que Beltrão pudesse eliminá-lo.

Tenório teria dado a Gonçalves um ticket para abastecer no Posto Veloz, de propriedade do empresário Álvaro

Vasconcelos (acusado de grilagem de terra) e amigo dos parlamentares e ligado para Beltrão avisando que o cabo estava a caminho.

A alegação do deputado de Coruripe era de que o cabo pretendia matá -lo, mas no julgamento desta semana a irmã de Gonçalves, Ana Valença, afirmou que ele havia retornado a Alagoas apenas para registrar o filho que nascera um ano antes.

Por 15 anos o ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante sustentou que a execução do cabo Gonçalves teria sido arquitetada pelos três parlamentares. Deu detalhes do encontro na fazenda de Antônio Albuquerque e de toda a movimentação no dia do crime, pormenorizando a participação de cada um dos deputados e dos pistoleiros. Chegou a depor inclusive na CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados. Só mudaria a versão dada à PF e também em juízo em 2016, o que levou o Tribunal de Justiça, em 17 de outubro de 2017, a absolver por insuficiência de provas o deputado João Beltrão, denunciado pelo MP como mandante do crime.

Beltrão, que faleceu no dia 21 de dezembro de 2019, chegou a ser preso pelo crime em 2011.

Último parlamentar a conseguir escapar da acusação de envolvimento na execução do Cabo Gonçalves, o deputado Francisco Tenório passou um ano na cadeia. Foi preso no dia 1º de fevereiro de 2011, em Brasília, um dia após o término do seu mandato como deputado federal. Retornou a Alagoas algemado.

Mas também escapou de ir a júri popular. No dia 14 de dezembro do ano passado a Câmara Criminal do TJ despronunciou Chico Tenório da acusação de homicídio qualificado. Prevaleceu a tese do relator, o desembargador José Carlos Malta Marques, segundo a qual “o conjunto probatório colhido, em juízo, é insuficiente para a pronúncia do recorrente em relação ao crime de homicídio perpetrado contra a vítima José Gonçalves da Silva Filho, vulgo ‘Cabo Gonçalves’. Isto porque, a participação do ora recorrente resume-se apenas na hipótese de que o acusado teria se comunicado com o João Beltrão para informar o momento em que a vítima se dirigia ao Posto de Combustível Veloz, sem a indicação de elementos sólidos acerca do seu intuito de matar o ofendido”.

Albuquerque e Chico Tenório assumem agora em fevereiro novo mandato na Assembleia Legislativa.

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