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Alagoanos viraram bucha de canhão na Guerra do Paraguai

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MEIO AMBIENTE

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Há muitas formas de exterminar pessoas. A fome é uma delas; a guerra, outra.

O recrutamento de soldados para a Guerra do Paraguai nem sempre era aquela história de patriotas sacrificando a própria vida em nome do país. Em Alagoas, o império e o governo local se uniram para fazer uma limpa e levar, na marra, tipos humanos tratados como indesejáveis: escravos bocudos ou imprestáveis, mendigos, vagabundos, desordeiros. Em resumo, gente descartável e em quase todos os casos pobre, exportada para o Paraguai à força, muitos sem nenhuma experiência em lidar com armas ou táticas do campo de batalha.

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Era assim mesmo: uma viagem sem volta. Lá ficavam, ocultos, enterrados em covas rasas, nutrindo areia de cemitério. Quem insistia em voltar respirando estava aleijado, amputado ou doido.

O ano era 1867. Desde o início da guerra, em 1864, dois mil alagoanos serviram no teatro da batalha. Nem todos por vontade própria.

Luís Claudio Batista, em sua monografia “Guerra do Paraguai: Peculiaridades do Recrutamento”, apresentada em 2010, pela Universidade Federal do Paraná, mostra que a disputa política e a violência na hora do recrutamento incendiavam as páginas do Jornal do Commercio, influente publicação da época e nacional, por óbvio circulando pelas poderosas mãos do imperador Dom Pedro 2°.

Há relatos de abusos e violência. O então presidente da província alagoana, José Martins Pereira de Alencastre, fechava os olhos para a barbárie. Homens casados eram separados de casa; arrimos de família viravam desordeiros e prontos para viagem; mulheres grávidas ou mães desoladas

Recrutas para a guerra assistiam a seus maridos serem arrastados para a guerra. Apenas aqueles embarcados no vapor Tocantins, Silvas, Santos e Oliveiras:

- Saturnino Gomes de Oliveira, casado, tinha seis filhos. A mulher era cega;

- João Francisco dos Santos, casado, três filhos, mulher grávida;

- Pedro Correia, casado, dois filhos, mulher grávida;

- José Rodrigues dos Santos, casado, pai de três filhos, mãe cega, irmã aleijada e dependente dele;

- João Félix do Nascimento, casado, dois filhos pequenos;

- José Rodrigues de Mello, casado, pai de 11 filhos. E outros tantos e tantos.

“Indiscutivelmente os pobres eram os potenciais recrutas. Mais precisamente os pobres indesejáveis, quer dizer, migrantes, mendigos, vadios, enfim, todo aquele que não gozava de algum tipo de proteção”, escreve o pesquisador do Paraná.

Alencastre, goiano, patrono número sete da Academia Goiana de Letras, negava a violência. Em seu relatório de prestação de contas anual, encaminhado para a Assembleia Legislativa em 1867, o presidente da província cita o caso como “reclamações”. E cita leis.

Na gestão deste presidente da província foram enviados (ou arrastados) 710 praças. Um banho de sangue. Esquecido pelo tempo.

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