IMPRESSÕES
Sexo
Novas práticas, velhos hábitos
FOTO: ANDRESSA SOUZA
FOTOS: WILLIAM SANTOS
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Ano 5 – Nº 29 – Abril de 2014
Histórias de romance, drama e sucesso empresarial fazem parte do cenário moteleiro da Barra do Ceará | Pág. 4 ENTREVISTA Regininha Duarte, do Manias de Você, conta sobre os desafios de falar sobre sexo na televisão | Pág. 6
A geração que presenciou Woodstock enfrenta novos desafios. Além das barreiras físicas e psicológicas, a terceira idade ultrapassa preconceitos e continua em busca do prazer | Pág. 8 FOTO: REPRODUÇÃO
ENTRETENIMENTO QUE INFORMA Jovens buscam na pornografia meio para compreender a sexualidade e iniciar a vida sexual | Pág. 14
PERFIL FOTO: TAVARES NETO
João Nery
PAQUERA ONLINE Aplicativos de relacionamento promovem encontros e até sexo casual | Pág. 15 “Com o passar dos meses, os seios iam crescendo e ele sentia ódio daquele corpo que se desenvolvia ‘troncho’, à revelia do seu sexo” | Pág. 3
O PREÇO DO PRAZER
Variando de R$15 a R$500, a prostituição na capital abrange todos os poderios econômicos | Pág. 10
HÁ QUEM ESPERE Jovens optam pela castidade antes do casamento em nome de uma “relação saudável” Pág. 12
Impressões Sexo
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IMPRESSÕES
Sexo
Jornal Laboratório produzido pela turma do 7º semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Repórteres: Anacelia Ribeiro, Andressa Souza,
Ari Areia, Bárbara Rocha, Diego Sombra, Leidyanne Viana, Larissa Colares, Luana Barros, Maria Viana, Monique Lessa, Renata Nunes, Roberta Souza, Paulo Jefferson Barreto, William Santos.
ARTIGO
portante saber e o que as pessoas querem ler sobre a temática. Ao passo que um jornal pauta discussões na sociedade, também é pautado por elas. Tentar, pois, tratar de um assunto que vai além de saúde e comportamento, mas que envolve crimes, políticas públicas e mercado, é o grande fim deste Jornal Laboratório, que, como o próprio nome sugere, está aqui para experimentar. O destaque desta edição é o sexo na terceira idade. Como vive a geração que presenciou Woodstock? Além das barreiras físicas e fisiológicas, quais são os outros desafios para vivenciar o prazer? Como ultrapassar preconceitos em uma era que cultua a juventude?
Além de todos esses questionamentos, estão em pauta também os cuidados com a saúde. Em menos de dez anos, o número de idosos que contraiu o vírus HIV no Brasil praticamente dobrou: em 2003 foram notificados 935 novos casos de AIDS; em 2012, foram 1.812. A taxa de mortalidade em razão da doença também continua aumentando para os maiores de 60, diferentemente do que ocorre com os outros grupos etários. Aspectos como esse mostram que o tema "sexo" é muito mais abrangente do que estamos acostumados a consumir. Dessa forma, o convite que o IMPRESSÕES faz ao leitor é que vivencie uma nova experiência sobre o sexo: uma leitura prazerosa, informativa e inovadora.
Érika Bezerra de Meneses Pinho*
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Impressão:IMPRESSÕESSEXO Impressa Universitária
Professor orientador: Edgard Patrício
Tiragem: 1.000 exemplares
Projeto gráfico e diagramação: Amanda
As opiniões expressas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.
Jadiel Lima
Fortaleza e o confinamento das sexualidades insubmissas equalificar" ou "devolver o local para as famílias" são palavras facilmente reconhecíveis como parte de um léxico político indisfarçadamente higienista. Na história de Fortaleza, o crescimento urbano foi acompanhado de variadas tentativas de "requalificação" de espaços estigmatizados por atividades como a prostituição. O exemplo recente do Passeio Público, que deixou de ser espaço frequentado majoritariamente pelas prostitutas, não é único na história de nossa cidade. Muito antes, no ano de 1938, uma ordem do então interventor Menezes Pimentel resultou na expulsão das prostitutas das ruas centrais da cidade para casas em um local mais discreto, na descida da Rua General Sampaio, por trás da Estação Ferroviária Engenhei-
Editora Geral: Andressa Bittencourt
CHARGE
Sexo: uma nova experiência
A
Charge: Jadiel Lima
Cavalcanti
Alboino, Vinícius Mateus, Lívia Marques, Nila Gouveia.
EDITORIAL
profissão mais antiga do mundo, o exercício do prazer, o mercado em ascensão. Entre preconceitos, tabus e estigmas, a discussão acerca da temática "sexo" é tão polêmica quanto contraditória: todo mundo gosta, ninguém quer admitir. Mas o que se fala sobre o assunto nem sempre é o primordial. Visando a ultrapassar as típicas abordagens que têm a finalidade de chocar o público, as próximas edições do Jornal IMPRESSÕES vão falar de sexo com outro objetivo. Diferentemente dos jornais de grande circulação - que muitas vezes escondem -, e dos filmes e livros - que às vezes mostram demais -, o IMPRESSÕES busca o equilíbrio: o que é im-
Editores: Camila Aguiar, Joyce Lopes, João Vitor
ro João Felipe. O novo espaço das prostitutas na cidade se tornaria conhecido pelo infame nome de "Curral das Éguas”. Na época, a companhia Ceará Light era a responsável pelo recolhimento do lixo na cidade, utilizando-se de carroças. Os animais da empresa eram mantidos no espaço que, uma vez desocupado dessa atividade, foi destinado pelo poder municipal às prostitutas. A zona de prostituição localizada no bairro Arraial Moura Brasil, dividida nas áreas conhecidas como Curral das Éguas, Cinzas e Oitão Preto, resistiu por pouco mais de três décadas, até que os casebres da região fossem desapropriados, visando à construção da Avenida Presidente Castelo Branco, inaugurada em 1973. A maior parte das mulheres que ali se localizavam
foram então transferidas para os arredores do Farol do Mucuripe, onde já se estabelecia, desde o final da década de 1950, uma área de meretrício nas proximidades do Cais do Porto. Curral, Cinzas, Oitão e Farol são, em Fortaleza, nomes que designaram respostas transitórias do poder público à questão da contradição social. Na história da cidade, portanto, requalificação e remoção, remanejamento e expulsão, são faces de um mesmo ideário higienista, que fundamentalmente não mudou e do qual são vítimas não apenas as trabalhadoras do sexo de ontem e de hoje, não somente os muito pobres ou os "desviantes", mas todos os cidadãos e cidadãs de uma cidade que se produz e se reproduz a partir da divisão.
*Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (2006), Mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2012), com a dissertação “O tempo bom do Farol: transgressão, sociabilidade e afeto nas trajetórias de ex-prostitutas idosas”. Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAS/UFRGS).
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CRÔNICA
Lá e de volta outra vez
Paulo Jefferson Barreto
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embro-me como se fosse ontem da primeira vez que peguei uma Playboy na mão. Sim, eu sei que em tempos de internet uma revista de mulher nua não parece tão empolgante, mas, do auge dos meus 12 anos, ver o corpo sinuoso da Cláudia Ohana nu em pelo (literalmente) era a mais excitante subversão moral a ser colocada em prática. Sim, eu também sei que hoje ela tem idade para ser minha avó e que, já naquele tempo, ela podia muito bem ser minha mãe, mas – convenhamos – a última coisa que eu reparei naquela revista foi o quão velha podia ser a moça estampada na capa. Virei homem. A última vez que senti algo do tipo foi quando descobri Emmanuelle passando nas madrugadas de sábado da Band. As fotos posadas e sem expressão de Ohana não eram nada diante do corpo lisinho e as tórridas cenas de amor fake em Emmanuelle. “Nem todas são peludas” é a única coisa que lembro ter pensado na época. Bobagem, claro! Nada – eu disse nada – pode ser comparado à adrenalina de entrar no mundo dos sites pornôs pela primeira vez. Do auge dos meus 16 anos, descobrir as maravilhas da internet para além do Yahoo foi mais que excitante, foi revelador. Desvendar o sexo, ao vivo e a cores, pode ser um ensinamento para a vida. Claro que, para alguém que foi coroinha até os 10 anos, chegar aos 16 vendo garotas vestidas de colegial em filmes das Brasileirinhas foi o clímax de uma mudança drástica, mas quem nunca? Naquele tempo, não tinha mulher fruta semeando abundância nas tardes de domingo em plena TV aberta. Aí o tempo passa e, depois dos 20, a gente descobre que melhor que assistir é fazer. Perde a graça. O encanto se desfaz e as cenas, que antes eram motivo de excitação, hoje dão vontade de rir. Certo, confesso que me vi novamente vagando pelo submundo da pornografia virtual esta semana – me julguem! Não sei bem quando tudo mudou, mas, dessa vez, o tesão virou tédio. Sete anos depois, tudo continua igual: as mesmas posições e o velho tecnicismo de sempre. A oferta aumentou, é verdade. Tem de tudo para todos: héteros, gays, bissexuais, quem curte cavalos em ação… Enfim, a lista tende ao infinito, mas não sei se ainda vale o risco de levar uma surra da mãe ao ser pego tentado descobrir que diabos é um gang bang. Em terra de mulher melancia, ver garotas travestidas de colegiais safadinhas não tem mais graça.
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PERFIL
A história de um homem que nasceu como mulher De Joana a João. Ente incompreensões e preconceitos, o primeiro trans-homem brasileiro expõe sua trajetória de transformação física e legal Ari Areia
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FOTOS: REPRODUÇÃO
Só queria ser um menino de verdade
Na infância, não conseguia entender por que o tratavam como menina. Na verdade, gostava de jogar bola de gude na praça com os outros meninos. Um dia, quando saía de casa com a mãe, os moleques gritaram de longe: Maria-Homem! O constrangimento fez com que ele se isolasse em casa. A partir de então, as brincadeiras se limitavam ao quintal, e ali ele podia ser quem quisesse e como quisesse. Feito Pinóquio, João sonhava com o dia em que iria acordar menino de verdade. Com o dia em que o pênis atrofiado, que ele tanto puxava para ver se crescia, se desenvolveria e
FOTO: TAVARES NETO
mbora tenha nascido homem, até os 27 anos de idade, João W. Nery tinha documentos e corpo de mulher. De forma clandestina, em plena Ditadura Militar, ele conseguiu documentação masculina, tornando-se, oficialmente, João. Pode parecer confuso, à primeira vista, mas vai ficando mais claro ao passo que conhecemos melhor sua história. Aos 64 anos, João é casado e pai de um filho. Formado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor de dois livros e ativista de Direitos Humanos, é o primeiro trans-homem brasileiro a ter passado por uma cirurgia de adequação corporal ao sexo com o qual se identifica. Assim como o nome de nascimento, Joana, os títulos acadêmicos e todo o currículo acumulado em quase 30 anos ficaram para trás. A partir da transformação, tendo sido considerado analfabeto, não poderia mais clinicar e dar aulas. João parece sério, mas é doce. Cheio de vontade de contar sobre tudo, vai tecendo histórias antigas sobre a vida dele, sobre a época da Ditadura. Conta que durante as férias, na adolescência, visitava o pai, exilado político no Uruguai, e nessas viagens acabou conhecendo o antropólogo Darcy Ribeiro, de quem ficou muito amigo.
tomaria um tamanho normal. Foi por essa época que começou a ouvir amigos da família e parentes tranquilizando seus pais, dizendo que essa “fase” iria passar, que quando chegasse aos 12 anos viraria mocinha. Desde então, completar 12 anos passou a ser o grande pesadelo.
O corpo tomava formas à revelia
João sonhava com o dia em que iria acordar menino de verdade. Com o dia em que o pênis atrofiado, que ele tanto puxava para ver se crescia, se desenvolveria e tomaria um tamanho normal
João imaginava que, na manhã daquele aniversário, a transformação já se daria instantaneamente, por isso nem levantou da cama. Mas as mudanças vieram aos poucos. Com o passar dos meses, os seios iam crescendo e ele sentia ódio daquele corpo que se desenvolvia “troncho”, à revelia do seu sexo. “O que sobrava em cima faltava em baixo”, lembra. E passou a esmurrar aqueles seios para ver se paravam de crescer. Foi quando resolveu se envolver com esportes. Nadava, praticava salto, chegou a ganhar prêmios nacionais. Dedicado aos treinos, ia percebendo que, se mantivesse a disciplina e aumentasse a intensidade dos exercícios, to-
maria mais forma muscular, e foi o que fez. O corpo era seu, ele é que deveria modelá-lo como bem quisesse. No entanto, pouco tempo depois, veio mais um golpe desse organismo que insistia em dar rasteiras nele: a “monstruação”. Aquilo abria os olhos dele para uma realidade interna do seu corpo que ele fazia questão de evitar lembrar que existiam.
“Não é uma luta contra carne ou sangue”
“Não é o pênis que faz um homem”, disse uma vez. Ele mesmo realizou uma histerectomia (retirada do útero) e retirada das mamas, mas não fez faloplastia (cirurgia de aumento peniano) e nem por isso deixa de ser tão homem quanto qualquer outro. João lançou mão da intervenção médica sobre seu corpo porque era um anseio latente no seu íntimo e porque era uma forma de se colocar no mundo afirmando algo que era muito claro para ele, mas não para o restante das pessoas. No entanto, independentemente de qualquer cirurgia, João é homem. Ele lembra que nunca procurou uma relação
lésbica, embora haja transexuais de orientação homossexual. Sempre procurou se relacionar com mulheres que o enxergassem como o homem que ele é, como o homem que nasceu sendo.
Projeto de Lei
João W. Nery dá nome ao projeto de lei sobre identidade de gênero, de autoria do deputado Jean Wyllys, que tramita na Câmara dos Deputados Federal desde o começo do ano passado. A nova legislação derruba a necessidade de laudo médico para comprovar transexualidade e facilita a obtenção de novos documentos. Segundo João, “não basta ser operado, tem que entrar na Justiça, e, se o seu processo cair na mão de um juiz transfóbico, é capaz de você nem conseguir”. A trajetória de João Nery está documentada em dois livros autobiográficos: “Erro de pessoa: Joana ou João” (Record, 1984) e “Viagem Solitária” (Leya, 2011).
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BARRA DO CEARÁ
Às margens do rio que guarda a geografia sentimental de Fortaleza
Motéis destacam-se na paisagem do bairro mais antigo da cidade. Pioneira no ramo, a Barra do Ceará abriga histórias de quem (con)vive com esses empreendimentos comerciais Luana Barros, Roberta Souza e William Santos
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esde que o português Martim Soares Moreno chegou ao Ceará, em 1611, a paisagem natural da Barra do Ceará ocupa um lugar especial no imaginário dos apaixonados. A fama que ultrapassa gerações tem, de fato, raízes na História. Foi na Barra onde Fortaleza nasceu e também onde surgiram os primeiros motéis da cidade. Eles começaram a surgir na década de 1970, mas os anos 80 foram os mais férteis para a instalação desses estabelecimentos. Nessa época, a Barra era o bairro com a maior concentração de motéis em Fortaleza. “Aqui, eles ganharam fama por causa da visibilidade nas avenidas principais e pelos nomes curiosos, como Cê que Sabe, Cê Decide, Vamus e
Butterfly. O primeiro motel de ponta de Fortaleza foi o Tropical Motel, que até hoje funciona no bairro”, explica o historiador e pesquisador da Barra do Ceará Adauto Leitão, 47 anos, dos quais 36 foram vividos na beirada do remanso. Os números do pioneirismo, entretanto, não resistiram ao passar dos anos. Hoje, o bairro com mais
motéis na cidade é o Centro, que contabiliza 38. Na Barra, eles não chegam a 30. “Mas os perfis ainda são diferentes. Os motéis do Centro funcionam, em sua maioria, na hora do almoço, que é a ‘hora da infidelidade’. Esse é o horário de rendimento deles. Aqui na Barra, isso é diferente”, justifica.
Barra Democrática Números à parte, em um rápido passeio pela Barra do Ceará, os motéis são elementos comuns à paisagem. Fachadas grandiosas, onde a sofisticação é percebida facilmente. Outras se camuflam. À primeira vista, parecem apenas casas, mas, sob olhar mais atento, as placas que indicam preços trazem a percepção de que ali também é um motel. Diante das diferenças, a pergunta que fica é: para quem são os motéis da Barra do Ceará? “O perfil daqui é o perfil do frequentador. A Barra é democrática, tem (motéis) de todos os tipos”, esclarece Adauto Leitão. A variação nos perfis, no entanto, carrega também aspectos negativos. “Aqui tem uma concorrência desleal”, conta Reginaldo Araújo, 42, dono do Elo Motel, que funciona cercado por outros quatro. As diferenças nos tipos de motéis refletem nos preços, que podem chegar a apenas cinco reais por uma hora de permanência. “Ninguém pode ter um preço desse, que não paga nem energia, não paga imposto, não paga nada” criticou o proprietário. Já para quem vive no bairro, a grande quantidade - e variedade - de motéis não impressiona. Acos-
tumados com o número que, para aqueles que vivem em outros bairros da cidade, pode ser grande, o motel é visto apenas como mais um empreendimento comercial. Para o pesquisador Adauto Leitão, os motéis não são um fator preponderante na identificação dos moradores com o lugar. Também não é assim que eles querem que a Barra seja vista por toda a cidade. “Queremos passar para Fortaleza que aqui é história, que aqui nós temos patrimônio ambiental e histórico”, esclareceu.
Os filhos da Barra O berço de Fortaleza abriga vários filhos biológicos e também acompanha o crescimento de alguns adotados de outros bairros da cidade. São pessoas como Silvia, Daniele, Sheila, César e Reginaldo, que traçam caminhos diários em busca da qualidade de vida e encontram o sustento por meio de uma atividade em comum: o trabalho nos motéis da Barra. O pesquisador Adauto Leitão considera que a relação empregatícia entre os moradores da Barra e os motéis do lugar são grandes facilitadores do negócio. “Pelo horário de funcionamento do motel, que é de 24 horas, você ter uma mão de obra perto, acessível, isso facilita muito”, explica. De gerente a jardineiro, as funções que envolvem esse ramo empreendedor podem provocar curiosidade aos olhos externos, mas não deixam de ser naturais do ponto de vista de quem as executa. A diferença é sutil: ali você trabalha com segredos. E eles costumam render boas histórias. Silvia Coutinho, 49, é recepcionista do Elo Motel desde 2005, mas ainda jovem, aos 23, teve seu primeiro emprego nesse tipo de empreendimento. “Criei
FOTO: WILLIAM SANTOS
Aqui, eles ganharam fama por causa da visibilidade nas avenidas principais e pelos nomes curiosos, como Cê que Sabe, Cê Decide, Vamus e Butterfly ADAUTO LEITÃO Historiador
O perfil daqui é o perfil do frequentador. A Barra é democrática, tem (motéis) de todos os tipos ADAUTO LEITÃO Historiador
(5) FOTO: LUANA BARROS
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Na suíte Kiss do Elo Motel, são realizadas despedidas de solteiros, chás de panelas e diversas outras festas. Além de ser o maior apartamento, ela ainda conta com Pole Dance, bar privativo, banheira de hidromassagem e cascata.
Negócios e futuro Para além das histórias
Aqui eu sou cega, surda e muda. Até se for o irmão da gente, não pode dizer nada para as esposas SILVIA COUTINHO
Recepcionista
Quem trabalha em motel não é assim não. É 24 horas direto. Não tem fim de semana, nem feriado ou dia santo DANIELE ANDRADE Empresária
de quem trabalha 24 horas nos motéis, destaca-se o rendimento com essa atividade comercial. Reginaldo Araújo revela que a passagem de cerca de 1.800 casais por mês no Elo Motel garante um faturamento em torno de R$ 50 mil. Já Daniele Andrade, dona da rede de motéis Emoções, com quatro sedes em Fortaleza, sendo uma delas na Barra do Ceará, destaca que, apesar de lucrativo, o ramo é bastante trabalhoso. “Eu sempre falo para os meus amigos que trabalham com outra coisa: ‘Vocês têm sorte. Quando dá seis, sete horas da noite, vocês fecham a pasta e vão para casa’. Quem trabalha em motel não é assim não. São 24 horas direto. Não tem fim de semana, nem feriado ou dia santo”, conta. Mesmo sendo um negócio lucrativo, o pesquisador Adauto Leitão reconhece uma diminuição do número de empreendimentos no bairro, o que vem deixando a Barra em posições inferiores no ranking da capital. “É provável que esses espaços sejam transformados em outras coisas, como pousadas. Mas o motel da Barra não vai se acabar, exatamente por causa dessa exuberância do rio, da praia, desse ambiente mais livre. Sempre vai ter motel”, acredita.
CRÔNICA
Entre moitas e muricis Luana Barros
ILUSTRAÇÃO: NATHANAEL FILGUEIRAS
minha filha, tenho meu cantinho, tudo por causa daqui”, conta. Com o olhar tímido, o pensamento dela vai longe quando questionada sobre as situações curiosas que já presenciou. Mas, na hora de falar, esbarra na orientação profissional de não entrar em muitos detalhes sobre os clientes. “Aqui eu sou cega, surda e muda. Até se for o irmão da gente, não pode dizer para as esposas”, explica. No entanto, alguns casos ganham maiores repercussões e não ficam escondidos entre quatro paredes. O responsável pela lavanderia do Elo Motel, Raimundo Cesarino Félix, 50, e a camareira Daniele Alves da Silva, 32, relembram casos de morte em alguns motéis da Barra. “Acontece quando os homens tomam a ‘azulzinha’ (estimulante sexual), porque às vezes eles têm problemas no coração e nem sabem. Para a gente, quando acontece uma coisa assim, é chato. Lá no outro motel (onde trabalhei), o proprietário queria pagar psicólogo para os funcionários, porque ninguém queria mais entrar no apartamento”, conta Daniele. Raimundo, por sua vez, afirma que esse tipo de incidente não é tão comum.
A
vista do Rio Ceará encanta. Pescadores lançando suas redes, crianças nadando ou apenas o barulho das ondas hipnotizam os que por ali passam. Do outro lado do rio, barracas preenchem a faixa de terra, além de várias pequenas casas, já mais distantes da beira da água. A ponte que liga Fortaleza e Caucaia é um ruído na paisagem, forçando a cidade dentro do rio. A paisagem tão hipnotizante, muitos anos antes havia ainda menos de urbano nela. Bem antes da construção da ponte, as margens opostas do rio, que, de longe, avistamos eram habitadas por um grande muricizal, até onde a vista poderia alcançar. Ou, quem sabe, além. Por entre a vegetação tão típica das areias nordestinas, cresciam frutos doces. Mas não eram apenas frutos que ali cresciam. Num bairro tão ligado à sensualidade, e (por que não?) à sexualidade, a vegetação é local propício. Em um bairro com tantos motéis, nem sempre é preciso quatro paredes. Há teto mais bonito que o próprio céu? O chão de areia, as estrelas e o som do bater das ondas. Como poderia algo ser mais afrodisíaco? Te(n)são a flor da pele. Quantos casais passaram pelo muricizal em seus anos de ouro? Quem andou por lá, não dá para dizer. Pescadores, moradores, turistas ou alguém que estava por ali e resolveu aproveitar. Nenhum órgão realizou ou realizará a pesquisa para saber quantos casais lá estiveram aproveitando a sombra do muricizal. Mas por toda a Barra estão os filhos da moita. Os filhos do muricizal.
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ENTREVISTA
“ Na cama com educação e prazer, só no Manias de Você ”
A carreira começou no rádio, mas foi na televisão que ela firmou seu espaço. As críticas ao Manias de Você foram muitas. Para Regininha, a melhor resposta foi o tempo: são quase dez anos no ar Diego Sombra e Maria Viana trocava um na frente do outro mesmo. Meus pais criaram a gente sem a maldade, com muita liberdade de perguntar, de falar. Não tinha esse negócio de “psiu, cala a boca que chegou a criança na sala”. Às vezes ela (mãe) falava uma verdade suavizada. “Como é que eu nasci?” (perguntava). “Veio na cegonha”, ela não dizia isso, não. Ela dizia “tua mãe tava namorando com teu pai, aí teu pai plantou a sementinha aqui dentro”. Impressões - Essa criação refletiu na educação sexual que você teve dentro de casa? Regininha - Eu sou da década de 1980. A minha mãe não era muito esclarecida. Ela casou com 15 anos... Muita coisa a gente ficava na dúvida. Ela até queria ajudar, mas pouco sabia. O que eu acho que ajudou muito foi a liberdade, sem ter maldade. Hoje, eu acho muito bonito o que foi feito. Impressões - Como foi que você entrou na área da comunicação? Regininha - É uma grande história. Eu fui fazer uma visita a minha vó, que mora em Natal (capital do Rio Grande do Norte). Eu fui conhecer, na época, a (estação de rádio) Transamérica. Eu tinha muita vontade...Ficava brincando em casa que eu ia ser atriz, locutora, jornalista. Eu queria ser cantora... (risos).
Eu fui visitar essa rádio. Quando eu cheguei lá, eles estavam esperando por uma carioca chamada Cristina. Ela ia gravar umas vinhetas para a rádio. Quando eu cheguei (do Rio de Janeiro), chiava! Parecia uma panela de pressão.“Oi, queria entrar na rádio” (imita sotaque carioca). A recepcionista (perguntou): “Cristina?”. Eu entendi ela falar “Regina”. Eu disse: “Sim”. Ela (respondeu): “Pode entrar” (risos dela). Eu entrei. Quando cheguei lá, o rapaz (funcionário da rádio) falou: “Vamos gravar, já tamo atrasado”. Eu (disse): “Ah, vamos, vamos”. Chiava que Nossa Senhora! Mas eu tinha uma entonação, sabe? Eles amaram, chamaram o diretor. “Olha, a Cristina é mais do que a gente pensava” (disseram). Isso eu tinha uns 17 anos. Aí me pagaram como se fosse hoje uns 500 reais. Eu lisa, sem um real, ganhei 500 reais. Mas a Cristina que tinha que chegar e não chegou, ela confundiu o dia. E o superintendente já tinha dito que queria eu, que não queria nem mais ouvir a voz da Cristina, não queria nem mais o trabalho dela. Resumindo: eu acabei ficando amiga dessa Cristina, somos amigas até hoje. Ela foi trabalhar numa outra rádio lá (em Natal), e assim começou. Transamérica Natal, e depois eu vim para Fortaleza. Eu trabalhei na FM Cidade, na Jovem Pan, e também na Tropical. Fui trabalhar na Jangadeiro. Fui a primeira
Os primeiros programas eram uma tristeza. Eu não entendia muito bem o que o diretor queria me passar. Eu achava que eu tinha que ser muito sensual
radialista a fazer fofoca na FM, porque tinha na AM, mas na FM não tinha. O programa chamava Regininha Tititi 88. Dali fui embora para a Espanha e fiquei lá seis anos. Passou um tempo, o João Inácio (apresentador cearense) me ligou perguntando se eu não queria vir trabalhar com ele na (rádio) Verdes Mares. E o programa do João Inácio Júnior tem uma audiência incrível. Então, quem não me conhecia passou a conhecer. E foram 12 anos ao lado do João Inácio. Impressões - O que levou você depois para o Manias? Regininha - Eu tava no João Inácio. O Tadeu Nascimento apresentava o Rota 22 (programa policial) e me perguntou se eu não queria ir para a TV fazer matéria policial. Eu fui a primeira repórter feminina do Rota 22. Quando eu encerrava as minhas matérias, todos os presos (diziam):“Ei, Regininha, eu sou teu fã. Ei, Regininha, você é gostosa, hein”. O Roberto Moreira (atual diretor de jornalismo da TV Diário) começou a gostar. Decidiram, então, me tirar de repórter policial e me dar um programa. “Ó, nós queremos que você apresente um programa sobre sensualidade, sobre sexualidade. A gente acha que tem tudo a ver. Você na TV é muito sensual, sua voz é muito sexy.” Eu assumi, mas os primeiros programas eram uma tristeza. Eu não entendia muito bem o que o diretor queria me passar. Eu achava que eu tinha que ser muito sensual. E o diretor (dizia): “Regininha, você tem que ficar mais natural. Você precisa ser só sensual”. E eu erotizava. Resumindo: eu fui me aperfeiçoando e taí, o Ma-
A entrevista foi realizada no salão de beleza do marido de Regininha. A presença dos clientes não foi empecilho para poses mais provocantes
FOTO: DIEGO SOMBA
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egina Duarte da Silva, ou simplesmente Regininha, é a dona da voz sensual que, há quase dez anos, entra nas casas dos telespectadores do Manias de Você, programa veiculado pela TV Diário na madrugada de quarta-feira. A emissão de conteúdo adulto sobreviveu às críticas e ao preconceito dos que não admitiam o sexo ser abordado com naturalidade na televisão. À revelia dos conservadores, o verbo dela é simples e questiona o que seria impronunciável. A “transgressão”, contudo, teve um preço e rendeu à Regininha toda a sorte de estigmas. Na entrevista concedida ao IMPRESSÕES, ela fala das dificuldades iniciais à frente do Manias, conta sobre a carreira profissional até chegar à apresentação do programa e revela detalhes da vida pessoal. Impressões - Como foi a sua infância? Que memórias você tem desse período? Regininha - Tive uma infância muito feliz, apesar de muito humilde. Eu sou a única filha mulher. São três homens e eu de mulher. E, como era um quarto para mim e para os meus irmãos, a gente nunca teve esses pudores. A gente se
(7) FOTOS: DIEGO SOMBRA
IMPRESSÕESSEXO
Os meus pais criaram a gente assim: com muita liberdade de perguntar, de falar. Não tinha esse negócio de “psiu, cala a boca que chegou a criança na sala”
Ela nasceu no Rio de Janeiro, mas foi no Ceará que construiu a carreira profissional. Hoje ela diz ser “cearoca”. Do Rio, restou o sotaque, amenizado entre expressões cearenses típicas. nias tem (quase) 10 anos. Impressões - E como foi a recepção do público? Regininha - Eu recebi todas as críticas possíveis (risos). (Falavam) Que o programa era de “putaria”, que o programa era de sacanagem, que eu tava fazendo sem-vergonhice na televisão. Mas o Roberto Moreira, o Garcia (coordenador do Núcleo de Entretenimento da TV Diário) e o próprio Ricardo Nibon (superintendente do Sistema Verdes Mares) disseram:“Deu certo!”. Eu (perguntava): “Como? Todo mundo me chamando de rapariga, e deu certo?”. Eles (respondiam): “Você incomodou, você tá sendo vista”. E eu fui me adaptando às críticas. Impressões - Como foi para você o impacto inicial? Regininha - Eu chorava... No início diziam: “Olha lá, aquela menina que faz sexo na televisão!”. Eu avançava nas pessoas! (Dizia) “O quê? Você já me viu transando na televisão? Você já me viu fodendo na televisão?”. Eu queria discutir com a pessoa. Até que eu cheguei à conclusão de que não valia a pena, e começaram a surgir os fãs do programa. Impressões - Existe algum tema que não é tratado no Manias? Vocês têm algum tabu? Regininha - A gente fala sobre tudo. O programa é todo sensual e principalmente educativo. Erótico não tem. O que acontece? Às vezes, a pessoa liga a televisão e bem na hora está passando a “Dica de filme” que é um trechinho de dois minutos no finalzinho e no co-
meço de cada bloco, como uma coisa pra ficar picante. Mas não tem (imagem de) penetração. É proibido penetração. Você vê ali o cara insinuando que vai fazer, mas você não vê o ato em si. Impressões - O programa já começou com a intenção de levar educação sexual ao público ou realmente tinha um apelo mais erótico no começo? Regininha - Não, ele já começou com essa intenção. Quem erotizava era eu (muitos risos). Tanto é que o diretor chamava muito a minha atenção. Impressões - Quando você começou a perceber a importância do programa no sentido da educação sexual? Regininha - Eu comecei a perceber quando as pessoas começaram a me parar nas ruas, falando: “Ei, Regininha, aborda aquele tema lá sobre sexo anal. Eu sou louca pra fazer com o meu marido. Ele insiste, insiste, mas eu não tenho coragem, dói...”; “Regininha, tô grávida e tô rejeitando o meu marido porque eu tenho medo de machucar o bebê. É verdade que machuca?”. Adolescente! Nossa, adolescente me procurando demais, fazendo perguntas. Porque o adolescente tem um tabu muito grande em casa, não conversa com os pais sobre educação sexual, vida sexual... Impressões - O seu lado pessoal foi influenciado por conta do Manias? No começo seus namorados ficavam com ciúme? Regininha - Ai, nossa! Impressões - O fato de ter a imagem diretamente ligada
ao Manias, imagem de mulher sensual... Engraçado, toda vez que eu vou fazer uma entrevista, as pessoas me perguntam muito isso: se eu sou cantada demais. Não sou cantada. Acho que passa um pouquinho daquele estigma: “vish, a Regininha deve saber tudo de sexo!”. Eu acho que o homem acaba ficando com medo, sei lá! Impressões - Quais são as principais dificuldades de falar sobre sexo na televisão? Regininha - A hipocrisia das pessoas. As pessoas são muito hipócritas. Elas querem ser o que elas não são, fingem ser o que não são, o que nunca serão. Impressões - Se você pudesse deixar um recado para quem não conhece o Manias, para quem não assiste e quem tem preconceito de ouvir esse tipo de assunto na televisão, o que você diria para essas pessoas? Regininha - Eu diria que antes de você criticar o Manias, a apresentadora ou qualquer pessoa, conheça primeiro a história dela. Veja, para você criticar de uma forma coerente. Eu acho que o público é tão preconceituoso, que toda vez que a gente fala sobre gays dentro do programa, a audiência baixa. Só para você ter uma idéia do preconceito das pessoas. E para os preconceituosos, pras pessoas que falam demais, eu sempre digo o seguinte: “Vocês riem de mim por eu ser diferente, e eu rio de vocês por vocês serem todos iguais”. Bob Marley.
Ela diz não se importar mais com as críticas. Soube responder a elas com os quase dez anos de trabalho à frente do Manias.
Regininha confessa que a habilidade com os pincéis da maquiagem só veio depois de muita prática. Enquanto se maquia, não para de responder às perguntas sobre vida e carreira.
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IDOSOS
Quem disse que a vida sexualmente ativa precisa acabar depois dos 60? As transformações físicas e psicológicas da terceira idade não acarretam necessariamente o fim da prática sexual, mas maiores cuidados consigo e com o parceiro, além de mudanças no conceito do que é o sexo Andressa Souza FOTOS: ANDRESSA SOUZA
E
ra agosto de 1969 quando milhares de pessoas reuniram-se em Woodstock, um dos maiores festivais de rock da história, que marcou o lema da juventude da época: “sexo, drogas e rock’n’roll”. Quase 45 anos depois, a geração que viveu do “amor livre” ao estouro da AIDS chega à terceira idade buscando uma forma de manter uma vida sexualmente ativa e saudável. Ainda que hoje se enquadrem na categoria genérica de “idosos”, ou seja, pessoas com 60 anos ou mais, são diversos os históricos de vida sexual, somados às alterações fisiológicas e psíquicas do amadurecimento na construção de modelos possíveis para a vivência do sexo. “Eu tenho 74 anos e, para mim, eu sou uma mulher normal, é como se eu tivesse 20. Ou talvez algumas que têm 20 não sintam o que eu sinto”, defende a aposentada e dona de casa Tereza Araújo. Cabelos tingidos de loiro, uma flor pendurada nos fios, cada unha pintada de uma cor diferente: a vaidade nunca abandonou a mulher, que considera o próprio corpo lindo, apesar do envelhecimento natural, e usa a autoconfiança em seu favor nos momentos de paquera. Com uma energia de dar inveja aos companheiros de dança de salão, Tereza conta que gosta de sair para se divertir e também namorar. A aposentada preza pela liberdade conquistada recentemente, pois afirma que passou a viver bem mais após os 60, e é enfática na defesa desse direito: não quer se prender a homem nenhum. “Hoje me sinto mais ativa, na idade em que eu estou. Eu me soltei, vivia muito presa”, confessa. Apesar de extrovertida, Tereza prefere não revelar a frequência de suas relações, mas deixa a entender que está melhor do que muito jovem por aí.
“Vai da cabeça de cada um. Se você pensa assim, você fica fria. Para mim isso não existe, para mim homem não acabou não, continua do mesmo jeito. Acho que eu tô é mais quente”, acredita a septuagenária Tereza Araújo.
Mudanças
Edilce Barata, 60, é precavida e sempre tem um preservativo na bolsa. Para a aposentada, o prazer da vida sexual parece ter de fato se iniciado com a maturidade, o que para uns pode ser visto com estranhamento em razão de processos naturais do envelhecimento, como o fim do ciclo ovulatório para as mulheres. “A menopausa é consistentemente associada com a dispareunia, a dor durante o ato sexual”, aponta o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) no Ceará, João Bastos. A conexão é feita por conta da diminuição hormonal feminina, que impede a formação da secreção vaginal capaz de fazer a mulher sentir desejo. “A mucosa vaginal fica seca, e as mulheres ficam mais sensíveis. Quando tem a penetração, dói”, explica a enfermeira e gerontóloga Gerídice Lorna, especialista em saúde do idoso. Nesses casos, são recomendados o uso de lubrificantes ou reposição hormonal.
Diferentes históricos de vida sexual pregressa, somados às alterações fisiológicas e psíquicas do amadurecimento do organismo constituem atores distintos para a construção de modelos possíveis para a vivência do sexo na terceira idade
No caso dos homens, a perda da ereção e da energia sexual é natural por causa da diminuição dos níveis do hormônio testosterona, a andropausa. Quando se acrescenta a isso medicações cada vez mais comuns para idosos, como os de controle de diabetes ou hipertensão, a continuidade da libido e da atividade sexual torna-se ainda mais complicada. Nesse contexto, para alguns casais, a chegada da terceira idade com suas transformações fisiológicas e psicológicas proporciona uma mudança no entendimento do que é o sexo. Muito além da mera penetração ou da preparação para ela, as chamadas “preliminares”, a maturidade física e emocional dos parceiros eleva ações como carinhos, beijos ou até cuidados com o bem-estar do outro à categoria de relação sexual. É o caso de Jurandir Costa, 75, e Regina Costa, 67, casaFOTOS: ANDRESSA SOUZA
dos há 44 anos. Operado do coração e tomando remédios para controlar a pressão arterial, o marido não pode se valer de estimulantes como o Viagra para auxiliar nas relações. “Sentir falta a gente sente, porque a vida não é mais como era, aquele prazer que a gente sentia, que toda noite podia fazer amor. Hoje não, já demora mais, é mais cansativo”, ele justifica. É aí que entra o companheirismo e a amizade construídos ao longo dos anos. “O sexo não acaba porque sexo não é apenas aquela loucura de amor que você quer chegar até o orgasmo. É diferente de quando você é jovem. Hoje, ele com 75 anos, o que é o sexo para nós? Aquele respeito, aquele carinho, não deixar de fazer o que ele gosta, continuar tendo cuidado”, enumera a esposa, Regina. Por causa dessas dificuldades, é na base da conversa e do apoio mútuo que o obstáculo é contornado. “Eu preciso tomar uma precaução para que ele não fique triste. Pode rolar uns abraços, uns beijinhos. Sexo para nós é isso, essa compreensão”, diz.
Aventuras
Para a costureira e professora de dança Edilce Barata,
A vaidade da juventude acompanhou o amadurecimento de Tereza Araújo, 74.
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Após 44 anos de casamento e companheirismo, o sexo é diferente para o casal Jurandir, 75, e Regina Costa, 67. 60, a terceira idade é um momento de descobertas. Casada por 26 anos com um homem que a maltratava, as experiências sexuais foram traumáticas até o momento em que conseguiu se separar. “Daí em diante eu virei uma tarada”, brinca. “Eu tinha aquela vontade de ser tocada, de ser amada. Eu queria muito sexo, mas tinha medo”. Há sete anos, Edilce conheceu o atual namorado, com quem vive entre o prazer físico das aventuras sexuais e o reencontro com as possibilidades de romance. Bem humorada, a mulher confessa que não tem problemas em usar produtos, como géis lubrificantes, ou “brinquedinhos” para apimentar a relação. Graças ao tratamento de um câncer de próstata, o companheiro também precisa de ajuda, o que conseguiu ser resolvido com ampliação das “preliminares” e compreensão para com os limites do outro. “Como ele acha que não vai ter ereção, usa de todas as artimanhas para me satisfazer”, conta. “Hoje, para mim, sexo significa o meu desejo em uma troca dos dois lados”.
NÚMERO DE IDOSOS COM DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS CRESCE NA ÚLTIMA DÉCADA A maturidade não exime os maiores de 60 anos da prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Pelo contrário, as fragilidades imunológicas oriundas do passar do tempo fazem com que os cuidados devam ser redobrados, o que não se mostra uma medida comum, como apontam algumas pesquisas. De acordo com o Boletim Epidemiológico AIDS e DST de 2013, elaborado pelo Ministério da Saúde, com dados coletados até a metade do ano
passado, já são 20.605 brasileiros acima dos 60 anos infectados com o vírus HIV, dos quais 13.090 são homens. Somente nos últimos dez anos, a quantidade de notificações para novos casos de AIDS praticamente dobrou entre os idosos. Em 2003, foram 935 novos contaminados, passando para 1812 em 2012, o que representa um aumento de 93,79%. Essa é a única DST com notificação obrigatória ao Ministério. Na opinião da gerontóloga Gerídice Lorna, especialista em saúde do idoso, boa parte desse índice deve-se à falta de abertura para as conversas sobre sexo na terceira idade dentro das famílias e até mesmo dos consultórios médicos ou grupos de idosos, além da combinação entre prostituição, drogas e medicamentos para ereção, como o Viagra. “Em muitos casais, as mulheres não querem mais fazer sexo porque se tornam mais ressecadas e a relação não é prazerosa, e sim dolorosa. Aí
os maridos vão procurar na rua. Tem muitas meninas da periferia que estimulam os idosos a, por conta da aposentadoria, fazer qualquer coisa sexual, seja sexo oral, seja masturbação, para ganhar uma pedra de crack”, aponta a especialista, que também trabalha como enfermeira há 16 anos no bairro Pirambu, na periferia de Fortaleza. Ainda segundo o Boletim Epidemiológico AIDS e DST de 2013, a mortalidade em decorrência do vírus HIV vem diminuindo em diversos grupos etários nos últimos anos, com exceção da faixa da terceira idade. Entre os homens de 55 a 59 anos e de 60 anos ou mais, o aumento foi de 22,7% e 33,3%, respectivamente. Entre as mulheres, observou-se redução na taxa de mortalidade nas faixas etárias de até 9 anos e de 20 a 34 anos. As demais apresentaram crescimento de 2003 para 2012, com destaque para a de 60 anos ou mais, que demonstrou aumento de 81,3%.
% NÚMEROS 20.605 Idosos com AIDS no Brasil
7.515 Mulheres
13.090 Homens
93,8%
Percentual do aumento nos casos de AIDS em idosos no Brasil entre 2003 e 2012
81,3%
Crescimento da taxa de mortalidade de idosos em decorrência da AIDS (2003 a 2012)
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PROSTITUIÇÃO
Preço do programa em Fortaleza varia entre R$15 e R$500 Quanto mais exigente o cliente, maior será o valor cobrado pelo profissional. Nesses casos, a imaginação pode custar caro Anacélia Ribeiro, Leidyanne Viana e Renata Nunes FOTO: DIVULGAÇÃO
O
cenário de muitas regiões em Fortaleza se transforma ao anoitecer. O fluxo habitual de transeuntes é substituído pela movimentação de garotas de programa, travestis e michês que chegam para assumir seus “pontos”. Com preços que podem variar de R$15 até R$ 500 ou mais, outra noite de trabalho se inicia no ramo da prostituição. Seja nas esquinas de grandes avenidas, nas praias, em pequenas casas de lazer ou nos ditos “cabarés de luxo”, apenas um consenso dita o manual da prostituição: os valores precisam ser acertados. Em pontos de esquinas, cobra-se apenas pelo serviço, já nas casas, o valor se aplica ainda pelo quarto escolhido ou local externo do encontro. Porém, os clientes devem estar sempre cientes das regras. Contam a favor dos profissionais do sexo os belos corpos em trajes ousados, fator importante na definição do preço. A concorrência é outro elemento essencial que contribui para baixar os valores: fidelidade e frequência do cliente são premiadas com descontos. A socióloga Maria Lourdes dos Santos estuda a prostituição masculina nas ruas de Fortaleza e explica a definição dos preços. “O valor cobrado varia de acordo com o profissional e seu cliente. Quanto mais o cliente exige, mais o profissional satisfaz o seu desejo e, consequentemente, cobra mais. É isso que acontece e quase sempre é previamente acordado entre as partes”, diz. Com relação à autonomia nas ruas, grande parte dos profissionais afirma ser “independente”: “Na rua, em função da condição a que estão submetidos, eles não necessitam de alguém para intermediar. Eles se mostram à clientela que, de acordo com o seu desejo, aceita ou não o programa e o valor cobrado”, explica a socióloga.
Tipo de mouse se transforma em leitor de Braille para cegos
A qualidade da profissional, duração do programa, local combinado e os fetiches que o cliente exige, desde posições até fantasias, determinam a variação de preço
Periferia
O valor cobrado varia de acordo com o profissional e seu cliente. Quanto mais o cliente exige, mais o profissional satisfaz o seu desejo MARIA LOURDES DOS SANTOS Socióloga
A Avenida Francisco Sá, na Barra do Ceará, é um dos endereços da prostituição em Fortaleza. O ambiente é hostil e pouco iluminado. As garotas se dividem pelas calçadas ou circulando pelas ruas atentas aos possíveis clientes que passam nos carros. Michelle*, 25, trabalha nessa área quase todos os dias e conta que nem sempre fica no “ponto” porque precisa pagar “aluguel” pela calçada. Segundo ela, moradores de rua, que se dizem os donos do lugar, cobram R$ 20 por noite e ameaçam de morte as que se recusarem a pagar. A jovem diz que faz de 4 a 5 programas quando a noite é “boa”, e que os preços nessa região variam de R$ 30 a R$ 40. “Quando é bom dá pra fazer R$ 100, R$ 120, mas tem dias que é fraco aqui e faço só uns dois
programas. O trabalho é duro e a gente tem que ficar chamando os clientes e convencendo eles” (sic), relata. Um pouco mais à frente localiza-se outra zona de prostituição: Avenida Dr. Theberge, no Álvaro Weyne. O bairro, prioritariamente residencial, aparenta tranquilidade, o que é confirmado pelas garotas que são, em sua maioria, moradoras da região. Viviane*, 28, explica que existe certo consenso em relação ao valor cobrado. “O preço é R$ 40. Se cobrar mais, eles procuram outra mais barata, e se cobrar menos, eles se acostumam e só vão querer pagar aquele valor”, explica. Relembrando o seu passado, Viviane conta que também já trabalhou em “casa de massagem”. Ela reclama por ter que repassar metade do que ganhava para os donos do estabeleci-
mento, inclusive quando algum cliente pagasse um valor a mais. “A multa de quem tentava enrolar eles era de R$ 50. Não dava para juntar dinheiro, a gente sempre pagava multa por tudo. Eles enrolavam a gente demais” (sic), desabafa.
Centro
Um dos locais que se destacam pela aglomeração de garotas de programa e travestis é a Rua Solón Pinheiro, no Centro, em Fortaleza. O movimento concentra-se nas calçadas e nos bares, onde ocorre a conversa inicial com os clientes. Há um motel e algumas casas abandonadas que servem de ponto de encontro. A média de preço nessa área também é de R$ 40. A travesti Luana*, 28, conta que está em Fortaleza somente há um mês, mas faz programas há 10 anos. Ela veio para a ca-
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1 Barra do Ceará: R$20 a R$120
1
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Álvaro Weyne: R$40
3 Centro: R$40 a R$50 4 Praia de Iracema: R$15 a R$100
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EVOLUÇÃO DA PROSTITUIÇÃO
ANÚNCIOS Nos jornais de grande circulação de Fortaleza, os preços dos programas ofertados variam de R$20 a R$500
Já tive alguns cafetões, já apanhei e outro já levou todo meu dinheiro. Não dá pra confiar neles LUANA*
Prostituta
*Nome fictício
pital cearense por causa da insegurança em São Paulo e por um conselho de uma amiga que “se deu muito bem aqui e fez um bom dinheiro”. “Já passei por Brasília, Teresina e São Paulo”, informou. Luana cobra R$ 50 por programa e diz que passa o dia todo no ponto, chegando a atender 10 clientes por dia. Perguntada se era independente, ela diz que sim, mas ressalta que a situação já foi diferente. “Já tive alguns cafetões, já apanhei, e outro já levou todo meu dinheiro. Teve um que a gente pagava pra ele ser nosso segurança e ele acabou fazendo um esquema com outros pra roubar todas nós. Não dá pra confiar neles” (sic), relembra.
Área turística
Quando é bom dá pra fazer R$ 100, R$ 120, mas tem dias que é fraco aqui e faço só uns dois programas MICHELE* Prostituta
*Nome fictício
A Praia de Iracema apresenta peculiaridades por ser área de grande fluxo de turistas. Nesse local, a prostituição se apresenta de forma variada. Ana*, 38, casada e mãe de três filhos, realiza programa com vendedores ambulantes e artistas de rua, cobrando R$ 15 ou R$ 20. Segundo ela, “existe muita concorrência e muitas meninas novas e lindas”. Beatriz*, 24, por sua vez, foca o seu trabalho em turistas e homens de mais posse. Exibindo boa forma em roupas justas, ela valoriza seu programa. “Eu cos-
tumo cobrar R$ 100 por hora, menos que isso não aceito”.
Anúncios
Além da difusão pela cidade, a prostituição também é oferecida em anúncios de jornais. Em Fortaleza, os programas são ofertados na seção de “Serviços” ou “Produtos & Serviços”. As publicações destacam atributos físicos, aspectos comportamentais como “discrição” e prometem a realização de fantasias. Os preços variam de R$ 20 a R$ 500. Paulo*, 25, faz programas há 10 anos e diz que só trabalha por meio de anúncios, afirmando que trabalhar em ponto “é muito perigoso”. Ele é de Belém (PA) e está há apenas três meses em Fortaleza, dizendo fazer sucesso na capital cearense porque é “alto e sarado”. O garoto de programa conta que seu sonho é ser policial federal e que está estudando para concurso. Ele diz que já passou para a Polícia Militar e para a AMC, mas o salário “não valia a pena”. Segundo ele, seu programa custa de R$ 150 a R$ 200, e sua renda é de R$ 3.000. Com o que ganha fazendo programas, Paulo sustenta os pais e um filho, mantendo padrão de vida de classe média e possuindo carro e moto. *Nomes fictícios. Os personagens preferiram não se identificar.
A prostituição sofreu mudanças em razão de diversos fatores desde os anos 1990. A socióloga Ana Paula Luna, que estuda a prostituição em Fortaleza, argumenta que essa evolução levou pesquisadores a elaborarem o conceito de “mercados do sexo”, que é “mais abrangente, visando trocas que envolvem sexualidade, afetos e capitais econômicos e sociais”. A pesquisadora compara os perfis de prostitutas e o grau de preconceito ao qual são submetidas e estigmatizadas. “Enquanto no entorno do Passeio Público as mulheres são maduras, morenas ou negras, de classes populares e pouca instrução, na Praia de Iracema elas têm as origens sociais mais diversas. O estigma, neste caso, também flutua de acordo com a origem social daquela que realiza essas trocas”, afirma. Com relação à situação social das prostitutas e o papel do Estado, a socióloga destaca a importância da despenalização e da regulamentação civil do trabalho do sexo. Segundo ela, essa questão é urgente em virtude da “exposição aos riscos que a quase ilegalidade da prostituição fomenta”. O problema mais grave seria, contudo, a “legitimidade da prostituta enquanto sujeito”. Ana Paula Luma defende a mobilização social para essa questão social.“Temos todos que ir à luta, pois, a meu ver, trata-se de mais uma desumanização de sujeitos por conta de sua sexualidade e esta luta não se resolve somente no Estado, mas em todas as esferas da vida social”.
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COMPORTAMENTO
Motivações religiosas impulsionam jovens a abdicar do sexo
A decisão de esperar para ter relações sexuais não se trata de frigidez, mas do desfrute de uma liberdade que não deseja apenas o prazer imediato FOTO: ARQUIVO PESSOAL ARTHUR JORDAN
Bárbara Rocha e Larissa Colares
Os católicos Arthur e Winne vivem a castidade desde o início do namoro. Para eles, a religião influencia e fortalece a escolha do casal
E
m tempos de intensa busca pela liberdade sexual, optar pela castidade é algo surreal para determinada parcela da população. Ainda que alguns entendam como um tabu, o sexo se apresenta em nosso cotidiano, no cinema, em letras de músicas, na literatura e nas discussões em torno de métodos contraceptivos, além da batalha pela descriminalização do aborto, diversidade de gêneros e outras temáticas relacionadas. Dessa forma, há uma abertura cada vez maior para a aceitação o sexo sem compromisso antes do casamento, com quantos e quais parceiros quiser. Todavia, mesmo diante desse cenário, há quem opte por outro tipo de liberdade: esperar pelo momento mais adequado para tal entrega. As motivações para a decisão são diversas: “Às vezes pode ser uma escolha religiosa ou mesmo de princípios, como ‘eu não quero fazer agora, mas só
após o casamento’; tem aquelas pessoas que escolhem ser celibatárias; aquelas que têm disfunções, que podem ser orgânicas ou a nível psicológico”, analisa a psicóloga clínica cognitivo-comportamental, Elisângela Lima. Mesmo não sendo mais virgem, a possibilidade de não fazer sexo antes do casamento surgiu para Vitor Xavier, 27, há dois anos. Depois de terminar namoros em que as relações sexuais eram presentes, o estudante de Engenharia de Produção passou a repensar sobre o assunto. “Eu dava uma importância muito grande ao sexo. Algumas vezes, chegava ao ponto de trocar o diálogo, como forma de resolução dos problemas, pelo sexo. Assim, eu comecei a perceber que tinha uma coisa muito errada com isso”, relembra. Vitor optou pela castidade quando começou a namorar uma menina de um grupo religioso cristão. “Ela veio com uma história de ter um na-
moro casto e, como eu estava muito apegado à sexualidade, estranhei muito, achava que comigo não ia funcionar. Mas a gente namorou e eu pude ver como é legal não colocar o sexo como pilar, como uma coisa principal”, recorda Vitor. A relação entre ele e a namorada que o incentivou a seguir um caminho de castidade terminou, mas o jovem manteve a escolha. Hoje, o estudante, além de orientar outras pessoas a optarem pela castidade, procura conhecimentos mais profundos sobre a questão. “As leituras me ajudam a compreender, de uma forma racional, que viver a castidade só traz benefícios para uma relação. Além da leitura, eu busco estar sempre em oração e fugindo de situações que podem levar a despertar desejos inadequados”.
Entre dois
Encontrar pessoas que acreditam na possibilidade de o sexo ser algo casual e que não exige um conheci-
mento profundo em relação ao parceiro ou parceira é comum. Entretanto, até mesmo alguns casais que já tiveram relações íntimas chegaram a optar pelo caminho da castidade, acreditando que podem vivenciar uma nova forma de relacionamento — para eles, mais saudável — sem sexo até o matrimônio. Hivna Magalhães, 25, e José Moreira, 27, estão juntos desde 2006 e, no ano passado, firmaram noivado. Durante um tempo, os dois mantiveram relações sexuais, mas o casal percebeu que o ato não era sadio na relação. “O sentimento de posse era algo muito forte, a desconfiança e a falta de respeito se tornavam constantes. Costumo dizer que o namoro que vivíamos era algo que servia de prazer mútuo, para saciar apenas os prazeres individuais”, comenta José. Após um retiro espiritual que ambos fizeram, veio a decisão de viver castamente. “Conhecemos e entendemos
Conhecemos e entendemos o que era a castidade e percebemos que não era só a experiência de viver um namoro sem sexo, mas sim uma entrega de amor verdadeiro. JOSÉ MOREIRA Estudante
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o que era a castidade e percebemos que não era só a experiência de viver um namoro sem sexo, mas sim uma entrega de amor verdadeiro. Ao entrar nessa decisão, percebemos que os ciúmes foram diminuindo, a confiança foi aumentando, o fato de eu enxergar a Hivna como minha futura esposa me movia um sentimento de querer esperar o momento certo, de querer preservá-la com respeito”, afirma o jovem. A universitária Carolina Timbó e o advogado Cristiano Mützemberg namoram há um ano e quatro meses e também vivem a castidade na relação. Os dois se conheceram em um grupo de jovens católicos. “Naturalmente, a busca pela castidade já se tornou um quesito importante para que ficássemos juntos. No entanto, é um assunto que nunca acaba, sempre sendo trabalhado por nós. Acreditamos que um bom relacionamento deve ser firmado, ao menos até o casamento, em uma convivência que busque mais o conhecimento interior do companheiro. Reservar a castidade, ao passo em que nos limita a conhecer certos aspectos físicos, facilita o conhecimento da personalidade do outro”, afirma Carolina. O casal ainda aponta a castidade como um estilo de vida e, embora saibam que há pessoas que achem essa preservação algo impossível e às vezes curioso, Carolina e Cristiano afirmam que incentivam amigos a viver um namoro casto. “Nosso maior desafio é nos resguardarmos até o casamento. A base do namoro fica extremamente mais sólida, amparada no verdadeiro conhecimento da personalidade um do outro e em uma verdadeira comunhão entre nós”, revela a jovem.
Apoio
Devido à escolha que fizeram, os que vivenciam a castidade enfrentam o estranhamento de pessoas que não compartilham da mesma opção, inclusive amigos próximos e familiares. “Depois da repressão sexual que existia antigamente, hoje em dia é como se todo mundo fosse obrigado a saber tudo sobre o sexo”, afirma a psicóloga Elisângela Lima. A estudante de fisioterapia Lívia Benevides, 26, sempre optou por namorar casta-
FOTO: ARQUIVO PESSOAL HIVNA MAGALHÃES
Reservar a castidade, ao passo em que nos limita a conhecer certos aspectos físicos, facilita o conhecimento da personalidade do outro CAROLINA TIMBÓ Estudante mente, inclusive em um relacionamento de quatro anos. No entanto, ela acredita que a sua decisão não é tão bem compreendida quanto gostaria. “Já sofri preconceito, sim, pelo simples fato de as pessoas não entenderem a minha escolha. Amigos acham um absurdo eu namorar sem fazer sexo e acabam fazendo brincadeira com isso”, conta. Diante dessa questão, é principalmente por meio de grupos religiosos que essas pessoas encontram orientação e motivação para persistirem nesse caminho. Em igrejas diversas e na internet, é possível visitar grupos de pessoas que apoiam a castidade. A mobilização “Eu Escolhi Esperar” (EEE) é um desses movimentos. Lançado em março de 2011, pelo Pastor da Igreja em Vitória, Nelson Neto Junior, o EEE promove seminários em diferentes cidades do País a convite de igrejas cristãs de todo o Brasil. Em Fortaleza, o último encontro aconteceu nos dias 7 e 8 de fevereiro deste ano e foi organizado pela Comunidade Cristã Logos. Na conferência, foram ministradas palestras com os temas “Vida Sentimental”, “Sexualidade” e “Relacionamentos”. A mobilização possui uma página na rede social Facebook, com quase dois milhões de curtidores, e um perfil no microblog Twitter, com 301 mil seguidores. De acordo com o Padre Francisco Everton Gomes, pároco da Igreja de São Gerardo
Hivna e José mostram as alianças de noivado. A castidade não foi adotada pelo casal no início do namoro, mas, hoje, os dois esperam pelo casamento. Magela, o incentivo para que as pessoas vivam a castidade também pode surgir a partir do diálogo familiar. “O pai e a mãe têm de conversar com os seus filhos, orientar. O alicerce de tudo é a família e a palavra de Deus. Namoro é namoro, não é tempo de ser marido e mulher. É saber renunciar os impulsos, as tentações, saber dizer não”. Para o estudante de Engenharia Civil Arthur Jordan, 21, o catolicismo tem um papel fundamental na sua formação, sendo a religião um impulso para que viva um namoro sem sexo. “A Igreja não somente pede que eu viva a castidade, mas ensina o porquê e me dá os meios — no nosso caso, em especial, os Sacramentos — para conseguir assim o fazer”.
Desafio contínuo
É nos detalhes que a busca pela castidade se torna, em algumas ocasiões, um enfrentamento contra os próprios impulsos. “As dificuldades são de a gente se privar um pouco de certas carícias e momentos nos quais queremos estar mais juntos e não nos cabe devido à escolha que fizemos”, conta Lívia Benevides. Arthur Jordan e a namora-
da, Winnie Nobre, conduzem a relação evitando situações que os enfraquecem na decisão pela castidade. “Justamente por eu a amar, esforço-me para não corromper meu amor em vista de prazeres passageiros e, com isso, amá-la não tanto por ela mesma, em toda sua beleza e graça interior, mas por aquilo que ela pode me oferecer. Até por que situações em que estou realmente a sós com ela são muito raras e, enquanto não acontecem, tento fugir”, ressalta. Vitor Xavier reconhece a dificuldade que vive ao se resguardar sexualmente, sobretudo devido à intensa exposição do sexo na sociedade. “É difícil a gente se manter firme com a ideia de querer não mais se relacionar sexualmente. Eu sei que agrada a Deus eu querer viver uma pureza, mas talvez a minha maior motivação seja o respeito para com a minha futura mulher. Eu não acredito que seja respeitoso estar com uma menina e ver pornografia, me masturbar, olhar para outras mulheres, desejar outras mulheres (...) Decidi viver a castidade e não me arrependo em nenhum segundo. Só percebo melhoras em minha vida”, afirma, orgulhoso.
Esforço-me para não corromper meu amor em vista de prazeres passageiros e, com isso, amá-la não tanto por ela mesma, em toda sua beleza e graça interior, mas por aquilo que ela pode me oferecer ARTHUR JORDAN Estudante
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FOTO: REPRODUÇÃO
INICIAÇÃO SEXUAL
Jovens descobrem na pornografia uma fonte de informação Entre a curiosidade e a satisfação, jovens burlam preconceitos e buscam no pornô respostas para desvendar os segredos da sexualidade Paulo Jefferson Barreto
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nze letras, uma palavra e muitos questionamentos: pornografia. Até que ponto é bom ou ruim? Na era virtual, o pornô ultrapassou os limites físicos das antigas locadoras de fitas VHS e DVDs, entrou nos lares das pessoas junto aos computadores e, com pouco mais de um click, pode levá-las a um mundo novo, principalmente para quem está começando a desvendar os segredos da sexualidade. É na adolescência que o interesse pelo sexo desperta. Em tempos de internet, é possível haver pessoas que nunca tenham acessado conteúdo pornográfico, mas uma pesquisa divulgada em 2010 pela revista norte-americana The Week revela que mais de 40% de todos os usuários conectados à rede acessaram páginas de conteúdo adulto naquele ano, ainda que acidentalmente. “Comecei a ver pornografia por curiosidade. Tinha uns 12 anos e já não me saciavam mais revistinhas, imagens paradas da mulher nua. Eu queria vídeos, o sexo propriamente dito. Ainda hoje vejo, quando passo um tempo sem sexo”, revela o estudante Raul Honorato, 22. Para muitos, o contato com o pornô foi a única forma de saciar a curiosidade sobre um assunto pouco discutido. Quando falar sobre sexo era motivo de
constrangimento, jovens como Honorato encontraram na pornografia uma saída para desbravar os caminhos da própria sexualidade. “Busquei para ver como era o sexo, como se fazia, procurando sensações novas de prazer. Digo que saciei a curiosidade da melhor forma: vendo sexo. O pornô foi importante na minha vivência pré-sexual”, afirma. Para algumas pessoas, a busca pelo pornô não parece ser só uma questão de excitação. Segundo o estudante Thiago Cunha, 21, a pornografia ajudou na formação de sua sexualidade. “Sempre tive abertura na minha família para falar sobre sexo, mas só a pornografia me passou informações específicas mesmo sobre ele. No início, com uns 11 anos, até eu perder minha virgindade, servia como um ‘professor’. Essas experiências ajudaram na minha iniciação sexual depois”. Saciar a curiosidade típica da adolescência, obter informações sobre um tema pouco abordado, aprender. As justificativas são muitas e podem remeter às fantasias que cada um de nós construímos em torno de nossa sexualidade, é o que a afirma a psicanalista Laéria Fontenele. “Essa curiosidade remete às fantasias de cada sujeito em torno da diferença entre os sexos. Não vejo nada prejudicial aí. O problema é se
isso se transforma em um meio exclusivo de buscar satisfações que não seja o encontro sexual com o outro, como é de se esperar que ocorra após a adolescência.” Para a psicanalista, no entanto, a possibilidade do acesso ao sexo virtual trouxe também o risco da virtualidade das relações e da própria sexualidade humana. “Acho que o que mais requer reflexão, hoje, não é a prática do sexo em si. Se as pessoas não podem obter a satisfação sexual por um encontro amoroso, não vejo motivo para recriminação. O que deve ser pensado são as relações virtuais em que a substância das pessoas se esvai. Isso pode implicar um regresso da libido a pulsões autoeróticas, marca da sexualidade infantil e não da sexualidade adulta”, declara.
O tabu “Sexo é algo pessoal. Por mais que muitos gostem de conversar sobre, em geral é algo que o limite de quem escuta vai entrar em questão. Ainda é um tabu” é o que diz o estudante Raul Honorato, discurso que poderia ser reproduzido por muitos outros. Segundo o estudante Carlos*, 22, o problema está no fato de que não se discute temas como sexo e sexualidade abertamente. “Acredito que homens e mulheres assistem
pornôs por diferentes motivos, mas isso não tem nada demais. Todos devem assistir. Agora, na escola o assunto tem que ser tratado com seriedade. O pornô em vídeo não educa como a escola deve educar sobre o sexo”. Para a estudante Keila*, 20, ser mulher e consumir pornografia não é algo compreendido socialmente. “O tabu é muito forte pelo fato da diferenciação de tratamento dos sexos. A sociedade é machista, e isso não mudará tão cedo. Não falo sobre isso com qualquer pessoa nem assumiria assistir se fosse outra situação”. Em tempos de exploração da sexualidade, a pornografia ganha destaque porque mexe com o imaginário sexual das pessoas. Para a psicanalista Laéria Fontenele, a busca pelo pornô ultrapassa os limites da curiosidade e o desejo pela satisfação imediata. “O que se chama de pornô existe desde que existe sexualidade humana. O problema real do pornô hoje é sua relação com o mercado, com o capital e com discursos que são novas formas de controle muito mais sutis e elaboradas. O que é verdadeiramente pornográfico - no sentido negativo - hoje é a obrigação normatizante de que todos tenham que gozar da mesma maneira”. *Nomes fictícios. Os personagens preferiram não se identificar.
% NÚMEROS 75%
Porcentagem de pessoas que já acessaram, ainda que acidentalmente, sites pornográficos.
4 bi
Visualizações por mês do Xvideos, site de pornografia mais visitado do mundo.
11 US$ 97 bi
Média de idade das crianças que acessam conteúdos pornôs pela primeira vez Valor aproximado gerado pela pornografia anualmente em todo o mundo
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IMPRESSÕESSEXO
SEXO DE BOLSO
Aplicativos para smartphones facilitam encontros casuais
A paquera online ganha força com o surgimento de ferramentas que permitem conhecer pessoas a qualquer hora e em qualquer lugar Monique Lessa
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inal de mês: João espera demoradamente em uma fila de banco, até que se depara com uma pessoa que lhe chama a atenção. Para melhorar, percebe que o interesse é recíproco. Conversam um pouco ali mesmo e marcam um encontro: o primeiro, na verdade, visto que os dois só se conhecem pelo visor do smartphone que utilizaram para trocar algumas palavras e flertar um com o outro. Marcar encontros casuais de forma rápida, em uma fila de banco ou onde quer que se esteja, não é tarefa difícil, pelo menos não para os usuários mais frequentes de aplicativos voltados para conhecer pessoas e para o sexo casual. Tinder, Skout e Down são alguns dos mais famosos e que caíram no gosto dos brasileiros nos últimos meses, após conquistarem milhares de usuários no exterior (os mais populares ultrapassam a marca de 1 milhão de perfis cadastrados). A diversidade de aplicativos é grande e procura atender às preferências específicas de cada um: pessoas interessadas em outras do mesmo sexo, casais que buscam uma terceira pessoa para apimentar a relação etc. O funcionamento dessas ferramentas é semelhante: o usuário fornece informações ao perfil criado no aplicativo e analisa os perfis de outras pessoas sugeridas pela ferramenta. O segundo passo é marcar positivamente (como o “curtir” no Facebook) aquelas que despertaram interesse. Caso duas pessoas se “curtam” no aplicativo, a notificação é enviada para que a conversa se inicie. Sem sair de casa João* começou a usar o Tinder de forma despretensiosa. “Fiz uma tática simplista: comecei a ‘gostar’ de
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todas as pessoas. E até que apareceram umas meninas bonitinhas. Não foi uma tática ruim”. Logo na primeira vez em que usou o aplicativo, ele conheceu Marília e, quatro dias depois, encontraram-se pessoalmente. O objetivo do jovem era “fazer a sexta-feira da alegria”: “Toda semana eu conheceria alguém e me encontraria com ela na sexta”. A ferramenta também vem se mostrando eficiente para as mulheres, sendo utilizada, no entanto, de forma mais cautelosa. A estudante de Engenharia Elétrica Vanessa* conheceu alguém na primeira tentativa. O encontro pessoalmente ocorreu três dias depois em uma festa. “Só marco encontros em locais públicos”, diz. Ela, entretanto, relata que já ouviu comentários negativos sobre garotas que usam os aplicativos de relacionamento. “Alguns diziam: ‘Ah, tá no Tinder? É queimação de filme! ’ A imagem que passa da mulher é que ela não presta (...) e que só está ali porque quer sexo”. Mesmo com o preconceito, a estudante afirma que seu objetivo principal é conhecer pessoas, não o sexo casual. O público gay também encontra aplicativos específicos para se aventurar, como
é o caso do Grindr. Gustavo*, estudante de Administração, resolveu fazer um teste depois de tanto ouvir falar sobre a eficácia da ferramenta. “O motivo pelo qual eu comprei um smartphone foi para poder baixar aplicativos como o Grindr. Eu estava em uma fase em que só queria sexo casual, para tentar recuperar o tempo perdido”. Gustavo encontrou um parceiro logo na primeira vez em que usou o aplicativo. “Conversei (com o parceiro) pela manhã e pela tarde. À noite, nos encontramos na minha casa. Acho mais seguro marcar com alguém na minha casa mesmo”. Apesar de ter conquistado o objetivo principal ao utilizar o Grindr – o sexo casual -, o estudante afirma que conhecer pessoas online não é tarefa fácil. “Às vezes, a pessoa não corresponde em nada do que você imaginava”. Além das decepções comuns em encontros pessoais, o modo de se relacionar através dessas ferramentas também faz com que a empolgação inicial diminua para alguns. “Depois de um tempo, a dinâmica fica um pouco banal: ‘Oi, eu sou o João, estudo Engenharia Elétrica, há-há-há’.” Ainda que João não tenha
O motivo pelo qual eu comprei um smartphone foi para poder baixar aplicativos como o Grindr. Eu estava em uma fase em que só queria sexo casual, para tentar recuperar o tempo perdido. GUSTAVO* Estudante
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conseguido achar a parceira ideal e que os encontros tenham se restringido à conversa, a procura continua: “Meu objetivo é encontrar uma namorada, porque, no trabalho e na faculdade, eu só convivo com homens, então, na minha vida, está difícil”.
Cuidados com segurança É preciso ser cauteloso não apenas ao marcar encontros. Em fevereiro deste ano, a empresa de segurança canadense Include Security informou ter encontrado uma falha no aplicativo Tinder que permitia o acesso à localização quase exata dos usuários. O professor do curso de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará, Edgar Marçal, afirma que é comum desenvolvedores de aplicativos contratarem empresas de segurança na internet para descobrirem falhas no software, podendo ser, desse modo, corrigidas. O professor orienta, no entanto, a não fornecer informações pessoais – como endereço e fotos íntimas – a aplicativos e a outras ferramentas virtuais gratuitas. *Nomes fictícios. Os personagens preferiram não se identificar.
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
Como tatuagem Andressa Bittencourt
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ímbolo sexual, estereótipo ou fetiche? Em uma inocente visita à livraria, é possível perceber a predominância da imagem sexualizada da mulher em diversas capas de livros. É elemento cativo, principalmente na seção de arte. O corpo feminino é mais bonito de se ver? É mais bonito de se mostrar? É mais bonito de se pintar? Esse questionamento, tal como nova tatuagem, é latente, intrigante, chama a atenção. A segregação de gênero no que tange à erotização do corpo não tem fácil explicação.