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Trabalho Voluntário: A carreira pós carreira

Até 2009 Nelma Odete Wagner Gallo tinha trabalhado bastante. Formada em Direito, já atuou como agente administrativa e secretária da Superintendência da Receita Federal de Porto Alegre (1978-1986), oficial escrevente secretária de juiz no Fórum Central de Porto Alegre (1987-2001). E, também, foi chefe de gabinete e assessora na 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (2001-2006). De fato, Nelma sempre buscou se manter ocupada com o trabalho –além da tarefa de equilibrar a carreira com a família. Em 2002, teve seu primeiro contato com a Liga Feminina de Combate ao Câncer, Liga/RS. Contudo, devido aos seus compromissos profissionais, Nelma não pôde aceitar o convite para participar como voluntária. Apenas depois ter se aposentado, em 2009, é que teve a oportunidade de conhecer verdadeiramente o trabalho voluntário, o que faz com total amor e dedicação na Liga/RS. Hoje, ela é presidente da entidade e coordenadora de todas 87 ligas regionais. Muito trabalho, compromissos, responsabilidades –é com essas palavras que resume sua experiência até então, tendo exercido previamente as funções de tesoureira e de secretáriageral. Quando questionada sobre como se sentiu ao assumir a presidência em 2015, Nelma diz, em seu tom naturalmente formal e eloquente: “Orgulho pela confiança em mim depositada pelas demais voluntárias e Conselho Deliberativo, ao ser desafiada a presidir uma entidade tão longeva, respeitada e com muita credibilidade junto a população gaúcha.” Ter sido indicada e eleita ao cargo da presidência três vezes é justamente o que ela cita como os momentos de maior orgulho na trajetória na Liga/RS. Nelma que em janeiro de 2021 completará seis anos como presidente. Outro momento de destaque foi o recebimento da Medalha do Mérito Farroupilha, distinção máxima do Parlamento Gaúcho, como reconhecimento de sua trajetória em prol da sociedade sul rio-grandense, em agosto de 2019. No entanto, Nelma não aceita receber os aplausos sozinha. Sempre lembra do quanto o resto da equipe é igualmente fundamental. Disse que “recebia a homenagem em nome de todas as voluntárias da Liga Feminina de Combate ao Câncer no RS, que ao longo de muitos anos dedicaram e dedicam seu tempo aos mais necessitados”. São diversas as modalidades de trabalho voluntário realizado pela Liga-RS, –uma entidade civil, sem fins lucrativos, existente há 66 anos, que tem por finalidade assistir o doente carente portador de câncer, conscientizar e educar a população. A gestão de uma instituição filantrópica como essa apresenta uma série de desafios. Para Nelma, o maior deles tem sido obter recursos da sociedade, já que a Liga-RS não recebe dinheiro público. A verba para manutenção das atividades é advinda dos eventos sociais e doações recebidas. No entanto, o sucesso da Liga-RS é eminente. Nelma poderia passar horas citando os inúmeros momentos de felicidade e conquistas durante a primeira década de trabalho na entidade: “Foram momentos felizes quando visitei parte das Ligas Regionais para conhecer de perto a realidade de cada uma; realizar o 60º Baile da Glamour Girl; o 50º Encontro Estadual com as Ligas Regionais para troca de experiências; representar a Liga/RS nos Congressos Nacionais da Rede Feminina de Combate ao Câncer; participar das comemorações dos 50 anos de existência do Hospital Santa Rita; reconhecimento formal, em várias oportunidades

por parte da Irmandade Santa Casa de Misericórdia da importância do apoio e da parceria da entidade no atendimento aos doentes carentes”. E a que se deve tudo isso? Nelma não demora a responder: “Sem dúvida, à dedicação e ao comprometimento dos voluntários com a causa, assim como a lisura e transparência de suas ações e cumprimento da sua finalidade.”

O impacto da pandemia no trabalho voluntário

Com o surgimento da pandemia, a Liga/RS tem enfrentado novos desafios. Para os voluntários tem sido frustrante não poder atender de forma plena seus assistidos, assim como lidar com a suspensão de atividades de prevenção. “É um trabalho muito importante o que a gente faz, e a gente se viu privado de fazer esse trabalho”, diz Nelma. “A gente está fazendo o que pode e de alguma forma o paciente está sendo atendido. Atendendo parcialmente, tentando se adequar ao novo momento e fazendo o que é possível, observando os protocolos e as recomendações das autoridades.” A Liga/RS continua entregando todo o material de higiene, valores para passagens, e autorizações para compra de medicamentos às assistentes sociais dos hospitais que, após avaliação das necessidades, disponibilizam ao paciente e a sua família. Mesmo que de forma indireta o trabalho continua sendo feito. Sobre o futuro, Nelma entende que aos poucos as conjunturas retornarão ao habitual, porém os ensinamentos deste período deverão ser levados adiante com a Liga/RS. Ou seja, cada vez mais é necessário educar a população para que tenhamos cuidados básicos com a saúde. Ela ressalta que na velocidade adequada, e com suas devidas adaptações, as atividades exercidas pela instituição retornarão. Hoje, ao andar pelos corredores dos hospitais, Nelma consegue manter uma visão otimista: “Circulando pelo hospital e vendo todo mundo se cuidando, vendo os funcionários trabalhando, isso me deixa um pouco mais à vontade.” É notório perceber a alegria dela ao ver as pessoas desenvolvendo suas atividades. Neles, ao que parece, Nelma vê o seu reflexo.

Confira o depoimento dos repórteres –Making Of

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Crédito: arquivo pessoal

Conheça a seguir a história de Márcia Helena Tischler, ex-presidente da Casa da Amizade e atual presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, ambas as instituições situadas em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul. Contando com mais de 100 voluntárias, a Liga ajuda a comunidade há mais de 43 anos.

Reportagem de João Pedro Dumke e Gabriel Prisco

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