DéborA BRUNES
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HENRIQUE ALEXANDRE
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VALDEMIR BARBOSA
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FOTOS PROTESTO
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LARESSA SANTOS
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MARCOS LUVIZETO
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NICOLLE DIAS
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Esta revista foi produzida peloa acadêmicos Débora Brunes, Natália Barros, Valdemir Barbosa e Valéria Berti, do 6º semestre de Jornalismo da Faculdade Maringá, na disciplina de Comunicação Digital, sob orientação do professor Ronaldo Nezo
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Foto: Andrea Yukie
Na contramão O sacrifício é cada vez maior para pessoas que dependem do transporte coletivo
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Pessoas correm atrás das conduções, acotovelam-se quando as portas se abrem diante delas, olham nos relógios. Povo que acorda cedo e que sofre para chegar ao trabalho, transporte lento e lotado. Sofre no caminho para, muitas vezes, ao encontrar suas mesas, computadores e canetas ou suas vassouras, detergentes
Foto: Gabriella Oliveira
À
s 7h30 da manhã daquela terça-feira, 9 de Julho, após as manifestações e os tumultos das semanas anteriores, tudo transcorria normalmente no terminal da cidade canção. Ali, no total, passam cerca de oitenta linhas. Dentre elas, a movimentadíssima 713 (que faz o percurso terminal - Parque Hortência). Paradas lotadas. Ausência de filas. Senhores de cabeças brancas e estudantes de mochilas robustas misturavam-se em luta desigual a procura de disputados assentos. Para veículos que chegam a transportar 102 passageiros de uma só vez, nos horários de pico, a conquista de um dos seus 36 bancos é motivo para orgulho e sorrisos.
e rodos, continuar a labuta sob olhos vigilantes de patrões. Naquele dia, vendome tomar dados sobre a movimentação do terminal, o estudante Bruno Veiga, que às 8h esperava a linha 314 com destino à Vila Nova, fez um comentário: “É assim mesmo. A imprensa só aparece após o caso se tornar do interesse deles.” Fiz que não com a cabeça, meio sem jeito e negando uma prática por vezes recorrente da profissão. Expliquei-lhe que existem muitos jornalistas que se importam de verdade e que querem escrever para ajudar. O fato é que os olhos dos grandes veículos, em geral, se voltam para um acontecimento quando ele ganha destaque mesmo. A demora, a lotação, o aumento da tarifa do transporte coletivo e
a indignação da população já estavam lá antes e poucos se importaram, ou os que falaram não deram tanta atenção. O reajuste gerou protestos no país inteiro. Os estudantes que aderiram às manifestações também reivindicaram o passe livre. Assistimos pessoas serem atingidas por sprays de pimenta e balas de borracha. “Ah, não melhora não. Eles aumentam a passagem e não melhoram o serviço. O que aconteceu em São Paulo foi bom para a população acordar e ver que não somos levados a sério. Não mandamos aqui. Os policiais não mostram serviço contra criminosos, mas souberam atacar pessoas que reivindicavam os seus direitos”, diz o porteiro Gelson Martins, 45 anos, enquanto espera o ônibus 459.
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WILLIAm souza Atualmente trabalhando na Rede Massa/SBT. Desde pequeno tinha o sonho de ser jornalista, um dia antes de fazer aniversário entro u em seu primeiro emprego na televisão, considerando a oportunidade como um presente.
1 – Porque escolher o jornalismo? Jornalismo sempre foi minha grande paixão, desde muito cedo eu decidi o que gostaria de ser profissionalmente. Com sete anos olhei pra minha mãe e disse que seria jornalista. Assistia desenhos como toda criança, mas ao mesmo tempo via telejornais, adorava e ainda adoro. Jornalismo é encantador, o fato de ouvir e contar histórias é algo fascinante. Infelizmente a gente também conta fatos tristes, mas o que nos motiva é levar notícias, informações e por meio delas conseguir mudar pelo menos um pouquinho do que está errado.
2- Você gosta do que faz? Amo essa profissão. O jornalismo é fantástico, mas minha paixão é o telejornalismo. Gosto muito da agilidade da WEB, o dinamismo do rádio e da reportagem do impresso. Mas é na TV que o telespectador sente de tudo, ela é completa, apesar de ter o tempo curto, reúne imagem, texto, depoimentos e sons. A pessoa se sente mais próxima do acontecimento.
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3- Em sua adolescência, você já trabalhava em algum meio de comunicação?
No início da minha adolescência eu não trabalhava em nenhum meio de comunicação. Quando eu tinha entre 11 e 13 anos eu participava, em Foz Do Iguaçu, de um jornalzinho impresso com notícias do colégio, no qual fazia uma espécie de assessoria voluntária. Em caso de eventos sempre ligava para as emissoras de rádio, tv e jornais de Foz, para que fossem cobrir. Eu comecei a trabalhar muito cedo em televisão, com 15 para 16 anos. Aos 14 anos quando cheguei em Umuarama, comecei a gravar uns vídeos com câmeras digitais e editava no Movie Maker, (um programa bem simples do Windows) e então, meu pai comprou para mim uma câmera filmadora que gravava em DVD. Aí eu comecei a fazer algumas “reportagens”, (risos.) Andava pra todo lado, entrevistava prefeito em eventos, autoridades, pessoas na rua. E com esse material montei um DVD com algumas matérias. Mandei para uma emissora de televisão de Umuarama e, então fui contratado, já como repórter. Acredito que foi sorte. Eles depositaram confiança no meu trabalho e crescimento, porque, confesso, eu era horrível. 4 - Trabalhar na área, ajuda na faculdade?
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Ajuda sim. Estar na rua todos os dias nos dá uma visão privilegiada em relação aos conteúdos aplicados. Sem sombra de dúvidas, a prática nos coloca um pouco mais à frente, nos capacitando cada fez mais como profissionais.
5– Quando você saiu de Umuarama e veio para Maringá, estudar jornalismo. Encontrou dificuldades para se estabelecer na cidade? Se instalar em uma cidade três vezes maior em relação a que morava é muito complexo, ainda mais longe dos pais e amigos, foi e ainda é muito difícil.
6- Onde você sonha em chegar na sua carreira? Eu pretendo, assim que concluir o curso de jornalismo me dedicar a uma pós em telejornalismo. Como disse, é o que amo. Profissionalmente, gostaria muito de ir pra São Paulo ou Rio de Janeiro, lá tem veículos de abrangência nacional. É isso que busco: informar em rede nacional. Primeiro muita rua, muita externa. E num futuro não muito próximo, quem sabe conquistar uma bancada.
7- Apesar de ainda ser acadêmico de jornalismo, algumas matéria suas já foram para o nacional. Qual foi a sensação? Foi uma sensação muito boa, satisfação de profissional. Quando vi pensei: “poxa é isso mesmo que quero profissionalmente.” Coincidentemente, no mesmo dia em que estreei em rede estadual, no SBT Paraná, minha reportagem foi veiculada também no SBT Brasil e na grade do dia, a Emissora passou a reportagem no Jornal do SBT, com Carlos Nascimento e ainda no SBT Manhã, com Hermano Henning. Esta matéria mostrada em rede nacional foi sobre os padres da arquidiocese
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de Maringá, que por causa da lei seca, estavam trocando o vinho da comunhão por suco de uva. Atualmente faço muitas reportagens para o programa Maringá Urgente, mas também para outros programas locais da casa como: Tribuna da Massa, Destaque, Jornal da Massa, SBT Paraná e Negócios da Terra.
8- Além de repórter você apresenta na TV? Na Rede Massa tenho tido ótimas oportunidades profissionais. Além de repórter, também apresento algumas vezes. Já apresentei o Maringá Urgente e o Tribuna da Massa 2ª edição. Quando o Eduardo Santos, apresentador oficial não está, eu, às vezes, o substituo.
9- Qual tipo de reportagem você mais gosta de fazer? Por quê? Apesar de produzir muitas reportagens no meio policial, prefiro as de comportamento. Elas permitem um texto mais leve, solto. Entretanto, gosto muito de reportagem investigativa. Quanto a isso diria que sou eclético, embora não seja muito chegado ao jornalismo esportivo, não porque não goste, mas é porque sei pouco.
10- Qual o recado que você deixa para os jovens que querem entrar nessa profissão? Por mais difícil que seja, nunca desista dos seus sonhos. Nessa estradinha de quase cinco anos de profissão, já fui chamado de meia boca, de ruim. Sofri, mas não me acho ruim, penso que a crítica constrói, por mais dolorida que seja. Estude, siga o caminho do conhecimento acadêmico, porque ninguém alça vôos mais altos sem ter uma formação universitária.
Andar de ônibus exige paciência
Foto: Tiago Mathias
Usuários pagam caro por um serviço deficitário. Os centros urbanos evoluíram, mas o transporte público não
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Usar o ônibus todos os dias pode não ser muito confortável. Pior ainda é ter de pagar por algo que não atende realmente os anseios dos passageiros, ou seja, um transporte de qualidade em todos os aspectos. Ir ao trabalho em um transporte lotado já não é mais exceção, é regra. Uma das alternativas para não se estressar, é colocar um fone de ouvido e seguir viagem ouvindo música. A composição de Roberto Carlos, Sentado à beira do caminho, poderia servir de fundo musical para muitos usuários do transporte coletivo no Brasil. As cenas se repetem todos os dias. As pessoas esperam muito tempo por um ônibus que, dependendo da linha, demora horas. No caso do transporte urbano de Maringá não é diferente. Os passageiros sentam, esboçam insatisfação, levantam, demonstram impaciência e nervosismo, andam de um lado para outro. Algumas pessoas chagam a sentar no meio fio, o que faz lembrar trechos da canção do Rei, “(...) Estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim”. É, no mínimo, entediante. Além disso, existem outros inconvenientes para quem depende do transporte público à noite: o risco de ser assaltado. Esta é uma realidade que, infelizmente, não pode ser ignorada por quem aguarda pela condução fora do horário comercial. A estudante Carmem Lúcia, 21, conta que quase foi assaltada enquanto esperava pelo ônibus. “Eu sai da universidade e fiquei sozinha no ponto. Naquela noite, a linha que utilizo estava atrasada. Dois homens numa moto passaram devagar na minha frente duas vezes, na terceira senti que iriam parar. A minha sorte foi que um casal de amigos parou para me dar carona.” A vida dos usuários seria mais fácil e mais barata se fosse instalado na cidade um metrô de superfície. O meio de transporte ajudaria no deslocamento de passageiros para os bairros e cidades da região metropolitana. Além do conforto, segurança e rapidez, a população lucraria com o baixo custo da passagem, que estaria mais condizente com a realidade econômica do município e dos seus habitantes.
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Com a aprovação da CPI do transporte público, os maringaenses esperam que muitas questões sejam respondidas e que medidas sejam tomadas para melhorar a realidade. O que não dá mais é ficar sentado à beira do caminho, esperando que as coisas melhorem. Os papeis não podem ser invertidos, o transporte público existe para servir a população, não o contrário. Andar de ônibus não deveria ser um tormento, tanto pelo custo quanto pela qualidade do transporte em si. No Japão, por exemplo, as pessoas utilizam o meio com tranquilidade. Isso porque lá o transporte urbano é feito para todos os indivíduos, ricos, pobres, executivos, professores, alunos, empresários e operários. Além de confortável, barato e prático, não polui e não gera o caos no trânsito, como acontece na Cidade Canção.
Foto: Tiago Mathias
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Foto: Ana Sotoriva
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Foto: Gabriella Oliveira
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Foto:Arthur Padua Mendes
Foto: Gabriella Oliveira
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O dia começa cedo para quem precisa trabalhar e não possui carro para se locomover. O ônibus não espera os atrasados e, às vezes, nem mesmo para no ponto dos que – por milagre do despertador – conseguem chegar na hora marcada. E quando os ponteiros do relógio passam mais rápido do que podemos acompanhar, mais uma “amarelinha” - os ônibus da Viação Garcia são chamados assim pelos usuários - vai e o passageiro é obrigado a esperar o próximo ônibus. Algumas vezes, por até 1h. Falta de horários não é uma exclusividade apenas do transporte metropolitano, especificamente, entre as cidades de Mandaguaçu e Maringá, mas sim em todo o país. Além dos horários que complicam a vida de quem depende do transporte público, a falta de acentos também é uma reclamação constante dos passageiros. Lugar para sentar, lugar vago, cantinho para encostar, chame como achar melhor. Bom, você que já precisou de transporte público em horário de pico sabe bem como é bom poder descansar enquanto não
chega ao destino final. É assim para a vendedora Aline Otto, 21, que precisa do transporte metropolitano para ir ao trabalho de segunda a sábado. Segundo ela, encontrar um banco vazio às 7h da manhã é quase como ganhar um presente. Outro ponto que merece a atenção dos responsáveis pelo transporte público, seja nos grandes centros ou no interior, é a superlotação dos ônibus. E na região de Maringá isso não é diferente. Para o aposentado José
Quem depende do transporte metropolitano enfrenta problemas
Foto: Gabriella Oliveira
Gomes Pedrosa, 67, que depende do transporte público. “Muitas vezes o ônibus está lotado e os jovens acabam ficando com as poltronas preferenciais e a gente que tem mais idade precisa viajar em pé. É uma falta de respeito”. Além disso, segundo Pedrosa, os ônibus acabam colocando mais gente que o aceitável para evitar que novos veículos façam a mesma linha. “Eles preferem colocar 60 pessoas dentro do ônibus que colocar dois ônibus para dividir essas pessoas”, disse. Para os estudantes que dependem do transporte coletivo para irem às aulas, a situação é ainda mais complicada. A jovem Mariana Braz, 19, mora em Mandaguaçu e estuda na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ela utiliza o transporte metropolitano e, muitas vezes, tem que sair muito cedo de casa para não se atrasar. “Na segunda, tenho aula às 14h, mas preciso pegar o ônibus às 12h05, para não chegar atrasada. Acabo ficando um tempão esperando.” O mesmo acontece com o estudante Thiago Zaninelli, 21, também de Mandaguaçu. O jovem faz cursinho pré-vestibular em Maringá. “Eu acordo todo dia as 5h30 da manhã para conseguir chegar na primeira aula. Se eu perco o ônibus, o próximo demora quase 1h”. Por conta disso, Zaninelli já levou algumas faltas. Na hora de voltar para a casa, a situação se repete. O tempo entre um ônibus e outro depois das 18h é maior, por isso é preciso ter paciência para esperar. O estudante conta que muitas vezes chega em casa por volta da meia noite para ter que acordar no outro dia antes das 6h da manhã. “É cansativo e sei que a rotina pesada atrapalha um pouco o meu rendimento”.
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o cIcLIsta
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O jovem de Sarandi, Dione Ferreira Silva, 20, resolveu adotar a bicicleta como único meio de transporte. Ele percorre pelo menos 40 km por dia e chega a perder 3 kg. Apesar da juventude, quando o assunto é exercício físico, a experiência é grande. Filho de Tereza Bomfim e Antônio Silva, o estudante de Educação Física sonha em ser um atleta de destaque no Brasil.
Adolescência
Cotidiano
Foi bastante corrida. Aos 10 anos comecei a participar de um grupo de dança na escola e foi ali que eu decidi o que queria ser. Independente da profissão, estaria sempre ligado aos exercícios. Um ano depois, já dava aulas de Street Dance. Aos 12, comecei a dançar Jazz e continuei conciliando com o Street, até me formar professor aos 15 anos. A dança foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Abriu muitas portas.
A bicicleta é minha parceira. Meu dia começa cedo. Entro às 7h na primeira academia e às 8h na segunda. Lá eu fico até às 10h. Em uma hora, começa a aula em outro lugar e termina ao meio dia. Faço meu horário de almoço e também malho um pouco. Das 13h30 às 14h45 eu dou aula de dança. Depois, volto para Sarandi e fico lá até às 18h. Mas o trabalho não para por aqui. Volto para Maringá às 18h15 para dar mais uma aula e correr para a faculdade.
Formação
Peso
Aos 18 anos eu já dava aulas em três academias de Maringá. Em 2010, comecei a me interessar por ginástica e senti a necessidade de me especializar. Entrei no curso de Educação Física, passei a pesquisar muito sobre a área e precisei parar com a dança. A bicicleta sempre foi uma grande aliada, mas por uma questão de necessidade. Como sempre tive que andar longas distâncias, a bicicleta apareceu como um meio rápido e saudável.
Nessa minha rotina corrida, acabo perdendo peso com bastante facilidade. Como procuro manter uma alimentação saudável e bebo muita água durante o percurso, perco 3 kg por dia. Consultei especialistas e, segundo eles, a minha perda de gordura é boa. Nas aulas eu malho muito e tomo suplementos alimentares nos intervalos. Assim, eu ganho massa magra e perco a massa “ruim”.
Bicicleta
Eu sonho poder participar de competições e, quem sabe, me tornar um ciclista profissional. Mas hoje não tenho condições financeiras para isso. O treino exige tempo, dedicação e investimento. Só para começar, é preciso ter uma bicicleta que custa R$ 1,5 mil. Além disso, não posso parar de dar aulas porque pago a faculdade com esse dinheiro. Se conseguisse um patrocinador, daria conta.
Eu comecei com um modelo mais pesado, a barra circular. Essa me deixou na mão muitas vezes. Tinha que voltar para casa empurrando. Aos 15, comprei minha primeira bicicleta. Participei de alguns campeonatos e torneios de ciclismo. No campeonato paranaense fiquei em 7º lugar no geral e em 3º na minha categoria.
Futuro
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Os personagens da 415 A linha é uma das 74 oferecidas pela empresa Transporte Coletivo Cidade Canção (TCCC)
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omingo, 16h, calor, sol intenso em pleno inverno. Ônibus cheio. Muitos idosos estavam a caminho da casa dos parentes, aproveitando o dia mais tranquilo da semana. Bastaram 45 minutos de trajeto para conhecer um pouco da rotina desta linha. O motorista de ônibus Silvano Coelho faz a linha 415 há sete anos. Não descansa nem aos domingos e feriados. O percurso tem como destino final o bairro Cidade Alta. Na região, é conhecida como “A linha do medo” por conta dos assaltos regulares. Coelho presenciou quatro dos sete assaltos, mas não quis mudar de linha. “Fiz muitas amizades aqui, conheço cada senhora e senhor que anda nesse ônibus, não os desapontaria por causa de gente de má fé que quer nos deixar com medo.” Ao acompanhar o trajeto do motorista, é possível notar que ele tem dificuldade em receber a passagem e dirigir ao mesmo tempo. Além do risco de
acidentes que a prática pode causar, Coelho ainda afirma que perde dinheiro por conta do troco errado. “Nem sempre consigo fazer as contas corretas e acabo perdendo cerca de R$ 0,50 por dia.” Esse dinheiro é descontado do salário dos trabalhadores. As histórias são muitas. Quem costuma pegar a linha acaba fazendo amizade com o motorista. Assim como Odalha Ribeiro, 74, que usa o transporte todos os dias. Ela não anda, não ouve e também não fala. O neto da senhora, Higor Ribeiro, 9, é quem a ajuda. O menino acompanha a avó, espera e acena para o motorista parar. Não foi diferente nesse domingo. Quase no seu último ponto, lá estavam os dois. Coelho parou e desceu para ajudar Odalha a subir. Porém, o ônibus ficou longe. Então, ele volta ao volante, arruma e desce novamente. A cadeira sobe e é instalada no ponto preferencial para deficientes físicos. “Não são todos os motoristas que têm a gentileza como Silvano de nos
ajudar”, afirma o garoto. O motorista da 415 diz, com brilho nos olhos, que faz questão de ajudar não só Odalha, mas qualquer outra pessoa. Além disso, tenho um carinho especial pela senhora. “Na primeira vez que a ajudei, ela estava sozinha. Não sabia que era muda e não entendi porque não agradeceu meu gesto. Mas na semana seguinte, ela apareceu com um bilhete para mim, desde então não pude deixar de me comover.” O percurso de ruas estreitas, buracos e alguns pontos de ônibus sem cabine, chega ao fim. Para Coelho, o trabalho continua. Ele ainda vai percorrer o trajeto mais seis vezes. Ainda assim, aqueles 45 minutos foram suficientes para notar a importância do transporte público para a comunidade. Sem ele, a vida social do cidadão de baixa renda seria afetada. Isso porque bloquearia o acesso ao entretenimento, à cultura, ao lazer, entre outros. Quem não possui o próprio veículo, tem o ônibus como meio de locomoção.
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Foto: Andrea Yukie
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