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Curitiba, julho-agosto de 2010

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 4 • Curitiba, julho/agosto de 2010

Silvana Maia

CULTURA

O teatro para João Luiz Fiani

Em entrevista ao jornal Marco Zero, o renomado ator João Luiz Fiani, diretor de peças como “A Casa do Terror”, “A Gorda e o Anão” e “Branca de Neve”, fala sobre cultura e amor à profissão.

Alexsandro Ribeiro

Página 10

Para fora do tubo!

Em dias de chuva, passageiros que utilizam várias linhas de ônibus, no centro de Curitiba, ficam fora das estações superlotadas.

Página 6 PERFIL

Bodas de ouro com o teatro

Uma profissão de vida

Dona Frida (Elfrida Taborda Siqueira, na foto acima) exibe com orgulho seu certificado de parteira, expedido Regina Vogue conta sobre a sua em 8 de junho de 1964 pela Secretaria de Saúde Pública história e revela seus projetos do Estado do Paraná, e o guia que utilizava para ensinar para o teatro infantil. a realizar os partos. Página 3 Páginas 6 e 7


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MARCO ZERO

Aos leitores Explorar as formas, oportunidades e pessoas que movem a “máquina de fazer malucos” que é o centro de Curitiba: essa é a proposta desta edição do jornal Marco Zero, inteiramente produzido e editado por alunos de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter). As discussões sobre a pauta da edição começaram com algumas perguntas: Engraxate pode ser célebre? Ainda existem alfaiates? Parteiras: alguém sabe de fato sobre o ofício? E as prostitutas, que já foram consi-deradas divindades, realmente são as profissionais mais antigas do mundo? Além das respostas para essas perguntas, o jornal traz entrevistas com duas pessoas que se tornaram referências na cena teatral de Curitiba: Regina Vogue e João Luiz Fiani. Será que rir é o melhor remédio? Aqui você tem vez e voz com a “Boca no trombone”. O Marco Zero também busca trazer o que é bacana no centro e, o melhor, gratuito! Em época de desastre no centro da cidade, por que não trazer à tona uma discussão sobre a lotação nos ônibus da capital “modelo no transporte coletivo”? Boa leitura!

Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação produzida pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) Coordenador do Curso de Comunicação Social: • Gustavo Lopes Professores Responsáveis: • Roberto Nicolato • Tomás Barreiros Diagramação: • André Halmata (5º período) Facinter: Rua do Rosário,147 CEP 80010-110 • Curitiba-PR E-mail: assessoriajr@grupouninter.com.br Telefones: (41) 2102-7953 e 2102-7954.

ARTIGO

Livro, biblioteca e leitura no Brasil Natali Carlini

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EDITORIAL

Curitiba, julho-agosto de 2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou recentemente uma lei que determina a instalação de bibliotecas em todas as instituições de ensino do país, incluindo públicas e privadas. De acordo com a lei, em cada biblioteca deve haver no mínimo um título para cada aluno matriculado, coleções de livros, materiais videográficos, documentos registrados e suportes destinados à consulta, pesquisa, estudo e leitu- e sem uma política racional de ra. A organização, a manutenção compras voltada para as necessie o funcionamento desses novos dades de seus frequentadores esespaços devem ser definidos pe- pecíficos, os estudantes. las instituições. Tal lei também Segundo estudos feitos abrange as salas de aulas em pre- pela Unesco, os fatores crítisídios, incluindo cursos do ensino cos que estabelecem o hábito básico e profissionalizante. de leitura de um povo ou de Deve-se ressaltar a im- uma pessoa vêm de caracterísportância de se incentivar o há- ticas específicas, como ter nabito de leitura entre os brasileiros. scido numa família de leitores, Todos os povos civilizados se ter passado a juventude num caracterizam por possuírem uma sistema escolar preocupado massa crítica de leitores ativos, com o estabelecimento do háisto é, gente que desde a infân- bito de leitura, o preço do livro cia adquiriu esse hábito e todos e o acesso ao livro. os dias manipula com facilidade Tal realidade aponta que a uma grande quantidade de infor- distribuição de tais recursos ainda mações escritas. tem que passar por “É preciso definir Uma pesquisa realum longo período a importância de izada este ano pela de transformação, se preservar o Secretaria de Política já que dependemos Cultural do Ministé- hábito de leitura de desenvolvimento dos brasileiros” social, econômico e rio da Cultura identificou 3.896 bibliotepolítico para que tais cas públicas em todo o país, em transformações sejam evidentes. sua esmagadora maioria munici- É fundamental para o futuro do pais. Mais de 80% de seu públi- país estabelecer condições para co é formado por estudantes que dentre os jovens possam (indicador indireto da falta de emergir uma massa significativa bibliotecas escolares). O acervo de pessoas educadas que se inda grande maioria dessas biblio- tegrem nas nossas futuras elites. tecas não é atualizado há vários E para que isso se realize é esanos. Essencialmente, elas não sencial que essa massa de jovens compram livros, mas sobrevivem tenha familiaridade com a leitura com doações, o que significa que e que tais incentivos sejam priseus acervos crescem ao acaso oridade no governo.

O que você acha do atendimento na saúde pública em Curitiba? Jéferson Loureiro “Acredito que as pessoas não têm o atendimento necessário, pois muitas vezes ficam esperando horas numa fila para serem atendidas”. Fernanda Rodrigues, 45 anos, costureira. “Acho que existe uma desigualdade, porque já vi muitas pessoas, por serem conhecidas de alguns profissionais da área, terem privilégios no atendimento, mesmo chegando depois daquelas que aguardavam horas”. Rogério Pereira Lima, 32 anos, pedreiro. “Quando minha filha precisou ser atendida, tive que brigar na porta do posto de saúde, e as enfermeiras diziam que tinha muita gente. Porém, havia poucos profissionais para atender uma grande demanda”. Tatiana Albukerque de Almeida, 42 anos, auxiliar administrativo. “Acho que o atendimento deveria ser mais prático, não com muita enrolação, porém com mais dedicação àqueles que pagam seus impostos e merecem um pouco mais de dignidade e respeito”. Paulo Bernardo, 36 anos, advogado. “O que acontece é que as pessoas que atendem recebem pouco e por isso têm má vontade, pois quem acaba pagando isso somos nós, que necessitamos de auxílio e ficamos à mercê de algumas pessoas de má vontade”. Raquel Pereira, 53 anos, do lar. “O governo deveria contratar mais pessoas, pois somente assim teremos um atendimento de qualidade como merecemos. A saúde no Paraná deve ser um exemplo para o país e não motivo de vergonha”. João Antônio Gomes, 32 anos, vendedor.


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PERFIL

Uma história que veio do circo Hamilton Zambiancki

Divulgação

Divulgação

Uma das melhores produtoras e atrizes de teatro infantil de Curitiba, Regina Vogue completa 50 anos de carreira

Li que seus filhos foram cativados pelo teatro e que são seus parceiros, como isso aconteceu? Meus filhos cresceram neste meio. O Mauricio Vogue é autor e diretor e o Adriano Vogue cuida da parte burocrática, e esta parceria é muito boa, nos respeitamos bastante. Sou bem ‘mãezona’ e sempre dei apoio para as escolhas dos meus filhos.

Sophia de Souza

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ascida em Caçador (SC) e criada em Porto Alegre (RS), Regina Vogue ingressou na carreira teatral através do circo, pois quando iria completar 16 anos fugiu da casa dos pais para se juntar a uma trupe que passava por sua cidade. A atriz comenta que tinha o sonho de ser artista, mas seus pais não a apoiavam. “Pedia para ser artista, mas eles, que são evangélicos, achavam que pessoas do ramo não eram corretas”, lembra. Em entrevista ao jornal Marco Zero, a atriz conta a história de sua vida e da profissão e sobre os seus 50 anos de carreira. Qual era o seu personagem circense? O circo era bem simples e trabalhei em vários números, como os de fogo, força capilar e auxiliar do atirador de facas. Foi neste momento que decidi que queria ser atriz, tendo a Regina Duarte como musa inspiradora, e assim ingressei no circo e teatro. Por ter começado sua carreira nesta área, nunca pensou em montar um grande circo na cidade de Curitiba? Nunca pensei em montar porque já têm muitos por todos os cantos do mundo. Resolvi criar uma companhia de teatro que se chamava DKV.

lisonjeada e aceitei na hora. Pretende abrir outras casas teatrais em cidades diferentes ou até mesmo em Curitiba? Sou muito sonhadora e corro atrás destes sonhos para concretizá-lo. Por isso, se pedirem para eu abrir outros espaços tanto em Curitiba quanto em outras cidades, com certeza toparei.

“Pedia para ser artista, mas eles, que são evangélicos, achavam que pessoas do ramo não eram corretas”

Por que optou por focalizar em peças infantis? Por paixão e necessidade de levar o teatro para as crianças.

Além do teatro existem outros serviços que são prestados para as crianças? Temos as oficinas e eu administro tudo mesmo não ministrando Quando foi produzida a as aulas. primeira peça infantil? E do que se tratava a história? Sabemos que nem todas as Foi “Chuva de Cores”, em 1986, crianças têm acesso à cultura. uma montagem com direção e A senhora tem algum projeto texto de Nivaldo Dutra que at- que leve o teatro ao alcance ualmente mora em Lisboa. Não destes jovens? tínhamos dinheiro para investir Trago em torno de 5.000 crianna peça, mas encaramos com ças, todos os anos, para meu escoragem para que desse certo. paço, possibilitando que assistam Chegamos, inclusive, a vender gratuitamente á peças teatrais. coisas pessoais. A história era de um guarda-chuva e uma som- Como aconteceu a parceria com brinha. Eera como no romance o Shopping Estação de abrir um de Romeu e Julieta, onde os pais espaço que leva seu nome? da sombrinha não queriam que O Miguel Krigsner, fundador de ela namorasse o guarda-chuva O Boticário, me convidou para por ser preto. Foi um sucesso na abrir um espaço teatral que leépoca. vasse meu nome. Me senti muito

Em outras profissões às vezes trabalhar com a família é desgastante por causa de discussões, com vocês isso acontece? Um interfere no trabalho do outro? Antes de discutir, temos que dialogar para que tudo dê certo. Existe um respeito muito grande, cada um sabe das suas responsabilidades, mas claro que dou ‘pitaco’ de vez enquando (risos). Este ano, a sua carreira comemora ‘Bodas de Ouro’. O que leva destes 50 anos? Muita coisa boa, uma bagagem grande que eu voltaria a carregar para chegar onde estou. Porém não paro e tenho muitos projetos que pretendo concretizar. Como pretende festejar o aniversário da sua carreira? Em setembro, irei interpretar no palco minha autobiografia que ainda não tem título e estamos com a ideia de fazer um concurso para a escolha do nom. E também será lançado o livro sobre minha história. Ainda no segundo semestre, a companhia da atriz deve estrear o espetáculo infantil “Alice no país das maravilhas”, em outubro, como um presente no mês das crianças.


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TRILHAS DO TEMPO

A miss que virou uma doce história Izis Cristine

Izis Cristine

Confeitaria tradicional de Curitiba criou a torta Marta Rocha nos anos 50

Confeitaria é ponto de encontro

Confeitaria das Famílias, localizada na Rua XV de Novembro

Uma das especialidades do estabelecimento foi criada para servir de consolo à mais famosa miss brasileira

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ma torta sofisticada muito famosa que mistura massa de pão-de-ló branca e preta recheada com creme de ovos, nozes e damasco é uma das especialidades gastronômicas mais conhecidas da Confeitaria das Famílias, localizada na Rua XV de Novembro, em Curitiba. A torta Martha Rocha é uma das especialidades do estabelecimento e foi criada para servir de consolo à mais famosa miss brasileira. Martha Rocha, uma baianinha de 21 anos considerada a mais linda mulher do país, disputou o título de Miss Universo em 1954. Ela perdeu a coroa para a americana Myriam Stevenson, em uma praia na Califórnia. Teoricamente, foram duas polegadas nos quadris que a fizeram perder, mas a história vai muito além disso - hoje se sabe que o motivo foi outro. Antigamente, os concursos eram patrocinados em milhões de dólares. Como a população estadunidense naquele ano estava meio desinteressada, e os patrocinadores ameaçavam não manter com o investimento no concurso, os juízes acharam por bem dar o trono à americana. Isso salvaria o espetáculo e deixaria a população feliz e satisfeita, e foi o que aconteceu. As polegadas foram na verdade uma invenção de um repórter, mais tarde revelada pelo jornalista Accioly Netto no livro O Império de Papel – Os bastidores de O Cruzeiro (Editora Sulina, Porto Alegre, 1998). A intenção de inventar essa história foi consolar a população brasileira. Mas um consolo mais doce veio do pâtissier Jesus Alvarez Terzado, espanhol da Galícia, dono da Confeitaria das Famílias. Vendo a tristeza da mulher, a brasileira Dair da Costa Terzado, que

ficou inconformada com a injustiça, rebatizou uma torta antiga (chamnada de “fondant”) com o nome de Martha Rocha, o que se tornou um sucesso total para a confeitaria. Divulgação

Izis Cristine

Marta Rocha disputou o título de Miss Universo em 1954

A Confeitaria das Famílias foi fundada em 1945 por imigrantes espanhóis e tornou-se ao longo dos anos a mais tradicional da cidade. Em 1984, a casa passou por uma reforma, principalmente no segundo andar, onde fica o salão de chá, ponto de encontro de famílias e amigos. Os doces são referência na confeitaria, principalmente os folhados, sempre crocantes e deliciosos e elaborados com muita dedicação. O confeiteiro Manolo Rodrigues Garcia, um espanhol de 80 anos, trabalha há 50 na confeitaria. “Eu vim ainda novo da Espanha. Meu irmão Jesus já estava aqui, e a confeitaria era de um primo nosso. Cheguei em 1958. Antigamente, passava um ônibus aqui na frente, e agora é um calçadão. Aí fui ficando e aprendendo e aqui estou até hoje”, conta. Manolo se diz feliz em trabalhar num estabelecimento bastante tradicional. “Trabalhar com comida dá muito trabalho e precisa de muita dedicação, e aqui sempre mantivemos esse cuidado. São famílias que frequentam há gerações e continuam vindo, e cada um tem seu gosto”, diz o confeiteiro, informando que seu dia a dia é bem movimentado: “Abrimos às 7h30 e fechamos às 23h. Algumas vezes, preparamos na hora uma massa para agradar o cliente”. Ele conta que as receitas não mudaram muito com o passar do tempo. “No caso dos doces, especialmente os de massa folhada, são as mesmas do tempo da fundação do estabelecimento. É um segredo da família.” E quanto à homenagem à mais famosa miss do Brasil? “Até hoje, faz muito sucesso. A estrela da casa é a torta Martha Rocha. As pessoas vêm aqui só para saboreá-la.”


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Quando o tubo enche... Alexsandro Ribeiro

Em dia de chuva, passageiros ficam para fora das estações- tubos

Pontos de ônibus na Praça Tiradentes não têm segurança Guilherme Pereira

Passageiros da linha Campo Comprido aguardam, em baixo de chuva, a vez para entrar na estação-tubo

Alexsandro Ribeiro

E

m Curitiba, numa sexta-feira, às 18 horas, o tempo nublado aponta possibilidade de chuva na capital paranaense. Na rua Desembargador Westfallen, no centro da cidade, cerca de 15 pessoas estão enfileiradas esperando para entrarem na estação-tubo da linha Bairro Novo, que está lotada. Segundo um funcionário da empresa de transporte responsável pela linha, isso acontece de segunda a sexta, entre 18 e 20 horas, período de pico da linha. “Seja chuva ou sol, é sempre assim. O tubo enche, e fica um monte de gente para fora. O pessoal sempre reclama”, afirma o funcionário. Para a balconista Lúcia Stefan Silva, de 33 anos, o fato de passageiros terem que esperar para se abrigarem na estação-tubo é consequência da falta de planejamento da Urbs, empresa pública responsável, entre outros serviços, pela fiscalização e aplicação de regras para o transporte público em Curitiba. “Eles deveriam colocar mais ônibus na linha, pois assim não precisaríamos ficar esperando do lado de fora dos tubos. No começo do ano, fiquei esperando por 15 minutos o ônibus debaixo de chuva. Peguei resfriado. Parece que eles não se importam com isso”, critica Lúcia. Em outra parte da cidade, atrás da Catedral, na Rua Augusto Stellfeld, a mesma cena se repete na estação-tubo da linha Campo Comprido. Pessoas do lado de fora do tubo espe-

rando para entrar, também debaixo de chuva. Alguns, prevenidos, abrigam-se debaixo de sombrinhas e guarda-chuvas. Outros não têm a mesma sorte, como a estudante Camila Pontes, 13 anos, que frequenta um curso de computação no centro da cidade três vezes por semana. Segunda ela, além de ficar na chuva, há riscos de assaltos. “Como se não bastasse ter de aguentar a chuva, agora a gente tem que cuidar das bolsas. No mês passado, vi duas senhoras serem assaltadas na fila do ônibus. E olha que estavam perto de entrar. Ninguém pôde fazer nada, foi muito rápido”, comenta. De acordo com a assessoria de imprensa da Urbs, em 2009, foram registradas 77 reclamações de usuários da linha Bairro Novo, dos quais 70 no mês de julho. As reclamações, realizadas pelo telefone de serviços da Prefeitura, o 156, geralmente se concentram nos meses de maio a julho, época chuvosa. Segundo a assessoria da empresa, a ampliação e melhoria da estação do Bairro Novo, que será transferida para a praça Rui Barbosa, está em fase de projeto. Além da ampliação prevista, a Urbs informa haver aumentado, desde 2009, a quantidade de ônibus na linha nos horários de pico. Conforme a assessoria, o tamanho das estações é o principal fator que acarreta as filas para fora dos tubos. Em levantamentos realizados no ano passado na linha Bairro Novo, a Urbs constatou que em determinados horários os ônibus trafegavam com apenas 60% de sua capacidade.

A falta de segurança nos pontos das linhas de ônibus na Praça Tiradentes tem deixado os usuários do transporte coletivo temerosos. Devido às câmeras filmadoras instalados recentemente no Largo da Ordem, a “cracolândia” mudou de lugar e instalou-se nas proximidades da Praça Tiradentes. Hoje, é comum a população conviver com os marginais vendendo e usando drogas em plena luz do dia. Usuários de menor poder aquisitivo, assim como jovens com seus carros importados, ficam rodando por ali à espera de uma oportunidade para consumirem entorpecentes. Apavorados, os trabalhadores evitam ficar parados nos pontos de embarque. Como se não bastasse, além da longa espera por seus ônibus, os passageiros têm que conviver com mais esse problema. Ao anoitecer, o clima fica ainda pior, pois os consumidores, já transtornados, começam a brigar entre si. Num corre-corre ameaçador, eles tomam conta das calçadas. “A polícia não faz nada. Sabe que isso sempre acontece e parece fazer vistas grossas. Hoje eles prendem um cara, mas no dia seguinte esse mesmo sujeito está aqui de volta”, relata a estudante de Ciências Contábeis Elis Regina. Ela questiona: “Que moral a polícia vai ter? Sempre que prendem, eles já soltam depois. Os drogados sabem que não acontece nada com eles”. Há cerca de dez anos trabalhando no centro da cidade, a vendedora Zinéia França conta que há alguns anos muitas famílias moravam no centro. “Mas hoje não, o centro à noite é deserto”. Ela afirma que muitas pessoas têm medo de ficar esperando ônibus. “Tenho medo de ficar no ponto. Quase todo mundo fica nervoso com essas pessoas traficando na região. Saio da loja, e já está escuro, prefiro esperar em outro lugar”, lamenta. O capitão Samuel Mello, da Polícia Militar, alega que a área já está em estudo pela polícia, que vem fazendo uma investigação na região. Dentro de algumas semanas, garante ele, serão tomadas medidas para inibir a presença desses grupos na região.


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Amigas de Rebeca, também garotas de programa

Apesar do avanço da medicina, algumas ainda se dedicam a essa atividade na Gra

ente, sinto nojo dele, de mim. Eu me casei e morei em Londrina até 1999. Lá, tive uma filha, que hoje tem 16 anos. Eu era empregada doméstica. Depois, nos mudamos para Curitiba. A gente não tinha dinheiro, e por meio de uma amiga fui para a noite sem que meu marido soubesse”, conta. Se prostituir-se é vender o corpo para o prazer de outras pessoas, para Rebecca, o prazer é o que o dinheiro pode comprar. Ela é uma menina de classe média, universitária, mas que quer o luxo e o glamour que só o dinheiro pode dar. “Acordo às 11h, vou pra academia, faço massagem e bronzeamento. Estudo Relações Públicas na faculdade e não reclamo da minha vida, pois ela é boa”, diz Rebecca, de 21 anos.

Filhas do perigo Em paralelo à história de Mariana e Rebeca, que utilizam telefone e internet, respectivamente, para marcar encontros, muitas mulheres se prostituem nas ruas de Curitiba, arriscando a vida e se expondo a humilhações de estranhos. No centro de Curitiba, podem ser encontradas várias dessas mulheres que, talvez por não terem opção melhor de vida, vendem seus corpos por alguns “trocados”. O mercado da prostituição na

Parteira, uma profis

Rebecca, 21 anos, universitária

Lucyllen Reis

A profissão é antiga. No Egito e na Grécia, as prostitutas eram consideradas grandes sacerdotisas, divindades, eram sagradas e recebiam presentes em troca de sexo. Hoje, ganham dinheiro nessa atividade, mas estão muito longe de serem sagradas, pois a essa profissão é vista como algo escandaloso e fora dos padrões morais da sociedade. Então por que milhares de mulheres entregam seus corpos a estranhos? As razões para a entrada dessas mulheres na profissão são quase sempre econômicas. A maioria delas vê a prostituição como algo passageiro, ou seja, até que achem outro trabalho. Mariana (nome fictício) tem 32 anos e uma filha de 16. Ela sonha em um dia deixar essa ocupação. “A vida que levo é horrível. Quando vou pra cama com um cli-

ESPECIAL: PROFISSÕES ANTIGAS

Silvana da Maia

Lucyllen Reis

Lucyllen Reis

Amor à venda!

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cidade evolui. Essas meninas não são só encontradas apenas nas ruas ou boates, mas também na internet, em sites específicos e de relacionamentos onde homens “tímidos” vão procurar parceiras. Urbano é um típico homem usuário da internet, tem 45 anos e é casado. “Na internet, é mais fácil marcar um encontro, podemos nos conhecer através da webcam antes e depois combinar. Eu vou, pago e depois vou embora”, conta.

Zilda da Silva e seus dois filhos, Eriane e Everson, nascidos pelas mãos de uma parteira

Ela relata que de todos os part alizados por suas mãos, somente uma m arteira é a pessoa responsável pela aju- aconteceu, porque a mãe da criança dem da às mulheres no momento do parto. muito tempo para procurar ajuda, e qu O trabalho está em extinção em razão chegaram até a parteira a criança já e da evolução da medicina, mas em muitos morta. São muitas as histórias de Frid lugares, principalmente nas regiões de difí- cil acesso, o trabalho dessas mulheres ainda se lembra de um fato marcante em sua existe. É uma profissão tão valorizada e re- “Um homem de 45 anos veio me pro conhecida pela sociedade que a Organização para agradecer, pois disse que eu havia Mundial da Saúde que, em 1991, instituiu o o parto dele. Foi a senhora que me pego Dia Internacional da Parteira, a ser comemo- mãos pela primeira vez”, conta, com os rado no dia 5 de maio. Na Região Metropoli- lacrimejando. Frida diz que cada parturient tana de Curitiba, é preciso muita caminhada para encontrar as parteiras que ainda exercem única, o que exigia conhecimento saber qual o melhor procedimento a profissão. Elfrida Taborda Siqueira é uma das adotado. Ela também foi respon poucas parteiras existentes na cidade de Cu- por ensinar e dar treinamento no prático para parteira ritiba. Uma simpática senhora de 81 anos, mas com o es“Fazia o trabalho sem cujo intuito era ressalt procedimentos, técnic pírito jovial, além da perfeita cobrar nada, porque cuidados e, principalm lucidez. Muito falante e com sentia que era uma a importância da hig o sorriso sempre estampado missão, por isso me Atualmente, não exerce no rosto, Frida, como é conhecida, acredita que fez cerca sinto muito abençoada” a profissão, devido a problema na região lo de 120 partos. Iniciou o cure pelo aumento do nú so de parteira prática, por necessidade, aos 35 anos, quando já estava cas- de hospitais e médicos especialistas. ada e com cinco filhos. Ela sente orgulho de aposentada há 30 anos como visit sua profissão, e sua felicidade é notória. “Se eu sanitária (profissão hoje classificada c quisesse, hoje poderia estar milionária de tan- agente de saúde) e há 28 anos não e tas vezes que fui procurada para fazer aborto, a função de parteira, que declara se mas sempre conversei muito com Deus, que maior orgulho. Hoje em dia, adora nunca me desamparou, e continuei fazendo o bordado e crochê e aprendeu a fazer terias: “Nós não podemos parar”. bem e nunca fui por esse caminho”, conta.

Silvana da Maia

P


Elaine Castilho

ssão de vida

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mulheres ande Curitiba

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te era para a ser nsável curso leiga, tar os cas e mente, giene. e mais a um ombar úmero . Está adora como exerce er seu fazer r biju-

Uma missão Outra parteira que merece destaque é Zilda Aparecida da Silva, de 53 anos, que estudou até a 6ª série. Tem sete filhos, sendo que os cinco primeiros nasceram também por intermédio de parteira. É conhecida pelos moradores da região rural de Colombo, onde reside, como uma pessoa alegre, prestativa e muito receptiva, além de seus dotes culinários. Zilda começou a trabalhar muito nova para ajudar a família, por isso, o trabalho árduo sempre esteve presente em sua vida. Estampando um grande sorriso, fez questão de ressaltar: “Nunca recusei serviço e procurei ensinar isso para os meus filhos.” Aos 21 anos, foi chamada pela parteira da região para auxiliá-la. Foi quando sentiu que tinha essa missão e começou a se interessar e aprender as técnicas. Desprovida de recursos e atuante em um local de difícil acesso, utilizava técnicas simples, como o uso de plantas medicinais, mas com sabedoria para realizar o trabalho da melhor forma possível, pois, como ela diz, “o importante era que corresse tudo bem durante o parto.” Zilda relata que passou por uma situação difícil em um dos partos que realizou. Saíram primeiro os pezinhos do bebê, mas, graças ao conhecimento adquirido, ela teve como solucionar o problema, usando as mãos para virar o bebê e deixá-lo na posição correta para o nascimento. “Antigamente, não existia anestesia, era tudo no cru, por isso, a mãe da criança sofreu muito, mas o importante é que depois as duas ficaram bem”. Hoje, não realiza mais partos, mas diz que se for preciso, em uma emergência, poderá fazê-lo, pois sente-se realizada por ter colaborado com a vinda de crianças ao mundo. “Fazia o trabalho sem cobrar nada, porque sentia que era uma missão, por isso, me sinto muito abençoada por Deus, pela importância em saber que ajudei alguém a vir ao mundo”, conta Zilda. Nessa profissão, é perceptível o dom dessas mulheres fortes, dedicadas, que têm em comum a doação de seu esforço para o próximo, além de muita oração. Com ou sem diploma, enfrentavam as mesmas dificuldades para realizarem o trabalho, como o frio e a chuva, o acesso, a estrutura da casa e a altura da cama, que dificultava muito, pois era necessário ficar de joelhos. E também porque não havia descanso, pois o nascimento podia ser a qualquer horário, de dia ou de noite. Mas elas relatam que tudo isso era irrelevante e tornava-se gratificante quando escutavam o choro do bebê e viam que a mãe e o filho estavam bem.

Os serviços de sapateiros ainda são procurados no centro de Curitiba

O velho sapateiro ainda resiste fossem os sapateiros que resistem, com a profissão quase extinta com o Alguns profissionais vão, tempo, o que seria deste bom amigo, aos poucos, perdendo espaço devi- o sapato velho? Anderson de Lima, 56 anos, do à entrada de novos produtos no mercado e aos costumes da vida casado, três filhos, conta que pasmoderna. Alguns exemplos são os sou a infância ao lado do pai, Ozair, alfaiates, hoje tão escassos, as cos- entre ferramentas, chaves de fenda, tureiras, os relojoeiros e também os couro, carretéis, martelos, tintas, graxas e agulhas. Com seus olhos sapateiros. A profissão de sapateiro é arregalados e curiosos, aprendia sem bastante antiga, pois até na Bíblia querer a profissão paterna. “Não enexistem relatos sobre as sandálias sinam isso no colégio. Muito menos e calçados. E alguém, com certeza, fui a cursos. Aprendi com a vontade fazia e consertava esses objetos de de não deixar morrer a profissão de uso pessoal. O exército romano, por meu pai”, justifica. Também comenexemplo, usava umas sandálias bem ta com orgulho: “O cliente sai daqui levando um sorriso “modernas”. Moderno rosto, como uma nas porque ainda hoje “O cliente sai daqui levando um sorriso no criança que leva o estão na moda alguns rosto, como uma criança brinquedo para arrumodelos romanos da Antiguidade. Bem que leva o brinquedo para mar e tudo dá certo”. arrumar e tudo dá certo” A melhor propaganmais leves, entretanto, da para o sapateiro e, com certeza, mais confortáveis. É só olhar nas vitrines. é a boca-a-boca. Joões, Marias, Hoje, são poucos os profis- Antônias, Renatas, Juninhos, e por sionais que atuam nas grandes ci- aí vai. Todos que moram nas redondades com o conserto de calçados. dezas conhecem Anderson, que conNão é incomum alguém pensar: ta já saber o que o cliente quer, como “Adoro este sapato e gostaria que e sem erros. Feliz com o que faz e ele nunca acabasse!” Não para apre- atendendo há anos no mesmo local, sentar um estilo ou moda, mas sim no centro da cidade, faz sucesso em porque esse utensílio vai fazendo sua sapataria. Uma cliente garante parte do dia a dia de quem o usa e, que o conserto fica bem feito, bomuitas vezes, acaba calçando sem- nito. E se orgulha do sapateiro por sua responsabilidade e confiança. E pre o mesmo sapato. Às vezes, o apego a um ainda conta que ele fez um bom tracalçado confortável faz com que balho no conserto de uma bolsa. “O sapateiro tem que ter criseja usado sempre o mesmo bom e velho amigo com todas as roupas atividade, pois é um artesão. Surge - até mesmo sem combinar, mas lá cada sapato que... hummmm (geme estão eles dando conforto. Se não Anderson), além de destruídos, al-

Elaine Castilho

guns têm até chulé!” Ele solta uma gargalhada: “Tenho cada estória que dá para fazer um livro. Às vezes, além de consertar o sapato, viro psicólogo! Mas peço a Deus que demore a extinção da minha profissão. Não é fácil, mas é o que eu sei fazer de melhor”. Irene Farias é uma das donas da conceituada Sapataria Farias, localizada na rua Saldanha Marinho, no centro de Curitiba. Ela não revela a idade. Sua simpatia é contagiante. Conta que já foram 37 anos consertando bolsas e sapatos, desde 1973, e que tudo começou com seu marido, já falecido. “Começamos com uma pequena portinha, aqui mesmo nesta rua. Naquela época, a vida não era fácil”, conta Irene, com lágrimas nos olhos, lembrando que trabalhavam duro dia e noite, sem horário de almoço e às vezes sem dormir. “Mas, graças a Deus, criamos nossos filhos, e a vida nos levou para o que somos agora, uma sapataria sem concorrência, e me orgulho disso. Consertamos de tudo. Opa! Quase tudo”, corrige Irene, explicando que a Sapataria conta com linha própria de bolsas, carteiras, cintos e acessórios finos. “Trabalhamos em família, eu, meus filhos e mais de 50 funcionários que me ajudam muito”, conta Irene com um orgulho de encher a alma. “Oferecemos ao cliente confiança, pois temos um nome a zelar. Estamos pensando em outras filiais para destacar e não deixar morrer a profissão de sapateiro”, conclui.


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OSP completa bodas de prata Mesmo jovem, a Orquestra Sinfônica do Paraná conta com um vasto repertório e uma bela história nos seus 25 anos de existência

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ACONTECEU Kyria Mousquer Jéferson Loureiro

Médicos Sem Fronteiras

No mês de junho, no Shopping Mueller de Curitiba, foi realizada a exposição interativa “Médicos Sem Fronteiras”, que mostrou o trabalho de 28 mil médicos e profissionais da saúde do mundo todo que levam ajuda humanitária a mais de 60 países. Os visitante puderam mandar mensagens on-line aos médicos do outro lado do Atlântico. A exposição já passou por cidades como São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Recife, Goiânia e Salvador, tendo recebido um total de 18 mil visitantes e 5 mil mensagens.

Pátria de chuteiras

Orquestra Sinfônica do Paraná: crescimento do público “é uma consequência natural diante do trabalho realizado”

Larissa Glass

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Orquestra Sinfônica do Paraná está completando 25 anos, com uma trajetória que envolve talento e dedicação à música. Com um vasto repertório, que inclui mais de mil obras, e 79 músicos que dão vida às sinfonias dos mais diferentes estilos, como o clássico, o romântico, o barroco e o contemporâneo, a OSP encanta os admiradores da música erudita. Dois grandes concertos foram realizados para as bodas de prata, nos dias 28 e 30 de maio, contando com a participação da pianista polonesa Anna Kijanowska. Segundo a coordenadora da Orquestra Sinfônica do Paraná, Elisa Satyro, cerca de 300 pessoas não conseguiram assistir ao espetáculo no auditório do Teatro Guaíra, que tem capacidade para 2.149 pessoas. Ela diz que a OSP conta com um público fiel, mas vem ganhando cada vez mais admiradores. Para o músico Fernando Tha Filho, o motivo de a orquestra hoje ter um público maior é consequência da própria existência da OSP, pois as pessoas vão se acostumando a ir aos

concertos com os repertórios sinfônicos. “Essa é uma consequência natural diante do trabalho realizado”, observa. Tha toca oboé desde o início da orquestra, em 1985. Para ele, nesses 25 anos, houve vários momentos marcantes e emocionantes, mas a comemoração das bodas de prata foi um dos que mais o emocionou. Ele, que trabalha com música há 38 anos, diz que é muito gratificante e a profissão de músico é maravilhosa, exigindo muito estudo. “Mas se colhem bons frutos”, garante. Transformações Como um dos corpos artísticos oficiais pertencentes ao Centro Cultural Teatro Guaíra, a Orquestra Sinfônica do Paraná passou por transformações, ajustando-se à economia, à política e à administração de cada período. Alternando-se entre o esplendor e a austeridade, contou com grandes participações nacionais e internacionais da música, como Fernando Lopes, Nelson Freire, Anna Yorovaya (Rússia) e Krzysztof Pelech (Polônia). Com uma proposta de diversificar a música brasileira, a OSP se apresentou com Altamiro Carrilho, Zimbo Trio, Banda Blindagem e bandas militares, atingindo os mais variados públicos.

Além dos concertos sinfônicos, coral sinfônicos e óperas como Aída e La Traviata, a OSP participou de apresentações de balés, como o Balé Teatro Guaira, em obras como Dom Quixote, de Minkus, Coppelius, de Delibes e “O Quebra Nozes”. A osquetra realizou apresentações em teatros de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Foi convidada a acompanhar o tenor José Carreras e o tenor Andréa Bocelli em sua tournée brasileira, em concertos em São Paulo e Rio de Janeiro. Paranaguá,Castro, Tibagi, Ponta Grossa, Matinhos e Antonina foram palco neste ano para as apresentações de comemoração dos seus 25 anos. Em sua trajetória, a OSP teve à sua frente vários maestros. Hoje, está na regência Alessandro Sangiorgi. Para quem gosta de boa música, a OSP também faz apresentações no programa Teatro para o Povo, no Teatro Guaíra, todo último domingo do mês. A entrada é gratuita. SERVIÇO http://www.tguaira.pr.gov.br Telefones: 3079-7982 e 3079-7979 Endereço: Rua XV de Novembro, 971 – Curitiba-PR.

Junho e julho foram os meses da Copa do Mundo, realizada na África do Sul. No Memorial de Curitiba, a exposição “Pátria de Chuteiras” contou a história do futebol no Brasil. Na abertura, houve a participação de ex-jogadores da Seleção Brasileira de todos os tempos, como Edu, Félix e Cafu. A exposição foi dedicada às primeiras copas e, em especial, aos três primeiros títulos da Seleção Brasileira. Foram mostradas fotos históricas e gravações em vídeo das copas. O público pôde conferir como eram as bolas de futebol e as camisas e chuteiras usadas na época. Mas nem tudo foram glórias, pois havia uma parte dedicada também aos 24 anos sem títulos mundiais da seleção e aos jogadores que lutaram mas não conseguiram ser campeões.

Cuidados com a Gripe A

Aconteceu em Curitiba e no Brasil a vacinação contra a “gripe suína” (gripe A-H1N1). Mas as precauções não podem ser deixadas de lado, principalmente durante o inverno. Após encostar as mãos em locais públicos, deve-se lavá-las bem, com água e sabão e sempre cuidar para não levá-las aos olhos, boca e nariz, pois esse é o principal meio de contaminação. É recomendável ficar em lugares abertos e com o ar circulando. Em caso de suspeita dos primeiros sintomas de gripe, devese procurar um médico. A rede de saúde disponibiliza um telefone gratuito do Ministério da Saúde que deve ser usado em caso de dúvidas: 0800-61-1997.


CULTURA

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cenário é clássico. Está encravado no meio de uma selva urbana de pedra ou em uma cidade do interior. À meia-luz de um estabelecimento de lazer noturno, o garçom circunda as mesas munido de uma bandeja repleta de comes e bebes. Em diversos cantos, moças e rapazes travam um bate-papo de caráter mais íntimo. Nas mesas intermediárias, amigos e amigas gargalham, gritam, jogam conversa fora, sempre regadas a muito álcool. Em muitos lugares, mesas de bilhar motivam as apostas noturnas. Sim, o ambiente é um bar! O tom desse ambiente consagrado pelas massas dispõe de uma trilha sonora, a trilha da noite. São os bares com música ao vivo. As canções podem ser românticas, com o intuito de embalar os casais em lânguidas danças, ou talvez adotem um ritmo mais compulsivo, frenético, exagerado, de forma que os frequentadores se ponham a dançar. Enfim, existem gêneros para todos os gostos e estilos: rock, pop, pagode, MPB, soul... E, é claro, tal realidade sonora não existiria se não fossem os músicos da noite, sejam eles cantores, compositores ou ritmistas. Carla Almeida tem 34 anos. Ela toca violão e teclado desde a adolescência, como passatempo. Porém, há seis meses, ela descobriu que poderia fazer uso de suas habilidades profissionalmente. “Na verdade, não creio ser uma profissional”, afirma. Ela se justifica com o argumento de que tinha

André Vinícius

Nas trilhas da noite André Vinícius

Bruna Mermer

Raia Bidê (exposição)

Odisséia (exposição) Há seis meses, Carla descobriu que podia fazer uso de suas habilidades profissionalmente

um emprego fixo, mas tem vivido dessa forma desde sua demissão. “Eu fazia reposição em um supermercado. Mas só toco para ganhar algum dinheiro mesmo. Na realidade, estou procurando um emprego fixo, porque neste país não tem condições de viver de arte”. O apreço de Carla pela música vem por influência de cantores de soul music. “Quando era mais nova, não perdia nenhum lançamento do Michael Jackson, do Barry White ou do Prince. Eu tinha mania de imitar as músicas deles, era meu lazer!” O convite para tocar chegou por intermédio de seu namorado, que é intérprete e precisava de alguém com a habilidade de Carla. “Ele já tinha me dito que se eu fosse demitida daquele serviço podia formar uma dupla com ele. Eu nem imaginei que pudesse dar certo”, conta Carla. Luiz Matos, o namorado de Carla, tem 35 anos e há três é cantor

da noite. Sempre gostou de interpretar músicas, coisa que faz desde os tempos de colégio. “Meus colegas diziam que eu cantava bem. Eu pensava que era piada, imagina só! Mas apareceu uma oportunidade em uma semana cultural organizada pela instituição. Uma banda, que tocava cover de músicas brasileiras, se formou, e me colocaram de vocalista. Modéstia à parte, não decepcionei”, conta Luiz. Ele admira os mesmos artistas que Carla, além de pop europeu. “Gosto muito do Andrea Bocelli e do falecido Luciano Pavarotti”. Luiz e Carla não têm um local fixo para se apresentar. Naturais de Maringá, já estiveram em Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso e Goiás. “Não queremos ficar restritos somente a Curitiba. Se tivermos oportunidade de fazer contatos em outros lugares, é para lá que vamos. Viver de arte é muito difícil”, completa Luiz, concordando com a opinião da namorada.

naense é compatível com a introspecção do curitibano. “O rock não é uma música alegre, no geral. Sempre tem uma veia com atitude”, diz. Conhecedor de bandas como Jethro Tull e Os Inocentes, o estudante, que também toca em uma banda curitibana de rock, acredita que essa vertente musical está relacionada ao bom gosto cultural. “Predileção por um intelecto saudável não inclui axé. Fico com o rock alternativo”. Para o baterista Demo, da banda de rock curitibana Versah, que faz cover de artistas dos anos 1980, o fator que liga o estilo à capital paranaense não é de todo conhecido. Ele acredita, entretanto, que o culto ao rock pode estar relacionado a gerações anteriores. “Nossos ascendentes já vieram com essa influência”, opina.

O baixista Marcelinho, da banda curitibana Anacrônica (foto), pensa que o motivo de a capital paranaense ser lembrada quando o assunto é rock alternativo ainda é obscuro. Ele considera que a cidade está formando um novo tipo de público: o que consome o que é originado aqui. Exemplo disso é o estouro de bandas como Relespública e Terminal Guadalupe. Divulgação

O que não falta em Curitiba são epítetos como cidade sorriso, capital ecológica, capital cultural, entre outros. Mas Curitiba tem outro título que a destaca e que foge do esquema oficial: a de capital do rock alternativo brasileiro. Isso se deve ao fato de o público ser muito fiel ao tipo de música que visa instigar o amor, o sexo, a política e as drogas, e também porque foi na cinzenta cidade que surgiu, nos anos de 1990, a primeira rádio brasileira totalmente dedicada ao rock, chamada de Estação Primeira. O estudante de música Daniel Américo, que compõe o grupo de ouvintes do rock alternativo, afirma que a preferência pelo estilo na capital para-

É de graça! • O fotógrafo Reginaldo Fernandes apresenta a exposição Raia Bidê, no Espaço Cultural Beto Batata. A mostra tem 20 fotografias analógicas em preto e branco do início de sua trajetória; com imagens alegres. A exposição fica em cartaz até dia 15 de julho, de 2ª a domingo das 12h às 24h. Local: Beto Batata, Rua Prof. Brandão, 678 – Alto da XV. Informações: 3262-0840.

O cinza e o rock alternativo Suzayne Machado

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Curitiba, julho-agosto de 2010

• Odisséia é o olhar transversal do fotografo Zé Cahue sobre as paisagens, culturas e pessoas, observadas durante dez anos de sua passagem por 26 países. Zé retrata por meio de suas lentes as mínimas partes de diferentes culturas e sociedades. A exposição pode ser visitada de 2ª a sábado das 18h às 24h até dia 17 de julho. Local: Jokers Pub, Rua São Francisco, 164. Informações: 3324-2351.

100 Anos de Adoniram Barbosa (exposição) • O espaço Sesc Água Verde oferece a exposição Os 100 anos de Adoniram Barbosa, que pode ser vista na sala Carol Torres, de segunda à sexta, de 13 de julho a 7 de agosto. Local: Av. República Argentina, 944. Informações: 3342-7577.

Artes visuais (exposição) • Está em exposição no Solar do Barão a produção de artes visuais dos artistas da Fundação Cultural de Curitiba. Eles mostram resultados de seus projetos realizados em 2009. Aberta de 3ª a 6ª, das 9h às 12h e das 13h às 18h, e aos sábado, domingos e feriados, até 8 de agosto. Local: Solar do Barão, R. Carlos Cavalcanti, 533. Informações: 3321-3367.

Apaixonados por motocicletas (exposição) • Para os fãs de motocicletas, estão em exposição até 14 de julho no Shopping Muller imagens do fotógrafo Daniel Katz que retratam o universo dos apaixonados pelas duas rodas. A exposição está aberta de segunda a sábado das 11h às 22h e aos domingos e feriados das 11h às 22h. Local: Rua Candido de Abreu, 127


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CULTURA

O teatro para João Luiz Fiani Rir é sempre um bom motivo para sair de casa

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pesar do frio de Curitiba, uma boa opção para quem gosta de humor e cultura é o teatro. A televisão pode servir de consolo para aqueles que não estão a fim de encarar as ruas nestes dias de inverno. Mas nada melhor que assistir a uma boa peça de teatro e dar boas risadas. Segundo o ator e diretor João Luiz Fiani, que dirigiu incontáveis peças de teatro em Curitiba, entre elas a Casa do Terror, A Gorda e o Anão e Branca de Neve, “fazer teatro é um exercício de dedicação e amor à arte e à cultura”. Trabalhar com teatro é estar lado a lado com a cultura. Para muitos artistas que lidam diretamente com o público, uma das melhores recompensas com certeza é o sorriso no rosto das pessoas. Profissionais que incentivam a cultura contribuem com a educação e com o desenvolvimento social da cidade. O teatro é a reflexão, a análise e a inspiração da sociedade. Veja mais sobre a entrevista concedida por Luiz Fiani ao jornal Marco Zero.

e a necessidade do teatro lotado. Afinal, temos contas para pagar.

Divulgação

Paulo Veiga

Qual é a sua sensação, como artista, em relação às respostas do público quando são positivas e também negativas? Eu lido bem com isso. As respostas, mesmo as negativas, são importantes para a avaliação do nosso trabalho. A crítica é inerente. O gostar ou o não gostar é muito relativo depende do conceito de cada um. Portanto, o público tem todo o direito de definir aquilo que é bom para ele ou não. Nós, artistas, devemos estar preparados para essas questões e opiniões. O importante é procurarmos filtrar e melhorar com todas as críticas.

A peça Branca de Neve, um dos sucessos do teatro de comédia de Fiani

palco, pensamos mais claramente e podemos contribuir de forma clara com a educação.

Que mensagem você acha que as suas peças passam as pessoas? Depende. Existem montagens que privilegiam um tipo de postura reMarco Zero: O que é cultura para flexiva. Mas em todas provocamos o pensamento e a reflexão. Algumas mais você? João Luiz Fiani: Cultura é toda a for- profundas e outras, através do humor, ma de expressão de um povo. Todo o de uma maneira mais descontraída. O conjunto de idéias, de expressões, pen- humor provoca mais. Incita mais. Faz samentos e arte. Cultura é tudo aquilo com que o distanciamento, com um envolvimento emocional que vem do coração e menor, provoque um que passa pela mente “Fazer teatro é questionamento maior! e que pode ser trazido um exercício de Dependendo do espeatravés de ações e resuldedicação e amor à táculo, a mensagem é tados práticos, tangíveis muito mais clara, direta. ou não. A cultura rearte e à cultura” Em outras, a metáfora se flete o momento, o penfaz presente. Não existe samento e a alma de um povo. Através da cultura dos povos, po- uma regra para o que podemos passar demos compreender o pensamento e a num espetáculo. Fundamental é termos em nosso trabalho essa definição clara. vida de cada cidadão. Se isso estiver presente, cumprimos o O teatro pode influenciar a educação papel social do teatro. das pessoas? Como? Claro que sim. O teatro pode Comparando com outros meios, e deve ajudar a formar a educação de como a TV e cinema, como fazer um povo. O teatro deve ter um enfoque algo diferente para atrair as pessoas social e cultural também, que faça o ao teatro? O teatro, desses meios que você cidadão pensar na sua vida e em suas citou, é o que sofre mais por falta de relações com os outros. Como fazer? Estar atento aos movimentos sociais, novidade e de recursos técnicos. Compaàs questões pertinentes ao dia a dia das rar com os meios eletrônicos é desigual. comunidades. Discutir e aprofundar es- O que atrai o público para o teatro não sas questões, fazendo pensar e agir. A é o diferente. É o que toca. É o que faz linguagem teatral ajuda no pensamento pensar. Sentir, emocionar, divertir. O e propicia uma visibilidade do mundo dia em que o teatro precisar somente de em que vivemos. Ao nos vermos no coisas diferentes para ter público, será o

fim dessa arte. O teatro é maior do que qualquer invenção para reinventá-lo. O teatro puro, ator, texto e platéia, ainda é a melhor atração para o público. É essa a magia. Como você se sente em relação à sua contribuição para a cultura em Curitiba? Existe uma responsabilidade nisso? Bem, ao fazer o público sair de casa e ir me ver, já me sinto contribuindo para a cultura da cidade. Fazer um espetáculo, levar um texto ao palco e fazer com que centenas, milhares, venham nos assistir é uma dádiva e um presente dos deuses. Em alguns, proponho pensamentos mais complexos. Em outros, faço pensar e sorrir. A responsabilidade de quem faz teatro é esta: estar no palco e propiciar ao espectador algo para emocionar, para se divertir, chorar... E acima de tudo refletir a vida. As pessoas procuram mais peças voltadas à comédia ou outros estilos? Qual estilo é mais prazeroso fazer? As pessoas hoje procuram mais a comédia. Reflexo da vida. Do dia a dia. Quase que uma tendência... A comédia, quando bem feita, consegue atingir o espectador de uma maneira muito mais clara e objetiva. Nós, artistas, preferimos o drama. Preferimos encenar os clássicos, os espetáculos mais herméticos, mais elaborados... Mas isso às vezes afasta o grande público. Traz ao teatro apenas uma minoria mais intelectualizada e privilegiada. É uma eterna luta entre a vontade e a necessidade. Vontade do hermético, do clássico, do profundo,

Existe algum projeto em seu teatro que envolva trabalhos sociais com pessoas carentes? Sim. Temos parcerias com os hospitais Nossa Senhora das Graças e Pequeno Príncipe. Contribuimos com várias entidades sociais. Desenvolvemos cursos para pessoas com menos poder aquisitivo. Apresentamos espetáculos gratuitamente. Enfim, sabemos da importância do teatro para a comunidade e não podemos nos afastar dessa responsabilidade social. O que espera do futuro do teatro daqui a 20 anos? O futuro depende muito das leis de incentivo. A iniciativa privada, em função das eternas crises financeiras, está afastada do patrocínio direto para projetos culturais. Dependemos muito das leis. Portanto, espero que o crescimento se dê a partir do novo governo estadual que se alinha no horizonte, já que na esfera municipal a lei está funcionando corretamente, mas é insuficiente para a grande demanda de projetos. A cultura precisa das leis. Na esfera estadual, fazse urgente a aprovação da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Se ela for efetivada pelo próximo governador, sua pergunta será fácil de responder. Os próximos 20 anos serão profícuos e de muito trabalho. Espero que o novo governante estadual seja sensível às artes. E que ame a cultura. Tivemos oito anos de atraso. Considero esse período uma espécie de Idade Média “cultural”. Um governador ausente e que esqueceu a maioria dos artistas paranaenses. Ainda bem que os governantes passam, e a sociedade fica. E podemos lutar por dias melhores.


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Curitiba, julho-agosto de 2010

RESENHA

ESTANTE PARANAENSE

Uma homenagem à paixão brasileira

Eliaquim Júnior

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Serra Acima Serra Abaixo: o Paraná de trás pra frente (2010)

Eliaquim Junior

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xiste hábito mais brasileiro que reunir os amigos num bar, pedir umas cervejas e conversar descontraidamente sobre futebol? Esse é, resumidamente, o enredo do filme nacional Boleiros, Era uma Vez o Futebol. No longa, dirigido por Ugo Giorgetti, a turma de amigos é composta de ex-jogadores e ex-árbitros que se reúnem para relembrar o passado e contar as histórias mais marcantes do mundo do futebol. O filme apresenta seis curtas histórias contadas pelos boleiros no bar. A primeira é a mais divertida. Fala do juiz Virgilio “Pênalti” Paiva, que recebe dinheiro para fazer com que um dos times ganhe e por isso marca um pênalti erroneamente e ainda reprime o goleiro porque ele conseguiu pegar a bola nas duas tentativas em que o jogador chutou. Há a misteriosa história de um ex-jogador que coloca à venda suas medalhas e troféus. E também o episódio do “Pai Vavá”, que narra as peripécias de três torcedores corinthianos fanáticos indignados com a situação do craque Caco, que está fora dos jogos há dois meses, vitima de uma lesão no joelho. A situação motiva os garotos a tomarem uma decisão radical: levar o jogador para se curar com um macumbeiro. Vale destacar ainda o curta que conta a história do jogador metido a galã Fabinho, que encontra um mulherão (Marisa Orth) bem nas vésperas do clássico Palmeira x Corinthians, deixando o técnico, vivido por Lima Duarte, louco de preocupação. Boleiros não é um filme apenas para quem entende ou gosta de futebol. Não tem muitas cenas de “bola rolando” no campo, mas descreve com sucesso as várias faces desse cenário tão brasileiro, além de retratar a paixão pelo futebol de uma maneira verdadeira e fe-

Divulgação

Dante Mendonça

liz e mostrar que, por essa paixão, muita gente é capaz de fazer coisas inimagináveis e desagradáveis. Mas se é pelo futebol, tudo bem, não é? O elenco, com todos muito à vontade em seus papéis, tem Flavio Migliaccio, Rogério Cardoso, Adriano Stuart, Otávio Augusto, Denise Fraga e outras participações especiais. Boleiros é um filme muito agradável de se ver, e, evidentemente, muita gente irá se identificar (principalmente os espectadores-torcedores) com algumas situações. Mas o que ainda não se compreende é por que um filme tão “nacional” como esse, um dos poucos que retratam com êxito a nossa paixão brasileira, é tão pouco conhecido? Vai ver que os boleiros estão sempre muito ocupados acompanhando as tabelas do Brasileirão, da Copa Libertadores da América, Copa do Mundo... Boleiros, era uma vez o futebol Direção: Ugo Giorgetti Ano: 1998 País: Brasil Quer ver mais filmes que retratam o futebol? Acesse o link abaixo e divirta-se: http://listasde10.blogspot. com/2010/04/10-filmes-sobrefutebol.html

Lançado em março deste ano, o novo livro do jornalista e escritor Dante Mendonça, Serra Acima Serra Abaixo: o Paraná de trás pra frente, conta histórias, curiosidades e pitorescos aspectos das cidades paranaenses. O livro é de certa forma uma continuação do antecessor, Curitiba, Melhores Defeitos, Piores Qualidades, no qual a capital era o foco principal. Para o autor, Serra Acima é o planalto, onde estão os Campos Gerais, com um dicionário muito peculiar. “É uma mistura de sotaque leitE quentE com termos campeiros, de sílabas e letras às vezes engolidas”. Serra Abaixo é onde fica o mar. Mas também o lugar do famoso prato do barreado, cuja origem até hoje causa controvérsias, pois ninguém sabe ao certo onde nasceu o prato típico do litoral paranaense. A obra possui desenhos de Joe Benett.

A Copista de Kafka (2007) Wilson Bueno A Copista de Kafka é um dos livros mais recentes do renomado escritor Wilson Bueno, que faleceu em maio último, vítima de homicídio. A obra é composta de 27 textos cercados por trechos do fictício diário de Felice Bauer, a copista do cultuado escritor Franz Kafka. A obra narra a relação entre Bauer e Franz, misturando realidade e ficção. Bueno revive nas páginas de seu livro alguns personagens e ambientes antes apresentados na literatura de Kafka. Boa leitura para quem conhece a obra de Franz Kafka e para aqueles que desejam saber um pouco mais sobre o grande escritor paranaense.

Retratos de Viagem - Brasil,Caribe e Mediterrâneo a bordo do Zimbros (2010) Osvaldo Hoffmann Filho

O paranaense Osvaldo Hoffman Filho navegou pela costa brasileira: começou por Santa Catarina, subiu rumo a São Luís do Maranhão, passou pelo Caribe, chegou a Espanha e Portugal e iniciou sua volta passando por Cabo Verde e Canárias, chegando finalmente a Fernando de Noronha. Foram quase dois anos de viagem e muitas histórias, que o velejador conta em seu livro, composto ainda por mais de 40 fotografias. Leia um trecho da obra: “São curiosos e fascinantes esses altos e baixos que se vive a bordo. Em certo momento sentimos um tédio sem tamanho, no seguinte tudo muda; vem uma onda para balançar a monotonia e, finalmente, sente-se uma energia incrível. É uma montanha-russa de emoções... navegar é coisa para loucos”.


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Curitiba, julho-agosto de 2010

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Velho e maravilhoso mundo

Frente do Paço dos Duques em Guimarães, Portugal

Restos da Biblioteca da cidade de Efesus - Turquia Texto e fotos de Claudia Bilobran

O que falar sobre o “Velho Mundo”? É simplesmente fantástico. Todos os lugares na Europa exalam história, que pode ser encontrada em cada pedra do caminho. Construções monumentais, riqueza, cultura, incríveis obras de arte talhadas em mármore. Os detalhes de cada personagem pintados nas paredes e altares das igrejas são tão perfeitos que dá vontade de chorar, tamanho o encanto que provocam. Paisagens repletas de beleza e charme completam o conjunto de ornamentos, riquezas, poder e bom gosto.

Palácio da Bolsa na Cidade do Porto, em Portugal

Salão do Banquete no Paço dos Duques na cidade de Guimarães, em Portugal

Rua da Cidade de Dubrovnick, na Croácia


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