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Curitiba,setembro de 2010

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 6 • Curitiba, setembro de 2010

Alexandre Gasparini

COMÉRCIO

Competição com os shoppings

Como os comerciantes do centro fazem para competir com os shopping centers. Página 5

TRÁFICO

Cracolândia de Curitiba

PERFIL

“Sempre gostei de esportes”

Conheça a história da repórter esportiva Janaína Castilho, da Rede Paranaense de Comunicação (RPC) e do Globo Esporte local. Página 3

A vovó das estações-tubo Você sabia que a estação-tubo da praça Carlos Gomes é a mais antiga de Curitiba? Página 4

PÁGINAS 6 E 7


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MARCO ZERO

EDITORIAL

ARTIGO

Aos leitores

Os desafios do trânsito curitibano

Esta edição do jornal Marco Zero traz como reportagem especial a matéria “Cracolândia de Curitiba”, uma importante averiguação de fatos relacionados ao tráfico de drogas na região central de Curitiba, nas imediações do Largo da Ordem, palco de inúmeras cenas de violência documentadas nos últimos dias em diversos meios de comunicação. Na seção perfil, a repórter Janaína Castilho, da RPC, narra sua paixão pela profissão de jornalista. Como destaque, esta edição traz ainda uma análise a respeito da batalha do comércio da região central de Curitiba contra os impérios do consumo, em outras palavras, os shopping centers. No caderno Cultura, está retratada a rotina dos hare krishnas, que se reúnem todos os dias no Largo da Ordem, e, na seção Trilhas do Tempo, o relógio das flores tem sua rica história relembrada. O periódico ainda destaca uma descontraída e agradável conversa com o livreiro mais famoso de Curitiba, Eleotério Burrego.

Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) Coordenador do Curso de Comunicação Social: Gustavo Lopes Professores Responsáveis: Roberto Nicolato Tomás Barreiros Diagramação: André Halmata (6º período) e Henrique Rigo (7º período) Facinter: Rua do Rosário,147 CEP 80010-110 - Curitiba-PR E-mail: assessoriajr@grupouninter.com.br Telefones: 2102-7953 e 2102-7954. ERRATA - por falha na diagramação, a edição anterior, de julho-agosto de 2010, sai identificada como a de número 4, mas na verdade foi a edição de número 5.

Adriano Lohmann

Há muito tempo vem sendo 307,00 milhões, o valor destinado tarefa difícil transitar pelas ruas ao sistema coletivo de transporte da capital paranaense, principal- foi de apenas R$ 164 milhões. mente na região central. Carros, Pouco para uma cidade muitas ônibus e motos disputam cen- vezes premiada nesse setor. tímetro a centímetro os espaços Ainda assim, Curitiba continas vias públicas da cidade. nua sendo exemplo nesse tipo de Dependendo do horário, che- transporte, como é o caso da Linga a ser uma verdadeira missão, ha Verde Sul, muito criticada, por sem exageros, deparar-se com sinal, e o ligeirão na Av. Marechal essa visão caótica, pois, além da Floriano, que aumentou a velocisuperpopulação de veículos, os dade na ligação entre o bairro Bocorajosos que se arriscam nesse queirão e a região central. território de som e fúria devem Outra saída seria o incentivo munir-se de muita paciência, mas ao uso das bicicletas, principalmuita mesmo, porque o pior não mente a curta distância, opção é o congestionamento, mas a falta econômica e saudável em época de respeito e de educação dos es- de conscientização ecológica, tressados. É um verdadeiro festi- mas essa alternativa tão sedutora val de buzinas, gritos e ofensas. acaba esbarrando em vários emE não há previsão de me- pecilhos. A nítida falta de ciclolhoras nos próximos vias, a falta de resanos. Segundo dapeito (mais uma vez) O incentivo ao dos do Detran, entre dos motoristas posuso de bicicletas 2007 e 2010, a frota seria uma alternativa sessivos que acham de veículos aumen- ao congestionamento que a rua é deles e até tou cerca de 20%, problemas com assaldo trânsito saltando de 966 mil tos, já que essa forma na cidade para quase 1,2 milde transporte deixa hão de novos carros despejados seu usuário muito vulnerável. nas ruas da capital, tornando-a a Há os que aguardam com anmais motorizada do Brasil. siedade o já tão comentado metrô Dessa forma, faz-se neces- de Curitiba, com 22 km de extensário buscar novas alternativas são, que ligaria os terminais dos para enfrentar esse panorama. bairros Santa Cândida e CIC Sul, O transporte coletivo seria uma passando pelo centro, no Passeio opção atraente, já que Curitiba Público e na Praça Manoel Euhá muito tempo se destaca com frásio. Opção interessante, mas a um sistema inovador e pela qua- longo prazo, já que a previsão é lidade dos veículos utilizados na para 2014. cidade, porém, de acordo com Fato é que a questão do trânsiinformações do Portal do Con- to em Curitiba já foi amplamente trole Social, coordenado pelo discutida, alternativas foram apreTribunal de Contas do Paraná, o sentadas, como rodízio e cobrança investimento no setor foi apro- de pedágio na região central, entre ximadamente 87% menor que no outros. Mas no final das contas o sistema viário. que conta realmente é o elemento Se para a reforma de ruas, pa- humano, a consciência do quanto vimentação e melhorias para flui- cada um pode contribuir para o dez no trânsito foram injetados R$ benefício de todos.

Curitiba, setembro de 2010

O que você acha da conservação e limpeza do centro da cidade? Gabriel Sestrem “Acho desagradável o cheiro de urina presente no centro da cidade, especialmente quando próximo a pontos turísticos. O mau cheiro interfere na limpeza e conservação do centro. Em patrimônios públicos como o acervo Tiradentes, o cheiro é insuportável, tem que desviar do lugar para não sentir o cheiro”. Denise Cristina, 27 anos, estudante de Pedagogia “A limpeza da capital, sobretudo no centro, está regular, mas não dou nota dez. Necessita de vistoria nos bueiros e melhorar a questão do saneamento. Está regular, mas precisa melhorar”. Marco Antonio , 45 anos, trabalha no centro “As praças estão sujas, as ruas mal conservadas. Dessa forma, existe muita poluição. Não há muita boa coisa a dizer não”. Alessandro Araldi, 28 anos, estudante “A situação da conservação e limpeza do centro está boa. O alto número de garis trabalhando tem ajudado muito”. Elizete, 31 anos, empregada doméstica “Acho que o centro está bem conservado, com bastante garis trabalhando. Não tenho nada a reclamar em questão da limpeza e coleta do lixo”. Viviane , 27 ano, assistente administrativa “A limpeza pública é um trabalho de bastante dedicação e qualidade. A cidade está limpa e conservada”. Ivo Glacy , 50 anos, gari


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PERFIL

Charme feminino nos esportes

A repórter da RPC Janaína Castilhos fala sobre o seu dia a dia na cobertura fora e dentro dos estádios Como você vê a vinda da Copa de Mundo para o Brasil? Muito bom. Quem não quer viver essa festa? Claro que a partir daí entramos em muitas discussões sobre investimentos. Investimento público, principalmente. Quando os nomes do nosso país, da nossa cidade e dos estádios escolhidos têm a possibilidade de aparecer em todo canto, é o maior marketing! Atrai a atenção do mundo inteiro. Tudo parece fácil, e especialistas viram políticos, prometem a melhor infraestrutura, fazem projetos maravilhosos. Mas já começamos a ver as falhas. Nesse caso, não dá para deixar para a próxima gestão, é preciso dar aquele jeitinho brasileiro em quatro anos apenas.

Gilherme Pereira O estado do Paraná viu surgir nos últimos tempos Janaína Castilho como uma das grandes novidades na TV esportiva. Ela já atua há certo tempo, mas depois dela não apareceu ninguém do seu porte no telejornalismo esportivo do Paraná. Mulher com cara de menina, doce, jeito sincero, informações precisas, voz bem colocada, de postura controlada, não fica gesticulando muito. Janaína não faz um carnaval com a notícia, apenas informa. Tem um comportamento de quem não se deslumbra com a tela, informação precisa, prosódia bacana, voz bem colocada (com um defeitinho nos jotas e gês, por causa da língua que recua, mas isso lhe confere mais um toque de charme) e corpo controlado. Janaína é formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Começou a trabalhar em Curitiba na TV Independência, como repórter do extinto Tempo de Jogo. Contratada pela TV Paranaense, a jornalista estreou na edição local do Globo Esporte, onde hoje também é apresentadora. Faz as coberturas dos times paranaenses nas transmissões da Globo e do canal PFC em dias de jogos transmitidos para todo o Brasil. É uma das âncoras da Revista RPC, nas noites de domingo, ao lado do jornalista Odilon Araújo. A jornalista concedeu entrevista ao jornal Marco Zero, na qual fala sobre seu dia a dia, dá sua opinião sobre a Copa do Mundo de 2014 e comenta casos como o de Eloá Pimental e Isabela Nardoni, entre outros assuntos. Jornal Marco Zero - Como foi sua escolha pela profissão? Janaína Castilho - Cheia de dúvidas, como para muita gente! Fiz vestibular para Pedagogia e para Jornalismo. Passei nos dois e comecei Pedagogia. Apesar de gostar muito da área do ensino, não me identifiquei com o curso e parei. Parti para o Jornalismo e me senti mais à vontade. Sempre gostei de escrever, então, o que me fez seguir por essa escolha foi justamente a possibilidade de escrever em jornal, revista. A princípio, minha visão era esta: o impresso.

Janaína Castilhos: “A tevê encanta quem assiste e quem participa de cada etapa da produção.

Ser jornalista é uma paixão para você? É sim. É o motorzinho que me move todo dia. É a vontade de ir em busca de uma nova história. Por que escolheu atuar no jornalismo esportivo? Não foi bem uma escolha. Como disse no começo, eu me imaginava escrevendo em impresso, tinha um carinho especial por revistas, por causa do formato e do estilo de texto. Mas ainda na universidade comecei a trabalhar em TV, por curiosidade. Gostava, é claro, mas fui gostando mais. Acho que TV encanta quem vê em casa e mais ainda quem participa de cada etapa da produção. É uma história com tudo a que tem direito: cor, som, movimento... Fiquei por mais dois anos trabalhando em TVs como ajudante, “faz tudo”, até me formar. Quando me formei, voltei a Curitiba, e minha primeira oportunidade foi justamente em televisão, na RIC. Cobria a editoria geral. Alguns meses mais tarde, estreou um programa esportivo no mesmo canal, e achei que era legal tentar. Sempre gostei de esportes! Deu certo, foi ali que comecei no jornalismo esportivo e não sai mais, hoje na RPC. Sabe aquilo que falei sobre ir em busca de uma nova história? No esporte, você pode ir além, a linguagem é diferente. Se não estivesse na TV, em que ou-

tro meio de comunicação gostaria de trabalhar? Revista! Como é seu dia a dia profissional na televisão? No jornalismo, você não tem muito horário, porque as notícias surgem o tempo todo. No esporte, não é diferente: às vezes os times treinam à tarde, outro dia pela manhã. No fim de semana, tem jogos, competições, eventos e trabalho para a gente! Mas é legal, é uma rotina, como qualquer trabalho, e é a rotina que escolhi. Ao chegar em casa, depois do expediente, você consegue se desligar do trabalho? Não, dificilmente. Mas tento, continuo tentando. Pode não ser ruim, depende do que você pensa. Se forem boas idéias, por que não? Exercita a mente e me parece saudável quando isso não interfere de forma negativa na relação com as pessoas que vivem com você. Qual sua análise sobre o caso da invasão do campo no Couto Pereira? Estava de folga naquele dia, assisti pela televisão. No dia seguinte, fui até lá fazer matéria ao vivo sobre como ficou tudo. E é muito ruim uma situação como essa, para o clube, para a torcida verdadeira, para a cidade, para o futebol paranaense. Acho que nem tem muito o que falar.

Como vê a queda da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão da atividade jornalística? Acho que é preciso o diploma. É preciso ter formação, estar envolvido nas discussões sobre o que representa e como é essa profissão. É tão importante quanto à de um cirurgião cardíaco. Não dá para sair por aí operando a imagem dos outros. É até complicado defender isso com a tecnologia que existe hoje. Todos falam, opinam e divulgam o que pensam. Isso é, sim, muito bom, mas acho que o jornalista, o cara que põe o rosto dele ali, que assina a reportagem, é formador de opinião. O público se informa por meio dele e, na maioria das vezes, acredita nele. O que você pensa sobre a atuação de jornalistas em casos, como o da menina Eloá Pimentel ou o caso de Isabela Nardoni? Exige coerência, sensibilidade, ética e mais um pouco. Como saber até onde ir? Tudo vira notícia a cada minuto, e das piores. Envolve muita dor, principalmente quando se trata de crimes contra crianças. O fato por si só já é sensacionalista; na minha visão, o trabalho jornalístico não pode ser ainda mais. Como você define a jornalista Janaína Castillho? R: Uma aprendiz da vida. Ontem sabia um pouquinho, hoje um pouquinho mais, e lá no fim ainda vai ser muito pouco perto do que há para se descobrir.


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TRILHAS DO TEMPO

No ritmo das horas José Rogério

Há 38 anos, o Relógio das Flores do Largo da Ordem, no centro histórico da capital, vem marcando a vida dos curitibanos

Praça Carlos Gomes tem a estação-tubo mais antiga de Curitiba Hamilton Zambiancki

O Relógio das Flores foi doado por uma empresa à Prefeitura de Curitiba

José Rogério Barbosa

Normalmente, quem atravessa a Praça Garibaldi dificilmente deixa de notar a presença do Relógio das Flores, que, como o próprio nome diz, não exibe apenas o tempo, mas um show de cores proporcionado pelas muitas flores que adornam seu mostrador. Ainda que se esteja a caminho do trabalho, apressado, lançando apenas aquela olhadela rápida para conferir se ainda há tempo, ou se é necessário apressar o passo a fim de não se atrasar, é impossível não se encantar com a beleza do relógio. Funcionando desde as dez da manhã de 15 de julho de 1972, quando foi doado pela firma M. Rosemann Joalheiros à cidade de Curitiba, o Relógio das Flores tem cerca de 8 metros de diâmetro. Era movido a partir de um relógio-comando instalado na Igreja do Rosário por impulsos eletrônicos, ou, tecnicamente falando, emissão vibrátil de quartzo, tecnologia que proporcionava maior precisão e produzia uma diferença máxima de apenas 30 segundos por ano. Os ponteiros são feitos em fibra de vidro. Desde 1978, as flores que o enfeitam são trocadas a cada três meses, de acordo com a floração de cada estação do ano. Projetado para ser o maior e mais perfeito do mundo na época de sua inauguração, concorria em tamanho com os relógios de idêntico estilo de Ontário, no Canadá, sendo 80 centímetros maior que aquele, e de Genebra, na Suiça sendo 1,20m maior que o da capital mundial da relojoaria.

Dentro da casa de máquinas, há um reservatório de água com capacidade para mil litros que é utilizado para a irrigação do seu canteiro de flores. O sistema opera através de fotocélulas externas, que, diariamente, ao amanhecer, quando as luzes da rua se apagam, acionam a bomba elétrica. Em 2000, após ter permanecido parado por três meses devido a depredações e vandalismos, chegando a ter seus ponteiros utilizados como gangorra, o relógio passou por restauração e teve seus ponteiros e mecanismos trocados. Após 38 anos em meio a diversos ataques, seja de vândalos, seja do descaso oficial, seja do próprio tempo que ele marca, o relógio tem uma história tão rica quanto a de muitos outro smonumento importantes da cidade. Se para os apressados passantes a caminho do trabalho ele apenas cumpre estritamente o objetivo de informar a hora, não é assim para aqueles que se sentam nas bancos da praça à sua frente. “Acho muito bonito, mas penso que a iluminação poderia ser melhorada no período noturno. Ou poderiam colocar ponteiros fluorescentes para facilitar a leitura das horas”, diz Ricardo Aparecido da Silva, frequentador do local. Assim, exatamente como diz uma das placas que permanecem ao seu lado, o Relógio das Flores continua marcando a vida daqueles que “... Dedicam o seu tempo, o seu esforço e a sua inteligência em favor de uma cidade melhor, de um país melhor, de um mundo melhor...”

A estação-tubo da Praça Carlos Gomes, junto com a linha Boqueirão, completa 18 anos de atividade em 2010. Após a criação dos ônibus biarticulados, o ponto de parada é o mais antigo da capital paranaense. Responsável por uma revolução nos meios de transporte e visto como modelo para outras cidades, o sistema de condução de passageiros teve sua primeira linha operando em dezembro de 1992. Com o trecho que liga as regiões Norte-Sul, a rota Boqueirão criou seus primeiros tubos no início dos anos 90. Na época, administrada pela empresa Nossa Senhora do Carmo, os primeiros veículos tinham a cor cinza. Hoje, a linha é administrada por cinco empresas diferentes. Segundo a funcionária da estação-tubo Carlos Gomes Luiza Montrean, de 48 anos, são mais de duas mil pessoas que se integram nos chamados vermelhões: “Trabalho aqui no turno da manhã. Começo às 5h15. Até terminar meu turno, já passaram mais de mil pessoas na catraca, e ainda têm outros dois turnos. Acho que passam de dois mil”. Mas a revolução no transporte urbano de Curitiba não parou. Prestes a completar 18 anos, a rota disponibilizou a linha Ligeirão Boqueirão, que faz o mesmo trajeto, mas com menor número de paradas, para maior rapidez até ao destino. Mesmo com as inovações, passageiros ainda têm motivos de críticas. Alguns afirmam que a demora no intervalo entre a partida dos ônibus não os deixa tão eficazes: “Ontem, por pouco, perdi um ligeirão por causa de um minuto. O outro passou dez minutos depois. Juntando com mais os quinze minutos que leva pra chegar até ao meu destino, dá o tempo de pegar o biarticulado, que para em todos os tubos. Fica elas por elas”, afirma o vendedor José Cláudio Dornelas, de 36 anos. Mas não são todos que pensam dessa forma. “Se nos programarmos para pegar o ligeirão no momento certo, a agilidade faz com que passemos menos tempo dentro dos ônibus”, comenta aq psicóloga Francielle Antunes, de 29 anos. Ela geralmente pega o coletivo em horário de pico, à tarde, no centro da cidade, e mesmo assim garante que chega em casa mais cedo e menos cansada, pela rapidez no trajeto: “Às vezes vou até em pé, pois o ônibus fica lotado, mas ainda sim prefiro embarcar, pois chego bem rápido em casa”, salienta. De acordo com o agente da Urbs (empresa que gerencia o transporte urbano em Curitiba) Eugênio Flavio Pacheco, a praça concentra um grande número de passageiros que se deslocam para os quatro cantos da cidade, tanto para a região Sul, com os ônibus das estações-tubo, quanto para outros bairros, tomando o coletivo normal do outro lado da praça. Ele explica que o local é um ponto estratégico da cidade e, por isso, ideal para os biarticulados: “A Praça Carlos Gomes está no meio da cidade, no centro de Curitiba. Milhares de pessoas descem e sobem nos ônibus aqui todo dia. É por isso que foi escolhido para receber a primeira estação tubo. Passam pessoas de todos os bairros no local”.


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Contra o império do consumo

Comerciantes da região central de Curitiba lutam para competir com o potente comércio dos shopping centers

Vantagens e desvantagens

Alexsandro Ribeiro

O que permanece, porém, é o gigantesco número de consu O centro de Curitiba não midores que, entre o centro da cipassa ileso pelo processo de dec- dade e os shopping centers, lotam adência enfrentado pelas áreas cen- pequenas empresas e grandes retrais das grandes cidades. Quem des de comércio em busca de bons paga o preço são os comerciantes preços para serviços e produtos da região que, muitas vezes, vêem da região. seus estabelecimentos serem tro- A recepcionista Maryelcados pelos grandes impérios do len Pereira Dutra, de 26 anos, faz consumo popularmente conheci- parte de um grande número de cudos como shopping centers. ritibanos que apreciam o comér Quem conheceu a região cio do centro da cidade. Maryelcentral da capital paranaense nos len, que mora em Pinhais, é atraída anos 80 traz recordações de um pelos pontos fortes do comércio local elegante e seguro, com um da região: proximidade de vários bom número de moradores e um outros comércios, variedade de comércio atraente liderado pelas produtos, constantes promoções e pequenas empresas. Entretanto, liquidações e preços baixos. “Prenão é mais essa a realidade cu- firo comprar no centro. Encontro Comércio de vestuário e calçados é maioria absoluta na região central de Curitiba. ritibana nos primeiros anos do diversidade de marcas e produtos novo século. Construções deca- e também encontro vários itens no grandes centros comerciais, a O centro apresenta dois universos dentes, crescimento da violência, mesmo lugar. Além do que, pelo publicitária Louriane Regly, de opostos: durante o horário commá conservação das calçadas e fato de a concorrência ser muito 21 anos, aprecia a comodidade ercial, de maior movimento, um dificuldade de estacionamento grande, os preços também tendem e a segurança encontradas nos índice baixo de violência; porém, são alguns dos fatores que têm a diminuir”. shopping centers. Segundo ela, após as 18h e nos finais de semaborrecido moradores e turistas Incluída em outro grupo, esses são pontos fundamentais ana e feriados, a região torna-se da região central de Curitiba. que opta pela compra nos na migração de muitos consu- um local perigoso. Segundo pesquisa realizamidores do centro da cidade para os shoppings. “As lojas são da em 2009 pelo Centro Vivo, mais selecionadas, e o ambi- organização da Associação Coente é mais seguro. Não existem mercial do Paraná, os produtos aglomerações ou empurra-em- mais procurados na região cenShopping Center Centro purra causados pelas megaliq- tral de Curitiba são vestuário uidações do comércio central”, (14%) e calçados (11%), segui+ Segurança + Promoções dos dos serviços ressalta. + Lojas selecionadas + Preço baixo “No centro, encontro de alimentação Algo que + Estruturas modernas + Variedade de lojas tem preocupado diversidade de marcas e e lojas de elet+ Atendimento - Aglomerações comerciantes e produtos mais baratos” r o - e l e t r ô n i c o - Preços elevados - Segurança precária (ambos 6%). A moradores do cenMaryellen Pereira, estatística é contro e consequent- Baixa variedade de lojas recepcionista firmada por Eli emente afastado consumidores é a segurança Monteiro, gerente de uma loja Comparativo de produtos das mesmas marcas precária. Dos 18.582 estabeleci- de calçados localizada na rua mentos ativos na região, segundo XV de Novembro. Segundo ela, Produto Centro Shopping o último levantamento socio- as lojas de calçados e vestuário econômico da Companhia de De- estão em crescimento no centro Hora em Lan House R$ 3,00 R$3,50 senvolvimento de Curitiba, 36% da cidade, e o preço baixo, se Camiseta simples R$ 19,90 R$ 29,90 já tiveram seus estabelecimentos comparado aos shopping cenBota feminina montaria R$ 99,00 R$ 129,90 ters, potencializa as oportunivisitados por assaltantes. Camiseta Oficial Futebol R$ 139,00 R$ 169,00 Além dos assaltos, o trá- dades. Mesmo assim, 26% dos Tênis esportivo R$ 399,00 R$ 399,00 fico de drogas e o vandalismo consumidores não encontram Câmera Digital 10.2MP R$ 499,00 R$ 549,00 lideram o ranking dos problemas os produtos ou serviços que Videogame PS3 R$ 1.245,00 em torno da segurança na região. desejam no centro. Gabriel Sestrem


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DROGAS

Cracolândia de Curitiba Alexandre Gasparini

Quando o movimento de compra diminui, em torno das 20h, alguns traficantes se reúnem próximos aos jardins. Escondem as pedras ali e ficam por perto, tomando conta e conversando à porta de um dos edifícios, como se fossem moradores ou esperassem alguém do prédio. Assim que um viciado se aproxima, vão até o esconderijo, tiram a droga e entregam ao viciado, que segue para uma rua próxima para consumi-la. Em cinco dias, houve duas abordagens policiais nesse local. Os policiais nada acharam com os jovens. Sabendo dos esconderijos, os policiais procuraram, mas, curiosamente, não acharam nada. Foram embora, e os traficantes continuaram ali, tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.

Alexandre Gasparini

S

e você trabalha, estuda ou transita pelo centro da cidade diariamente, já deve ter visto alguma cena de tráfico ou consumo de drogas. O lugar mais crítico é a região do Largo da Ordem, onde algumas ruas são mais usadas pelos traficantes e consumidores principalmente de crack. Durante a produção desta matéria, a reportagem do Marco Zero acompanhou por cinco dias, no período entre 18h e 22h, o movimento do tráfico e consumo de drogas em algumas ruas na região do Largo da Ordem. Foi surpreendente a facilidade de se obterem os dados e imagens para esta matéria. Tudo acontece sem disfarce e sem grandes preocupações por parte dos indivíduos que fazem parte da “rede do crack” no centro de Curitiba. Depois de dias de observação, foi possível classificar cada rua de acordo com o consumo e venda de crack, procurando explicar por que essa região está constantemente nas páginas de noticías policiais dos principais jornais de Curitiba. Travessa Nestor de Castro (fundos da Catedral) Das cinco ruas observadas, esta é onde o tráfico ocorre em grande escala, como em uma feira-livre. A rua é quase toda cercada por pontos de ônibus e tem muitas lojas e lanchonetes. Entre os pontos de ônibus e as lojas, forma-se um corredor que nos horários de pico do final do dia recebe um grande fluxo de pedestres. Muitos são estudantes, já que existem algumas faculdades e cursos noturnos na região, e também pessoas que tomam ônibus nesses pontos, voltando do trabalho para casa. Os traficantes são quase todos jovens, com aparência entre 15 e 25 anos, sempre bem arrumados, com roupas chamativas e quase sempre de touca ou boné. Andam insistentemente de um ponto a outro da rua, olhando constantemente para os lados. Costumam ficar nas portas das lanchonetes e lojas que ficam abertas até mais tarde. O código para identificar um possível comprador da droga é uma troca de olhares mais demorada e um cumprimento. Um repórter do Marco Zero passava pelo local em torno das 19h30, olhou fixamente para um dos jovens encostado na porta de uma lanchonete

Pedestres são obrigados a conviver com usuários e traficantes nas ruas do centro de Curitiba

A falta de policiamento e a pouca luminosidade do centro da cidade à noite colaboram para a ação de traficantes e usuários de drogas

e foi logo abordado: “Vai da boa aí?” direção à Praça Tiradentes como em É raro encontrar algum policial ou direção ao Largo da Ordem. viatura no local. Durante os cinco dias Na esquina com a Travessa Nestor de observação, no período entre 19 de Castro, ocorre a maioria das nee 22 horas, aconteceram apenas cer- gociações entre traficantes e usuários. ca de duas abordagens policiais por É lá também onde policiais com monoite. Os policiais chegam, abordam tos mais abordam suspeitos, por teralgumas pessoas, revistam e vão emb- em maior mobilidade e chegarem de ora. Durante esses dias, em nenhuma direções diferentes, surpreendendo os oportunidade houve presença fixa da traficantes. Nesse local, onde fica uma polícia na região, apenas algumas via- faculdade, traficantes convivem com turas passando. Quando alguma via- muitos estudantes e fazem negócio tura aparece, os jovens saem andando sem se importar com a observação das rapidamente, usanpessoas que pasO código para do ruas próximas sam. como rota de fuga, identificar um possível ou se disfarçam comprador da droga é Trincheira sobre a entre as pessoas uma troca de olhares Rua Dr. Muricy nas filas dos ôniA trincheira é o mais demorada e um bus. Assim que os ponto de reunião cumprimento. policiais passam, entre os traficantes. eles tiram ou colocam as blusas e tou- Serve também como local de escondericas, provavelmente com o intuito de jo das drogas. se disfarçarem depois de terem sido De um lado da trincheira, há dois observados pelos policiais que pas- grandes prédios residenciais, cujos jarsaram. dins são usados constantemente como esconderijo das drogas. Não é difícil Rua do Rosário observar indivíduos vasculhando esA Rua do Rosário é usada constante- ses pequenos jardins em busca de mente como rota de fuga, tanto em suas drogas ou tentando escondê-las.

Rua Augusto Stelfeld O trecho da saída do túnel da trincheira sobre a Rua Dr. Muricy até a esquina com a Rua Clotário Portugal é local de intenso consumo de crack. É muito mal iluminado, e muitos pedestres evitam passar por ali, o que colabora para que o local seja usado para o consumo de crack. Não é difícil observar a movimentação dos usuários, que compram as pedras nas ruas citadas e seguem em direção à Rua Augusto Stelfeld para consumi-las. Pode-se até observar, de longe, pequenas fagulhas de isqueiros sendo acendidos. Minutos depois, voltam eufóricos. Tudo acontece como uma peça de teatro a céu aberto para quem quiser assistir. Esconderijos O mais curioso é que em quase todas as abordagens os policiais não encontram nada, provavelmente pela enorme “criatividade” dos traficantes em esconder as pedras de crack. Durante as observações, a reportagem identificou alguns dos locais usados pelos traficantes e usuários para esconder a droga: bueiros, canos de esgoto, muros, árvores, sacos de lixo, entre as pedras da calçada, nas partes íntimas e principalmente na boca. É comum ver jovens andando sem rumo olhando para baixo e pegando objetos do chão com a esperança de ser uma pedra de crack, e outros colocando e tirando coisas da boca, como se estivessem comendo algo. Estas artimanhas são características dos usuários e vendedores de crack e dificultam o trabalho da polícia.


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Passageiros da violência

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Para os passantes, fica a insegurança. Para os traficantes, o lucro e a invisibilidade. Eles se misturam às pessoas e somem durante as batidas policiais. Henrique Rigo Uma rua mal iluminada, como muitas em outros lugares do centro, mas com uma particularidade: é grande e muito movimentada. Centenas de pessoas passam por ali todos os dias, à espera de seus ônibus, a caminho da faculdade ou do cursinho, para acessar uma loja ou apenas de passagem. Apesar da importância e do movimento, a

O menino anda de um lado para o outro e cumprimenta várias pessoas. Se ele tivesse em mãos alguns panfletos, não seria entranho pensar que estivesse trabalhando ou buscando votos para seu candidato a deputado. Mas ele realmente parece ter muita dor nos dentes, pois mexe muito na boca. Ele anda com vários amigos eufóricos. Fica sozinho e depois encontra outro colega. De longe, parece ter uns 16 ou 17 anos, no máximo. Suas roupas são

rua parece abandonada. Abandonada bonitas e chamativas, quase como um pelas autoridades e de costas para o código para reconhecimento, inclusimais importante monumento reli- ve a blusa que ele tira e põe quando gioso da cidade. Essa é a realidade um carro de polícia passa pela rua. na Avenida Barrão do Serro Azul. O pesquisador Marcelo Ribeiro de Não é difícil observar um carro da Araújo, em 2001, acompanhou 131 polícia parado ali, revistando rapazes dependentes dessa “amizade” da rua encostados na parede, com as mãos escura que estavam internados em para cima, as pernas entreabertas e clínicas de reabilitação O resultado: expressões que tentam afirmar não 60% morreram assassinados, 10% terem feito nada de errado. morreram de overdose, e 26,1% em deMinutos antes, eles estavam a an- corrência da Aids. dar de uma ponta à outra daquela rua. Outro gruOutros meninos po vem andando. O carrossel das drogas passam. Eles se São quatro racontinua a girar feliz, olham e converpazes eufóricos, sam um pouco, e grandioso para uns. Mas ziguezagueando não muito, não e cantando com amedrontador, infeliz e intimamente. Um latas de refrigedeles olha para os repugnante para outro. rante nas mãos. lados constanteParecem gostar mente, coloca a de refrigerante, mão na boca, tirando algo, até que eles pois se sentam no chão, nas proximiapertam as mãos e cada um anda para dades da rua escura, onde “usam suas um lado diferente. latas e cachimbos”. De acordo com Há pessoas paradas esperando a pesquisadora da Brasil Escola Paseus ônibus para irem para casa depois trícia Lopes, as “latas e cachimbos” de um dia de trabalho. Elas olham, causam dependência, prejudicam a parecem com medo, disfarçam, prote- memória, atrapalham a vida sexugem suas bolsas e sacolas, mas nada al, emagrecem, causam desnutrição. podem fazer. Há outras que entram Seu conteúdo é produzido a partir da na panificadora, na lanchonete ou em pasta-base da cocaína. Depois, eles outra loja qualquer buscando refúgio se levantam, dançam um pouco, faaté a chegada de sua condução. Essa zem manobras na frente dos carros. rua comercial é movimentada e já está A história se repete constantemente, sendo conhecida como a “Cracolân- principalmente à noite. dia de Curitiba”. Como quem não quer nada, eles

entram em estabelecimentos nas proximidades, em busca de alguém para trocar roupas, eletroeletrônicos ou qualquer outro objeto que tenha valor. Em um caso específico um rapaz ofereceu seu relógio e celular, mas foram recusados. Ele tirou sua jaqueta de couro e acompanhou outros dois rapazes que pareciam ziguezaguear pela rua. Depois disso, saiu para um lado e os outros dois para o outro, algo normal nesse tipo de comércio. Ele estava estranhamente feliz, sem jaqueta, tão alegre que nem parecia sentir o frio de 10 graus. Certo dia, nessa mesma rua escura, dois estudantes, que preferem não se identificar por medo de represálias, faziam um trabalho. Com câmeras emprestadas, fotografavam a rua. Eis que alguns eufóricos chegaram e deram voz de assalto. Cercaram os dois, dizendo estar armados e ameaçando que, se não tivessem o que desejavam , iriam “pipocar todo mundo”. Sem conseguir o que queriam, foram embora. Os es-

tudantes, apesar da coragem em não acreditar nas ameaças, poderiam não ter contado essa história. Outro carro de polícia vem e realiza o que chamam de “batida”. A rua se acalma, o movimento diminui e os protagonistas da história simplesmente desaparecem. Parece ser o final da história. Alguns minutos se passam, e eles retornam. O carrossel das drogas continua a girar feliz, lucrativo e grandioso para uns, mas amedrontador, infeliz e repugnante para outros. Segundo o delegado-adjunto da divisão de polícia especializada, Almeri Kochinski, o uso e o tráfico de drogas estão ligados a homicídios, furtos, espancamentos e assaltos. E o maior vilão, como desencadeador de violência, é o crack. O delegado afirma: “Viciados em crack estão envolvidos em 80% a 90% dos homicídios ocorridos na grande Curitiba”. Poucas e ineficientes opções de retorno à vida social são oferecidas a esses meninos.


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MARCO ZERO

Curitiba, setembro de 2010

Uma vida entre os livros

Eleotério Burrego, livreiro há mais de três décadas, é um profundo conhecedor do mundo literário Eliaquim Junior Foi num lugar cercado de livros que Eleotério Burrego, o mais conhecido livreiro de Curitiba, recebeu a reportagem do Marco Zero para uma conversa descontraída sobre cultura, educação, Kafka e, claro, livros. Eleotério – nome de origem grega – trabalha há 35 anos como livreiro e, embora tenha demorado a aceitar isso, hoje se sente muito orgulhoso de sua profissão. Foi na cidade de Promissão, interior de São Paulo, onde tudo começou. Com os pais incentivando a leitura, o garoto Eleotério tinha uma grande paixão por gibis e costumava ler os livros de sua irmã. Como morava numa cidade do interior, não havia muitos títulos disponíveis, e sua inclinação à leitura viria a se tornar mais intensa depois que chegou numa certa cidade grande, Curitiba. “Meu primeiro emprego foi na Livraria do Chaim, quando eu tinha 18 anos”, conta o livreiro, que decidiu abdicar de uma carreira acadêmica para se dedicar em tempo integral aos livros. São Paulo Em 2008, o homem que atuou por mais de 20 anos na Livraria do Chaim recebeu uma proposta de trabalho da Martins Fontes – livraria e editora – e seguiu rumo à grande São Paulo. A falta de oportunidades na capital paranaense também foi um dos fatores que o influenciaram na sua decisão. “Fiquei um ano e dois meses em São Paulo. Foi uma ótima experiência, agreguei muito conhecimento na área da literatura”, declara. Mas por que ele voltou? Eleotério responde: “Todos os meus amigos e minha família estão aqui. Eu não estava ganhando o suficiente para levar minha família para viver em São Paulo. Se eu tivesse 18 anos, ficaria por lá. Existe um campo vasto de conhecimento, de cultura e educação naquela cidade. Mas não tenho mais tempo para aventuras”, revela o livreiro. Ele conta ainda que ficou encantado com a capital paulista, e comenta que “ São Paulo não é o caos e o paraíso das balas perdidas, como todos pensam”. E critica: “ São Paulo é belíssima, o problema é que os meios de comunicação somente mostram o lado negativo da cidade. Violência existe em qualquer lugar”. Questionado sobre a situação da

Eleotério trabalha há 35 anos como livreiro

leitura no Brasil, Eleotério diz que a questão não é o brasileiro que não gosta de ler, mas se trata de um problema cultural e monetário, por estarmos na periferia da economia mundial. “Hoje em dia, com o avanço na educação, e o discurso de que ela é necessária, há aumento do consumo de livros, isso está mudando”, avalia o vendedor que ainda agrega que a falta de dinheiro já deixou de ser um problema para adquirir livros, porque agora já existem livros de bolso bem mais baratos.

é meu hobby, minha paixão”, revela o paulista, que ainda deseja encontrar mais traduções do livro. Se ele continuar assim, brevemente se tornará um especialista na obra de Kafka.

A livraria do Eleotério Quando questionado sobre os autores paranaenses que mais admira, o vendedor diz que, por muitos deles serem seus amigos, tem um certo receio em citar nomes, pois sempre haverá alguém que ele vai esquecer e depois será repreendido – no bom sentido – pela A metamorfose pessoa não-citada. Mesmo assim, ele Uma pessoa que passou quase toda menciona alguns nomes da literatura a sua vida entre os livros deve ter cente- paranaense, como Cristovão Tezza, Roberto Gomes e Dalton nas de ídolos literários. Trevisan. “São meus Perguntar a um livreiro “Cristovão Tezza, qual o seu autor e obra Roberto Gomes e Dalton amigos. Quando eu tinha a minha livraria, preferidaos acaba se Trevisan são meus eles a frequentavam”, tornando algo previamigos. Quando eu tinha relembra o homem que sível, mas inevitável. já teve a sua própria Eleotério admite ser a minha livraria, eles a “casa de livros”, de um anti best-seller. Ele frequentavam” 1998 a 2003, que se conta que não consegchamava simplesmente ue ler livros que estão na mídia e prefere esperar a moda pas- Livraria do Eleotério. Falando em comércio de livros, sar. O livreiro revela que tem uma obra preferida, descoberta recentemente. outro ponto importante a ressaltar é “Não faz muito tempo, adotei um au- a afirmação do vendedor de que as tor, e apenas um livro desse autor”. Ele livrarias do mundo contemporâneo já se refere ao escritor tchedo Franz Kafka não são tão boas quanto antigamente. e a uma de suas obras mais conhecidas, “Elas estão desaparecendo, porque não possuem diversidade de livros. Só venA metamorfose. Eleotério possui 13 traduções do dem best-sellers, livros que estão na mílivro, já leu A Metamorfose dez vezes dia. Elas estão perdendo para a intere pretende lê-lo muito mais. “Faço uma net, para as livrarias virtuais, onde há leitura comparativa das traduções. Esse maior variedade de obras disponíveis e

mais acessíveis”, completa o especialista em livros, que recomenda para os estudantes o site Estante Virtual como uma das ferramentas mais completas de obras disponíveis para compra. “Não contem com o fim dos livros”. Essa frase de Umberto Eco foi citada pelo vendedor para responder à pergunta sobre o possível desaparecimento dos livros. Tomando emprestada a ideia de Eco, ele continua: “A roda foi inventada. Ela pode ser enfeitada, mas ela vai ser sempre a roda. Assim é o livro, um instrumento que não tem como mudar. Depois de Gutenberg, ele foi aperfeiçoado e continuará a ser enfeitado, mas nunca vai morrer”, diz Burrego, que se justifica afirmando que o livro sempre vai ser essencial na educação. “O conteúdo que os professores transmitem aos alunos está nos livros. Os estudantes, quando precisam se aprofundar em algum tema, procuram nos livros. O livro é indispensável”, pontifica. Jogando o livro fora Atualmente, Eleotério trabalha num sebo – o Sebo Líder – localizado na Rua do Rosário, no centro de Curitiba. Declara que foi muito difícil para ele trabalhar nesse tipo de comércio, no qual os livros não chegam em caixas lacradas. “Foi um choque para mim. Depois de tanto tempo trabalhando com livros novos, agora estou no meio de livros usados”, diz ele, contando e se surpreendendo com os casos de pessoas que aparecem lá dizendo que iam jogar um livro no lixo, mas que de repente se lembram de que poderiam vendê-lo num sebo. “Tenho amigos que nunca virão aqui, porque, quando eles iam à minha livraria, pegavam os livros que estavam lá no fundo da caixa, o livro mais limpo e intacto”, diz o vendedor, abismado com a diversidade de comportamento e cultura no ramo literário de Curitiba. Ter hábito de leitura, uma boa bagagem cultural e ler ao menos a orelha de um livro são requisitos fundamentais para se tornar um bom livreiro. Essas são dicas de alguém que passou 35 anos trabalhando bem perto dos livros, algo de que Eleoterio Burrego não deseja se separar tão cedo. “Estar entre os livros” é a maior ambição do livreiro – e, quem sabe, abrir outra livraria. “O sonho não morreu”, conclui.


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Curitiba,setembro de 2010

CULTURA

Como os grandes sábios Saiba como é a rotina dos Hare Krishnas que se reúnem todos os dias no Largo da Ordem, no centro de Curitiba Elaine Nunes

Quem passa pelo Largo da Ordem, na rua Duque de Caxias, pode notar os devotos da Iskom (Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna), mais conhecidos como Hare Krishnas. Luiz Carlos dos Santos, 33 anos, é adepto da doutrina há 16 anos e conta como é a rotina de um devoto. Às 3h da manhã, os adeptos acordam e realizam vários programas matinais. Durante a noite, acontece o Goura Aratick, cerimônia de gala na qual eles oferecem a Krishna (Deus), água, incenso e lamparina. Santos, batizado como Bhagavan conta como surgiu a filosofia Hare Krishna e quais princípios seguem: “Historicamente, a nossa escola existe há mais de cinco mil anos. Seguimos quatro princípios básicos de vida: não intoxicação, não sexo ilícito, não jogos de azar e não comer alimentos impuros (carne)”. Os devotos referem-se a Deus como Krishna, que significa o todo atrativo, ou o que tem todas as qualidades. Eles acreditam que pelo serviço devocional possam enxergar Krishna face a face. “Só quem faz austeridades neste caminho pode compreender isso, como os grandes sábios do passado e o mais recente, que é o nosso querido mestre Prabhupada Swami, e que mostrou na prática como realizar isso”, afirma. Santos conta que o nome Hare Krishna é um apelido carinhoso devido ao maha mantra que eles estão sempre cantando. Ele explica o seu significado: “Ó meu adorado senhor, por muitos nascimentos eu estou neste mundo, agora por favor tenha piedade desta pobre alma que se esforça para voltar a prestar-te serviço e livra-me do ciclo de nascimentos e mortes”. Santos diz que eles são lactovegetarianos, pois consomem la-

Luis Carlos Santos, batizado como Bhagavan, é Hare Krishna há 16 anos

ticínios, como leite, iogurte etc. “Antes de consumirmos os alimentos, oferecemos a Krishna, para que ele os purifique. Isso é um ato para não desfrutarmos dos nossos sentidos sozinhos. Quando tentamos desfrutar sozinhos, sofremos com o karma”. Os hare krishnas se mantém com doações e venda de livros. São um movimento sem fins lucrativos e desenvolvem alguns tra-

balhos para ajudar a comunidade. Distribuem alimentos, dão aulas de música, artes e filosofia. “Fazemos o trabalho mais precioso para a comunidade e tentamos levar para as pessoas a consciência de Krishna, que é a verdadeira fortuna espiritual”, explica. Os devotos chamam atenção pelas roupas que vestem e pelo corte de cabelo. Santos explica o porquê disso: “Usamos a roupa típica sem costuras, porque seguimos uma escola, e o cabelinho atrás é chamado de shikha. Isso difere os personalistas dos impersonalistas, ou os que acreditam em Deus dos que não acreditam”. O cantar do maha mantra é diário, por isso os devotos carregam um saquinho que serve para acomodar um colar de contas para meditação, chamada de japa mala (mala signifa colar, e japa, cantar baixinho). Cantam 16 voltas diárias de japa mala, mais ou menos 2 horas, para acalmar a mente agitada. “O cantar de Hare Krishna é o cantar indicado para esta era. Ele é chamado de Maha Mantra (Maha quer dizer grande e Mantra liberação da mente)”, finaliza.

Os encontros reúnem também pessoas que não são devotos seguidores de Krishna

Cabe no Bolso

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Comida boa com preço acessível no centro da cidade Salgados, doces e massas, em ambientes diversos, são opções interessantes para o dia a dia no centro de Curitiba Waléria Pereira A cidade de Curitiba tem se tornado um pólo gastronômico com grande diversidade de pratos e sabores por todo lado. O centro de Curitiba é um dos lugares onde há diversidade gastronômica com ótimas opções para aquele lanchinho rápido ou mesmo para um super almoço. No coração do centro histórico, o Largo da Ordem, a Casa Lilás é um espaço aconchegante que reúne sabores e arte em um só lugar. Além de oferecer diversas opções gastronômicas, a casa ainda tem uma loja e um cantinho da leitura e oferece cursos e oficinas de desenho e pintura e objetos de decoração. Vale a pena conhecer e mergulhar nessa arte. Ao descer a Praça Tiradentes, passando pela catedral, é possível observar a recém-inaugurada lanchonete Dois Corações, uma das lojas mais famosas do centro da cidade. que serve coxinhas, lasanha, empadão, bolos, tortas e ainda almoço. Os preços variam, mas o sabor é inconfundível. Na rua XV, a tradicional Confeitaria das Famílias oferece um espaço amplo para tomar um café acompanhado de doces, pães de queijos, folhados e outras delícias com um sabor de colônia que se confunde com a casa da vovó. Para quem quer comer muito bem e ainda tomar aquela cervejinha com os amigos, o lugar é o BarBaran, na rua Augusto Stelfeld, coladinho no Sesc da Esquina. Bar tradicional da sociedade ucraniana Subras, aberto de terça a sábado, tem o melhor pão com bolinho e o melhor pão com bife e queijo da cidade. Nas terças e quintas-feiras, a música ao vivo faz a festa da galera. E há também a comida típica ucraniana e o atendimento de primeira. Não faltam opções de coisas boas no centro de Curitiba. A feirinha que acontece no Largo da Ordem todos os domingos tem coisas de primeira para se degustar. A feira ao lado da catedral tem tapioca feita por um baiano de verdade e a barraca de pastel chega a ter filas no final da feira.


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MARCO ZERO

COMPORTAMENTO

Jogos eletrônicos podem causar riscos à saúde

Curitiba, setembro de 2010

Viciados em redes sociais

Ansiedade, isolamento e comprometimento do relacionamento familiar são os principais sintomas.

jovem tem que fazer: ficar na rua o dia inteiro, brincar, machucar-se, A cada dia que passa, é maior ter cicatrizes. “Jovem que não tem o tempo que crianças, adolescentes cicatriz não teve infância”, defende. e adultos passam jogando em fren- Bueno acredita que os jogos eletrôte ao computador. Psicólogos ale- nicos não influenciam a violência, o mães da Charité University Hospi- que acontece somente se a pessoa tal Berlin apresentaram estudos não tiver nenhum tipo de educação. que mostram que a dependência de “Não é só porque um jogador de jogos virtuais tem sintomas seme- futebol mata uma mulher que vou lhantes às causadas pelo vício em sair matando também. É um exabebidas e drogas como a maconha. gero pensar desse jeito, porque, se São sintomas o isola- Nos Estados Unidos, fosse assim, a televisão mento, mudança de 10% dos jovens já são deveria ser proibida”, comportamento, ansieviciados em jogos argumenta. O estudante Rodade e até comprometimento do relacionamento familiar. drigo Soldera Afonso, de 21 anos, Nos Estados Unidos, apro- passa em média seis horas na frenximadamente 10% dos jovens são te do computador. Ele conta que viciados em jogos. Segundo pesqui- já foi mais viciado em jogos elesas da Harris Interactive, isso traz trônicos, pois ficava até 12 horas consequências para a vida pessoal, jogando. Mas novas atividades cocomo dificuldades de integração meçaram a tomar mais seu tempo. social e problemas escolares. Além de jogar, Afonso lê notícias O designer Alex Bueno, de 24 na internet e se utiliza das redes soanos, tem como hobby administrar e ciais, como Twitter e Facebook. Roatualizar um site de notícias sobre drigo acredita que os responsáveis jogos eletrônicos. Ele não se con- devem moderar o tempo dos filhos sidera um viciado em internet, mas na internet e nos jogos, que, para um entusiasta, pois a cada dia des- ele, podem ajudar no aprendizado, cobre coisas novas e interessantes. auxiliando o estudante a ter raciocíEle diz que, além de seu nio rápido e aprender a Muitos jovens, trabalhar em grupo. site, possui contas em diversas redes sociais, no entanto, não Ele também acreveem problemas como Twitter, Facebook dita que as pessoas norcom os jogos e Hyves – rede social mais não são influenda Holanda –, em que ciadas por uma coisa conversa com seus amigos virtu- irreal, porém, se elas têm algum ais e reais. Segundo ele, os jogos distúrbio mental ou problemas não prejudicam o aprendizado na pessoais, o risco é grande. O esescola se a pessoa souber dosar, ou tudante afirma as horas que gasta seja, deve haver um tempo limite no computador não prejudicam para o entretenimento que não di- seus relacionamentos. Rodrigo diz minua o tempo dedicado aos deve- que não abre mão de compromisres escolares. sos com amigos e família por isso. Bueno conta admite que fica Afonso é contra a censura aos jomuito tempo na frente do compu- gos. O estudante acha que quem tador, porém, não se afasta da fa- deve permitir ou não que um filho mília e dos amigos por causa disso, faça algo específico são os pais. não se sente um excluído, nem um Somente eles sabem o que prejunerd. Ele diz que já fez tudo que um dica ou não seus filhos, alega.

Alessandra Andrade

Luana de Oliveira Um estudo realizado pelo Retrevo, um site de vendas que foca em consumidores eletrônicos, diz que 48% dos entrevistados afirmam que atualizam suas redes sociais assim que acordam ou pouco antes de dormir. Outras pesquisas mostram que muitos usuários atualizam suas contas no Twitter ou no Facebook antes mesmo de sairem da cama. Ainda há os que confessam ser viciados em redes sociais, como crianças, jovens e adultos que não largam suas máquinas sem um bom motivo. Vinicius Cesar (foto), de 12 anos, admite ser um “viciado”. As redes que ele mais usa são o Orkut e o Habbo. Ele confessa

que muitas vezes perde o dia todo mandando recados, postando fotos e brincando no Habbo Hotel. Cintia Almeida, de 34 anos, mãe do garoto, diz que controla e tem que impor limites ao filho: “Se deixar, ele acaba ficando na frente do computador o dia inteiro e deixa de fazer as tarefas da escola”. Taiara Braun, de 21 anos, é viciada em Orkut e deixa recados para seus amigos praticamente o dia todo, posta fotos e vídeos. Ela acredita que a rede só trouxe benefícios, por morar em Curitiba, longe dos pais, que vivem em Santa Catarina. Além do Orkut, ela também usa o Skype como meio de comunicação com a família, afirmando que assimeconomiza nos gastos com telefone.

A internet na vida estudantil Sandro de Souza Junior O Brasil é um dos países que mais usa a internet, porém, esse meio poderia ser melhor aproveitado. Para muitos brasileiros, quando se fala em internet, a primeira coisa que vem à cabeça são as redes sociais (Orkut, Twitter, Facebook). E os estudos? Para parte dos jovens do país, já é bem comum o uso da internet para realizar trabalhos escolares. A geração de hoje dificilmente irá frequentar bibliotecas para realizar pesquisas de trabalhos escolares, como era comum há alguns anos. O estudante de Publicidade e Propaganda da PUCPR Rodrigo Horning, de 19 anos, afirma: “Eu me recordo com certa saudade dos tempos em que ia a bibliotecas para fazer trabalhos escolares, mas prefiro a comodidade de realizar pesquisas sem precisar sair do meu quarto”. A comodidade e a facilidade da internet são mesmo impressionantes, porém, podem atrapalhar em alguns pontos. O estudante de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) João Henrique Pinheiro diz usar muito a internet para realizar tra-

balhos, no entanto, relata que sofre muito, pois não consegue se concentrar exclusivamente na pesquisa. Quando está na internet, sempre está conectado também a alguma rede social ou comunicador, como o Messenger. As escolas e universidades do Brasil promovem fortemente a inclusão digital, pois boa parte das instituições de ensino público é equipada com laboratórios de informática. A questão agora é saber se alunos e professores estão preparados para essa modernização. A pedagoga Inês Bianchini, do Colégio Estadual São José, localizado na Lapa-PR, diz que a internet já está muito presente na sala de aula. “Muitos dos materiais passados aos alunos pelos professores são elaborados com total ajuda da internet”, conta. Quanto à questão da adequação da tecnologia, isso também vem acontecendo no Colégio São José, onde todas as salas são equipadas com TVs com entradas USB, que permitem que os professores levem conteúdo retirado da internet para a sala de aula. “Essa é uma ferramenta de grande auxílio nas aulas”, completa a pedagoga.


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Curitiba,setembro de 2010

RESENHA

De volta ao planeta pop O multi-instrumentista Ed Motta lança o agradável “Piquenique”, álbum mais pop de sua carreira, Vinicius Camilo Após entrar no táxi, ele diz ao motorista: “De volta para o pop por favor”. Sim! Ed Motta está de volta ao pop, soul, funk e afins, depois de incursões pela música instrumental com Aystelum (2005) e Chapter 9 (2008), este último gravado todo em inglês. O multi-instrumentista volta com seu mais novo trabalho, Piquenique, que tem uma sonoridade agradável aos ouvidos dos fãs do pop de qualidade. Casado há 18 anos com a quadrinista Edna Lopes, Ed a convidou para ser sua parceira neste álbum, e, pelo que se pode ouvir, a parceria deu muito certo, pois quem escuta o disco tem a ligeira impressão de estar no divertido mundo dos quadrinhos. “Carência no frio” é a música mais bela do CD, ideal para um casal de protagonistas de folhetim das 21h. A canção empolga, levando o ouvinte a aguardar uma evolução e o soar de orquestra sinfônica, mas é frustrada pelos exatos quatro minutos e oito segundos, tempo que dura a música, deixando o ouvinte com gostinho de quero mais. A música “Piquenique”, que intitula o álbum, tem a sonoridade de músicas contemporâneas e faz alusão aos hits gravados por Mauricio Manieri no final dos anos 90. Segue a mesma linha do hit “Espaço na Van”: contrabaixo bem marcado, guitarra “funkeada” e sintetizadores em demasia. A voz leve que divide os vocais com Ed é da cantora Marya Bravo, famosa nos anos 70 por dar voz ao single “Cremogema”. Não conhece? Procure no “Aurélio digital” o YouTube, que vale a pena. De terno branco, sapato de pelica e chapéu panamá, “Turma da Pilantragem” é a faixa que dá uma navalhada no álbum. A música é bem dançante, ao estilo malandro do saudoso Wilson Simonal, mestre no estilo. Maria Rita é a inocente

Ed Motta: “De volta para o pop, por favor”

Chapeuzinho em meio aos lobos pilantras e divide essa canção com Ed. “Sei que eles estão errados. Eu passo meses no estúdio trabalhando para que o álbum fique perfeito, então, não tem como sair um CD ruim”, afirma o cantor quando indagado sobre a crítica. O décimo trabalho de sua carreira contém 12 faixas, das quais 11 foram escritas por Ed Motta e sua esposa. Apenas “Nefertiti” não leva sua assinatura. A música é linda, sendo perceptível a influência dos trabalhos de Ed para o cinema. A canção foi escrita por Rita Lee, que recebeu a música do cantor pela internet e escreveu a letra, como normalmente são feitas todas as músicas de seus álbuns Assinam a obra os produtores Silveira e Herb Powes Jr., famoso produtor de diversos artistas, dentre eles o lendário pai do hip-hop, Afrika Bambataa. “Piquenique” é apetitoso, o tipo de álbum para levar a um passeio sabático vespertino com muitas guloseimas, acompanhado por amigos que gostem de conversar, principalmente sobre boa música. O álbum “Poptical”, de 2008, é o que ainda reverbera nos ouvidos dos apreciadores da música de qualidade, mas “Piquenique” é um algodão doce colorido e divertido que reflete a alma soul de um artista que não se importa em gastar muito tempo para apresentar um excelente álbum a uma platéia exigente que ele mesmo ajudou a formar.

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ESTANTE PARANAENSE Eliaquim Júnior

Geração Leminski (2010) Solange Leminski

Divulgação

Para quem gosta da obra do famoso poeta Paulo Leminski e do estilo literário leminskiano, Geração Leminski faz uma homenagem ao escritor paranaense. Solange Leminski, prima do poeta, reuniu nesta obra produções literárias escritas pela família. Tem poemas da tia e do pai do famoso Leminski, do próprio Paulo, da filha Estrela Leminski e, claro, de Solange, que lançou o livro em agosto para homenagear o escritor, que faria 66 anos no dia 24 do mês de lançamento. A obra reúne poemas diferenciados que podem agradar a todos os gostos, e tem fotos do famoso autor e poemas inéditos de sua filha Estrela.

O Mestre e o Herói (2006) Domingos Pellegrini

Divulgação

O escritor londrinense Domingos Pellegrini é conhecido pelas obras que tratam da região Norte do Paraná e por seus livros infanto-juvenis. A sugestão aqui apresentada é a sua mais recente obra para esse público específico. Pellegrini define O Mestre e o Herói como um romance “para quem quer crescer por dentro”. O livro conta a história de um menino mimado e irritante que embarca numa viagem acompanhado de um misterioso “mestre”, um homem sábio, mas de poucas palavras. O garoto fica longe da televisão e do conforto de sua casa. Aos poucos, vai descobrindo a vida num sentido mais profundo e desvelando seus próprios segredos, aprende a ouvir as pessoas, percebe suas limitações e potencialidades. No fim, o menino vai se tornando um herói e descobre no mestre um grande amigo.

Sujeito Oculto (2004) Manoel Carlos Karam

Manoel Carlos Karam nasceu em Santa Catarina, mas viveu grande parte de sua vida em Curitiba. Ele morreu em 2007, aos 60 anos, ainda pouco conhecido do grande público. Em 2004, lançou o romance Sujeito Oculto, seu último livro. Nesta obra de apenas 144 páginas, o escritor e jornalista fala da violência e sobre as pessoas que a tem como um modo de vida. O personagem do livro conta o dia a dia de sua profissão: matador de aluguel. E fala sobre suas manias, alegrias e tristezas. Sujeito Oculto tem como tema principal a violência e mostra que, quanto mais ela é sufocante, torna-se cada vez mais banal.

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

MARCO ZERO

Curitiba, setembro de 2010

“O centro do problema”

Texto e fotos de Alexandre Gasparini

À noite, o centro de Curitiba é entregue à criminalidade. As autoridades parecem ter desistido da guerra contra o tráfico do crack. Enquanto isso, estudantes e trabalhadores são obrigados a ficar lado a lado com traficantes e usuários, criando seus próprios códigos de convivência.


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