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MARCO ZERO

Curitiba, abril de 2011

MARCO ZERO

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número 10 • Curitiba, abril de 2011

Ronaldo Freitas

Profissão Perigo O Marco Zero foi às ruas presenciar a dura realidade dos motoboys, que trabalham sob constante pressão e convivem todos os dias com os perigos do trânsito p. 6 e 7 Divulgação

Divulgação

As minorias sob as lentes de Nair Benedicto Ícone internacional e com vários prêmios no currículo, a fotógrafa paulistana Nair Benedicto, de 71 anos, esteve em Curitiba no mês passado para participar de um workshop. Entrevistada na sessão Perfil, ela fala sobre sua grande paixão, a fotografia, e sobre sua produção voltada para as minorias. p. 3

Elas preferem a melhor idade Os grupos e bailes da terceira idade têm sido cada vez mais procurados pelos idosos que querem deixar a vida sedentária e aumentar o círculo de amigos. p. 5


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MARCO ZERO

EDITORIAL

ARTIGO

Aos leitores

De mestres a inimigos

Os motoboys, esses trabalhadores muitas vezes discriminados e mal vistos pela sociedade, são o tema de nossa reportagem principal. Nossa equipe acompanhou a difícil rotina desses sobreviventes do caótico trânsito da capital paranaense. Enquanto andar de moto para uns é profissão, para outros é um gostoso e divertido hobbie. É assim que funciona para os membros do Moto Clube Sociedade Secreta, onde aficcionados por motos se reúnem em torno de uma grande paixão. Já a premiada fotógrafa Nair Benedicto esteve recentemente em Curitiba e fomos conferir algumas boas lembranças e histórias de uma das mais brilhantes artistas brasileiras da atualiade. A cidade de Curitiba completou 318 anos em março, e nosso ensaio fotográfico do mês trata do lado pouco glamouroso da cidade. Esta edição fala também dos transtornos da Copa do Mundo de futebol para os vizinhos da Arena da Baixada, tem uma boa conversa sobre arte e uma reportagem sobre a terceira idade que não quer saber de ficar parada. Tudo isso e mais no Marco Zero deste mês de abril. Boa leitura!

Natali Carlini

Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) Coordenador do Curso de Jornalismo: Tomás Barreiros Professores Responsáveis: Roberto Nicolato Tomás Barreiros Editores: Andrey Takahashi (7º período) Bruno Melo (7º período) Ronaldo Freitas (7º período) Diagramação: André Halmata (7º período) Edno Junior (7º período) Gabriel Sestrem (7º período) Secretário de redação: João Gabriel (7º período) Facinter: Rua do Rosário, 147 CEP 80010-110 • Curitiba-PR E-mail: assessoriajr@grupouninter.com.br Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

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Boca no trombone!

O atendimento dos vendedores de lojas populares do centro é bom? Suzayne Machado

“O que todos querem é respeito, Alunos e professores deveriam ser parceiros e não inimigos”

Para alguns professores, esse Insultos, brigas, agressões, furtos, depredação e impunidade. Es- tipo de situação acontece porque há ses são alguns casos que viraram roti- instituições que protegem demasiadamente o aluno, deixando que ele na na vida dos professores. Hoje, tal profissional é tratado cometa qualquer tipo de infração sem com descaso. Ordens e regras são ser punido. Para a solução desses casos, pouco respeitadas. Em algumas situ- ações, conseguir manter a disciplina tramita no Congresso Nacional um em sala de aula transformou-se em projeto de lei (6.269/09) que criminatortura. O respeito que se tinha pelo liza a agressão contra professores, dirigentes educacionais, orientaprofessor não é mais o mesmo. Antigamente, era comum ouvir dores e agentes administrativos de histórias de professores que batiam escolas. No projeto, a pena prevista nos alunos, e atualmente é comum ou- é de quatro anos de detenção para vir alunos que batem em professores. agressão física e de três anos para Para Maria Garcia, todo docen- agressão moral. O projeto alteraria o Código te já foi agredido ou conhece alguém que foi. Conta que já ouviu e presen- Penal no que se refere ao desacato ao funcionário público. ciou histórias absurdas, “Há mais de 2,3 mil Caso o aluno agressor como a de uma colega registros de casos seja menor de idade, que teve os freios do carro cortados por alu- desse tipo de violência deverá receber penalinos na própria escola. contra professores” dade estabelecida pelo Estatuto da Criança e Segundo o Mido Adolescente (Lei 8.069/90). nistério da Educação, há mais de 2,3 A violência é proveniente de mil registros de casos desse tipo de fatores sociais, psicológicos e pedaviolência contra professores. Os dados da pesquisa tam- gógicos. A socialização e o respeito bém apontam que mais de 50% dos comum têm faltado nos ambientes professores afirmaram já ter presen- escolares. Muitos acham que hoje ciado casos de furtos nas escolas está sendo exigido nas escolas que onde trabalham. Um em cada dez elas passem aos alunos regras que conhece casos de gangues e de tra- deveriam ser ensinadas pelos pais, ficantes atuando nas instituições. E mas enquanto isso não acontece, a 30% já viram algum tipo de arma nas solução pode estar em mais investimentos na área. mãos de seus alunos. O que todos querem é respei Por que casos de agressões físicas, ameaças e humilhações a pro- to. Alunos e professores deveriam ser parceiros e não inimigos. fessores se tornaram tão comuns?

“Não, falta treinamento para esses vendedores. Eles agem como se fôssemos obrigados a comprar o produto que nos oferecem.” Jaqueline Santos Barbosa, 23 anos, recepcionista “Sim. Pelo menos nas lojas que costumo frequentar, sou muito bem atendido, por isso, volto sempre às mesmas lojas e procuro sempre o vendedor com o qual já estou familiarizado.” Anderson Gabriel dos Anjos, 25 anos, estudante de Enfermagem “Sim, sou sempre bem atendida. É claro que de vez em quando ocorre de um vendedor ser mal humorado ou não estar em um bom dia, mas são casos isolados .” Samara Correia Sanches, 27 anos, professora de línguas “Não. Normalmente, os vendedores dessas lojas populares tentam empurrar para a gente aquelas mercadorias que estão há muito tempo encalhadas. Acha isso um absurdo.” Orlani Gullack, 20 anos, estudante de Turismo “Não, pois nessas lojas os vendedores trabalham em grande maioria por comissão, e por isso o atendimento deixa a desejar. Eles não pensam em qualidade, apenas em quantidade de vendas.” Raphael Adônis Meylaver, 22 anos, consultor de marketing “Sim. Não compro muito em lojas populares, mas quando acho algo que me interessa em alguma delas, sou bem atendida.Os vendedores são simpáticos e atenciosos.” Sophie Vadenberg, 18 anos, estudante


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PERFIL

Fotógrafa é ícone internacional Nair Benedicto, um dos grandes nomes da fotografia brasileira, ministra aula em Curitiba Divulgação

Priscila Costa

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o último dia 19 de março, esteve em Curitiba um dos grandes nomes da fotografia nacional, Nair Benedicto. Reconhecida e premiada internacionalmente, a fotógrafa veio à capital paranaense para um workshop de uma das mais tradicionais escolas de especialização em fotografia, a Omicron Centro de Fotografia. No auge de seus 71 anos, sendo 29 como fotógrafa, a paulistana concedeu a vários alunos e profissionais da área da fotografia um belo show, compartilhando experiências vividas e demonstrando alguns de seus ensaios e peças do seu portifólio, que são verdadeiras obras-primas expostas em museus ou que fazem parte de diferentes acervos no Brasil e no exterior. Nair é casada com o francês Jacques Breyton, com quem teve três filhos. Nasceu em São Paulo em 1940 e formou-se em Rádio e Televisão pela Universidade de São Paulo (USP), em 1972, mesmo ano em que começou a atuar como fotógrafa profissional. Foi também produtora de vários documentários audiovisuais para a Alfa Comunicações.

Nair Benedicto: técnica e beleza em trabalhos fotográficos

te, em parceria com Juca Martins, “A Questão do Menor”, ambos pela Editora Caraguatá. Desde 1981, ministra nacionalmente aulas e workshops por várias universidades, como a UFMG, UnB e UECE, e na Infoto da Funarte, entre outras instituições. É diretora, Carreira produtora e fotógrafa de documentáEm 1976, Nair criou, junto com rios como “O prazer é nosso” e “E outros grandes nomes da fotogra- agora Maria”, entre outros. Em 1988, fia nacional, como Juca fez mais uma publica“Fotografo ção: “Nair Benedicto Martins, Delfim Martins e Ricardo Malta, a Agên- primeiro para mim, - As melhores fotos”, cia F4, um projeto empela editora Sver e Bocdepois para os cato. preendedor e pioneiro outros. no mercado, especialiDe 1988 a 1999, zado em fotojornalismo. A fotografia é um Nair foi contratada pela Unicef para fotografar A agência foi motivo de grande prazer” desacordo com os proas condições de vida da fissionais da área de comunicação na mulher e da criança na América Laépoca, principalmente com os sindi- tina. Tornou-se membro do júri do catos de jornalistas, contrários à pro- prêmio Libero Bardaró, em 1990, e posta. A agência, no entanto, abriu um também membro do prêmio Casa novo segmento de mercado e poste- das Américas, de Havana (Cuba). Em 1991, fundou a N-Imagens, da qual riormente muitas outras vieram. Nos anos seguintes, Nair foi pro- é proprietária e diretora até hoje. De fessora de Fotojornalismo e membro 1991 a 1996, foi curadora da exposida Comissão de Organização da Bie- ção Fragmentos da História do Teatro nal da Fotografia em São Paulo. Em no Brasil, em Avignon, França. Nair passou por diversas esperi1980, publicou seu primeiro livro, “A Greve do ABC”, e posteriormen- ências marcantes exercendo a função

de fotógrafa. Conta que, em viagem pelo interior do Brasil para fotografar uma tribo de índios, ao atravessar um grande rio quando acompanhava a tribo que ia para o trabalho na roça, caiu em um poço e perdeu todo seu material, incluido as cameras fotográficas. “Acabei sendo ajudada pelo cacique da tribo, que divertiu-se com o acidente”, recorda. Na mira da câmera de Nair Be-

nedicto sempre estiveram temas de cunho social. A preocupação da fotógrafa com as minorias tornou-se sua marca no fotojornalismo com característica poética e sensível aos sofrimentos sociais. Durante a ditadura militar, Nair sofreu represálias e foi censurada também. Além de presa e torturada, teve seu trabalho perseguido por estar constantemente presente em eventos para registrar atividades dos movimentos operários da época e manifestações em geral. “Muitas vezes, tive que esconder até os negativos entre minhas roupas íntimas para não ter meu trabalho confiscado pela polícia”, relata. A fotógrafa viajou pelo interior do país e pelo mundo trabalhando para diversos órgãos e governos. Nair conta com fotos premiadas que tornaram seu nome reconhecido internacionalmente. Os contrastes da realidade, as expressões e a beleza da cultura do Brasil, índios, operários, mulheres, menores e homossexuais marginalizados foram alvo da fotógrafa, tudo acompanhado de muita técnica e uma visão extremamente artística da fotografia. Nair Benedicto é sinônimo de excelência na fotografia, grande incentivadora dos novos profissionais dessa arte que nascem em meio à multimidialidade da foto digital. Nair construiu e deixará um grande legado que constituem um tesouro nacional, orgulho para todos os brasileiros. Divulgação

A foto de 1977 “Tesão no Forró do Mario Zan”, em São Paulo


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Clube de Xadrez de Curitiba completa 73 anos

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TRILHAS DO TEMPO

Leitura no Bondinho Divulgação

Divulgação

Diego Ramon

O Clube de Xadrez de Curitiba oferece várias atividades, com oportunidades para os que desejam participar de competições

William Cruz

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om 73 anos de história, o Clube de Xadrez de Curitiba (CXC) é o segundo local mais antigo do Brasil onde se pratica esta modalidade. Localizado no centro da cidade, Rua XV de Novembro, 266, 9º andar, Edifício José Loureiro, o CXC é fundamental para o desenvolvimento do esporte, sendo considerado um celeiro de talentos. Consequentemente, os melhores enxadristas do Brasil já estiveram no Clube, como por exemplo, o Grande Mestre Henrique Mecking (Mequinho), melhor jogador brasileiro de todos os tempos, e que alcançou o posto de terceiro do mundo em 1978, ou também, o Grande Mestre paranaense Jaime Sunye Neto, hepta campeão brasileiro nos anos 70 e 80. Além disso, o CXC possui uma grande relevância social, como explica o presidente Acyr Rogério Calçado: “fazemos diversas parcerias com escolas, empresas, já que o xadrez colabora - principalmente para as crianças - no desenvol-

vimento do raciocínio lógico, auto conhecimento, respeito às regras, facilitando o convívio social”. O jogador Ernesto Pereira, frequentador assíduo do CXC, relata os motivos que o fazem ir até o Clube: “o lazer, aproveitando momentos agradáveis com os amigos; o treinamento, aprimorando o nível através da estrutura que o Clube possui (livros, computadores, aulas, palestras) e as competições em si”. Com eventos semanais, os sócios contam com atividades constantemente. Em todas as quartasfeiras, palestras para todo o público. Os finais de semana são marcados pelo Circuito de Torneios do CXC. Além disso, são produzidos

jantares para os sócios, como por exemplo, a Noite Árabe, o torneio Feijoada, entre outros eventos que contam com representantes de vários estados brasileiros e de outros países, como Cuba e Argentina. Além das atividades, o piso do CXC é outra atração à parte. Em forma de tabuleiro, passa à impressão que os frequentadores são as peças de um grande jogo de xadrez. O Clube de Xadrez de Curitiba fica aberto de segunda a sábado, das 15h às 22h. Quem estiver interessado em ser sócio, a mensalidade é de R$25,00 e R$10,00 para mulheres e menores. Para mais informações acesse o site: www.cxc.org.br.

Localizado na rua XV de Novembro, esquina com a rua Ébano Pereira, o bondinho, inaugurado em 27 de outubro de 1973, hoje é usado como biblioteca para adultos e crianças realizarem leituras, sob os cuidados de educadores, como Daniele Cristyne da Costa, 23 anos. O objetivo inicial é fornecer recreação para as crianças através de atividades pedagógicas e artísticas. Quem passa pelo calçadão entre manhã e tarde vêem o bonde num entra e sai de pessoas a todo momento. A cozinheira Jackeline Domingues, de 43 anos que passa todos os dias pela XV com sua filha Maryana Domingues, estudante de 12 anos, acha importante que as crianças desenvolvam o hábito de ler, e sempre que sobra um tempinho, leva a menina até o bondinho onde funciona a mini-biblioteca. As duas admiram o grande número livros nas prateleiras. Jackeline elogia o espaço reservado no bondinho para a leitura e o fato de poder emprestar os livros. A cozinheira conta também a respeito do aprendizado que isso traz para sua filha e as demais pessoas. É um ótimo incentivo para que ela e outras pessoas possam se interessar sempre pela leitura. Para Maryana, a leitura leva conhecer vários gêneros, que vão de contos de fadas, aventura e romance até os livros mais técnicos. Para os que gostam de ler e tem interesse podem procurar a Fundação Cultural para obter mais informações de como se cadastrar na biblioteca do Bondinho e se divertir com a leitura.


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Copa causa transtornos no Água Verde Moradores da Rua Buenos Aires irão perder suas casas para a Arena da Baixada ser ampliada

Letícia Ferreira

Letícia Ferreira

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uritiba foi escolhida como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, e os jogos serão realizados na Arena da Baixada, que deve ser ampliado para atender aos padrões exigidos pela Federação Internacional das Associações de Futebol (Fifa). Entre as exigências da entidade, está a criação de um estacionamento para 1.153 automóveis. O complexo ocupará uma área de 161.621 metros quadrados com capacidade para comportar 41.293 expectadores. A fachada passará por uma reforma total. A entrada do prédio (onde hoje se localizam uma churrascaria e uma academia de ginástica) será reformulada. A retirada do fosso ao redor do campo e a construção de novos vestiários também estão confirmadas. Para essas modificações serem A rua Buenos Aires, que será transformada para a ampliação da Arena da Baixada, estádio do Clube Atlético Paranaense realizadas, os moradores da Rua BueLetícia Ferreira nos Aires terão suas casas desapro- naense. Como fica o nosso direito de priadas. Elas serão demolidas para a cidadão?”, reclama Elizangela Souza, ampliação do estádio. A praça diante moradora do prédio Crystal Palace. O projeto para as obras na Arena do estádio será desativada, e em seu lugar será construído o estacionamento. do Clube Atlético Paranaense dentro Muitos moradores estão indignados das exigências da Fifa, visando à Copa por terem que sair de suas residências. do Mundo de 2014, está em fase de “Vou ter que deixar a minha casa por execução, avaliação e orçamento. Em causa de um evento que vai acontecer breve, as empresas contratadas finalidurante um mês, e a Prefeitura vai nos zarão os projetos executivos e comdar um terreno sabe Deus onde. Moro plementares (projetos hidráulico e elétrico, entre outros), aqui há mais de trinta anos, meu marido “Fico feliz que Curitiba itens essenciais para o A praça Afonso Botelho dará lugar à construção do estacionamento da Arena quis se mudar antes vai sediar os jogos, mas orçamento completo devido aos transtor- é incorreto modificarem da obra. Restam ainda, havia um planejamento para a Copa erm Cuririba, Luiz de Carvalho, em por parte da Fifa, de- de 2006 e por isso está sendo reade- nota no site da Prefeitura. nos em dia de jogos, tanto o nosso bairro” Até o fechamento desta matéria, finições quanto às ne- quado. São poucas as obras a serem mas não aceitei sair feitas, e a maior delas é a construção a Prefeitura não havia se pronunciado cessidades de telefode uma região central. Acredito que esta área não é apropria- nia, dados e televisão, que serão infor- do anel de fechamento da Arena,” em relação à retirada dos moradores da para a realização desses jogos por madas na reunião no final deste mês, afirma o gestor do projeto da Copa da Rua Buenos Aires. Divulgação ser uma região central. O ideal seria em Brasília, quando então se poderá construir outro estádio afastado da dar por finalizada a etapa de projetos. cidade, onde ninguém precise sair de A fase inicial de avaliação e orçamento sua casa,” diz uma moradora da Rua está sendo realizada pelo DepartamenBuenos Aires que não quis se identifi- to de Engenharia do Atlético. Algumas modificações já foram car. “Fico feliz que Curitiba vai sediar os jogos, mas é incorreto modificarem realizadas no estádio, como o recuo tanto o nosso bairro, retirando as pes- das pilastras para a criação de mais soas de suas próprias casas. Moro em 2.200 lugares, possibilitando a visão um apartamento e tenho a praça como do campo todo. Segundo a Fifa, em única área verde para passear com meu sua última vistoria ao estádio, há falcachorro, e de acordo com o projeto ta de visibilidade para assistir aos joessa praça não irá mais existir e em gos. De todos os estádios avaliados seu lugar haverá um estacionamento. pela Fifa, a Arena é o que necessita de A praça é um bem público e vai se tor- menos modificações. “Temos mais de nar um bem privado do Atlético Para- 70% do previsto concluído, porque já Projeto final da Arena da Baixada para a Copa do Mundo de 2014


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MOTOBOY, PROFISSÃO

Motociclistas profissionais buscam espaço e respeito para ex Ronaldo Freitas

Ronaldo Freitas

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les são considerados por muitos os vilões do trânsito. Atitudes como ultrapassagens bruscas, quebra de retrovisores, danos em laterais de automóveis, entre outros, são relacionadas à figura do motoboy. Poucos reconhecem que se trata de um profissional, um assalariado que, como tantos outros, trabalha com prazos e têm metas a cumprir. A diferença é que trafegar sobre uma motocicleta em um trânsito complicado, dividindo o espaço com automóveis de maior porte e, em muitos casos, com hora marcada para efetuar uma entrega, faz com que esses trabalhadores extrapolem alguns limites e, consequentemente, coloquem em jogo suas vidas diariamente. Muitos são os acidentes envolvendo motociclistas em Curitiba. Segundo dados fornecidos pela assessoria de imprensa do Batalhão de Polícia de Trânsito do Paraná (BPTran), em 2010, foram registrados na cidade 3.110 acidentes envolvendo motocicletas, uma

média aproximada de nove acidentes por dia. Ainda segundo o mesmo levantamento, foram registradas 41 vítimas fatais. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Condutores de Veículos Motonetas, Motocicletas e Similares de Curitiba (Sintramotos), Agenor da Silva Pereira, comenta que os números relacionados a acidentes envolvendo motociclistas, na capital para-

naense, não demonstram a realidade dos profissionais motociclistas na cidade. “Infelizmente, os dados estatísticos repassados por órgãos responsáveis não especificam qual o tipo dos condutores envolvidos em colisões, e eu tenho certeza que poucos são os profissionais da categoria que se envolvem em acidentes, pois a maioria já passou por um curso de capacitação para exercer a profissão”, argumenta.

Agenor Pereira: “tenho certeza de que poucos são os profissionais da categoria que se envolvem em acidentes, pois a maioria já passou por um curso de capacitação para exercer a profissão”

Ainda segundo o líder sindical, a imagem desse trabalhador é marginalizada, e a ele é atribuída a maioria dos imprevistos relacionados a motocicletas. “Diversos acontecimentos passados envolvendo motoboys, em especial o caso do Maníaco do Parque, ocorrido na cidade de São Paulo na década de 1990, fizeram com que esse profissional ganhasse a fama de marginal, o que não condiz com a realidade, pois se trata de um trabalhador como outro qualquer e que preza, acima de tudo, pela sua vida”, relata Pereira. Fabiano Amaral dos Santos (31) conhece bem essa realidade. Casado, pai de dois filhos, há um ano resolveu ser motofretista para aumentar sua renda, já que ele trabalha como segurança noturno. O profissional comenta que sofreu três acidentes leves, mas, em certa ocasião, não teve a mesma sorte. “Eu acredito que o stress, o nervosismo e a distração dos motoristas de automóveis são os principais fatos para a ocorrência de acidentes envolvendo motocicletas.


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O PERIGO

Motogirls: o perigo e a delicadeza lado a lado

xercerem sua atividade Veja o meu caso: eu estava trafegando a uma baixa velocidade, quando do nada um veículo mudou de pista e me atingiu. Devido à colisão, fraturei a clavícula e fiquei um bom tempo sem poder trabalhar”. Ainda segundo o condutor, são raros os casos em que os motoristas de automóveis dão preferência a

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Daysi Passos

Fotos: Ronaldo Freitas

motocicletas. “Eles cruzam a frente de repente, sem sinalizar. Até parece que o pisca é um acessório opcional; se eles precisam mudar de pista, simplesmente mudam. Dá a impressão de que não interessa se há um motociclista ali ou não, são raros os casos em que há respeito”, desabafa o motofretista.

Disputa entre profissionais no trânsito Se de um lado os profissionais motociclistas reclamam da falta de respeito dos condutores de automóveis, de outro, profissionais do volante apontam os excessos cometidos por motoboys como a maior causa de acidentes envolvendo ambos. “O grande problema é que eles (motoboys) não respeitam nada. Ultrapassam em corredores estreitos e, na maioria dos casos, ao verificar um sinal amarelo, ao invés de diminuirem a velocidade, aceleram e simplesmente buzinam, como se isso adiantasse algo”, comenta Olavo Cardoso (64), taxista há três anos em Curitiba. O motofretista Vitor dos Santos (20) argumenta que o grande problema para a sua classe profissional é a falta de espaço nos corredores entre

os carros no trânsito da capital paranaense. “Muitos condutores de automóveis, em sua maior parte taxistas e motoristas de ônibus, fazem questão de deixar o veículo no meio do corredor, fechando o espaço que permite a rápida e segura transição de motocicletas”, reclama. O taxista Jorge Camilo Correia (51), morador de Colombo-PR, que trabalha há 15 anos no centro de Curitiba, cita uma possível solução para a convivência pacífica entre os profissionais do trânsito. “Reconheço que os motofretistas extrapolam em algumas ocasiões, mas nós (taxistas) temos que entender a situação, afinal, assim como nós, eles estão trabalhando e precisam de espaço para trafegar de forma rápida e agilizar seus afazeres”.

Alexsandro Ribeiro

Bruna Escobar ao lado do seu colega de trabalho Fabiano Amaral.

A paixão pelo motociclismo e a sensação de liberdade fizeram com que Bruna Escobar (24 anos) abdicasse de sua antiga profissão, no departamento administrativo de uma empresa, e seguisse o ofício de “motogirl”. Solteira, mãe de um filho, há quatro anos Bruna trafega diariamente pelo centro de Curitiba. “A adrenalina proporcionada pela profissão fez com que eu optasse por abandonar a monotonia do escritório e ganhasse as ruas fazendo entregas”, comenta a motogirl. Ela afirma que conhece os perigos do trânsito e se cuida ao extremo para evitar acidentes. Em relação ao tratamento nas ruas, Bruna não vê nenhuma vantagem em ser uma mulher em cima de uma moto, pelo contrário, acha que o fato ainda gera mais preconceito. “Não tenho nenhum tratamento especial no trânsito, e mais: sinto que alguns motoristas fazem questão de me fechar com o automóvel. Isso, infelizmente, por puro preconceito, aquela velha história contra mulher no volante”, reclama. Outro exemplo é Ana Paula Garrete, de 23 anos, que comprou sua moto para chegar mais rápido no trabalho. “Ônibus, por exemplo, é estressante, porque tem que esperar na fila por muito tempo, e na maioria das vezes a condução está lotada, a pessoa não consegue embarcar e tem de esperar outro com menos gente. Com a moto, a pessoa vai na hora que quer e por onde quer”, justifica. Ao ser questionada por que moto em vez de carro para os dias chuvosos, ela explica que atualmente o número de mulheres sobre duas rodas está aumentando, e o mercado de roupas e acessórios femininos cresce também, o que torna possível estar bem equipada com estilo, mostrando sua roupa de chuva cor-de-rosa. “Para

mim, a moto é mais econômica do que o carro, em todos os sentidos. Dependendo do trânsito, dá para passar pelo meio de dois carros, ultrapassando-os e chegando a tempo ao meu destino”, comenta. Assim como Bruna, Ana também reclama que o preconceito com as mulheres no trânsito é grande. Muitos homens “furam” a sua preferência, e caminhoneiros avançam sem dar sinal, como se ela não estivesse no caminho. “Além de ser mulher, sou motociclista, e os caminhoneiros odeiam essa combinação”, desabafa. Há pouco mais de um mês, a garota se envolveu em um acidente com um carro, fraturando gravemente a perna. Já passou por duas cirurgias e talvez precise de uma terceira. Está afastada do trabalho, sem previsão de retorno, tudo vai depender da reação da perna em relação às cirurgias. “Não vejo a hora de minha perna sarar para eu poder voltar a pilotar; gosto muito de sentir o vento no rosto, dá uma sensação de liberdade”, confessa.

Ana Garrete: “Não vejo a hora de minha perna sarar para poder voltar a pilotar.”


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Terceira idade não, melhor idade É assim que eles preferem definir a fase da vida em que a ordem é aproveitar

Divulgação

Simone Leal

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terceira idade, uma das etapas da vida de um indivíduo, começa em que momento? A cultura e o desenvolvimento da sociedade são determinantes para indicar se uma pessoa está nessa fase. Em países classificados como em desenvolvimento, por exemplo, alguém é considerado de terceira idade a partir dos 60 anos. Para a geriatria, somente após alcançar 75 anos a pessoa é considerada de terceira idade. Não existe um consenso com relação à fronteira que limita a fase pré e pós velhice, nem sobre quais os indícios mais comuns da chegada nessa fase. Dados do IBGE demonstram Grupo da terceira idade passeia pelo litoral paranaense: a ordem é curtir e relaxar que entre 1995 e 1999, no Brasil, o número de pessoas com mais de 60 anos cresceu 14,5%. Com a balada jovem, e os frequentadores chegada da terceira idade, alguns não são só pessoas mais velhas, pois problemas de saúde passam a ser todas as idades são bem vindas”, mais frequentes, e outros, inco- conta Amélia. Ela também frequenta Claudiane dos Santos muns nas fases anteriores, come- o grupo da terceira idade nas terças e O mercado está de olho na terçam a aparecer. A osteoporose e quintas-feiras. ceira idade. Segundo pesquisa feita pela No grupo, ela realiza ativida- empresa de pesquisas GFK, o público o Mal de Alzheimer, por exemplo, des voltadas para a qualidade de mais maduro possui um potencial de são mais suscetíveis de acontecer vida dos idosos, como aulas de consumo em torno de R$ 7,5 bilhões, nessa fase. Com seus problemas caracterís- ginástica, aulas de costura e pales- o dobro da média nacional. Cerca de 19 ticos, a idade vai chegando, e, então, tras com dicas de alimentação, en- milhões de pessoas acima de 65 anos de a pessoa vai se aquietando e se aco- tre outras. “Com o grupo, fazemos idade fazem parte da população brasimodando, certo? Errado. Pelo menos passeios e viajamos. No mês pas- leira, segundo dados de 2009 do IBGE. Muitas empresas deixaram de ignorar não é assim para os idosos que fre- sado, fomos para praia, fizemos esses consumidores. quentam os grupos e bailes da tercei- ginástica de frente para o mar, foi A dona de casa Lair Rossi Onoshora idade, ou, como muitos “Eu vou para muito bom’’, diz. visky, 65 anos, diz que é muito difícil A professora de preferem, da melhor idade. encontrar os Educação Física Neiry achar roupas adequadas e prontas de É o caso de Amélia Monacordo com seu tamanho. Elas existem, amigos, me Gasparin, responsável mas, os valores são altos. “Estou semteiro, uma jovem senhora divertir e dançar” pelas aulas de ginásti- pre ligada nas roupas que são lançadas e de 74 anos que não se deisão tendência. Porém, financeiramente, xou abater pela idade e que Amélia Monteiro cas dos idosos, fala sobre as reuniões do gru- você tem que ter uma boa renda, pois não tem problema algum os custos são de matar”, declara, lempo: “Aqui, tentamos integrá-los em revelar quantos anos tem. brando que o que não pode faltar em Viúva há 21 anos, com to- e mostrar que não é porque têm seu guarda-roupa são blusas tubinho e dos os filhos criados e que dão à mais idade que não podem mais se acessórios. “Não abro mão de terninho ela total apoio, aposentada e mo- exercitar. Claro que realizamos ati- para o inverno e tecidos feitos de algorando sozinha, Amélia encontra vidades de acordo com a condição dão para o verão, pois são muito concompanhia e diversão todos os física de cada um, mas o objetivo fortáveis e deixam um ar de elegância. E nada de tons escuros, pois gosto de codomingos num conhecido clube, é não deixar ninguém parado’’. Questionada sobre a importân- loridos para compor o visual”, explica. no bairro Santa Felicidade, direA também dona de casa, Maria cionado a pessoas de mais idade. cia do grupo de idosos em sua vida, Aparecida, 66 anos, diz que está faltanSócia do clube há quatro anos, ela Amélia diz que é isso que a mantém do atenção para que seja vista a moda na na ativa e que a faz pensar que ain- terceira idade. “É muito difícil enconnão perde um domingo. “Eu vou para encontrar os ami- da tem “muita lenha para queimar’’. trar um padrão adequado. O mercado gos, me divertir e dançar. Gosto mui- Ela afirma que nunca é tarde demais não presta muita atenção, e os modelos to de dançar vanerão, bolero e forró. para aproveitar a vida e que todos e cortes deixam muito a desejar. Muitos Lá também rola paquera, como na deveriam participar dos bailes e das modelos bonitos que são lançados são

Moda para os idosos difíceis de encontrar”, reclama O que ela mais gosta no mundo fashion são os acessórios que dão um toque bem diferente. Gosta muito dos sapatos altos e de bicos finos, que acha elegantes, mas não pode usá-los como antigamente. Também curte os clogs, mas está procurando um modelo de salto um pouco menor. “Terninho, vestidos fresquinhos e estampados são essenciais, não abro mão deles”, afirma. A costureira Lilian Bitdinger, de 62 anos, possui uma confecção cujo maior público está entre as pessoas acima de 60 anos e as que estão acima do peso. Ela tem muitas consumidoras e recebe várias cópias de modelos de roupas. Informa que a maioria das senhoras chega com a mesma reclamação sobre a dificuldade de achar roupas com um bom caimento. “As minhas clientes sempre reclamam que as lojas são mais voltadas para os jovens, aquelas com corpinhos lindos e perfeitos, e acabam as esquecendo”, conta a costureira. A vantagem de quem fabrica roupas por encomenda, conta ela, é que sua gama de clientes aumenta e, em consequência, o lucro também. As épocas em que o fluxo aumenta são sempre as mudanças de estação e, é claro, dezembro quando o Natal se aproxima, pois muitas jovens vão encomendar roupas para suas mães. “Fabrico aqui mesmo as roupas que uso. Como consumidora, também enfrento dificuldade em achar peças e lojas que conheçam o perfil do público mais velho”, lamenta.


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COMPORTAMENTO

Paixão sobre duas rodas

Para muitos, o motociclismo é, além de hobby, um estilo de vida

Divulgação

Juliana Morelli

“A cada encontro, novos amigos”. Esse é o lema que reúne milhares de pessoas em Curitiba com uma mesma paixão: o motociclismo. Sem limite de idade, sem prazo de validade, sem preconceito e sem distinção: é dessa forma que homens e mulheres de todas as idades optam pelas motos como meio de transporte e diversão. Os encontros geralmente acontecem nos motoclubes, que hoje já são mais de 138 espalhados por toda a cidade. Ao som do bom e velho rock’n roll e muito ronco de motor, os destemidos motociclistas contam suas experiências de viagens pelas estradas do Brasil, que às vezes ultrapassam as fronteiras. Para Renan Meirelles, 25 anos, presidente e fundador do Moto Clube Sociedade Secreta de Curitiba, o motociclismo não é um hobby e nem um esporte, “é um estilo de vida. Sair nas estradas pilotando uma moto é uma forma de esquecer os problemas e extravasar”. O Sociedade Secreta existe há sete anos e conta com 21 membros. O presidente afirma que para fazer parte e se manter no clube os motociclistas devem “ser aceitos pelos demais”. Eles se tornam “PPs”, que são os prepostos, nome dado a todos os novatos que querem fazer parte do clube. Os aspirantes desempenham algumas atividades estipuladas pelos membros e cumprem o regimento interno da entidade. O estatuto interno preza pelo zelo e a boa convivência dos integrantes, diz Meirelles. A vez delas Quem pensa que lugar de mulher é pilotando um fogão está completamente enganado. Em 2010, 57% das Carteira Nacionais de Habilitação (CNHs) da categoria “A” emitidas pelo Detran do Paraná foram para mulheres. Em

Integrantes do Moto Clube Sociedade Secreta durante um de seus encontros mensais

comparação com 2009, houve um ta, 40 anos, mais conhecida como crescimento de 7%. Fatty, motociclista e fundadora Elas literalmente deixam as do moto clube feminino Rodas de garupas e assumem o controle dos Aço, transmitiu seu gosto por moguidões sobre duas rodas. Prova tos para Carla, sua filha de 17 anos. viva dessa revolução chama-se Em cima da sua moto CBR 600 Sandra Marchesi, a Sandrinha, 50 cilindradas, mãe e filha viajam junanos, funcionária aposentada da tas. “Assim que eu fizer 18 anos, Caixa Econômica Federal, louca vou ter a minha moto”, diz Carla. por motos. Uma de suas aventuras foi pilotar a sua Shadow 600 por Feminilidade 1.340 quilômetros, até o Chile. A viagem levou 18 dias e conPesquisas realizadas recentementava com apenas ela de mulher te pela Associação Brasileira dos Fadentre os demais motociclistas bricantes de Motocicletas (Abraciclo) do grupo. “O que eu sobre o perfil dos conAs mulheres gosto mesmo é de rosumidores indicam que lar o cabo”, afirma. O assumem que são 25% dos compradotermo, usado entre os capazes de pilotar res de motocicletas no motociclistas, significa Brasil são mulheres. uma moto sem Elas estão desfaacelerar o motor, ou correr. “Já dormi em perder a feminilidade zendo a ideia de que posto de gasolina, em “moto é coisa de hoestação de esqui e albergue. Histó- mem”. As mulheres assumem que ria para contar é o que não me falta. são capazes de pilotar uma moto Sou completamente apaixonada”, sem perder a feminilidade, integram afirma a motociclista. grupos de motociclistas até então Já Fátima Machado da Cos- compostos somente por homens e

desfrutam das aventuras possibilitadas pelas novas experiências. Para quem gosta de fazer novos amigos e se enquadra no grupo de pessoas que são loucas por aventura, vento na cara e muita adrenalina no sangue, vale a dica: filiar-se ao moto clube mais próximo. Com certeza, seus finais de semana não serão mais os mesmos.

SERVIÇO Moto clube Sociedade Secreta Presidente: Renan Meireles Reuniões: Toda 2ª sexta-feira de cada mês, a partir das 19h. Endreço: Cleide Lurk, nº 85, Boa Vista Telefone: (41) 9944-1614 Na internet: www.sociedadesecreta.com.br


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CULTURA

Os mistérios da imaginação A arte pode ser encontrada em inúmeras e variadas manifestações individuais e coletivas André Vinícius

André Vinícius

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que é arte para você? Talvez teatro, cinema, televisão? Ou talvez prefira pinturas de Dali ou esculturas de Rodin... Quem sabe uma apresentação de ópera, como “La Traviata”, de Giuseppe Verdi? No campo da música, você talvez pense que nada é melhor que rock and roll, blues e soul. Se acaso primar pela brasilidade, suas opções circulariam entre o samba, a bossa e o chorinho. E há quem aponte o tango, dos vizinhos argentinos. Você pode ainda ter tendências kitsch, termo consagrado nos anos 1930 pelos pensadores Theodor Adorno, Hermann Broch e Clement Greenberg, que definiram a expressão como movimento opositor à arte moderna e de vanguarda. Em outras palavras, arte considerada de “gosto duvidoso”, como madeira Lenora Cardoso, diretora do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC) pintada de forma a se parecer com mármore ou o mictório de Marcel tro, ou museu”, diz Lenora, que O grafite enfatiza que ir a um museu deve Duchamp. Segundo a professora Cristina ser tão prazeroso quanto ir ao Curitiba e várias outras ciCosta, autora do livro “Questões shopping, por exemplo. dades pelo Brasil e pelo mundo O conceito de bonito é muito de Arte: a natureza do belo, da estão repletas de desenhos. Copercepção e do prazer estético”, o intrincado e pessoal. Para Lenora nhecidos como grafite (do italiaimaginário popular crê que apenas Pedroso, “é uma definição a que no graffiti, plural de graffito), são quadros e esculturas presentes em não chegaremos nunca. O que normalmente aplicados em paremuseus ou música erudita podem pode ser bonito para mim pode des e muros. Muitos chamam a não ser para você”. ser considerados obras de arte. atenção pelas cores fortes e pela Sobre o kitsch, temática apresentada, como as De acordo com a diretora do MAC mazelas sociais. Para o grafiteiro a diretora do Museu vê como uma “crí- Thiago Cesar Gava Telles, conhede Arte Contem“Ir a um museu tica ao luxo. É um cido como Thiago Syen, isso não porânea do Paraná deve ser tão objeto do dia a dia é, necessariamente, questão de (MAC) e da Casa prazeroso quanto ir que causaria estra- inspiração. “Meus trabalhos são Andrade Muricy, a um shopping, por nhamento enquan- resultados de pesquisa e vivênLenora Pedroso, a to obra de arte, cias pessoais”, conta. arte é uma necessiexemplo” mas que de repente dade de expressar Syen também revela não acreé utilizado como as emoções e quesditar em diferenças entre grafite e tionar a vida, acompanhando o tal, numa inversão de valores”. pichação, que é a assinatura estiliSobre a suposta banalização zada em muros, ônibus e elementos ser humano desde sempre. Sobre o suposto caráter erudito da arte, da arte que seria uma consequ- do patrimônio urbano: “Falando de ela crê que está intimamente re- ência disso, Lenora crê que a re- imagem, não vejo diferença, são lacionado à educação. “No nosso presentação de obras em objetos formas de desenhar ou pintar em país, a educação é mais elitista do pode mesmo auxiliar a indústria diferentes suportes, só que o grafite que a cultura. É através do ensino do turismo. “O turista deseja le- foi aceito pela mídia, e a pichação, que se mostram as possibilidades var uma lembrança do lugar que não. Por isso, o grafite é mais aceito de apreciar a cultura, em um tea- visitou”, justifica. pela sociedade”, conta o grafiteiro.

O que é arte para você? “Qualquer coisa que seja inspiradora. A perfeição do sol, das nuvens, montanhas. A arte da natureza.” Jean Müller Linazzi, 27 anos, guarda municipal. “Arte pra mim é toda e qualquer manifestação individual ou coletiva que tenha intenção de tornar públicos aspectos culturais, de pensamento, gosto ou opinião que sejam materializados em algum tipo de material, seja ele concreto ou abstrato. Tem que ser algo que agrade, que faça parte do mundo da pessoa”. Ricardo Tesseroli, 29 anos, jornalista “Expressão involuntária de um sentimento. Como diz o Milton Nascimento, todo artista está onde o povo está. Para mim, a grande arte é a expressão de ajuda, porque é a arte do coração”. Esther Alexandra, 40 anos, assistente de faturamento


CRÔNICA

TÁ NA WEB

Mendigo qualificado Alexsandro Teixeira Ribeiro

Com licença. Será que o senhor teria algum trocado para me dar? Não, infelizmente. Nem uma moedinha? Nada. Então tá. O senhor tem um bocado de coisas aí, né? Por que o senhor quer saber? Calma. Não pretendo assaltá-lo. Só estava perguntando, curiosidade apenas. Esse DVD aí, que filme é? Rambo. Virgem! Já assisti. Já, é? Gostou? Não. Meio inconsistente. Não gosto desses filmes em que a cada dois minutos explode algo ou empalam alguém. Violência gratuita. Além do que, isso aí é mentira da feia. Assisti um esses dias, gostei muito: Terra das sombras. Sei. Meio meloso. É com aquele cara, o Antônio... Antônio uma ova, com todo o respeito. Antônio é o Banderas. É Anthony Hopkins. Muito bonito, o filme. Gostei de outro também, com o Roman Polanski. Não o conheço. Pois é. Nem todos gostam de um bom filme. E esses livros aí? É. Gosto muito de ler. Isso faz mal. O quê, ler? Não. Esse tipo de literatura aí. Se é que possa ser chamado de literatura. Bom é Eça, Machado, Drummond, Balzac, Zola, Dante, Goethe. Ow! Lindo Werther. Puxa! Mas você não é mendigo? E daí? Tenho que ser ignorante para

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ser mendigo. Que tem a ver o meu grau intelectual com a minha posição social? Mon Dieu! Fala francês, é. Ja, Freund. Alemão? Si señor. Espanhol também, é? Yes, mister. That’s good. Puxa, só o que me faltava. Um mendigo poliglota! Pois é. Neste mundo globalizado, expressar-se em uma língua apenas é muito arriscado. Vai dizer agora que entende de artes. Um pouquinho. A arte é a alma do ser humano. Aquela pintura ali, na capa daquela revista, por exemplo, é barroca. Picasso? Cacete! Claro que não! É Caravaggio. Picasso é cubista. Bem, e esse jornal aí, posso? Ow! Claro, já o li. Agora sim. Esta foi uma ótima escolha. Pois é, este jornal aborda notícias de uma forma espetacular né? Que nada. Este periódico é uma porcaria. Ué? Então por que diabos disse-me que foi uma ótima escolha. É que a textura deste papel é ótima para me cobrir, mantem o calor. Agora, se me der licença, está na hora do meu cochilo. E, estrategicamente falando, este banco é o melhor da cidade. Aliás, não sei se já perguntei ao senhor, mas... tem algum trocado aí?

Alexsandro Teixeira Ribeiro

Zangief Kid, o herói antibullyng? Bombou na rede no último mês o vídeo em que um jovem de 16 anos, Casey Heynes, revida os ataques de Richard Gale, de mesma idade, ambos estudantes de uma escola australiana. Se foi um caso de bullyng ou não, o leitor pode julgar lendo reportagens sobre o assunto ou assistindo às entrevistas concedida por Casey à TV australiana no programa A Current Affair, e de Gale ao Today Tonight. Afora julgamentos, o fato é que o vídeo, editado de diversas maneiras, sendo que em uma Casey vira o personagem de HQ Hulk, ganhou repercussão mundial. Conhecido em toda a web sob a alcunha de Zangief Kid, em alusão ao personagem soviético do aclamado jogo de videogames Divulgação

Street Fighter, que desfere em seus oponentes um golpe similar ao do garoto no vídeo, Casey Heynes chegou a protagonizar até um jogo na net, intitulado Zanguif Kid Game, que pode ser acessado em http://www. zangiefkidthegame.com/. Smutley, o gato promíscuo Por precaução ou por não ser o perfil do consumidor brasileiro, humor em campanha publicitária pela prevenção contra a Aids não é comum no Brasil. No entanto, não é o que ocorre em outros países, como na França, em que a Aides, ONG que luta pela prevenção contra a Aids, lançou a campanha “Proteja-se”, que conta com uma animação em preto e branco, ao estilo dos desenhos animados antigos, em que um gato bonachão chamado Smutley pratica sexo sem proteção com vários animais. Criado pela agência californiana Goodby, Silverstein & Partners, a animação do gato promíscuo, que lembra o louco personagem Fritz The Cat, desenhado pelo cartunista Robert Crumb, demonstra um exemplo a não ser seguido. Afinal, diferente do gato Smutley, conforme dita a sapiência popular, temos apenas uma vida. Fica a dica: proteja-se. Um blog milionário É apenas um projeto, mas já deu reboliço. A cantora baiana Maria Bethânia


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

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A realidade subentendida

Textos e fotos de Andressa Maltaca

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capital paranaense, que completou 318 anos, conta com muitas histórias, diversas culturas e pessoas vindas de inúmeras regiões. Quantas vezes você já cruzou com um morador de rua ou um mendigo pela cidade? Quantas vezes paramos para observar qual é o cotidiano dessas pessoas? Ou algo mais simples: quantas vezes vemos essas pessoas com um olhar que não seja de pena? Os moradores de rua estão presentes em quase todos os locais. São de diferentes lugares e idades, são pessoas que fazem parte da cidade em que vivemos. Na grande maioria das vezes, são chamados de pobres! Será? Ou somos nós que estamos nos tornando uma sociedade pobre, uma sociedade que olha sem querer olhar, vendo que uns mendigam por comida, outros por dinheiro ou apenas para obterem a atenção daqueles que justamente não querem enxergá-los?


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