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Jornal-laboratório

do curso de

Jornalismo

do

Centro Universitário Uninter – Ano

iv

– Número 20 – Curitiba,

junho de

2012

Foto: Claudia Bilobran

Zigue-zague com patins

Conheça a modalidade Slalom de patins, um esporte cheio de manobras e movimentos (p. 12) Foto: Janile Ramos

Outro olhar sobre as lentes

Sinal vermelho para a mobilidade

Mais do que proteger a visão, os óculos podem melhorar a aparência (p. 7) Foto: Keity Marques

Foto: Déborah Abrahão

Um ideal que não morre

O pensamento anarquista permanece entre jovens e ganha espaço para discussão (p. 6)

Entre tantos problemas no trânsito curitibano, especialistas sugerem alternativas para melhorar a modilidade urbana (p. 8 e 9)


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MARCO ZERO

Número 20 – Junho de 2012

OPINIÃO Ao Leitor Neste mês, o Marco Zero discute a mobilidade urbana em Curitiba. Quais os principais problemas envolvendo o trânsito? Quais as consequências e as possíveis alternativas para combatê-los? Conheça também a mobilidade de patins chamada Slalom, cheia de movimentos e acrobacias. Há ainda uma entrevista com a atriz global Rita Êlmor, sobre sua carreira e a produção do monólogo PAI. Veja também como os óculos podem servir de acessório de beleza e não apenas ajudar na visão. Na editoria de Cultura, leia uma resenha da nova série Smash, que conta os bastidores da Broadway. E, por fim, emocione-se com o ensaio fotográfico sobre o melhor amigo do homem e sua condição nas ruas da capital paranaense. O Marco Zero traz informação comprometida com a qualidade. Tenha uma ótima leitura!

Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter Coordenador do Curso de Jornalismo: Tomás Barreiros Professores responsáveis: Roberto Nicolato e Tomás Barreiros O jornal Marco Zero foi premiado como melhor jornal-laboratório do Paraná no 16º Prêmio Sangue Novo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Edição • Eduardo Pampuch • Kellen Ribeiro • Mahara de Souza • Rafael Giuanusi • Willian Gomes Diagramação • Aryadne Ronqui • Clarissa Brandolff • Leonardo Akira • Marcela Panek • Natanael Chimendes • Paula Vilas Boas Projeto gráfico: Matias Peruyera Facinter Rua do Rosário, 147 CEP 80010-110 – Curitiba-PR E-mail tomas.b@grupouninter.com.br Telefones 2102-7953 e 2102-7954.

Sem limites para o crime virtual

O mundo virtual possui muito mais perigos do que imaginamos, e nossa falta de cuidado pode trazer constrangimentos

Claudia Bilobran

Quais as melhorias de que o centro de Curitiba precisa?

Foto: Divulgação

“Precisa de melhorias principalmente nas ruas mais antigas, que mostram a história da cidade. As calçadas deveriam ser mais conservadas. Os pedestres sentem dificuldades em andar por causas das pedras soltas.” Nilson Carlos de Souza, 49 anos, porteiro

Mahara de Souza

R

ecentemente, foi divulgado na mídia o caso da artista Carolina Dieckman, que teve várias fotos suas roubadas de seu computador e postadas em sites de pornografia e divulgadas em redes sociais. A história teve grande repercussão, pois a atriz sofreu chantagem dos hackers antes de as fotos serem liberadas na internet. A situação chamou a atenção pela fragilidade na privacidade das contas de e-mails e redes sociais. Todos esses meios de comunicação utilizam senha para acesso, mas nesse caso foi possível verificar a falha nos sistemas de segurança, um vez que o ladrão conseguiu acessar uma conta e furtar arquivos e dados. Especificamente nessa situação, a polícia conseguiu localizar os envolvidos, mas não é tão simples assim, afinal, esse tipo de invasão ocorre todos os dias, e a solução não é imediata. E-mails enviados a terceiros ou sites com conteúdo ofensivo configuram crime, e, de acordo com a legislação atual, os servidores desses meios de comunicação não podem ser responsabilizados criminalmente pelo conteúdo dos sites que hospedam. Em caso de conteúdo ofensivo em sites ou redes sociais, a vítima pode formular um pedido para retirada de conteúdo. Esses crimes virtuais podem ser enquadrados no Código Penal Brasileiro, e os infratores estão sujeitos às penas previstas na Lei, podendo ser punidos com o pagamento de indenização ou prisão. Para menores de 18 anos, a punição pode ser prestação de serviços à comunidade ou até internação em uma instituição. Os delitos mais comuns praticados no meio eletrônico são ameaça, difamação, injúria e ca-

Carolina Dieckman teve fotos íntimas divulgadas na internet

lúnia, discriminação, estelionato e falsa identidade e aumentam geometricamente com a universalização da internet. Neste ano, foi aprovado no plenário da Câmara dos Deputados o projeto de Lei 2.793/11, que criminaliza o uso indevido da internet. Para muitos, a internet ainda é tida como um território livre, sem lei e sem punição, onde tudo pode ser feito sem que haja consequências. Mas a realidade está mudando, e, hoje, a polícia vem coibindo a sensação de impunidade que ocorre no ambiente virtual, combatendo a criminalidade cibernética com a aplicação do Código Penal, do Código Civil e de legislações específicas e punindo internautas, crakers e hackers que utilizam a rede mundial de computadores como instrumento para a

prática de crimes. Mas é necessário que os usuários fiquem mais atentos e cuidem com o tipo de arquivos e dados que disponibilizam no ambiente virtual para evitar futuros problemas e constrangimentos, pois já se tornou rotineiro invadir a privacidade das pessoas com o objetivo de obter algum fato ou ato que as possa constranger. Devemos considerar que o mundo virtual possui muito mais perigos do que nós, usuários, imaginamos, e por isso alguns cuidados básicos são necessários. Quem sofrer algum crime virtual deve entrar em contato com a Polícia Civil do Paraná, na Rua José Loureiro, 540, Centro, ou pelo telefone 3883-8100, ou ainda enviar mensagem para o e-mail cibercrimes@pc.pr.gov.br.

“Precisa de mais segurança. Ontem mesmo eu vi numa reportagem na TV que os alunos do colégio Estadual estão sendo assaltados nas imediações da escola” Luiz Augusto Cavali, 21 anos, estudante de Publicidade e Propaganda

“Precisa de melhorias, tanto no transporte urbano como na segurança. Outro dia, saí da aula por volta de meio-dia e presenciei uma briga de gangues. E demorou a aparecer um policial. Ninguém ousou intervir na briga por medo dos outros integrantes das gangues” Samanta Talita Piege, 17 anos, estudante de Jornalismo


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MARCO ZERO

CIDADANIA

Imigrantes escolhem Faltam sanitários Curitiba para viver públicos em Curitiba

Pesquisa do Censo mostra que o número de imigrantes no Brasil cresceu 86,7% em dez anos

Foto: Ligia Santos

Foto: Itamar Crispim

Na Praça Osório, usar o banheiro público custa cinquenta centavos

Ligia Santos

Kumiko Abe veio para o Brasil com o fotógrafo Itamar Crispim. Aqui estão constituindo uma família

Janiele Delquiqui

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udar do país onde nasceu para morar em um desconhecido é uma decisão um tanto desafiadora, por causa dos costumes, família, amigos e os laços que são criados onde se vive. Mas é isso que muitos estrangeiros estão fazendo ao escolherem o Brasil como nova morada. Ainda no Japão, Kumiko Abe se casou com um brasileiro. Para se adaptar e aprender o idioma, fez faculdade de Língua Portuguesa. “Faz três anos que moro aqui, já falo e compreendo muito bem o que as pessoas conversam”, diz. Ela afirma desejar que os filhos também conheçam a cultura do Japão. “Gosto do Brasil. Aqui, consigo viver com os meus três filhos como se estivesse no Japão. Eles assistem desenhos de lá, nos alimentamos da culinária japonesa, me adaptei fácil aqui”. Kumiko faz parte dos milhares de imigrantes que vieram do Japão para o Brasil. De acordo

com o censo do IBGE, o número de imigrantes cresceu 86,7% nos últimos dez anos. São Paulo, Paraná e Minas Gerais, juntos, receberam mais da metade dos imigrantes. Os principais países de origem dos imigrantes, segundo o levantamento do IBGE, são Estados Unidos (51.933), Japão (41.417), Paraguai (24.666), Portugal (21.376) e Bolívia (15.753). João Carlos Rodrigues veio de Portugal para o Brasil pelo mesmo motivo que Kumiko. Ele conheceu Márcia Rodrigues. Há dois anos no país, eles montaram um negócio. “Aproveitei a oportunidade para pôr em prática meus dotes culinários. Abrimos um delivery de pratos com bacalhau. Nosso diferencial é que o produto vem direto de Portugal”, conta Rodrigues. Um país cujos imigrantes ainda não aparecem significativamente no censo, mas que tem pessoas vindo para o Brasil, é o Haiti. Os hatitianos fugiram das consequências dos recentes terremotos. Desde o início do ano, entram pelo Acre e se espalham pelo país. Eles atuam na indústria, na construção e nos servi-

ços domésticos. Uma família curitibana contratou cozinheira, motorista e babá haitianos. A empresária Fernanda Crisostomo foi atrás das autoridades do Acre e conseguiu a indicação dos três empregados. Eles estão em Curitiba há dois meses, morando na chácara da família que os contratou. “Estou satisfeita com os serviços prestados pela babá, com quem minhas três crianças estão até aprendendo francês; com a comida preparada pela cozinheira, que no Haiti era cabeleireira; e com a agilidade do Sergen Marcellus, que está melhorando seu português antes de começar a dirigir pelas ruas de Curitiba”. Quem os encaminhou para a família de Fernanda foi a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre, que intermediou empregos para outros 70 haitianos no Paraná e mais de 2,3 mil em todo o Brasil. Todos os refugiados fizeram CPF e carteira de trabalho antes de serem encaminhados para emprego. Os três que estão nada casa de Fernanda foram contratados de acordo com as normas da CLT brasileira.

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uem é que nunca precisou usar um banheiro no Centro de Curitiba enquanto fazia compras, passeava ou estava em algum outro compromisso? Pois é, mas fica difícil quando se percebe que não existem banheiros públicos na região central da cidade. Os poucos sanitários que existem em Curitiba estão na Rua da Cidadania da Praça Rui Barbosa e na Praça Osório, administrados pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Curitiba (Smel), e onde ainda quem os utiliza precisa pagar R$ 0,50. Fora isso, é preciso procurar um comércio próximo, o que nem sempre é possível. Segundo informações do setor de Gerência de Praças da Prefeitura de Curitiba, os banheiros públicos que haviam na cidade foram desativados porque o número de praceiros responsáveis pela limpeza e manutenção dos locais não era suficiente. Ainda conforme essas informações, não há uma data prevista para que os outros banheiros públicos da cidade, que se encontram fechados, voltem a funcionar, pois não há estrutura suficiente para atender à população. A universitária Juliane Moreira relata que já precisou utilizar um

banheiro enquanto estava no Centro e não teve outra alternativa se não procurar um estabelecimento comercial e pedir para utilizar o banheiro, já que não são todos os comércios que possuem sanitários disponíveis para os clientes. “Não me importa ter que pagar R$ 0,25 ou R$ 0,50 para utilizar o banheiro, desde que esteja limpo e em boas condições”, relata Juliane. Ainda conforme o setor de Gerências e Praças da Prefeitura, o número de praceiros que deveriam fazer a manutenção dos banheiros da cidade é pequeno e, além dessa função, eles também cuidam da limpeza das praças no entorno, entre outras funções exercidas por elas, o que os acaba sobrecarregando. “Eu já precisei usar um banheiro enquanto estava na rua com minha filha pequena, mas simplesmente não encontrei. Se para nós, que somos adultos, já é complicado quando precisamos e não temos onde ir, imagine então quando estamos com uma criança”, diz Nilza Oliveira, dona de casa e moradora de Curitiba. Alguns estabelecimentos comerciais, como lanchonetes, lojas e supermercados têm banheiros disponíveis para a clientela, mas não são todos. Alguns até oferecem o serviço, mas cobram por isso. Seja no Centro ou em algum outro bairro da cidade, pagar torna-se a única opção para quem precisa ir ao banheiro às pressas.


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PERFIL

O “PAI” de Rita Êlmor

Atriz global leva ao palco monólogo intrigante de Cristina Mutarelli Fotos: Divulgação

ser ansiosa e de não ter esperado para fazer com patrocínio.

David D’Visant

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uem não se lembra da marcante Anete, a chefe maluca de Vladimir Brichta (“Separação”) ou da Venetta a bêbada (“Macho man”), ambas personagens criadas para os divertidos seriados da Rede Globo? Agora, Rita Êlmor, a atriz multifacetada, sobe ao palco para interpretar Alzira Pontes Pastore, uma mulher irônica criada em uma família chefiada por um pai tirano. Ela está cansada de lidar com suas maldades, então, decide acertar as contas com o progenitor. Com direção de Cristina Elias e Rita Êlmor, “PAI” é um monólogo-carta de Cristina Mutarelli direcionado à figura paterna. De forma intrigante, a peça deixa o espectador confuso sobre até que ponto Alzira criou para si toda uma história para explicar seus problemas. A atriz Rita Êlmor e a coreógrafa Cristina Elias procuraram reconstruir os conflitos e paixões que marcaram a viagem da protagonista à casa do pai. O monólogo de Cristina Mutarelli retrata a relação pai e filha, que ao longo da peça compartilha seus medos e desejos mais secretos. Aos 77 anos, o saudoso ator Paulo Autran assistiu casualmente a uma leitura do monólogo “PAI” e foi arrebatado pelo texto. Ele decidiu então participar da montagem da peça em São Paulo, em 1999, dirigindo a atriz Bete Coelho, que se aventurava em seu primeiro monólogo. No ano 2000, a peça foi levada para a Itália. “Tive o prazer de assistir à montagem paulista e fiquei impactada. Também caí de paixão e senti muita vontade de falar aquele texto ao público carioca. O projeto nunca saiu da minha cabeça”, conta Rita. Em 2010, a vida se encarregou de aproximar Rita Êlmor da autora Cristina Mutarelli, e, quando ela e Cristina atuaram no seriado “Separação”, exibido pela Rede Globo, teve a certeza de que o projeto seria realizado. Treze anos depois da primeira montagem, o espetáculo “PAI“ chega finalmente a um palco carioca. “Para realizar esse desejo

Rita Êlmor com a autora da peça, Cristina Mutarelli: aproximação que começou em 2010

antigo, contei com a parceria fundamental de Cristina Elias, que assina comigo a direção da peça e cuida da direção de movimento, tudo sob a supervisão de Cristina Mutarelli. Esta montagem é também fruto do envolvimento apaixonado de muitas pessoas e conta com o apoio do Midrash Centro Cultural e do Espaço Rampa”, conta Rita. Em entrevista concedida ao Marco Zero, Rita Êlmor responde a algumas perguntas sobre carreira sua e o espetáculo. Como é atuar para televisão? Enquanto no teatro temos meses para testar várias possibilidades de construção de personagem, na televisão temos que ser objetivos. Adoro esse exercício. Ele nos deixa no presente o tempo todo. Temos que chegar com o texto bem decorado e com alguma proposta de interpretação. Ao mesmo tempo, eu diria que a palavra chave para uma boa atuação na TV é o desapego às idéias que trazemos de casa. Dependemos muito do olhar do diretor, que é o olho da câmera

Estava com tanta vontade de montar esse texto que não aguentei esperar o tempo necessário para conseguir um patrocínio e do público. Com as marcas devidamente respeitadas, o improviso é nosso grande aliado na hora de falar o texto. O improviso traz frescor e verdade para a personagem. Como você constrói suas personagens? Começo me perguntando: Quem é essa pessoa? O que dizem dela? Ela gosta de quem? De quem ela não gosta? Quem a faz rir? Ela ri do quê? Onde ela é burra? Onde ela é inteligente? O que a faz chorar? Como ela é vista pelos

amigos? Como ela é vista pela família? Quem eu conheço que tem características parecidas? Depois de montar esse quebra-cabeça, me sinto íntima dessa pessoa que brinco de ser e me solto ao acaso da cena. Entro no jogo com os outros atores. Essa é a melhor parte. Houve dificuldades para produzir “PAI”? Estava com tanta vontade de montar esse texto que não aguentei esperar o tempo necessário para conseguir um patrocínio. Fiquei ansiosa e resolvi fazer a peça sem patrocínio, com meu dinheiro. Senti vontade de dar a mim e ao público carioca essa peça de presente. A maior dificuldade é conseguir divulgar a peça sem colocar anúncios no jornal. Mas eu sabia que seria assim e resolvi, assim mesmo, fazer o espetáculo. Então, todos os dias, quando acordo, me pergunto: o que eu posso fazer hoje para divulgar a minha peça? E aos poucos estou conseguindo, está tendo um bom boca a boca, e aos poucos estou ficando feliz de

Como você define o teatro brasileiro de hoje? Essa pergunta é muito difícil, porque o Brasil é enorme. Provavelmente, há movimentos teatrais interessantíssimos acontecendo pelo Brasil adentro que eu desconheço. O panorama teatral carioca está me animando muito. Atualmente, temos várias peças interessantes em cartaz, com muita diversidade, e é claro que a comédia é a marca do Rio de Janeiro. As comédias ganham mais destaque na nossa cidade, e acho que isso tem a ver com o clima de praia. Os cariocas são leves. A violência está comendo solta, e a galera está tomando chope na beira da praia, dando risadas. Esse é o melhor e o pior lado do carioca, e o gosto teatral reflete essa atitude. Há muitos incentivos financeiros para grupos e projetos teatrais. Não podemos reclamar de falta de patrocínio. O nosso maior problema é a falta de teatro para tantas peças que ficam em cartaz um mês. E depois o projeto acaba morrendo por não ter espaço para permanecer e, aos poucos, formar plateia. Disputamos a tapas algum espaço para divulgar nossas peças. Mas o Rio de Janeiro continua lindo. Pretende levar a peça a outros palcos brasileiros? Curitiba, por exemplo? Quero levar para o Festival de Curitiba. Gostaria de apresentar essa peça em vários palcos brasileiros. Vou tentar. Se me quiserem, eu também quero. Após a temporada, o que pretende fazer? Acabei de estrear a peça e sei que para ela ter uma vida longa precisarei trabalhar todos os dias na produção e na divulgação. Não consigo pensar no depois. O agora já está me consumindo muito. É como estar com o namorado que amamos, não dá para pensar no próximo. Em outubro, estreia um filme que gostei muito de fazer, com roteiro de Paulo Cursino e direção de Roberto Santucci, “Até que a sorte nos separe”... E como diria Shakespeare: “O resto é silêncio”.


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Modelo, miss, repórter

A apresentadora de televisão Valquíria Melnik sente-se realizada em sua trajetória Foto: Maria Luiza Okoinski

Maria Luiza Okoinski

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atural de Curitiba e a segunda de quatro irmãos, a apresentadora Valquíria Melnik, de 37 anos, conta nesta entrevista ao jornal Marco Zero que teve uma infância como qualquer criança. Ela gostava de jogar bola, subir em árvores, brincar de esconde-esconde na rua, no meio do mato e, por incrível que pareça, nunca brincou de desfilar e nem pensava em ser modelo. Somente na adolescência, com seus 14 anos, começou a pensar no assunto, devido a um convite que recebeu para ser fotografada enquanto passeava num parque. “Acreditei e fui atrás, com o apoio de meus pais”, conta Valquíria. Ela não enfrentou nenhuma situação difícil em sua trajetória como modelo e diz que o segredo está em trabalhar com agências boas, com gente séria. Fez muitos comerciais e lembrou teve muitos convites para falar em vídeos: não só para expor seu rosto, mas para falar sobre o produto ou sobre o serviço, e logo foi desenvolvendo a habilidade de se comunicar frente às câmeras. Motivo pelo qual recebeu, aos 19 anos, o convite para fazer um teste. Logo começou a apresentar o programa “Cine News” (sobre novidades do cinema), na CNT. Na época, ela não era jornalista, estava cursando Administração de Empresas. Trabalhou muito tempo na CNT e aproximadamente seis anos na TV Educativa. Está há um ano e meio na RIC TV, como apresentadora do programa “Ver Mais”, que vai ao ar de segunda a sexta das 14h às 14h30. Faz 18 anos que Valquíria ingressou na televisão e sempre contou com o apoio da família. “Esse apoio é muito importante, e eu sempre tive”, conta. Diz que o pai sempre a ajudou em tudo; depois, a ajuda veio do ortodontista Silvio Luís Dalagnol, com quem é casada e tem uma filha de nove anos. “O Silvio sempre me apoiou, é muito companheiro, admira meu trabalho. Éramos noivos quando estava concorrendo

ao Miss Brasil, e ele foi até a África do Sul só para eu não desistir dele”, relata. Quando questionada se a filha quer seguir a carreira da mãe, Valquíria responde que “de jeito nenhum” e que ela tem pavor (risos). “TV para ela, só para assistir”, decreta. O título de Miss Brasil em 1994 a ajudou muito, mas não foi o que a levou para a televisão, pois quando recebeu o título já estava há um ano na CNT. Mas, como consequência, vieram outros trabalhos e reconhecimento. Em relação ao programa “Ver Mais”, Valquíria diz que se sente realizada, ama o que faz, adora o programa, por ser o conteúdo que gosta de fazer, pois, segundo ela, é um conteúdo que não trata de morte nem de desgraças. O público que se identifica com o “Ver Mais” é um público de bem com a vida, sustenta. Ela gosta do retorno dos telespectadores, que são muito carinhosos. Diz que a interação com eles nas redes sociais e por cartas é gratificante. “É um programa onde eu posso ser eu”, declara. Ela conta que fez jornalismo durante muito tempo, em telejornais e debates, nos quais não podia ser ela, não era a Valquíria, porque tinha que manter a imparcialidade, não podia emitir sua opinião em muitas coisas. Já no “Ver Mais”, trata muito do dia a dia da mulher que tem filho, que trabalha fora, da mulher que quer ficar bonita, que quer buscar uma colocação no emprego. Por isso, identifica-se com essa realidade que faz parte da vida de muitas mulheres. No seu programa, pode ser ela mesma, rindo na hora que quiser, algo que adora. Sobre sua fama, alega que não liga para a questão, faz seu trabalho e quer que conheçam a pessoa Valquíria e não a Valquíria apresentadora. Ela conta que, após o convite no parque, não tinha noção de todos esses acontecimentos em sua vida e os define como muita sorte e resultado de muito trabalho e dedicação. “A coisa flui quando você faz o que gosta”, destaca. Ela afirma ainda que, se alguém tem um objetivo a seguir, tem determinação, vontade de fa-

Valquíria Melnik, apresentadora do programa “Ver Mais”, na RIC TV

zer e gosta do que faz, nenhuma barreira pode derrubar. Recordando sua trajetória, Valquíria garante que não mudaria nada em sua vida, pois tudo fluiu naturalmente, tudo deu muito certo. Não se arrepende absolutamente de nada, nem de ter trocado seu primeiro curso de Administração de Empresas pelo Jornalismo, pois acredita que a televisão é o seu dom. A apresentadora relata que, quando pensa em reclamar de

alguma coisa, sempre procura olhar para trás e para os lados. Para trás, para ver tudo o que já conquistou e para os lados, para ver as dificuldades alheias e assim perceber que não tem motivos para murmurar. Quando fala sobre o futuro, Valquíria afirma: “A gente nunca quer parar. Me sinto realizada, mas vou continuar estudando, me aprimorando. Quero pelo menos manter isso tudo por muito tempo, que é o que amo fazer...”

A gente nunca quer parar. Me sinto realizada, mas vou continuar estudando, me aprimorando


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COMPORTAMENTO

Uma herança da Cecília A ideologia anarquista ainda encontra espaço nas mentes jovens. Curitiba tem um Núcleo Anarquista Déborah Abrahão

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uana caminha pelo centro de Curitiba. Leva na bolsa material para as diversas reuniões de movimentos sociais dos quais participa, alguns ativamente, outros como observadora. Jovem (ela tem 23 anos), formada no magistério, nascida e criada em Curitiba, seu cotidiano e sua realidade diferem em tudo das jovens italianas que desembarcaram por aqui buscando novos horizontes na experiência da colônia criada nos arredores da cidade de Palmeira, a 80 km da capital. Entretanto, assim como alguns fundadores da colônia, ela é anarquista. Sonhadores, desbravadores ou apenas insensatos para alguns, os italianos que chegaram nestas terras de pinhão em busca de um novo modo de organização social marcaram para sempre a história do Paraná e, apesar do pouco tempo de existência, de 1890 a 1894, a Colônia Cecília é quentemente matéria-prima para a produção cultural do estado. O programa Revista RPC

Um ideal encenado O breve episódio da Colônia Cecília, uma experiência anarquista em Palmeira no século XIX, apesar de não ser muito lembrado pelos livros de história, é até hoje um material rico para as produções artísticas. A minissérie apresentada pelo programa Revista RPC não foi a primeira a retratar esse fato.

Novela

Com direção de Hugo Barreto, a minissérie “Colônia Cecília” foi exibida pela TV Bandeirantes em 1989, com Paulo Betti no papel do anarquista, Giovani Rossi.

Teatro O Núcleo Anarquista de Curitiba publica o jornal Rebate

transformou a história dos anarquistas da Colônia Cecília em uma minissérie de quatro capítulos que foi ao ar em abril, mostrando o dia a dia, as dificuldades, paixões edesavenças que acabaram levando a experiência ao fracasso. Porém, mais de 100 anos depois, entre avanços na ciência, globalização e crise econômica, os ideais anarquistas ainda encontram espaço no modo de pensar dos jovens do século 21. Para Luana, vivemos hoje em uma ditadura aperfeiçoada, sutil para algumas pessoas, por isso

mesmo perigosa, como a do consumismo exagerado, abuso de poder e preconceito. Ela defende que as bases do pensamento anarquista, como apoio mútuo, apartidarismo, horizontalidade e autonomia, podem ser praticadas na sociedade urbana e tecnológica de 2012 em qualquer meio, principalmente a partir de movimentos sociais, associações de bairro ou clubes de mães, por exemplo. “Ser anarquista na sociedade de hoje, para mim, é de alguma forma levar esse ideal pra frente, mesmo que em condições con-

flitantes ou contraditórias, ainda que demore minutos ou milhares de anos para desabrochar em uma única atitude. Importa mais revolucionar em atitudes cotidianas sempre,” diz a estudante. Vegetariana, Luana costuma reciclar frutas e verduras que ganha em frutarias e comércios. Suas roupas não seguem a moda e não são compradas em lojas. Vinda da classe média, ela vê em atitudes como essa um modo de praticar o anarquismo, uma vez que evita ao máximo consumir e fazer uso do dinheiro.

Em “Colônia Cecília, um pouco de ideal e polenta”, foi a vez de Renata Paloti contar através de poemas dramáticos feitos para o teatro e lançados também em livro. A peça foi encenada em 1984 pelo Teatro de Comédia do Paraná, com a direção de Ademar Guerra.

Cinema

No cinema, há o filme “O Pão Negro – Um episódio da Colônia Cecília” (1993), do diretor Valêncio Xavier, e a produção franco-italiana “A Cecília (história de uma comunidade anarquista)”, de 1975.


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COMPORTAMENTO

Um olhar através das lentes corretivas Mais do que proteger e auxiliar a visão, os óculos também podem ser utilizados como acessórios para deixar o rosto mais bonito Foto: Keity Marques

Keity Marques Infográfico: Rafael Giuvanusi

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uando o norte-americano Benjamin Franklin criou as lentes bifocais, em 1785, não imaginava que os óculos, que antes eram objetos de necessidade para quem tinha dificuldade de enxergar, passariam a fazer parte dos acessórios estéticos da atualidade. Atualmente, com armações grandes, pequenas, quadradas, ovais, retangulares e de diversas cores, fica cada vez mais complexo escolher o modelo ideal para compor o formato do rosto. Para a bióloga Maria Madalena Okoinski, por exemplo, que começou a usar óculos desde os 18 anos, o utensílio não passa de uma ferramenta para auxiliar a visão, e usá-los no cotidiano é uma questão de costume e não de gosto. “Não gosto de usar. Na verdade, me acostumei a isso. As imagens se tornam mais nítidas com eles, então, acaba ficando mais agradável estar com óculos do que sem”, afirma a bióloga. Entretanto, sempre que há a necessidade de trocá-los, Maria opta por uma armação nova. “Cada vez que o grau dos meus óculos muda, mudo também o modelo. Não tenho armações pré-definidas. Escolho, provo e compro”, declara. Mas o acessório pode ter outras funções. O comerciante Emerson dos Santos, que sempre quis usar óculos, nunca precisou, mas já cogitou a possibilidade de usá-los somente para ficar com um ar mais intelectual. “Se eu pudesse, usaria constantemente. Acho bacana, além de transmitir mais seriedade”, justifica. Santos conta que tem medo de adquirir algum problema mais grave usando óculos sem precisar: “Apesar de achar muito bonito, te-

Maria Madalena Koinski com seus modelos de óculos de grau e de sol

Se eu pudesse, usaria constantemente. Acho bacana, além de transmitir mais seriedade nho medo de ficar com algum problema muito grave e depois sofrer por uma bobeira”. De acordo com o oftalmologista João Carlos Demeterco, existe uma grande preocupação sobre a aquisição do acessório sem receita. “Um problema comum é achar

que os óculos estão ajudando a melhorar a visão, mas ocorrer o contrário. Eles alimentam doenças visuais silenciosas como o glaucoma”, alerta. Para ele, é obrigatório seguir a receita médica para usar o grau da lente indicado. Em relação à armação, cabe ao usuário decidir qual se adapta mais ao rosto - e ao bolso também, contando que hoje em dia há muitas variedades, explica o médico. Demeterco faz mais uma advertência: “É bom ficar alerta com esses óculos de camelô e não comprar somente pelo lado estético, pois a pessoa pode ter graves problemas visuais usando óculos inadequados”.

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ESPECIAL

Entre pneus e pés, por um d Mobilidade urbana em Curitiba é criticada por usuários e especialistas

Clarissa Brandolff Gindri

Luana Mendes

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roblema característico das grandes metrópoles, a mobilidade urbana é hoje um assunto muito discutido entre formadores de opinião, urbanistas e a comunidade em geral, e Curitiba também vira assunto quando se fala nesse tópico. De acordo com dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), a frota de veículos da capital paranaense aumentou 4,65% em um ano. Em março do ano passado, o número era de 1.210.839 veículos, enquanto no mesmo mês de 2012, já eram 1.2677.261 circulando pela capital. A Prefeitura de Curitiba realizou um levantamento para identificar os pontos críticos de tráfego de veículos na cidade. Na região central, os locais que geram mais congestionamentos são as esquinas entre as ruas Amintas de Barros e Tibagi, Mariano Torres e Visconde de Guarapuava e André de Barros com Marechal Floriano Peixoto. A respeito das condições do trânsito na cidade, o analista de comunicação Feliphe Chiavelli, de 22 anos, acredita que o seu plane-

jamento não acompanhou o crescimento da capital. “O trânsito em Curitiba possui uma boa estrutura para a realidade de outra época da cidade. A palavra-chave é a atualização”, opina. O transporte público da capital paranaense também gera discussão. A funcionária pública Celita Weigert, de 31 anos, diz que é muito eficiente, mas fora dos horários de pico. Já os ônibus que circulam no começo da manhã, na hora do almoço e no final da tarde são muito cheios. “Em algumas linhas, torna-se quase impossível embarcar nesses horários. É preciso esperar muito tempo no ponto até que se consiga espaço para entrar”, afirma. “Já em outros horários, o sistema funciona tranquilamente”, complementa. Para a assistente de eventos Raissa Roch, de 21 anos, apesar de organizado e interligado, hoje o trânsito de Curitiba está se tornando caótico, devido ao número crescente de veículos nas ruas. “Isso pode ser percebido principalmente nos dias de chuva, quando tudo simplesmente para”, afirma. Já a respeito do transporte público, Raissa diz que o utiliza diariamente para ir ao trabalho e à faculdade e consegue percorrer ambos os trajetos em pouco tempo, mesmo morando em outro lado da cidade. “Estou satisfeita com o transporte público”, comenta. O arquiteto e urbanista Clau-

dio Menna compara a situação atual da cidade de Curitiba com a dos anos 60, época em que foi implementado o projeto de mobilidade urbana da cidade. “A capital paranaense corre o risco de perder todo o trabalho que se desenvolveu até os anos 90 se não restabelecer o seu padrão inicial”, defende. Para Menna, Curitiba ainda está bem se comparada com a maioria das capitais brasileiras e latino-americanas, no entanto, teve seu período de destaque nas décadas de 80 e 90, uma vez que, atualmente, o trânsito de Curitiba já aponta problemas graves. “É somente uma ponta do iceberg, em uma enorme e submersa geleira de descontroles quanto à gerência e à gestão da cidade”, declara. Visto que Curitiba não vive de maneira isolada, tanto econômica quanto socialmente, os problemas atuais da mobilidade acabam por ter também ligações com os municípios vizinhos. Menna salienta que as avaliações e os projetos municipais são independentes de uma articulação regional conduzida no governo do Estado. Assim, a situação urbana tende a se agravar por não se desenvolver a partir de uma mesma matriz no território metropolitano. “Falta um modelo que ajuste, de forma permanente, as questões de mobilidade, adequando entre si os municípios por critérios assemelhados, ou diretrizes complementares”, explica.

A infraestrutura de ciclovias oferecida não é o suficiente Outros meios Como alternativa, muitos moradores já buscam outros meios de locomoção pela cidade. “Utilizo a bicicleta como principal meio de transporte, como forma de não poluir o meio ambiente”, conta o analista de sistemas Rafael Cogo, de 26 anos. “No entanto, a infraestrutura de ciclovias oferecida por Curitiba não é suficiente para que essa prática seja adotada por grande número de pessoas”, reclama. Sobre o sistema de transporte curitibano, a estudante Paula Costa, de 27 anos, acredita que é bom, mas poderia melhorar muito: “Acho que, apesar de em alguns momentos do dia ser muito eficiente, em outros há falta de ônibus nas linhas”. A respeito do uso de meios alternativos de locomoção, Paula afirma que gosta da ideia de utilizar um meio que não polua o meio ambiente, como, por exemplo, a bicicleta, mas acha que em Curitiba esse hábito torna-se praticamente inviável: “A falta de infraestrutura da cidade não possibilita. Faltam ciclovias, e as ciclofaixas não foram bem planejadas”. Além disso, Paula cita as dificuldades do pedestres em relação às calçadas da ci-

dade: “As calçadas são o principal problema para o pedestre. A acessibilidade é bem precária”. Entre alternativas que poderiam contribuir para a melhoria da mobilidade urbana, está o Dock Dock, um carro elétrico desenvolvido pelo ex-prefeito de Curitiba e arquiteto Jaime Lerner para locomoção em locais movimentados como o centro da cidade, por exemplo, onde circulam pedestres e ciclistas. Com espaço para uma única pessoa, a invenção chega a 25km/h, e seu tamanho chega a ser seis vezes menor que um carro comum. Mas para seu uso eficaz, conforme dizem os especialistas, esse dispositivo deveria ser pensado juntamente com o transporte público da cidade. As pessoas poderiam alugá-lo, a exemplo de outros países, que já possuem meios alternativos integrados às linhas de ônibus e metrôs.

Dock Dock: projeto de meio de locomoção alternativo


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deslocamento tranquilo ESTAÇÕES QUE IRÃO COMPOR A LINHA AZUL DO METRÔ 1. Estação CIC Sul -Terminal CIC Sul 2. Estação Pinheirinho - Terminal Pinheirinho 3. Estação Santa Regina 4. Estação Capão Raso - Terminal Capão Raso 5. Estação Hospital do Trablhador 6.Estação Portão 7. Estação Morretes 8. Estação Santa Catarina 9. Estação Água Verde 10. Estação Bento Viana 11. Estação Osvaldo Cruz 12. Estação Eufrásio Correia

Projetos de mobilidade

C O arquiteto Claudio Menna: “A cidade é um organismo vivo”

Soluções para a mobilidade urbana Como solução para essa tendência de descontrole, Claudio Menna diz que existem três condições técnicas para revertê-la, e que os arquitetos e urbanistas podem ajudar muito. A primeira estaria na regulação, nos âmbitos do Estado e da União, da articulação entre os municípios, para suas obras de mobilidade e processos de licenciamento. A segunda dependeria de se pactuarem as agendas e iniciativas entre as localidades, envolvendo nelas as instituições representativas dos agentes produtivos locais e dos agentes socioculturais ou comunitários da sociedade regional. O terceiro ponto estaria na manutenção de sistemas políticos fortes para monitorar e avaliar a situação, pelo menos a cada biênio, para indicar as soluções técnicas de cada novo impasse ou desafio, para depois validar e formatar nova pactuação política dos rumos escolhidas e reimplantar adequadamente as novas iniciativas, procedimentos e rotinas. “No segundo item, entra

já o conceito de transparência pública, o conhecimento democratizado da situação, que motiva todos os agentes sociais a protagonizar mudanças e melhorias”, comenta Menna. “No terceiro, entra a legitimação dos planos estatais, articulados já com a sociedade, para fixação e pactuação das agendas transformadoras, que sempre serão necessárias”, completa. Como contribuição da parte dos cidadãos para a cidade, Menna acredita que isso possa ser feito individualmente ou por instituições comunitárias. “A cidade é um organismo vivo. Quando as políticas estatais fazem o Plano de Desenvolvimento para qualquer lugar, espaço ou região, é como se propusessem um novo estatuto ou regra para os condôminos. Tal diretriz precisa ser aderida, para que sejam efetivos os esforços de transformação”, defende. “Nenhuma mudança positiva poderá acontecer caso os agentes produtivos e comunitários não compreendam claramente o projeto e seus objetivos. É preciso que todos ajam com um foco comum”, finaliza o arquiteto e urbanista.

om a Copa do Mundo de 2014 tendo como Curitiba uma de suas cidades-sede, estão previstas diversas obras de melhorias nos sistemas de mobilidade urbana. As ações e os investimentos nessa área têm como objetivo a articulação das políticas de transporte, trânsito e acessibilidade. Entre esses projetos, encontram-se a requalificação do Corredor Marechal Floriano, da Rodoferroviária e seus acessos e do Terminal Santa Cândida. Além disso, está prevista a reestruturação da Avenida Cândido de Abreu e do Corredor Aeroporto-Rodoviária, bem como a extensão da Linha Verde Sul. A assessoria de imprensa do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) destaca as obras do Anel Viário de Curitiba: “A medida irá demarcar o que é o centro da cidade, além de dar a alternativa de não precisar passar pela região a uma pessoa que, por exemplo, queira ir do Cristo Rei ao Seminário”. O instituto também comenta a preocupação com os pedestres: “Outra ação que melhorará o deslocamento dos curitibanos no centro da cidade são as calçadas. Elas estão passando por reformas para incentivar as pessoas a deixarem seus carros em casa e comecem a transitar a pé”. Um dos projetos para a melhoria da mobilidade urbana consiste

Acredito que o metrô possa surgir como uma ótima alternativa na construção do metrô em Curitiba. A primeira linha está programada para utilizar o mesmo trajeto da linha expressa que cruza a cidade em seu eixo Norte-Sul, ligando a CIC ao Centro. Com 14,2 quilômetros, a linha de metrô funcionará de maneira integrada com os ônibus da Rede de Transporte, incluindo tarifa única. A chamada Linha Azul deve cter, em sua primeira fase, 13 estações de embarque e desembarque de passageiros. “Acredito que o metrô possa surgir como uma ótima alternativa aos problemas de mobilidade urbana” destaca a professora Rosa Dias, de 54 anos. “Ainda que as obras possam vir a causar certas inconveniências aos moradores da cidade, é preciso pensar nos benefícios que isso trará no futuro”, afirma. A respeito disso, o empresário Gustavo Marques, de 30 anos, diz que, ao mesmo tempo em que espera bons resultados da obra do metrô, tem medo de que haja corrupção por parte dos envolvidos no projeto: “Como todas as obras de grande porte no Bra-

sil, receio que o metrô de Curitiba acarrete em desvio de dinheiro público e não cumprimento dos prazos estabelecidos para a entrega”. Os trens do metrô terão capacidade para transportar em torno de 400 mil passageiros por dia. O metrô de Curitiba será construído utilizando três sistemas diferentes: elevado, túnel de baixa profundidade e túnel de grande profundidade. O primeiro trecho, na região do CIC, será feito em sistema elevado, com extensão de 2,2 quilômetros. O segundo trecho, que seguirá até perto da estação Água Verde, será construído pelo sistema de túnel raso, com profundidade de até 17 metros. A parte da linha que irá da estação Água Verde até o Centro será feita em sistema de grande profundidade. Em algumas estações subterrâneas, além do acesso dos passageiros, há a possibilidade de implantação de estacionamentos para veículos e bicicletas, com o objetivo de integrar diferentes modais de transporte. Outra mudança prevista com a implantação do metrô sob as canaletas do ônibus biartiaculado é a destinação dessa área para o tráfego de pessoas, com um calçadão. ciclovia e equipamentos de lazer. Essa primeira fase terá o custo de R$ 2,3 bilhões dos quais R$ 1 bilhão virá do Governo Federal.


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COMPORTAMENTO

Vamos para o brechó? Lojas de roupas usadas são alternativa para ficar na moda e relembrar décadas passadas pagando menos

Jornais deixam de ser principal atrativo nas bancas Serjo Araújo

Foto: Renato Cruz

Renato Cruz

P

S

ão inúmeras as motivações para se desfazer de peças de roupas, acessórios e sapatos que algum dia encantaram. Eles podem não servir mais, estar fora de moda, não combinar mais com o seu estilo, ou simplesmente não caber mais em seu guarda-roupa. Feito a limpeza, diversas também são as motivações para encontrar um novo dono e passar adiante aquilo que se descartou. Uma ótima alternativa são os brechós. Roupas antigas, coloridas, e acessórios simpáticos estabelecem um elo entre a moda do fundo do baú e o estilo das vitrines atuais do mundo fashion. Para a proprietária do brechó Novo Estilo, Maria Helena Barbosa, de 58 anos, os brechós são ótimas alternativas para quem quer ficar na moda e relembrar décadas passadas pagando bem menos. “É incrível a quantidade de objetos e roupas que são deixados, trocados e vendidos aqui. As pessoas têm prazer por isso”. Maria lembra sua trajetória quando começou no ramo vendendo suas próprias roupas e calçados: “Ia muito às instituições vender meus objetos, isso foi uma forma de sobrevivência da família”, conta. A tese que move esse mercado de usados é simples: se eu não quero mais, mas você deseja muito, vamos fazer um negócio? Cobro mais barato pela peça, você paga por ela muito mais em conta do que na loja, e nós dois saímos ganhando. Pronto. Compra fechada e todo mundo sai satisfeito. Tem dado tão certo que novos brechós, reais ou virtuais, têm surgido. “Sinto-me bem e economizo bastante. Sinto um prazer e uma alegria enorme ao ver aquela roupa que eu tanto desejei aqui no brechó. E o preço, sem comentários...” explica Vânia Martins, 30, vendedora e cliente assídua do brechó Novo

Roupas usadas vendidas no brechó: variedades para todos os gostos

Estilo. Há os que seguem tendências e pagam muito por isso, mas para aqueles que não querem pagar um absurdo para estar na moda, mas sim fazer a moda, os brechós estão em alta. “Sou brecholeira constante, sempre que quero algo novo para ir a uma festa, restaurante, almoço com amigos, vou a um brechó”, diz a vendedora Caroline Lima, 24. A moda nos brechós é altamente diversificada. É possível achar peças antigas, clássicas, novas, diferentes, coloridas, com estampas de todos os tipos, tecidos diferentes, roupas nacionais e importadas, tudo com preços relativamente muito baixos. Mas, o mais interessante é que neles não há padronização. O que se encontra são coisas diferentes e exclusivas. Não é como ir a uma loja do shopping, onde há penduradas no cabide várias peças da mesma roupa, em diversos tamanhos. Além da percepção de que é possível fazer dinheiro com aquilo que antes era encostado, o preconceito com a moda reapro-

veitada também diminuiu. Hoje, o brechó pode ajudar o usuário a ficar na moda. Com peças exclusivas, modernas e a preços acessíveis, eles se tornaram uma boa opção. Gastando bem menos, é possível encontrar peças de etiquetas poderosas de décadas recentes e remotas, mas de qualidade incontestáveis. No Brasil, tudo começou no Rio de Janeiro, graças a um senhor chamado Belchior que, no século XIX, resolveu montar uma loja de produtos usados. A palavra brechó originou-se do nome Belchior.

Se eu não quero mais, mas você deseja muito, vamos fazer um negócio? O primeiro brechó oficializado no Brasil abriu as portas na década de 1970. Era de propriedade da cantora Maysa Monjardim, que trouxe a ideia da Europa. Conta-se que ela vendia roupas, sapatos, bolsas e acessórios dela e dos amigos.

Maria Helena, 58, proprietária do brechó Novo Estilo

equenas cabanas de metal, localizadas no centro da cidade, simples, gélidas e bastante movimentadas, com olhares curiosos daqueles que por ali passam para o que é divulgado no lado de fora delas. Aqueles que as adentram são bombardeados com uma enorme variedade de produtos para consumo, como faixas, bandeirolas, galhardetes, balões infláveis, flâmulas cigarros, fósforos, isqueiros, canetas, pilhas, filmes fotográficos, doces industrializados, refrigerantes e sorvetes, entre outros artigos. Essas são as bancas de jornais, que mais parecem “secos e molhados”, vendendo praticamente de tudo. Por ironia, o produto que está junto ao nome da banca encontra-se em baixa. O jornal, segundo vários proprietários de bacas, sempre representou uma pequena parcela de seus lucros. Contudo, hoje em dia, piorou. Para o proprietário de banca Edson Vieira, 47, “a venda de jornal é mais um complemento para a banca, pois o jornal não é o foco”. Para alguns jornaleiros, como Maria Luciana Penha, 47, e Eduardo Santos, 19, essa queda de demanda dos jornais se deve aos novos tempos. Segundo eles, a juventude não tem tempo para ler os jornais, lê as notícias que interessa na internet ou no celular e em última hipótese opta por veículos impressos. Os compradores cativos das bancas são pessoas de idade, que passam por elas sempre para adquirir os mesmos jornais, que vão dos gostos mais variados. A equipe de reportagem do Marco Zero entrevistou sete proprietários de bancas de jornais e constatou que os jornais mais vendidos são Tribuna do Paraná, Gazeta do Povo, Folha de S. Paulo e Lance.


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ESPORTE Fotos: acervo pessoal

Corrida de rua em Curitiba Praticantes do esporte dão as dicas para manter uma boa saúde e ter um melhor desempenho nas competições Leonardo Pollis

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s corridas de rua vêm se tornando frequentes nas grandes cidades do Brasil, como alternativa de prática esportiva extremamente acessível e com grandes benefícios para a saúde. Anualmente, há corridas organizadas por grandes empresas, como a Caixa Econômica Federal. O estudante de administração Abner Souza, de 23 anos, participa de corridas como o Circuito de Rua de Curitiba. Não costuma treinar para elas, devido à falta de tempo, mas sempre consegue compeltar o percurso. Já são quase quatro anos de corrida na capital. Souza relata a importância de um bom treinamento alguns dias antes da competição, para ter uma noção do que virá pela frente, pois não é fácil fazer todo o percurso. Ele recomenda um tênis apropriado para corrida, pois com o uso de calçado impróprio o risco de dores musculares será grande, principalmente nos joelhos e na coluna. Outro fator importante lembrado pelo corredor é a alimentação. O atleta recomenda que, principalmente no dia da corrida, a pessoa faça uma refeição leve, com frutas e sucos no café da manhã e muito líquido no decorrer do dia. Muitas pessoas começam o esporte após indicações de amigos, como foi o caso de Marcelo Balbinot, de 23 anos, que depois de um convite, há quatro anos, apaixonou-se pelas corridas de rua. Ele recomenda para quem está começando

a correr a precaução. O importante é começar a corrida em um ritmo mais leve, sem forçar em velocidade ou distância. Depois, conforme a pessoa melhorar fisicamente e conseguir respirar bem. pode aos poucos ir aumentando o ritmo. As organizações das corridas ainda têm muito a melhorar, mas Balbinot percebe que estão evoluindo ano a ano, e que em Curitiba elas se popularizaram bastante. Com o crescimento do número de participantes, tem aumentado também o número de eventos e, consequentemente, a qualidade das competições. Em contrapartida, o corredor afirma que o preço para participação tem aumentado gradativamente nos últimos anos. Em uma corrida de rua, muitas coisas curiosas acontecem. Balbinot conta uma de suas participações numa competição no parque Tingui. Ao chegar ao local onde ia ser a largada, viu que, já no começo, havia uma subida e uma curva. Como nunca tinha participado daquela corrida antes, ele perguntou para uma pessoa que estava ao lado se depois daquela curva tinha mais subida. Então, todo mundo que estava lá começou a rir sem parar, e ele recebeu a resposta: “Não, quase nada, só mais um quilômtero de subida”. Foi o suficiente para todo mundo começar a rir novamente. Um senhor que estava por perto comentou: “Neste ano, nem me estresso, vou começar andando e irei correr apenas quando chegar lá em cima”. O susto foi inevitável naquela hora, mas a subida não foi tão difícil assim. “É uma boa prova, com um percurso bem divertido, vale a pena participar”, recomenda Balbinot.

Circuito de rua realizado pela Caixa Econômica Federal em Curitiba

Marcelo Bailbinot (esquerda) e Abner Souza (direita) com o maratonista Ivanildo Pereira dos Anjos no Circuito de Rua em Curitiba

O importante é começar a corrida em um ritmo mais leve, não forçar em velocidade ou distância

A importância da hidratação Leonardo Akira

Sabe-se que a hidratação durante a prática esportiva é muito importante. Mas nem sempre sabemos a quantidade ou a hora certa para tomar água ou beber um isotônico. Não se pode exagerar no seu consumo para o corpo não se sentir pesado e com vontade constante de ir ao banheiro. Ao ingerir liquido durante o treino, a temperatura corpórea é controlada, o cansaço e a aceleração cardíaca diminuem. O Minha Vida, maior portal digital de saúde e bem estar do Brasil, calcula que para cada 20 minutos de prática esportiva devem ser ingeridos 200 ml de água ou isotônico. O site apresenta sete razões para se manter devidamente hidratado. A hidratação adequada: 1. controla o cansaço e permite que você treine com mais disposição; 2. age regulação da temperatura do seu corpo; 3. favorece a circulação sanguínea e, portanto, a eliminação de toxinas; 4. diminui a incidência de cãibras; 5. eleva o glicogênio (fonte de energia armazenada nos músculos e solicitada durante a prática esportiva) até as células; 6. permite o aproveitamento de muitas vitaminas, hidrossolúveis; 7. não possui calorias.


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ESPORTE

Zigue-zague sobre rodas Praticantes da modalidade Slalom de patins contam como funciona o esporte, que começa a ser reconhecido no Brasil Fotos: Janile Ramos

Janile Ramos

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one: este é o diferencial da modalidade Slalom de patins. Isso porque, sem eles, não é possível praticá-la. Ela é como uma dança na qual cada manobra e movimento executado faze parte de uma coreografia. Criada por volta dos anos 90, a modalidade, que já é febre lá fora, começa a ser reconhecida no Brasil. Para começar, é simples: bastam um par de patins nos pés, minicones no chão e força de vontade. Quem passa pela Praça Tiradentes durante a semana, depois das 21h, já deve ter se deparado com um grupo de jovens que costuma praticar o esporte ali mesmo, em plena praça. O grupo de amigos se conheceu no Parque Barigüi, onde costumam se reunir aos sábados para andar de patins. Praticante do esporte, o professor de Química Renan Borsoi Campos, de 29 anos, conta que, durante os encontros, um ensina ao outro uma manobra diferente, e assim começa a brincadeira. “Cada manobra que você consegue executar é uma alegria, você vai para casa feliz”, diz o professor. Ele também conta que entre o grupo existem aqueles que andam há pouco tempo e outros que já praticam a modalidade há anos, como o técnico em mecânica automotiva Djeison Ristow, de 26 anos, que já patina há 16 anos e que hoje demonstra uma habilidade incrível no zigue-zague sobre as rodinhas. Habilidade essa que o tornou vencedor do quadro “Se vira nos 30”, do Domingão do Faustão, no dia 6 de maio. Ele diz que não participa de muitas competições, mas que treina bastante no Parque Barigui, na Praça Tiradentes e também em frente ao Shopping Estação, de onde já foi expulso algumas vezes pelos seguranças. Mesmo assim, leva tudo na esportiva e diz que existe muito respeito ao esporte. Ristow conta que, quando o grupo se reúne para praticar a mo-

Djeison Ristow, praticante de Slalom e encedor do quadro “Se vira Nos 30” do Domingão do Faustão

Amigos se reúnem aos sábados no Parque Barigui para praticar Slalom

dalidade, o clima é sempre descontraído e divertido. Ele explica que para conseguir avançar nas manobras é preciso dedicação e força de vontade, e que leva esses valores para sua vida: “Quando você está nervoso, irritado, vai andar de patins. É como uma terapia”.

Cada manobra que você consegue executar é uma alegria Djeison treina bastante no parque Barigui e na praça Tiradentes


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O surf de asfalto em alta velocidade

Foto: Marly Burack

Esporte vem se popularizando em Curitiba, graças a eventos como campeonatos de skate de velocidade Emanoela Merlin

Amante de skate, Juliano Moleta se aventura em alta velocidade Foto: Aline Rosa

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mais de 100 Km/h descendo ladeiras de asfalto em cima de seus skates de longboard, os atletas vivem momentos de muita adrenalina. Na modalidade Downhill Stand-up, ainda pouco incentivada e apoiada em Curitiba, também conhecida como a Fórmula 1 do Skate, eles disputam baterias em alta velocidade, aplicando diversas técnicas. O esporte vem aos poucos aumentando seu público e se popularizando na capital paranaense devido a eventos como os Campeonatos de Skate de Velocidade, homologados pela Confederação Brasileira de Skateboard (CBSK), porém, ainda é fraco o apoio e patrocínio dado aos atletas amadores da categoria. A principal diferença do skate tradicional (street) para o longboard, usado na prática do Downhill Stand-up, é o tamanho. O shape (tábua) do longboard possui aproximadamente um metro de comprimento, com 80cm de entre-eixos e bordas altas, que proporcionam maior estabilidade na hora das curvas. Outra diferença está nos trucks (eixos), que são invertidos, próprios para alta velocidade. Eles têm rodas grandes e macias, o que faz com que elas tenham muita aceleração. Locais apropriados para a prática do Downhill Stand-up em Curitiba são raros. Os mais conhecidos são o Parque São Lourenço e o Parque Guabirotuba, que contam com pistas fechadas e curvas bem técnicas, porém, são lugares onde

se atinge pouca velocidade. Por isso, os espaços preferidos pelos praticantes do esporte são serras e ladeiras, onde conseguem chegar a mais de 80 km/h. Os campeonatos de skate de velocidade são realizados em baterias (corridas), constituídas por quatro atletas que descem juntos uma ladeira (as ruas são fechadas no dia do evento). Durante o percurso, acontecem as ultrapassagens, possibilitdas pelo vácuo e pela gravidade. Como é um esporte de alta velocidade, o risco de acidente é grande, e os atletas precisam estar protegidos em qualquer corrida ou disputa. Capacete, joelheira, cotoveleira e luvas com um casquilho de nylon na palma para proteger bem as mãos são os equipamentos essenciais de segurança para a prática do Downhill. O curitibano Juliano Moleta, de 24 anos, pratica o esporte há três anos. Participou das duas edições do Skate na Velocidade de Santana de Parnaíba, em São Paulo, do Downhill da Independência, em Minas Gerais, da Teutônia Malarrara Pro World Cup Series, no Rio Grande do Sul, e de outros campeonatos de pequeno porte na cidade de Natal-RN. No Skate na Velocidade II, em Santana de Parnaíba, no ano passado, foi o 16º colocado entre os 200 que disputavam na categoria. Como amante do esporte, Moleta fala da sua paixão e das maiores conquistas que o skate lhe traz: “O skate é minha vida, minha paixão. Tenho o sonho de ainda me profissionalizar, mas para isso tenho que participar de todos os campeonatos possíveis. Só quem anda de skate sabe como é boa nossa vida. Pode-se dizer

Curiosidades - A modalidade Downhill foi inventada pelos surfistas californianos (EUA) que queriam sentir a mesma sensação que tinham ao descer uma onda. - A ladeira mais rápida do mundo fica em Teutônia, Rio Grande do Sul. Lá foi batido o recorde oficial do Guinees Book, de 135.5 km/h.

Na fórmula 1 do skate, atletas ganham força e velocidade nas ladeiras

que o skate é um vicio, mas um bom vício!” Ele diz que de trágico só teve mesmo os tombos: “Para aprender, tem que cair, né! Histórias para contar são muitas, mas o que mais marca nesta vida de skate é a parceria que rola entre nós (skatistas), pois sempre ajudamos uns aos outros, isso é bem legal”. Um atleta brasileiro de referência para Juliano é o campeão Mundial Skate Downhill, Douglas Dalua, com o qual já teve contato e até foi presenteado com quatro pares de tênis. “Ele olhou meu tênis furado e disse que ia me dar esses pares de presente”, conta entre risos.

Skate é minha vida, minha paixão. Tenho o sonho de ainda me profissionalizar, mas para isso tenho que participar de todos os campeonatos possíveis

Foto: André Mathoso


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CULTURA

Maracatu se espalha pelo Brasil e chega em Curitiba

COMENTÁRIO

Sal demais Allyson Dolenga

Manifestação cultural de raiz africana ganha força no território nacional e vem conquistando seguidores

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queles que ainda vivem com um pouco de gratidão ou uma réstia de qualquer sentimento nobre ainda se chocam, se entristecem e se emocionam com as cenas dos dias atuais. Mas essas pessoas são peças raras na vida contemporânea. Digo isso porque foi em uma praça movimentada no centro de Curitiba que, andando lentamente, percebi que um homem mal cuidado, sujo e solitário e que ainda possuía uma atrofia na perna direita estava com a cabeça baixa e uma mão aberta. Pedia esmolas. Talvez por estar lá há muito tempo, ele tenha sido esquecido. As pessoas que por ali passavam nem olhavam mais. Isso não acontece somente com ele. São crianças de rua tentando sobreviver, cachorros abandonados, muitas vezes em estado deplorável, ou simplesmente alguém desrespeitando um idoso. Não causa mais estranheza ver alguém agonizando por ter perdido a casa numa enchente ou por ter sido assaltado. Não nos damos conta de que as pessoas com quem temos consideração também sofrem e nem percebemos que podemos ajudá-las com apenas algumas poucas palavras. Vivemos anestesiados, essa é a grande verdade. A comida rápida, as novelas que servem para nos distrair e nos iludir depois de um dia exaustivo, assim como algumas revistas e livros de autoajuda que tentam nos convencer de que a vida deve ser seguida como uma receita de bolo, têm nos transformado em seres vazios. Onde foi parar a atenção, o afeto, ou mesmo os elogios singelos? Cadê a candura de nós homens e mulheres em sermos generosos? Não escutamos mais, não enxergamos mais. Ouve-se dizer que as clínicas psicológicas estão lotadas de pais que não compreendem seus filhos. Mas como compreendê-los, se às vezes nem um pequeno carinho lhes é ofertado? E, falando nessa garotada, que infância é essa que ela vem levando? A vida não está

Foto: Divulgação

nem um pouco doce. Preferimos adoçá-la de maneira superficial, entregando aos nossos filhos brinquedos bobocas. E nós, adultos, nos enfeitamos e tratamos o corpo para não envelhecermos nunca. Claro, o egocentrismo e a valorização do narcisismo são coisas dessa tendência. Não me julgue, leitor, como alguém que enxerga um cenário apocalíptico: tem gente que nada contra a correnteza, é claro. Ainda existem caridade, bom senso, amizade franca e pais e filhos parceiros. Ainda. O açúcar está presente em nossas vidas. O problema é o sal, estão usado demais. Está tudo tão saturado que não há como olhar essa gente que vive por cima. Parece que estamos andando todos com pernas-de-pau, nos equilibrando para não esbarrarmos em uma criança pedindo esmola, em um pedido de ajuda de algum conhecido, mesmo sendo apenas para desabafar um pouco. Nós estamos engolindo muito sal, a vida está hipertensa demais. Só me resta agora pedir duas colheres de açúcar, por favor!

Ainda há gente que se choca, se entristece e se emociona. Mas essas pessoas são raras hoje em dia

Ian Perussolo

O

maracatu é uma manifestação cultural de raízes africanas com origem no estado do Pernambuco, principalmente nas cidades de Olinda e Recife, por volta dos séculos XVII e XVIII. É uma prática que mistura várias culturas, como as ameríndias, africanas e europeias, e teria surgido no Brasil a partir do Império do Congo. Essas festas implantadas por colonizadores portugueses eram permitidas pelos senhores dos escravos. Com forte influência portuguesa, são realizadas geralmente com o acompanhamento do instrumento de percussão, e seus dançarinos vestem-se como personagens da realeza. É composto por rei, rainha, dama de honra da rainha, dama de honra do rei, príncipe, princesa, dama de honra do ministro, ministro, dama de honra do embaixador,

embaixador, duque, duquesa, conde, condessa, vassalos, quatro vassalas, três calungas, três damas-do-paço, portaestandarte, escravo, figuras do tigre e do elefante, guarda coroa, corneteiro, baliza, secretário, lanceiros, brasabundo, batuqueiros, 20 caboclos e 20 baianas. As apresentações são sempre em ritmo muito agitado, com manifestações de dança, cantos e coreografias. O maracatu, apesar de ter origens na região do nordeste brasileiro, se difundiu por todo o Brasil. Em Curitiba, é apresentado na rua XV de Novembro, com partida da praça Osório, às 20 horas, todas as últimas sextas-feiras de cada mês, e vem conquistando centenas de seguidores. Uma delas é Thayna Castro, estudante de 17 anos, que conta o motivo de ter começado a frequentar o maracatu, o convite de amigos: “Comecei a ir ao maracatu por convite de amigos, que sempre me chamavam para participar, dizendo que eu iria gostar e me identificar com as músicas e pessoas. Realmente,

Promover o Maracatu em outros locais da cidade seria uma oportunidade de levar boa cultura e lazer aos curitibanos quando fui, gostei “. Já a estudante Gabriela de Oliveira, também de 17 anos, manifesta o desejo de que mais lugares em Curitiba abriguem o evento. “Apesar de o Maracatu ter tido um aumento de participantes, muitas pessoas não têm nem ideia do que seja. Promover o maracatu em outros locais da cidade seria uma oportunidade de levar boa cultura e lazer aos curitibanos”, defende a estudante.


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CULTURA Smash e os bastidores da Broadway

Natanael Chimendes

Nova série de Spielberg aposta em musicais Natanael Chimendes

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aren sabe que suas chances são pequenas perto da talentosa, experiente e sensual Ivy para conseguir o espaço mais importante de um musical na Broadway: as duas atrizes disputam o papel de Marilyn Monroe. Essa é a espinha dorsal de Smash, série que está fazendo sucesso nos EUA e acaba de estrear no Brasil, pelo Universal Channel. Na história, Debra Messing, conhecida pela série “Will & Grace”, e Christian Borle são Julia e Tom, autores já conhecidos no cenário de musicais e que, após uma longa pausa, decidem começar uma nova peça contando a história da polêmica Marilyn Monroe. Depois de escreverem praticamente metade de tudo e finalizarem as músicas, eles saem em busca de uma atriz para receber o papel da protagonista. Entretanto, percebem que

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será muito mais complicado do que eles imaginavam. Outra personagem exuberante é Nova York, capital do entretenimento e dos negócios, cenário ideal para as histórias paralelas envolvendo traição, carreira, brigas e muita emoção. Dirigida por Steven Spielberg, Smash segue o caminho de um musical, porém, deixa bem claro não se tratar somente disso. Com uma narrativa adulta e discreta, mostra um lado diferente desse diretor tão conhecido por produzir ficcão científica e efeitos especiais. A série cria uma esfera de competição, na qual todo mundo compete, literalmente, com todo mundo, tanto nos relacionamentos quanto no mundo profissional. Enquanto, de num lado, está a novata Karen, interpretada por Katharine McPhee, que foi finalista do “American Idol” em 2006, do outro há Ivy, interpretada por Megan Hilty. Eis o dilema de toda a trama. Afinal, quem finalmente interpretará Monroe no musical? Foto: Divulgação

Pôster promocional da série dirigida por Steven Spielberg que estreou no Brasil dia 28 de abril, no canal pago Universal Channel

Por trás das fotos do McDonald’s Qual o segredo por trás das fotos apetitosas dos sanduíches do McDondald’s? Quem revela é a própria diretora de marketing da empresa no Canadá. Ela visitou uma sessão de fotos e conversou com a equipe responsável por deixar os lanches muito mais atraentes. A explicação básica é: a edição valoriza os ingredientes para fora do pão. O vídeo foi postado no site oficial da empresa. O interessante é ver o próprio McDonald’s tratando de algo de que toda indústria de fast-food foge: a manipulação de imagens. http://youtu.be/oSd0keSj2W8

Foto: Divulgação

Vício Musical A nova febre da internet tem nome: Song Pop, jogo virtual que possui um banco de dados de músicas de todos os estilos e épocas. Resumindo, Song Pop consiste em desafios musicais relâmpagos entre usuários. São executados pequenos trechos de músicas, e cada participante tem que adivinhar qual é a música. Ao longo de cinco “rounds”, os adversários competem com seu conhecimento e velocidade para marcar pontos. Simples e, ao mesmo tempo, genial! Entre as diversas listas padrões do jogo, estão: rock clássico, canções românticas, músicas dos anos 80, 90... e até de outros países. Lançado em maio, o jogo já atingiu 600 mil usuários ativos diariamente e fou durante sua estreia o aplicativo mais baixado na loja no iTunes. Além de viciar, Song Pop conseguiu quebrar um enorme tabu no Facebook: antes, o que mais se via na rede social eram pessoas chateadas com os “convites” indesejados de diversos aplicativos. Agora, é comum ver na linha do tempo que “algum amigo te desafiou no Song Pop”. E você? Está preparado para testar seus conhecimentos musicais e desafiar seus amigos? http://goo.gl/iYhuY

Foto: Divulgação


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

O Centro sob quatro patas Keity Marques

D

e acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, existem 450 mil cães em Curitiba. É comum vê-los nas ruas, parques e praças do Centro da cidade. Muitos ficam todos os dias nos mesmos locais, outros são encontrados facilmente passando pela região. A tristeza desses cães indica que necessitam de amparo, pois muitos se encontram em situação lamentável, com feridas pelo corpo e aparência cansada. Muitas vezes, os animais não têm o que comer.

Número 20 – Junho de 2012


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