Foto: Divulgaçã
Politicamente correto Est
Está em alta o funk do bem, com letras construtivas, valores familiares e que se opõe à criminalidade. Um exemplo é o trabalho de Yuri, de Belo Horizonte, na foto acima com sua avó Marlene. Página 10
Conheça a história da Beijoqueira da Rua XV. Página 4
Projeto Rondon, uma lição de vida
Foto: Divulgação
“Cinco cruzeiros ou um beijo”
Página 8
página 6
Foto: Divulgação
Vandalismo ou forma de marketing aceitável ?
Foto: Cláudia Billobran
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER – ANO IV – NÚMERO 25 – CURITIBA, DEZEMBRO DE 2012
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MARCO ZERO
Número 25 – Dezembro de 2012
OPINIÃO Na sua 25ª edição, o jornal Marco Zero foi até o Largo da Ordem, famoso pelos seus bares, para investigar se o preço que você paga pela cerveja corresponde mesmo ao que ela vale. E falando em Largo da Ordem... vamos te contar os mistérios que cercam o Cavalo Babão, monumento que serve como ponto de referência no bairro São Francisco. Leia a história de Gilda, Beijoqueira da Boca Maldita, e mais um personagem curioso de Curitiba. O funk mostra nas páginas do Marco Zero o seu lado social, e conheça a Apafunk, que vem lutando contra todo o preconceito existente em relação a este ritmo. E será que é crime colocar anúncios pornográficos em orelhões? O Marco Zero pesquisou a fundo o que esse “marketing da prostituição” representa. Boa leitura!
Expediente O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter Coordenador do Curso de Jornalismo: Tomás Barreiros Professores responsáveis: Roberto Nicolato e Tomás Barreiros O jornal Marco Zero foi premiado como melhor jornal-laboratório do Paraná no 16º Prêmio Sangue Novo, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Edição • Claudia Bilobran • Diego Alarcon • Eni Alves Santos • Jussara Andrade • Priscila Lopes • Reikraus Benemond Diagramação • Cíntia Silva • Letícia Ferreira Uninter Rua do Rosário, 147 CEP 80010-110 – Curitiba-PR E-mail tomas.b@grupouninter.com.br Telefones 2102-7953 e 2102-7954.
White castle Diego Gianni
N
o dia 31 de março de 2012, um jornalista pobre e tolamente romântico escreveu sobre as 48 primaveras transcorridas desde o golpe de 64. O artigo de gaveta passou despercebido pelos olhos insensíveis de quase todos, sobretudo pelas gerações que não viveram a ditadura e dela sabem esparsos fragmentos de como a coisa toda sucedeu, implicando que tais fragmentos sejam os cacos certos (ou menos incertos) de um cristal partido que os homens chamam puerilmente de História – quebra-cabeça feito de peças corrompidas coladas aqui e acolá por jornalistas, bêbados e historiadores. Um par de olhos, sendo um deles de vidro, saboreou as linhas “porcamente rabiscadas” (opinião dele) por um jornalista que só podia ser resquício de um comuna estúpido, quiçá recém formado em uma profissãozinha que, a seu ver, dispensa diplomas e honrarias. Cuspiu para o lado, com desdém, o Coronel Bezerra, João Bezerra, que por acaso nasceu no mesmo dia da revolução. Em 31 de março de 1964, Bezerra completou 42 anos de vida. Agora é um rapazote de 90 anos, “mais pra lá do que pra cá”, conclui um dos netos cada vez que observa o avô levando mais de hora para fazer as coisas mais simples. A mágoa ressentida de Bezerra não era especificamente com este jornalista em questão, mas com qualquer um que muitas vezes sequer havia nascido nos “gloriosos tempos da revolução” e se metia a criticar o que não sabe. O coronel havia servido no regime de Castelo Branco, o “White Castle” - como zombava um jornalista da época, hipocritamente, americano -, e como tal, recobria-se de uma nostalgia meio proibida do fatídico dia que acabou durando vinte e um anos. Mas até aqui, sendo que nada escrito nesses quatro parágrafos são dignos de crédito (posto que o escritor destas linhas tampouco era nascido nesses tais tempos nostálgicos), “dar-se-a-ia” mais credibilidade em exprimir a revolta dos militares nostálgicos usando as palavras do próprio coronel João bezerra ao ler a crítica tosca intitulada “Tempos que não temos saudades”: - É um jornalista de merda! Pouco depois de completar 90 anos (em junho ou julho, não se
sabe ao certo), Bezerra surpreendeu a família ao surgir de manhã vestido com a farda dos seus tempos de milico. Laudino Bezerra, primogênito dos netos, escancarou a boca e zombou o velho, achando que se tratava da travessura debochada de um ancião que não tem mais o que fazer. - Que isso, velho maluco? E eis que novamente, para espanto dos familiares, o patriarca (até então manso pela idade) desfere um tremendo bofetão na fuça do neto, cólera nos olhos de ambos. - Me respeita, seu bosta! – vociferou o coronel. Dias depois, nesta breve crônica onde o tempo derrete feito neve no sol e o Tempo não é quando, o Tempo é, o filho médico do coronel avisou a família que sem sombra de dúvida o velho estava sofrendo de Alzheimer. - Ou pra resumir, o velho acha que está no tempo da ditadura. E como se o coronel fosse relógio de bolso, daqueles que tem valor sentimental, mas já não são de muita serventia, a família, por amor, decidiu dar corda. Era o jeito do coronel não sofrer. Parentada reunida na sala de estar, na TV de led 42 polegadas o jornal apresenta um resumo do julgamento do mensalão. Num raro rompante de lucidez, o velho salta do sofá e brada com fúria obsessiva: - E no Lula, ninguém mexe?! Ninguém vai dar na cara deste sindicalista?!! É preciso organizar um novo golpe!!! Tornou-se o assunto preferido do coronel que já não pisava num quartel há uns trinta anos. Cismou que ia “convocar seus antigos companheiros e derrubar a cupincha-de-saia-filhoteopoooooooo-do-PT do governo, se fosse preciso, à bala!”. - Seus “antigos companheiros” devem estar sepultados faz tempo – pensou um sobrinho, sem se atrever a dar vida as reminiscências mentais. Foi em clima de tensão que, num dia qualquer, a família notou que o “vovô Bezerra” havia sumido. - Ele estava no quarto agora mesmo! –disse uma filha agoniada. Deram queixa na polícia, chegaram a postar foto do coronel nas redes sociais com o alerta de “ele tem Alzheimer, estamos desesperados!”.
Claudia Bilobran O que você espera do próximo prefeito de Curitiba? Ilustração: Gabriel Eloi
Ao Leitor
(In)felizmente, não só notícias ruins chegam depressa, mas também as que colocam determinada figura na posição de ridículo. No caso, o coronel. ...E na tarde de hoje, um idoso vestido como militar (e de pantufas!) armado de uma carabina invadiu o Planalto e foi gritando que o exército estava de novo no poder. O homem foi identificado como um ex-cabo que foi afastado no governo do Médici por problemas alcoólicos e... Passada a confusão, o velho foi levado de volta pra casa e se recolheu por dias num silêncio taciturno e embaraçado. Muitos dos de seu sangue sentiram pena. - Coitado do “bisa”. - Isso passa, logo ele esquece – confortou um dos genros, e completou com uma chacota imprópria:– Pra alguma coisa o Alzheimer tem que servir, afinal de contas. A caçula do pobre coronel, sensível que era (e comunista!, que o velho nunca soubesse deste desgosto), num rompante de intimidade da qual não desfrutava, se aproximou e pela primeira vez na vida beijou a testa calva do pai. - Isso passa, pai. Mas não havia jeito, não poderia haver palavras suficientes no dicionário para fazer o velho engolir o orgulho. Uma lágrima escorreu por sua face enrugada em demasia, demorando mais do que o necessário para atingir o queixo. E chorar não é coisa de homem, ainda mais pra um coronel! Limitou-se a virar o rosto para o lado, deu um soco no sofá e murmurou com inconformidade: - Nem o Sarney quis tomar partido!
E s p e r o que melhore a limpeza da cidade. Tem muitas pichações por aí que deixam Ricardo a cidade com Loebinger, 54, uma aparência empresário suja. No que diz respeito à segurança, a cidade está muito violenta e sendo dominada pelas drogas, pois até o presente momento tem-se apenas tomado medidas paliativas sobre estas questões. Também poderíamos usar como exemplo a Europa e oferecer um “hospital”, um local onde os viciados podem usar as drogas. Um local com atendimento médico e psicológico, pelo menos tiraria este pessoal das ruas. Curitiba está ficando com uma aparência de degeneração. “De presente, Curitiba merece que o prefeito eleito faça uma boa administração, e que siga os passos do pai, que foi um grande José C. Santos, 69, homem, o sePapai Noel nhor Maurício Fruet”.
Pequena homenagem a uma grande aluna Momentos inesquecíveis vão ficar na memória dos amigos e professores. Uma aluna e amiga que com seu jeito meigo e tranquilo conquistou a todos. Uma mulher que era a verdade em pessoa nos deixará saudades... Luciana Fernandes da Silva descanse em paz.
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MARCO ZERO
ECONOMIA
Quanto vale uma cerveja? Gerson Dall´Stella
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Foto: Gerson Dall´Stella
o Largo da Ordem, local histórico e frequentado por grande número de pessoas que agitam o consumo na região central de Curitiba, o preço da cerveja é um dos assuntos mais comentados. A equipe do jornal Marco Zero entrevistou os frequentadores do local para saber se é justo o preço cobrado pela bebida. A equipe usou a cerveja Skol, garrafa de 600 ml (uma das mais vendidas), como base para a pesquisa. Verificou-se o preço em duas distribuidoras de bebida, sendo que na Metropolitana o valor da cerveja gelada é de R$ 3,54 e na Vêneto R$ 3,33. Em grandes supermercados, foi praticamente abolido o formato garrafa de 600 ml. Nos bares do Largo da Ordem, os preços variam de R$ 6,00 a R$ 7,50 e em bairros de maior destaque social e econômico, como o bairro do Batel, por exemplo, cobram de R$ 7,50 a R$ 8,50. A publicitária Ana Cristina Martins, 29 anos, e cliente do Tuba´s Bar, onde a cerveja Skol custa R$ 6,00 a garrafa, disse que o preço é muito caro. “Devem usar uma margem maior do que 100%”. Indignada com o valor cobrado e sem encontrar atrativos nenhum ou um diferencial em relação a outros bares do Largo da Ordem, que pudesse justificar tal valor, ela observou ainda: “ Só volto aqui devido à galera que frequenta o bar”. No Holme´s Pub, a cerveja Skol também custa R$ 6,00 e a maioria dos clientes pensa ser a média
de preços utilizada pelos bares do Largo da Ordem. Clara Azevedo, gerente do Banco Itaú, 52 anos, afirma que o preço das cervejas, no Largo é um dos mais baratos cobrados na noite curitibana. “Fico apenas assustada com o pequeno número de policiais no local”. Encantada com a beleza do Largo da Ordem, Sueli Ribeiro 24 anos, que trabalha na noite como dançarina, disse que o Bar Sacy é diferenciado pelo atendimento, e o preço de R$ 6,50 cobrados pela cerveja Skol é justo. “Onde eu trabalho só servem cerveja no formato long neck, que é menor e muito mais caro”. Em geral, os proprietários e gerentes dos bares do Largo da Ordem aplicam o preço de mercado nas bebidas. Sabem que o valor é baixo em relação a outros locais da noite curitibana, mas o grande número de bares presente na região determina que o preço seja baixo. “É o mercado ditando as normas”, cita a proprietária Erotides Saad, para quem a principal preocupação do Bar Sacy é a felicidade dos clientes. Em uma boa negociação junto às distribuidoras, os bares compram uma caixa (24 unidades) de cerveja Skol em garrafa de 600 ml por R$ 70,00 ou R$ 75,00, o que custaria R$ 2,91 a R$ 3,12 por garrafa. Justo ou não, o preço da cerveja não interfere na grande movimentação cultural do Largo, onde várias tribos de frequentadores promovem enorme diversidade comportamental, fazendo do espaço na noite curitibana o preferido da moçada “underground” da cidade.
Ana Cristina: “Acho muito alto o valor cobrado nos bares do Largo”
Foto: Gerson Dall´Stella
Equipe do Marco Zero foi ao Largo da Ordem, no centro de Curitiba, para saber qual é o preço cobrado pela bebida na região
Largo da Ordem, na região central da cidade, é um dos principais locais de encontro dos curitibanos
O Largo dos aperitivos Charles Gois
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odos sabemos que o curitibano adora frequentar um barzinho, tomar uma cervejinha e comer alguns petiscos. E foi essa curiosidade de saber se os aperitivos são realmente bons que nos levou a ir aos bares da capital para realizar esta matéria. A maioria gosta do que os bares oferecem, como por exemplo, o taxista, de 56 anos, Paulo Boanilha, um frequentador de longa data no Tuba’s Bar. Ele conta que adora os aperitivos do cardápio do bar. “São ótimos e é um dos melhores lugares para dar uma parada, tomar uma cervejinha e comer algum salgado, alguma porção. São de ótima qualidade”, afirma. Ao contrário, o gerente comercial Marcos Ribas, de 31 anos, todavia gosta do cardápio do Tuba’s, en-
tretanto explica que não há muita variedade de lanches. Um pouco mais à frente, encontra-se o Holme’s Pub, um dos lugares mais emblemáticos no Largo da Ordem, onde há sempre uma grande concentração de pessoas durante os finais de semana e até no decorrer dela. O vendedor Márcio Sousa, 31, disse que costuma sempre comer alguma porção enquanto consome cerveja ou refrigerante. Diz muito atraído pelo cardápio, cheio de opções, o que lhe faz ser um cliente sempre presente. “Sempre que venho para cá, já no primeiro ato procuro o Holme’s. É um lugar diferente, cheio de pessoas, com grande quantidade de lanches e bebidas, o que faz dele um local diferenciado entre os outros”. Seguindo a mesma linha, a estudante de 25 anos, Luciana Magalhães, aprova o estabelecimento. “Sigo sempre a doutrina de frequentar aqui, me sinto bem e adoro o ambien-
te do bar”. E parece ser mesmo um belo local para conversar com os amigos e aproveitar o que a casa oferece aos clientes. No outro lado da praça de passagem breve, Jeff Brown, 43 anos, - figurinha conhecida entre os frequentadores do Largo da Ordem, não só por ser um músico, mas também por estar sempre divulgando o seu trabalho independente - foi abordado pela nossa equipe e relatou que enquanto dava uma pausa curta no bar Saccy, apesar de não frequentar muito o local, disse que gosta dos lanches do lugar, porém não acha que há muitas opções no cardápio. Enquanto o estudante Marcelo Henrique, 21 anos, sempre pede alguns salgados. “A variedade é boa no cardápio, os lanches são bons, mas a casa não oferece tudo o que há na propaganda, o que é uma pena, pois o bar é bonito e bem tranquilo”, salienta.
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MARCO ZERO
Número 25 – Dezembro de 2012
PERFIL
A beijoqueira da Boca Maldita Foto: Divulgação
Nunca houve uma personagem como Gilda na capital paranaense Claudia Bilobran
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omo toda metrópole, Curitiba tem seus personagens extravagantes. Há quem venha somente para tirar uma foto com o Oil Man ou passar em frente à casa do vampiro que não brilha na luz do sol, Dalton Trevisan. Tem até o Homem Aranha, ganhando uns trocados e tirando fotos com os curiosos. E todo turista que se preze passa pela rua XV e pela Boca Maldita, ali entre o Bondinho e a Praça Osório, palco de grandes acontecimentos: de manifestações fervorosas até o trânsito livre das excêntricas e inusitadas personagens da cidade. Na segunda metade da década de 70 e início dos anos 80 surge Gilda, a rainha beijoqueira da Boca Maldita. Rubens Aparecido Rinque, um homem à frente de seu tempo, encarando o preconceito fortíssimo de uma época muito conservadora. Assumiu seu alter ego e travestiu-se de mulher, vivendo da forma que mais lhe aprazia. Dizem que o rapaz era de uma família rica de Londrina, e que chegou a Curitiba junto com um grupo circense. Gostou da cidade e ficou. Ganhou muitas moedinhas, roubou beijinhos e fez muita folia desfilando pela região central da cidade, usando seu batom e maquiagem, quebrando os tons de cinza da capital paranaense. Seu
estilo de vida livre e alegre não agradava a todos, mas isso não importava. Fazia muitos amigos que se divertiam com sua liberdade de transitar, fazer suas brincadeiras e viver do modo que lhe conviesse. Janete Schroeder, 54 anos, psicóloga, lembra que passear pela Rua XV de Novembro quando era adolescente, com certeza iria acabar em muitas risadas, pois lá estava Gilda, com suas tamancas, camisa amarradinha na cintura, importunando quem quer que passasse por ali. “Ela provocava, parava na frente das pessoas e batia aquelas tamancas com um rebolado típico de “Gilda” e se não ganhasse a moedinha, lascava um beijo no transeunte”, relembra Janete, nostálgica. Um dinheiro ou um beijo, era a sua ameaça. “Bons tempos aqueles”, suspira. Luiz Solda, cartunista, conta que em um carnaval estava bem próximo de um carro de som
onde estava o presidente da Boca Maldita, e Gilda tentou subir. Porém, o cidadão a impediu com um violento chute na boca. O professor de criação publicitária, Willian Sade Junior, 47 anos, relembra de Gilda, das suas peraltices. “Gilda morava em um terreno baldio, na esquina da Cruz Machado com Alameda Cabral, onde hoje tem a fonte Mocinhas da Cidade, uma homenagem à dupla caipira Nhô Belarmino & Nhá Gabriela. Era um homem que se travestia de mulher, com todos os trejeitos femininos. Gostava de ser chamada de mulher, sentia-se mulher. E ai daquele que falasse o contrário ou a chamasse de “bicha”, partia para a porrada. Era muito forte, batia mesmo, sem dó.” Willian lembra também da época em que a feirinha hippie (como era chamada) acontecia na praça Zacarias, outro ponto preferido de Gilda. “Sábado pela manhã quem passasse pela
E ai daquele que falasse o contrário ou a chamasse de “bicha”, partia para a porrada. Era muito forte, batia mesmo, sem dó.” ples personagem de rua, era uma verdadeira pedra no sapato da sociedade curitibana da época, recatada e provinciana. Vale muito a pena ver o documentário sobre Gilda dirigido por Yanko del Pino, que entrevista pessoas da época. O bloco Embaixadores da Alegria pulou o carnaval sem a presença de Gilda no ano seguinte após sua morte, mas com um samba enredo em sua homenagem.
Autores: Carlos Eduardo Mattar, Reinaldo Bola e Cláudio Ribeiro Gilda sem nome (1984)
o lgaçã : Divu Foto
Ai que saudade, que me veio! Das brincadeiras que Gilda aprontava 50 mangos para beijar certo alguém Descontraída Gilda ia... e beijava Beijou doutor... o senador... Falou de amor; brincou... brincou... Gilda, o seu bom humor deixou
Foto: Divulgação
Um oceano de saudades Gilda, o seu carnaval marcou por muito tempo a rotina da cidade Da melindrosa, de princesa oriental Da avenida faz seu palco natural e de repente transforma-se o artista De Carlitos, a vedete ou passista Ai que saudade.
feirinha com certeza toparia com ela. Bulia com todos, e nem os artesões escapavam de suas brincadeiras. Seus trejeitos nos fazia lembrar daquele juiz de futebol, Jorge José Emiliano dos Santos, o Juiz Margarida”, comenta Willian. Desfilava cheia de charme pela Rua XV com sua roupas puídas e surradas, era pura provocação a começar pelo seu nome: Gilda. Quem não lembra da frase: Nunca houve uma mulher como Gilda. Em 15 de março de 1983, Gilda é encontrada morta em uma casa abandonada na Rua Desembargador Mota, 2.290. Alguns acharam que foi morte encomendada, outros briga de rua. Vai saber... Cirrose hepática, meningite purulenta e broncopneumonia era o que constava na causa mortis em seu atestado de óbito. Foi enterrada no cemitério do Bom Retiro, no jazigo da travesti Márcia, que doou uma vaga para a colega. Gilda era mais que um sim-
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MARCO ZERO
PERFIL
Viagem com balaios
Foto: Priscila Lopes
Índia nativa da tribo Kaingang costuma fazer viagem de seis horas até a capital paranaense para vender seus produtos Priscila Lopes
À
Os balaios são vendidos em frente à Catedral, na Praça Tiradentes, e custam de R$ 10,00 a R$ 30,00.
que assim pode cobrar mais caro pelo seu trabalho. “Aqui é mais caro, porque vende bem aqui.” O valor dos balaios variam de R$ 30,00 a R$ 10,00, dependendo do tamanho. Ao contar que não tem nem Foto: Priscila Lopes
s oito e meia da noite um ônibus sai de Laranjeiras do Sul com destino a Curitiba. Quem faz essa viagem é a índia Cecília Bandeira, que chega aproximadamente às 2 horas da manhã junto com a sua filha. Ao amanhecer depois da noite dormida na Rodoferroviária na companhia de mais índias, já despertam para começar mais um dia de trabalho. A índia Cecília tem 40 anos e é nativa da tribo Kaingang, localizada em Laranjeiras do sul, que fica a seis horas de Curitiba, de onde vem, para vender seus balaios. Seu ponto de venda fica em frente à Catedral Metropolitana de Curitiba, na praça Tiradentes, onde fica sentada com sua filha caçula de 5 anos, “aos pés da igreja” atrás dos 15 cestos feitos por ela, esperando um comprador. Ela vende cestos pequenos e grandes, todos muito coloridos, e, segundo ela, a tinta usadas nos produtos esta muito cara. “Está custando R$ 5,00, tamanho assim pequenininha” e mostra o como se o frasco estivesse em suas as mãos. Ela prefere vender em Curitiba por-
A índia Cecília Bandeira sai de Laranjeiras do Sul para vender os seus produtos em Curitiba.
Uma viagem longa, noites desconfortáveis, dormindo na Rodoferróviaria junto com uma criança pequena, para ganhar tão pouco. Pode não fazer muito sentidopara quem passa pela mulher sentada na calçada, vendendo seus balaios
pai nem mãe muda a sua feição com um ar triste. Cecilia vive sozinha com os cinco filhos, pois ela foi abandonada pelo o marido. “Eu não tenho marido, meu marido deixou eu, pra casar mais outra mulher”. O mais velho de seus filhos tem 23 anos, a segunda 18, o terceiro 15 e o outro com 13 e a sua menor com 5 anos. Ela os chama toda a hora de crianças, e eles ficam na casa dela na aldeia-sede sozinhos enquanto ela viaja. Todos eles estudam, e Cecília toda orgulhosa diz repetidas vezes durante a conversa: “Eu também estudo”. Irá se formar no dia 16 de dezembro na 8° série do ensino fundamental. Quando precisa vir a Curitiba ela e a pequena, que fica durante todo o tempo da conversa sorrindo, precisam faltar na escola. Mas diz que seu professor entende, e que ele mesmo já comprou um balaio e levou para vender para uns amigos. A passagem de Laranjeiras do Sul até Curitiba custa R$ 79,00 e
esse era todo o dinheiro que ela tinha. “Só depois de vender tudo que vou embora pra comprar passagem lá na rodoviária pra descer lá em Laranjeiras do Sul. Hoje eu não tenho dinheiro, eu. Gastei tudo pra comprar passagem pra vim.” No dia da entrevista, ainda pela manhã, Cecilia tinha vendido apenas um cesto, e gastou o dinheiro para ir ao mercado comprar comida para passar o dia. Ela pretende voltar para casa no fim de semana, mas para isso é preciso vender os cestos para ter o dinheiro da passagem. Uma viagem longa, noites desconfortáveis dormindo na rodoferroviária junto com uma criança pequena, para ganhar tão pouco. Pode não fazer muito sentido para quem passa pela mulher sentada na calçada vendendo seus balaios, mas essa é a maneira que a mãe solteira de cinco filhos que precisa de tão pouco dinheiro pra sobreviver nesse mundo capitalista arrumou para suprir as necessidades da sua família.
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ESPECIAL
Anúncios pornográficos dom
Entre todos os locais possíveis para a publicidade da prostituição, marque Diego Alarcon
Jussara Andrade
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ntre folhas e panfletos estão os anúncios de garotas de programa que a gari Nilcemara Henebergue Andrade, 33, varre na Praça Generoso Marques, no centro de Curitiba. Debaixo de cada telefone público, misturam-se anúncios de loiras, ruivas e morenas, com nomes criativos e descrições ousadas. Nilcemara, que é contra esse material, sabe que falta consciência por parte de quem, indignado com os minipanfletos, tenta "limpar" os orelhões e deixa o lixo espalhado. "Sou contra porque o povo vem usar o telefone e além de tirar joga tudo no chão",
comenta. Segundo ela, cada um dos garis tem um setor de atuação e o dela é totalmente coberto por esse "lixo pornográfico", que causa não apenas nela mas em muita gente, constrangimento e frustração. Os anúncios são colocados por várias pessoas, todos homens, que passam a cada meia hora aproximadamente repondo os papéis que as pessoas retiram quando vão usar o orelhão. Há, inclusive, uma disputa pelos aparelhos de telefone e esses homens chegam a retirar os papéis já postos para substituir pelos de "suas garotas". Além de poluir visualmente a cidade, essa questão levanta outra polêmica ressaltada por Nicelmara: a imagem completamente machista que se tem da figura feminina. "A mulher já não tem fama boa e fica essas aí... as pessoas se incomodam", declara. Para ela, prender esses marqueteiros talvez não adiantasse
e um "susto" seria o ideal. As opiniões quanto a punição se dividem. Roseli de Almeida, 42, diarista, acrescenta que as pessoas que praticam a distribuição dos minipanfletos, além do susto de serem abordadas, devem sim ser punidas com a prisão. Não tendo outra opção, o que resta ao cidadão é submeter-se ao uso. O constrangimento é superado pela necessidade das pessoas de usar o telefone. "Eu uso porque preciso ligar a cobrar para minha casa", afirma. A divulgação da prostituição, considerada crime que muitas vezes não é punido, é o que confunde as pessoas. Para Jorge Ribeiro, 49, pedreiro, que utiliza frequentemente os orelhões da cidade, não há fiscalização. Segundo ele, deveria haver um lugar apropriado para a publicidade desses serviços, pois assim pode-se chegar a um acordo favorável para ambas as partes. "Isso aí é uma bagunça. Deveria ter um lugar certo já que querem fazer isso", comenta. A estratégia de divulgação parece bem mais elaborada do que se imagina. Walter Shacht, 31, comerciante, e que trabalha há três anos numa banca na mesma praça, diz já estar acostumado com a presença dessas pessoas que fazem a divulgação deste comércio sexual. "A cada dez minutos você vê homens entre 20 e 30 anos, direto colocam... O dia todo tem gente aí. Deve ter um esquema", analisa. Trata-se de um comércio que está atraindo turistas que vem de todas as partes. "Imagine quanto dinheiro não gera? Pornografia pura...", destaca. Os orelhões servem como ponto de obscenas exposições ao ar livre, e há quem aprecie. "É bom para os turistas. E acreditam, eles tiram fotos!", ressalta. Com a mesma naturalidade que pedestres passeiam, marqueteiros fazem seu trabalho na divulgação de "santinhos" pornográficos que forram a grande Curitiba com uma publicidade totalmente livre, que muitas vezes inibe as pessoas de usarem o orelhão para não ter que "encarar" as fotos apelativas.
O que diz a lei? De acordo com o artigo 163 do Código Penal, a destruição de patrimônio é considerada crime, com pena que varia de seis meses a três anos de prisão. Contudo, muitos dos panfletistas presos em flagrante pela Guarda Municipal são liberados após assinar num termo circunstanciado ou então os processos são arquivados no Tribunal de Pequenas Causas por serem considerados atos que não possuem motivos para punição de qualquer natureza. A não punição também deve-se ao fato de que os panfletos são afixados nas frestas dos aparelhos e não colocados como muitos pensam de forma que danifique-os, isto porque os panfletos podem ser removidos com facilidade. Outra possibilidade que poderia levar à punição dos panfletistas, como citado no artigo 234 do Código Penal ,está relacionada à exibição de imagem obscena. Promotores pontuam que as imagens eróticas dos panfletos se assemelham a publicações de revistarias, sexshops e o conteúdo aceito pela sociedade por ser algo que não chega a ser e não é considerado ofensivo. A palavra “obsceno” varia seu significado, dependendo da realidade social em que as pessoas estão vivendo. No Paraná existe a Lei Estadual 16.486/10, que proíbe a exposição de imagens eróticas. Criada pelo deputado estadual pastor Edson Praczyk, tal lei veda que bancas, livrarias e locadoras de filmes exibam revistas, DVDs, CDs, cartazes ou anúncios com conteúdo pornográfico ou erótico. Quem descumprir a medida será penalizado e em caso de resistência receberá multa de R$ 5 mil. Mas não estão incluídos os telefones públicos.
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MARCO ZERO
minam orelhões de Curitiba
eteiros escolhem os telefones públicos da cidade para chamar a atenção A professora Adriana Baggio, redatora publicitária freelancer, professora universitária e pesquisadora em Comunicação e Semiótica (doutoranda na PUC-SP), deu entrevista ao jornal Marco Zero, acerca dessas formas mercadológicas e também sobre os anúncios pornográficos de garotas de programas, localizados nos telefones públicos da cidade de Curitiba. Confira abaixo: Marco Zero- As garotas de programa vendem seu corpo. Hoje é possível ver esses anúncios em vários telefones públicos. Essa prática pode ser considerada uma forma de publicidade? Se sim, é uma publicidade válida? Adriana Baggio - Um dos conceitos de propaganda tem a ver com a compra de espaço num veículo para anunciar. A propaganda tradicional, em que eu compro espaço numa revista, num jornal, numa emissora de televisão. No caso do telefone público, esse espaço não é comprado e é até proibido fazer isso! É encarado como vandalismo. Mas essa ação se encaixaria num tipo de comunicação mercadológica, que tem sido feita hoje, que é o marketing de guerrilha, o marketing de emboscada. São estratégias difíceis de definir. Às vezes se tem uma ação na rua, que não é uma ação autêntica, que foi programada por uma marca e acaba repercutindo na mídia, no jornalismo, - como jornalismo espontâneo, sem ter um espaço comprado. Se é válida ou não, depende. É válida enquanto uma estratégia de mercado, para esse produto “sexo” que se está sendo vendido? Talvez seja. Vocês comentaram que tem todo um sistema de homens que recolocam esses anúncios, quando as pessoas retiram, outros que cuidam. Parece-me que esses anúncios estão funcionando pra esse “produto” vamos chamar assim. Talvez do ponto de vista de quem o comercializa, está sendo válido. E do ponto de vista da ética, esse tipo propaganda é válida? Se ela é eticamente válida, entraremos numa outra questão: por que essa propaganda é feita dessa maneira? Talvez porque a prosti-
tuição seja proibida? Mas será que não é certa hipocrisia da sociedade, porque todo mundo sabe que existe garota de programa, e que existe consumidores e consumidoras para o sexo, mesmo que a venda do sexo seja proibida. Sendo proibida muitas dessas mulheres, não tem acesso à direitos que outros trabalhadores tem . A partir do momento em que elas são prostitutas, se isso não fosse proibido, será que elas não teriam condições melhores de vida? Será que a comunicação não seria mais regulamentada? Essa questão se é válida ou não eticamente, ela também envolve aspectos muito mais complexos. O marketing e a publicidade se propagam de uma forma que não se pode controlar. Esses anúncios podem ser considerados marketing? Primeiro o conceito de marketing. O marketing no senso comum é muito confundido com publicidade. O marketing é uma coisa muito maior, publicidade é uma parte do marketing. Dentro dele temos o chamado Composto de Marketing: o produto, o preço, a praça- que é onde esse produto é distribuído, e a promoção. A publicidade entraria apenas no “P” de promoção. Se formos pensar nas garotas de programa no conceito de marketing, teríamos o produto: como é essa garota? Quais as características físicas? Que tipo de serviço sexual ela presta? Qual é o diferencial dela? Em termos de preço, quanto ela custa? Em termos de distribuição (eu estou até sendo bastante crua, mas já estamos falando disso e associando, vou me permitir a esta crueza), ela atende em um hotel muito simples, talvez sujo, ou numa casa de prostituição mais sofisticada, ou na casa do cliente, ou ela tem um apartamento próprio. E por fim temos a promoção: como o serviço dela é divulgado? Pode-se considerar que sim, pois marketing é uma relação de troca entre duas partes, quem oferece o serviço ou produto e quem o consome. Existe marketing quando essa troca é satisfatória pros dois lados. Vamos partir do princípio de que o marketing quando acontece, ele é uma troca satisfatória para as duas
partes. O resto não é marketing. Por qual razão você imagina que eles colocam esses panfletinhos no telefone público? Vamos pensar... O celular (e isso eu estou especulando), se um homem queira contratar uma garota de programa, talvez ele não possa utilizá- lo, porque vem o número na conta, às vezes o celular é compartilhado pela família ou ele não tem crédito e o “orelhão” dá um tipo de privacidade se for pensar hoje. Você entra ali, ninguém sabe pra onde você está ligando, ninguém vai ouvir sua conversa. Segundo: esse serviço pode ser de dois tipos, pra você marcar um encontro com a garota de programa ou pra você ter sexo por telefone. E se você tiver sexo por telefone pensando do ponto de vista da estratégia que vende esse serviço, é genial, por quê? Porque é mais barato que o celular, é privativo, o produto está praticamente no ponto de venda. Então entraremos no “P” de praça, que é a distribuição. É a mesma coisa de termos a propaganda do produto no supermercado, em que você vê a propaganda e o produto ali o lado. Se o sexo é por telefone, o serviço é prestado pelo telefone. Tem a propaganda e tem o serviço imediatamente ao lado sendo prestado. Pensando em público alvo essa forma de anúncio é mais eficiente do que em jornais, revistas ou internet? Essa questão da eficiência é relativa. Envolve também um custo, pelo público que você quer atingir. Talvez a garota de programa que anuncia no jornal, seja de um posicionamento, de um tipo e essa do telefone seja talvez mais barata, não sei, ou porque ela está ali no centro. A do jornal, talvez, você tenha que ir ao hotel, ou a casa dela. Então, a comunicação depende do público alvo, mas depende também de pra onde você vai levar o teu público, onde está o teu ponto de venda. E mais uma vez eu estou sendo crua, mas pra tentar ser didática. No jornal você tem que pagar pra anunciar, no telefone não. Tudo bem que tem essa equipe que coloca os panfletinhos mas, pode ser o mesmo “Leão de Chácara” que a noite cuida lá do
Claudia Bilobran
O marketing da prostituição
Professora Adriana Baggio diz que as pessoas fazem marketing de seus corpos
“puteiro”, do “bordel”, da casa. Então é alguém que já está sendo pago pra fazer serviços do mercado do sexo. A garota de programa pode ser considerada um “produto”, pelo marketing, pela publicidade? As pessoas é que fazem marketing e publicidade dos seus corpos. Uma modelo quando tem que fazer dieta, tratamento estético pra fazer propaganda na televisão, ela está vendendo o corpo. Uma prostituta está vendendo o corpo. Então essa concepção de vender o corpo é muito rasa, muito envolvida em preconceito no caso da prostituta. Na verdade a maior parte das pessoas vende o corpo, eu como professora vendo uma parte do meu corpo que é meu cérebro. Pra desmitificarmos um pouco a prostituta, vamos falar de mim que sou professora, que tenho uma posição social que é mais considerada positivamente na sociedade do que uma prostituta. Quando eu entro no Facebook e escrevo alguma coisa inteligente, pra mostrar que
Tem a propaganda e tem o serviço imediatamente ao lado sendo prestado.
eu sou uma professora que talvez tenha conhecimento eu estou vendendo o meu corpo. A prostituição existe, é a venda de um serviço que é o sexo, mas vendemos outros serviços, que o nosso corpo faz, mas que a sociedade aceita, só que o sexo a sociedade ainda tem esse tabu. Todos nós consumimos, e quando se fala em consumo de garotas de programas as pessoas reagem mal. Por que isso acontece? Incomoda o sexo né?! Porque as pessoas consomem as outras pessoas sem problema. Quando se tem um casamento feito por interesse financeiro, costuma-se dizer que a mulher é bonita e casou-se por interesse. Ora, mas o homem não está consumindo a beleza dela? Então o consumo de corpos é uma coisa que fazemos todo dia? Só que o consumo do sexo é um tabu, porque a sociedade não lida direito com o sexo. Principalmente porque a prostituição representaria uma liberdade da mulher vender, usar sua sexualidade do jeito que quiser. Acho que o maior foco de conservadorismo da sociedade hoje é a tentativa de controle do corpo e da sexualidade feminina e isso se insere numa sociedade patriarcal/ocidental, por isso que tem tanto tabu. O corpo é vendido e consumido de muitas outras maneiras que as pessoas nem percebem.
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ESPECIAL
Lição de vida e de cidadania Projeto Rondon leva universitários a ver um Brasil de contrastes, repleto de riquezas naturais, mas que conta com muitas dificuldades Jeferson Gomes
Maria Heloisa
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xiste muita desigualdade social e a gente não conhece nem um pouco o nosso país, as pessoas, as culturas...”. É o que relata Davi de Souza Silva, 25 anos, estudante do quarto período do curso de Comunicação Social, ao falar de sua primeira impressão ao chegar a Bonito (PA), cidade -sede do Projeto Rondon, em julho de 2012. Ele diz que já realiza trabalhos semelhantes e foi o que o motivou a participar do projeto. “Ou seja, utilizar o que estou aprendendo na faculdade para ajudar uma comunidade carente, e fazer com que outras pessoas possam ser beneficiadas pelo que tenho aprendido foi um dos meus principais motivos de participar do Rondon”. O estudante, apesar de ter se decepcionado com a falta de envolvimento da população nas oficinas e palestras montadas, expressa sua satisfação em participar dessa experiência, onde pode perceber sua capacidade de poder ajudar os outros. “Nossas habilidades e habilitações, sejam quais forem, podem servir as pessoas e ajudar uma comunidade. A gente começa mudando o mundo com o que a gente tem em nossa mão”. Davi Silva critica a falta de incentivo dessa iniciativa, por parte do Centro Universitário Uninter, que deveria valorizar mais esse
projeto de extensão, não só com palavras, mas com recursos, assim como outras Instituições que integraram o Projeto, “porque isso é bom pro estudante e é bom pra faculdade. É uma via de duas mãos”. O Projeto Rondon é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), resultado da união do Governo Federal com o Ministério da Defesa em 1.967. Uma iniciativa cujo lema é “Lição de vida e cidadania”, que visa à integração social, e envolve a participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da população. As ações do projeto são orientadas pelo Comitê de Orientação e Supervisão do Projeto Rondon, criado por Decreto Presidencial de 14 de janeiro de 2005. O COS, como é conhecido, é constituído por representantes dos Ministérios da Defesa, que o preside, do Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Educação, Esporte, Integração Nacional, Meio Ambiente, Saúde e da Secretaria-Geral da Presidência da República. Possibilitar aos universitários o conhecimento prático das diferentes realidades nacionais e envolvê-los no processo de desenvolvimento do país, fortalecer a cidadania por meio da participação dos universitários na solução dos problemas das comunidades carentes, e contribuir para a formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e solidária, são alguns dos objetivos dessa iniciativa social.
A equipe reunida para o planejamento das atividades diárias
Projeto Rondon realizado em junho de 2012 na cidade de Bonito (PA)
O professor Daniel Oikawa, que já coordenou o projeto em 2011 no Centro Universitário Uninter, e integrou a equipe em 2012, fala um pouco de sua visão sobre o projeto. O que o motivou a fazer parte do Projeto Rondon? Desde os 15 anos, minha rotina inclui viagens, trabalho em grupo ou projetos sociais. Comecei no movimento escoteiro, depois fui montanhista e agora sou professor. O Projeto Rondon pareceu apenas mais uma etapa desse trabalho. Como foi a aceitação da população nativa da região em relação ao projeto? Houve vários tipos de reação. A maioria ouviu nossa divulgação com curiosidade, mas sem demonstar muito interesse ou compreensão. Mas, quando demonstrava algum interesse, sempre apoiava a iniciativa. Grande parte da participação e do apoio veio dos jovens e das crianças. Qual foi o melhor ensinamento tirado desta experiência? O mais importante na educação é o lado humano. Despertar a curiosidade, conduzir o aprendizado, instigar a curiosidade e a análise, promover novas experiências aos alunos. No caso específico do Rondon, o foco do novo projeto (em relação ao antigo, iniciado décadas atrás, de caráter assistencialista) é mostrar aos alunos uma re-
alidade diferente da sua, mas que também faz parte do Brasil. Por isso o lema do Projeto Rondon é “Uma lição de Vida e Cidadania”. Houve alguma decepção nas expectativas criadas, com relação às intenções do projeto? Sempre existe, e faz parte da experiência e do aprendizado. Esperamos muito, dos demais alunos, da população, do resultado das oficinas, do apoio do município, da atuação dos professores. Algumas oficinas não têm público, em outras a informação não é assimilada, às vezes cada aluno tem uma ideia diferente de como deve ser uma oficina ou quer participar de uma atividade específica, outras o professor (que também encontra-se sob pressao) não consegue dar a resposta esperada para determinado problema. É preciso apender a lidar com as diferenças, entender que não é possível controlar tudo, ter a palavra final sobre tudo. É preciso fazer o melhor possível nas condições que se apresentam no momento. Há algo que não concorda na estrutura ou no desenvolvimento do Projeto? Quais são suas sugestões para melhorias? Antes de mais nada, devo dizer que as Forças Armadas realizam um trabalho extremamente técnico e competente. Sempre temos tempo para con-
versar com os alunos e com os professores das demais instituições, e, ao final de todo Rondon, damos sugestões à organização (a mesma que há anos acompanha o trabalho). Como participei de uma edição em 2010, e outra em 2012, pude notar algumas mudanças. As sugestões são pequenos ajustes, às vezes dizem respeito à participação do militar que acompanha o grupo, ou a hora de determinada cerimônia. Ocorre também queixas específicas sobre a paticipação de determinada instituição. Qual a sua opinião quanto à divulgação do Projeto Rondon? Esse me parece um problema estrutural. Ainda não encontramos a combinação certa, a forma correta de divulgação. A divulgação foi feita por meio de cartazes, palestras (divulgadas em sala, mas sempre com pouco público) e divulgação boca a boca. Este semestre houve a mudança na Coordenação do Rondon, o professor Rogerio Maioli saiu do Grupo, e a coordenação foi assumida pela professora Daniele Assad. Toda mudança traz novas ideias, mas acredito que ainda temos muito trabalho até conseguirmos popularizar o Rondon. Por enquanto, a melhor forma de divulgação tem sido o compartilhamento das experiências dos participantes, feita pessoalmente ou via facebook.
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CULTURA
A fonte desmemoriada
Cavalo Babão, um ponto turístico cheio de memórias e lendas
Reikraus Benemond
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Memorial do Cavalo Babão no Largo da Ordem
Lenda sobre o “Cavalo Babão”
Reikraus Benemond
ocê conhece a fonte da memória, famoso monumento de Curitiba? Provavelmente não. E se dissermos Cavalo Babão? Alguns irão saber do que se trata, mas a maioria das pessoas desconhece a história que envolve a escultura. Em um período de duas horas, a equipe do jornal Marco Zero entrevistou 20 pessoas que passavam pela Praça Garibaldi onde se encontra a obra do artista plástico Ricardo Tod, morto em 2005 em um acidente de trânsito. A escultura caracterizada pela imagem de um cavalo soltando água pela boca tem como nome original Fonte da Memória. Inaugurada em 1995, pelo então prefeito Rafael Greca, o monumento foi erguido em homenagem às pessoas que saíam das redondezas de Curitiba no início do século XX e atrelavam seus cavalos no centro da cidade próximos do local onde se concentrava o comércio. Transeuntes e comerciantes locais se divergem a respeito da escultura do Largo da Ordem que serve mais como ponto de referência que monumento histórico. Três pessoas das vinte entrevistadas conhecem a verdadeira história sobre o “Cavalo Babão”, mas desconheciam seu nome original. A aparência da escultura é admirada por uns e causa espanto em outros. Sueli Ferreira, 44, trabalha no comércio local há 18 anos, sabe que o monumento representa uma homenagem aos tropeiros, mas diz que causa alguns transtornos durante o verão. “Os moradores de rua se banham na fonte, lavam suas roupas e deixam
Reikraus Benemond
Eni Alves Santana
sujeira por toda a praça”, reclama. Dalúzia Ricardo, 65, também trabalha na região há 20 anos, não gosta da aparência da escultura e também reclama da sujeira e bagunça que os moradores de rua fazem nos períodos quentes junto às águas da Fonte da Memória. Quanto ao significado da fonte e ao nome verdadeiro do monumento, desconhece, mas diz que é muito usado como ponto de referência. Renato Kubiak, 39, é funcionário da Casa da Cultura próximo ao “Cavalo Babão”. Conhece a história, o nome original e gosta da escultura. Mas atenta para o fato de que assim como a Fonte da Memória, todo o centro histórico está mal cuidado. Para o comerciante Carlos Pereira, 42, o monumento era conhecido como cavalo do Greca, fazendo alusão ao antigo prefeito. Daniele Costa, 33, professora, que veio de Paranaguá acompanhar seus alunos a consulta médica sempre achou que o monumento fosse uma homenagem à pré-história. “Faz três anos que venho para cá direto. A primeira vez, fiquei encantada com a obra, achei bem interessante, mas confesso que num primeiro momento achei que fosse um rinoceronte e não associei ao cavalo, ou seja, algo pré-histórico, meio ah... mamute”, contou a professora. E para Verônica de Souza, 21, moradora de Almirante Tamandaré, mas que trabalha próximo à região, a escultura é bonita e representa bem os tropeiros, embora antes desconhecesse o seu significado. Sempre usa o “Cavalo Babão” como referência do local. Contudo, uma coisa é certa. Cavalo Babão ou Fonte da Memória, os turistas que passam por ali param para fotografá-lo. A estátua, um tanto curiosa, causa diversas impressões e sentimentos diferentes, mas todos concordam que o monumento é ponto de referência no Largo da Ordem.
Daniele Costa (centro) com seus alunos
Pesquisando sobre a obra do artista plástico Ricardo Tod, encontramos na internet algumas lendas urbanas sobre o monumento do “Cavalo Babão” de Curitiba. Abaixo uma delas. No século dezenove, num sítio próximo a cidade Curitiba, existia um fazendeiro que gostava de criar cavalos. Uma certa noite, sua égua mais bonita, que atendia pelo nome de Lua entrou em trabalho de parto. Porém, o homem disse: - A Lua não pode ter este filhote hoje, pois é noite de eclipse e segundo a lenda todo o potro que nasce, quando ocorre um eclipse no céu, fica babão para o resto da vida. Mas, apesar da preocupação do fazendeiro, a eqüina teve seu potro naquela mesma noite. Assim, como reza a profecia, o bicho já nasceu babando. O tempo passou e o cavalo continuou babando. Os filhos do fazendeiro gostavam de maltratar este animal e, sempre quando entravam no estábulo, diziam: - Vamos jogar pedra no cavalo babão! O dono do sítio, cansado de ver o animal ser maltratado, mandou seus empregados venderem o pobre bicho no mercado de trocas, que ficava no Largo da Ordem. Porém, apesar de muitas tentativas, ninguém queria trocar ou comprar aquele animal. Pois, os comentários das pessoas, quando viam o pobre, eram estes: - Que nojo, um cavalo babão! - Aquele potro que está babando deve estar louco! Os empregados relataram os fatos para seu patrão, que mandou estes moços darem o cavalo de presente para a primeira pessoa que se encantasse com ele. Um certo dia, estes homens estavam expondo o diferente eqüino junto com outros produtos no mercado de trocas no Largo da Ordem, quando, de repente um menino de rua parou em frente ao cavalo e comentou: - Poxa, eu queria tanta um bicho de estimação, mesmo que fosse um cavalo babão. Ao escutar isto, um dos moços indagou ao garoto: - Você quer este cavalo? O moleque respondeu: - Eu quero, mas não tenho dinheiro para
comprar. O homem exclamou: - Como você gostou deste animal, tome de presente para você! O garoto ficou encantado, montou no bicho, que foi para um bosque deserto. No meio da caminhada, o animal parou e apontou com uma das patas para um local. O menino estranhou e indagou: - Por que parou, amigo? Assim o cavalo relinchou. O moleque perguntou de novo: - Será que existe algo enterrado, aí? O cavalo disse sim com a cabeça. Deste jeito o rapazinho pegou uma enxada, cavou o local e achou um túnel. Desta maneira, este adolescente entrou dentro dele e achou um baú no meio do labirinto. Então, ele abriu o objeto e notou que havia ouro e jóias dentro dele. Com o dinheiro, o garoto comprou um pequeno sítio e tentou construir um monumento na cidade em homenagem ao seu melhor amigo, o cavalo Babão. O problema é que sua idéia não foi aceita pelos poderosos, mas mesmo assim ele exclamou: - Ainda haverá uma estátua de um cavalo babão no centro desta cidade, nem que seja daqui a cem anos! Desta maneira, o jovem e o eqüino se tornaram grandes amigos. O passatempo preferido do cavalo babão era passear no Largo da Ordem. O tempo passou e o cavalo adoeceu. Desta forma, seu dono disse a ele: - Por favor, não morra... - Bem, mas se você falecer, eu enterrarei o seu corpo no lugar que você mais gosta: o Largo da Ordem. Após escutar estas palavras, o bicho morreu. Assim, quando os sinos soaram meia-noite, o dono do eqüino morto, enterrou este animal no local prometido. Coincidentemente, no século vinte, em meados dos anos noventa foi inaugurada a fonte de um cavalo babão bem no local onde o bicho desta Lenda Urbana foi enterrado no século dezenove.
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CULTURA
O lado social do funk Foto: Leonardo Polis
A história de um ritmo que até hoje luta contra o preconceito Leonardo Polis
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xistem quatro linhas principais no funk: o consciente, o gospel, o melody e o proibido. Na atualidade, as favelas do Rio incentivam através de ONGs os jovens a participarem de projetos sociais, e verem no funk uma profissão rentável. Assim, eles mantém suas mentes ocupadas e praticam atividades culturais em seu tempo livre, afastando-se do mundo das drogas e da criminalidade em geral. A fundação Apafunk (Associação dos Profissionais e Amigos do Funk) foi fundada em 10 de dezembro de 2008, no Rio de Janeiro, por amigos cansados de presenciar a discriminação ao ritmo. O intuito é defender a liberdade de expressão e lutar pela Cultura Funk, contra o preconceito e a criminalização. Para isso, a Associação promove debates sobre a situação dos artistas, bem como atividades de conscientização dos funkeiros. Rodas de funk, palestras e videos são alguns instrumentos utilizados para levar a mensagem para universidades, escolas, praças, favelas, cadeias, ruas e todas as instituições da sociedade que abram espaço para o debate. Nas escolas de Minas Gerais, o pequeno Yuri Zanoni Faria de Andrade, conhecido como Yuri BH, com apenas 12 anos de idade, divulga seu trabalho e dá um incentivo aos adolescentes em seu projeto “Funk consciente pela paz nas escolas”. Com letras que falam de amor e da perspectiva para um futuro melhor, o garoto encanta estudantes, professores e diretores. “No começo meu pai era quem procurava as escolas para apresentar meu trabalho e divulgar o projeto, mas como os vídeos não passavam da internet era difícil a aceitação”, explica. Depois que foi procurado pelo DJ Aranha para participar de seu primeiro show aberto ao público, organizado pela prefeitura de Belo Horizonte, a vida de Yuri mudou. “Hoje as escolas é que nos procuram para levar esse projeto até os alunos”, relata o garoto. Além das escolas, Zanoni faz shows e leva uma mensagem positiva em centros de internação provisória de menores infratores, através da Fundação Casa.
Yuri encanta as crianças em uma de suas apresentações pelas escolas de Minas Gerais.
Yuri encanta as crianças em uma de suas apresentações pelas escolas de Minas Gerais. Suas principais músicas são “O crime não presta” e “Minha vó”, sendo que a primeira ganhou destaque nas principais rádios do país, ficando entre as mais pedidas. A letra relata a história de um garoto que não aguentava ver sua mãe chorando por não ter dinheiro para sustentar ele e seus três irmãos pequenos, quando então ele decide ajudar. Questionado sobre o título da música por contrariar várias músicas do funk proibido, o pequeno Mc explica: “o objetivo desta música é mostrar para as pessoas que todos temos dons, e que com esses dons podemos mudar o mundo. Deus não deu dom de roubar e matar a ninguém”. A segunda foi uma homenagem à pessoa que o criou e sempre o apoiou. Foi como tudo começou: após fazer uma homenagem para sua avó, dona Marlene Gusmão de Andrade, ele e o pai, Alex Rossi, postaram o vídeo no Youtube e não imaginavam que iria fazer tanto sucesso. Foram mais de dois milhões de acessos. Nos shows sua avó sempre o acompanhava nos palcos, enquanto o Mc cantava a música em sua homenagem. Essa interação de Yuri com várias faixas etárias mostrou que o funk é sim um movimento cultural e que, trabalhado através de suas raízes, só trará benefícios. Yuri canta para sua avó Marlene durante o show realizado na capital mineira. Depois de oito meses de carreira, Zanoni sofreu com uma rasteira da vida. A pessoa que foi a grande responsável por todo esse sucesso, e que sempre o apoiou, acabou falecendo. Yuri ficou abalado com a morte de sua avó, mas não desistiu de cumprir sua missão. Ao falar so-
bre seu grande objetivo com o funk e responder se cantaria funk proibido o adolescente foi direto: “canto para conscientizar as pessoas, eu não conseguiria cumprir meu objetivo com o funk proibido. Quero passar uma mensagem positiva para todos”. Após esse acontecimento, Yuri BH lançou uma música que foi um de seus maiores sucessos, “Sirene da Escola”. A letra fala do amor e da regeneração de um pai que, pelo seu filho, larga a vida errada do crime e do tráfico de drogas. O filho cantando funk acaba sustentando o pai, como diz um trecho da letra: “Eu tô cantando funk pra família sustentar, agora é só comemorar... O pai não precisa mais traficar”. Cantando o “Funk do Bem”, assim intitulado por vários jornais da capital mineira, o garoto chamou a atenção através de letras construtivas que falam de valores familiares, dizem não às drogas, e não ao crime. Yuri foi convidado para cantar e falar um pouco de seus projetos sociais. O garoto esteve presente em vários programas de TV. Entre eles, o “Hoje em Dia”, na rede Record, o “Mais Você”, naRede Globo, “Eliana” no SBT, Jornal da Band, Rede Minas, TV Super, e também nas principais rádios do país, como a “Big Mix”, no Rio, “Extra FM” e “Autêntica FM”, de Belo Horizonte, a “Eldorado FM”, em Porto Alegre, “Líder FM”, em Viçosa, no Espírito Santo, e a “Continental FM”, em São Paulo. Ao comentar se o funk consciente pode quebrar o preconceito contra o estilo musical, Yuri declara: “as pessoas discriminam as coisas antes de conhecerem, esse é o grande problema. Assim fica difícil”.
A marca do protesto O desabafo de Yuri BH é coerente com a bela história do funk, um som de origem negra. Essa manifestação social tornou-se conhecida com a influência do cantor James Brown, na década de 70, nos Estados Unidos da América. Abandonado pela mãe aos dois anos de idade foi criado pelo pai, e com oito, entregue a uma tia, que administrava um bordel na Geórgia, situada na região sudeste do país. Foi lá que James Brown aprendeu a tocar guitarra com um músico que namorava uma prostituta da casa. A partir desse dia nascia um dos grandes cantores pop da história americana. Através de sua música evitou uma guerra racial. Em 1968, após o assassinato de Martin Luther King, uma onda de violentos protestos raciais acabou explodindo nos EUA, terminou com um saldo de 20 mil presos e 40 mortos. No dia seguinte, em Boston, o atual presidente americano Lyndon Johnson anunciou um grande concerto em memória de Martin, ao som de James Brown. Nesse dia, negros e brancos se juntaram para ouvir o cantor e ao som do seu funk se despedir do pastor protestante e maior ativista político de todos os tempos. Foram através de manifestações sociais que o funk iniciou na década de 90 sua luta contra o preconceito. O som que fazia sucesso, principalmente nos Estados Unidos, em periferias de Nova York e Miami chegara ao Brasil, especificamente no Rio de Janeiro. A música chegou a tocar nos Bailes Black do Rio, mas acabou sofrendo algumas alterações, como a tradução e adaptação. Com a intervenção do discotecário Ademir Lemos, e o radialista Newton Alvarenga Duarte, mais conhecido como Big Boy, foram realizados os primeiros bailes, na casa de show Canecão, na capital fluminense. Eram os chamados “bailes da pesada”, atraíam em torno de quatro mil pessoas. Os bailes percorreram o Brasil inteiro. Enquanto isso, nos EUA, surgia um movimento derivado do Soul Music Funk, som com instrumentos eletrônicos. Desse movimento veio a “Miami Bass” que foi adotado até pelo rei do pop Michael Jackson, em suas apresentações. A cultura funk caiu no gosto do carioca. Assim, iniciaram-se os festivais e começaram a surgir nas periferias os mc´s, famosos mestres de cerimônia. Tiveram a oportunidade de conquistar uma vida melhor. As letras exaltavam o amor, o lado bom da favela, pedindo a união dos moradores, criticava a abusiva violência policial e a enorme desigualdade social com que eles conviviam. Porém ainda nos anos 90, os bailes do Rio passaram por manifestações violentas. Começaram a ser divididos em “lado A” e “lado B”, separados por um corredor, onde a briga era feia. Os próprios funkeiros se mobilizaram e começaram a pedir paz, pelo fim das brigas. E em um movimento de conscientização própria em pouco tempo os bailes de corredores acabaram. Mas quando tudo já estava resolvido, foi decretado o fim dos bailes. A partir desta determinação todas as casas de show legalizadas, foram proibidas de tocar a melodia e promover bailes. Sucesso nas grandes rádios do Rio de Janeiro, o funk foi combatido. Começava então um forte movimento de protesto. As letras conscientes começaram a ser ignoradas pelo mercado, e os mc´s que trouxeram aquele funk de qualidade foram menosprezados. Isso deu espaço para o surgimento de novos mestres de cerimônia, que resolveram inovar criando funks que nada tinham a ver com o “Melody” ao qual estávamos acostumados, ou o próprio funk Gospel, com letras de louvor que eram entoados por grupos de jovens. As novas músicas faziam apologia ao crime, e explorava a sexualidade. As facções criminosas das principais favelas do Rio passaram a comandar o estilo musical. Toda essa mudança veio por um preconceito criado por toda classe média alta, que desde seu surgimento criticava o funk pelo simples fato de ter uma ascendência negra, e combater o preconceito racial. O fato é que o funk sofre preconceito pelas suas raízes, não pelas letras. A sociedade alimentou a revolta de todo um movimento cultural que estava surgindo no país.
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CULTURA 12/12/2012 Dia do Toutatis 4179
Cíntia Silva
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Um bilhão que se ergue
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
É só mais uma crônica sobre o fim do mundo.
O movimento “Um bilhão que se ergue” promete mover o mundo no dia 14 de fevereiro de 2013 com uma ideia genial. A proposta do grupo é fazer um bilhão de mulheres (e todos que as amam) se levantaram e dançaram por um basta a toda violência Mulheres de vários paises já confirmaram que, nesta data, estarão nos lugares marcados para dançarem, mostrando um gesto de amor em contraste a todos os gestos de violência já sofridos. Toda a organização do evento está acontecendo de forma online, com divulgação nas redes sociais Facebook e Twitter. O vídeo intitulado de “One Billion Rising” é um retrato do movimento, mostrando diversas situações de violência sofridas pelas mulheres, desde a cena em que apanha do marido à cena em que sofre assédio no emprego e nas ruas. Ao final todas as personagens, representadas por mulheres de todas as raças e religiões ,dançam e convocam para a participação do evento. Em Curitiba, o evento está programado para acontecer na praça Santos Andrade e conta com a presença confirmada de 593 participantes.
Hobbits na cozinha A ansiedade é grande para a estreia de “O Hobbit – Uma Jornada Inesperada”, o primeiro filme da trilogia baseada na obra de J.R. R. Tolkien. Enquanto o público aguarda a tão esperada data, a Warner vem lançando alguns materiais que só aumentam a expectativa dos fãs. O mais recente deles é o site que reúne uma série de receitas criadas por Bombur, o cozinheiro da Companhia dos Anões. Além de diversos pratos da Terra-média, a página ainda permite que você mesmo possa enviar seus experimentos culinários, para que outros fãs da triologia possam se aventurar a preparar e também atribuir notas. Biscoitos do Bilbo, bolinhos dos anões, refogado de rins do Gollum, são apenas algumas das opções disponíveis.O Hobbit tem estréia prevista para dia 21 de dezembro no Brasil. http://apps.warnerbros.com/thehobbit/recipes/br/
Foto: Divulgação
B
em aventurados aqueles que creem que o mundo não vai acabar em uma data qualquer. Sabe-se lá quando o mundo vai acabar! Os maias profetizaram o fim do mundo, é o que alguns dizem por aí! A profecia e o povo maia, com sua astronomia avançada para época, previram que um “corpo celeste” passaria perto da Terra em uma data que coincide com 12 de dezembro de 2012 no calendário gregoriano. Alguns apostam que a data seria mesmo o fim do mundo. Outros acreditam que muitos morreriam e padeceriam por catástrofes naturais. A verdade é uma só, os maias estavam certos quanto ao “corpo celeste”. Um asteróide de grande magnitude (4,6 por 2,4 por 1,9 quilômetros) realmente passará muito perto da Terra no dia 12 de dezembro. Seu nome é Asteróide Toutatis 4179. A Nasa classifica este asteróide como um NEO (near earth object, ou, em português, “objeto perto da Terra”). Recentemente, em abril de 2012, a China desviou a rota da sonda espacial Chang’e 2, que realizava missão à lua, para ir de encontro ao asteróide. A própria NASA acompanha de perto este asteróide que tem órbita caótica e características anômalas de rotação. Não segue os padrões da maioria dos astros que se aproximam do planeta.
http://www.youtube.com/watch?v=gl2AO-7Vlzk
Foto: Divulgação
Pedro Hey
Descoberto em 1989 pelo cientista francês Christian Pollas, o Toutatis se aproxima da terra a cada quatro anos. Segundo a NASA, em 12 de dezembro de 2012, o asteróide fará seu mais íntimo encontro com a terra, estará a 0,043 AU, o que corresponde a pouco menos de 7 milhões de quilômetros – AU significa astronomic unit, em português “unidade astronômica”, medida que tem como base a distância existente entre a terra e o sol. A teoria da conspiração diria que a Nasa não tem capacidade de calcular com segurança a órbita do Toutatis, ou que omite informações sobre uma real ameaça de colisão. Conspirações à parte, talvez por ironia do destino, Pollas batizou o asteróide com o nome de um deus celta cultuado na Gália antiga, onde as histórias de Asterix se passavam. O valente gaulês dos quadrinhos evocava Toutatis para que “o céu não caísse sobre as cabeças”. Caro leitor, se você está lendo esta crônica neste momento, com certeza o céu não caiu sobre cabeças sejam lá quais forem e o mundo – ah o mundo vasto mundo - felizmente não acabou em 2012.
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MARCO ZERO
ENSAIO FOTOGRÁFICO Claudia Bilobran
Brilho e emoção N
esta época do ano, o centro da capital paranaense transforma-se em um grande palco, com o show do Palácio Avenida, papais noéis que encantam as crianças e vitrines repletas de presentes. Opções de diversão e compras para o final de ano é o que não faltam. É tempo de
festas, mas também de reflexões.
Número 25 – Dezembro de 2012