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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VI - NÚMERO 39 – CURITIBA, SETEMBRO/OUTUBRO DE 2014 Foto: Luiza Okoinski

pags 8 e 9

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Aplicativo para celular facilita a vida

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“Novas” opções para compras de roupa

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Uma ótica diferente do Museu Oscar Niemeyer


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Número 39 – setembro/outubro de 2014

OPINIÃO Racismo, o problema da impunidade

Ao Leitor Nesta edição do Marco Zero você terá o prazer de conhecer diversas histórias de nossa cidade e ainda poderá refletir sobre uma questão social alarmante: o racismom. De início apresentamos, na capa, uma matéria sobre uma das maiores feiras de Curitiba, a do Largo da Ordem, com todos seus detalhes históricos e gastronômicos. Em seguida saberá um pouco de como é a vida da escritora curitibana, Liamir Santos Hauer. O jor-

José Valdeci

O que vocâ acha do horário reservado à propaganda política no rádio e na televisão?

Lucimara Nascimento, vendedora

Equipe Marco Zero O Marco Zero Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

Foto: divulgação

nal traz ainda matérias sobre a Boca Malldita, as facilidades com os novos aplicativos para chamar um táxi e um belissímo ensaio fotográfico, trazendo uma visão diferente do Museu Oscar Niemeyer. Como novidade, a partir deste número estaremos publicando a seção “Ombudsman”, com análise feita pelos alunos do oitavo período sobre as matérias das edições anteriores.

Jose Valdeci

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proposta deste artigo é trazer à tona a realidade que muitas vezes está de forma camuflada, e ao mesmo tempo diante dos olhos de todos, que é o preconceito racial. O Brasil durante séculos tem sido “casa” de todas as raças, ou seja, pessoas de todas as partes do mundo estão inseridas no território nacional brasileiro. Cabe a cada cidadão exercer seus direito constituídos em lei, caso seja vítima de algum ato preconceituoso seja ele racial ou de qualquer aspecto. O problema da impunidade gerou uma “liberdade maligna”, ou seja, o homem não sabe conviver em sociedade sem denegrir a imagem alheia.

Sabendo que não lhe custará quase nada, muitos têm criado este hábito. Porém nestes últimos dias, atos de racismo têm vindo à tona através das mídias. Um caso recente ocorreu no Rio Grande do Sul, em uma partida de futebol, onde as câmeras flagraram a torcedora do Grêmio, Patrícia Moreira da Silva, de 23 anos, dizendo palavras racistas. Segundo ela, a “intenção” não era ofender o goleiro Aranha, do Santos futebol Clube, mas o caso foi parar na justiça. A nação brasileira, em sua maioria carrega, o peso da discriminação racial, fato este que, desde a escravatura, infelizmente tem se consolidado no meio social e até mesmo profissional, desqualificando a classe negra e parda. Pessoas que durante décadas e séculos convivem em meio

aos brancos, procurando a igualdade, o que é previsto na lei nº 12.288/102, e que segundo o artigo 1º, do Estatuto da Igualdade Racial tem por objetivo “combater a discriminação e as desigualdades raciais que atingem os afrobrasileiros”.

Como denunciar A vítima deve registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia e, em seguida, procurar um advogado para cuidar do processo. Mas não é obrigatório um advogado para poder dar entrada ao processo de discriminação racial. Se a discriminação ocorrer no ambiente de trabalho, a vítima pode procurar o Ministério Público do Trabalho. Se a discriminação não se referir especificamente a uma pessoa, pode procurar o Ministério Público do Estado.

OMBUSDMAN Silêncio rompido no cemitério Sérgio Araújo

U o r ê mio Sa ngu 18 p e

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Expediente

ma matéria escrita a seis mãos, bem elaborada, que aborda um tema pouco observado pelas pessoas. Me refiro à “Arte tumular”, assim chamada na reportagem, referindo-se às esculturas encontradas nos cemitérios de Curitiba. Um texto

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narrativo bem trabalhado, com detalhes e uma boa diagramação. As fotos ilustram muito bem e dão o ar de uma beleza fúnebre. Os únicos pontos negativos em relação às fotos seriam o abuso de imagens de divulgação, que poderiam muito bem ser produzidas pelos repórteres, e a foto que apresenta Gezuel Zeferino, comtemplando alguma escultura sem que o objeto fosse revelado

no angulamento. O recorte na foto retirou muito da informação dela. Muito embora a matéria utilizou duas fontes oficiais, elas foram acionadas muito pouco. O box casa com a matéria, agregando valor, trazendo informações curtas e interessantes. Contudo, a questão principal, a arte tumular, ficou, de certa forma, superficial. Poderia ser comentado sobre os escultores e trazer informações históricas.

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter

Diagramação: César Haisi

Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131

Coordenadora do Curso de Jornalismo: Nívea Canalli Bona

Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

80410-150 |Centro- Curitiba PR

Professor responsável: Roberto Nicolato

E-mail comunicacaosocial@grupouninter.com.br

Telefones 2102-3377 e 2102-3380.

“Acho desnecessário porque nada mais impacta pelo fato do cenário não mudar todo ano. É sempre a mesma coisa”.

Lucas Fernandes, estudante

“Acredito ser importante pelo fato de poder conhecer propostas e poder, através delas, tomar uma decisão sobre meu voto”.

Hénio Pacheco, estudante

“Não estou assistindo, nem ouvindo o horário político. Não acrescenta em nada à saúde e ao bem-estar social.” Pinceladas corretivas sobre a matéria do CJAP e outra errata. A matéria especial sobre o Centro Juvenil de Artes Plásticas, publicada na edição número 38 do Jornal Marco Zero, merece algumas correções. A começar pelo sobrenome da diretora do centro. O correto é Débora Russo e não Débora Bacche, como foi escrito no texto. A mesma matéria publicou que Guido Viaro nasceu na cidade de Vêneto, na Italia. Contudo, Vêneto é uma região e não um município. Há uma cidade chamada Vittorio Vêneto; mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. A informação de que Fernando Veloso e Fernando Calderari foram alunos de Guido Viaro procede. Porém, as aulas não foram ministradas no CJAP. À equipe do Centro Juvenil de Artes Plásticas, as nossas desculpas e o nosso agradecimento quanto à atenção concedida. Aos futuros jornalistas, ficam três lições: checar a informação, checar a informação e, por fim, quando julgar que não há mais dúvidas, checar a informação. Diferente do que foi publicado na página 6 e 7 da Edição 39 do Marco Zero , o nome correto da repórter da matéria “Cemitério Municipal, um museu a céu aberto” é Ana Cristhina Rocha e não Ana Cortes.


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PERFIL

A brincadeira que virou livro Escritora curitibana, que adorava brincar de circo quando criança, só se revelaria autora muitos anos mais tarde

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ma mulher com um humor indiscutível, figura vibrante e talentosa. Liamir Santos Hauer já nasceu sambando e desde então não parou de dançar, como a própria escritora descreve sua personalidade. Ela nasceu no dia 9 de fevereiro de 1923, em um sábado de carnaval. Aos cinco anos de idade foi para Paranaguá onde passou sua infância. Aos 15 anos se casou com o professor Ernani Santiago de Oliveira, advogado, ao lado de quem foi aperfeiçoando e desenvolvendo os seus conhecimentos intelectuais. Mais tarde, o marido entrou para política, recebendo todo o apoio de Liamir e, juntos, chegaram a representar a cidade de Curitiba como prefeito e primeira dama. Liamir já tinha 77 anos quando publicou seu primeiro livro “O Circo” no ano de 2000, em que relata as memórias de sua vida. O segundo livro publicado foi “O Circo Pegou Fogo”, em 2001, e narra histórias de famílias ilustres de Curitiba e fatos considerados escandalosos. Outras obras da escritora foram “Rescaldo” e “Pra lá de Marrakesh”. Liamir já foi homenageada com dois livros. Um, relatando suas histórias e experiências de vida, em “Mulher de Araucária”, de Paulo Wallbach Prestes, e o livro “Desafio à Memória: a cada foto, mil lembranças”, de Gehad Hajar, recentemente lançado. Liamir conta mais detalhes sobre sua trajetória de vida em entrevista concedida ao Marco Zero.

Como foi sua infância na cidade de Paranaguá? Eu era uma criança muito levada, puxei meu pai que também sempre foi muito esperto, muito vivo. Pois eu quando era pequena, com sete anos, inventei de fazer um circo dentro da nossa chácara, um circo que eu copiei do antigo irmãos Queirolos, que nossa família frequentava. Mas naquele tempo as crianças não tinham mesada, não era comum. Então para fazer o circo foi uma empreitada. Felizmente, um primo de minha mãe de longe tinha uma Ser-

Liamir Santos Hauer

raria em Paranaguá e eu lá arranjei tábuas e serragem para fazer o picadeiro e as bancadas e inaugurei o circo. Minha mãe era professora de escola normal do ginásio e não tinha tempo de ficar em casa. Como não tinha dinheiro para comprar as lonas para cobrir o circo, peguei os lençóis de casal dela,forramos o circo, arranjei pedaços de madeiras, vários sarrafos, estacas com os vizinhos e enterrava as estacas em volta para colocar os lençóis. Mamãe chegou um dia pra minha irmã, um pouco mais velha do que eu, e perguntou o que teria acontecido com os lençóis que só tinha um pouco na pilha, então minha irmã respondeu que a Liamir tinha feito um circo no quintal com os amiguinhos dela. Minha mãe não percebeu que eu tinha montado um circo, pois mal tinha tempo para ficar em casa. Meu pai era muito bravo, já ia tirando a cinta da cintura para me bater e mamãe dizia: não faça isso, ela está brincando, uma brincadeira sadia com todos os amiguinhos se divertindo aqui dentro sem precisar sair de casa. Papai como ouvia muito minha mãe, colocou a cinta novamente no lugar e não se falou mais no assunto.

Desde pequena tinha o sonho de ser escritora e trabalhar com a literatura? Desde pequeninha eu que escrevia as cartas para mamãe. Como ela não tinha tempo, então eu, com sete anos, escrevia todas as correspondências para a família inteira que morava fora. Eu tenho uma cartinha que escrevi para vovó quando meu pai foi para São Paulo junto com o batalhão na revolução de 1930, acompanhado de João Pessoa. Mamãe tinha uma competência, muito culta, cheia de livros escritos queria entrar na Academia Paranaense de Cultura que era dos homens. Mas como era mulher, não deixaram ela entrar. Mais tarde a convidaram para participar, e como era muito difícil entrar mulher foi então que ela fundou a Academia Feminina de Cultura Paranaense. Mamãe entrou e foi escolhendo as mulheres que tinham mérito para fazer parte também. Nessa época eu já era adulta e tinha muita coisa escrita, mamãe queria que eu fosse para a academia, mas a condição era ter escrito um livro. Eu tinha muita coisa escrita, cartas, contos, viagens que eu

Foto: Adriele Matos

Foto: Adriele Matos

Adriele Matos

No quadro, Liamir pintada pelo italiano Gaetani

fazia e escrevia mas nada publicado. Então mamãe acabou falecendo com esse desgosto porque não pode me pôr na academia que ela fundou. Depois que ela e meu marido morreram eu entrei em uma depressão e me pus a escrever sem parar. Tenho impressão que o espírito de minha mãe lá em cima me pressionou para isso. Ela tinha uma mente maravilhosa e com o poder positivo sobre mim eu me sentei sobre uma mesa e não parei de escrever.

Onde conheceu seu primeiro marido? Eu era aluna dele. Na sala de aula eu alvoroçava a turma e ele costumava a me dizer brincando que como bom diretor e professor ele tinha que me retirar da sala de aula. E assim ele acabou se apaixonando por mim. Ele era um homem sempre correto, trabalhava em jornal, vivido. Quando me conheceu ele já tinha mais de 20 e eu uma moleca ainda de 15 anos. Quis ficar comigo porque eu era pura e mesmo assim mais tarde ele próprio me disse que sua intenção era me lapidar do jeito dele.

Como foi sua vida no momento em que era esposa e primeira dama? Minha vida com o meu marido na política, ele como o prefeito e eu como primeira dama,era muito agitada. Qualquer evento da cidade nos convidavam, então era corta fita aqui, corta fita ali, em inaugurações...

Quando escreveu o livro “O Circo” onde narra alguns fatos escandalosos, antes de publicar pensou ao menos uma vez em desistir? Não, eu não sou de desistir. Neste ponto sou um pouco irresponsável, porque quando meto alguma coisa na cabeça eu vou em frente e atravesso todos os tropeços que tiver pela frente. Parece que me desperta mais emoção.

Você parou de escrever? Comigo as coisas acontecem sem esperar, mas não posso dizer que nunca mais voltarei a escrever. Como tenho muitos amigos que possam querer escrever sobre fatos que vivenciei eu satisfaço as perguntas, para mim é uma honra.


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CIDADE

Táxi pelo celular em Curitiba Aplicativos oferecem tranquilidade aos passageiros e são vantajosos para os taxistas

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gora, ficou mais fácil chamar um táxi em Curitiba. Os aplicativos de celulares melhoram a vida dos consumidores. Além de representar maior comodidade, eles mostram ao passageiro exatamente a localização do veículo. Ainda tem mais: solicitações feitas pelos aplicativos disponíveis no mercado são atendidas mais rapidamente do queas feitas pelas centrais tradicionais de rádio táxis. Os aplicativos podem ser instalados em duas plataformas: nos modelos Smartphone e Android. De acordo com o Google Play, três deles (99Taxis, Easy Taxi e Taxijá) são os mais populares na loja online. É uma ferramenta que está ganhando adeptos e muito utilizada pelos passageiros no centro da cidade. Com grande aumento dessa demanda entre os usuários, algumas rádios táxis (cooperativas) já estão adquirindo o serviço no mercado, para beneficiar a vida do próprio passageiro e dos taxistas.

al que é credenciado, e as pessoas mais antigas continuam usando o Ligue Táxi porque já estão acostumadas,” comenta Jackson. Para Silva, essa nova tecnologia é uma tendência de comodidade e rapidez. “Daqui a um ano ou até menos, não vai ter mais ninguém dando sinais nas ruas ou pessoas usando o Ligue Táxi. Todos vão utilizar o aplicativo que é fácil de ser manuseado,” disse. O taxista afirmou que até sua empresa (cooperativa) já adquiriu essa ferramenta.

Fotos: Rafael Silverio

Rafael Silverio

A maioria dos taxistas no centro está dando preferência para as chamadas feitas pelos aplicativos, para depois atender as cooperativas (rádio táxi). “Estou sempre atento nos aplicativos. Se a central não me chama, sempre algum aplicativo tem um serviço para mim e acabo dando preferência,” diz o taxista Jackson da Silva, de 43 anos.

Com os aplicativos para chamar táxi minha Passageiro satisfeito renda cresceu ” Uma das grandes vantagens do Jackson da Silva

Silva disse que é taxista há 15 anos em Curitiba e que sempre trabalhou só com os chamados das rádios táxis. Ele conta que depois da invenção dos aplicativos, trabalha com os três principais: 99taxis, Easy Taxi e Taxijá, o que fez a sua renda mensal aumentar. “As corrida aumentaram muito, hoje faço em torno de 15 a 20 ao dia. Observei meus passageiros que utilizam os aplicativos e, na maioria, são pessoas de 25 a 40 anos. O pesso-

serviço é a rapidez. Dependendo da localização, pode ser em menos de cinco ou 10 minutos, por conta do sistema via GPS, dizem os passageiros. O vendedor Lucas Brun, 33 anos, começou a usar o aplicativo há dois meses. “Com esse sistema eu não preciso sair na rua procurando um táxi. Se eu quiser um, é só clicar. O serviço das rádios táxi (cooperativas) é muito lento, tem poucos carros na cidade. Pelo aplicativo eu consigo ver a placa do automóvel, modelo e até mesmo o motorista,” comenta.

Jackson da Silva: só esperando o aplicativo chamar para a próxima corrida

Cooperativas não autorizam o serviço

Ponto de táxi tradicional no centro de Curitiba

Os taxistas que são conveniados com determinadas cooperativas têm um aplicativo específico via internet. “Com esse aplicativo podemos monitorar todos os 220 veículos da frota que são cadastrados conosco. Podemos saber qual é a localização do taxista, quanto tempo leva até chegar ao passageiro, se a solicitação é feita

por telefone residencial, via celular ou até mesmo pelo orelhão e quanto tempo o taxista leva até o destino final do passageiro,” afirma Eliane Ribeiro, atendente da rádio táxi Capital. Alguns taxistas do centro da capital paranaense não poderão adquirir o serviço que o aplicativo disponibiliza. “Trabalho há cinco anos em Curitiba das 17h

às 5h da manhã. A empresa (cooperativa) que sou conveniado não autoriza o uso do aplicativo, pois a rádio táxi usa um sistema via internet, que é chamado de frequência de faixa vermelha, um serviço monitorado pela própria cooperativa”, comenta o taxista Adriano Jaslkusen, de 30 anos.

Lucas Brun: o aplicativo traz mais comodidade e rapidez


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CIDADANIA

As cores do preconceito no século XXI A homofobia gera muitos danos, não apenas físicos, mas principalmente psicológicos Alice Gonçalves

Luiz Nascimento

Nas redes sociais é comum encontrar cidadãos conscientes quando o assunto é relações homossexuais. Porém, no mundo off-line as coisas não funcionam dessa maneira. “As redes sociais expressam o que, muitas vezes, não pensam, pois falar é de grande facilidade, porém agir ou mesmo sentir na pele o que é preconceito, é bem difícil. E para que o mundo melhore em relação aos homossexuais primeiramente é necessário que as pessoas busquem entendê-los, antes de formarem uma opinião errada sobre o assunto”, destaca o bancário Jhefferson Noel Rodrigues. A afirmação de Noel Rodrigues pode ser constatada nas estatísticas. A homofobia vem crescendo a cada ano no Brasil e segundo o mais recente relatório sobre violência homofóbica no Brasil e disponibilizado pelo poder público federal. O número de casos aumentou de 6.809 em 2011 para 9.982, em 2012, com um aumento de 46,6%. Os números divulgados já são alarmantes, porém o próprio poder público federal destaca que a quantidade de casos, que não chegam ao conhecimento da polícia, é muito maior do que os reportados. Segundo a psicóloga Karlesy Stamm Batista, a homofobia acarreta várias consequências de curto, médio e longo prazo para o indivíduo que é exposto a esta atitude discriminatória, como o rebaixamento da autoestima, ideação suicida, automutilação, negação de si mesmo, baixo rendimento escolar e no trabalho, além do abuso de álcool e drogas, entre outros. Dessa forma, a psicologia exerce um papel de extrema importância no auxílio ao combate da violência homofóbica. O primeiro passo é através da divulgação de informações sobre as consequências da homofobia, atividade que o Conselho Federal de Psicologia tem realizado nos últimos anos. Uma outra maneira fica na responsabilidade do psicólogo levar esse assunto às escolas, empresas

e organizações em que atuam. E uma terceira ação é o atendimento daqueles indivíduos que possuem traumas. A discriminação pode gerar muitos danos e, na maioria dos casos, vem primeiramente por parte da família, o que pode gerar traumas maiores do que as agressões por pessoas desconhecidas.“A violência intrafamiliar é sempre mais intensa, afinal surge de um local afetivo em que a pessoa geralmente espera acolhimento, cuidado e respeito”, afirma a psicóloga. Segundo o bancário Jhefferson Noel Rodrigues, a agressão verbal machuca tanto quanto a agressão física e relembra a reação da família quando contou da sua relação amorosa com outro garoto. “A primeira reação da minha família foi querer me matar e, consequentemente, me comparar com os parentes, não acreditando que eu seria o único gay da família. Atualmente eles respeitam, porém, não aceitam”, conta. Desse modo, a psicologia desempenha um papel não só no auxílio da reconstrução social da vítima, mas também possui a característica do acolhimento. “Os psicólogos podem ajudar através do atendimento humanizado, acolhedor, procurando não julgar ou questionar sua orientação sexual, como sendo culpa da violência. A dor não existe no fato da pessoa ser homossexual, mas sim por existir e ser foco de agressão e desrespeito de uma sociedade preconceituosa”, destaca a psicóloga.

Apoio das entidades Além da psicologia, há várias entidades que visam garantir a cidadania e o auxílio aos homossexuais, como a ALGBT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) criada em 1995, com objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade democrática, na qual nenhuma pessoa seja submetida a quaisquer formas de discriminação, coerção e violência, em razão de suas orientações sexuais e identidades de gênero. A associação nacional teve iniciou com o apoio de 31 grupos fundadores e atualmente conta com aproximadamente 308 organizações filiadas, tornando-se, dessa forma, a maior rede LGBT da América Latina. Entre as prioridades da associação está o monitoramento da

implementação das decisões da I Conferência Nacional LGBT e do Programa Brasil Sem Homofobia; o combate à homofobia nas escolas e à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis; a promoção de oportunidades de trabalho e previdência para travestis e a capacitação em projetos culturais LGBT. SegundoToni Reis, professor e um dos fundadores da associação, a formação da ABGLT, em 1995, representou um marco importante na história do movimento LGBT brasileiro, pois possibilitou a criação da primeira instância de abrangência nacional de representação com capacidade e legitimidade para levar as reivindicações do segmento até o governo federal, o que até então havia sido impossível. Toni Reis disse que em 1997, a ABGLT tomou a decisão de incentivar a realização de Paradas LGBT, começando nas maiores cidades e isto resultou na visibilidade de uma população antes oculta. “A associação também participou ativamente da formulação do Programa Brasil Sem Homofobia, lançado em 2004, que foi um marco em termos de políticas públicas afirmativas para a população LGBT e com certeza contribuiu para provocar mudanças sociais favoráveis a este público”, conta. Essas associações voltadas ao público LGBT, organizam eventos, paradas e cursos junto ao governo federal, que firmou termos de cooperação técnica com as secretarias Estaduais de Segurança Pública para a articulação e implementação de políticas de enfrentamento à homofobia no Brasil, e que buscam democratizar e garantir os direitos homossexuais. Porém, segundo Toni Reis, a maior dificuldade ainda é a intolerância, seja religiosa ou por preconceito. “Muitas pessoas homossexuais sofrem processos de exclusão, seja da família, da escola ou do mercado de trabalho, por exemplo, pelo mero fato de terem uma sexualidade diversa da convencionalmente aceita. A sexualidade da pessoa não é uma escolha, ninguém escolheria à toa ser alvo de preconceito e discriminação. É preciso criar uma cultura de respeito à diversidade humana e à diversidade sexual, rumo a uma sociedade mais harmoniosa e de paz”, salienta.

Foto: divulgação

Casal homossexual: pecado é ser infeliz e não aproveitar sua vida

O que é ter um filho homossexual? ‘‘Eu tenho um filho que é para mim o maior e melhor presente que a vida me deu. O fato dele ser homossexual ao meu ver é apenas uma opção de amar uma pessoa do mesmo sexo e não muda em nada o que sinto por ele. Eu o amo incondicionalmente e respeito a sua opção, o que importa para mim é que meu filho é um ser iluminado e capaz de amar” Ivete Carvalho “Me senti triste e com raiva quando soube de sua opção. E nem todos da minha família aceitam. Meu marido é o principal e, segundo ele, isso jamais será aceitável. Mas para mim meu filho é tudo e eu o amo acima de qualquer coisa”. Suzane Rodrigues


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ESPECIAL

Uma viagem pelo mundo

Faça chuva ou faça sol, a Feira do Largo da Ordem é um lugar idea

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ara quem passa pelo Centro Histórico de Curitiba pela manhã de segunda-feira e vê as ruas tranquilas e sem movimento, fica até difícil imaginar o cenário que encontraria se ali estivesse 24 horas antes. Arte, cultura, gastronomia, música, pessoas de todas as idades, com diferentes sotaques caminhando tranquilamente - ou não - pela região. A movimentada feirinha que acontece no Largo da Ordem todos os domingos reúne milhares de pessoas que passeiam entre as barracas apreciando a grande variedade de produtos e artesanatos à venda, além de diferentes intervenções artísticas e culturais. Um dos grandes atrativos da feira é, também, sem dúvida, a diversa gastronomia. Há opções para todos os gostos e uma breve olhada ao redor já mostra que é possível viajar pelo Brasil e pelo mundo por meio da culinária do local. Desde o tradicional pastel, até o mais exótico - pelo menos para os paranaenses – acarajé, o visitante pode se deliciar com a batata suíça, piadina italiana, empanadas bolivianas e argentinas, pierogi polonês, além dos tacos e burritos mexicanos, biscoitos gregos e muito mais. Quem já se acostumou com o ritmo frenético da feira é o comerciante Maurício do Vale, que há seis anos vende caldo de cana todos os domingos. Ele conta que o movimento de pessoas varia bastante conforme o clima de Curitiba. Ou seja, como a maioria dos eventos ao ar livre, se o sol resolve aparecer, o público também dá as caras. Se o dia é um daqueles típicos curitibanos, com frio e garoa, é seguro dizer que tudo será bem mais calmo. “Primeiro foi curiosidade, mas depois gostei e acabei ficando”, conta Maurício sobre como foi parar no Largo da Ordem com seu carrinho de caldo de cana. Seja como for, hoje já conquistou seus clientes fiéis, que lá estão todos os finais de semana. E é por essa razão que nossa conversa precisa acabar, pois a fila já está se formando. Um domingo ensolarado na capital paranaense faz com que muitas pessoas visitem a feirinha. Com uma volta rápida pelo Largo, podemos observar como as barracas de alimentação ganham destaque. Independente da hora,

Visitantes aproveitam o domingo de sol na feira

as filas não diminuem. Comer um bom pastel não tem hora e nem lugar. As pessoas se sentem à vontade para apreciar a boa comida, a maioria em pé mesmo. Para os visitantes do local, a gastronomia é fundamental. Muitas pessoas vem exclusivamente com a intenção de experimentar suas comidas típicas. Andando um pouco mais encontramos Neumari, que veio de Foz do Iguaçu para visitar parentes em Curitiba e a Feira do Largo foi o passeio escolhido para o domingo. “É a primeira vez que venho à feira. Cheguei agora a pouco”, conta ela, enquanto espera seu lanche na barraca das Empanadas Argentinas. “Lá em Foz também tem feira, mas não é tão grande que nem a de Curitiba. Elas

têm o mesmo perfil, com venda de alimentos e artesanatos, mas é menor, bem menor que essa aqui”, revela a turista. Quando se fala em gastronomia da feira, uma das barracas mais conhecidas é a Érika Bolachas, que vende biscoitos artesanais que seguem a tradição alemã. Lá somos atendidos por Vânia, que nos fala sobre seu serviço com bastante simpatia. “Estamos aqui desde que a feira começou. Se não me engano há trinta e poucos anos... mas nessa época não era eu quem trabalhava ainda”, sorri a comerciante. Pode ser que Vânia não tenha participado desde o início, mas agora estar na feira já faz parte de sua rotina. “A gente acostuma e, quando não vem, sente falta de ver

gente diferente, que vem de fora, de outros estados”, comenta. Mas os curitibanos também são presença confirmada. Vânia conta que a maior clientela é da capital paranaense, que já conhece suas bolachas, seja da própria feira ou da confeitaria Érika que fica situada no Bosque Alemão. “Agora que os turistas estão conhecendo. Muitos vêm pra Curitiba em congressos e levam para a família. Tem muito turista atualmente em Curitiba, né? Então todos vêm na feirinha. Pode ver que está sempre cheia!”, observa apontando para o mar de pessoas que transita pelos corredores estreitos entre as barracas. Quando perguntamos se a receita das famosas bolachas é secreta, ela

acha graça, mas não nega: “Eu acho que é hein, porque ela não dá curso, não dá nada...”. Ela, é claro, se trata de Érika, que dá nome à banca, mas que naquele dia não está lá para confirmar nossa teoria misteriosa. E por falar em biscoitos, também tem a barraquinha do Seu Pedro. Pedro Dias Neto é um feirante que há dois anos e meio expõe seus produtos alimentícios tipicamente gregos, incluindo biscoitos e doces. Honrando sua descendência, Pedro diz que suas receitas são tradicionais. Relata também que seu público alvo são os próprios curitibanos e, dentre esses, admite ter clientes fiéis que frequentam sua barraca todo o domingo. Ele nos contou ainda que vende seus biscoitos por encomenda para eventos, como casamentos e batizados.


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o gastronômico

al para quem procura variedades

Mendes Foto: Tamyres Barbosa

Foto: Luana Mendes

Foto: Luana Mendes

Empanada bolivianas é um dos atrativos gastronômicos

Clientes compram biscoitos gregos

A feira A Feira do Largo da Ordem, localizada no centro de Curitiba, recebe milhares de pessoas que visitam o espaço multicultural todos os domingos. Uma feira composta com mais de mil barracas, que oferecem diversos produtos, desde artesanato, até objetos para decoração, pinturas, bijuterias, acessórios, roupas e livros. A feira começa às 9h e termina às 14h. O melhor horário para o passeio em dia de sol é antes das 11h, pois com quase 20 mil pessoas (dados da prefeitura de Curitiba) passeando pelo Largo, fica difícil parar em todas as barracas.

A feira do Largo da Ordem é mesmo uma grande mistura de nacionalidades. Perto de alguns músicos tocando um samba mais que brasileiro, está localizada a colorida e enfeitada barraca de comida mexicana. Entre tacos e burritos, somos direcionadas por um dos atendentes até a dona da banca. Pergunto seu nome e a resposta para uma pergunta aparentemente simples é um pouco mais complicada do que esperávamos. “Elena Margarita de la Caridad Alfiero Gallegos”, responde ela rapidamente com um sotaque carregado e um sorriso de quem sabe que acabou de propor um desafio linguístico. Elena veio do México para Curitiba há 26 anos e há 25 vende seus quitutes típicos na Feira do Largo da Ordem. Quando perguntamos o motivo da vinda para cá, a resposta

A feirinha nasceu nas Praças Zacarias e Tiradentes, e foi fundada pelo movimento hippie. Após um tempo, ela se mudou para frente da Igreja do Rosário. Nos anos 70, a feira tinha como atividade principal o escambo e a venda de objetos de segunda mão. De feira hippie à popular, hoje a fila de espera para expor na feira é grande e um dos critérios de seleção é o diferencial dos produtos que se deseja oferecer. A feira do Largo da Ordem é administrada pelo Instituto Municipal de Turismo. Para quem quiser mais informações, o telefone é (41) 3250-7741.

é simples e objetiva, mas cheia de significado: “Porque conheci o pai da minha filha”. Além da feira no domingo, os lanches mexicanos também são vendidos em outras feiras gastronômicas da cidade. “Na quarta, no Bacacheri; sexta na Praça da Ucrânia; sábado no Batel; e domingo aqui”; Elena descreve sua agenda cheia. Ao perguntar se às vezes recebem turistas mexicanos, ela dá um sorriso orgulhoso e responde: “Sim, e acham aqui um oásis!”. De fato, um oásis mexicano em Curitiba. Com seus pratos bem feitos e bom atendimento, Elena e seus ajudantes conquistam os consumidores. A conversa foi boa, mas é claro que ao fim da entrevista, precisamos pedir pra

ela repetir o seu nome completo. Dessa vez, devagar e soletrando. Percebemos que a cada minuto, as ruelas ficavam mais lotadas, impossibilitando a parada em cada barraca. Mesmo com a superlotação do ambiente, as pessoas não desanimam e aproveitam o dia de feira. Conversamos com Eunice e Anderson, um casal que esperava na fila para comprar um pastel. Anderson conta que adora o passeio e admite que visita mais a feirinha do que sua mulher. Já Eunice diz que frequenta o local por sua variedade. “Tem artesanatos maravilhosos. Hoje, por exemplo, eu vim por um artesanato, que eu vou sair daqui agora e ir lá comprar. Exclusivamente eu vim por causa do artesanato, mas aí apro-

Gindri

Luana veito para fazer o café da manhã, lógico”, fala com água na boca. Perguntamos se o casal tem alguma barraca favorita para comer e Anderson declara que não consegue escolher qual prefere: “Não tem uma só... Então cada final de semana tem um gosto diferente! Hoje vou comer um pastel e tomar um suco. Aqui na feira tem muita variedade e é muito bom”.

De volta ao Largo

Preparação das batatas suíças

Clarissa

Para que pudéssemos experimentar e entender a fundo como funciona a feira, fomos até ela em mais um domingo. Dessa vez em um dia clássico curitibano, abaixo de uma forte garoa, que mesmo assim não impediu a clientela de comparecer às barraquinhas. As filas continuavam a se formar, agora dividindo espaço com guarda-chuvas e capas de proteção. A agilidade para atender a todos os clientes é facilmente notada em todas as bancas. Na barraquinha de piadinhas - um lanche italiano feito com uma massa fina que lembra a usada em panquecas, e várias opções de recheio - aguardamos alguns bons minutos para tomarmos a palavra com a feirante dona do espaço. Para que hoje tivesse o grande fluxo de consumidores de seu produto, Mariane Loureiro, 35, conta que levou cerca de um ano até conseguir acertar a consistência da massa de suas piadinas. Com uma boa experiência na área, Mariane morou por um ano na Itália onde desenvolveu suas habilidades na cozinha antes de instalar seu espaço na feira. Entre os sabores mais procurados está o de rosbife, que faz uma perfeita combinação com a leveza típica da massa da piadina. Ao total, são doze sabores diferentes. Aos que preferem variar, as piadinas também podem receber adicionais como queijo cheddar, requeijão cremoso e azeitonas. O prato pode ser comprado no tamanho médio, a partir de R$ 11, ou grande que custa a partir de R$ 14. A estudante Thais Trzaskos, 16, optou pela piadina com recheio de calabresa e adicional de cheddar e azeitonas. “Eu nunca tinha experimentado e achei muito bom, porque ela é bem leve. O sabor da piadina não incomoda, ele é bem neutro”. Thais ainda falou da higiene que ela encontrou nas barraquinhas: “Não fiquei com

Tamyres Barbosa

receio nenhum em comer aqui. É a primeira vez que venho e vi todo mundo trabalhando de luva e touca. Percebi que eles dão muita atenção a isso”. Para que possam comercializar na feira do Largo da Ordem os feirantes precisam passam por um trâmite de cadastramento e regularização de suas barracas feitos junto à Prefeitura de Curitiba. Dessa forma, garantem a confiança de seus clientes, como aconteceu com a Thais. Outra opção muito procurada na feira é a banca da batata suíça, que visitamos e resolvemos lanchar neste segundo dia. Foi fácil perceber como as pessoas escolhem esta opção para ser o almoço, já que o prato sustenta bastante. Nela é possível escolher por sabores mais calóricos, como o recheio de queijo e bacon ou por uma opção mais light, a de recheio vegetariano feito com mussarela, brócolis, cenoura e palmito, por exemplo. Ambas foram nossas opções para o lanche que, por sinal, aprovamos. Logo que se faz o pedido da batata, ela é preparada e levada ao fogo por uns 15 minutos, tempo que aproveitamos para pedir uma legítima limonada suíça. O prato tem cerca 10 cm de diâmetro e custa a partir de R$ 10. A batata suíça com recheio vegetariano sai no valor de R$ 11, pois é uma versão especial da iguaria. Na onda da diversidade cultural e gastronômica da feira, existem ainda as empanadas bolivianas, servidas em diferentes sabores. Conversamos com Victor Soares, 19, que saboreava as empanadas e descreveu o quitute: “Ela é diferente das empanadas que estamos acostumados a comer em lanchonetes aqui. Normalmente o frango é mais seco e esta é mais recheada, tem batata e ervilha no meio”. Cada empanada sai no valor de R$ 6. Para aqueles que possuem intolerância ao glúten, encontra-se a barraquinha de acarajé e tapioca, que também é servida em diferentes sabores, doces ou salgadas.


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ESPECIAL

Uma Boca com muita história A Boca Maldita, no centro da capital paranaense, é marcada por grandes manifestações, que

Estruturas que fizeram e fazem parte da da Boca Há 58 anos nascia um espaço de discussões, bate papo e lazer. Delimitação imaginária que foi palco de acontecimentos importantes para o Brasil, personagens lendários e estruturas históricas. Naquela época, Curitiba não contava com o famoso calçadão central que conhecemos, porém alguns dos locais permanecem intactos até hoje. É o caso do Edifício Moreira Garcez, o primeiro arranha-céu da capital paranaense, construído em 1929 e que hoje é a locação de um dos campus do Grupo Uninter. Outro exemplo é o Palácio Avenida, também construído em 1929, onde atualmente é o banco HSBC. Também tem o Edifício Tijucas, inaugurado em 1958, que conta com apartamentos resi-

denciais e estabelecimentos comerciais, localizado estrategicamente no coração da Boca Maldita. Outras estruturas importantes para a história da Boca são os cafés. Isso mesmo, no plural. Um era o tradicional Café da Boca, ponto de encontro dos cavalheiros e o outro é o Café Avenida que existe até hoje. Nesses dois estabelecimentos e ao redor deles aconteceram e acontecem eventos e visitas marcantes para a história política do Brasil. Getúlio Vargas e Diretas já, ouviu falar? Pois é, segundo o cavalheiro Lineu Tomass, o presidente Vargas foi um dos personagens marcantes do local. Foi da sacada do Braz Hotel, hoje Hotel Slaviero, que Vargas fez seu discurso para milhares de pessoas que estavam reunidas para ouvir suas propostas. Este comício desafiou a ditadura militar, pois foi no dia 13 de dezembro, aniversário da Boca Maldita, que foi constituído o AI5 (Ato Institucional 5) que proibia a reunião de povo nas ruas. Um relato de Anfrísio Siqueira diz que até quiseram acabar com a Boca Maldita, porque achavam que aquele local era lugar de boatos e conversas contra o Governo. Enfim, após o grande comício, Vargas foi eleito e governou o país de 1951 até 1954. Ah, tem as Diretas Já. Foi em janeiro de 1984, na Boca Maldita que aconteceu o primeiro comício das Diretas Já. Mais de 50 mil pessoas que juntas começaram a definir os novos rumos da política brasileira. Para Chacon o evento que mais marcou na Boca Maldita foi o Impeachment. Quando “os caras pintadas” gritavam em coro: “Fora Collor!” Houve também a época dos showmícios, quando os cantores vinham para promover algum candidato político e reunia em torno de 15 mil pessoas no local. Ele lembra que num desses eventos se apresentaram os cantores sertanejos Leandro e Leonardo. Segundo Chacon a Boca ficou lotada de ponta a ponta. “Parecia um tapete. Coisa mais linda do mundo” recorda. Outro evento marcante para o Chacon é a apresentação do Coral do banco HSBC, no qual crianças carentes cantam hinos de Natal nas janelas do prédio do Palácio Avenida. Evento que já está no calendário internacional. E segundo ele não tem comparação o número de pessoas reunidas para assistir um evento na Boca. Nem o evento das Diretas Já superou tamanha concentração de pessoas na Boca Maldita.

Foto: arquivo pessoal

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ma das versões para a definição de seu nome é que quando um grupo de amigos (mais tarde denominados como Cavalheiros da Boca) se reunia no Café Guairacá, na Luiz Xavier, onde havia um bueiro que exalava um cheiro desagradável. Logo um deles, o professor Abrão Fuchs, disse: “Vamos sair de perto dessa “boca maldita”. Daí o nome. Outro motivo, segundo Chacon Júnior, morador do Edifício Tijucas, localizado ao lado do Café Avenida no calçadão da XV e frequentador da Boca, é que as mulheres não podiam passar que os “camaradas” mexiam com elas. Então certa vez teve uma que passou e disse: “Aqui é uma boca maldita, a gente não pode passar.” Ainda segundo Chacon, existe uma terceira versão: as pessoas falam que é porque só tinha fofoca. Mas a Boca é também, segundo o autor do livro reportagem Boca Maldita de Curitiba, Lineu Tomass, o palco, a passarela de todos os acontecimentos importantes de Curitiba. Ele diz que se você quiser fazer um evento de qualquer tipo na cidade, se você não fizer na Boca Maldita ele não existe. Já para Chacon, a Boca Maldita é uma enciclopédia, um centro de informações. “O que você precisar perguntar, um médico, um endereço, qualquer coisa a gente está aí”, fala com orgulho o morador do Tijucas. E ainda acrescenta: “Todo mundo sabe, todo mundo informa. Você chegou, o que você precisar a gente atende”.

Os símbolos da Boca

Diretas já (1983), com a participação do ex-prefeito Maurício Fruet

Quem conhece a capital do Paraná, sabe que o relógio localizado no início da na Avenida Luiz Xavier, próximo a praça Osório é um marco. Mas ele nem sempre esteve ali. Naquele local existia um coreto, onde aconteciam apresentações musicais e culturais. Em foto encontrada no Portal Gazeta do Povo, a legenda que acompanha a imagem do

coreto é a seguinte “Greca retirou o coreto construído por Maurício Fruet e colocou em seu lugar o relógio da Praça Osório, em janeiro de 1993”. Rafael Greca era o prefeito de Curitiba naquela época e a legenda foi escrita por Cid Destefani, escritor da coluna Nostalgia do Jornal Gazeta do Povo. Toda história tem marcas e com a Boca Maldita não é diferen-

Gilda, a beijoqueira escandalosa

festividades. No entanto não eram todos que se agradavam com sua presença, pois não era apenas um personagem de rua, quebrando estigmas, mas sim uma pedra de tropeço para sociedade curitibana da época, preconceituosa, recatada e provinciana. A lendária Gilda é lembrada pelo Jornalista Valdir Cruz, no comício das “Diretas Já” passando a mão na bunda do então candidato Lula, em 1989. A beijoqueira tentou participar do famoso bloco carnavalesco “Banda da Polaca”, qual trazia belas jovens nuas sambando e não aceitava travesti. Morreu em 1983 aos 32 anos, dê maneira misteriosa em um casarão localizado na Rua Desembargador Motta.

A boca maldita foi palco de Gilda Beijoqueira, um travesti egocêntrico conhecido pela sua irreverência e alegria. Gilda era um personagem de Rubens Aparecido Rinke: Um mendigo Barbudo, desdentado, que desfilava com vestidos chamativos e maquiagem escandalosa. Na rua irritou muita gente, a beijoqueira ameaçava lascar um beijo em quem não lhe desse algumas moedas, daí o apelido. O carnaval era o momento em que Gilda se soltava mais, inclusive muitas pessoas aguardavam sua aparição durante as

te. Várias placas de referência histórica e símbolos comprovam isso. Uma das placas denuncia que a Boca Maldita é uma tribuna livre, porém machista. O símbolo principal que a representa são as pedras feitas pelo arquiteto Abrão Assads e o escultor Elvo Benito Damo, elas estão localizadas na frente da Galeria Tijucas no calçadão.

Gilda Beijoqueira


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para contar

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Alessandra

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Ferreira

Marques

Okoinski

incluem o primeiro movimento no Brasil a favor das “Diretas já”

Personagem da boca

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Boca Maldita até hoje é um espaço cultural. Nos arredores do Café Avenida acontecem apresentações musicais e teatrais, ações sociais, movimentos políticos, shows e debates. Dentre os vários personagens conhecidos da Boca Maldita podemos citar Chacon Junior e Gilda Beijoqueira. Luiz Carlos Chacon de Oliveira ou simplesmente Chacon Júnior nasceu em Mallet (Paraná), no dia 13 de Julho de 1941. Passou a infância próximo às estações de trem, pois seu pai era agente de estação. E uma das cenas vividas por lá que ele guarda na memória foi na Estação General Dutra, quando ele viu o trem passar com os soldados que voltavam da Segunda Guerra Mundial. “De dentro do vagão soltavam bombinhas e gritavam: Acabou a Guerra! Acabou a Guerra!”, relembra. Chegou em Curitiba em 1959 e morou por pouco tempo no teatro de bolso na Praça Rui Barsosa. É jornalista, funcionário público aposentado e ator. Casado e pai de uma filha. A família mora no Edifício Tijucas, ali na Boca Maldita, há 44 anos. Ele fez teatro, cinema

Roberto Carlos e seu sósia Chacon

Foto: divulgação

e televisão. Trabalhou no programa Praça da Alegria na época apresentado por Manoel de Nóbrega. As cenas eram gravadas em Curitiba, no Colégio Santa Maria e Chacon contracenava com o humorista Rogério Cardoso. Chacon é uma das figuras marcantes da Boca Maldita e não é à toa. Ele é o sósia do “rei” da música

popular brasileira Roberto Carlos. Percebeu a semelhança em 1973 quando na cidade de Telêmaco Borba (interior do Paraná) estava na casa de um amigo médico. “Estávamos tomando café e a esposa dele pediu para que eu passasse a manteiga. Naquele momento ela me perguntou se eu já havia reparado como era parecido com o Roberto”,

Lineu Tomass: livro fala sobre o reduto da democracia

Escultura perdeu os “dentes” para não oferecer riscos aos transeuntes Foto: divulgação

relata. Ainda no mesmo final de semana o senhor que cuidava do teleférico, o qual Chacon foi utilizar para atravessar a cidade disse que ele tinha um jeito de artista. E que lembrava o Roberto Carlos. Então estava confirmada a semelhança. A partir daí Chacon começou a cuidar do visual e iniciou sua carreira como dublador do artista.

Participou de programas de TV do Mario Vendramel e Roberto Hinça imitando seu ídolo. Se apresentou em parques e até na Penitenciária do AHÚ. Mais tarde Chacon se encontrou pessoalmente com o “rei”. “Eu não me recordo exatamente o ano, faz muito tempo”, diz o sósia. O encontro foi durante um show do cantor em Curitiba. Ele esperou por horas na frente do hotel para tentar conversar com Roberto. O que ajudou foi Chacon ser conhecido da imprensa na cidade. “Entrei junto na hora da entrevista e fui recebido com muito carinho por ele”, ressalta. Depois deste dia os encontros foram mais fáceis. Roberto Carlos, segundo seu sósia, achou interessante ter alguém parecido com ele. Hoje, com 73 anos e com tanta história para contar, Chacon se alegra com as vindas de seu ídolo à Curitiba. E não é para menos, o sósia sempre recebe um convite especial para assistir o show do cantor. Com direito a levar a família e sentarem na primeira fila. E acha que é tudo? Não! Após o término da apresentação são recepcionados até o camarim do artista para um bate papo entre amigos.

Foto: divulgação


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MODA

O velho que vira novo de novo Compra de roupas e acessórios de segunda mão garante novos looks Fotos: Isabela Collares

Isabela Collares

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ão antigo quanto as peças à venda num Brechó é a origem do nome Brechó. Os palpiteiros de plantão podem sugerir que o termo é estrangeiro. Podem, inclusive, num impulso criativo, adicionar mais um “r” à palavra e torná-la afrancesada – Brre-chó! Mas a “verdade verdadeira” é que, embora existam várias expressões para designar a compra e venda de coisas usadas -- tais como bazar, mercado de pulgas, venda de garagem, entre outros --, a palavra brechó é cem por cento tupiniquim. Dando uma espiadinha na história do século XIX, nos deparamos com um sujeito chamado Belchior, que ficou conhecido por vender roupas e objetos de segunda mão na cidade do Rio de Janeiro. Depois de algumas corruptelas à língua, eis que o termo se estabeleceu como Brechó. Deixando as curiosidades históricas de lado e voltando ao presente, é de se notar que os brechós estão se tornando cada vez mais comuns em Curitiba. Tão comuns que no centro da capital, mais especificamente na Rua Mateus Leme, há um bom trecho ocupado pelos mais variados tipos de mercadorias. São casacos, calças, blusas, bolsas, sapatos, bijuterias, enfeites, penduricalhos, aff! É um mundaréu de coisas para se escolher. E diferentemente do que muita gente pensa, nos brechós não se encontram apenas coisas velhas, cheirando a mofo e naftalina. Os apaixonados por coisas antigas argumentam que o que mais motiva uma visitinha a um brechó é a possibilidade de encontrar artigos originais a um preço bem acessível. “Hoje o vintage e o retrô estão em alta. Se você folhear uma revista de moda, vai se deparar com peças que fizeram sucesso nas décadas de 50, 60, 70. Então, que lugar melhor de comprar que um brechó que, além de oferecer o modelo que eu quero, ainda me cobra pouco por isso?”, diz Rafaela de Araújo, administradora de empresas e fiel frequentadora dessas casas há cinco anos. Mas não é só de passado que se faz moda. Os adeptos a modelos clássicos que valorizam a estampa de grifes famosas, como as do cobiçado jacarezinho ou a do jogador de

Os donos de brechós investem cada vez mais no ramo

pollo, podem adquirir suas marcas favoritas sem carregar a culpa do consumismo desenfreado que lotam os cofres das multinacionais com cifras astronômicas. Os donos de brechós investem novidades num ramo que tem se mostrado cada vez mais promissor. Já os consumidores costumam encher a sacola, motivados por razões que vão, muitas vezes, além dos preços baixos.“Antes o preço era o único fator que atraía as pessoas para um brechó. Hoje é diferente. Muita gente já começou a se atentar sobre o consumismo exagerado e as consequências que isso traz à sociedade como um todo”, diz Leda Martins, proprietária do Brechó Vintage, no centro. A empresária que, assim como a maioria dos donos de Brechós, também trabalha com o sistema de compra e troca de mercadoria, resolveu apostar em looks bem estampados e coloridos, fazendo referência às décadas de 60 e 70.“Gosto de montar os ma-

nequins só para passar algumas sugestões para o público. Mas se a pessoa não quiser nada que faça referência ao que foi moda nos anos 60, ela pode montar livremente o visual, só mudando a maneira de fazer a composição das peças.” Os brechós infantis também são bastante procurados pelas mamães que não querem que os gastos com vestuário sejam proporcionais ao crescimento dos filhotes. Além de roupinhas, que vão desde os macacões de recém-nascidos até conjuntos para crianças de 12 anos, alguns lugares ainda oferecem toda a parte de decoração com temáticas infantis. Na hora de pesquisar o que comprar, vale uma inspeção para avaliar se a relação preço e qualidade estão equilibradas na balança. Outra dica é entrar nos brechós sem pressa. O ritual de ver, tocar, pegar e experimentar vale ainda mais para os produtos de segunda mão. No mais, é “fuçar” e aproveitar.

Hoje o vintage e o retro estao em alta


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CRÔNICA Muito além de Lilliput

@TÁ NA WEB Luiz Nascimento

Fale agora ou cale-se para sempre Foto: divulgação

Foto: divulgação

Quem nunca sentiu aquela vontade de levantar a mão quando o padre diz “Se tem alguém contra esse casamento fale agora ou cale-se para sempre?” apenas para sacanear seu amigo que está se casando? Pois é foi isso que Fabio Porchat fez, em um dos vídeos do canal Porta dos Fundos, confira o vídeo “Casamento” em: https://www.youtube.com/watch?v=-nb2Tu8rAHg Foto: divulgação

Luiz Nascimento

Q

uem já viu o longa metragem “As Viagens de Gulliver”, com Jack Black, sabe muito bem que está sendo dito. No entanto, algo que o filme não mostra é que o jovem médico do livro escrito pelo irlandês Jonathan Swift, Lemuel Gulliver, faz uma viagem não só para Lilliput, país onde as pessoas são menores que seu dedo indicador. Mas também para lugares inusitados que jamais foram explorados pelo homem. Agora, imagine-se sendo expulso desse pequeno país, pegando um navio para sua casa e de uma hora para outra acordar em um local dominado por gigantes onde você não têm mais que um palmo de altura? Ou quem sabe numa ilha flutuante no ar? Ou até mesmo em outra totalmente dominada por cavalos inteligentes, que são superiores ao ser humano? Pois é, são esses lugares por onde Gulliver da uma “passadi-

nha” em suas grandes viagens. Locais esses que mudam e muito a vida do personagem. Apesar de ser considerado um livro sério, mas que diverte, com humor e piadas inteligentes as quais o escritor soube misturar realidade com ficção, a publicação faz com que a leitura não trate apenas de uma história feita para divertir, mas também traz em todo seu contexto a própria natureza humana, com aspectos mais entretidos da literatura. Aspectos esses que fazem Gulliver questionar não só a sua existência mais também da sociedade. A literatura de Swift que foi escrita no ano de 1726 faz sucesso até hoje. Talvez por sua linguagem feita não apenas para o público adulto, mas também para o juvenil, faz com quem o leitor se interesse pelo livro e fique ansioso para saber o que vai acontecer nos capítulos seguintes. Cada viagem que Gulliver faz, cria um mundo novo e inusitado na mente dos leitores, esse é o principal motivo de “As Viagens de Gulliver” ser considerado um clássico da literatura.

Você já viu o “Happy” de Curitiba? Foto: divulgação

O vídeo de Pharrell Williams, “Happy”, fez tamanho sucesso que desde seu lançamento, em novembro do ano passado, vem inspirando uma onda de pessoas que fizeram paródias dos locais onde moram. E é claro que Curitiba não poderia ficar de fora. O curta feito na cidade tem como cenário alguns pontos turísticos da capital. Vale muito a pena dar uma checada e o vídeo pode ser encontrado no Youtube no link : https://www.youtube.com/watch?v=cgjvEdm9JE8


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Olhar o mundo do Museu Oscar Niemeyer

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MON sempre me inspira. Todas as vezes que o visito sinto o desejo de registrá-lo sob uma ótica diferente. Desta vez minha intenção foi fotografar seus detalhes e peculiaridades, sem deixar de expressar sua identidade, aqui representada pelas cores.

O que mais me chama atenção no museu é que ele convida todos à criatividade, à busca por um registro inédito. E é assim que vou desvendando seus cenários em meio às diferentes formas artísticas, desde esculturas clássicas de João Turin a exposições contemporâneas da curitibana Eliane Prolik.

Luana Mendes


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