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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VI - NÚMERO 45 – CURITIBA, OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2015 Agência Brasil

LAVA JATO O escândalo que envolve a Petrobras não é o maior em volume de dinheiro desviado dos cofres públicos págs. 6 e 7

Foto: : Divulgação

pág. 3 O atleta Henrique Rodrigues é esperança de medalha para o Paraná nas Olimpíadas

Foto: Letícia de Oliveira

pág. 5 A Escola de Música e Belas Artes enfrenta muitas dificuldades, inclusive está sem sua sede própria

Foto: Victória Renée

pág. 8 Teatro Universitário de Curitiba (TUC) promove muitos encontros musicais


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OPINIÃO Resenha

Ao Leitor Nesta edição, a equipe do Marco Zero traz como reportagem especial tudo sobre a operação Lava Jato, que culminou com a prisão de políticos e empresários brasileiros. O objetivo é mostrar como vêm funcionando as investigações e os aspectos jurídicos que envolvem os processos, ouvindo os dois lados nessa questão. Você também vai saber como estão os preparativos do nadador Henrique Rodrigues, que irá representar o Brasil e, especificamente, o Paraná nas Olímpiadas de 2016, no Rio de Janeiro. Esta edição também conta com várias reportagens sobre cultura, como, por exemplo, as atividades do TUC, voltadas para o setor musical e do teatro; do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, que fica no centro de Curitiba, e sobre a volta do bolachão, o chamado disco de vinil, entre outros assuntos. Boa leitura!

Equipe Marco Zero

O Marco Zero

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Expediente

Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

1o lugar MAR CO ZERO

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Histórias que o rádio conta Divulgação

Ana Eloiza Luz

O filme “A Era do Rádio” (1987) retrata uma época em que o veículo estava em ascensão e era muito popular nos Estados Unidos. Tudo acontece às vésperas da Segunda Guerra Mundial. A história se inicia com dois ladrões, os quais durante um assalto a uma residência recebem uma ligação de uma rádio para participarem de um programa e descobrirem qual é a música. Este, que conta com orquestra e plateia, premia o ouvinte que acertar o nome das músicas. O mais absurdo é que os ladrões ganham mais do que roubaram e comemoram a vitória com abraços. A comédia está presente em vários momentos da obra, como é de praxe nos filmes do diretor e roteirista, Wood Allen. A película decorre com a narrativa de um menino que conta sua experiência, em Rockway, um bairro litorâneo, que fica à uma hora de Manhattan. Ele fala de suas experiências radiofônicas e as de quem o cerca, desde a sua família, até seus vizinhos, e nos mostra as relações que as pessoas tinham com o rádio e seus programas favoritos. É importante ressaltar o quanto o rádio influenciou a televisão. Lembro-me dos programas do Silvio Santos, que utilizavam muito essa dinâmica, ou seja, com a participação dos telespectadores, plateia e música. Outros programas que fizeram sucesso foram os que contavam histórias, que variavam de romances glamourosos a aventuras com super-heróis. Cada estilo tinha seus ouvintes específicos, que acompanhavam os episódios e, além disso, sofriam grande influência em relação aos personagens das tramas. Um exemplo é o próprio narrador, que revela sua luta para conseguir um anel igual ao do “Vingador Mascarado”, um super-herói, do seu programa favorito. Em outro momento da obra é possível observar a instantaneidade do rádio, que apresenta uma ficção, a qual retrata uma “invasão

Francielly Alves

Você acha que a crise econômica porque passa o país vai afetar, sobremaneira, as compras de fim de ano? Sim, este ano a crise financeira afetará e muito nas compras de Natal. Os pouDaniel Mello, cos presentes 20 , polidor que darei serão automotivo apenas “lembrancinhas”, pois os preços estão altos de mais e o salário não está acompanhando esse aumento. de marcianos” ao planeta Terra. Para o casal que está no automóvel a caminho de casa e envoltos por muita neblina, a suposta invasão foi recebida com alarde e medo, fazendo com que o homem abandonasse o veículo e sua acompanhante, convicto de que invasão era verdadeira. O esporte, como não poderia ser diferente, está presente no cenário radiofônico da obra. Com um toque dramático, o narrador retrata o perfil do jogador de beisebol de uma forma “caricata”. Relata a vida esportiva de um atleta, o qual sofre inúmeros acidentes e, mesmo assim, persiste em jogar até morrer de uma forma inusitada, o que faz com que a cena se torne extremamente cômica. Não faltou também o sensacionalismo, na forma de um programa, no qual casais discutem a relação ao vivo, bem ao estilo do que encontramos nos dias de hoje na televisão brasileira, como “Casos de Família”, “Programa do Ratinho”, entre outros. Naquele período do rádio, o objetivo era mais comercial do que educativo. Em determinada cena essa preocupação se evidencia no momento em que um pai fica indignado com os conhecimentos matemáticos do filho, muito deficiente para o que se considera ideal. Ele culpa o filho de ficar ouvindo muito rádio ao invés de estudar.

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter Coordenadora do Curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Professor responsável: Roberto Nicolato

Diagramação: Alunos de Redação Jornalística Finalização: Karina Becker Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

O radiojornalismo trabalhava com o "imediatismo". A importância da notícia fazia com que qualquer programa fosse interrompido para que um furo de reportagem pudesse entrar na programação e mantivesse os ouvintes informados sobre os acontecimentos. Um exemplo desse trabalho foi o relato de um ataque aéreo surpresa dos lendários kamikazes japoneses. A base americana, no Oceano Pacífico, ficou totalmente destruída. E o que seria do rádio se não houvesse música? Com a participação de uma atriz brasileira, cantando “South American Way”, na voz de Carmem Miranda, é possível viver um momento de nostalgia. Por mais que não seja uma música pertencente à minha geração, no momento que ouvi a música tive orgulho em ser brasileira. Os cantores românticos, preferidos pelas garotas da época, faziam muito sucesso e arrebatavam os corações juvenis, despertando ciúmes dos namorados. Enfim, creio que a obra de Wood Allen é uma excelente oportunidade de conhecer um pouco da história do rádio e nos possibilita comparar esse veículo em sua magnitude, em uma época na qual era, sem dúvida, o meio de comunicação mais importante e que perdeu espaço, pelo menos na área da ficção, com a chegada da televisão. Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131 80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail comunicacaosocial@uninter.com

Telefones 2102-3336 e 2102-3380.

Wilson Aguiar, 19, enxugador automotivo

Não, porque sou solteiro e não tenho muitos gastos. Moro com meus pais e assim a crise não me afetou em relação às com-

pras de Natal. Sim e bastante, porque com essa crise que estamos tudo ficou mais caro. O salário Rafael Freitas, enxugador de que ganhamos muito baixo e veículos não há condições para fazer comprar muito no fim de ano. Sim, acredito que não afetará só as compras de Natal, mas no geral, a crise Royter Vetter, chegou de re21, supervisor pente e causou muitos danos na economia do País. Com isso, ela refletiu negativamente pra todo o Povo Brasileiro. Sim a crise afetou, pois o valor do combustível em todos os postos subiu, o salario foi reGabriel Dianduzido, muitas ni, 20, lavador pessoas foram automotivo mandadas embora e isso faz com que os comerciantes subissem os preços e isso acaba me prejudicando os consumidores.


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PERFIL

A esperança de medalha no Rio-16 Henrique Rodrigues, atleta do Pinheiros e da seleção brasileira de natação, é especialista nos 200 metros medley e promessa paranaense na briga pelo ouro olímpico Satiro Sodré / AGIF

Anderson Luís

Disputar uma medalha nos jogos olímpicos do Rio e trazê-la para o Paraná

As Olimpíadas no Rio de Janeiro estão se aproximando. Daqui a 11 meses, atletas do mundo todo e de várias modalidades esportivas estarão reunidos na ciHenrique Rodrigues dade maravilhosa em busca da desejada medalha de ouro. E o pe) e novamente nos 200 metros pensamento não é diferente para medley. “Minha prova é os 200 um curitibano, o nadador Hen- medley. O revezamento eu apenas rique Cavalcanti Rodrigues, 24 nado para colaborar com o time, anos, que é uma das esperanças então essa escolha de eu nadar o brasileiras para subir ao pódio em revezamento foi dos treinadores. 2016. Eu gosto de revezamento, pois Em julho deste ano, Henri- conquistar uma medalha com o que esteve em Toronto, no Ca- grupo também tem um valor muito nadá, disputando os jogos Pan- especial”, analisou o atleta. -Americanos e conquistou duas Para chegar a estes resultamedalhas de ouro. Uma no reve- dos, o nadador curitibano paszamento de quatro nadadores por sou por um momento delicado 200 metros livres (por equipe) no início de 2014. Fez cirurgia e outra nos 200 metros medley complicada em dois tendões e (competição que junta os qua- o supra espinhoso do ombro estro estilos de natação). Em uma querdo, além do bíceps do bradisputa individual, na seguinte ço esquerdo. A recuperação foi ordem: borboleta, costas, peito muito rápida e seis meses depois e crawl ou livre), inclusive com ele voltou a treinar forte para as um tempo excelente para a mo- competições. dalidade, na casa de 1 minuto e Na segunda metade de 57 segundos. agosto, Rodrigues foi condeco“No campeonato nacional rado com a medalha Marechal (José Finkel) que tivemos em Osório, no Palácio Duque de Setembro de 2014, conquistei Caxias, no Rio de Janeiro. O um índice pra integrar a seleção atleta disse ter ficado honrado e brasileira no mundial de curta do emocionado, e que não esperava mesmo ano, em Doha, no Catar, por esse reconhecimento, pelo onde fiz o melhor menos não nesresultado do ano, Acredito que os se momento. inclusive batendo o Ele acredita que recorde sulamerica- jogos olímpicos ter a possibilino dos 100 metros sejam o sonho de dade de repremedley. E a prepasentar o Brasil todo atleta. ração para o Pan e e vestir as cores Henrique Rodrigues para as outras comdo exército não petições sempre é é para qualquer muito forte e focada, treinos diá- um. rios em dois períodos, trabalhando Agora, Henrique se prepara também a parte física”, comentou. para conseguir índice de tempo Depois dos jogos Pan-ame- e participar das Olimpíadas do ricanos, Henrique disputou mais ano que vem. “Acredito que os duas competições. A primeira foi o jogos olímpicos sejam o sonho Mundial na Rússia no qual chegou de todo atleta, então a preparaaté a final, mas acabou no sétimo ção é muito forte e a expectativa lugar e, de acordo com ele, o re- sempre é a melhor. Procuro não sultado não foi satisfatório porque pensar nos meus concorrentes, via condições de brigar por uma mas sim, focar no meu trabalho, medalha. com o que eu devo fazer. Penso Depois Henrique voltou para nos pequenos detalhes, pois é o Brasil para competir no Troféu nestes detalhes onde eu vou tirar José Finkel e mais uma vez ficou vantagem e poder disputar uma com duas medalhas de ouro. No medalha nos jogos olímpicos do revezamento de quatro nadadores Rio 2016 e trazê-la para o Parapor 100 metros livres (por equi- ná”, completou o nadador.

Henrique em ação nos 200 metros com quatro estilos

Tratamento respiratório e o caminho das medalhas O sucesso veio cedo e sem querer, como conta o pai de Henrique, Nelson Rodrigues, o Seu Nelson. “O Henrique começou a nadar com cinco anos de idade e por orientação médica. Era apenas para complementar o tratamento respiratório que ele fazia”, comentou. Com 11 anos de idade o menino Henrique disputou o primeiro festival, na época promovido pelo ex-nadador brasileiro Gustavo Borges, e dois meses depois já conquistaria sua primeira medalha. Mais dois meses e Rodrigues já trouxe a prata no campeonato sul-brasileiro. “Foi engraçado, surpreendente e ao mesmo tempo gratificante. Foi bacana, pois nunca tínhamos imaginado ele nadando competitivamente”, ressaltou Seu Nelson. O primeiro ouro em campeonato brasileiro veio no infantil aos 13 anos, já no ano seguinte participou pela primeira vez de um campeonato internacional disputado na Grécia. Depois vieram outras competições: mundial júnior, copa do mundo, mundial absoluto, sul-americanos, copas latinas, entre outros. “A partir de um certo período, sentimos a necessidade de dedicar parte do nosso tempo ao desenvolvimento de sua carreira, sempre ao seu lado, nos momentos

alegres e também nos momentos difíceis”, lembrou. Sobre os momentos difíceis, Senhor Nelson, relembrou o período de lesões e as cirurgias. “A princípio foi um choque para todos nós, pois acreditávamos que o tratamento de fisioterapia poderia ser a solução, o que realmente não ocorreu. O difícil foi acompanhar a sua recuperação no dia a dia ao seu lado. A cada movimento era uma vitória”. Após a recuperação e as medalhas no Pan e Mundial da Rússia, Henrique se concentra nas próximas competições e, claro, sempre acompanhado do Seu Nelson. “Gostaria de salien-

Após a recuperação e as medalhas, Henrique se concentra nas próximas competições. tar que o Henrique, além de um grande atleta, é um filho maravilhoso, uma pessoa muito especial, humilde, determinado, que sabe o que quer e luta pelos seus objetivos, certamente um exemplo a ser seguido”, diz o pai. Diego Pisante

Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos 2015 - 200m Medley


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CULTURA

O teatro que promove encontros populares A Galeria Julio Moreira é usada para cortar caminho e também abriga o TUC pois da reforma do teatro, em 2008. E foi uma determinação Karina da Fundação Cultural de CuritiBecker ba, que administra o local, com o intuito de evitar que pessoas embriagadas invadissem as apresentações. Victória O espaço é aberto também Renée para o projeto “ Samba do Compositor Paranaense”. As aprePassos acelerados cruzam a sentações são gratuitas, tanto Galeria Júlio Moreira todos os para quem apresenta, quanto dias, mas será que algumas des- para quem gosta de prestigiar. sas pessoas já notaram ou sabe Sob direção de Ricardo Salmaquais atividades são desenvolvi- zo, já existe há cinco anos, e é das naquele espaço? A resposta realizado toda segunda-feira, é óbvia: a maioria das pessoas das 20h às 21h30. Além disso, vários outros o utiliza apenas para cortar caprogramas podem proporcionar minho. reconhecimento para os artistas, A galeria tem a largura da como “O Circuito Arte Ativa ao rua de cima – Travessa Nestor Vivo”, para divulgar grupos gosde Castro – e mesmo parecendo pels da cidade e “Cutucando a bem pequena, abriga um teatro, Inspiração”, que leva em conta o Teatro Universitário de Curiapresentações tiba (TUC), com de literatura. capacidade para É um dos E as oportuni100 pessoas, um dades não paambientes teatrais clube de xadrez ram por aí, pois e a sala de admi- mais antigos de qualquer banda nistração. É um Curitiba – mais pode se apresendos ambientes tar no TUC, basteatrais mais an- velho até mesmo ta agendar horátigos de Curitiba do que o Grande rio e aproveitar – mais velho até o espaço que é mesmo do que Teatro Guaíra disponibilizado o grande Teatro gratuitamente. Guaíra – mas é No TUC, ainda são realizapouco conhecido. das peças de teatro, a maioria O TUC recebe o programa pelos alunos do Colégio Esta“Canja de viola”, que é realizadual de Curitiba (CEP). Ao final do há 25 anos, e atrai cantores e de cada bimestre, eles precisam admiradoress da música sertanemontar uma peça de teatral, ja todos os domingos das 14h às como forma de avaliação, cha18h. Não é cobrada taxa para os mada de “Prova Pública” e apreartistas se apresentarem, porém sentar para os professores. Os para a entrada do público, apenas estudantes agendam horários um valor simbólico de R$ 1,00. Segundo a agente cultural para os ensaios e também para o Alcinda Santana, que trabalha dia do espetáculo. no TUC há dez anos, essa quantia passou a ser arrecadada de- Por que TUC? Foto: Victória Renée

As pinturas foram feitas para homenagear o poeta Paulo Leminski

Foto: Victória Renée

A galeria que antes era semelhante à uma praça de alimentação, hoje é ponto de encontros culturais

Mas qual o motivo de um espaço cultural levar o nome de Teatro Universitário de Curitiba? A explicação é simples. No ano de 1976, também data de inauguração do espaço, um grupo de alunos da Universidade Federal do Paraná reivindicava por um lugar onde pudessem se reunir, discutir ideias e desenvolver projetos. O resultado foi que ganharam esse ambiente na galeria. Assim surgiu o TUC que, apesar de atualmente não receber apenas universitários, ainda leva o mesmo nome. A galeria onde está o teatro pertencia à Urbs e era ocupada por lojinhas e lanchonetes. Após reforma, que durou aproximadamente oito meses, de 2007 ao começo de 2008, a administração do TUC ganhou uma nova área para trabalhar. Mas em 2008 a Fundação Cultural de Curitiba conquistou os demais espaços, dando possibilidade de aumentar o teatro e desenvolver mais atividades. Até então, os funcionários precisavam dividir espaço com o teatro, uma acomodação bem pequena, que tinha lugar apenas para uma mesa. Hoje, trabalham confortavelmente em uma sala ampla, com três mesas, computadores, cozinha e banheiro. Nesse ambiente, há vários cartazes nas paredes, servindo como decoração e apresentando os vários eventos que já foram realizados no TUC. Alguns deles bem anti-

gos, dos anos 70 e 80. Ao descer as escadas para cruzar a galeria, percebe-se alguns desenhos nas paredes. Em um dos lados existe um mural de arte. Trata-se do memorial do escritor Paulo Leminski, composto por caricaturas e frases. Na outra direção há um espaço livre, onde foram desenvolvido alguns trabalhos de artistas plásticos. É necessário ter autorização para usar essas paredes que acompanham as escadas. “É uma coisa livre, porém com respeito”, diz Nilza Maria dos Santos Raimundo. Quando indagada sobre a segurança do local, se há tráfico de drogas e violência nos arredores e até mesmo no interior da galeria, a coordenadora do TUC diz que sim. Há tráfico, pessoas drogadas, até mesmo grupos rivais, que ficam em ambos os lados da galeria, próximos às escadas. “Mas isso é comum, como existiria em qualquer outra capital”, afirma. O TUC não conta com um site próprio e a divulgação de apresentações é feita na página da internet da Fundação Cultural de Curitiba, http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com. br/. Além disso, cada grupo que fará apresentações tem a responsabilidade de produzir cartazes e colocar nos espaços destinados para anúncios na própria galeria, ou ainda, divulgar em outros endereços eletrônicos e páginas do Facebook.

Circulando O projeto “Circulando pelo TUC, Kraide e Cleon Jacques” foi desenvolvido para artistas que já são reconhecidos em suas comunidades e desejam se apresentar em outros espaços da cidade. São fornecidos equipamentos técnios dos própios lugares, sendo assim, as bandas ou cantores podem se inscrever tranquilamente, mesmo não tendo aparelhagem necessária para se apresentar, ou seja, basta o talento e a vontade de ser reconhecido. Para participar do projeto, basta fazer a inscrição em uma das regionais mais próximas. Após a confirmação da apresentação, o dia, horário, local e demais informações do show serão divulgadas por meio de filipetas, site da Fundação Cultural de Curitiba. O horário de funcionamento do TUC é de terça a sexta-feira - 13h às 19h, sábado 13h às 22h e domingo 14h às 18h. Serviço: Endereço: Travessa Nestor de Castro, sem número, Galeria Julio Moreira. Telefone: (41) 3321-3312 E-mail: tuc@fcc.curitiba.pr.gov.br


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CIDADE

A Escola de Música e Artes está sem lar Prédios sem estrutura e contas atrasadas são os principais problemas da Embap Foto: Letícia de Oliveira que se deslocar entre os três campus, pois algumas aulas são Letícia em campus diferentes e isso Oliveira gera um certo medo pela falta de segurança, principalmente à noite. Thays A localidade dos três prédios Polhmann que são as atuais sedes da Embap também é um problema, pois os estudantes moram longe e os Karina pontos de ônibus e terminais são Zanyck afastados e os alunos que estudam à noite, principalmente, se sentem inseguros. “A questão da A Escola de Música e Belas segurança é bem conflitante, a Artes do Paraná (Embap) está ponto de vários colegas acabaprovisoriamente funcionando rem desistindo por ter que ir a em três prédios alugados pelo um terminal mais longe ou ter governo do estado. Contudo, o seu instrumento roubado”, diz aluguel, contas de luz e água e o aluno Alexandre Di Pierro, do outras despesas estão acumu- segundo ano de Licenciatura em ladas desde 2014. Além disso, Música. Alunos e professores da Ema compra de materiais para as aulas muitas vezes acaba se tor- bap esperam tornar o prédio, Aluna do curso de escultura do terceiro ano trabalha em uma escultura de concha feita com cerâmica nando um gasto pessoal para os que fica na Rua Emiliano Perneta, um centro cultural, com (Bulgária). Possui obras em vá- corpo docente. Já conhecia as li- ficar por aqui,. Ou seja, o corpo professores. A sede na Emiliano Perneta sala de exposições e auditório rios acervos oficiais e particula- mitações da instituição, mas ain- docente pesou muito em minha da assim achei que valia a pena escolha”, afirma Alexandre. foi interditada em 2010. O pré- e, também, que o governo ceda res no Brasil e no exterior. Outro artista que se destaca dio estava com sua construção um prédio que comporte toda comprometida, daí a mudança estrutura que a escola precisa, é o maestro e compositor Bento Mossurunga, que é o autor do para os outros três prédios, mas de uma forma do Paraná, por meio de um A Escola de Música e Belas Hino do Parae ainda falta estrutura que com- definitiva documento entregue, na époArtes do Paraná (Embap) é uma ná, oficializado porte as necessidades da escola. de qualidade, “Eu não me via em ca, ao governador do estado. instituição de ensino superior no ano de 1947. a Não há espaço suficiente para garantindo Ele aceitou o pedido e o enpública, fundada em 1948. Cooutra faculdade, Foi em 1930 convivência dos alunos e pro- segurança e o caminhou para a Assembleia niderada a primeira do Brasil, que ele retornou fessores, o que é muito impor- a p r e n d i z a d o . os professores que Legislativa do Paraná, que denesta área foi reconhecida pelo a Curitiba para tante para troca de informações. Contudo, apeeu conhecia como cretou a Lei n°259, em três de Conselho Federal de Educação dirigir um curOutro problema é a falta de sar de alguns outubro de 1949, oficializanem 1954. É mantida pelo goso de música e salas para todas as aulas. O ate- professores e referência na área do assim a Escola de Música e verno estadual e faz parte da trabalhar na Soliê de esculturas, por ser no sub- c o o r d e n a d o - são daqui” Belas Artes do Paraná. Universidade Estadual do Paraciedade Musical solo, pelo menos uma vez por res da Embap A primeira sede da Embap Alexandre Di Pierro ná (Unespar). de Renascença. ano sofre alagamentos das tu- terem conscificava localizada na Rua EmiA Belas foi criada através Na Embap, ele bulações de esgoto. O auditório, ência de que liano Perneta, na Casa do Pode um movimento que recebeu foi professor de instrumentação. que é destinado à apresentação ainda não há nada de concreto, eta, em Curitiba, tendo como o apoio em 1947 da Academia Foi ele também que fundou a dos alunos, comporta apenas 50 existem projetos a serem penprimeiro organizador dos traParanaense de Letras e de váSociedade Orquestral Paranaenlugares, o que dificulta a divul- sados a respeito do espaço para balhos a serem realizados o rios órgãos da classe artística se e produziu o teatro musicado, gação do trabalho dos estudan- a instituição. “O governo vê a professor Fernando Corrêa de além de compor hinos. E em tes para o público de fora, além educação como um custo, não Foto: Letícia de Oliveira Azevedo, que viade não ter uma preparação acús- como um investimento”, diz a 1946 organizou, junto com um jou a diversos lugagrupo de músicos e estudantes, professora de gravura e desigtica. res, visitando outras a Orquestra Estudantil de ConAlém disso, os alunos tem ner, Paula Rigo Tramujas. entidades de mesmo certos, que mais tarde em 1958, Foto: Letícia de Oliveira segmento, para obveio a se tornar a Orquestra Sinservar e adotar mofônica da Universidade Federal Grandes nomes delos para a escola. do Paraná. Mas foi fechada em Grandes artistas e Apesar de a infraestrutura 2010 pela situação músicos já passaram deixar a desejar, os alunos esde risco do prédio. pela Belas, como o ar- colhem a Embap mesmo assim, Os cursos que tista plástico Fernando pois ela é referência em ensino de são oferecidos na Calderari, que se for- música e artes. Seu corpo docenEmbap são os de mou e depois lecio- te é composto por profissionais escultura, gravura, nou pintura, desenho, especializados e de prestígio, o pintura e artes visuteoria da conservação que muitas vezes atrai a atenção ais, na área de belas e restauração da pin- de estudantes até mesmo de fora artes. E na de músitura. Na década de 70, do país. “Eu não me via em ouca são canto, comele participou do Con- tra faculdade, pois os professores posição e regência, gresso da Associação que eu conhecia como referência instrumento e licenInternacional de Artes na área são daqui. Então, acabei ciatura em música. Alexandre Di Pierro é aluno de música. Plásticas em Varna escolhendo, principalmente, pelo Sede da Embap na Rua Benjamin Constant.

A Escola de Belas Artes na história


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ESPECIAL

Entenda como e o processo da La

Escândalo que envolve a Petrobras não é o maior em

Superintendência da Polícia Federal do Paraná, onde estão centralizadas as investigações da operação

Delação premiada garante a redução de penas

Embora muito pronunciado no caso Lava Jato, o termo delação premiada não foi uma invenção brasileira. A primeira indicação na história do uso desse recurso foi na Idade Média, no período da Inquisição. Acreditava-se que quando o co-réu confessava de forma espontânea as chances de estar mentindo eram muito menores do que quando alcançada mediante tortura. Na década de 70 a Itália utilizava para combater o terrorismo, mas ganhou destaque na operação (operazione mani pulite) contra a máfia. No Brasil foi a partir das Ordenações Filipinas (1603-1867), período do Brasil-Colônia, quando se tratava de crimes de falsificação de moeda os primeiros indícios. Ainda na mesma época pode ser visto na Inconfidência Mineira, para o perdão de dívidas com a Coroa Portuguesa. Já durante o Regime Militar, foi usado para descobrir pessoas que não concordavam com o governo, pois eram consideradas criminosas. Embora tenham diversos registros na história brasileira, a delação premiada só passou a fazer parte do ornamento jurídico com a Lei dos Crimes Hediondos (nº 8.072/90), para derrubar quadrilhas que praticam crimes hediondos. A partir disso, a delação passou a integrar outras leis no país: Lei dos Crimes Contra a Ordem Tributária (8.137/90); Lei de Lavagem de Dinheiro (12.683/12); Lei de Extorsão Mediante Sequestro (9.269/96); Lei do Crime Organizado (9.034/95). Apesar de estar presente em leis independentes, existem pontos em comum para a aplicação desse recurso: colaboração espontânea; participação do delator na prática da infração; relevância nas declarações e efetividades das informações. Pode ser de duas formas: aberta (o delator confessa o crime e responnsabiliza um terceiro) e fechada (o delator pode colaborar de forma anônima) A principal garantia é uma redução de pena que pode variar de 1\3 (33%) a 2\3 (66%) da pena O grande questionamento quanto à sua aplicação é: todos os delatores querem colaborar com a Justiça ou estão pensando em benefício próprio, já que não têm para onde correr? Assessoria MPF

Leila de Paula A operação Lava Jato teve início em 2009 com a investigação de crimes de lavagem de recursos que envolviam o ex-deputado José Janene, em Londrina, no Paraná. Os doleiros Alberto Youssef e Carlos Habib Chater também estavam envolvidos. Em março de 2014 foi deflagrada a primeira fase ostensiva da operação, com prisões preventivas, mandados de busca e apreensão e prisões temporárias em 17 cidades. No decorrer das investigações, o Ministério Público Federal do Paraná (MPF) reuniu provas de um esquema criminoso envolvendo a maior estatal do país, a Petrobras. A estimativa é que as verbas desviadas atinjam a casa dos R$ 20 bilhões. Até outubro deste ano, R$ 1,8 bilhão foi restituído aos cofres públicos através de um acordo de colaboração entre os indiciados e o Ministério Público. Deste total, R$ 385 milhões são objeto de repatriação – isso ocorre quando o valor está em posse de outro país, dinheiro depositado em bancos no exterior, por exemplo. Para compreender a ação é necessário citar três personagens importantes da diretoria da Petrobras: Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP (Partido Progressista) para o cargo de Diretoria de Abastecimento; Renato Duque, indicado pelo PT (Partido dos Trabalhadores)

Os executivos realizavam reuniões secretas para definir qual empresa ficaria com determinada obra e seu valor contratual

para a Diretoria de Serviços; e Nestor Cerveró, indicado pelo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) para a Diretoria Internacional. Na outra ponta estão as sete maiores empreiteiras do país ligadas ao processo. Em situações normais – não fosse a aprovação da Lei do Petróleo no governo FHC, que afrouxou as duras regras de licitação garantindo contratos simplificados que poderiam ser fechados até por carta convite -, a Petrobras contrataria os serviços de determinada empreiteira através de licitações: a que oferecesse o menor custo ao bolso da estatal assinava o contrato. Não foi o caso, já que as próprias empreiteiras criaram um cartel para simular uma concorrência que não existia. Os executivos realizavam reuniões secretas para definir qual empresa ficaria com determinada obra e seu valor contratual. Além de possuir fundamentos de regras de campeonato de futebol, para disfarçar os registros das distribuições das obras, faziam referência a premiação de bingo. Era a maneira mais eficaz de garantir lucro a todos os envolvidos. Os funcionários da Petrobras, que já sabiam do esquema, favoreciam os envolvidos fornecendo informações confidenciais, aditivos com preços elevados nos contratos, entre outras irregularidades. É nesse ponto que entra o papel dos doleiros: Alberto Youssef era o mediador do PP; João Vaccari, do PT; e Fernando Baiano, do PMDB. Esses operadores financeiros, segundo a Justiça, eram responsáveis tanto por intermediar o negócio ilícito, como também realizar o pagamento da propina aos beneficiários. A lavagem do dinheiro desviado era através de transações bancárias no exterior e empresas de fachada, em seguida repassadas por meio de transferência bancária ou pagamento de bens. No quadro de beneficiários diretos do dinheiro desviado estão os funcionários da estatal e os

Juíz Sérgio Moro, responsável pela op

O dinheiro desviado na Petrobrás não é o maior da história. O caso Banestado chegou a soma de R$150 bilhões políticos dos partidos citados no início da reportagem. Tanto os indicadores quanto os mantenedores dos cargos de diretoria da Petrobras são alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal através de petições do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Fatos relacionados a 55 pessoas, entre elas 49 possuem foro privilegiado (quando autoridades políticas são julgadas por um tribunal diferente da maioria dos casos no país), foram citados nos acordos de delação premiada. Apesar da centralização dos desvios ser em torno da Petrobras, outros setores surgiram no desenrolar das investigações. As empreiteiras também pagavam


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está sendo ava Jato

m volume de dinheiro desviado

Agência Brasil

Aspectos jurídicos geram polêmica As atitudes do juiz Sérgio Moro, no caso da Lava Jato, no entanto, tem gerado polêmica no âmbito do Direito. Alguns juristas do país reprovam algumas decisões, a começar por dar crédito a um reincidente, Alberto Youssef, que apesar de não cumprir as regras no julgamento anterior acabou se beneficiando delas. Durante o processo no caso do Banestado, Youssef entregou cerca de 60 dos seus principais concorrentes, imperando no mercado ilegal de câmbio por anos. Há também em pauta a inconstitucionalidade das prisões preventivas e, consequentemente, das delações premiadas. Para alguns, os acusados não podem ser presos sem que haja uma sentença definitiva em trânsito .

Dois lados

peração Lava Jato, já havia atuado no caso Banestado

propinas para obter obras de outros segmentos da infraestrutura brasileira, como ferrovias, hidrelétricas, portos e aeroportos, segundo o delator Paulo Roberto Costa.

Caso Banestado

Ao contrário do que a grande mídia tem noticiado, o volume de dinheiro desviado na Petrobras não é o maior da história de corrupção no país. A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Banestado chegou ao montante de R$ 150 bilhões nas investigações entre os anos de 1996 e 2002. Este foi o maior crime de desvio de verbas e evasão de divisas realizado através do Banco do Estado do Paraná - Banestado. A CPI investigou as remessas feitas através de contas CC5 (conta que permite ao brasileiro enviar dinheiro ao exterior) e se o imposto de renda era devidamente declarado. Políticos e até o ex-presidente do Banco Central estavam na lista de 91 indiciados em 2004. Na época, o governo brasileiro conseguiu recuperar R$ 2,2

milhões dos recursos enviados ilegalmente ao exterior. Youssef volta à cena do crime, sem cumprir seu trato no acordo de delação: se manter distante de ganhos ilícitos, já que foi comprovado seu envolvimento no caso. O juiz Sérgio Moro também retorna, como um dos maiores especialistas em crimes financeiros. O reencontro entre o juiz e o doleiro rendeu a anulação da antiga delação premiada do réu, reativou os processos antigos e, consequentemente, sua prisão. Agora, sem saída, Youssef se rende. Agência Brasil

Alberto Youssef lavava dinheiro para o Partido Progressista

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Segundo o especialista em Direito Constitucional Alexandre Pagliarini, as prisões são legais e não violam a constituição. “A prisão de acusados podem ser de dois tipos: em flagrante ou por ordem judicial”. No caso da Lava Jato, as prisões foram por ordem judicial, sendo elas provisórias e preventivas (ainda há a prisão por sentença condenatória que não foi aplicada). “Essas medidas são tomadas para que o preso não atrapalhe ou procure testemunhas para modificar algum fato dentro do processo”. Ainda que a Justiça brasileira seja mal avaliada, para Pagliarini a atuação da Justiça Federal do Paraná é exemplar. Ele considera que parte da culpa dessa animosidade é do próprio judiciário, mas também das leis processuais civis e penais que possuem muitas possibilidades de recursos. “De um lado você tem as leis processuais não tão boas e lentas, do outro lado uma estrutura judicial ruim”. Candidata a deputada estadual em Curitiba, em 2014 pelo PSOL a advogada Xênia Mello acredita que não existe neutralidade na Justiça. E a mesma beneficia o que sustenta as desigualdades sociais por comportar-se de acordo com suas próprias ideologias. “No caso do juiz Sérgio Moro é a manutenção do status quo anterior à Lava Jato”, ou seja, há um desejo de retomar a condição política anterior ao governo petista. Para Xênia, existem três variáveis que refletem o discurso antipetista: uma canalização de discurso de ódio (de classes); uma democracia recente (que teve início em 1984 após 20 anos de ditadura no país) e um fortalecimento das instituições de fiscalização (o que não acontecia com tamanha força no governo FHC e prova disso foi o abafamento do caso Banestado). “Em nome de um combate você fortalece um discurso elitista e não problematiza as questões que envolvem o caso. Em nome de uma moralidade, não

enxerga outras coisas que estão em assim como o presidente da Câmara jogo”. dos Deputados Eduardo Cunha, já Pagliarini, no entanto, avalia a que foram citados no caso. E no caso história democrática brasileira como de Cunha, principalmente, já que catastrófica, em parte por ser um sis- mentiu quando foi questionado sotema presente no país há apenas 40 bre contas em seu nome no exterior. anos. “O país é bastante violento e “Quando uma pessoa torna-se parte ainda tem uma cultura muito ‘milita- de um processo penal é porque exisresca’, de falta de liberdade e falta de tem indícios do seu envolvimento democracia”. Ele avalia que o partido no caso”, comenta. Aécio Neves até que prometia mudar o continuísmo o momento não foi interrogado e foi no poder (PT), que não haveria roubo beneficiado pelas empreiteiras, assim de dinheiro público e uma conduta como o presidente da Câmara do Depolítica inquestionável, cometeu a putados, Eduardo Cunha, que ainda maior fraude eleitopermanece no cargo, ral do Brasil. “O PT mesmo com o avanconfundiu a questão Dos 32 partidos ço das investigações do Estado com o par- existentes no sobre sua fortuna detido e vice-versa”, positada na Suíça. opina. Ele considera país, 28 foram Na visão de Xêum grande avanço beneficiados nia, o objetivo dessa na história política operação é corrobodo país a prisão de com doações de rar para que o PSDB políticos e grandes empreiteiras nas retome o poder, que empresários, pois o mais de quatro últimas eleições por sentimento de impumandatos seguidos nidade que permeia a sociedade é ób- não conseguiu ganhar legitimamente vio e “a ideia de que somente pobres no voto popular (a tão conquistada são punidos caiu por terra. Ao brasi- democracia). “Um grupo econômico leiro, saber disso é uma esperança de que sempre esteve no poder aceitar que abra os olhos nas urnas”. que a bandeira pela luta operária, no Segundo as declarações apresen- poder há 16 anos, fez mudanças no tadas à Justiça eleitoral, dos 32 parti- país, não deve ser fácil”. A militante dos existentes no país 28 foram bene- acredita que o povo precisa ter uma ficiados por doações de empreiteiras via de escolha e acreditar nela. “Nenas duas últimas eleições. E juntas nhum partido, a não ser o PSOL, está somaram 70% das doações decla- questionando a posição de Cunha radas pelas empresas envolvidas. O ainda estar no cargo. Cadê o Eduardo financiamento eleitoral das emprei- Cunha inflável?”, ela questiona. Apeteiras envolvidas na operação Lava nas as legendas Psol, PCB, PSTU e Jato beneficiou Dilma Rousseff (PT) PCO não foram beneficiadas pelas e Aécio Neves (PSDB). Independen- doações do grupo de empreiteiras. Leila Paula temente de quem ganhe as eleições, empreiteiras como a Odebrecht por exemplo, terão seu lucro garantido, pois esse tipo de acordo não se limita ao partido, ele já está na base do nosso Estado. A advogada afirma que “não existe uma diferença radical entre eles – os partidos”, mas o que o PT fez no país foi enfrentar as desigualdades sociais abertamente, diferente de outros partidos elitizados. Prédio da Justiça Federal, em Xênia acredita que o senador Curitiba, onde os delatores da Aécio Neves precisa ser investigado, operação prestam depoimento

Por que Lava Jato? As investigações da Operação Lava Jato estão acontecendo em Curitiba na 13ª Vara Federal Criminal, especializada em crimes financeiros. No decorrer do processo, foram descobertos centenas de crimes praticados no Paraná, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Pernambuco. Alberto Youssef tinha sede no Paraná e em São Paulo. O doleiro lavou dinheiro por meio da compra de imóveis em nome de empresas de fachada em Londrina e em Curitiba. A operação recebeu esse nome porque utilizava uma rede de lavanderias e postos de combustíveis para movimentar as quantias.


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CIDADE

Restaurante Bife Sujo, da boemia à feijoada Espaço é considerado um dos pontos de encontro mais tradicionais de Curitiba Fotos: Aliana Machado

Aliana Machado

Alyne Taroco

O restaurante Bife Sujo, localizado na região central de Curitiba, é um dos mais tradicionais da cidade. Na década de 1980, auge de seu funcionamento, ainda como bar, tornou-se o reduto de poetas e pensadores que se reuniam no local para falar sobre literatura, política e arte. Segundo o proprietário do local, César Antônio Wisnievski, o restaurante atende em média de 90 a 120 pessoas por dia que procuram o local por sua variedade de pratos, podendo ser servidos em rodízio ou à la carte. ‘’Eu noto que quem gosta de salada e uma comida caseira, algo mais leve, opta pelo rodízio; quem prefere uma picanha na chapa, vai pro à la carte e temos também nossa famosa feijoada às quartas e sábados’’. Ele ainda afirma que a bebida mais pedida é a cerveja e o prato é o grelhado no Rechaud (uma variação de chapa). O ‘’Bife’’ ganhou reconhecimento pelo fato de que na década de 1980 apenas na região central se concentravam os bares, coisa que nos bairros praticamente não existia. Com o passar do tempo, o centro da cidade passou a ser um local menos seguro e houve a disseminação de bares nos bairros, ocasionando a baixa freguesia boêmia central. Por causa disso, o Bife Sujo passou a ser intitulado apenas como restaurante. “Frequento o restaurante durante a semana toda para almoçar. Acho muito boa a comida caseira que eles servem aqui, e trabalho aqui do lado. Para mim é a melhor coisa, inclusive venho às vezes aos sábados para a deliciosa feijoada”, diz José Henrique Maciel, 30 anos, administrador de uma empresa no centro de Curitiba. Já Kelly dos Santos, 25 anos, afirma que gosta de ir aos sábados para almoçar com seu namorado no Bife Sujo. “Geralmente, pedimos a picanha servida na chapa, nosso prato preferido”, comenta. “Gosto de trazer minha esposa e meus dois filhos aos sábados e nas férias, nos dias que não servem a feijoada, pedimos sempre os pra-

O espaço foi inaugurado em 1976 e levava o nome de ‘Bar Elle e Ella’, na rua Cândido Lopes tos à la carte. Aprecio também uma cerveja aqui junto com as refeições”, conta Gilberto Meira da Silva, 46 anos.

História

O espaço foi inaugurado em 1976, levava o nome de ‘’Bar Elle e Ella’’, na rua Cândido Lopes, e o proprietário era o moçambicano Eduardo How. Em 1982, Rui César da Fonseca assume a administração e, por insistência dos clientes, o bar acaba trocando de nome devido ao seu petisco principal com tiras de carne, queijo, tempero verde, o famoso Bife Sujo. Mais tarde, o estabelecimento ganha outra direção, sendo administrado pelos três famosos garçons da região: Pedro, César e Ney. Atualmente, apenas César comanda o restaurante tendo ainda Ney como gerente. Em 2007, houve um incêndio destruindo a parte superior do local que, dois meses depois, foi reinaugurado com a data emblemática de 15 de setembro, o Dia do Cliente. “ Às vezes esqueço até do ano do incêndio, foi algo tão terrível que eu apaguei da memória, não gosto nem de lembrar”, relata Valdiney de Oliveira, gerente do local. Na década de 1980, auge da ‘’ boemia poética’’, o bar ganha um cliente assíduo, o escritor Paulo Leminski Filho, poeta, romancista e tradutor curitibano.

Gerente Ney e o proprietário Cesar: tradição e comprometimento

Leminski tinha até pedido especial no bar Na década de 80, o poeta Paulo Leminski frequentava o ainda bar Bife Sujo de duas a três vezes por semana, sempre com um pedido especial: uma bebida de vodka com Martini. Com isso, o drink ficou conhecido como ‘’Leminski’’ e que permanece no cardápio até hoje. Segundo uma das lendas relatadas por Cacaso, poeta e escritor paulista, já falecido, que afirmou estar presente em uma mesa redonda que falava sobre poesia e literatura, Leminski, que era

conhecido por seu jeito explosivo, se incomodou com o rumo que a conversa estava tomando, levantou-se da mesa e exclamou: “Olha, brother, qualquer bar em Curitiba, numa sexta-feira à noite, tem um nível de discussão mais alto do que o desta mesa. Vou tentar pegar o Bife Sujo aberto…”. Leminski chegava no ‘’Bife’’, pedia seu drink de costume, sentava-se em uma mesa mais retirada e ficava escrevendo seus poemas em guardanapos. O gerente Valdiney de Oliveira relata

que preparava as bebidas, porém num certo dia Ney trocou o tipo de bebida que ele gostava. O poeta levantou-se, aparentemente irritado e disse: “ Isso aqui não é o que eu bebo.’’ Paulo Leminski morreu em 7 de julho de 1989 vítima de cirrose hepática. Até hoje seu nome perpetua pela cidade e por ter sido tradutor ainda é conhecido como “ O Bandido que sabia Latim.’’ Publicou “Catatau”, “Não fosse isso era menos” e “Caprichos” e “Relaxos”, entre outros.


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CULTURA

Vinil volta a aquecer a indústria fonográfica Após cerca de 12 anos no esquecimento, o bolachão renasce e ganha o mercado Thaisa Oliveira

Kevin Capobianco

Janio Bernardino

Ah... O vinil. Sua excelência em reprodução musical há muito já perdeu a batalha para as novas mídias digitais. Sua criação foi na década de 1950, porém sua fase durou cerca de 30 anos apenas. Apesar do sucesso estrondoso entre as décadas de 1960 e 1990, os vinis rapidamente perderam espaço após o surgimento dos CD’s. No ano 2000 já não se produzia mais músicas em discos de vinis. Em 2010, entretanto, o vinil começou a renascer das cinzas. Única gravadora de vinil na América Latina, a Polysom (com sede no Rio de Janeiro) retomou as produções e em cerca de três anos os discos voltaram a ser procurados com mais intensidade. O mercado de LPs (Long Play), embora não com a mesma força de antigamente, voltou a ser muito valorizado. Os preços tiveram grandes aumentos, a procura se intensificou e muitos jovens dos dias atuais estão aderindo a essa onda retomada pelos mais velhos. O comércio de vinis tem crescido em torno de 60% ao ano desde 2012 e a tendência é de que cresça ainda mais. Atualmente as bolachas são encontradas em sua maioria nos sebos e livrarias e em preços e gêneros variados. Em entrevista para o Marco Zero, Gabriel Gaone, gerente há três anos da loja Sebomania, relata como está a demanda pelos discos de vinil atualmente.

Marco Zero: Como tem sido a procura pelo vinil nesse último ano, tanto por quem gosta quanto por quem gostaria de trocar ou vender? Gabriel Gaone: Hoje em dia está mais voltado para o rock, graças a Deus (risos). O pessoal procura mais pelo rock, mas para trocar se desfazem mais de clássicos, MPB (música popular brasileira), que no caso é um pouco triste de se desfazer (risos). Com relação aos valores. Você notou que aumentou? Ah, com certeza! Mudou bruscamente isso. Há uns dois anos atrás, um LP que valia R$30,00 hoje vale R$100,00. Os de rock, por exemplo, são os que mais valorizam. E esse aumento de preço está totalmente ligado à alta procura que teve nesse último ano? Exatamente. A alta procura e também porque está ficando mais difícil de achar. Então na sua loja tem mais saída de vinis de rock. E os outros vinis? Por exemplo, uma pessoa traz um vinil que ele ganhou e tem uma dedicatória dizendo: “Para Fulano, com muito amor e carinho”. Você recebe esse tipo de vinil? Olha, se me interessar eu recebo. Se eu souber que está sendo muito procurado. Você já tem algum material desses que tenha pego e ainda está no seu estoque? Não que eu saiba (risos). Chega sempre muita coisa aqui, então é meio difícil saber. Valores. Maior e menor preço que você tem na loja hoje? De rock, tanto nacional quanto internacional, tenho a partir de R$10,00 até R$500,00.

Janio Bernardino

SAÚDE O vinil mais caro da loja é o do Michael Jackson, devido a alta procura e por ser uma edição tripla

E no geral, MPB, sertanejo, country, instrumental? MPB na faixa de R$10,00 até R$200,00, dependendo do LP.

uns 5 Deep Purple. Você vai ficar só com os Deep Purple? Só com os Deep Purple (risos).

Quantos vinis você tem na loja hoje? Aproximadamente 8 mil vinis.

Os outros vinis não têm muita procura, muita saída? É bem difícil, são pessoas bem específicas para isso.

A pessoa que quiser trocar hoje ou vender, como funciona isso? Ele deixa aqui como permuta, troca por outro material? Ela traz, fazemos a avaliação na hora e ela pode trocar pelo que quiser. Ou vai sair com o valor em dinheiro ou com algo do interesse dela. E tem aquelas pessoas que não gostam mais do vinil, preferem CD, mp3. Acontece de trazerem aqui um monte de vinil como, por exemplo, Caetano Veloso, música clássica etc. Acontece muito isso? Ah, acontece direto, mas só pego o que me interessa. Você costuma pegar então, por exemplo: eu tenho a coleção da Madonna, telenovelas e mais

A tua venda hoje é focada só na loja física ou vocês trabalham com internet também? Com LP não trabalhamos mais na loja virtual, seria mais com livros mesmo. Nenhuma mídia social? Não, só a loja física. Formato original (antigo) ou formato americano (novos)? Os dois, a venda é igual. Qual a faixa etária do pessoal que procura pelo vinil? Varia muito? Tem um pessoal mais idoso ou são mais os jovens? Pelo o que eu vejo aqui são senhores com mais idade, na faixa de 50-60 anos procurando mais clássicos, pop rock, pop internacional e

Evolução do armazenamento de mídia

“O pessoal procura mais pelo rock, mas para trocar se desfazem mais de clássicos, MPB MPB. Também procuram bastante o samba. Vem alguns gaúchos também (risos). E o público abaixo dessa idade procura mais o rock mesmo. Varia bastante a idade, a partir de 10 anos (que eu já vi) e que se interessa mesmo! De você perguntar e a pessoa saber o que está falando com 10 anos, sabe. E até uns 40-50 anos a pessoa curte um rock. Qual o vinil mais raro que você tem hoje? Esse que eu falei que é o mais caro (R$500,00) é do Michael Jackson, que é triplo, é um LP bem difícil de achar. E o mais comum, aquele que você tem, por exemplo, 30 cópias dele? Seria mais de MPB, Chico Buarque tem bastante (risos).


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CULTURA

Contemporaneidade no centro de Curitiba

As técnicas de exposição do Museu de Arte Contemporânea do Paraná

Foto: Talita Santos

Talita Santos

Não existe lugar melhor para se conhecer mais da própria cidade, e por que não dizer, do mundo, que um museu. Localizado em um prédio construído em 1928, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná foi criado em 1970. Nele, encontram-se obras do Brasil e de outros países.O espaço conta com 1.600 obras no acervo, com assuntos e temas variados. A diretora do museu, Lenora Pedroso, diz que o fluxo de frequentadores do espaço é de uma média de 20 mil visitantes por ano. Entretanto, o número pode ser maior, pois logo na entrada encontra-se um livro de presenças, que muitas pessoas acabam por não assinar. ‘‘Não é uma obrigatoriedade, então a pessoa simplesmente assina se quiser’’. Porém, uma das formas mais corretas sobre a quantidade de visitas é através do setor que agenda visitas com as escolas, o setor educativo. ‘‘Uma pesquisa na biblioteca ou acessar o setor de pesquisa e documentação, já é uma visita’’. Apesar dos contratempos acerca da estatística geral de visitantes, o local recebe muitas visitas não apenas pelas exposições, mas também para os outros serviços que o espaço oferece. As obras em exposição ficam geralmente três meses disponíveis para visitação e após isto, o acervo muda. ‘‘Fazíamos exposições mais curtas, mas o custo para ficar 15 dias ou três meses é o mesmo. Precisa fazer o banner da entrada, o folder, o serviço de montagem, identidade visual’’. Outra questão para que as exposições sejam exibidas por um período mais longo é que, além da divulgação, o tempo para visitação e para trabalhar o assunto proposto é consideravelmente maior. Para organizar o assunto que será abordado, a curadoria se reúne e escolhe o tema e após isto, elege as obras que serão expostas. ‘‘Os artistas precisam mandar proposta de exposição e essas ideias são analisadas pelo Conselho Consultivo do Museu que define as exposições que iremos realizar’’.

Preparação

Após a escolha da temática e as obras selecionadas, inicia-se o processo de preparação do material que será apresentado. A equipe do museu decide como será planejada a exposição e a ordem dos trabalhos artísticos. Lenora conta que às vezes os próprios artistas gostam de ir até o local para auxiliar a processo de montagem da criação, para que fique exatamente da forma como imaginaram. ‘‘Algumas obras de instalações nós já temos e a descrição de como deve ser montada, porque muitas vezes o autor nem mora em Curitiba.’’ Mas aqueles que acreditam que o museu oferece apenas as exposições, a biblioteca ou o setor de pesquisa e documentação, estão enganados. O local também apresenta lançamento de livros, palestras e performances. ‘‘Já contamos com programas de música, então também vem músicos tocar. O museu é um espaço aberto para varias possibilidades, tudo nos interessa’’. Nesse mês, serão abertas outras exposições, e haverá o lançamento do livro de produções de Ida Hannemann de Campos, uma artista paranaense e renomada, além da exposição Objeto Direto, que é uma coletânea do próprio acervo do museu também haverá a Bienal Internacional de Curitiba, que deve reunir artistas internacionais, paranaenses e de várias regiões Foto: Talita Santos

Lenora Pedroso, diretora do museu

Já contamos com programas de música. O museu é um espaço aberto para várias possibilidades. Tudo nos interessa.’’

Parte da frente do Museu de Arte Contemporânea do Paraná

Salão Paranaense dá mais visibilidade aos artistas No dia três de outubro, foi realizada a Bienal de Curitiba, ou Salão Paranaense, evento de grande porte que acontecem todos os anos, com exposições e entrega de prêmios. Segundo a diretora do museu, Lenora Pedroso, o número de inscrições foi satisfatório. Em relação ao processo de escolha, ela disse que após o artistas serem selecionados, eles são premiados com R$ 7 mil pela participação. Apenas dois artistas recebem um valor de R$ 20 mil, pois estas obras ficam para o acervo do museu. O processo de montagem das exposições do Salão é algo muito elaborado e minucioso, pois envolve muitas pessoas para que ocorra. O procedimento consiste em primeiramente enviar o projeto para a Lei Rouanet ou Lei Municipal de Incentivo à Cultura, depois a procura de patrocínio e então montar o edital que será colocado no site. A partir disto, os artistas se inscrevem e mandam suas propostas. ‘‘Tem um período onde convidamos os críticos de arte que irão fazer parte da comissão, eles vão analisar e escolher os artistas’’. Depois disto, tem o prazo para enviar as obras e começa a elaboração de como expor os trabalhos. Nesta etapa também é necessário a contratação das empresas que ficarão responsáveis pela expografia do local. ‘‘Às vezes, a pessoa que entra para visitar não se dá conta de todo o processo de organização

Uma artista teve sua obra recusada no salão e expôs o trabalho na Praça Zacarias, o que serviu de marketing para o museu que precisa ter’’. O salão é um local que abrange artistas renomados, porém, tem espaço para novos artistas também. Cada exposição possui um livro onde aparecem todos os artistas que participaram das edições apresentadas. ‘‘A exposição tem dia para começar e hora para acabar, então através do catálogo este evento fica documentado pra sempre.’’ Entre tantos anos de história, é comum acontecer situações

que fogem do controle dos organizadores. A diretora do museu conta uma situação específica que aconteceu em uma das exposições. ‘‘Há muito tempo, uma artista que não tinha sua obra escolhida para o salão ficou indignada com isso. Tratava-se de uma instalação com carne e gelo, e aí ela expôs a sua obra na Praça Zacarias, no dia da abertura”, conta. “Muitas pessoas perguntavam por que estava com a exposição na praça, e a artista explicava que não havia conseguido ser selecionada para participar do Salão. Isso criou curiosidade nas pessoas, que queriam entrar para ver o que estava no museu. Chamou muita a atenção e serviu de marketing, criou questionamento o que a final de contas é o nosso papel, apresentar essas questões.’’ Foto: Talita Santos

Visitantes do Museu de Arte Contemporânea do Paraná


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CRÔNICA Ainda existe um lugar Foto: Denise Becker

@TÁ NA WEB Francielly Alves

Pôr do sol na fronteira oeste do pampa gaúcho

Denise Becker

Para quem vive em cidades onde o sol reina absoluto, mesmo no inverno e, no verão, a prática de andar com poucas roupas, calçar chinelos ou mesmo andar descalços é tão comum que passa despercebida. Já para nós, do Sul, em especial os curitibanos, passamos mais da metade do ano usando roupas pesadas e sapatos fechados, sem o prazer de ver o sol brilhar, coisa rara em Curitiba. Na chegada do verão, isso quando ele chega, contemplamos dias ensolarados, agradáveis, o clima até podia ser sempre assim. Porém, só nos damos conta da vida cinza que levamos quando saímos da cidade para lugares onde a felicidade tem nome, cor e cheiro. Ah! Que exagero não é mesmo? Mas é bem assim que nos sentimos muitas vezes, nosso humor é influenciado pelo clima. Bom, o meu é. Lembro-me de dias em que os raios de sol invadiam violentamente todas as frestas das portas e janelas. Ele não pedia licença e nem queria saber se seria bem recebido. Entrava nos quartos, em todos os cômodos, dominando tudo. Por onde passava, iluminava e arrancava lá do íntimo uma vontade louca de viver e uma sensação que tudo daria certo naquele dia. Dias ensolarados, uma boa chuveirada, blusinhas e vestidos leves no closet compõe o look do dia. Cabelos nem sempre tão arrumados, maquiagem leve ou sem nada mesmo, pois até a noite o suor já levou embora qualquer produção. Há quem critique e reclame desse sol todo, mas é certo

que não viveram em Curitiba. Só quando perdemos as coisas damos valor. Eu me perdi de casa e, quando lá estava, nem me importava em olhar para o céu. Ele estava sempre azul e não enxergava outra coisa diferente de um céu sempre azul. Ah, que saudade, que vontade de viver novamente dias assim. Na capital mais fria do país, estamos em pleno mês de novembro e ainda o aguardamos ansiosamente. O sol é um visitante na capital, mas bem que ele podia radicar-se por aqui, para sempre. Não se espante e nem fique assustado.Tampouco pense que estou reclamando da cidade que acolhe meus anseios. Vez em quando, a saudade bate, dá aquela vontade de voltar para o meu Rio Grande. Lugar de sol o ano todo, frio também, mas ele sempre está presente. E o poeta traduz em seu canto, que ainda existe um lugar assim: Venha sentir a paz que existe aqui no campo, O ar é puro e a violência não chegou, O céu bem lindo e muito verde pela frente, E uma vertente que não se contaminou. Pela manhã o sol nascente vem surgindo, E os passarinhos cantam hinos no pomar, O chimarrão tem o sabor de esperança, E a criança, um sorriso no olhar. Aqui a verdade ainda reside em cada alma, Se aperta firme quando alguém estende a mão, Se dá exemplo de amor e fraternidade Aos na cidade que não sabem pra onde vão. (Ainda Existe um Lugar – Wilsom Paim)

A vida por um fio O livro A Vida por um Fio conta a história de um jovem que em meio a alucinações e insônia, por falta de entorpecentes, começa a “viajar” em um flash back de sua vida até chegar à casa de recuperação de usuários de drogas onde se encontra agora. https://www.youtube.com/watch?v=-_W_l-ewA-I

O Tigre e a Neve O filme O Tigre e Neve é uma comédia romântica italiana, dirigida e estrelada pelo ator Roberto Benigni, que conta a história de Attilio de Giovanni, um poeta e professor de literatura que sempre sonha com Vittoria. Ela viaja para o Iraque e lá sofre um grave acidente. Attilio entra numa verdadeira missão para ficar ao lado dela, tudo isso em meio a um país em guerra. https://www.youtube.com/watch?v=C7EGrIQLL1k

Semana de Arte Moderna A Semana de Arte Moderna ocorreu em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias conservadoras. https://www.youtube.com/watch?v=tZ4jaOfLGE8


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Recortes da

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Metrópole

E

les estão ali, coadjuvantes de uma metrópole que caminha apressada, que infla dia após dia, com promessas de ser e de ter. Cidade de tudo e de todos, que respira cultura, mas aspira cuidados. Capital modelo, que acolhe e cresce, em um ritmo intenso, ao mesmo tempo em que esquece os que a fazem maravilhar.

Janio Bernardino


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