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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VII- NÚMERO 46 – CURITIBA, FEVEREIRO/MARÇO 2016 Foto: Luiz Mazza

O edifício que valia ouro precisa de atenção Hotel que atraía turistas e moradores está embargado e poderá abrigar lar de idosos págs. 6 e 7

Brasileiros experts em efeitos especiais dão show em produções do Universal Channel

pág. 10

Os detalhes por trás dos bastidores da transmissão esportiva na televisão

Foto: Foto:Geraldo Bubniak

págs. 8 e 9

Foto: Divulgação

Zé do Bandoneon não desistiu e levou alegria para a Praça Osório na década de 1990

Foto: Claudete Hoffman

págs. 5 e 6


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Número 46 – Fevereiro/Março de 2016

OPINIÃO Nesta edição, a equipe do Marco Zero traz até você uma série de reportagens muito interessantes. Você gosta de cinema? Se quer saber como eles criam todos aqueles efeitos especiais, então confira uma dica de um programa de TV, estrelado por cineastas brasileiros, que ensinas truques e estratégias de como criar um bom filme de ação. Outro destaque é o perfil do apresentador dos sites do Grupo NZN Gabriel Soto Bello, que utiliza a paixão e o conhecimento pelos videogames como ferramenta de trabalho. E que tal voltar ao passado? Veja uma matéria sobre o Edifício Calluf e sobre o Museu Paranaense, um ótimo lugar para quem tem o interesse de conhecer um pouco mais sobre o passado e como os primeiros colonizadores foram essenciais para a formação do Paraná. Boa leitura!

O Marco Zero

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Expediente

Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

1o lugar MAR CO ZERO

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Divulgação

Ao Leitor

Karina Becker Thaisa Oliveira

Como está a situação do transporte público em Curitiba?

O papel da mídia no mercado de notícias Samia Martins

O Mercado de Notícias é um documentário produzido por Jorge Furtado, cineasta brasileiro, composto por uma troca de cenas entre entrevistas com profissionais em jornalismo e atos da peça teatral O Mercado de Notícias, de Ben Jhonson, e que relata o surgimento da imprensa no século XVII e o papel da mídia como influenciadora e com grande importância na construção e divulgação da notícia. Os profissionais entrevistados, Bob Fernandes, Cristiane Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Janio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Maurício Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Petre, discutem como estão sendo feitas as coberturas jornalísticas nos tempos atuais e a transformação da mídia desde o surgimento até hoje. Para isso, são apresentados casos para análise, levando em conta a opinião dos entrevistados. Um dos casos exprime o jornalismo monopolizado que existe no país e é vendido à sociedade como se fosse interesse público, quando, na verdade, é de interesse político e econômico do veículo de comunicação. Em 2004, o jornal Folha de São Paulo publicou na primeira

página a informação de que havia um quadro do artista espanhol Pablo Picasso pendurado na parede de uma das salas do Instituto Nacional de Seguro Social de Brasília, o INSS. Rapidamente, após esta notícia, outros meios de comunicação, sem apurar a veracidade da notícia, repetiram a publicação e os mesmos erros. Na verdade, o quadro era apenas uma reprodução da obra de Picasso. Ocorreu um erro na divulgação da informação na Folha de São Paulo e dos outros meios, que se aproveitaram da notícia “fácil”, mas acabaram por reproduzir uma invenção ou confusão de informação que não era verdadeira. No conteúdo apresentado pelo documentário O Mercado de Notícias, é explícito a mudança na maneira de se consumir a notícia. O tema é abordado pelos entrevistados que afirmam existir o imediatismo quando há a intenção de se informar. Textos e falas interessantes, curtos, de simples leitura e em tempo real são cada vez mais almejados pelos leitores, telespectadores e ouvintes. Aproveitando-se disso, a mídia se baseia nos próprios interesses econômicos de possuir êxito nas publicações e, algumas vezes, divulga o conteúdo que ultrapassa a ética do profissionalismo jornalístico, sem a checagem da informação, analisando apenas um ponto de vista da informação, tendo como foco o interesse da empresa de comunicação ou o

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter Coordenador do Curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Professor responsável: Roberto Nicolato

meio que presta o serviço. Os depoimentos dos treze jornalistas no decorrer do documentário de Jorge Furtado tratam, também, do sentido e da prática da profissão. Ao mesmo tempo em que enfatizam o grande poder que a mídia opera sobre a sociedade – no que diz respeito à transmissão da informação –, ressaltam os riscos que a imprensa corre quando não se utiliza da ética profissional na divulgação e análise dos acontecimentos. O Mercado de Notícias conta com a participação de jornalistas renomados que discutem as coberturas jornalísticas nos dias de hoje, o ponto de vista em que a mídia apresenta as notícias, os erros jornalísticos que podem acontecer, principalmente se há a falta de checagem de fontes e informação, como também no caso da Escola Base. Também abordam as questões que envolvem a ética jornalística e as transformações que a mídia sofreu e vem sofrendo no decorrer do tempo e das mudanças tecnológicas exigidas pelos próprios veículos e a sociedade. Sem dúvida, as informações apresentadas e exibidas no documentário evidenciam os pontos positivos da imprensa (em informar, noticiar) e os negativos, quando se refere aos erros que um veículo, empresa ou o próprio jornalista pode cometer na vontade de transmitir o inédito e o “único” em tempo real.

Diagramação: Karina Becker Thaisa Oliveira Luiz Rocha

Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho, 131

Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

E-mail

80410-150 |Centro- Curitiba PR www.facebook.com/jornalismouninter.

Telefones 2102-3377 e 2102-3380.

“Está uma porcaria. Pego o Santa Cândida todos os dia, pago R$ 3,80 e vive lotado. Cleide do RosSomos até assil, 46, saltados dentro diarista dos ônibos. Já foi melhor, mas agora está difícil porque você paga um absurdo na passagem e tem Mariza Picler, que ir amonto61, aposentada ado. Além da falta de educação das pessoas que não cedem lugar para os idosos e pessoas que têm preferência. O transporte público está uma negação.”

Camila Zotti, 17, estudante

“Está complicado, passagem muito cara, não aumentam a frota dos ônibus e eles vivem lotados, principalmente em horário de pico.”

“Dizem que Curitiba é referência em transporte público, mas está perdendo essa creEverton Kukenbeck, 19 dibilidade. Tem Recepcionista a questão das integrações que não são mais feitas e também estão sempre lotados. Os ligeireinhos são super rápidos, mas os ônibus de bairro são muito demorados.” “Acredito que pelo valor que estamos pagando agora, - um valor absurdo - está bem preMaria Claudia, cário. Super lo18, tação, atrasos, estudante precariedade nos veículos, eles vivem atrasando, não está certo isso.”


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PERFIL

O “pai mafioso” das artes alternativas Bapo, como é chamado pelos seus “muitos filhos”, Gerson Guerra conseguiu agregar em torno da AgendArte a nata da arte alternativa paranaense. Foto: Acervo pessoal

Virgília Serra

Gerson Guerra

te em Curitiba. Nestes cadernos, seus compradores produzem anotações, estimulados pelas leituras de pequenos textos esparramados pelas páginas do Almanaq.

Projeto voluntário

Além disso, Guerra é palhaço e faz performances pelo Paraná através do seu “Vale Sorriso”: projeto social voluntário, sem nenhum vínculo político ou religioso, que não ora em vão nem faz discurso, desenvolvendo ações beneficentes em diversas instituições na Grande Curitiba e em Londrina. A ajuda consiste em arrecadar e distribuir roupas e brinquedos em entidades filantrópicas. Este projeto realiza apresentações teatrais, musicais e circenses em outros locais, como creches e hospitais, e desenvolvimento de oficinas de arte e cidadania, destinadas aos idosos e aos adolescentes em situação de risco social. Esta é a forma simples e objetiva que Gerson encontrou de levar calor e alegria às pessoas mais necessitadas. Além de estar na sua barraca no Largo da Ordem, onde Gerson vende desde livros usados a suas requisitadíssimas agendas “AgendArte”: cada uma melhor que a outra, como diz Elói – seu fiel comprador que sai de Sorriso, Mato Grosso, para adquirir este produto gráfico todos os anos. Este ano, este comprador levou quatro e autografadas pelo mentor do projeto. Também na Feira do Largo da Ordem, o Bapo se transforma ou no menino “Anarqino” ou na “Dona Qina”, seus dois personagens que divertem crianças de todas as idades que passam por um dos seus palhaços na Feirinha. Faça chuva, sol, granizo ou preguiça: lá vai estar o Bapo atendendo a clientela

Dona Qina, um dos personagens de Gerson Guerra, na Feirinha do Largo da Ordem e de outros projetos.

com muitos sorrisos e bom astral. “A Feira do Largo, realmente, é pra mim uma forma de encontrar parceiros, artistas, poetas e também de fazer novas amizades. Não gosto quando chove no domingo de manhã, pois atrapalha a delícia da nossa querida feira”, comenta.

Foto: Virgília Serra

Londrinense por causa de seus pais, Assunta Dulce e Henrique, curitibano por opção, e apelidado de “Bapo” pelos seus muitos filhos, gerados ou não. Este “menino fora do tempo” é um pé vermelho à parte e chegando aos 62 anos, Gerson Guerra se diz “de alma imortal”. Para quem já viveu na pele muitas vidas em apenas uma: neto e filho de portugueses, deixou para trás a formação de engenheiro civil e como estava aflorando as habilidades como artista gráfico, em 1993, este guerreiro e sua trupe criaram a primeira “AgendArte – O Almanaq Original”, totalmente artística, literária e ilustrada. Este feito foi resultado da concepção de um grande sonho e de uma virada de 360 graus na vida deste homem que já anda à frente do tempo e da cultura atual com o seu já tradicional Almanaq. “’Bapo,’ na homenagem diária que os meus filhos me fazem ficou ótimo, me tornando um ‘craque’ das artes, as quais me dedico há tempos”, diz o mecenas de muita gente criativa. Quando Guerra optou por desenvolver um produto que vai no caminho a ser trilhado pela originalidade, ele congrega em torno de seu projeto um grande número de artistas, poetas, escritores e ilustradores. Há mais de 20 anos, segue a trilha da arte como meio de vida, participando religiosamente todos os domingos da Feira do Lago da Ordem com os seu fiel poeta Batista do Pilar. No local, vendem as agendas que trazem imagens diversas, desenhos, pensamentos e poemas. Como um caderno cheio de desenhos e fotografias, constitui uma releitura contemporânea dos almanaques no tempo em que Gerson ainda andava de calças curtas no barro vermelho de Londrina. “Sempre que sobra um tempinho, volto à minha terra natal para sentir o cheirinho da minha primeira década de vida e recarregar as baterias”, diz ao falar de suas memórias. Há pessoas que, ao comprarem a agenda, também se arriscam a registrar naquelas páginas seus próprios escritos literários. Assim, nasce os primeiros “moleskines” feitos anualmen-

A Feira do Largo, realmente, é para mim uma forma de encontrar parceiros, artistas, poetas e também de fazer novas amizades.

Mudanças

A AgendArte hoje não é só um agenda que sai há mais de 20 anos: virou livraria, sebo, editora e espaço cultural. A editora já conta com dois livros editados e mais outros três no prelo. Sempre tem coisa acontecendo: uma discotecagem de vinil, um “chá com poesia” ou, até mesmo, o aniversário do Batista do Pilar, um “pilar” da poesia alternativa curitibana . Gerson está casadíssimo com Simone Salomão há mais de 20 anos. Dela é a responsabilidade, também, em reunir e organizar as colaborações de artistas de todos os lugares para as edições anuais do “Almanaq”. “O irresponsável e inconsequente sou eu. A organizada é a minha esposa, Simone”, elogia o apaixonado marido. A seleção do material a ser publicado é feita com muita liberdade e encorajando poetas, escritores, desenhistas, cartunistas e fotógrafos a enviarem seus trabalhos para a AgendArte durante todo o ano. Sendo assim, este produto não é unicamente de Simone

Gerson Guerra trabalhando no escritório da Livraria AgendArte.

e Gerson: agora, pertence a toda classe da arte alternativa de Curitiba e de todos que se deleitam com suas preciosas páginas com toques de excelente alto astral. Quando Gerson Guerra, ou simplesmente Bapo, é indagado a respeito da sua definição de arte, ele responde: “Emoção, arte é emoção em todas as suas formas: um amor mesmo como o meu pela Editora AgendArte, pela minha família, pelos muitos amigos e pela vida.” Serviço: A AgendArte Livros está localizada na Rua Manoel Ribas, 110 no bairro São Francisco, Curitiba - Paraná.

Estante com todas as edições da AgendArte na Livraria.


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CIDADE

Um recorte na história do Paraná O Museu Paranaense é uma boa opção para quem gosta de viajar no tempo e conhecer histórias sobre o Estado e seus primeiros colonizadores Aliana Machado

Experiências Aliana

Segundo Ielen, não há necessariamente, uma obra mais importante, pois o acervo é relevância histórica. ”Porém, a estátua de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais Alynee utilizada na catequização dos coTaroco lonizados do Brasil e resguarda uma parte da história Católica, Quem quer conhecer um pou- tornando-a um objeto impressioco da história do Paraná, não nante por se tratar da Padroeira de pode deixar de visitar o Museu Curitiba e o patrimônio que chama Paranaense, que hoje se encon- mais atenção das pessoas é a coletra no Palácio São Francisco, sua ção de moedas’’. No museu observa-se muitos sétima sede, localizada na Rua objetos relatando os primeiros Kellers, no Alto do São Francismoradores do estado: os índios, co, em Curitiba. Com acervo fixo com todas as suas características de aproximade vestimenta, damente seiscaça e habitat centas peças, Representa a natural. Bem entre quadros, como represenartefatos indíchegada dos ta a chegada genas, moedas, colonizadores dos colonizapedras, insedores do Brasil do Brasil e sua tos, objetos de sua formação tortura, sem formação política epolítica do Pacontar suas do Paraná. raná, retratanexposições do a chegada temporárias, o do primeiro conselheiro e presimuseu é considerado o primeiro dente das províncias do Estado: no estado do Paraná e o terceiro Zacarias de Góes e Vasconcelos. no Brasil neste setor. Atualmen“Para mim, a importância do te, desenvolve estudos nas áreas museu se deve ao fato de que, de Antropologia, Arqueologia e como eu, morador de outra cidaHistória. de, posso entender um pouco mais “A casa foi comprada pelo da história do Paraná, lugar que Governo com muita insistência, e eu escolhi como minha casa há 7 apesar de muitas reformas, existe anos.’’, diz Sérgio Miranda Marum banheiro no andar superior que tins Júnior, assistente financeiro e ainda está intacto, mantendo sua natural do Rio de Janeiro. estrutura desde a construção’’, diz Já Maria de Fátima Talamini, Maurício André Ielen, funcionário dona de casa, afirma que do seu do departamento administrativo. ponto de vista, o museu é imporO local é visitado semanaltante para os estudantes da região. mente em média por 1.600 pessoas “Aqui, eles vão além dos livros da e, segundo Ielen, a maior procura se dá por estudantes em excursões sala de aula. Eles sentem como se que chegam a atingir cerca de 600 estivessem fazendo parte deste cenário tão antigo e fascinante.’’ visitantes por semana. Machado

Instrumentos de tortura, usados na época e que deixaram o Barão de São Félix com fama de violento

O empresário Fernando Braga já pensa no museu como forma de distração e informação. Trago meus filhos aqui para se divertirem e aprenderem ao mesmo tempo. Eles ficam fascinados com cada objeto encontrado e confesso que é difícil segurá-los porque tudo que encontram pela frente querem tocar” (risos), afirma o pai do Matheus e da Gabriella, ambos com 7 e 5 anos. Com isso, as novas gerações veem o quanto a tecnologia avançou através dos tempos.

História Com 139 anos de existência e muita história, o Museu Paranaense é um dos mais antigos do Brasil. Desenvolvido e elaborado por Agostinho Ermelino de Leão e por Aliana Machado

Interior do Museu Paranaense, no setor em que conta a história de tribos índigenas do Paraná.

José Candido Murici, foi inaugu- do século XIX que foram utilizados rado dia 25 de setembro de 1876, na época da escravatura por José Féno antigo Largo da Fonte, conheci- lix da Silva, conhecido por ser um do hoje como Praça Zacarias. violento dono de escravos. Entre tais Desde então, o museu apropriou- instrumentos, encontram-se corren-se de seis sedes até consolidar na tes para condução de escravos, algeatual: o Palácio ma com peso São Francispara os pés que co. Sendo hoje Aqui os alunos vão os impediam dirigido pelo de fugir ou até além dos livros historiador Remesmo andar e nato Carneiro, da sala de aula e o tronco de maforam introdusentem como se deira utilizado zidos métodos estivessem fazendo para castigáampliando o Há tamacesso dos viparte desse cenário -los. bém objetos sitantes e curiotão antigo e do Barão e sua sos ao ambienesposa, a Bafascinante.” te nos últimos ronesa de São anos, facilitanMaria de F. Talamini. Félix, Onistardo e permitindo o alcance às informações sobre da Maria do Rosário. o museu, como por exemplo, o tour José Félix comandou diversas virtual e o áudio tour. expedições militares pelos sertões de Tibagi, encontrou ouro pela região, O espaço fica aberto de terças enriqueceu rapidamente e tornoua domingos, tornando-se um lugar -se proprietário da Fazenda Fortalecurioso e agradável para pessoas za. Além de ser violento com seus que buscam matar a curiosidade eszcravos, também o era com sua sobre memórias de gerações pas- esposa. Uma das lendas que persadas, do Estado e da cidade de meiam o museu é de que ele tenha Curitiba, conhecendo a cultura an- acorrentado sua esposa ao pé da tepassada e de forma gratuita. cama durante anos, por acreditar que Ao passar pelos corredores e sa- a baronesa era infiel. A cama está em las do museu, é impossível não parar um local reservado e conta a história para ver os instrumentos de tortura do casal.

Tortura


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COMPORTAMENTO

Apesar dos empecilhos, ele não desistiu Zé do Bandoneon não desistiu do seu sonho e levou alegria para o cotidiano de muitas pessoas que passaram pela Praça Osório na década de 1990 Adeloures se tornou uma das espectadoras e narradoras das histórias viLaura vidas pelo irmão,18 anos mais velho. Weiss Quis seguir carreira militar, permaneceu por dois anos no quarO som de fortes estalos, um tel do Rio Grande do Sul, seu escalor fora do normal, e os gritos tado natal, mas o desejo de viver desesperados da mãe, fizeram com fardado não deu certo, por motivos que somente o próprio José Antôque o filho mais velho da famínio poderia nos contar. Quis ser lia Scholtz acordasse em meio à músico e saber tocar vários instrumadrugada de um sábado quente mentos, assim como a avó Anna. de 1940. Ao sair pelas portas da Neste caso, ser o filho mais velho grande casa, carregando o irmão tinha também suas vantagens, pois de apenas quatro anos nos braços, aos oito anos de idade, aprendeu percebeu que o problema não escom o próprio pai a tocar um detava na moradia, e só então pôde les. E seis anos mais tarde, veio a avistar, lá longe, o sustento da faganhar um instrumento exclusivo, mília sendo destruído. Chamas de importado da Alemanha, o qual se um laranja intenso e labaredas altornou o entretenimento e a curiotas se alastravam em meio ao antisidade de Antônio e dos irmãos go moinho, a tafona (utilizada para mais novos. Um tanto diferente, fabricação de farinha de mandiocom palhetas livres e um som única) e a ferraria, espaços geminados co, este objeto musical era muito que dividiam um mesmo telhado. comum no Uruguai e na ArgentiAo ver o pai desesperado, sentiu na, e passou a pertencer ao, ainda medo e teve certeza que a vida garoto, sonhador. Muito novo, ele dele, um adolescente de apenas aprendeu, se apaixonou e não quis quatorze anos, mudaria de rumo a largar do Bandoneon. partir dali. Curiosamente o dia em que Responsao primogênito bilidade. Esta foi presenteado sempre foi a pelo líder da ”Ele sempre foi palavra-chave passou uma pessoa certa família, nas famílias de de uma data coorigem alemã. demais e, por esse mum a um dia Ser o primeimotivo, o Antônio de festa. “Todos ro da linhagem os irmãos se de onze filhos, se doava pela reuniram, nosso tornou um jopai tocava junfamília.”. vem sonhador o tamente com Maria Adelourdes. braço direito do o Antônio, e o próprio pai. Os coro de crianças estudos na cidade vizinha, município acompanhava as canções antigas. de Chapada, no Rio Grande do Sul, Foi bonito de se ver”, emocionado ficaram de lado, assim como os dias e com os olhos embotados em láque passava na casa da avó Antônia grimas, narra a esta escritora, Roe também o desejo de continuar tra- mano Scholtz, aquele irmão que balhando em festas, bailes e eventos, com apenas quatro anos de idade como músico. foi carregado por José Antônio, Com determinação de quem sa- casa afora, fugindo de um possível bia o que estava fazendo, José Antô- incêndio. nio Scholtz – nessa história e posteO objetivo do pai era que o guri, riormente em sua vida reconhecido ao lado de dois irmãos mais novos, como Zé do Bandoneon – dedicou- passasse a animar as festas da região -se inteiramente para ajudar o pai e os com sua música. Assim se fez, e foi irmãos a reconstruir o que perderam. bom enquanto durou. Mas o destino E assim foi a vida toda, dedicado, o surpreendeu, mudou, transformou responsável. “Ele sempre foi uma seussonhos. Os estudos, as vontades pessoa certa, certa demais, e, por esse da família e o fatídico incêndio, fizemotivo, o Antônio se doava pela fa- ram com que Antônio precisasse se mília. Primeiro ao meu pai e nossos afastar dos tangos e músicas romântiirmãos, depois à esposa e os filhos, cas, que tanto gostava. mas foi se esquecendo de ser feliz”, E voltamos à cena inicial desta com este conhecimento e esta intimi- narração.O garoto que viu na sua dade que só uma irmã pode ter, Maria frente o ganha pão da família ser

consumido rapidamente, se tornou um homem, e ao lado do pai, teve que tomar decisões. A ideia inicial foi abandonar o moinho e a tafona, para dedicar o trabalho exclusivamente à agricultura. Uma semana, duas semanas, quase três se passaram e ao analisarem a situação da economia do país, abandonaram o cultivo na terra.

Foto: Claudete Hoffman

Novos rumos

Na década de 1940, quando o incêndio aconteceu, o Brasil participava da Segunda Guerra Mundial e o alimento mais consumido pelos militares era justamente a farinha de mandioca. Baseado nas longas conversas que teve com José Antônio durante sua vida, Romano conta o motivo das mudanças de planos. “O preço do produto valorizou absurdamente, valia muito mais a pena para o nosso pai reconstruir a tafona do que trabalhar na agricultura, mas para isso faltava dinheiro.” Com cara e coragem, o velho pai Scholtz pediu crédito aos grandes amigos, vizinhos e aliados, conseguindo assim, a quantidade necessária para comprar madeira e construir um novo moinho e uma nova tafona. Mesmo em meio a tanto trabalho, o jovem José Antônio não conseguia abrir mão da música, da alegria que sentia ao tocar o bandoneon nas festas de família ou nos bailes da região. Uniu alegrias e tristezas com integridade, caráter e muita responsabilidade. Estas três palavras são suficientes para definir Scholtz. O garoto, que se tornou homem ainda cedo e antes mesmo que pudesse perceber, já estava casado e preparado para ver que novamente sua vida mudara. Porém, existe um ponto que não se modifica durante esta história. José Antônio, o homem de estatura média, sotaque forte – comparável ao de um imigrante alemão – e organização indescritível, era dedicado. Voltava sua vida às pessoas que amava, queria vê-las felizes, prosperando e apenas isso. Logo após o casamento com Elma, em 1947, decidiu que era o momento de mais mudanças. Quase quatrocentos quilômetros. Essa foi a distância da cidade para onde nosso protagonista partiu. Um município pequeno, praticamente um campo aberto, sem muita estrutura, mas com espaço suficiente para

Zé do Bandoneon encanta com sua alegria e espontaneidade

a construção de um negócio. São A música? Nesta cena da vida João, no interior do Paraná, foi se de Antônio foi deixada de lado. Ou tornando aos poucos o lar da fa- dedicava-se à família e trabalho, ou mília Scholtz, pais, irmãos, sobri- ao amado bandoneon. O segredo do nhos, todos foram tomando posse artista estava nas madrugadas, side um pedaço daquelas terras. lenciosas e muito propícias para um Envolvido homem apaixocom o trabanado pela músilho no moinho ca encontrar-se “Todos os irmãos se com ela. Era e com a criação de porcos, reuniram, nosso pai nestes momenAntônio tamem que o fitocava juntamente tos bém se tornou lho mais velho, com o Antônio, e muito ativo o pai de família, politicameno coro de crianças o comerciante, te, participou político e negoacompanhava as da fundação, ciador tornavacanções antigas. Foi organização e -se apenas o múpresidência da sico, o sonhador, bonito de se ver” Coasul, hoje que escondido Romano Scholtz. considerada de tudo e todos a maior coopodia ensaiar e perativa de agricultores do sudoeste alegrar-se com as notas musicais, do Paraná. Cresceu financeiramente, que saíam não mais do instrumento teve diversos negócios, era influente alemão dado pelo pai, mas do novo e conhecido na pequena cidade e po- bandoneon comprado em 1967.Asderia dizer que estava bem. Feliz por sim foi vivendo cuidadosamente em ver as pessoas ao redor felizes, mas campo proibido, fugindo das demais disfarçando a própria infelicidade por responsabilidades. não fazer o que mais amava. Continua na página seguinte...


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ESPECIAL

Uma vida em segredo

cedo de casa com seu carrinho, o qual levava o pesado instrumento e poucas partituras, pois a maioria das músicas ele tinha guardada na memória ou no coração. “Feliz, feliz, feliz, feliz”, esta foi a resposta espontânea de Maria Adeloures, que foi questionada sobre a reação de Antônio quando começou a tocar nas ruas da capital. A maior alegria era, como sempre, agradar as pessoas ao seu redor, tocando para elas e tornando seu dia de pessoas com rostos desconhecidos muito mais bonito. Porém, em segundo lugar no ranking de satisfações pessoais do Zé do Bandoneon, estava a hora de conferir os lucros do dia. Ao chegar na casa da irmã (a qual foi seu lar nos últimos anos), todos os dias, o artista derramava o conteúdo da bolsa verde – singela e pequena, mas que passara o dia exposta, esperando para ser preenchida – sobre a mesa, e contava moeda por moeda, colocando-as em uma bandejinha. “Ele anotava tudo, detalhe por detalhe. Tal dia entrou tanto, tal dia entrou tanto. Organizado, como se ele tivesse uma empresa grande”, com um sorriso espontâneo, a senhora – com espírito jovem – demonstra orgulho por ter convivido com um irmão tão dedicado. E assim foi por doze anos, de rua em rua, praça em praça, festa em festa, ele se dedicou, gravou seis discos, vendeu mais de dez mil unidades e fez bonito até quando o sopro de vida lhe permitiu, deixando-nos aos 86 anos, numa fria manhã de 2011. A primeira cena que vem à cabeça, ao escutar o nome de Antônio, é a de um velhinho, com as marcas do tempo em seu rosto, com um sorriso de dar gosto e com aquelas mãos, ora trêmulas, ora firmes, mas extremamente habilidosas. Foram essas mãos que durante muito tempo animou festas de famílias, casais apaixonados, crianças curiosas, pintores, artesãos, artistas, amigos. As mãos ligeiras e competentes embalaram danças e momentos importantes da vida de uma garotinha, hoje jovem, que aqui vos narra. Zé do Bandoneon, apelido e nome artístico dado carinhosamente pelos curitibanos, para mim era simplesmente o Tio Antônio. Irmão da minha avó Maria, o senhor simpático que durante anos morou e nos encantou na casa dela. O homem que sonhou do começo ao fim de sua vida, e que quando menos esperava foi surpreendido por ela. Foi resgatado do fundo de um mar de tristezas para uma superfície de alegrias, A este homem, nos resta um “obrigada!”.

O Edifício que

O hotel que outrora ch hoje está embargado e Foto: Luiz Mazza

antigo bandoneon, formando boSegredos à parte, a vida sornitos tangos e fazendo-o relemria para José Antônio, o Zé do brar da infância e adolescência. Bandoneon, na cidade do interior Época em que seu sorriso não paranaense, e na maior porção era amarelo, que não disfarçava do tempo, ele sorria – um sorrinada, apenas sorria, gargalhava e so amarelo – de volta para ela. satisfazia-se tocando para os irPorém, essa história ainda não mãos, os amigos e em pequenos chegou ao fim e claro, as mueventos que animava. danças também não. Discreta e muito educada, Maria Adeloures – uma de nossas colaboradoras Resgate músical para a construção deste enredo – Morando em uma quitinete no toma cuidado ao falar sobre esta centro de Curitiba, o idoso sentia-se parte da vida de Antônio. Já um sozinho. Tinha tempo demais, penhomem formado, bem sucedido, samentos demais, receios e medos com sete filhos e alguns netos, o demais. Toda a alegria que passara moleiro teve de tomar uma de- durante sua vida, foi dedicandocisão séria, novamente para aju- -se a fazer as outras pessoas felizes. dar a família. Por volta dos anos Naquele momento não sabia como 1980, deixou aquela pequena ci- ser feliz sozinho. Chegou a procudade, a qual se dedicou para ver rar médicos, fazer exames, tomar crescer, e teve que se mudar para remédios, mas o maior alívio vinha Curitiba. Como ele mesmo diria, sempre acompanhado da música. E “veio de mala e cuia”, a fim de foi ela, que o resgatou, que trouxe a apoiar um filho. tona tudo que havia vivido de melhor Concreto para todo lado, mo- e transformou o tempo de sobra em vimento, barulhos, gírias, prédios, tempo de qualidade, produtivo. rotina, vida agitada. A capital paraFoi em 1998. Durante uma das naense não chegava nem perto da voltas pelas ruas centrais da capital calmaria presente na pequena São paranaense, Antônio passou pela anJoão. Já nas primeiras semanas mo- tiga Praça Osório e lá, uma cena lhe rando em uma casa comprada em chamou a atenção. Despojado e alePinhais, região metropolitana de gre, um homem idoso tocava talenCuritiba, a família de Antônio que- tosamente seu saxofone para quem ria voltar para o quisesse ouinterior. Incrivele aos pés, Sua maior alegria, vir, mente, o homem uma pequecomo sempre, era na caixinha que tanto trabalhou na vida, enagradar as pessoas, arrecadando controu na cidaos, também mesmo que fossem pequenos, lude grande uma nova sensação, cros. Curioso desconhecidas. liberdade, novos e interesdesafios, um espaço para explorar, sado pelo trabalho daquele ainda ou apenas o desejo de ficar perto desconhecido, ele se aproximou e dos filhos, não se sabe. O que acon- descobriu mais coisas em comum teceu foi que Odilon e Marlise, fi- do que imaginara. Cândido era um lhos de Antônio, decidiram ficar na ex- policial militar aposentado, que capital. A esposa e os demais filhos rapidamente se entendeu com Antôdecidiram voltar para São João. nio, descobriu o amor do idoso pela Forte e já preparadíssimo para mu- música, a vergonha de tocar sozinho danças, José Antônio Scholtz teve nas ruas e lhe fez um convite. No seu “dia do fico”, e disse à família domingo seguinte, a dupla de saxoque permaneceria em Curitiba. fone e bandoneon alegrou turistas e Foi mais difícil do que ima- curitibanos que passeavam pela feiginara. Durante todos os anos de rinha do Largo da Ordem. Foram três anos trabalhando sua vida, teve muitas ocupações, muitas responsabilidades e nunca ao lado daquele homem, que lhe parara para pensar em si mesmo, apoiou e inspirou diversas vezes. E ou se auto conhecer. Ao estar so- antes mesmo que ele pudesse imazinho, em uma cidade enorme, ginar Cândido o deixou. O homem sem nenhuma obrigação, Antô- de quem Antônio mal lembrava o nio começou a sentir o peso da sobrenome faleceu, mas antes de infelicidade nas costas. Sentia-se ir, cumpriu a missão de resgatá-lo, inútil sem trabalhar, precisava e mostrar que ainda podia fazer encontrar – e logo – uma mo- pessoas felizes, que poderia fazer o tivação para continuar a viver. que mais amava e arrancar sorrisos, Não queria voltar para São João, lagrimas e sentimentos de fulanos e sabia que lá já não era mais seu fulanas que ele nem mesmo conhelugar. Tinha como consolo, as cia. Então continuou. Continuou notas românticas que tirava do aquele trabalho e todos os dias saia

Munira Salomão Calluf vivenciou parte da história do edifício

Jéssica Barbosa

Luiz Mazza

A vida do imigrante libanês Miguel Calluf poderia se tornar um romance ou uma história ilustrativa, sendo narrada na grande Curitiba, em que tudo havia por fazer. O ex-mascate e vendedor de frutas, como era conhecido, ficou encantado com a capital paranaense na década de 40 e, com uma mão na frente e outra atrás, mas pronto para conseguir seu espaço, veio com a família em busca de novas oportunidades. Curitiba foi onde Calluf escolheu para viver o resto de sua vida e aqui conheceu dona Metila. Casaram e tiveram alguns filhos, como o padre Emir e Munir, que ficou conhecido como técnico de futebol pelo estado e, principalmente, no Japão. Porém, o nome que se destaca nisso tudo é o de dona Munira Salomão Calluf, a única sobrevivente do clã original da família, que cresceu e conviveu ao redor do centro histórico de Curitiba e que é a porta de entrada para nossa história.

O ponto de partida

Durante uma conversa e muito café, dona Munira destaca alguns pontos marcantes sobre o edifício e, com um ar de quem traz à memória todo o passado, explica que o Calluf utilizou como inspiração para a construção do edifício, no centro de Curitiba, um prédio de Nova Iorque. Nascia, então, o Lord Hotel, em 18 de dezembro de 1954, projetado pelo arquiteto Ralf Leitner, a pedido do governador da época, Bento Munhoz da Rocha, com base no clima da época de se fazer do Paraná, um estado reconhecido e moderno. Ela não poderia imaginar que a residência dos Calluf se tornaria um dos locais mais cobiçados pelos turistas e moradores da cidade, pois o hotel ficou conhecido pelo luxo e também por ser um dos primeiros arranha-céus da capital, deste modo sendo considerado como o ponto principal de estadia para grandes personagens da época. “A construção levou cerca de oito anos e foi um dos edifícios que marcaram a época de pujança da economia paranaense, hospedando grandes nomes e abrigando diversos eventos da alta sociedade”, relembra dona Munira, emocionada. O Hotel nasceu com o nome


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e valia ouro precisa de atenção

hamava atenção de turistas e moradores de Curitiba, e pode ser usado para abrigar um lar de idosos de “Lord” no começo dos anos a renovar, mudar e reinventar o 50, e chegou logo a ter quatro es- estado do Paraná, com a construtrelas, mas com o tempo a chefia ção desse belo edifício.” mudou de mãos. Com a morte de Apesar de a família Calluf erMiguel, em 1962, oito anos após guer um grande império na caa inauguração do edifício, o hotel pital paranaense, muitos descopassou a ser chamado de Eduar- nhecem a existência do edifício. do VII, ordenado por um grupo Outras pessoas se questionaram de portugueses na época. a respeito do tamanho do prédio Além do hotel, os Caluf já e quais os motivos levaram o tinham nos anos 1950 uma casa dono a construí-lo em um pequecomercial, um ponto da ele- no espaço, um pouco afastado da gância feminina de Curitiba, principal avenida do centro de o “Louvre”, Curitiba. Para instalada num esclarecer esO Hotel ficou espaço de insas dúvidas, a teriores magarquiteta e resconhecido pelo níficos, preponsável pela luxo e também valecendo o revitalização por ser um dos “art nouveau”. do edifício, “Louvre” era Ivilyn Weiprimeiros arranhao “rei das segert, conta que céus da capital. das”. E isso já a estrutura foi bastava para estudada deviuma época em que toda mulher do possivelmente ao risco de se teria um toque a mais para o construir algo tão alto e que foi modismo; uma costureira, aque- planejado com muita antecedênla que, com boa técnica, apren- cia. dida nas muitas escolas de corA arquiteta conta com entute e costura existentes, para se siasmo como foi participar da manter atualizada com os novos restauração. “O trabalho conti‘figurinos’. nua sendo realizado em etapas, As vendas ali eram em me- contemplando a adaptação dos tros. A história quase se confun- espaços internos (banheiros, de com a de dona Munira, que quartos, infra-estrutura necessápassou praticamente metade de ria, entre outros) e fachadas (resua vida envolvida com o edifí- vestimentos, esquadrias etc.). O cio. Hoje, permanecem apenas tempo estimado é de três anos”, as lembranças que a emocionam comenta Ivilyn. frequentemente. Ainda no “Não podia ver rápido e in“Não podia ver meu pai mais fetenso bateliz do que naquemeu pai mais feliz -papo, ela la época, aliás, disse que do que naquela só mais feliz foi trabalhar época, aliás, só quando conhecom edificaceu minha mãe, ções histórimais feliz foi a doce mocinha cas é sempre quando conheceu um grande da cidade, garanto”, conta caindo minha mãe, a doce prazer; pesna gargalhada. remocinha da cidade, quisar, “Vivíamos dializar o legaranto” reto ali, acompavantamento nhávamos todos arquitetônios acontecimentos e as novida- co e a posterior proposta de indes. Papai nos contou de como tervenção é envolvente e demanconversou pela primeira vez com da experiência e conhecimento o governador da época, o Bento técnico específico. “O grande deMunhoz da Rocha, e claro, a pe- safio dos arquitetos consiste na dido dele a ideia de chamar um capacidade de tornar os espaços arquiteto renomadíssimo, o Ralf utilizáveis aos usos contemporâLeitner. Ou seja, o grande ânimo neos, assegurando a dignidade e de seu Calluf de querer ajudar as características originais rele-

vantes do edifício”. A equipe do jornal Marco Zero, infelizmente, não conseguiu registrar fotos internas, pois existe uma briga judicial entre o atual dono e uma das maiores redes hoteleiras do país. O edifício está parcialmente modificado, comparado ao que era antes, embora sua estrutura arcaica e muito chique ainda esteja presente. “Parte dos banheiros e mobiliários originais continuam preservados. Isso faz com que a memória e a história do edifício nunca sejam esquecidas”, relata a arquiteta. Para fechar a boa conversa com Ivilyn, perguntamos se ela fazia o trabalho sozinha no hotel. Para nossa surpresa, ela diz realmente que sim, embora mantenha com frequência a parceria com uma restauradora (Tatiana Zanelatto Domingues) e com outros escritórios de arquitetura, mas que não prestam serviço na área de patrimônio histórico. Enfim, a restauração do hotel estava realmente por sua conta e todos esboçaram boas risadas. Com o fechamento do edifício, o velhos elevadores, três no total, que Miguel foi comprar em Nova Iorque, movimentam-se ocasionalmente, mas apenas para manutenção. Para o engenheiro e empresário Luiz Antunes, de tradicional família da terrinha, a pendência judicial do hotel resulta de embargo feito pelo governo do estado e isso é o que mais o deixa triste. Ou seja, o fato de não poder ajudar a quem precisa hoje. Se tudo estivesse nos “conformes”, seu Antunes iria prestar um grande serviço à comunidade, transformado o hotel em lar para idosos em pleno centro de Curitiba. Um abrigo acessível à classe média e com 180 apartamentos, além de dois andares, amplos, de área comum para lazer dos futuros hóspedes. Infelizmente o jeito é esperar que a justiça seja honrosa”, lamenta cabisbaixo. O centro da cidade pode ser entendido como o que há de mais original, de mais puro, sobre Curitiba. É com saudade que dona Munira conta que seu pai pouco

pode aproveitar do edifício, que para sempre levaria seu nome. Miguel Calluf faleceu oito anos após a construção do prédio, em 1962,

com 71 anos e não pode presenciar a fama dessa obra de arte, esse patrimônio erguido no centro de Curitiba.

Qual será o destino do Edifício Calluf? Um dos motivos que levaram o hotel a fechar as portas foi o alto preço da manutenção. Por se tratar de um grande prédio luxuoso, certamente o dinheiro não era pouco. Também pesaram a situação econômica do estado e a e a falta de clientes, que contribuíram para o fechamento do Eduardo VII. Depois de certo tempo, a família Calluf já sem esperanças de ver o hotel como era antes, resolveu vendê-lo e o atual comprador o mantém fechado e

intacto. Ao se aproximar do edifício, por meio dos vidros e do portão, é possível encontrar, já na recepção, alguns objetos que nos remetem à época, como uma televisão antiga, lustres e um pequeno despertador. A fachada do prédio possui algumas pichações e existem boatos de que moradores de rua e haitianos escolheram lá o local para habitarem. Algumas pessoas dizem que futuramente se tornará uma moradia para idosos.

Foto: Luiz Mazza

A história está gravada em suas paredes, mesmo após restaurações


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ESPECIAL

Bombas e cabeças rolando na sua tela Experts em efeitos especiais dão show em produções do Universal Channel Divulgação

Heloísa Ribas

É difícil encontrar alguém que não goste de assistir a filmes, não é? Seja no final de semana em um cinema ou dia chuvoso. Não importa o momento, sempre um filme ou série é uma boa pedida. Mas para estarem prontos ali em sua tela, várias pessoas estiveram envolvidas na produção. Mas você já se perguntou como funcionam os efeitos especiais? O fato é que há um programa brasileiro que mostra como eles são feitos: o Cinelab, primeira produção brasileira do canal Universal Brasil. Os três cineastas Armando Fonseca, Kapel Furman e Raphael Borghi formam o trio que explode bombas, decepa cabeças, entre outras cositas más. O programa que tem a produção da Boutique Filmes, juntamente com a Universal Brasil, já está em sua segunda temporada e planejando a terceira. A cada episódio de Cinelab um produtor apresenta um desafio que eles irão produzir com pouco dinheiro, muita criatividade e um grande efeito especial. Para entender melhor como funciona esse programa, batemos um papo via Skype com os cineastas e apresentadores do programa Armando e Raphael. Confira! O Cinelab é a primeira produção brasileira do Canal Universal. Estreou em setembro de 2014 e atualmente está na sua segunda temporada. O sucesso é incontestável. Várias pessoas, fãs do programa, atores, enfim, ficam alvoroçados nos comentários, tanto no site do Cinelab, quanto na fanpage no Facebook, pedindo uma “pontinha” como figurante. Quando vocês iniciaram o projeto, qual era o pensamento? Acharam que o pessoal iria se envolver dessa forma? Armando: A ideia dos produtores era o programa na dinâmica de nós três fazendo os filmes. Nós não somos apresentadores, nós fazemos filmes. É muito bom, a galera vem falar com a gente, nos pedem oportunidade como atores, como você falou, mas o problema é que essas pessoas aparecem em um “time” completamente dife-

mundo odeia picar, ir no mercado comprar, e depois que você cozinhou tudo, tem que lavar a louça. Então é mais ou menos esse o termômetro de como funciona uma produção. É legal produzir, porque nós estamos com nossos amigos, estamos bem unidos, fazendo o que gostamos. A pós produção é uma coisa muito solitária. Quando, por exemplo, o Armando vai editar ele fica aqui, horas, dias, editando sozinho. Quando eu vou fazer os efeitos de pós, eu também fico dias sozinho. Então é legal quando você divide com as pessoas. Como foi receber o convite para participar de um programa (reality show) de um dos maiores canais do mundo?

Armando, Kapel e Raphael, cineastas e apresentadores do reality Cinelab, no Canal Universal

rente das gravações. A gente geralmente filma de janeiro à maio e o pessoal só acaba tendo notícias desses episódios que foram filmados muito tempo depois. Raphael: Pra gente está sendo muito legal, esperamos que o programa tenha uma vida longa, porque nós temos uma liberdade criativa para poder “estragar” o programa de certa forma (risos), ousar bastante. Temos uma expectativa legal que o programa exista. Vocês têm liberdade para opinar sobre o programa ou episódio? R: Inicialmente existe o roteirista do programa, Fábio Farias, que trabalha com o diretor do programa, Rafael Barioni. Como é um reality show, ele roteiriza as situações que têm que acontecer para não esquecermos. Mas é lógico que existe uma liberdade criativa para a gente pensar nos roteiros dos episódios em conjunto com o Fábio e o Rafa que representam o pensamento da Boutique e da Universal, então eles prezam por uma boa qualidade do programa. A: O roteiro do programa não funciona tipo: primeiro o que eu falo, depois o que o Raphael fala, depois o que o Kapel fala. Acontece mais ou menos assim. Está no

A: Muito legal. É um canal muito louco, a Universal Channel. Eles nos dão muita liberdade para fazer os filmes. Talvez em outro canal nós não pudéssemos fazer certas coisas que nós fazemos lá. Alguns filmes mais fortes, com mais sangue, por exemplo. Acho que é porque estão acostumados por terem séries nesse segmento como “Bates Motel”, coisas mais pesadas.

roteiro: hoje vamos filmar vocês indo comprar um lustre para fazer a cena. Então vamos lá e eles nos filmam fazendo isso. Depois disso é tudo por nossa conta. Eles apenas acompanham as nossas decisões para fazer o filme proposto para o episódio. A gente busca trazer para eles, nas nossas opiniões, a maior quantidade de coisas possíveis.

zer um apunhado de ideias do público. Por exemplo, três ideias de histórias de fãs do Cinelab, “aquele efeito de tal filme”, porque até agora têm sido uma conversa nossa com Boutique.

Vocês são os responsáveis pelas histórias dos episódios ou também fica com o roteirista?

A: (risos) Eu diria que é a produção, a filmagem em si é a parte mais divertida. A gente esta lá no Percebemos que set e se dia cada episódio o deverte, testa safio aumenta. Mais várias coisas Trabalho é efeitos, coisas grandiferentes, des. De onde surgem isso é mui- quando alguém as ideias, as inspirato louco, é contrata a gente ções de vocês? massa mespra fazer algo mo! Agora o R: O primeiro de que é com- que não estamos nós a trabalhar com plicado mesa fim de fazer, efeitos foi o Kapel. O mo são as se não, vira um nosso método de traoutras duas. balho desde o início, a Porque na hobby pago. equipe ser pequena, a pré-produRaphael Borgui gente tentava “se virar” ção a gente com o que tínhamos. tem que pre- - Cineasta Por exemplo: uma vez parar tudo. Efeitos, contatar atores, figurino, o Armando queria uma parede com encanamentos do prédio e locação. fazer como se fosse um raio x da R: Em uma comparação, é parede. Então tivemos que buscar como cozinhar: todo mundo adora trazer recursos que realmente ficozinhar, todos gostam de pegar quem visualmente legais, porque os ingredientes prontos, mas todo no Brasil nós não temos materiais

A: Nós que propomos o tipo de filme que a gente quer fazer. Então às vezes pensamos em um efeito “x” e com esses efeitos, qual história nós conseguimos colocar em volta. Aí depois nós conversamos e decidimos, por exemplo, “ah, isso tem mais a ver com briga de bar com garrafas, mesas quebrando, lustre caindo” e a produção nos acompanha para montarmos tudo com as nossas ideias. Mas normalmente somos nós que escrevemos a história. Aqueles filmes de um, dois minutos somos nós três que fazemos. Escrevemos, nos dedicamos para deixar tudo como queremos. R: E é uma ideia interessante, não é? Talvez, quem sabe numa terceira temporada até pode acontecer da produção fa-

E qual é a parte mais complicada para vocês: a pré-produção, a produção ou a pós-produção?

R: A Universal têm nos dado um apoio muito grande, uma liberdade além do que a gente imaginava. O bacana também é que o Cinelab está meio que conectado as outras séries que passam no canal, inclusive séries e filmes que também somos fãs.


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Divulgação

A cada episódio a gente não quer deixar cada vez maior, a ideia é deixar cada vez mais diferente e testar coisas novas. Armando Fonseca cineasta

Kapel e Raphael explicam a produção dos efeitos com o cromaqui Divulgação

outros filmes e vídeo clips. Quando é necessário vocês também improvisam como atores. Vocês gostam desse desafio? R: Foi tudo muito sem querer. Na verdade o Cinelab que nos forçou. É divertido mas a gente prefere não atuar. (risos)

Materiais produzidos pelos cineastas para compor todas as cenas

A: Ah, por exemplo, nós terminamos de gravar a segunda temporada de Cinelab faz alguns meses e antes disso nós fizemos um longa-metragem. Então terminamos a primeira temporada do Cinelab e tivemos o intervalo para fazer a pré produção; rodamos o longa “Percepção do Medo” antes de começarmos as gravações do Cinelab. Ou seja, a gente tem essa janela onde aproveitamos para fazer outras coisas. R: A gente gosta do que faz e mesmo durante as gravações do Cinelab a gente estava finalizando o nosso longa, então, acabamos nos redobrando. Nós somos três, eu, o Kapel e o Armando, mas existe uma produção que trabalha com a gente, André, Rasta, que estão sempre junto. Cada um faz um pouco de tudo. Mas o bacana também é que mesmo trabalhando juntos, cada um tem uma área. Então as etapas são assim: cada um “se ferra” em um tempo. (risos) A: Isso mesmo, a gente revesa a janela de tempo que cada um vai estar super ocupado. Então aí conseguimos fazer o Cinelab, os

R: É que às vezes a gente não tem a característica que pensamos para o personagem. Mas quando precisa a gente entra em cena sim, porque nós fazemos o que gostamos, então não tem problema caso precisemos nos sacrificar pelo trabalho, porque não é trabalho. Trabalho é quando alguém contrata a gente pra fazer algo que não estamos tão afim de fazer, se não, vira um hobby pago.

Segundo os cineastas do Cinelab, o Brasil passa por uma fase de transição no cinema, e ainda bem no começo. Estão surgindo diretores, cineastas movidos pela criatividade e talento. Mas no país quem tem dinheiro está à frente. Não se ganha a vida fazendo cinema. Hoje, as grandes produtoras investem muito em publicidade, então de 1 hora e 15 minutos de filme, pelo menos 15 minutos serão publicidade. Porque o profissional é pago para ter isso e não é pouco dinheiro. Então um profissional que é pago para fazer cinema infelizmente vai “topar” isso porque o mercado gira em torno do dinheiro e assim o mercado cinematográfico brasileiro continua dessa forma. Cinema teria menos relevância, segundo os diretores, que a novela e reality show. Trabalhar com cinema é muito bom, mas as pessoas acham que é glamour, o que não é verdade, pois segundo os cineastas do Cinelab, fazer cinema acordar cedo, por volta das 4h da manhã, e trabalhar o dia inteiro cavando buracos, descarregando caminhões (como eles fazem) e ir dormir meia-noite para no outro dia acordar às 4h novamente durante quase um ano. “Depois a pré e pós-produção que são super cansativas e então o set que é a parte mais divertida, mas é a que dura menos tempo por ser cara. Então, por fim, uma vez no ano seu filme passa em um cinema e aí tem um glamour de comer um pão de queijo, tomar água na frente do público e falar durante três minutos sobre o filme que o pessoal vai ver. É uma realidade mas que por gostarmos já vale a pena”. Como foi possível notar, o crescimento do mercado cinematográfico está em constante ascensão. Embora ainda exista uma resistência e até um certo preconceito, os filmes brasileiros estão ganhando espaço nas telonas, batendo recordes de bilheteria. O gênero que ainda se destaca mais é o da comédia, mas sem perder o romantismo. O cenário de curta-metragem também vem ganhando muito espaço, inclusive para os paranaenses. Um exemplo, o curitibano Willian de Oliveira, cineasta, levou seu curta-metragem “Bolo e Vinho” (2013) para o festival de Cannes, na França. Além deste festival, diversos outros curtas dele já passaram por outros festivais, como “Esperando minha irmã” (2013).

O limite de dinheiro para vocês produzirem um curta já atrapalhou em algum momento? A: Sim, já tiveram várias. A gente firmava o orçamento mas no decorrer da produção, vemos que precisa de mais algumas coisas, surgem mais ideias e isso faz com que estoure, sim, o planejado. Mas nós tentamos muito fazer com que isso não aconteça.

Cena do curta “Bolo e Vinho” exibido no Festival de Cannes

Divulgação

A: A cada episódio a gente não quer deixar cada vez maior, a ideia é deixar cada vez mais diferente e testar coisas novas. E fazendo isso, nós conseguimos mostrar que dá sim para fazer, mostrar que é executável todas as ideias. Seja uma explosão, seja o degolamento, seja uma batida de carro, e aí parece que é super grande, mas, na verdade, se você se empenhar pra executar um efeito especial dá certo. Cada um de vocês trabalha

com uma produção paralela ao programa, certo? Como vocês conseguem conciliar ambas?

A: A gente só acaba atuando quando não tem mais ninguém, não tem figurante nem nada. Tudo isso porque nós pensamos em todos os aspectos para o filme ficar ainda melhor, e a gente atuar no lugar de um ator no filme, não é um aspecto bom.

As dificuldades para a produção de um filme no Brasil

Divulgação

para fazer os mesmo efeitos que fazem nos Estados Unidos. Um problema que nós podemos enfrentar com os efeitos especiais no Brasil é que se eu estiver com uma arma falsa e for parado pela polícia, eles vão me prender, porque eu não tenho um documento provando que eu sou um profissional de efeitos especiais. Temos que trabalhar com improviso. Se precisávamos de sangue, usávamos massa de tomate ou algo assim. Com o tempo começamos a fazer coisas maiores, graças ao Cinelab, por exemplo, o episódio do avião com tiros. Então nós temos a ajuda da Universal com a Boutique Filmes para conseguir o aluguel de um avião e certas coisas maiores, conseguindo cumprir a intenção do programa que é executar efeitos que fazem lá fora, em uma produção brasileira.

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R: Uma pré-produção bem resolvida sana muitos dos problemas, mas não ter dinheiro para produzir algo que exige dinheiro já começa sendo um problema. O reality show Cinelab vai ao ar toda quarta-feira, às 20 horas, no Universal Channel, SyFy e Studio Universal, com reprises no mesmo dia, às 18 horas.

Cena do curta-metragem “Esperando Minha Irmã” exibido festival 7


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CIDADE

Os bastidores da transmissão esportiva na TV Para que uma transmissão saia “redondinha na telinha” são necessários mais de 30 profissionais e alguns deles trabalham mais de dez horas seguidas falou um pouco mais a respeito do funcionamento da exibição Anderson televisiva da partida foi Fabio Luís Almeida Ribeiro, mais conhecido como Fabinho, assistente de áudio da produtora que gerou as imagens do jogo. Leila Inicialmente, Fabinho contou Paula como começa o dia e a preparação para “a peleja”. “Acordo às 6 e A transmissão esportiva de meia da manhã. Às 07:00 vou para TV é bem mais complexa do à produtora. Quando a partida é às que percebemos ao assistir a 19:30, saímos de lá 08:30 e chegauma partida. Os profissionais mos no estádio às 09:00”. Depois envolvidos nos eventos dão um de adentrar ao campo de jogo coduro danado para levar a melhor meça a montagem dos equipameninformação até o telespectador tos e o cabeamento para conectar durante as três horas que ficam câmeras e microfones. “Para fano ar (geralmente o tempo que zer isso, a gente leva duas horas se leva numa transmissão de e meia, mais ou menos, a partir daí começamos a testar todos os partida de futebol). São muitos os profissio- equipamentos. Se um cabo não nais envolvidos, mas para quem funciona, troca. Se um microfone acompanha se destacam apenas não funciona, troca. Se é a pilha, alguns, o narrador, o comenta- troca”, explica. Com os equipamentos em funrista e o repórter. Estes, geralmente, são os últimos a chegar cionamento é hora de aguardar ao estádio. E olha que chegam contato do coordenador do canal cerca de duas horas antes do iní- SporTV no Rio de Janeiro para recio do jogo. Por trás deles existe alização dos testes de som e imaum coordenador de transmissão gem dos repórteres, comentarista e dando um suporte a partir de um narrador. Só a partir desde momencaminhão da produtora de vídeo, to é que todos estão aptos a iniciar dentro do estádio, e outro coor- a transmissão. Estes últimos testes denador na sede do canal onde ocorrem cerca de duas horas antes o evento está sendo transmitido. da partida. E o assistente Fabinho Entre os profissionais menciona- segue firme no trabalho. Ele fica ao dos acima e somando-se a eles, lado do repórter auxiliando em caso repórteres cinematográficos e as- de algum problema com o aparelho sistentes, são cerca de 30 pessoas que é usado para retorno e o microenvolvidas na veiculação de um fone sem fio. Se algum deles não funcionar perfeitamente, são utilijogo de futebol. Para saber um pouco mais a zados cabos auxiliares com microrespeito, a reportagem do Marco fones, chamados de By. O jogo terminou com vitória Zero acompanhou a transmissão de uma partida da Série B do do Paraná por 1x0. Mas FabiCampeonato Brasileiro de 2015. nho ainda tinha muito o que fazer. “Tem coisa O jogo era ainda. Agora, entre Paos raná x Lu- Acordo às 6 e meia pegamos v e r d e n s e da manhã. Às 07:00 e q u i p a m e n t o s vamos para e foi exivou para a produtora. eas salas de imbido pelo canal de Quando a partida é prensa, onde já TV a cabo, às 19:30, saímos de lá tem um repórter cinematográfico S p o r T V, pertencente 08:30 e chegamos no nos aguardando. Ali, testamos ao sistema estádio às 09:00. duas saídas da G l o b o s a t . Fabinho Almeida câmera e dois A partida aconteceu na terça feira, 09 de canais. Depois de testados, plujunho de 2-015, com início às gamos o microfone do repórter 19h30. Poucos torcedores com- e aguardamos o início das colepareceram ao estádio Durival tivas de imprensa. O ruim é que Britto, numa noite que não fa- tem treinador que leva de 40 mizia tão frio em Curitiba. Quem nutos a uma hora para aparecer

Foto:Geraldo Bubniak

Fabinho faz testes e alguns ajustes de áudio do microfone “By” durante a partida

na sala de imprensa para a entrevista coletiva”, conta. Desta vez não foi tão demorado. Os treinadores do Paraná e do Luverdense concederam entrevistas com menos de meia hora após o término da partida na Vila Capanema. Fabinho agora se preocupa com a desmontagem dos aparelhos. Esse procedimento é mais rápido, já que não precisa ter o mesmo cuidado que tem na montagem. Por exemplo, deixar os cabos bem fixados, escondidos, não atrapalhando passagens dos outros profissionais. É só desmontar e enrolar os cabos. Esse trabalho leva aproxi-

madamente uma hora e quinze minutos. Finalmente chegou a hora de Fabinho voltar para casa. “Agora sim. Direto para o lar. Se não der de ônibus, vamos de carona com o pessoal da produtora ou até mesmo de táxi. Meia-noite e meia, uma da manhã, estarei lá (em casa)”. Para uma partida que começou às 19:30, Fabinho trabalhou cerca de 16 horas seguidas. Mesmo assim, não esconde a satisfação de exercer esta função. “Pior é que eu gosto. Gosto mesmo. Não penso em deixar esse emprego. Se eu o abandonar, tenho certeza de que vou me arrepender”, finaliza. Foto:Geraldo Bubniak

Para a Transmissão de Futebol na TV:

1 Narrador

1 Comentarista

1 ou 2 Repórteres 7 Câmeras

1 Coordenador no local da transmissão

1 Coordenador no Canal de TV

e mais de 30 profissionais Fabinho redireciona o microfone “Boom” para captar melhor o áudio


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RESENHA Uma aula de cinema Divulgação

@TÁ NA WEB Karina Becker

O futuro do fotojornalismo

Cena em que Gene K. interpreta Lockwood cantando Singing in the Rain

Eni Santana

O clássico filme Cantando na Chuva, dirigido por Stanley Donen e Gene Kelly além de divertido é uma aula de cinematografia. O longa mostra o período de transição do cinema mudo para o falado da melhor maneira possível, expondo todas as transformações ocorridas na sétima arte com uma dose extra de comédia romântica e musicais, recursos próprio da época e que rendiam boa bilheteria. Praticamente todas as cenas foram gravadas em estúdios, o que mostra que a pouca tecnologia disponível não intimidava os cineastas que abusavam da criatividade aproveitando os recursos que dispunham. Os estúdios gigantescos, várias cenas gravadas ao mesmo tempo e no mesmo espaço, diretores instruindo aos berros os atores, traduzem no filme o cinema mudo. Com a introdução da sonorização nas películas os atores precisavam se adaptar à nova era. A voz, que antes era insignificante passa a ser um dos maiores instrumentos. Interpretação, dança, música e boa dicção deram lugar às mímicas, caras e bocas do cine-

ma mudo. A história dos famosos atores Don Lockwood, interpretado por Gene Kelly e Lina Lamont por Jean Hagen, nos leva a época em que ocorre estas mudanças. Dona de uma voz estridente, Lina Lamont vê sua carreira ameaçada. Don conhece uma aspirante a atriz, Kathy Selden (Debiie Reynolds) e a convida para dublar sua colega, mas se apaixona por ela e quer que seu talento seja reconhecido. A cena em que Lockwood canta Singing in the Rain ao se despedir de sua amada, não é famosa por acaso. A intensidade da chuva produzida no estúdio, os sapateados ritmados pelo barulho da água e a espontaneidade de Kelly em sua interpretação é majestosa. Os musicais representam como eram os esquemas de espetáculos na Broadway e a menção ao Cantor de Jazz, primeiro filme falado no cinema encerra a referência de uma época histórica. O filme não fez muito sucesso em 1952, mas hoje é um “cult movie”, listado entre os 100 melhores filmes de todos os tempos. O ator Donald O’Connor que interpretou Cosmo Brown, o melhor amigo de Lockwood, levou o Globo de Ouro de melhor ator e deu um salto em sua carreira, assim como saltou na bela coreografia do solo musical “Make’em Laugh”.

Quadrinhos

Thaisa Oliveira

O fotojornalismo é uma das maneiras de passar a notícia com maior credibilidade para o público, além de ser um complemento para a matéria, já que é uma das primeiras coisas que os leitores olham ao pegar um jornal ou afins. A preocupação de hoje é se isso está sendo bem feito e como está a produção dessas imagens. O leitor participa dessa seleção? Qual é a situação do fotojornalismo com a possibilidade que as pessoas têm de tirar fotos com seus smartphones? Confira como esse assunto está sendo discutido pela jornalista e escritora Simonetta Persichetti, por meio do link: http://www. uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/1484/1230

Para ler mais com menos Atuaolmente, é fácil encontrar pessoas fazendo de sua telinhas (computador, smartphone, tablet, notebook, etc.) livros virtuais. Mas muitas vezes é difícil encontrar um livro de boa qualidade disponível na web. Para facilitar o acesso a exemplares, que podem ser baixados de forma gratuita e legal, a Revista Galileu separou seis sites para fazer isso tranquilamente. Entre eles estão Open Library, que conta com mais de um milhão de obras para download gratuito. Confira mais em: http://revistagalileu.globo. com/blogs/estante-galileu/noticia/2014/06/6-sites-para-baixar-livros-gratuitamente-e-de-forma-legal.html.

Humans of Curitiba O projeto nasceu por acaso enquanto o fotógrafo Gustavo Jordaky andava pelas ruas de Curitiba e foi convidado por um morador de rua para sentar e conversar. A partir daí, Jordaky começou a andar pela cidade em busca de mais histórias. Ele criou uma página do facebook para divulgá-las juntos com suas fotos. O principal objetivo do projeto é retratar a diversidade da capital, respeitar e valorizar opiniões e sonhos das pessoas que vivem ou passam por aqui. E tentar ajudá-las de alguma forma. Saiba mais sobre o Humans of Curitiba por aqui: https://www.facebook. com/humansofcuritiba/info/?tab=page_info


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MARCO

ZERO

Número 46 – Fevereiro/Março de 2016

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Rua São Francisco, a rua de todos Thais Souza

Jorge Junior

Andar pelas ruas de Curitiba não é mais uma tarefa fácil. Tem que ter calma e muito senso de humor. No caminho você pode ser parado por hippies, punks e moradores de rua, todos com o mesmo intuito: juntar alguns trocados. Mas é na Rua São Francisco, mais conhecida como Rua Alternativa, que várias outras tribos urbanas se encontram, seja para tomar uma cerveja ou apenas colocar o papo em dia. Além disso, a rua é uma marca de Curitiba, pois preserva os paralelepídos que foram colocados no século XIX, e as costruções também fazem parte da história da metrópole.


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