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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VII - NÚMERO 47 – CURITIBA, ABRIL/MAIO DE 2016

A história continua viva ,

Museu do Holocausto, em Curitiba, relembra a morte de seis milhões de judeus pelos nazistas págs. 6 e 7

págs. 5 e 6

Depressão e síndrome do pânico são doenças que atingem milhões de brasileiros.

págs. 8

Coletor menstrual, uma alternativa para o absorvente que divide opiniões

pág. 10

Mais do que praticar golpes, a arte marcial é uma lição de vida e saúde


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Número 47 – Abril/Maio 2016

OPINIÃO Ao Leitor Esta edição do jornal Marco Zero traz como reportagem principal um tema que jamais será esquecido pela humanidade: a morte de milhões de judeus nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Uma pequena amostra desse massacre você pode conferir no Museu do Holocausto, em Curitiba. Outro assunto em destaque são as doenças que cada vez mais acometem as pessoas em todo o mundo, como a depressão e a doença do pânico. Nossos repórteres consultaram especialistas para mostrar como tratar esses males. Você ainda poderá conhecer um coletor menstrual que tem funcionado com alternativa para o absorvente. Embora polêmico, algumas mulheres que fizeram uso do material têm aprovado, devido ao seu baixo custo e higienização. E, por fim, uma ensaio fotográfico e poético sobre a bicicleta, companheira de todos os dias.

Boa leitura!

O Marco Zero

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Expediente

Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

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Contra o sistema hegemônico Camila Toledo

O que você acha do comércio no centro de Curitiba? Atende suas necessidades?

Fabio Clemente, 46, Agente de Crédito

fontes alternativas, pontos de vista, lados da história. Mesmo os mais otimistas Cordeiro ou inocentes, facilmente notam a polarização de alguns grandes veículos midiáticos. Polarização que diverge De quanta informação você na linha editorial. A primeira assume precisa para ler uma notícia? Se, anum papel unilateral, parcial, hegemôtes, acreditava-se que a informação nico. Descompromete-se com o leitor advinha exclusivamente dos jornais e e com a notícia. Invalida o fator jorredações, hoje esbarramos num sem nalístico e o comprometimento com fim de conexões e fontes de notícias. o leitor, com a idoneidade e isenção Blogs, redes sociais e mídia tradicioquanto aos fatos. Já a segunda, a linha nal agora disputam audiência, dinaeditorial, expõe ao público de modo micidade, informação. claro e franco as posições adotadas e O jornalismo, antes paudefendidas pelo veículo. Podendo-se tado na representação fiel dos fatos, isentar de publicações que firam seu começou sua desconstrução imparcódigo de ética, ideológico ou posicial quando nos demos conta de que cionamento. Mas a notícia tem ângulo, o que acontece é ponto de vista e ideologia de quem es- O que acontece o já indisfarçável posicionamento creve. Mas não parou hoje é o já ideológico-polítipor aí. Nos demos co, resultando em conta de que reda- indisfarçável de aconções e grandes veíposicionamento distorção tecimentos, aliciaculos são empresas mento da mídia em estruturadas numa ideológico e prol de interesses sociedade capitalista, político, o que partidários e, por competitiva, ideolófim, manipulatigica. Com o aval – ou resulta em vos. não – de linha edito- distorção dos Há de se atentar rial, chefe, produtor, acontecimentos. que a falta de uma editor, investidor. educação comu Então vem nicacional impede a internet. Uma rede que os indivíduos acabem absorvende conexões, agilidade, informações do toda e qualquer notícia veiculada, soltas, ligadas, duvidosas, coerentes. sobretudo nas mídias massivas. Sem E como o leitor encara essa enxurrafiltros interpretativos e de uma leida de palavras? O jornalista e profestura pertinente do recorte da notícia. sor, Carlos Castilho, em artigo para Beltran (1981) aponta que a mídia o Observatório de Imprensa, aponta massiva acaba por tornar a informaque duvidar é o princípio. Mas não se ção um processo reducionista, simfinda na desconfiança quanto à veraplista, que transfere a importância cidade ou imparcialidade das infordo leitor de construir uma conexão mações. É preciso pesquisar, buscar

de fatos e pontos de vista. O atual cenário midiático nacional incube a seis grupos o controle ou monopólio da mídia. Não há lei que restrinja a propriedade cruzada dos grupos empresariais. Ou seja, revistas, emissoras e jornais podem pertencer – e pertencem – a um seleto grupo de empresas. Nas palavras de Calixto Salomão Filho, “um dos produtores detém parcela substancial do mercado (por hipótese, mais de 50%) e seus concorrentes são todos atomizados, de tal forma que nenhum deles tem qualquer influência sobre o preço de mercado”. Quando um desses grupos empresariais se posiciona ou polariza, abrindo mão do compromisso social informacional e se reduz a prestar serviços de desmoralização, articulação política e, por fim, golpe midiático, a população, que nunca ou raramente é preparada para ler a mídia, acaba por confinar-se numa esfera refém dos interesses o jogos de quem não se interessa pela verdade ou princípios éticos jornalísticos, mas que se rendeu ao jogo antidemocrático, capitalista e político-partidário. Assim, o que temos hoje é a possibilidade de alçarmos a internet como um sistema contra hegemônico, em prol da democracia, pluralizando discursos e ofertando espaços e conexões mais amplas de transmissão de informações e pontos de vista, contra uma mídia que tende a ser cada vez mais problematizada que persiste num discurso manipulativo, fazendo-se valer de sua consolidação de mercado, investimento econômico e poder político-midiático.

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos Diagramação: alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Luiz Rocha Internacional Uninter Thaisa Oliveira Coordenador do Curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Projeto Gráfico:

Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131

Ana Luiza

Professor responsável: Roberto Nicolato

Cíntia Silva e Letícia Ferreira

80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail comunicacaosocial@grupouninter.com.br

Telefones 2102-3377 e 2102-3380.

“Eu acho que o comércio de Curitiba é des o rg a n i z a d o . Falta estrutura e falta planejamento. Nós, a população, merecemos lugares limpos e

agradáveis.”

Alessandra Coutinho, 36, Agente de Crédito

“Acho muito confuso e bagunçado. Não é um lugar que dê para elogiar, e não atente nenhum um pouco as minhas necessidades. ”

“Acho o comercio do centro de Curitiba bem elitista, principalmente os shoppings. Arthur Neves, Os vendedores 17, Estudante olham muito a aparência, se você está bem vestido ou não, e até sua cor. E, sim, atende minhas necessidades, mas o tratamento dos comerciantes deveria ser melhor.” “Acho o comercio aqui no centro de Curitiba relativamente bom, não podemos generaLana Falconelli, 19, lizar. Mas, com Telemarketing certeza, atente minhas necessidades.” “Eu acho muito bom o comercio no centro de Curitiba, pois sempre que preciso de alMichele guma coisa sei Babicz, que aqui posso 18, Estudante encontrar. Então sim, atente totalmente as minhas necessidades.”


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PERFIL

Um hobby, uma paixão e uma profissão Apaixonado por videogame desde criança, o apresentador Gabriel Soto Bello usou o conhecimento do seu hobby para construir uma carreira na internet que a empresa entrasse no segmento de vídeos no YouTube e Guilherme precisasse de um apresentador Dias para falar com seu público. Comunicador desde então, A era do entretenimento na Gabriel se formou em Publiinternet abriu inúmeras possi- cidade e Propaganda pela Unibilidades para as pessoas traba- versidade Positivo, mas nunca lharem com o que gostam. Mas exerceu a profissão de sua haainda que a maioria dos produ- bilitação. Seu contato com esse tores de conteúdo na web no mundo que mistura internet, ramo da diversão trabalhem por tecnologia e videogame rendeu conta própria, esse não é o caso a ele experiências invejadas por milhares de jovens com a sua de Gabriel Soto Bello. O curitibano de 26 anos é idade. Entre elas, ele foi orgaapresentador veterano nos sites nizador e colaborador de várias do Grupo NZN, do qual fazem edições do Treta Championship, parte o TecMundo, o Baixaki, o maior campeonato de games o MegaCurioso e o TecMundo de luta do Brasil — projeto do Games (antigo Baixaki Jogos), também curitibano Giovane Lucanais que somam mais de 2 mi- rezonski. Fluente em inglês, após ter lhões de inscritos no YouTube. Sua rotina atual inclui apresen- morado um ano com familiares tar dois programas diários, um na Florida, EUA, o apresentador quadro semanal, vídeos de no- também foi enviado a participar tícias avulsas, gravar narrações, de grandes feiras no exterior editar, escrever roteiros próprios como a Electronic Entertainpara serem veiculados nos ca- ment Expo (E3), em Los Angenais dos sites e eventualmente les, que é o maior evento games do mundo, fazer resenhas em que só de jogos de Seu contato com são permitivideogame. dos membros Aqueles que esse mundo que da imprenacessam esmistura internet, sa. Foi lá que sas páginas Gabriel teve a tecnologia e diariamente, encontram videogame rendeu oportunidade de conhecer uma incomum a ele experiências p e s s o a l m e n mistura de inte alguns dos formação com invejadas por grandes nomes descontração milhares de jovens da indústria e Soto Bello dos jogos eleé um dos rescom a sua idade. trônicos e dos ponsáveis pela seus heróis, modelagem do desenvolvedores veteranos que atual formato. Apesar de hoje ser um dos trabalharam em games que ele rostos mais conhecidos do You- jogou na infância. “Foi um soTube brasileiro na categoria de nho realizado. Ir lá foi me reagames e tecnologia, sua carrei- lizar como pessoa, mas também ra na empresa começou como profissionalmente”. Outro grande evento em que redator de conteúdo relacionado a games, no ano de 2008. O ele não apenas foi várias vezes início foi despretensioso, quase mas também onde se tornou acidental. “Eu namorava uma uma figurinha conhecida foi menina que tinha um irmão que Brasil Game Show, que acontrabalhava aqui”, explica Ga- tece sempre no mês de outubro briel. “Ele tinha uma banda e em São Paulo — o maior evenestava querendo sair da empresa to de games da América Latina para se dedicar a música e disse e o maior do mundo em público pra que eu fizesse o teste para nesse segmento. Lá ele entrevisa vaga, já eu gostava bastante tou lendas da indústria da tecde videogame e tinha trabalha- nologia e entretenimento, como do anteriormente em uma lan Ed Boon, o criador do sucesso house”. Foram quatro anos atrás Mortal Kombat, e Phil Spencer, do teclado, escrevendo sobre o o grande manda-chuva da divimundo dos jogos eletrônicos até são Xbox na Microsoft.

Divulgação

Gabriel apresenta programa de notícias rápidas na redação para o TecMundo Diferentemente do evento de Los Angeles, a BGS é aberta ao público e é lá que os fãs expressam sua admiração aos youtubers que eles veem todos os dias na internet. Fotos, autógrafos e até presentes são algumas das demonstração de carinho vindas dos gamers espectadores de Soto Bello. Ele explica que muito da construção dessa comunidade e fidelização da mesma veio através de um programa ao vivo que ele apresentou por quase três anos de segunda à sexta, aos finais de tarde. Os “gameplay diário” do Baixaki Jogos era uma transmissão feita ao vivo pelo YouTube em que Gabriel, junto com algum colega do Grupo NZN, jogava todos os dias um game diferente por duas horas seguidas. Muitas das pessoas, em sua maioria adolescentes e jovens, chegavam da escola ou trabalho para acompanhar o programa e fazer comentários em tempo real. A soma dos espectadores durante a live muitas vezes chegava na casa dos milhares — outras dezenas (e às vezes centenas) de milhares conferiam o vídeo gravado no canal depois. “Quando eu comecei, eu não tinha noção do que era ser um apresentador. Na internet é outra linguagem, não dá pra se basear na TV. Eu acabei criando meu próprio estilo”, conta Soto

Bello. “O gameplay era um qua- mas ele não estaciona. Enquandro totalmente novo. Não tinha to está firme em sua carreira na ninguém que fizesse naquele NZN, ele tem desenvolvido um formato na época como hoje, programa musical para a interentão eu não tinha ninguém pra net. O quadro é um projeto inestudar, ninguém que fosse refe- dependente da companhia onde trabalha, feirência. Eu preto em parcecisei me virar ria com uma e elaborar o “Quando eu produtora formato do comecei, eu não de Curitiba. zero”. tinha noção do “É para preVeio dele encher essa também a ideia que era ser um lacuna que de transformar apresentador. Na a MTV deio Checkpoint, xou”, explica o noticiário de internet é outra rindo. “Mas a games semalinguagem, não dá ideia é usar a nal do Baixaki pra se basear na TV. bagagem culJogos, em um tural e profisprograma diáEu acabei criando sional que adrio e formatámeu próprio estilo” quiri, já que -lo de um aprendi muito Soto Bello. jeito mais dino nicho do nâmico, mais YouTube”. “MTV”. Hoje, o São milhares de seguidocanal é um dos pouquíssimos do Brasil que oferecem algo do gê- res no Facebook, Twitter e nero com tal frequência e edição Instagram, convites para fazer transmissões com grandes elaborada. O Checkpoint serviu para empresas de games — como a criar o formato que seria usado gigante francesa Ubisoft que no Hoje no TecMundo, o noti- —, e até uma fanpage no Faciário do site de tecnologia da cebook feita por espectadores companhia. Atualmente, cerca para homenageá-lo com monde 25 mil e 60 mil assistem aos tagens bem-humoradas, a “Soprogramas, respectivamente, to- tobello da Depressão”. Ironicamente, Gabriel é chamado dos os dias. Gabriel Soto Bello diz seu por alguns conhecidos como tempo fazendo algo tão diferente o “cara que está sempre sorem um escritório foi e tem sido rindo”. Ele explica: ”ossos do uma experiência enriquecedora, ofício.”


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SAÚDE

O medo sem qualquer motivo aparente

A Síndrome do Pânico cresce no Brasil, mas tem tratamento

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Ana Elize de Souza

Calafrios, aperto no peito, falta de ar, palpitação, sudorese e um medo intenso. Esses são alguns sintomas que afetam a vida das pessoas que sofrem de síndrome do pânico. As vítimas dessa doença geralmente são aquelas que sofreram algum trauma. Elas vivem o estranho sentimento de ter medo de vivenciar passa pela crise que dura em média meia hora e pode ocorrer a qualquer momento mesmo que não haja Priscila sofre de Síndrome do motivo aparente. Pânico desde 2006 A doença atinge mais as mulheres do que os homens. A sua consciência, algo que não auxiliar de enfermagem Sileiexiste”. de da Silva Pereira conta que A moça conta que a dança a primeira vez que teve uma ajuda muito, pois muda o foco crise estava no ônibus e, nesta e diminui os efeitos da doença. ocasião, foi diagnosticada com “A arte, por alguns instantes, a doença e internada. “Quanme faz romper com o que está do amanhece, eu tenho aquele lá fora o que alivia muito a anmedo, aquele pânico do dia cosiedade”. meçar, porque é tudo a mesma A estudante Gabriela Dorcoisa, tudo igual, tudo a mesma nellas Eduardo sofre de ansierotina, tudo novamente e isto dade. Ela faz tratamento médico vai dando uma tristeza, um pâdesde 2014 e toma medicamento nico de viver o ontem e o amacontrolado. nhã de novo”. A garota Sileide cuida da mãe Quando conta que tem que está doente e con- amanhece, eu pânico de casidera esse um fator chorro, e isso tenho aquele muito importante para piora muito seu desencadear as crises medo, aquele estado de saúde pânico. de, pois quanOutra mulher que pânico do dia do encontra sofre com essa sín- começar, isto um cachorro drome é a professora os sintomas de de dança Priscila Ba- vai dando uma ansiedade pionaszewski, que é estu- tristeza. ram. dante de jornalismo na Sileide da Silva Gabrielafaz Uninter. Ela conta que Pereira tratamento méno ano de 2006, após dico desde 2014 o falecimento da avó, juntamente com teve os primeiros sintomas. E intervenção medicamentosa busno ano passado, quando chegou ca solução para controlar os sinem casa após um dia de provas tomas da doença. acadêmicas, sentiu a ansiedade e foi para uma unidade de saúPrincipais sintomas de onde foi constatado que ela estava passando por uma crise, da Síndrome do que se repetiu nos dias seguinPânico tes. Posteriormente, foi atendida - Dor no peito por um cardiologista e por um - Falta de ar clínico geral e foi diagnostica- Palpitação da com a doença - Calafrios “Tudo começa com uma pe- Sudorese quena palpitação, dor no peito - Formigamento no braço e formigamento no braço es- Medo sem motivo aparente querdo e quando me deixo le-Sensação de estar com a var tenho choro. Depois, você garganta fechando se sente idiota seu pensamen- Algumas vezes a crise é acomto é que se deixou levar nopanhada de crises de choro vamente por algo que só é de

Na crise de pânico, o corpo reage como enfrentasse um perigo intenso.

A história da doença Apesar de sua classificação ser recente, há relatos de síndrome do pânico em diversos momentos da história da humanidade. Entretanto somente apartir da década de 1960 que começaram a haver estudos mais aprofundados, buscando diferenciar ataques de ansiedade de síndrome do pânico. Tal classificação foi dada no ano de 1980 pela Associação Americana de Psiquiatria do DSM III.

Depois,você se sente idiota e seu pensamento é que se deixou levar novamente por algo que só é de sua consciência, algo que não existe. Priscila Banaszewski,

Tratamento médico é o melhor caminho para a qualidade de vida Quem sofre de síndrome do pânico tem medo de que algo muito ruim possa acontecer, pois o corpo reage como se estivesse frente a um perigo intenso mesmo que este não exista. Ter o apoio da família é indispensável para o tratamento da doença. Além disso, buscar auxílio médico é muito importante para melhorar a qualidade de vida do paciente. Em entrevista ao jornal Marco Zero, a psicóloga Daniele dos Santos Souza esclarece o que é a síndrome do pânico, como é feito o tratamento e como ter qualidade de vida mesmo tendo essa doença. De maneira clara, o que é a síndrome do pânico? Ela caracteriza por crises inesperadas de ansiedade nas quais a pes-soa vivencia um medo intenso, desespero e a sensação de que algo muito ruim está prestes a ocorrer. Os sintomas cognitivos e físicos, como falta de ar, palpitações, dores no peito, entre outros, surgem de forma inesperada, atingem seu pico em minutos e levam à crença, para a pessoa, de que ela irá morrer de problemas cardíacos. O medo de que a crise ocorra novamente e o medo da morte, por sua vez, aumentam as chances de que, de fato, a crise aconteça novamente.

O que acontece no cérebro quando se tem síndrome do pânico? Algumas pesquisas sugerem que pessoas que sofrem de síndrome do pânico têm alteração de volume em certas áreas do cérebro que são responsáveis pela ansiedade, podem experimentar essas crises de forma intensa. Qual o tratamento mais eficaz para se controlar a doença? A combinação de medicação ansiolítica e psicoterapia tem se mostrado eficaz no combate à doença. Em alguns casos a medicação não é necessária. A necessidade ou não de medicação e o tipo de tratamento farmacológico necessário para cada caso devem ser avaliado por um médico. Assim como, o direcionamento em psicoterapia deve ser decidido pelo psicólogo. Dicas que você daria para as pessoas que possuem essa síndrome melhorar a qualidade de vida. É importante buscar o auxílio de profissionais qualificados. A utilização de técnicas de respiração e relaxamento muscular pode auxiliar a controlar as crises da síndrome.


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SAÚDE

Depressão,“uma doença do século” Saiba mais sobre este mal que atinge milhões de pessoas e como vencê-lo base biológica que impede a pessoa de transmitir ou fabricar algum neuRoberto rotransm issor.” Oliveira Ela não tem dúvidas de que casos assim são de prescrição de medica“Cinza, sem brilho, sem sabor, ção, junto com terapia. Dessa forma, sem vida... Nada faz sentido, nada a depressão não pode ser confundida tem valor, nada é bonito, nada impor- com mudanças de humor tempota.” Estas palavras, ditas por uma mu- rárias e casuais. Essa inexplicável lher que prefere não ser identificada sensação de tristeza pode se abater -- e que vamos chamar aqui apenas sobre o indivíduo sem nenhum mode Cristina --, exemplifica o estado tivo aparente, e se estender por muito de espírito ocasionado pelo distúrbio tempo. Para Maria Rafart, o deprimido do qual muitas pessoas à nossa volta muitas vezes está em um mundo de têm sido acometidas. Trata-se da depressão, que já faz trevas, literalmente falando. “Essa algum tempo tem sido denominada pessoa enxerga tudo ao seu redor de “a doença do século”. Segundo em preto e branco, no máximo em a Organização Mundial de Saúde, sépia” (tonalidade de cor semelhante atualmente cerca de 350 milhões de ao castanho, muito comum em fotos pessoas em todo o planeta sofrem gastas pelo tempo). Esse indício concom a doença. Para se ter uma ideia diz com as palavras de Cristina que da dimensão desse número, a popu- abriram esta reportagem. Outro detalhe lação total dos Especuliar envolvendo tados Unidos é de alguém acometido quase 320 milhões “O depressivo de pessoas. tem o estado de desse transtorno é justamente o fato de Mas, afinal, o humor alterado não sabê-lo. Muitas que é a depressão? pessoas simplesPor quais motivos e tem ideias mente desconhecem ela se apresenta? negativas a que sofrem desse Como lidar com mal. Isso pode ser essa situação? E, o respeito de sua perigoso por acarmais importante: vida” retar a demora ou a depressão tem Maria Rafart, psicóloga até a ausência de cura? acompanhamento Profissionais da área da saúde concordam que a de- médico. “O deprimido, geralmente, é o pressão é uma doença e, como tal, necessita ser levada muito a sério. “O último a perceber que está depridepressivo tem um estado de humor mido, e sofre muito antes de ter o alterado, tem ideias negativas a res- seu diagnóstico e aceita-lo”, alerta peito de sua vida”, define a psicóloga Maria Rafart. Como toda doença, Maria Rafart. Ela acrescenta que essa quanto mais rápida a depressão perturbação pode se apresentar em puder ser identificada e tratada, maior a possibilidade de um travários níveis. “A disritmia, por exemplo, é uma tamento eficaz. Ela acrescenta depressão leve e acomete as pessoas que “há um mito de que a indúsde forma crônica ao longo de suas tria farmacêutica esteja tramando vidas.” Maria Rafart lembra também contra todos nós e nos deixando que “quando há episódios depressi- letárgicos, mas não.” Se for caso vos maiores e com mais frequência, para medicação, que ela seja, pois, eles são indicadores de que há uma aplicada logo.

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Sintomas

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Como toda doença, a depressão também apresenta alguns sintomas. “Uma tristeza inexplicável, sensação de fim, apatia total às coisas da vida, não se tem vontade de fazer absolutamente nada”. Alguns indícios são facilmente perceptíveis, como os citados por Cristina, outros nem tanto. Psicólogos concordam que se faz necessária uma sensibilidade por parte não apenas do próprio indivíduo, mas de pessoas próximas, amigos e familiares, acerca de aspectos que podem indicar que se trata de algo mais sério. Além da já citada falta de interesse por qualquer atividade, pode haver alterações constantes no humor, insônia, falta de apetite.Perda ou ganho de peso também são. Há casos em que alguém fica em um estado depressivo maior, e a família pensa que é só preguiça, que não quer levantar da cama. Ou às vezes a pessoa já está em tratamento e o remédio não acertou, a família não percebe que a situação está tão grave assim. Isso acomete muita gente. “É justamente nessas horas que o apoio de amigos e familiares deveria ser imprescindível”. o que corresponde a 20 milhões de pessoas. Curiosamente, entre os países pesquisados, o menor índice foi registrado no Japão (uma das maiores economias do mundo), 2,2%.Ao que tudo indica, os japoneses estão sabendo lidar com o problema por lá. A pesquisa identificou também a faixa etária dos vitimados, em sua grande maioria jovens nos países mais desenvolvidos, e idosos nas nações mais pobres.

Mulheres têm mais depressão Pesquisas divulgadas pela OMS constataram que o índice de acometidos pela depressão é bem maior entre as mulheres. Elas correspondem a dois terços do total. Um dos motivos para isso pode ser a depressão pós-parto. Fatores econômicos e sociais também influenciam tanto homens quanto mulheres ao redor do mundo a serem mais propensos à depressão. Porém, não são determinantes. Um estudo realizado em 18 países pelo sociólogo Ronald Kessler, da Universidade de Harvard, nos EUA, revelou o contraste nos números da depressão quando postos em comparação com o habitat dos pesquisados. Na maioria dos países mais ricos, o índice de pessoas que já apresentaram sintomas de depressão foi de 14,6%, contra apenas 11,1% nas nações menos desenvolvidas. No Brasil, esse índice gira em torno de 10%, o que corresponde a 20 milhões de pessoas. Curiosamente, entre os países pesquisados, o menor índice foi registrado no Japão (uma das maiores economias do mundo), 2,2%. Ao que tudo indica, os japoneses estão sabendo lidar com o problema por lá. A pesquisa identificou também a faixa etária dos vitimados, em sua grande maioria jovens nos países mais desenvolvidos, e idosos nas nações mais pobres. “Um sofrimento sem razão de ser, mas com feridas profundas. De onde vem? Não sei ex-

plicar. Tudo é tristeza, tudo é um vão, vazio...” Como preencher esse abismo existencial no qual se encontra Cristina e tantos outros mundo afora? A depressão, afinal, tem cura? Maria Rafart é enfática: “Tem controle. Algumas têm curas, mas podem retornar. Para casos mais críticos, a medicação constante seria o ideal.” Ainda que os efeitos sejam eliminados com a medicação, fica o alerta dos psicólogos acerca da possibilidade de uma recaída. Segundo a psicóloga, “mesmo com o controle da depressão, por meio de uma constância de segmento desse estado conseguida com a medicação, um fator estressor pode fazê-la retornar.” Mas sempre deve haver esperança para o depressivo. Dia após dia, estudos são feitos em todo o planeta em busca de tratamentos cada vez mais eficazes para a cura desse mal que, se atingiu o status de “a doença do século”, merece uma busca igualmente grandiosa por uma solução. É importante que a pessoa vítima de depressão saiba que ela não está sozinha nessa luta. Por fim, diante dos avanços da ciência, somados à própria iniciativa do depressivo em livrar-se desse mal para sempre, já podemos até imaginar Cristina dizendo: “Superei meus traumas, medos e dramas. Hoje convivo bem comigo mesma e com os outros. Sou feliz.”


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ESPECIAL

Apesar dos anos, a histó

O fato que marcou a humanidade e deixou seis milh recontado a cada corredor do Museu do Holocausto

Entrada do Museu.

Fundação Shoá Os vídeos que são exibidos durante a visitação são resultado do projeto do diretor de cirnam, Steven Spielberg, a Fundação Shoá ou Survivors of the Shoah Visual History Foundation, criada em 1994, tem o objetivo de coletar e preservar memórias de sobreviventes do Holocausto, considerado o maior arquivo de vídeos-entrevistas do mundo. Atualmente, foram coletados 53 mil vídeos em 62 países, em diferentes idiomas, sendo que parte desses relatos se refere a outros genocídios, como por exemplo, o genocídio de Ruanda, que ocorreu na mesma época que a fundação foi criada. Os documentários são utilizados como um instrumento educacional para conscientizar jovens sobre a discriminação, o racismo e preconceitos religiosos. Esses testemunhos são preservados pelo Visual History Archive, que estão disponíveis para alunos, professores e quem tiver interesse no assunto, os arquivos podem ser acessados com palavras-chave e frases, há ao todo 62 mil palavras e 682 mil imagens. No site do museu há amostras desses relatos de sobreviventes que vieram para o Paraná.

Sugestão de livros A menina que roubava livros, do escritor Markus Zusak conta a história de Liesel Meminger que durante a Segunda Guerra Mundial descobriu seu gosto por livros e acabou pegando um deles enquanto queimados em praça pública. O menino do pijama listrado de John Boyne, também se passa durante a Segunda Guerra Mundial, conta a história do alemão Bruno que virou amigo de um judeu que estava num campo de concentração perto de sua casa.

sições itinerantes com as demais peças que são mantidas em uma sala reserva sob os cuidados de Becker uma museóloga. E também renovar as informações e objetos apresentados atualmente para manter a Karina circulação das peças. Ao entrar no museu as pessoZanyck as passam por um corredor onde algumas malas estão empilhadas. Logo à frente, um fragmento da dolf Hitler queria mais do Torá, a bíblia dos judeus, e uma que governar um partido, foto da sinagoga destruída, são tinha a intenção de domi- os resultados da “Noites dos Crisnar o mundo. Como resultado de tais”, em judeu Kristallnacht, que uma boa persuasão, tornou-se foi um ataque de alemães contra líder do partido Nazista, e, aos os judeus que durou dois dias e poucos, conquistou confiança deixou 250 sinagogas queimadas de muitos alemães. Começa as- e 7000 estabelecimentos comersim a angustiante história que ciais judaicos destruídos, a razão marcou a humanidade. A Segun- do nome é por causa dos inúmeros da Guerra Mundial, o holocausvidros quebrados durante a chacito e seis milhões de judeus morna que deixou dezenas de judeus tos. Uma pequena amostra dessa mortos. Além disso, há um painel realidade pode ser vista no Mudedicado a propagandas, filmes e seu do Holocausto em Curitiba; livros, que instigavam o ódio conum lugar com pouca luz, cheio tra os judeus, e, na frente, existe de memórias e com sons que reum amontoado de livros de escripresentam a realidade de tempos tores judeus que eram proibidos na mórbidos. época. Pouco conhecido e inaugurado Durante a caminhada pelos há apenas quatro anos, o Museu do corredores, também encontra-se Holocausto abriga um acervo de obmapas dos jetos, documenguetos; fotos tos e histórias Deixou 250 de mulheres de pessoas que sinagogas nuas enfileitestemunharam a queimadas e 7.000 radas enquanSegunda Guerra to esperam Mundial (1939estabelecimentos para serem 45). Não possui e x e c u t a das, comerciais nome na fachaalgumas delas da, mas nos dias judaicos com seus fide visitação um destruídos. lhos no colo; Banner é colocavéus com sodo na frente para brenomes de famílias que estiveque a identificação seja possível. ram na Segunda Guerra Mundial; “Trazer para os dias de hoje um exemplar da capa e contra capa o que aconteceu naquela época e do jornal “Kamarad”, produzido aprender alguma coisa com isso para que não aconteça mais. Fa- pelas crianças do gueto de Thezer o fato ficar mundialmente co- resienstad em 1943; cartões posnhecido, porque é uma história da tais de judeus; uma homenagem aos “Justos entre as Nações”, que humanidade, esse é o objetivo do eram pessoas que ajudaram os jumuseu”, afirma a coordenadora deus de alguma forma, escondenpedagógica Denise Weishof. do em suas casa ou entregando co-

Karina

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Preservar a memória O museu nasceu em 20 de novembro de 2011 e é mantido por um doador que prefere não ser identificado. A expografia fixa da coleção é de apenas 5% das doações, pois a intenção é fazer expo-

mida e muitas outras experiências aterrorizantes. O que chama atenção também são as réplicas, uma da boneca que pertenceu a Zofia Burowska, quando estava no gueto de Cracóvia e, ao lado dela, um violino. Seu proprietário foi o pequeno Morde-

Livros de escritores judeus que foram proibidos durante a Segunda Guerra Mu

chal Motele Schlein, em 1930, na época, com apenas 12 anos. Ele foi o único sobrevivente de sua família depois de um ataque nazista em 1941. Tocava em bares alemães e aproveitava a oportunidade para esconder explosivos no porão do estabelecimento. Em 1943 acendeu o pavio, saiu correndo e viu os nazistas serem mortos. Dois anos depois morreu no campo de batalha. As visitas devem ser agendadas pelo site, são guiadas e podem ser realizadas nas segundas, terças e quartas, esse atendimento é focado para escolas. No domingo existem visitas guiadas para adultos, uma turma às 09hrs e outra a partir das 10h30. Esse último horário é direcionado para universidades ou grupos que vêm de fora pra conhecer o museu. Na quinta-feira, está fechado e na sexta-feira recebe vistas apenas pela manhã. O Museu do Holocausto também pode ser visitado sem guias em ambos os dias. O total de visitas é em média de 600 semanalmente. A visitação é realizada por meio de um circuito expositivo,

que está distribuído em ordem alfabética por meio de linhas do tempo que contam histórias sobre a Segunda Guerra Mundial, que após seu término, deixou várias famílias destruídas, sem casas e muitas vezes só com a roupa do corpo. Não só judeus morreram, mas também negros, pessoas com necessidades especiais, homossexuais e doentes mentais. O preconceito, mesmo sendo grotesco, permanece vivo até hoje. Durante o percurso pelo museu, os visitantes ganham um livreto que conta as histórias de pessoas que viveram o holocausto e a cada corredor são contados trechos dessas experiências. Os personagens dessas histórias são geralmente jovens, adolescentes ou crianças, pois a grande parte do público que visita o museu são alunos de colégios e faculdades. É uma forma de fazer com que os estudantes se identifiquem com essas pessoas e acompanhem a história até o fim; se interessem em saber o que elas suportaram, como elas viviam antes, durante e após a guerra. Para a aluna Laura Nizer, do Colégio Expoente que


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ória continua viva

hões de judeus mortos é o de Curitiba

Foto: Karina Becker

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adolescentes que foram obrigadas a conviveram com o pior pesadelo de suas vidas e perderam o direito de brincar, fazer amigos e estudar. A apresentação esteve em alguns estados do país, como por exemplo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba. Já que é o único Museu do Holocausto no Brasil e apenas o segundo da América Latina, firma o compromisso de se apresentar fora de Curitiba.

Um pouco mais do museu Ao visitar o museu, você vai se deparar com objetos, como por exemplo, malas, documentos, calçados, brinquedos e instrumentos musicais, que perterceram às famílias judaicas na época da Segunda Guerra Mundial. Além disso, muitas fotos servem como ilustração dos momentos difíceis de cada etapa do holocausto, demostrando o sofrimento de cada pessoa. No corredor próximo à entrada é possível observar em alguns vídeos de judeus sendo tranferidos ou fugindo da Alemanha em busca de novos lugares para viver. Para matar um pouco da curiosidade de quem ainda não fez essa visita, abaixo há algumas fotos do interior do museu.

Réplica da boneca do gueto de Cracóvia da década de 1930.

Malas pedagógicas

O museu conta com quatro guias, dois deles, são coordenadores. Alguns são voluntários que de alguma forma já tiveram contato com o holocausto, por meio de estudos e afins. A coordenadora Denise Weishof está desenvolvendo um projeto com o nome “Malas Pedagógicas”. A tentativa é levar o museu para as escolas, “Nós vamos fazer uma mala, que denundial. Muitos foram queimados, pois os alemães queriam limpar a literatura. tro tenha algum assunto específico, ou de alguém, ou de algum está no nono ano, a visita foi im- ação do consulado da Polônia. tema, com atividades que a proportante “para complementar o Outra envolveu alunos que fize- fessora pode trabalhar dentro da que foi trabalhado na sala de aula, ram uma visitação, após a expe- sala”, conta Denise. vindo aqui vemos que a situação é riência que tiveram ao conhecer A instituição também oferece o muito mais real” pois existem de- o museu, desenvolveram junto programa “O que, por quê e como talhes de como foi o momento da comseus professores, produtos ensinar o holocausto dentro da sala guerra, assim é possível entender relacionados a esse assunto as- de aula.” Que funciona como uma melhor e perceber como foram di- sim consecapacitação para guiram um fíceis aqueles dias de terror. educadores. “Devemos O professor de história Alcides espaço para São quatro considerar o fato Martinelli, do colégio Expoente a p r e s e n t a r horas de curseu trabadiz que foi trabalhado em sala o de que existiram l h o . A l é m so, não é realilivro “Prisioneiro B-37” que fala das exposioutras situações zada visita ao sobre o holocausto e para commuseu durante plementar o conteúdo a visita ao ções fixas,há parecidas no museu foi importante para refor- projetos que esse tempo, mas mundo, como çar. Para ele, isso não aconteceu levam peças são apresentapara fora de ataques aos somente na Segunda Guerra Mundos materiais Curitiba, pois dial, “devemos considerar o fato indígenas, negros e da exposição e a intenção de que existiram outras situações dicas de como é dar a posislâmicos”. parecidas no mundo, como ataabordar o tema sibilitar que Alcides Martinelli ques aos indígenas, negros e islamais pessoas holocausto nas - Professor de história mistas”. terem acesso disciplinas escoa essas inforlares, pois vários Fora do Museu mações é uma maneira diferente temas podem ser abordados, como Além disso, já foram rea- de mostrar o museu. por exemplo, discriminação, intolizadas duas exposições indeA primeira exposição itineranpendentes, uma delas foi sobre te teve como nome “Tão Somente lerância, preconceito, violência. É o médico e educador Janusz Crianças: Infâncias roubadas no uma maneira de preparar os proKorczak que atuou no gueto de Holocausto”. Idealizada com o in- fessores para orientar os alunos a Varsóvia. Essa exposição foi do- tuito de homenagear as crianças e terem consciência dos seus atos.

Objetos de famílias judaícas que foram para os guetos.

Marca colocada pelos nazistas em lojas de judeus.

Judeus em uma estação de trem, aguardando para viajarem.

Foto de crianças judias sobreviventes do holocausto.

Serviço:

Endereço: Rua Coronel Agostinho Macedo, 248, Bom Retiro, junto com a Associação Casa de Cultura Beit Yaacov. Telefone: (41)3093-7461 Site para agendar visitas: www.museudoholocausto.org.br


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SAÚDE

Coletor é alternativa para absorvente

Ele funciona como um copinho. Quando está cheio é só esvaziar lavar e usar novamente. Mas a utilização desse material ainda divide opiniões

O desconforto de usar absorvente, a preocupação com a roupa para não marcar e o odor causado devido o encontro do ar com o sangue são motivos que fazem o período da menstruação ser dias de estresse para muitas mulheres. Para ajudar com esse desconforto, mulheres estão optando por um método que armazena o sangue da menstruação em um recipiente que lembra um copo, do coletor e depois de cheio, basta esvaziar História menstrual e introduzir novamente no colo do útero. O primeiro coletor patenteado A consultora de carreira, foi feito por uma mulher, Leona Deisy Aparecida Nieusi, 28, usa Chalmers, em 1930, o material foi o coletor menstrual há um ano. desenvolvido com borracha vulEla contou que ficou sabendo canizada. Após a Segunda Guerdo coletor através de uma pro- ra Mundial, os Estados Unidos paganda no Facebook, e fez uma começaram a fabricar o coletor pesquisa a respeito, além de ler menstrual, mas devido à falta de muitos depoimentos positivos látex e a impopularidade (as mudas mulheres lheres consideraque usavam. vam muito grande) Deisy optou Outra vantagem e a questão cultupor comprar é valor ral, (em se tocar) a um de um site fabricação foi interchinês, já que economizado rompida em 1963. ela iria apenas ao não comprar No decorrer dos e x p e r i m e n t a r, anos, houve outras sem ter certeza absorvente, marcas, também que daria certo. além de uma nos Estados Uni“Chegou, co- contribuição para dos, que fabricaram mecei a usar, só o coletor, mas não que ele vazava. o meio ambiente. tiveram tanta aceiEu sabia que Custa pouco e tação como os abtinha alguma sorventes internos e coisa errada, dura dez anos. externos. Por isso, nos depoimena maioria das fábritos era tudo perfeito. Foi aí que cas do coletor menstrual fecharam. eu descobri o grupo no Face- Hoje, o coletor está voltando a ser book chamado Coletores Brasil fabricado por diversas fábricas e e nesse grupo que eu descobri as marcas mais usadas pelas brauma dobra que se adequou a sileiras são da Inciclo, Holy Cup, mim, abriu de uma maneira cor- Lunete e Meluna. As campanhas reta para que não vazasse”. Só publicitárias dos coletores não esque nesse mesmo grupo, Deisy tão na televisão ainda, talvez por também descobriu os problemas esse motivo muitas mulheres desdos coletores chineses, pelo fato conhecem o produto. de não ser feito de silicone médico, que é um material próprio Benefícios para ser usado no organismo. Esse medicinal não tem rejeição Os principais benefícios cido organismo e é biodegradável tados por mulheres que usam o enquanto o do site chinês é feito coletor é da liberdade que podem de plástico comum. ter no dia-dia sem se preocuparem De tanto que gostou do coletor, com o vazamento. A estudante de Deisy criou um grupo no Face- geologia, Nicolle Hauari, diz que book chamado “Menstruação sem pra ela é muito prático quando ela

Foto: Priscila Lopes

Priscila Lopes

Tabu” para incentivar suas amigas a usarem, mas ela conta que antes de começar a usar e ficou indecisa ao mesmo tempo em que animada: “Quando eu descobri um produto, que no meio da menstruação de grande fluxo, você pode dormir pelada, é fora da realidade. Você esquece que ele está lá dentro. Porque o absorvente interno você sente ele, e o coletor você não sente. Você vê o negócio desse tamanho e pensa: ‘Meu Deus, como isso vai entrar?’” O entusiasmo dela no grupo, tirando duvida de muita gente, foi tão grande que ela hoje é uma revendedora do coletor.

Deisy Nieusi demonstra uma das formas de manusear e dobrar o coletor menstrual

tem aula em campo: “Às vezes tenho aula em campo, no meio do mato, não dá pra ficar trocando o absorvente durante o dia no meio do mato, pois é anti-higiênico. Como meu fluxo é médio, só esvazio e lavo ele quando volto para o hotel à noite. Até esqueço que estou menstruada. Lembro durante o banho quando sinto a pontinha do copo”. Outra vantagem é o valor economizado em não comprar absorvente. Em média, o coletor menstrual custa R$ 60,00, mas por ser reutilizável, ele pode ser usado por 10 anos. O que também significa uma contribuição para o meio ambiente, já que o coletor não produz lixo. Sobre risco à saúde ou beneficio que o coletor pode trazer ao corpo feminino, não foi possível encontrar nenhum médico ginecologista que pudesse conversar sobre o assunto. Foram feitas ligações para vários profissionais, porém, nem um aceitou dar entrevista, por não ter um estudo profundo sobre o coletor. O que foi possível perceber que o “copinho” ainda é um tabu até mesmo para os médicos.

dúvidas e experiências e também pelos sites das marcas dos coletores. O único conselho de contra indicação é para mulheres que tiveram filhos recentemente. Para encontrar o tamanho de coletor ideal que se adeque ao corpo, é necessário medir a altura do colo do útero, e comprar um coletor de acordo com o seu fluxo. Se ele é intenso é recomendado que use um maior, se pratica esporte, o indicado é um mais duro. Para por, existem várias dobras que ajudam, há também quem use óleo de coco e lubrificante. A psicóloga Priscilla Correia conta que leu muito antes de começar a usar, e principalmente conheceu as dobras que poderiam ajudá-la. “Acho que a informação é a chave para se dar bem com o coletor, eu li tudo

sobre as dobras, como colocar, como tirar, sabia quais posições tentar e que se não desse certo não tinha problema, era só tentar outra dobra ou outra posição”. Ela acredita que, por ela estar tão tranquila desde o primeiro ciclo que começou a usar, nunca teve problemas de vazamento e em colocar ou tirar. “Desde meu primeiro ciclo usando o coletor, foi tudo lindo! Nunca tinha me sentido feliz por estar menstruada”. A higienização é feita cada vez que o copo é retirado, pode ser apenas lavado e introduzido novamente. Mas no final de cada ciclo é preciso esterilizar, deixando o coletor ferver por cinco minutos, em um recipiente que tenha só essa finalidade.

Forma de usar As informações de contraindicação e como usar foram encontradas nas páginas do Facebook, onde as mulheres trocam relatos,

Passo a passo de como utilizar o coletor menstrual


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CIDADE

O farol que ilumina o conhecimento

O Farol do Saber Gibran Khalil Gibran disponibiliza acesso gratuito à internet, empréstimos de livros, rodas de leitura e cursos de inglês e informática Memoriais e faróis

Curitiba abriga um total de 45 faróis do saber, sendo que alguns deles são temáticos. São chamados assim porque retratam alguma cultura diferente em sua arquiteKarina tura, como é o caso do Farol do Zanyck saber Gibran Khalil Gibran. O lugar apresenta aspectos básicos da O Farol do saber Gibran Khalil cultura mourisca, como os vitrais, Gibran é um memorial construído a cúpula, o formato quadrado e o com o intuito de homenagear a arco ogival na entrada do memocultura árabe, porém seu principal rial. Além disso, há muitos outros objetivo é abrigar uma biblioteca memoriais espalhados pela cidae por isso se transformou em um de, como por exemplo, o Memo“Farol do Saber”. O acervo comerial Ucraniano, Memorial Japonês çou pequeno, apenas com a biblioe o Memorial da Imigração Poloteca básica que é necessária para nesa. “Curitiba tem essa prática abrir um espaço de leitura, mas bonita de homenagear as outras cresceu devido às doações. culturas” diz a agente de leitura do Essas doações podem ser feiFarol Gibran Khalil Gibran, Silma tas por qualquer pessoa que sentir Mangine. vontade de compartilhar com a O espaço do saber que homecomunidade o livro usado ou até nageia a cultura árabe existe desde mesmo aquele que comprou/ga1996 e oferece oportunidades à conhou e nunca leu. Após estar na munidade curitibana. Desde leitubiblioteca, o exemplar deve ser ras para o lazer até cursos de inglês preparado, é inque ajudam os serida a etiqueta vestibulandos; “É um excelente que o determie de informátinará como sentrabalho que dá ca para pessoas do do Farol do têm dificuloportunidade para que saber é regisdade para lidar trado e passa a as pessoas, de com o computafazer parte do pesquisar, buscar dor. As agentes acervo. de leitura que notícia e até O memotrabalham no rial recebe esse F arol do saber mesmo uma fonte nome por cauGibran Khalil de emprego” sa do libanês Gibran auxiliam Alceu Nascimento Leal Gibran Khalil principalmente Gibran, escritor Pintor de parede. idosos que quede “O profeta”, rem se familiarilivro que vendeu mais de 120 mi- zar com as tecnologias. lhões amostras no mundo todo, ele O farol ainda disponibiliza se tornou patrono do Farol do sa- acesso gratuito à internet para que ber. Na biblioteca existem muitos tem a carteirinha, “é um excelente exemplares do autor, mas alguns trabalho que dá oportunidade para deles só podem ser utilizados para as pessoas, de pesquisar, buscar consulta interna devido seu estado notícia e até mesmo uma fonte de preservação e a raridade. de emprego”, diz o pintor Alceu

Foto: Karina Becker

Karina

Foto: Karina Becker

Becker

O memorial fica na Av, João Gualberto, próximo ao Passeio Público.

Espaço dedicado para o atendimento do público, ambiente de estudos e roda de leitura.

Nascimento Leal que frequenta o de leitura é realizada quinzenalfarol há muitos anos, desde quan- mente todas as quintas-feiras às do fazia o ensino médio realizava 19hrs. Não precisa efetuar inscripesquisas nos computadores do ção é só chegar e querer participar. memorial para aprimorar seu co- Funciona da seguinte maneira: nhecimento. Duas agentes de leitura prepaA disponibilidade dos com- ram um conteúdo para ser lido, putadores com um conto ou internet gratuialguma coisa “É muito ta é uma mão que não tenha proveitoso porque segmento porna roda para pessoas como que o público gera opiniões Kim Braga, o no dedivergentes, pois muda produtor musicorrer dos enleitura cada um cal que tem a contros e decarteirinha há pois se inicia entende do seu anos, raramenum debate. jeito” te lê os livros Cada pese o seu maior soa que se Silma Mangine interesse messentir a vontaAgente de leitura. mo é a internet, de pode expor ele diz que o programa “é bacana, sua opinião sobre a obra “é muito enquanto eu não sou famoso, pra proveitoso porque gera opiniões mim é bom”. divergentes, pois leitura cada um Para fazer a carteirinha e ter entende do seu jeito”, diz Silma acesso aos livros e demais ativida- Mangine. Como o público é bem des, basta levar um comprovante variado, desde jovens até idosos, de residência, CPF e RG. É um do- as visões podem ser extremamente cumento específico que pode ser distintas. utilizados em toda a rede de Faróis O acervo do Farol do saber é do saber de Curitiba. As crianças composto por livros escritos em que fizeram o ensino fundamen- árabe, há também o alcorão (estal em escola pública também crito em árabe e em português), podem utilizar esses benefícios, e ainda literatura sobre a cultupois a carteirinha que usavam no ra oriental (em português), além ambiente escolar conversa com o disso existem exemplares de vásistema dos faróis do saber. rios assuntos, inclusive literatura A Roda de Leitura, que é tradi- brasileira, italiana, americana e ção nos faróis de saber e nas casas francesa.

Dentro do memorial, na parede que fica atrás das mesas dos funcionários, têm alguns quadros feitos na caligrafia árabe em formas de animais que foram pintados e doados pelo artista Moafak Dib Helaihel. Ele também oferece cursos de caligrafia árabe todos os anos no mês de janeiro.

Khalil Gibran Gibran Kahlil Gibran, é um escritor e filósofo libanês que ganhou destaque nos Estados Unidos, onde escreveu oito de suas obras, são eles: O Louco; O Precursor; O Profeta, Areia e Espuma, Jesus, o Filho do Homem; Os Deuses da Terra; O Errante e O Jardim do Profeta. Devido ao ambiente em que viveu, constantemente em contato com a naturza, as suas obras tem forte presença de misticismo. Estudou num colégio de padres maronitas e seguiu pensamentos desde filósofos da idade de ouro da cultura árabe. Ele buscava uma religiosidade individual, preocuava-se com questões sociais, por isso eram também assuntos contantes em sues livros. Serviço: Endereço: Praça Gibran Khalil Gibran. Telefone: (41) 3324-2456


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ESPORTE

Quem disse que Kung Fu é só uma luta? Mais do que praticar golpes, a arte marcial é uma lição de vida e saúde budista notou a saúde prejudicada deles, por passarem horas curvaThaisa dos transcrevendo livros manusOliveira critos, e passou a ensinar a técnica que aprendeu na Índia e que envolvia, além de exercícios respiratórios, arte marcial. Surgia então o “Trabalho duro”. Este é o sig- Kung Fu Shaolin. nificado de Kung Fu. Uma arte Após séculos de existência milenar oriunda da China e propa- dessa arte marcial, o Kung Fu não gada para o resto do mundo, prin- perdeu seus valores. O professor cipalmente por Bruce Lee que, aos Jorge Jefremovas, da academia 18 anos, mudou-se para os Estados Senda Kung Fu (localizada no Unidos da América (EUA) e, pou- centro de Curitiba) relata como a co tempo depois, já estava dando própria academia conta a história aulas e atuando em filmes, que dessa arte milenar. A decoração, tornaram-se sucessos mundiais. os quadros e a forma como é consAo observar Lee em ação, as tituída já se encarregam de mospessoas admiravam apenas sua trar um pouco dessa trajetória aos agilidade e resistência. Não perce- seus alunos. Além disso, o Kung biam que Kung Fu, na verdade, é a Fu é uma arte marcial complexa, formação de um cidadão respeitá- “é muito rico de habilidade. Não vel. Há um profundo senso de éti- existe um ano, dois anos, não se ca, respeito, humildade, cortesia e pensa assim. Quanto mais você disciplina que é ensinado e exigido praticar, mais você adquire habido aluno. lidade. E faz parte de uma cultuAlém disso, ra muito antiga e as vantagens do Você consegue um sofisticada a resKung Fu para o peito das práticas corpo são vá- autocontrole bem corporais, não é rias: melhora acima da média, se simples”. a coordenação entender torna uma pessoa um Para motora, estimupouco sobre la a memória, que não se irrita e como é aprender melhora o ra- não perde a paciên- Kung Fu, três ciocínio lógico, alunos da Senda favorece o co- cia facilmente. - Arthur Fonseca nhecimento dos Bruno de Souza - Faixa amarela (Faixa amarela próprios limites com estrela), Ra(primeira listra) corporais, aufael Marcondes menta a con(Faixa preta com centração e atenção, entre outros. estrela e Yin Yang) e Bruno de É mais do que uma técnica com Souza (Faixa amarela- primeira golpes de luta, é uma aula de filo- listra) concederam uma entrevista sofia baseada nas crenças budistas, para o Marco Zero. uma vez que o início da propagaPor que vocês escolheram ção do Kung Fu, como exercício o Kung Fu e não outro tipo de que unia a mente e o corpo, tem luta? relação com a lenda do budista coBruno: A princípio a inspiranhecido como Ta Mo, oriundo da ção foi filmes. Comecei assistindo Índia. Ao se mudar para a China Bruce Lee e Jack Chan. e unir-se aos monges Shaolin, o Rafael: Já treinei outras artes Thaisa Oliveira

Alunos da Senda Kung Fu (da esquerda para a direita: Arthur Fonseca, Rafael Marcondes e Bruno de Souza).

Thaisa Oliveira

Alunos de níveis médio e avançado praticando golpes em duplas, na Academia Senda Kung Fu.

marciais como Karatê, Jiu-Jitsu, Muay thai e Kendo. Na verdade, cheguei no Kung Fu por acidente. Não me acertei em outros lugares e aqui encontrei o que procurava. Arthur: Eu não me interessava por arte marcial. O que me atraiu no Kung Fu foi a questão de ter uma filosofia que embasava, você lidar com a energia. Não é só exercício físico, tem um desenvolvimento social/pessoal do exercício. E as aulas são o que imaginavam? Bruno: Sim, pois desenvolve o condicionamento físico, além da parte mental. Você consegue um autocontrole bem acima da média, se torna uma pessoa que não se irrita e não perde a paciência facilmente. Arthur: Nesse sentido eu concordo com o Bruno. Mas acho que me surpreendo em várias aulas, com técnicas que não conhecia, com coisas que professores fazem e que outros não me mostraram. Rafael: Concordo com os dois, acho que é diferente daquilo que eu esperava. Mas supera bastante as expectativas no sentido de a gente estar sempre adquirindo coisas novas. É uma arte marcial muito dinâmica, a gente está sempre construindo, tentando melhorar. Bruno: E um diferencial bem grande também, com relação as outras artes marciais, é o trabalho de respiração. Desenvolvemos muito o sistema respirató-

rio, com exercícios direcionados para isso. O que era o Kung Fu para vocês quando começaram a praticar? E o que é para vocês hoje? Bruno: Quando cheguei na Senda, eu era teimoso, só olhava a parte física. Não gostava de praticar as formas. Com o tempo fui entendendo melhor a filosofia, comecei a desenvolver mais essa parte mental, de concentração, não ficando só no condicionamento físico. Rafael: Quando cheguei eu olhava e pensava “Nossa, mas isso parece tão simples”. Mas na hora que você tentava fazer, via que não era simples. Hoje quanto mais eu aprendo, depois de 10 anos aqui dentro, vejo que ainda tenho muita coisa pra aprender. Por isso que Kung Fu é algo que você tem que treinar

a vida inteira, pra você conhecer uma parte de tudo o que há para aprender. É algo bastante complexo e profundo. Arthur: Pra mim, quando entrei era mais lazer e isso foi por mais ou menos uns 2, 3 anos e aí não sei, isso foi se tornando cada vez mais parte da minha vida e agora é.... a terceira coisa mais importante da minha vida. É onde eu trato meu físico e tento me superar. O Kung Fu tem isso de arte marcial, não é só uma luta, tem a parte de arte, tem que aprimorar os movimentos e não se aprimora só com repetição, é preciso entender o que está por trás, e aí tem um senso artístico mesmo, de colocar uma interpretação. Rafael: Hoje em dia as pessoas procuram a arte marcial chinesa e não é primariamente pela luta, é exatamente o desenvolvimento da saúde, do físico e da mente. Thaisa Oliveira

Quase todas as academias de Kung Fu reservam um altar para Buda.


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RESENHA

@TÁ NA WEB Jorge Júnior

Muito além da fé Ou seja, o filme apresenta o lado humanizado dos representantes Alice católicos, esclarecendo que como Gonçalves seres humanos também erram (o que não justificaria tais atrocidades). Neste contexto o jornalis O drama Spotlight – Semo de excelência realizado pela gredos Revelados, dirigido por equipe revelou, a partir da sua Tom McCarthy, apresenta a hisprimeira publicação em 2002, tória, baseada em fatos reais, da não apenas os 13 padres acusados equipe do jornal Boston Globe inicialmente, mas milhares pelo (nos Estados Unidos), que após mundo, inclusive no Brasil. Estamuitas investigações revelam vam também envolvidos nos casos abusos sexuais contra crianças e advogados e diversos membros da adolescentes na arquidiocese de hierarquia católica. Boston. O longa metragem de Revelado em 2016 pelo Osmostra o cotidiano dos jornaliscar como melhor filme, a trama traz tas à procura da verdade. Dessa um clima sóbrio, cinzento, sempre forma, podemos notar a conscom cenas de tensão, acompanhatante busca pela isenção quandas em alguns momentos pela trido os profissionais recorrem às lha de um piano. Em muitas cenas fontes e apuram detalhadamenexternas (fora te os fatos antes de do jornal), apapublicá-los. A equipe O filme Spotlight rece a imagem Spotligh (formada denuncia os fatos da igreja, reforçando desta por Michael Keamaneira a forte ton, Mark Ruffa- como forma de lo, Stanley Tucci e prevenção contra influência deste ambiente peranRachel McAdams) inicia o trabalho in- os abusos sexuais te a sociedade norte-americana. vestigativo a partir cometidos por Para causar um de um caso de abu“baque” ainda so praticado por um representantes maior no públipadre. Porém, no da Igreja co, uma das cedecorrer da invesnas em destaque tigação descobrem é a sobre um coral de crianças, reque os problemas que atingem a velando a inocência dos pequenos e Igreja Católica são muito maioa confiança que a população tinha res. A falta de informações em em relação à Igreja. Sentimentos arquivos no Fórum aguça ainda vistos com indignação a partir do mais a curiosidade dos jornalisolhar do jornalista, interpretado tas. por Mark Ruffalo, que percebe o O tema retratado tornaambiente como um local de menti-se polêmico não apenas por enra e desespero. volver o abuso sexual, mas prin De maneira geral, o filme cipalmente por apresentar o lado revela que a cautela, paciência, “obscuro” da Igreja, ou melhor, insistência e apurações detalhadas dos seus representantes. A temásão alguns dos pontos essenciais tica em discussão visa denunciar para trabalhar com determinaos abusos e anunciar os fatos, dos assuntos, pois um erro pode como forma de prevenção, pois comprometer todo o andamento a igreja, vista como “A casa de da investigação. Por outro lado, o Deus”, em momento algum cauacerto (mesmo que demore) pode sa medo ou desconfiança nas mudar a vida de pessoas do munpessoas, havendo inclusive cerdo inteiro. ta cumplicidade.

Pokémon GO! Dificil alguém que viveu a infância no final dos anos 90 e que não gostasse de assistir ao desenho animado dos “monstrinhos de bolso”. Mais difícil ainda um desses jovens que assistiam e não sonhavam em um dia ser um treinador Pokémon. Pois em pleno 2016, esse sonho se tornará realidade! Bem... mais ou menos... Pokémon GO! promete trazer uma experiência diferente para os smartphones. Você poderá capturar pokemóns de acordo com a área geográfica real, por meio da tecnologia Realidade Aumentada, permitindo até batalhar com outras pessoas e também fazer trocas. A em-

presa responsável informou que lançará um acessório opcional parecido com um relógio e que tem formato de pokébola (chamado GO Plus), permitindo a interação com o usuário por meio de luzes e vibrações para avisar certas situações, como pokemóns próximos e até jogadores. O jogo ainda não tem data de lançamento, mas você pode curtir um trailer muito bacana que mistura pessoas reais com os monstrinhos e nos mostra de forma ilustrativa como o app funcionará. Trailer https://www.youtube.com/watch?v=2sj2iQyBTQs

Notícias estranhas na internet Bebê mais negro do mundo? Aparições de alienígenas ou de fantasmas? Animais com feições humanas? Com certeza você já encontrou alguma dessas notícias em alguma das suas redes sociais, ou já escutou alguma conversa de ônibus sobre esses assuntos. E provavelmente já teve a curiosidade de saber se essas notícias, por mais bizarras que sejam, são realmente reais ou não. O site E-Farsas.com começou no ano de 2002 e desde então todo o seu conteúdo é voltado para responder essas notícias estranhas que circulam pela internet. O site tem grande reconhecimento por conta das pesquisas aprofundadas feitas pela pessoa por trás da página. Gilmar Lopes, analista de sistemas, que até já participou de programas de rádio e já foi eleito o quarto maior blog de língua portuguesa do mundo, sendo eleito pela agência Deutsche Welle, da Alemanha. Lembrou de alguma notícia que lhe pareceu estranha demais para ser verdade? Dê uma passadinha nesse site para ter certeza se é farsa ou não. http://www.e-farsas.com


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

Bicicletar é o verbo

Isabelle Cechinato

Bicicletar para a sua pressa, Isso te interessa. Bicicletar é um consolo, Melhor que qualquer colo. Bicicletar é pra menina, Pra quem foge da rotina É pro menino, Com certeza um desatino.

Bicicletar para o tédio, Parece até remédio. É o sentir da brisa, O balançar da camisa. Bicicletar traz liberdade, Vale pra qualquer idade. E traz vida, Como a poesia lida.


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