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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VIII- NÚMERO 52 – CURITIBA, MARÇO/ABRIL DE 2017 Helen Gutstein

Uma profissão que resiste ao tempo Conheça as histórias dos engraxates da Boca do Brilho, em Curitiba págs.6 e 7

Foto: Letícia Costa

Foto: Camila Toledo

Taxa de desemprego entre os que sofrem de artrite reumatoide é alta

págs. 8 e 9

pág. 5

A bicicleta tem sido uma boa opção para os que desejam fugir do caótico trânsito curitibano

Foto: Letícia Costa

págs. 4

Casa da Mulher Brasileira dá proteção às pessoas que sofrem algum tipo de violência


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Número 52– Março/Abril de 2017

OPINIÃO Nesta edição, o Marco Zero aborda assuntos interessantíssimos e polêmicos, como a série americana 13 Reasons Why. O jornal também mostra a preocupação de pessoas com artrite reumatoide para encontrar um emprego. O leitor pode desfrutar de uma matéria relacionada à bike, pois muitas pessoas estão trocando seus carros e ônibus por um meio de transporte mais saudável. Uma matéria mais que especial sobre a profissão de engraxate, como é seu dia, e os desafios que enfrentam. Outro assunto especial é sobre um local que oferece segurança às mulheres contra a violência. Veja também uma reportagem sobre o jornalismo e seu método de checagem e a importância em desvendar dados oficiais e não se ater a boatos e informações falsas. Já a ONG Beco faz um trabalho maravilhoso de proteção aos animais para que eles possam ser adotados e protegidos. Para fechar, um ensaio fotográfico mostrando um pouco da diversidade cultural da Bolívia. Boa leitura a todos!

Equipe Marco Zero

O Marco Zero

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Expediente

Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

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Precisamos falar sobre a série 13 Reasons Why Foto: Divulgção

Ao leitor

Jacqueline Correia

O que você acha da reforma trabalhista que está em discussão no Congresso?

B

aseada no livro de Jay Asher, a série 13 Reasons Why ( Os 13 Porquês), produzida pela cantora e atriz Selena Gomez, virou assunto em todas as redes sociais, repercutindo de forma significativa e gerando questionamentos quanto a sua influência sobre os jovens. São colocados em discussão assuntos como o bullying, depressão e o suicídio da protagonista Hannah Baker, contando o passo-a-passo que a levou a cometer o ato. A série é totalmente focada no drama adolescente e, fica claro, que é voltada para um público mais jovem, o que gerou uma discussão no meio dos profissionais da área de psicologia e organizações de prevenção ao suicídio. Eles questionam a influência negativa e o poder de indução da série, uma vez que viola várias regras do Manual de Prevenção ao Suicídio – documento criado pela Organização Mundial de Saúde que ajuda os profissionais da mídia a abordarem certos temas – e, uma delas, é a maneira explícita como é mostrado o suicídio de Hannah. Spoiler Alert! O Manual da OMS diz que a cobertura sensacionalista de um suicídio deve ser evitada, e ele deve ser minimizado o máximo possível. Embora seja uma obra de ficção, em hipótese alguma, deve-se descrever de forma detalhada o método usado para cometer tal ato, o que acontece de forma explícita na série, na cena chocante que mostra a personagem cortando os pulsos na banheira. Segundo a Organização, esse tipo de demonstração exerce influência no sentido de ensinar aos jovens meios eficazes de cometer suicídio. Por este mesmo motivo, não são publicadas cartas de suicidas, para que eles não se tornem “mártires” e as pessoas não se sintam suscetíveis a esta alternativa para se tornarem conhecidos.

Larissa de Oliveira

A história é narrada desde o primeiro episódio por Hannah. Antes de se matar, ela grava fitas cassetes que explicam os motivos que a levaram a tirar sua própria vida, apontando outros personagens na trama como os responsáveis por sua morte – outra violação ao Manual que diz para não se apontarem culpados. A série mostra a visão de Clay Jensen, colega de Hannah e que era apaixonado por ela. Ele recebe as fitas e então começa a ser contada a história. Em cada episodio é ouvido um lado, e Clay, que ainda está abalado pela morte da menina, não consegue ouvir todas as fitas de uma vez, o que deixa o desenrolar da trama bem lento e desperta a curiosidade para assistir o próximo episódio. Já no primeiro episódio, o cyberbullying é abordado de forma clara, quando fotos constrangedoras de Hannah são enviadas para os celulares de todos os adolescentes do colégio em que ela estudava, causando fofocas e comentários humilhantes e trazendo “má fama” à jovem. A primeira decepção amorosa, algo comum na vida adolescente, também acaba se tornando algo muito mais intenso. Começa então a saga de Clay, que passa pelos lugares onde a adolescente narra os piores acontecimentos de sua vida. Ele segue fielmente cada fita, em busca de compreender o que ela sentia, pensava e como foram seus últimos momentos. O bullying continua sendo abordado de diferentes formas ao longo da série. A jovem tenta fazer amizades, mas acaba sempre se envolvendo em situa-

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter Coordenador do Curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Professor responsável: Roberto Nicolato

Diagramação: Larissa de Oliveira Arthur Neves

ções difíceis e brigas adolescentes, e vai perdendo cada amigo e pessoa próxima. A série explora bem esse lado da depressão, mostrando como a personagem se isola cada vez mais e acaba por sentir que não tem opções. Construindo uma trama pesada e, considerada por alguns críticos como exagero e oportunismo, a série também aborda o tema da cultura do estupro, e mostra cenas de Hannah e a amiga Jessica sendo estupradas pelo mesmo agressor, outro colega das meninas, em momentos separados. Não é possível citar as razões pelas quais você deve ou não assistir a série, mas é preciso estar preparado para cenas fortes. São temas que, há não muito tempo, costumavam ser tabus e pouco repercutidos na mídia e no meio social. A forma como é abordada pode não ser a melhor, pois exalta o suicídio e aponta um fator que determinou o suicídio da protagonista no caso cada um dos jovens citados por ela nas fitas. Segundo dados da OMS, os reais motivos para um suicídio vão muito além de pessoas, mas sim a interação completa de vários fatores, como transtornos mentais, doenças físicas, condição social e conflitos interpessoais. Vale a pena assistir e tirar suas próprias conclusões e, o mais importante, estar atento aos sinais e procurar ajuda quando necessário. Precisamos falar sobre bullying, cultura do estupro, depressão e suicídio. Mas precisamos falar de forma clara e segura; de uma maneira que todos entendam e se preocupem, sem causar mais dano. Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho, 131 80410-150 |Centro- Curitiba PR

Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

E-mail comunicacaosocial@grupouninter.com.br

Telefones 2102-3336 e 2102-3380.

Cecília de Freitas, aposentada.

“Vejo a reforma trabalhista de forma negativa, pois de maneira alguma esse governo não quer ajudar o trabalhador.”

“Essa reforma é prejudicial, tira direitos do trabalhador, assim como Wesley Bueno a reforma da de Souza, previdência. vendedor A mídia tenta mostrar que é bom, porque está com o governo. Se sem essa aprovação a gente já é quase escravo, imagine agora.”

Ana Paula Cordeiro Ferreira dos Santos, autônoma.

“Não estou muito a par da situação, como não trabalho com carteira assinada, para mim não interfere. Mas se eu fosse registrada, não

iria gostar” “Tem coisas ruins e boas. Eu gostei da parte sobre as férias que serão paCamila Roberta gas em três Modesto da vezes. Agora Silva, também atendente de poderemos ter telemarketing. mais diálogo com nossos patrões. Mas não gostei da terceirização, achei isso ruim”.


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ENTREVISTA

Jornalismo baseado em dados reais Foto: Divulgção

O Livre.Jor, projeto de jornalismo independente, torna acessível informações que são consideradas públicas com o trabalho de checagem Mariana Becker

Alexsandro Ribeiro, João Guilherme Frey, José Lazaro Júnior e Rafael Moro Martins fazem parte do Livre.Jor, jornalistas que há três anos vêm desvendando dados oficiais de qualquer natureza e transformando em conteúdo jornalístico, mostrando o que está na nossa frente, mas nem sempre vemos. Em tempos de divulgação de informações falsas na internet, o grupo busca realizar o jornalismo de dados, consultando documentos e não se contentando apenas com as simples declarações das fontes. O trabalho é árduo, demorado, mas pelo menos há checagem e confiabilidade nos dados apurados. O projeto nasceu nas redes sociais, mais precisamente no Facebook, e somente depois eles montaram um web site, tendo um formato contrário a outros veículos, que nascem com um site e usam as redes sociais como um espaço de relacionamento para ampliar o leque de acessos. Alexsandro, nesta entrevista ao jornal Marco Zero, conta um pouco desse projeto.

Integrantes do site Livre.Jor: trabalho árduo e demorado na busca da confiabilidade dos dados

Qual a relevância do Livre. Jor para a sociedade? O projeto ajuda os próprios jornalistas mostrando onde eles também podem procurar informações, indicando espaços, onde eles, no exercício da sua profissão, podem melhorar e aprimorar cada vez mais a transmissão de uma informação que é pública. Segundo, é trabalhar justamente direto com a socieMarco Zero: O que te cha- dade, apresentando o caminho onde podem enmou a atenção contrar e se inteipara entrar no rar da vida polítiprojeto? O projeto ca de forma mais Alexsandro fácil nos espaços Ribeiro: Sempre também foge dedicados a isso. tive interesse em um pouco do E em terceiro dados e informalugar na estruções públicas, em agendamento turação de entes trabalhar com po- da imprensa públicos, que eslítica. O que achei tradicional tão aprimorando interessante foi o o sistema para formato, a linha Alexsandro Ribeiro atender de uma editorial, pois o Jornalista forma bem mais Livre.jor atua escompleta os pedisencialmente com dados que são fornecidos, ou en- dos de informação. . contrados, em espaços oficiais. Vocês já tiveram matérias Temos uma vertente que está para além das opiniões e trazemos aqui- que interferiram diretamente lo que é mais concreto. O projeto em alguma ação do poder pútambém foge um pouco do agen- blico? Sim. Posso apontar dois cadamento da imprensa, já que não trabalhamos necessariamente co- sos, que foram licitações, e um nectados com os temas que estão deles foi ano passado. Uma liciem voga hoje na mídia. O Livre. tação foi para adquirir celulares jor tem sua própria pauta e ela às para o governo estadual, ou seja, vezes não está relacionada com um lote de iPhones. Seriam 140 aquilo que está predominante hoje aparelhos e mais equipamentos e nos jornais, mas que não deixa de acessórios. E eles voltaram atrás depois da repercussão por causer de interesse público.

sa do alto valor, e cancelaram principalmente porque era um momento de redução de gastos e o governo dizia estar preocupado com a recessão econômica. Aquilo mostrou uma incoerência do poder público ao tentar substituir os equipamentos do primeiro escalão. Teve ainda um caso mais recente, que foi um erro num edital da Assembleia Legislativa, também na compra de equipamentos, ou seja, pen drives que estavam com o preço muito acima do mercado. Vocês já tiveram algum retorno do público sobre o trabalho que fazem? Sim. Geralmente nas redes sociais é aonde a gente mais recebe retorno. Tanto positivo quanto negativo, mas retorno é retorno. Já tivemos apoio ressaltando a importância desse trabalho na lida da informação pública e também já recebemos críticas dizendo que temos posicionamento ideológico nítido, quando, na verdade, a gente trabalha com dados. Cada um tem o seu posicionamento, obviamente, mas na hora do trabalho temos uma linha editorial bem definida. O que precisa em termos de conhecimento e tecnologia para fazer o jornalismo de dados? Para fazer no formato Livre. jor, primeiro é necessário o conhecimento dos critérios jornalísticos, os valores-notícia, saber o que é

interessante e o que não é. Depois conhecer a estrutura da administração pública e saber dos seus espaços de transparência onde

encontramos a informação que está publicada e onde podemos solicitar informações adicionais. E também é necessário ter um pouco de conhecimento de programação, tabulação e planilhas para extrair padrões e informações da base de dados. Pelo menos esses três elementos eu acho que são essenciais. Quais são os planos para o futuro? A ideia é que tenhamos mais recursos para trabalhar na relação de produção direto com a sociedade, melhorar cada vez mais nossas narrativas e também a forma de apuração debate x conteúdo. Mostrar que é possível às pessoas fazerem blogs com dados, apresentar essas ferramentas para que esse modelo seja replicável em outras cidades. Queremos conseguir manter o projeto para poder ampliar e intensificar esse trabalho de fiscalização da coisa pública, da lida com dados públicos, o que é importante no jornalismo de hoje.

Resumo de algumas matérias publicadas no site do Livre.jor Mulheres ganham 17% a menos que homens no governo do PR Maioria da população brasileira e da paranaense, as mulheres também são a maior parcela dos funcionários da administração estadual. Elas são 60% dos 134 mil efetivos e comissionados do governo do Paraná. Mas ganham 17% a menos que os homens. Enquanto a média dos vencimentos das 83.858 mulheres efetivas, efetivas com função gratificada e comissionadas é de R$ 5.243,13, a média dos salários de 55.440 homens fica em R$ 6.305,51. A diferença, de R$ 1.062, é superior ao valor do salário-mínimo no país – hoje em R$ 937. (27/0317) Cancelada pela Justiça, governo gastou R$ 13 milhões com propaganda da Previdência Para defender a Reforma da Previdência, o governo federal gastou pelo menos R$ 13,5 milhões em propaganda. Os valores, obtidos via LAI, são referentes à veiculação em dezembro. A criação custou R$ 1,5 milhão e o resto é quanto foi pago para veicular as peças na imprensa local e nacional. Os dados de janeiro a março foram solicitados pelo

Livre.jor ao governo. (26/03/17) Livreleaks: acionistas aprovam aumento salarial da diretoria da Sanepar, Copel e PRSEC A semana que passou não foi apenas atribulada no cenário nacional, mas também de agenda cheia nas estatais paranaenses. Em assembleias, os acionistas das empresas de economia mista votaram aumentos do valor global da remuneração dos administradores de até 45% do montante pago em 2016. O Livre.jor compilou as atas com as decisões dos acionistas da Copel, Sanepar e PRSEC. (30/04/17); Evento para políticos em Foz? Assembleia do PR deu R$ 400 mil A Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) gastará R$ 400 mil com a realização de um evento no Rafain Palace Hotel, em Foz do Iguaçu, com deputados e servidores de casas legislativas de outros estados brasileiros. Trata-se da XXI Conferência Nacional de Legisladores e Legislativos Estaduais (CNLE), entre os dias 7 e 9 de junho. (05/04/17)


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SAÚDE

Desemprego é alto no Brasil entre trabalhadores com artrite reumatoide É o que mostra estudo realizado em quatro países com 309 pacientes

Toledo

Convivência Andréia Tavares é aposentada e foi diagnosticada com artrite reumatoide com 17 anos. Hoje ela tem 34 anos. Ela conta que estava em seu primeiro emprego com carteira registrada quando começou a sentir dores muito fortes nas articulações das mãos, nos cotovelos

Camila Toledo

O Brasil tem o maior índice de desemprego entra pessoas com artrite reumatoide. Seis em cada dez pacientes estavam desempregados em 2015. No México o índice é de 46%, na Colômbia de 39% e na Argentina de 27%. Esse é o resultado de um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Centro Paulista de Investigações Clínicas (Cepic) e o Hospital de Clínicas de Porto feito com 309 pacientes que foram acompanhados por um ano nesses quatro países. A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica que pode limitar os movimentos diários dos pacientes. O especialista em reumatologia Andreas Funk diz que a doença atinge mais mulheres do que homens e que se caracteriza pelo inchaço nas articulações. Segundo uma pesquisa publicada em 2015 na Revista Brasileira de Reumatologia, 97,3% dos pacientes diagnosticados com artrite reumatoide são mulheres. O especialista comenta outra característica importante da doença: “Se ela não for controlada com o tratamento, pode levar ao aparecimento de deformidades nas articulações.” Ele também destaca que a doença pode levar os pacientes à impossibilidade de certos afazeres do dia-a-dia, mas as dificuldades variam de paciente para paciente. “O comprometimento da capa-

cidade funcional pela artrite reumatoide varia de uma pessoa para outra e de uma fase da doença para outra. Enquanto algumas pessoas apresentam quadros mais leves da doença e conseguem continuar desempenhando normalmente todas as suas tarefas diárias, outras apresentam um grau maior de incapacidade, que vai desde a impossibilidade de trabalhar até a total incapacidade para caminhar ou se alimentar por conta própria”, comenta Funke. O tratamento da doença pode ser feito por medicamentos e por fisioterapia. O especialista diz que o objetivo do tratamento é aliviar os sintomas, controlar a atividade da doença, impedir sua progressão e prevenir suas deformidades. Funke também comenta os principais sintomas da artrite reumatoide: “Os principais sintomas são as dores, o inchaço que ocorre em diversas articulações, tanto nas pequenas juntas das mãos e dos pés, quanto em articulações maiores. Também pode acorrer a rigidez, o travamento das articulações pela manhã e a sensação de cansaço e fraqueza.”

Andréia foi diagnosticada com artrite reumatoide com 17 anos

Camila Toledo

Camila

Andréia Tavares têm deformidades articulares, nódulos reumatoides e cistos

e nos ombros. Andréia chegou a perder o emprego, pois começou a ter limitações. “A dor caminhava pelo meu corpo. Era e ainda é minha companhia diária, tudo em mim doía. Passei a ter muitas limitações e cheguei ao ponto de não poder mais trabalhar e perdi meu emprego”, relata. Desde que foi diagnosticada, Andréia convive com dores nas articulações. Ela diz que conviver com as dores nas articulações é matar um gigante a cada dia, porque a dor não passa. “Mesmo fazendo o tratamento e tomando as medicações de forma regular, a dor não passa. Só alivia, mas não passa”, diz. Ela também sofre com os avanços do estádio da doença. “A artrite reumatoide já destruiu as articulações do meu joelho e do meu quadril. Precisei colocar próteses que pararam a dor. Hoje consigo me locomover com mais facilidade, mas a artrite não deixou de judiar. Eu já tenho deformações articulares, nódulos reumatoides, tenho vários cistos nos punhos, minhas mãos estão tortas e meus dedos desalinhados.” Andréia comenta que sen-

te dores todos os dias, alguns dias mais e outros menos. “Mas aprendi a conviver com a dor. Faço o que posso dentro do meu limite.”

Causa ainda é desconhecida A causa da artrite reumatoide ainda é desconhecida, mas há três fatores que podem possibilitar a doença, como fatores ambientais. Por exemplo, o tabagismo e a doença Pele Odontol. Além disso, há o fator genético. Pessoas com parentes que possuem artrite reumatoide tem mais chance de desenvolver a doença. Esse é o caso de Janete Tavares Toledo. Ela é tia de Andréia Tavares e começou o tratamento há três anos e diz que sente dificuldades em realizar coisas simples do cotidiano. “Escovar os dentes, pentear o cabelo, vestir alguma roupa, subir e descer escadas e fazer exercícios é mais compli-

cado”, conta. Ela também diz que quando a dor é muito forte, tenta fazer alguma coisa para esquecer. “Mas é impossível, porque dói muito.” O especialista Andreas Funke ainda destaca que há casos em que o paciente precisa passar por tratamentos psicológicos. “Os pacientes afetados pela artrite reumatoide estão mais propensos a desenvolver depressão e ansiedade, e podem ou não melhorar após o controle da doença”, afirma. Segundo a psicóloga Danieli Alves, a artrite reumatoide tem uma ligação íntima com a psicologia, pois é preciso lidar com a dor causada pela doença e a falta de informação da população, que pode causar um certo estigma, o que prejudica ainda mais o paciente. “Se uma pessoa fala que tem artrite reumatoide, lúpus ou qualquer outra doença que se justifique psicologicamente, causa aquele reação de que ‘é frescura’ ”. Além da

“Ainda não foram encontradas a cura e a causa para a artrite reumatoide”


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CIDADE

Porque andar de bike em Curitiba é legal Denise Becker

O trânsito nas cidades grandes é assunto frequente no noticiário, seja pelo caos, seja pela poluição ou perda da qualidade de vida. Embora soe paradoxal, a cidade brasileira que é vista no exterior como modelo em ciclomobilidade tem um dos maiores índices per capita de automóveis. Curitiba tem um veículo para cada 1,2 habitante. O site norte-americano Mother Nature Network (MNN), que trata de meio ambiente e responsabilidade social, listou em 2013 as dez cidades mais agradáveis do mundo para se andar de bicicleta. Curitiba foi a única cidade brasileira a ser menciona- Professora Silvia Valim e os estudantes Julio Pagnan e Fabio Ribeiro aderiram ao uso da bicicleta da. Um dos fatores avaliados foi a infraestrutura. Jornalista e professora, Sílvia porcionasse prazer. Adquiri pela Fábio criou coragem vendo o Por ser uma forma amigável diz que depois dos 30 anos pa- internet uma bicicleta alemã per- exemplo do colega e deixou a moe prática de mobilidade, Silvia rece que reaprendeu a pedalar e sonalizada de 1930, usada. Deixei tocicleta de lado para andar 16 km Valim, Eugênio Vinci de Mora- percorre 7 km para ir e voltar da do jeito que eu queria, com três de bicicleta. Para ele, a qualidade de es, Julio Pagnan e Fábio Ribeiro faculdade. Para evitar transtor- marchas, cestinha e um alforje vida e a economia são importantes, têm usado a bicicleta para ir ao nos e estresse, anda sempre nas feito especialmente para caber li- mas já levou alguns sustos. “A gente vros e materiais que uso em sala economiza na gasolina e faz exercítrabalho. Sílvia e Eugênio são ciclofaixas. Quando tem. professores no “Comecei a de aula”, diz. cio. Mas as partes que têm ciclovias Três pontos importantes levaram estão malcuidadas, então a gente Centro Univerandar de bike por sitário Interna- Quis uma vários motivos: o professor Eugênio, de 53 anos, a opta pelas canaletas e não é difícil cional Uninter, um deles foi ter adotar a bicicleta como meio de passar por situações arriscadas”, diz. bike que me onde Julio e Fáaberto mão do transporte: ideológico, pessoal e Para os dois ciclistas, ainda bio trabalham garantisse antigo carro para econômico. “Eu acho que a cidade há muito por fazer. Segundo eles, e estudam. A conforto e um investimento deve confinar o carro. Quanto me- as ciclovias estão sem manuteninstituição posimobiliário que nos usar o carro, melhor para a cida- ção, mal sinalizadas e, em alguns sui bicicletário refletisse minha me deixou mais de. Tive que emagrecer e não gosto trechos, esburacadas. Mesmo asnos campi Tira- personalidade. perto da família de academia. Estou sim, a bicicleta dentes, Garcez, e da minha vida economizando uma é uma alternaSilvia Valim - Professora Divina e Carlos profissional. Mas boa grana nesse ne- Partes que têm tiva possível. Gomes. já que era para en- gócio, pois gastava De acordo ciclovias estão O quarteto frentar o desafio, dez reais de manhã com o Instituto aderiu a um grupo cada vez quis uma bike que me garantisse e dez à noite em es- malcuidadas, de Pesquisa e maior em Curitiba, o de pes- conforto e refletisse o máximo tacionamento para o então a gente Planejamento soas que estão trocando o car- possível da minha personalidade. carro”, declara. Urbano de CuriJulio Pagnan e opta pelas ro ou o ônibus pela bicicleta. Queria que essa mudança me protiba (IPPUC), Fábio Ribeiro, am- canaletas. a cidade posbos de 43 anos, tamsui atualmente Entenda a sinalização para os ciclistas bém pedalam rumo Julio Pagnan - estudante 204,2 km disao Centro. Os dois e funcionário da Uninter tribuídos entre estudam Jornalismo ciclovias, cicloe trabalham na Uninter. Julio é vi- faixas e ciclorrotas. A assessoria deografista e Fábio, diretor de cena. de imprensa do IPPUC informou Julio mora na região entre os que até o fim do ano a cidade debairros Capão Raso e CIC e se verá ganhar mais 4 km de ciclovias arrisca todos os dias ao longo do ao longo do trecho norte da Linha trajeto até o trabalho. Ao todo, per- Verde, que está em obras. corre 22 km. “Pego um bom trecho Outros 3 km integrarão a made canaleta do ônibus expresso, lha cicloviária com a revitalizaporque não tem ciclofaixa nas la- ção da Avenida Manoel Ribas. A terais da República Argentina in- ordem de serviço para realização teira. Na Sete de Setembro pego a dos trabalhos foi assinada recenvia calma e depois subo até chegar temente, sem data definida para o na faculdade”, diz Julio. começo das obras.

Foto: Letícia Costa

Com o trânsito cada vez mais caótico, pedalar tem sido uma boa opção para estudantes e trabalhadores que precisam se locomover pela cidade O que diz a lei sobre a ciclomobilidade Em 2015, Curitiba sancionou a lei que dispõe sobre a mobilidade urbana sustentável, conhecida como “Lei da Bicicleta”, que estabelece 1,5 metro de distância dos carros para o ciclista pedalar com segurança. “Eu diria que 85% dos carros respeitam, inclusive ônibus. Mas nosso trânsito, nossas vias, não são feitas para isso. Bicicleta é um veículo que disputa um espaço que não é dela”, diz o professor Eugênio Vinci. Conforme o IPPUC, Curitiba tem 204,2 km de vias voltadas a atender à ciclomobilidade. São 172,9 km de ciclovias, 19,6 km de ciclofaixas e 11,7 km de ciclorrotas.

Direitos e deveres

Os órgãos de trânsito devem garantir a segurança dos ciclistas. No entanto, é preciso estar atento às leis e conhecer quais são os seus direitos e deveres ao escolher pedalar. Confira alguns artigos do Código de Trânsito Brasileiro: Art. 29: Os pedestres têm prioridade sobre ciclistas e os ciclistas, sobre demais veículos. Art. 58: Se não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, ou quando não for possível usá-los, o ciclista deve transitar nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação da via, com preferência sobre os veículos automotores. Art. 59: A bicicleta só pode transitar na calçada com autorização da autoridade de trânsito e sinalização adequada. Art. 68: Para atravessar na faixa de pedestres é preciso sair da bicicleta e empurrá-la, equiparando-se ao pedestre em direitos e deveres. Art. 105: São equipamentos obrigatórios: campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo. Art. 181: É infração grave, sujeita a multa e guincho, estacionar um veículo na ciclovia ou ciclofaixa. Art. 201: O veículo automotor deve ultrapassar a bicicleta a uma distância mínima de 1,50 metro.


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ESPECIAL

A vida vista por debaixo dos pés Profissão de engraxate resiste ao tempo e revela uma relação de cordialidade Helen Gutstein

Fernanda Bueno

A Boca do Brilho, que funciona no centro de Curitiba, é um local regulamentado e os lustradores são patrocinados pela Omar Calçados, que fornece a roupa de trabalho. Os trabalhadores acabam divulgando a marca e, com isso, recebem R$ 1.000,00 ao final de cada ano, que é distribuído entre eles. O valor é repartido entre um número impreciso de engraxates, uma vez que há muita rotatividade entre eles. Ganha a sua parcela quem estiver em atividade nesse período de fim-de-ano.

Helen Gutstein

Uma cadeira baixa e outra alta, graxa, flanela e polidor. São essas as ferramentas de trabalho de um engraxate. A vista do alto da poltrona e a posição do profissional, que se encontra pronto para servir, pode trazer reação diferente a cada pessoa. Algumas relaxam, outras espairecem ou existe até mesmo aquelas que demonstram arrogância. Mas isso não muda a postura do profissional. Sua rotina é a mesma e o seu trabalho é feito da mesma forma tanto para um como para o outro. Não é preciso mais do que 20 minutos para que o calçado esteja radiante e a maior durabilidade do couro garantida. O engraxate demonstra habilidade ao circular os dedos com a flanela em volta do sapato. Feito os procedimentos, o brilho traz um aspecto novo ao pisante. Um local que reúne esses trabalhadores há 15 anos é a Boca do Brilho, no centro de Curitiba. Na rua Voluntários da Pátria, trabalhadores autônomos conquistaram credenciais. Mesmo na chuva, como o local é coberto, o cliente pode contar com o lustre no sapato se precisar, com o conforto tanto para o cliente como para o lustrador. O cliente chega e um “olá” já é o suficiente para mostrar sua educação. Senta-se, apoia seus pés, recebe um jornal e logo o lustrador começa seu trabalho. Mais nenhuma palavra. De vez em quando uma olhadela no celular, outra no movimento em volta e sua cabeça se abaixa novamente para o jornal, tapando totalmente a visão que teria do profissional. E a cena se repete várias vezes. O cenário muda no momento em que clientes, aparentando meia idade, se encontram por acaso no local e começam a conversar sobre um colega que é candidato a vereador. As risadas são altas e características de quem está confortável. O engraxate, que de certa forma participa da conversa, sem uma palavra, simplesmente concorda e sorri junto com os senhores. O menos grisalho analisa seu sapato, o sinal da cabeça e o sorriso mostra ao lustrador que ele está satisfeito. Paga pelo serviço e se despede do colega e do engraxate. Nos primeiros passos, o cliente confere e vislumbra cada passada. Na pri-

Local de Trabalho

SERVIÇO meira oportunidade, o engraxate, todo ansioso, chega perto do colega de trabalho e comenta que vai votar no vereador que seu cliente mencionou. “O pai do vereador sempre engraxa o calçado comigo também”, conta orgulhoso. Os olhares de passantes para dentro do local é mais frequente

quando o sapato (ou bota) pertence a uma mulher. Muito raro, mas algumas mulheres também gostam de dar um trato no pisante. Elas chegam, sentam e são igualmente bem tratadas pelos trabalhadores. Mas os olhares dos clientes ficam disparados quando chega uma mulher, alguns de espanto e outros

Profissão de engraxate existe há 210 anos

mal-intencionados. Porém, o constrangimento e até mesmo o desconforto são amenizados com a simpatia do lustrador, que só faz o seu trabalho sem distinção. Mesmo não fazendo parte da maioria dos clientes, algumas muheres também vão até os engraxates.

O local onde funciona o serviço dos engraxates de Curitiba, fica localizado na Rua Voluntários da Pátria, S/N - Centro, Curitiba/PR CEP 80020-000 Atendimento de segunda a sábado, das 8h às 20h.


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Foto: Aliana Machado

Desafios de uma profissão Fernanda Bueno

Boca do Brilho é regulamentada pela Prefeitura de Curitiba

A toalha apoiada na calça ser- 1806, quando um operário poliu ve agora para limpar os excessos em sinal de respeito as botas de da pasta que fica entre os dedos um general francês e foi recomencobertos com a graxa. As fer- pensado com uma moeda de ouro ramentas de trabalho e um sorriso por isso. O nascimento do ofício transmitem os 50 anos de confian- de engraxate ocorreu há tanto temça que o trabalho lhe trouxe. As- po e deveria ter sua valorização. sim, Antônio Belinski pratica com Órgãos públicos e o Sindicato muita facilidade as polidas nos dos engraxates não têm muitas insapatos, que vêm lhe sustentando formações sobre essa profissão em durante esse meio século. Curitiba. Não identificamos quantos Tinha lá os seus 20 e poucos profissionais ainda trabalham na cianos quando começou a traba- dade porque esses dados não foram lhar como engraxate no centro de levantados. Os engraxates foram esCuritiba. Antônio, mais conhecido quecidos, não somente pela grande como Garrincha (por causa das maioria da população, mas também pernas tortas), conta que muita por aqueles que têm como dever adcoisa mudou de 50 anos para cá. ministrar o trabalho deles. A procura pelos engraxates tamAssim como Antônio, os lusbém teve mudanças, que para al- tradores já estão em sua meia guns profissionais idade. Há anos trouxe frustrações. na prática, esMas, sem querer ses profissionais largar a profissão, passaram pelo Antônio viu nas processo de mudificuldades algo danças da vida que hoje lhe traz cotidiana das boas recordações. pessoas. TrouPrimeiro, ele xeram a prática conheceu e veio a de quando eram se apaixonar pelo novos até aqui. trabalho, depois Seus clientes, conheceu a muou pelo menos a lher que futuragrande maioria mente viria ser a deles, é composAntônio Belinski, engraxate ta de senhores mãe de seus dois filhos. Durante os e mesmo com a 20 anos casados, ele recorda sua “correria do dia a dia” não deixam história com ela, que dois meses de passar deixar o pisante para depois de separados veio a falecer. buscar no final da tarde. Relata que hoje tem muitos amiMas e quando essa geração gos e a maioria foi a profissão que passar? Novos profissionais tenlhe proporcionou. tam entrar nessa carreira, mas são Recorda de diversas histórias rejeitados pela clientela por não ter que já ouviu dos seus clientes. “Eu a prática de quem está ali há anos. gosto muito do que faço, gosto de Não é preciso muito para perconversar com as pessoas”, enfa- ceber que o trabalho e a prática de tiza o lustrador. Alguns sentam e cuidar e zelar da beleza dos sapatos logo ele percebe que suas palavras está em extinção. As novas tendênserão bem recebidas, mas para ou- cias de moda, falta de tempo e acestros a impressão é contrária e por sibilidade aos trabalhadores, são isso acaba escolhendo o silêncio. vários fatores que influenciam para A profissão teve início em o fim do trabalho dos engraxates.

Eu gosto muito do que faço, gosto de conversar com as pessoas

Foto: Aliana Machado

Eles têm muitas histórias para contar

Aliana Machado

Sapateiro é uma das profissões mais antigas do mundo e o seu dia é comemorado em 25 de outubro. Entre as matérias primas mais utilizadas, o couro é a principal. Essa é uma profissão que normalmente se herda, pois é grande a dificuldade de se aprender um ofício no qual não existe nenhum tipo de curso. O sapato deixou de ser um artesanato, pois hoje é fabricado em série, então os consumidores acabam preferindo comprar outro do que mandar consertar. O preço, de certa forma, é acessível, e as pessoas têm uma quantidade bem maior do que antigamente. Eles demoram mais para estragar, valendo mais a pena comprar um novo. Um dos grandes empecilhos para as pessoas irem com mais frequência no sapateiro é a moda. Muitas vezes, ela acaba antes das pessoas precisarem levar o sapato para consertar porque cai em desuso. O fato do produto ser fabricado em série, mais baratos poderia contribuir para que a profissão de sapateiro entrasse em extinção, pois o número de clientes reduziu relativamente. Sem contar a má remuneração que enfrentam. Mas com a crise que o país enfrenta, muitos chegaram a apostar que os sapateiros iriam ter um lucro maior. Ou seja, as pessoas deixariam de gastar comprando sapatos e iriam preferir consertá-los, pois assim o

Antônio: “Só boatos, não melhorou em nada na procura por serviços”

custo seria bem menor. Só que as coisas não foram bem assim. Antônio Junior, sapateiro e proprietário de uma sapataria na Rua Saldanha Marinho, no centro de Curitiba, exerce a profissão há 25 anos. Ele diz que em vez de ter aumentado sua clientela, os lucros caíram por causa da crise. “Só boatos, não melhorou em nada, todos falaram que ia ser diferente. Estou esperando o inverno para ver se melhora”, completa. O que o sapateiro Antônio mais faz é trocar solas e tacos, além de consertar bolsas e jaquetas. Ele também vende artigos como palmilhas e adereços para sapatos, principalmente os de salto. E as pessoas ainda continu-

am frequentando as sapatarias? Ulisses Gomes, comerciante, 66 anos, disse que geralmente compra sapatos bons, que dificilmente estragam e, neste caso, é melhor consertar do que comprar outro. “O que eu mais mando para a sapataria são meus tênis”, conta. Já a vendedora Catarina Luiza, 30 anos, sempre está indo no sapateiro, pois as calçadas de Curitiba estragam o taco de seus sapatos. “Antes comprar um taco novo do que um sapato”. Sérgio Lima, 45 anos, disse que vai pouco ao sapateiro, mas que essa profissão é tão importante como as outras e que se sapatarias fossem extintas muitas pessoas iriam sentir falta.


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ESPECIAL

A Casa que dá proteção às mulheres Foto: Letícia Costa

Letícia Costa

O local oferece atendimento integral de forma respeitosa e sigilosa e os casos mais comuns são de violência física e psicológica

A casa ajuda a mulher a melhorar a sua auto-estima, oferecendo especialistas em várias áreas

de integrar e ampliar os serviços voltados à mulher em situação de violência, a Casa da Mulher BrasiCosta leira faz parte de um programa nacional chamado Mulher Viver Sem Bernadete Dolores Dulla Zella, Violência. Existem três casas em de 43 anos, foi encontrada morta todo o Brasil, nas cidade de Brasíem uma estrada rural na região lia, Campo Grande e Curitiba. Em metropolitana de Curitiba. Dona Curitiba está localizada na Avenida Confeitaria Maggiore, no bair- da Paraná, 870, no bairro Cabral. Nos quatro mil metros quaro Mercês, ela foi algemada e em seguida morta com um tiro na drados de área, a Casa oferece nuca pelo ex-marido. A empresá- atendimento integral de forma respeitosa e sigilosa. Os serviria havia registraços acontecem do sete boletins de numa gestão ocorrência, mas Elas chegam compartilhada nenhuma provientre as esferas dência foi tomada. querendo falar e, municipal, esEssa notícia muitas vezes, a tadual e fedefoi publicada pela ral, com foco imprensa brasi- agressão vem de leira em 18 de onde você menos na prevenção e proteção das março de 2013. espera mulheres em Os crimes de fesituação de viominicídio ((homi- Simone Piazatto lência. cídio por razão de Professora gênero), inclusive, levaram os governos a adotar Atendimentos políticas voltadas especificamente A Casa atende mulheres que para as mulheres. estejam sob qualquer tipo de vioA Casa da Mulher Brasileira lência, mas os casos mais comuns é resultado de um plano nacional são de violência física e psicolócuja a intenção é estabelecer polí- gica. Segundo Roseli Isidoro, os ticas permanentes, explica Roseli dois tipo de violência caminham Isidoro. ''O elemento que nos satis- juntos. Ao chegar na Casa, a vífaz é o fato de deixar para as mu- tima é acolhida e passa por uma lheres curitibanas em situação de triagem. Caso esteja ferida e previolência um equipamento onde cise de atendimento médico, é elas poderão vir buscar socorro e chamado o SAMU para os primeio encontraram''. Com o objetivo ros socorros e se o caso for mais

Letícia

grave, ela é levada para um hospital. Nesta primeira triagem, as atendentes escutam a mulher para investigar quais encaminhamentos devem fazer. ‘’O apoio psicossocial vem logo em seguida, mais uma vez as mulheres são ouvidas e orientadas. O estado emocional de cada uma é o que vai determinar se esta etapa é realmente necessária’’, explica a psicóloga da Casa Simone Piazzato.‘’ Não são todas as mulheres que passam pois algumas chegam na Casa com demandas bem específicas, como a necessidade de um advogado por exemplo.’’ Quando necessário o atendimento, Simone tem o trabalho de auxiliar a vítima a superar a violência sofrida, resgatar a autoestima e ajudar nas decisões que terão de ser tomadas dali para frente. ‘’Elas chegam querendo falar, com toda aquela ansiedade. A gente organiza um pouco porque é tanta coisa, problema com filhos, financeiro, e mais algum tipo de agressão do pai ou marido. Muitas vezes a agressão vem de onde você menos espera.’’, explica a psicóloga. A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) é uma unidade da Polícia Civil responsável por prevenir, proteger e investigar os crimes de violência doméstica, entre outros. No atendimento integrado à casa desde a

fundação, mais de 800 medidas protetivas foram cumpridas. Este é um importante passo após a chegada na Casa. Uma brinquedoteca acolhe crianças de 0 a 12 anos para que as mães possam ser atendidas com mais tranquilidade. O alojamento de passagem tem 12 leitos. O abrigamento é temporário, sendo de até 48 horas. Acoordenadora Marili Hruschka conta que existem exceções, ‘’uma mulher chegou a ficar sete dias na Casa até realizar todos os processos.’’ Elas podem permanecer ali acompanhadas ou não de seus filhos caso estejam correndo risco de morte. São realizados contatos com familiares próximos e caso a mulher vítima

não tenha para onde ir, é encaminhada para abrigos como a Fundação de Ação Social (FAS), e outros abrigos que mantêm parceria com a casa. Um Núcleo Especializado da Defensoria Pública e o Ministério Público também estão na Casa. Ali são feitas orientações sobre os direitos, prestação de assessoria jurídica e é feito o acompanhamento de cada etapa do processo judicial. Segundo a Secretária da mulher, grande parte das vítimas de violência não tem condições de pagar um advogado para fazer este tipo de atendimento. A promoção da autonomia econômica é um processo bastante importante e também está integra-


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Foto: Letícia Costa

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Marili Hruschka, coordenadora da Casa da Mulher do na Casa, considerado um ponto crucial para ajudar as mulheres a saírem da situação de violência. Muitas delas têm dependência financeira e por este motivo sentem receio de sair de casa e denunciar. ‘’Tentamos empoderar a mulher dizendo ‘você não tem porque aguentar isso’. Você tem a possibilidade de arranjar um emprego e viver uma vida feliz, mais leve’’, acrescenta a Psicóloga. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar que funciona dentro da Casa da Mulher Brasileira garante que os órgãos da Justiça que são incumbidos de julgar, processar e executar as causa resultantes de violência familiar e doméstica, deem o suporte necessário e previsto na Lei Maria da Penha. A intenção de integrar todos estes serviços, dentro de um único espaço, é de acolher a vida de tantas mulheres que sofrem violência em Curitiba e em todo Brasil.

Fechamento

No Paraná, foi criada em 2013, a Secretaria Municipal Extraordinária da Mulher (SMEM) que foi um importante órgão gestor de políticas femininas. O orgão chegou para diminuir estatísticas da qual a empresária Bernadete e muitas outras fazem parte. Esta Secretaria, que teve um importante trabalho juntamente com a Casa da Mulher Brasileira, atuou em áreas diversas e promoveu para as curitibanas a garantia de direitos que foram assegurados na Constituição de 1988. Roseli Isidoro, que até o ano de 2016 foi secretária da mulher de Curitiba, assegura que fazer recortes e dar atenção a pontos centrais e específicos voltados para questões femininas, como a questão da violência e maternidade, fez parte do trabalho que foi desenvolvido. Um levantamento sobre feminicídios realizado em 2012

pela Comissão Parlamentar de Inquérito, funcionou como um ponta-pé para a criação da Secretaria que funcionou durante dois anos. O relatório que foi resultado desta pesquisa chamava a atenção de Curitiba para uma falha nos serviços voltados às mulheres. Apontada como a quarta capital brasileira com mais mulheres sendo assassinadas e pouco ou nada se fazendo a respeito, havia a necessidade de focar em políticas mais específicas e eficientes. O fechamento da secretaria foi considerado uma perda para as mulheres curitibanas. Segundo a advogada e ativista Juliana Bertholdi, a implementação e manutenção da Secretaria de Mulher é um posicionamento político. “Fato é que as secretarias existem para planejar, organizar, dirigir e controlar planos, projetos e ações voltados à administração municipal, e ao manter determinada secretaria admite-se seu tema como fulcral para aquela administração.” Por outro lado em março deste ano foi eleita uma nova Coordenadora de Políticas para a Mulher. O cargo que está vinculado à Secretaria do Governo Municipal foi ocupado por Terezinha Beraldo Pereira Ramos que em 2012, ela também foi secretária da Mulher de Maringá de 2005 a 2012, vice-presidente do Conselho Estadual de Direitos da Mulher (CEDM) e coordenadora da Câmara Técnica do Pacto Nacional do Enfrentamento à Violência contra a Mulher – neste órgão, ela continuará como representante de Curitiba. Sua proposta nesse cargo é além de melhorar atendimento às mulheres em situação de violência, é de aprimorar a articulação com a região metropolitana. Também pretende ampliar as questões de gênero e o diálogo com os movimentos feministas

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Violência ocorre principalmente dentro de casa Com a intenção de averiguar a evolução do problema violência, a Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, fez um Mapa de Violência dos 10 primeiros meses de 2015. Pela primeira vez, dados como a cor da pele das vítimas de feminicídio (homicídio por razão de gênero), foi abordado. A intenção do mapa é contribuir para uma discussão tanto por parte dos órgãos do Estado quanto da sociedade. O estudo mostra que o Brasil estava em 5º lugar no ranking de países com mais homicídios de mulheres em 2015. Com exceção de algumas regiões, a população negra é a vítima que mais sofre homicídios no país. De janeiro a outubro de 2015 aconteceram 63 mil denúncias de violência, uma a cada sete minutos. Deste total, 58,55% foram atos contra mulheres negras, e 85,85% corresponde a violência doméstica, ou seja, acontece dentro de casa. No ano de 2014, a taxa de atendimento por violências no SUS (Sistema Único de Saúde) apontou que na região no estado do Paraná houver 12.432 casos femininos para 6.983 masculinos. O homicídios contra os homens, em sua maioria, acontece com arma de fogo, já contra as mulheres os métodos mais comuns são sufocamento, estrangulamento ou por objetos penetrantes. Desde sua fundação em Curitiba, em 15 de junho de 2016, até 18 de outubro a Casa atendeu um total de 2283 mulheres em situação de violência, transmitiu 842 medidas protetivas, acolheu mais de 200 crianças durantes o atendimento de suas mães e recebeu mais de 80 mulheres no alojamento. Esse trabalho tem ajudado a preservar vidas. Em caso de violência disque 180.

Desde que foi criada, a Casa da Mulher Brasileira já atendeu 2.283 pessoas em situação de violência

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O reconhecimento das mulheres no fotojornalismo

Marcia Borosk afirma que as mulheres tem um papel fundamental na fotografia, no entanto, a história nos é revelada pela óptica masculina.

A primeira fotografia foi re- problema é que a história ingistrada em 1826, por Joseph siste em falar que a gente não Nicéphore Niépce. De lá pra cá estava”, comenta. A professora Márcia Borosk as imagens receberam importantes papéis. No fotojornalis- ainda cita como exemplo a fomo os registros são usados as- tojornalista Gerda Taro que fez sim como a notícia escrita, para importantes registros da Guerra transmitir informações, com o Civil Espanhola e morreu dupoder de complementar, revelar rante uma batalha atropelada e expor pontos que o texto não por um tanque. “Uma mulher muito importante no fotojornafoi capaz. lismo é a Gerda, ela era compaA existente nheira do Robert distribuição de Capa. Pessoas que responsabilidades As mulheres entendem pouco a partir de uma de fotografia já o divisão sexistas sempre conhecem porque fez com que ho- estiveram ali, sua fama é muito mens e mulheres, grande, enquandurante gerações, mas a história to Gerda fica cocumprissem na é sempre nhecida como a maioria das vezes mulher do Robert os papéis que lhes contada pela Capa”, conta a foram estipulados. a ótica dos jornalista. Olhando por essa homens Hoje, com o ótica, seria o focrescente debate a tojornalismo uma Marcia Borosk respeito da discusprofissão destina- professora são de gênero, as da para homens mulheres em posomente? Segundo a jornalista Márcia sição de destaque têm recebido Borosk, que estuda fotografia des- maior reconhecimento. Para Márde 2008, somos levados a acredi- cia, o desenvolvimento da tecnotar que apenas existiram homens logia ajudou muito para que o traregistrando importantes conflitos balho de mulheres fotojornalistas como guerras por exemplo, o que fosse mais reconhecido. “Na fotografia assim como não é verdade, diz. “As mulheres sempre estive- nos outros espaços, as mulheres ram ali mas a história é sempre estão sendo mais reconhecidas contada pela a ótica dos ho- agora, estão mais em evidência. mens, é contado o quanto eles Sobretudo no fotojornalismo ascontribuíram. Mas a mulher sim como no jornalismo investitem papéis fundamentais tam- gativo, que são o suprassumo da bém. Nós estivemos em todos área e destinada aos homens”, os lugares desde sempre e o afirma.


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COMPORTAMENTO

Um lugar de esperança e recomeços Foto: Ícaro Couto

Abrigo resgata gatos de rua para oferecê-los á adoção responsável Ícaro Couto

Fundada em fevereiro de 2006, a ONG Beco da esperança é o último refúgio para muitos animais abandonados. Contando com quase 500 gatos resgatados das ruas e levando em consideração que esses números mudam todos os dias, os gastos do abrigo giram em torno de R$ 20 mil por mês. Por dia, os animais consomem 50 kg de ração, além de outros gastos como medicação e castração, segundo uma das colaboradoras, Helena Lemos Coelho. Atualmente, o local está sob a responsabilidade da protetora Maria Lucia Pascoto, que cuida dos animais recolhidos e gerencia as ações para arrecadação de fundos. Segundos elas, a principal razão do abandono é a irresponsabilidade da grande maioria das pessoas que abandona os animais por motivos fúteis, como mudança de bairro, puro desinteresse, ou simplesmente por que o proprietário não fez a castração e o animal acabou engravidando. Helena também cita que Curitiba precisa urgentemente de um hospital veterinário público, que possa atender a população de baixa renda, pois no fim das contas esse atendimento acaba sobrando para os protetores, que muitas vezes tem de arcar com os custos usando recursos próprios. Para os interessados em ajudar o abrigo financeiramente, o bazar beneficente acontece todos os sábados das 10 às 16h na Rua Engenheiro Rebouças Nº 2846, também é possível fazer doações entrando em contato com Lúcia, através da página do abrigo no Facebook,http://www.facebook. com/becodaesperanca.org/?fref=ts ou pelo site www.becodaesperança.org, bastando clicar na opção COMO AJUDAR O BECO que fica situada em uma aba na parte superior da página. E quem deseja adotar um ani-

Dicas para adoção dos animais Eis aqui algumas delas: - Ter mais de 18 anos. - Todos da casa estarem de acordo com a chegada do gatinho. - Ter certeza de que ninguém na casa tem alergia a pêlos de gatos. - Ter consciência de que um gatinho vive em média 15 anos, estar preparado (a) para conviver com ele por todos estes anos. - Se mora em apartamento, o mesmo possuir redes de proteção nas janelas (se não tiver, providenciar) ou em casa com toda a segurança, onde o animal não corra risco de cair nas ruas. (A segurança do local será verificada por alguém do grupo). - Em caso de viagem, ter alguém que cuide do animal ou

Hora do almoço no abrigo Beco da Esperança; por dia os gatos consomem cerca de 50 kg de ração

mal pode visitar o blog www.gatinhoscuritiba.wordpress.com onde há fotos e os perfis dos gatinhos disponíveis para adoção responsável, além do site do próprio abrigo citado acima, aonde são disponibilizadas todas as orientações, dicas e exigências para quem quer adotar um bichinho.

Voluntariado

Além dos meios financeiros, ainda segundo a protetora, é possível ajudar a ONG com serviços de voluntariado. Segundo ela, sempre estão precisando de gente para auxiliar nos bazares, feiras e outros eventos realizados para a arrecadação de fundos. Bem como tosadores e profissionais que tenham formação e experiência em medicar animais. Também existe uma grande necessidade de pessoas que dirijam e possuam veículo próprio para dar uma carona quando houver um número maior de animais a serem levados a locais diferentes. Principalmente para resgate, tratamento

médico e castração, pois o abrigo é auxiliado por diversas ONGS veterinárias distintas, sendo que algumas delas ficam um pouco longe. Por fim conversamos com Anelise Skrabe, uma bancária de 32 anos que atualmente é proprietária da loja online Amo meu gato e de uma página no Facebook com o mesmo nome www. facebook.com/lojaamomeugato, onde além da venda de produtos destinados aos felinos também são postados diariamente fotos e vídeos do cotidiano dos gatos adotados por ela. Anelise é dona de seis animais vindos do Beco da esperança. São eles Felpudo, Tina, Negrita, Sofia, Baunilha e por ultimo Giga, todos com histórias de vida sofrida e histórico de maus tratos antes de serem resgatados das ruas. Segumnda ela, adotá-los foi a melhor decisão que tomou na vida, pois os bichinhos são extremamente companheiros, amáveis e fáceis de cuidar além de possuírem uma

personalidade forte e muito distinta, que simplesmente encanta a qualquer um que se permita deixar contagiar pelo afeto deles.

O que levar para pegar o gatinho - RG - Comprovante de residência - Caixa transporte (os gatinhos não são entregues sem caixa)

Anelise e um dos seus gatos, que foi adotado do Beco da Esperança


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RESENHA Insanidade e terror no cinema brasileiro

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@TÁ NA WEB CAMILA TOLEDO

A atriz Luana Piovani interpreta Luiza no curta-metragem

Roberto Oliveira

A loucura sempre foi um tema recorrente em histórias de suspense e terror, e o cinema, desde os seus primórdios, tem explorado de inúmeras maneiras esse estado mental capaz de despertar tanto medo no público. Basta fazer um rápido retrospecto para constatar a quantidade de psicopatas presentes na Cultura Pop, imortalizados pela Sétima Arte. O Norman Bates de Anthony Perkins em Psicose é um dos primeiros que veem à mente. Outro famoso anormal é Hannibal Lecter, vivido nas telonas de forma sinistra por outro Anthony, o Hopkins, em O Silêncio dos Inocentes. Recentemente, esses dois personagens ganharam até suas próprias séries de TV, tamanho o sucesso adquirido ao longo das décadas. Fazendo uso de recursos narrativos muito bem explorados por Hollywood, o curta-metragem nacional Luiza traz mais uma abordagem do tema insanidade. O filme narra uma situação extremamente incomum envolvendo um casal. Ela não se lembra, e não se convence de que vive com ele, e alega que seu nome não é Luiza, como ele insiste em chamá-la. A psicanalista que surge na história completa o trio de protagonistas. Ela tentará ajudar o casal em crise. Com surpresas e reviravoltas, descobriremos quem, de fato, é a pessoa mentalmente desequilibrada da trama, em meio ao clima de suspense psicológico que se instaurou ao longo dos quase vinte minutos de duração do curta. Reviravoltas, por sua vez, também constituem outro item crucial em tramas de mistério, o que torna a experiência de assisti-las muito mais interessante, desafiando o espectador a tentar descobrir, antes da hora, o que de fato está acontecendo. No caso de Luiza, apesar dos furos no roteiro, o curta consegue estabelecer uma ambientação permeada por medo, insegurança e incertezas.

A trilha incidental, embora repetitiva, colabora na criação de um clima tenso, e a fotografia quase sempre escura complementa o produto final, que se mostra satisfatório naquilo a que se propõe. A ressalva fica por conta dos três atores. Talvez, por sermos brasileiros e estarmos tão acostumados a ver esses rostos em novelas globais, inconscientemente eles não nos transmitem a mesma credibilidade que vemos em produções estrangeiras. Eriberto Leão e Paula Burlamaqui pronunciam suas falas como se estivessem lendo notícias no teleprompter, adquirindo um tom solene que fica a anos-luz de distância de um diálogo espontâneo. E ver Luana Piovani gritando que não se chama Luiza soa tão falso quanto os sorrisos que ela dá quando é entrevistada pelo Faustão. Excetuando, pois, os diálogos ditos de forma tão artificial, a proposta de um assustador curta-metragem de suspense, com direito a reviravolta no final, consegue agradar. Escrito e dirigido pelo jovem cineasta gaúcho Pedro Foss em 2013, Luiza é o primeiro de uma trilogia de curtas de terror que ele intitulou de Projeto Delirium. No ano seguinte, saiu o segundo, A Morte & Vida de Ana Belshoff, novamente com Foss na direção e roteiro, desta vez com Carol Castro, Bruno Gissoni e Luciano Szafir no elenco, filme que renderá uma outra crítica... Esses e outros curtas-metragens de Pedro Foss podem ser facilmente encontrados na internet, inclusive na própria página oficial do cineasta: http://pedrofoss.com. br/site/. O maior mérito de Luiza, e consequentemente dessa trilogia de terror psicológico a ser concluída, foi ter investido em um gênero que o cinema brasileiro ainda tem muito a explorar. O suspense, o terror, tramas macabras, psicóticas e sombrias, bem que poderiam, porque não, se tornar muito mais presentes no cinema nacional, ultimamente tão sobrecarregado de comédias globais. Afinal, brasileiro também gosta de sentir medo!

Nasa disponibiliza mais 140 mil imagens na internet Em um novo bancos de imagens Nasa, agência espacial norte-americana libera imagens do espaço desde 1920. Além de imagens, você encontra vídeos e áudios. Os arquivos são acompanhados por dados técnicos e informações históricas que podem ser baixados em várias resoluções. As imagens são de todos os tamanhos, podendo ser usadas como papel de parede de celular até papel de parede de quarto e são de uso livre. A nova plataforma se ajusta automaticamente às de telas de tablets e smartphones. Você encontra esses documentos acessando images.nasa.gov.

Tamagotchi, o bichinho virtual dos anos 90 é relançado Se você tem por volta dos 30 anos dele lembrar dos famosos “bichinhos eletrônicos” que voltaram à venda. No Japão, a Bandai relança o Tamagotchi que são seis tipos de bichinhos possíveis para criar. O jogo é alimentar, cuidar com carinho e atenção para que eles fiquem vivos. Do tamanho de chaveiros o Tamagotchi é uma criatura feita de pixels pretos.

Netflix permite o download de seus conteúdos A partir de agora, quem tem o aplicativo gratuito para Windows 10 (deskop ou notebooks) ou Windows 10 Mobile pode baixar gratuitamente algumas series e filmes da Netfilx para assistir off-line. O catálogo é variado e nem todos são originais do aplicativo. Para usar o recurso, é preciso entrar no app da Netflix e acessar a aba de “Disponível para download” e para conferir o que fez vá na aba de “Meus downloads”. No caso de series é preciso baixar cada episódio individualmente.


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

As cores da Bolívia Gabriel Bukalowski

Agreste, pobre e problemática mas genuína, bela e fascinante, assim é a Bolívia.

A Bolívia é um país cosmopolita e multicultural. Para além da língua espanhola, os bolivianos também usam suas variações de dialeto, como o Quéchua e o Aimará. A maioria da população é católica, mas não deixa de celebrar seus costumes folclóricos, principalmente as tradições referentes à deusa Pachamama (Mãe-Terra). A cultura boliviana tem muitas influências incas e de outros povos indígenas na religião, música, vestuário e comida, deixando um legado histórico riquíssimo. O contraste de cores toma conta das vielas das cidades, principalmente no Mercado das Bruxas, em La Paz. Mesmo pobre em sua economia, é extremamente rica em seus atrativos. As construções históricas registram um passado remoto e o povo torna esse país muito mais belo do que possa imaginar.

“Vuelve vuelve cariñito Vuelve vuelve corazón La casita esta muy triste Se ha acostumbrado con tu amor” Alaxpacha (música boliviana)


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