JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VIII - NÚMERO 54– CURITIBA, AGOSTO/SETEMBRO DE 2017
Foto:Kevin Capobianco
Você conhece a Câmara Municipal de Curitiba? Saiba como funciona e de que maneira poderá participar nos processos de elaboração das leis págs. 6 e 7
Foto: Clóvis Pedrini Jr.
Foto: Arthur Neves
Barbeiro fala sobre as funções do comunicador
pág. 10
págs. 8 e 9
O popular chorinho passa por boa fase em Curitiba
Foto: Aliana Machado
pág. 5
Praticar exercícios em casa pode ocasionar lesões
2
MARCO
ZERO
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
OPINIÃO Ao Leitor
Equipe Marco Zero
O Marco Zero
o r ê mio Sa ngu 18 p e
No
v
o
Expediente
Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.
1o lugar 3 01 |2 MAR CO ZERO
Divulgação
Nesta edição, o Marco Zero traz a história do chorinho em Curitiba que se renova a cada ano. Um grande impulso foi dado pelo setor acadêmico e com as aulas no Conservatório de Música Popular Brasileira. Os exercícios físicos em casa, sem o auxílio de um profissional, exigem muita atenção, confira esta matéria na página 10. O jornal retrata o perfil da atleta Sofia, uma revelação no campeonato paranaense de judô. Com as novas tecnologias, a sociedade acaba fiscalizando com uma maior precisão o poder público, esse foi um dos temas da palestra do Heródoto Barbeiro na Uninter. Qual a importância da Câmara dos Vereadores? Veja uma matéria especial sobre a participação popular no exercício da cidadania. E como ensaio fotográfico, Hip Hop para a vida. Isso e muito mais nesta edição do Marco Zero. Boa leitura!
A imparcialidade nas produções jornalísticas
Dois pontos de vista diferentes sobre uma mesma situação
Clóvis Pedrini Jr.
“A linguagem é um traje que disfarça o pensamento. E, na verdade, de um modo tal que não se pode inferir, da forma exterior do traje, a forma do pensamento trajado; isso porque a forma exterior do traje foi constituída segundo fins inteiramente diferentes de tornar reconhecível a forma do corpo”. (Wittgenstein) Tempos propícios, vivemos, para tratar desse tema: a imparcialidade nas produções jornalísticas. Revestida da mais inconteste carapuça de imparcialidade e isonomia, o jornalismo parece cada vez mais estar a serviços de interesses escusos, seja de grupos, barões da informação, famílias, herdeiros ou empresas, que poderiam ser traduzidas por uma meia dúzia de nomes: Civitas, Marinhos, Saads, Cunha Pereiras, Frias ou Mesquitas – nossos futuros empregadores. E ao dizer ‘interesses escusos’, estamos sendo gentis. O descaramento ideológico-partidário adotado pelas publicações está às portas da vergonha alheia. Alguns assim o prefere, pois com as cartas na mesa, se conhece melhor os jogadores. O que esperar, em termos de imparcialidade, quando pelo menos 80 parlamentares e um terço
dos senadores são donos de concessões públicas de rádio e TV, contrariando a Constituição? Ou quando uma a Gazeta do Povo ameniza ou atenua críticas ao Governo do Estado dependendo das inserções publicitárias que recebe ou deixar de receber?
Mercadores
Mercadores que em seus editoriais não se acanham em defender uma Reforma Trabalhista que irá mitigar os direitos de seus funcionários e, por conseguinte, os ajudará financeiramente depois de tantas escolhas tresloucadas que colocaram o jornalismo – principalmente o impresso – na bancarrota. Nos Estados Unidos, os jornais e canais de TV, mesmo se declarando independentes, assumem publicamente suas preferências políticas, em uma demonstração de honestidade com o público. No Brasil, ao contrário, as precedências vêm pintadas de objetividade e isenção, não sem uma capa cheia de montagens e trucagem macarrônicas de Photoshop. Mas como afirma Orlandi (1987), todo discurso é intencional e, portanto, busca convencer alguém para algo ou reforçar aquilo que a pessoa já acredita e que quer corroborar buscando argumentos para defender o ponto de vista que já possui e amalgamar o que já acredita.
O jornalismo parece cada vez mais estar a serviço de interesses escusos
O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter Coordenador do Curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Professor responsável: Roberto Nicolato
Com a internet, e a segmentação e os nichos específicos dominando o setor, o leitor busca o que lhe interesse. Contraponto, opiniões contrárias, ouvir os dois lados – como se só houvesse dois lados – ao contrário de atrair, pode afastar o leitor. The Washington Post publica artigo declarando apoio a Hillary Clinton Revista Veja praticando seu conhecido jornalismo de tese. O jornalismo, como qualquer produto, possui a ululante obviedade de ter que ser vendido e consumido. O jornalismo, como qualquer produto, tem funcionários que precisam ser pagos e materiais de produção e insumos que custam dinheiro. O jornalismo, como qualquer produto, tem que saber quem é seu cliente, seu target, seu público alvo, e dar a esse público que o compra o que do jornal se espera. Afinal, o cliente tem sempre razão, e discordar de seu leitor/ cliente é economicamente muito arriscado. Com isso, a pseudo imparcialidade possui ligação direta com a lógica de produção da notícia, objetivando a venda e a negociação dos espaços publicitários. Pouco provável que uma empresa a favor da Reforma Trabalhista irá anunciar em um veículo que se posiciona contrário a ela. Como qualquer concorrência do capital, a única coisa que tem importância na produção de notícias é a maximização do lucro aponta Michael Kunczik O filósofo positivista francês Augusto Conte (1798-1857) dizia que a notícia de qualidade é aquela onde o jornalista consegue retratar fielmente o fato como se houvesse uma imagem a ser refletida da notícia e que pudesse ser captada pelo profissional e então transcrita. Mas como afirma Alberto Chillón da Universidad Autónoma de Barcelona “no existe um estilo o lenguaje periodístico inocente ni transparente, especie de herramienta neutra apta para captar las cosas, sino muy diferentes estilos de la comunicación periodística, cada uno de los cuales tiendem a construir su propria realidad representada”. Portanto, viremos a página da inocência.
Diagramação: Aliana Machado Kevin Capobianco Larissa Oliveira
Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131
Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira
Aliana Machado e Larissa Oliveira
Você confia em deixar seu carro na rua ou prefere pagar um valor bem mais alto e deixá-lo em estacionamentos? “Na verdade, aqui no centro é bem complicado achar vaga liEstevan vre. A maioria Nascimento 21 das vagas são Office Boy para cadeirantes ou idosos. Também tem o Estar como uma saída, mas eu não confio em deixar o carro na rua.”
Adriana Czajkowski 36 Professora
“Às vezes deixo no estacionamento porque não tem vagas de Estar, e nem espaço. Fernando Todas as vezes Ferreira 33 que deixei na Autônomo rua não aconteceu nada, mas não faço isso em qualquer lugar.” “No centro é difícil achar lugar para colocar o carro, então, eu Juliane Alves prefiro deixar 31 Analista o carro no esFinanceiro tacionamento por questão de segurança e praticidade. ”
Eduan Francisco da Silva, 26, Balconista
Telefones 2102-3377 e 2102-3380.
“Não deixo na rua, mesmo morando num lugar onde alguns vizinhos deixam. Não dá pra contar com a sorte.” “É mais seguro, exclusivamente por isso.”
80410-150 |Centro- Curitiba PR comunicacaosocial@grupouninter.com.br
“Por questão de segurança. Porque na região que eu trabalho, não confio em deixar o carro na rua.”
Cibele Fernandes, 25, Caixa
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
MARCO
3
ZERO
PERFIL
Sofia é a nova revelação do judô
Conheça o mundo da atleta que é vencedora do campeonato paranaense Evandro Tosin
Evandro Tosin
Ela é muito focada, muito disciplinada.O judô é o que ela mais ama, 24 horas por dia, e segue todos os ensinamentos Fernando Velasquez, pai de Sofia
Sofia, 11 anos, é destaque no projeto Otto Judô, campeã paranaense de judô na categoria sub-13 a reverência. São os princípios que o judô ensina. A lutadora corre em direção ao Sensei. O professor Saimon é um exemplo para a menina. A alegria da judoca é tão contagiante que o abraça no ar. O tempo para. É a vitória. Ela vence. Vence todas as barreiras sociais, econômicas e políticas da cidade. É a esperança de um futuro melhor.
Sofia é sabedoria
“Com o judô eu aprendi respeito, honra, união, faço novos amigos, e minhas notas melhoraram”, diz Sofia. “Ela é muito focada, muito disciplinada, o judô é o que ela mais ama, 24 horas por dia, e ali está todos os ensinamentos”, elogia o pai Fernando. O judô é uma modalidade esportiva que transmite valores. Sofia é muito dedicada, pontual para uma criança e isto em qualquer evento que for. É a primeira que chega aos treinamentos, mas também é a última que sai. A menina tem grande respeito para com os maiores. Sempre cumprimenta suas colegas no início e depois da luta. Não tem inimizade com ninguém. Quando a jovem atleta não participa das competições, o professor Saimon sempre a convida. “Se ela não luta na competição, o Sensei Saimon pede para ela ajudar na premiação, na organização do evento, mas ela já pede
pra participar”, Fernando diz com entusiasmo. “É bem prestativa”, acrescenta Andrea. “Minha mãe diz que sou ligada no 220”, contou Sofia. Os pais sorriem, confirmando e dizem: “ela não para um segundo, está sempre a mil por hora, é agitada”. A garota é bem comunicativa, tanto na questão verbal como na forma de se expressar por escrito. Se destaca, é a líder de sala, escolhida por sua professora. Tem uma personalidade forte, mas muito sutil, sabe te convencer, carinhosa, completam os pais.
Arte marcial chegou ao Brasil em 1922 O judô é uma arte marcial esportiva. Foi criado no Japão, em 1882, pelo professor de Educação Física Jigoro Kano. Ao inventar esta arte marcial, Kano tinha como objetivo criar uma técnica de defesa pessoal, além de desenvolver o físico, espírito e mente dos esportuistas. Esta arte marcial chegou ao Brasil no ano de 1922, em pleno período da imigração japonesa. Evandro Tosin
Sofia Velasquez, 11 anos, acorda às 7 da manhã. Na mochila e na mente está o sonho de ser judoca. Sofia tem três irmãos: Ingrid, Lucas e Fabrício. Ela é natural de Encarnación no Paraguai, assim como os seus pais: Fernando Velasquez, 35 anos e Andrea Fuchs, 34. A jovem atleta começou no Otto Judô em 2015 - um projeto social que oferece aulas dessa modalidade para crianças, na Escola Municipal Otto Bracarense Costa, que fica localizada na Cidade Industrial de Curitiba. Lá, foi onde a atleta mirim estudou desde o primeiro ano. Um dia especial para a menina foi 24 de junho, quando na cidade de Araucária, foi campeã paranaense no sub-13, e irá representar o estado do Paraná, no Campeonato Brasileiro, que será na Bahia, ainda em 2017. Neste dia (24), os pais Fernando e Andrea estavam atentos, contando o número de judocas que faltava para chegar a vez da menina entrar no tatame. Continuaram confiantes no momento da luta, e mostravam tranquilidade. A concentração da judoca era impressionante. Uma partida normalmente tem dois minutos de duração. Sofia derrubou a adversária logo de início, em aproximadamente 20 segundos. A oponente caiu de costas no chão. O árbitro apontou o braço em direção à Sofia, o que na regra quer dizer que ela ganhou a disputa. “Foi um Ippon, ela está classificada”, vibrou a mãe Andrea. Um Ippon coloca fim a luta. O cronômetro fica imóvel. Sofia cumprimenta a adversária, faz
Esforço e disciplina são os segredos para o bom resultado.
Há dois anos que ela só ganha, conta o pai Foi no começo do ano de 2015 que Sofia e os pais conheceram a iniciativa das aulas de judô, na Escola Otto Bracarense. Andrea Fuchs relata que a filha chegou em casa e disse: “Mãe eu o Lucas fomos selecionados para fazer um teste no judô”. Sofia passou no exame. Os pais afirmam que a incentivaram a treinar e ela acabou ficando nas aulas, por ser um projeto dentro da escola e gratuito. “No início, quando começou a participar dos campeonatos, perdia e eu saía decepcionado, daqui do ginásio, e ia brigando com ela até em casa. Ela se sentiu muito pressionada porque vinha e não tinha nenhum resultado, nem no pódio ficava”, lembra o pai Fernando Velasquez. “Por iniciativa própria, ela pediu ao professor Saimon para treinar duas vezes por dia para aperfeiçoar o judô, e ele aceitou, e assim que aconteceu o resultado, com o desenvolvimento da Sofia. Há dois anos que ela só ganha”, afirma Fernando. A judoca jamais teve uma falta em três anos que está no judô. Já foi doente e, mesmo quando não tinha condições nenhuma de treinar, ia assistir às aulas. O segredo para aprender mais é observar os movimentos dos colegas durante o treino e estar atenta nas explicações do professor. E o que a deixa irritada? “Perder uma luta, fica chateada e na mente dela não existe a palavra perder”, explica Andrea. “Ultimamente falo com a minha esposa que às vezes é bom perder. Quando você está em um nível ganhando tudo, tudo é fácil. Você tem que ser puxado para baixo às vezes, para observar como precisa melhorar”, relata Fernando. Os professores Saimon e Tadashi são inspirações para ela. A menina, além disso, é fã da judoca Sarah Menezes. Em 2016, Sofia foi destaque uma vez que ganhou todas as competições oficiais. Saimon conseguiu patrocínio de uma loja de autopeças que ajuda nos custos dos campeonatos e viagens. A menina diz que adora o filme “Valente” e se identifica com a Princesa Mérida, que é aventureira e corajosa. Sofia demonstra ter a mesma coragem da personagem que faz parte da trama.
4
MARCO
ZERO
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
OPINIÃO
Compromisso com a verdade dos fatos
Teorias do jornalismo explicam as rotinas de produção do filme Spotlight Divulgação
Leila de Paula
Vencedor na categoria de melhor filme do prêmio máximo do cinema mundial em 2016, Spotlight surpreendeu os cinéfilos e até mesmo os pessimistas que acreditam cegamente na morte do jornalismo. Obviamente a profissão não passa por um dos seus melhores momentos, mas para muitos estudiosos da área a estabilidade da categoria nunca foi uma realidade. Embora as mudanças tecnológicas afetem o exercício da profissão, algumas categorizações da produção do “fazer notícia”, estruturadas no século passado, continuam servindo como parâmetro para compreender a dinâmica do mercado de notícias. O funcionamento das rotinas produtivas dessa ferramenta, que não é apenas informativa, mas ideológica, indica como a teoria construcionista estruturalista é determinada pela ordem do mercado, já que os defensores desse conceito avaliam os meios de comunicação como um aparelho ideológico que produz conteúdo a partir da confluência de vários fatores: organização burocrática dos meios; estrutura dos valores notícias; ideologia dos jornalistas e por serem refém das fontes primárias. Apesar disso, o que se vê no longa metragem que se opõe a essa teoria é em relação a autonomia relativa nos aspectos econômicos e de poder. A trama mostra exatamente o contrário, enquanto os representantes dessa soberania, representada pela Igreja Católica, tentam interferir nas investigações dos jornalistas, os valores culturais e religiosos dos integrantes são colocados em xeque a cada nova descoberta de abuso sexual praticado pelos sacerdotes. Outro fator importante é em relação às fontes privilegiadas. Ao contrário do que defendem os
Agenda pública
A equipe Spotlight, do jornal The Boston Globe, desvendou vários casos de pedofilia em Boston, nos EUA
teóricos, em todos os processos de investigação dos crimes, há nitidamente um favorecimento das fontes não oficiais. Embora os passos os levassem para as fontes privilegiadas, se essas fossem mantidas como fontes substanciais, o trabalho investigativo não teria avançado e jogado luz sobre um problema que não era exclusivo de Boston, mas que está presente em diferentes partes do mundo. Logo, é possível perceber a atuação notória da teoria construcionista interacionista, que defende exatamente o oposto: que os jornalistas não seriam tão dependentes dessas fontes e poderiam negociar informações com outros setores da sociedade. Nesse caso, foram as vítimas que majoritariamente definiram as denúncias, com base em apenas uma declaração oficial de um representante da Igreja. Além disso, o contrapoder exercido pelo Spotlight incluiu documentos importantes para embasar a reportagem, prática da ordem investigativa, Fact-checking que nada mais é do que a checagem dos fatos.
Realidade construída
O funcionamento das rotinas produtivas no jornalismo não é apenas informativa, mas também ideológica
veis vítimas. O agendamento do jornal sobre o assunto foi determinante, inclusive, para que as denúncias averiguadas por eles resultassem em novas queixas. Após a publicação, dezenas de pessoas entraram em contato com a redação para relatar outros casos e até mesmo para reforçar o envolvimento de padres que já haviam sido citados no texto.
Tanto a teoria Estruturalista quanto a Interacionista são alocadas na Teoria Construcionista e representaram um grande avanço nos estudos jornalísticos dos anos 1970. Sua base é determinada por uma rejeição à Teoria do Espelho, que defende que as notícias são mero reflexo da realidade. Logo, por não defender esse conceito, entende que todo material produzido é resultado de processos
O newsmaking considera o trabalho jornalístico como uma construção social da realidade e não apenas como “reprodutor” dela. complexos na interação entre os jornalistas e as fontes, jornalistas e sociedade e entre eles de modo geral. Sendo assim, Spotlight evidencia tanto a integração dos processos e critérios para produzir o conteúdo, quanto a junção dessa relação entre os profissionais, a sociedade e as fontes. Tal teoria fica nítida no enredo na perspectiva do Newsmaking que considera o trabalho jornalístico como uma construção social da realidade e não apenas como “reprodutor” dela. Os processos que envolvem a pauta retratada indicam a avaliação de alguns critérios: valores-notícia; grau de noticiabilidade; relações pessoais dentro da organização; rotinas de produção, entre outras. Logo, para avançar no trabalho investigativo foi primordial que os jornalistas avançassem para colher entrevistas das vítimas, dos advogados que defenderam ou acusaram a Igreja, bem como documentos que serviram como prova contundente do desvio que o alto clero da instituição
submetera as vítimas e, indiretamente, os fiéis que confiavam na consolidação e integridade desse sistema.
O papel do editor
Porém, é importante destacar que muito desse trabalho se deve à Teoria Gatekeeper, representada pela figura do novo editor do jornal The Boston Globe, Marty Baron e que antecede a Newsmaking. O grande portão, termo ao qual a teoria de se refere, foi o posicionamento do Baron sobre o tema que havia sido engavetado anos antes. Uma série de escolhas do processo de produção definem se uma pauta passará ou não pelo “portal”, uma vez que ele definirá se o assunto será ou não investigado e noticiado. No filme, o editor retoma o escândalo envolvendo a Igreja incumbindo a equipe a cumprir seu papel de colocar luz, neste caso direcionando o “holofote” (Spotlight) para a má conduta do Vaticano em esconder os criminosos, atitude que os manteve não só impunes, mas em convívio deliberado com outras possí-
O grande portão, no filme, é o posicionamento do editor Baron sobre o tema que havia sido engavetado anos antes.
Embora a teoria do agendamento não se limite a compreender os ambientes internos, mas também os externos, nesse caso foi o poder midiático que influenciou a população a contar sobre os crimes. Essa teoria tem como principal função compreender de que forma os meios pautam, ou agendam, os assuntos e os pensamentos do público. A força ideológica, política e social que os meios de comunicação exercem sobre a opinião pública são, em tese, evidentes. Em tese porque as grandes instituições e autonomias políticas e econômicas conhecem seu poder de fogo, por isso os cardeais tentaram esconder os malfeitos praticados. Porém a sociedade de maneira geral caminha a passos lentos em relação a essa mesma compreensão. De certa forma, isso acaba dificultando o entendimento de tantos processos e teorias que envolvem a produção de notícia. Cabe aos profissionais, quando bem intencionados, agendar, mas sobretudo se valer dessa arma em favor do bem-estar social e não dos interesses hegemônicos.
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
MARCO
5
ZERO
EVENTOS
Heródoto destaca checagem na informação
Apresentador da Record News fala da relevância do trabalho em tempos de internet Evandro Tosin
Para o jornalista Heródoto Barbeiro, os estudantes de jornalismo devem procurar entender as modificações proporcionadas pela tecnologia e que interferem no cenário da profissão. “Hoje temos muitas condições de acompanhar e fiscalizar o poder público por meio da internet”, defendeu ao proferir palestra na Uninter, em comemoração aos 10 anos do curso de Jornalismo. Segundo ele, o crescente uso dos smartphones e da facilidade de acesso à internet, criam novas possibilidades no exercício da profissão. Heródoto conversou com os alunos, professores e concedeu entrevista coletiva aos veículos da instituição de ensino. O tema discutido foi “Comunicação e crise política no Brasil: o papel dos comunicadores na busca de alternativas”. De acordo com o jornalista, as pessoas passaram a serem emissores de informação e não apenas receptor de conteúdo e que isso são consequências da era pós-massiva. Para o professor e coordenador do curso de jornalismo, Guilherme Carvalho, a tecnologia tem influenciado mudanças nos meios de comunicação e na relação com o público, e provocam impactos na profissão do jornalista e do publicitário. Para Heródoto Barbeiro, o ato de “fazer jornalismo” significa produzir conteúdo que seja de interesse público e que a informação tenha sido checada. Para ele, isto é o objetivo do jornalismo. Além disso, o apresentador disse que vivemos na era das notícias falsas, as chamadas “fake news”, as quais têm destruído a reputação de muitas empresas de comunicação e a
Se eu duvidar eu erro menos. Eu tenho que duvidar de uma fonte que estou entrevistando na esquina, de um e-mail que chegou,seja ele o governador ou o presidente.
Heródoto Barbeiro em palestra para alunos de Jornalismo e Públicidade, quando destacou as demandas proporcionadas pela internet credibilidade de jornalistas, por não realizar com responsabilidade a apuração das notícias. Heródoto reforçou a importância da credibilidade da informação. As empresas de comunicação devem ter um “telhado de credibilidade”, o que definirá a confiabilidade do conteúdo divulgado ao público. “A BBC, por exemplo, só publica uma notícia após três fontes confirmarem o fato”, afirmou o experiente jornalista. "Se eu duvidar eu erro menos. Eu tenho que duvidar de uma fonte que estou entrevistando na esquina, de um e-mail que chegou, duvidar de seja lá qual autoridade que esteja falando, seja ela o governador ou presidente", destacou Heródoto, reforçando que, com a internet, a importância da apuração e checagem da informação constitui-se no primeiro passo do profissional jornalista. Barbeiro chamou atenção para a facilidade de produção de conteúdo nos dias atuais, que poderá ser desenvolvida através dos espaços que a internet proporciona: criar um site, um blog, uma rádio comunitária, entre outros. Entretanto, deve-se desenvolver credibilidade naquilo que está sendo produzido e, a partir dessa confiança, o seu público-alvo irá consumir esta informação. Disse que as grandes empresas passaram a viver dentro de uma nova estrutura econômica, com a chegada da globalização e observou a importância e o poder da marca para uma organização, considerados um diferencial competitivo e intangível. Por isso, continua, elas passaram a contar com profissionais da área de comunicação. “Nenhuma grande empresa de médio ou grande porte deverá deixar de ter um gerente de comunicação”. Para Guilherme Carvalho, a informação é algo intangível. “Ela não é palpável, mas é absorvida pelo indivíduo”, afirma Gui-
lherme. Um dos livros de autoria do apresentador, “Crise e Comunicação Corporativa”, publicado pela Editora Globo, revela que a partir de uma crise na imagem de uma empresa podem acontecer prejuízos na reputação e implicações financeiras. A ética na profissão de jornalista foi outro ponto tratado por Heródoto. Para ele, é preciso“respeitar a questão ética, e entender quais são os seus parâmetros e limites”.
Vivemos na era das “fake news”, que têm destruído a reputação de muitas empresas de comunicação e a credibilidade de jornalistas
Evento comemora os dez anos do curso de Jornalismo da Uninter A vinda de Heródoto para Curitiba marca a existência de uma década do curso de jornalismo na Uninter. “Tínhamos a intenção de trazer um profissional renomado para marcar a data”, afirma o coordenador, Guilherme Carvalho. Ele explicou o que influenciou a Uninter na decisão de convidar o apresentador da Record News: “Pensamos no Heródoto, pois ele é referência, sempre foi muito ético, não só produziu muito para o jornalismo, mas também
para a academia e tem muitos livros publicados. “É o perfil que gostaríamos, para aproximar uma forma de pensar, uma forma de trabalhar”, acrescenta o coordenador. “Ele expressa o que a gente quer ser aqui. Trabalhamos no ponto de vista da ética, com olho no mercado e no que a sociedade está fazendo”. Para o coordenador do curso de Jornalismo da Uninter, a intenção é que os alunos consigam prestar um serviço para a sociedade.
Heródoto: o que está em jogo é a credibilidade do jornalismo
Uma carreira que vai da docência à comunicação Heródoto de Souza Barbeiro é âncora na Record News desde 2011, do Jornal Record News. Já trabalhou em rádio e televisão. Ele tem 71 anos e formou-se em História pela Universidade de São Paulo (USP) e também estudou Direito e Jornalismo. Nasceu e vive nas proximidades do parque Dom Pedro II, próximo ao centro da cidade de São Paulo. Foi professor de História Contemporânea durante 25 anos no ensino regular. Lecionou por 12 anos na USP. Preparou vestibulandos e participou do programa “Show de Ensino”, da TV Gazeta, o que lhe deixou mais próximo da televisão.
Rádio e TV
Trabalhou na Rádio Jovem Pan e depois na CBN (Globo), onde chegou a ser gerente de jornalismo dos sistemas Globo de Rádio. Passou pela TV Cultura, ficou lá por 17 anos, apresentando o Jornal da Cultura e o programa Roda Viva. Como referência na área de comunicação, recebeu em 2011 “Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo”. Heródoto Barbeiro foi candidato a deputado federal pela Arena, em 1974, na época do regime militar, mas não obteve votos suficientes para se eleger. Ele é escritor, já escreveu vários livros com diversos temas: história, media training em TV (treinamento para o profissional que é porta-voz de uma empresa) e filosofia budista. O seu primeiro livro foi publicado em 2002, intitulado “Você na Telinha”, pela Editora Futura. Heródoto também já publicou vários artigos em revistas.
6
MARCO
ZERO
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
ESPECIAL
Saiba como funcionam os trabalhos das comissões Muitos projetos passam por esta instância antes de irem para votação no plenário Para o bom funcionamento da Câmara dos Vereadores, existem as comissões que discutem e decidem se algum projeto ou proposição legislativa é constitucional e se não vai ferir nenhum direito garantido pela Constituição Federal. As Comissões da Câmara Municipal de Curitiba são instaladas no início de cada ano da legislatura e os membros são indicados pelos líderes dos partidos ou blocos de acordo a proporcionalidade partidária. Após recebidas as indicações dos líderes e verificado o número de vagas por partido ou bloco, conforme a proporcionalidade, o presidente da Câmara faz a homologação das Comissões, o que equivale a um termo de posse dos membros indicados. Em três dias úteis após a homologação, cada Comissão deve se reunir para eleger seu presidente e vice-presidente. A Reunião de Instalação é sempre presidida pelo membro mais idoso entre os componentes da Comissão. Além disso, as Comissões da Câmara Municipal de Curitiba podem ser permanentes - que têm caráter técnico-legislativo e apreciam matérias de acordo com sua área de competência - ou temporárias - instaladas por período determinado, especificamente para uma finalidade, seja na apuração de um fato, na aplicação de proce-
dimento em face de denúncia ou na representação da Câmara em atos externos. As Comissões Permanentes são dez: Comissão de Legislação, Justiça e Redação; Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização; Comissão de Serviço Público; Comissão de Educação, Cultura e Turismo; Comissão de Urbanismo e Obras Públicas; Comissão de Urbanismo, Obras Públicas e Tecnologia da Informação; Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública; Comissão de Participação Legislativa; Comissão de Saúde, Bem Estar Social e Esporte; Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Comissão de Acessibilidade.
Mérito das propostas
As Comissões têm importância fundamental para o funcionamento do Legislativo, pois todas as proposições tramitam por elas, que as analisam sob o aspecto da técnica legislativa e também no mérito das propostas. A Comissão de Legislação, Justiça e Redação, por exemplo, faz o controle constitucional, legal, regimental, jurídico e de técnica legislativa das proposições, podendo propor correções por meio de emendas para adequação e até mesmo o arquivamento de projetos com vícios insanáveis.
Após a análise da Comissão de Legislação, Justiça e Redação, os projetos passam pelas Comissões que analisarão o mérito das propostas. Por exemplo, se um projeto envolver questões financeiras e afetar o orçamento público, ele deve ser encaminhado à Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização. O trabalho de análise prévia das Comissões ajuda a evitar a aprovação de leis inconstitucionais, ilegais e sem a técnica legislativa adequada. Além disso, os debates e análises promovidos pelas Comissões temáticas, enquanto instâncias políticas, contribuem para o aprimoramento do processo legislativo. Além de acompanhar presencialmente as reuniões das Comissões, é possível aos cidadãos apresentarem sugestões legislativas à Comissão de Participação Legislativa, que, embora muitos desconheçam, é um espaço em que a população pode participar ativamente do processo na Câmara Municipal. A Comissão de Participação Legislativa foi criada justamente com a finalidade de ampliar a participação popular. As sugestões efetuadas pela população podem ser convertidas em projetos de lei de iniciativa popular. O trabalho das comissões também podem ser acompanhados pessoalmente pela população.
As sessões no plenário da Câmara Municipal de Curitiba são abertas ao p
Câmara “organiza” que ditam os rumos
Muitos não sabem onde fica, nem pr gula os caminhos e decisões que a ci Kevin Capobianco
A Câmara de Vereadores exerce o Poder Legislativo em Curitiba e conta com autonomia política, administrativa e financeira. Fiscaliza e controla ações da Prefeitura e sua sede fica no Palácio Rio Branco no centro da capital paranaense. Ao todo, funcionam na Casa dez comissões permanentes e duas comissões temporárias que são o Conselho de ética e Comissão especial que trata do regimento interno. As comissões permanentes estudam e emitem parecer sobre as propostas protocoladas para serem levadas ao plenário para discussão e votação. A equipe do jornal Marco Zero entrou em contato com os líderes dos blocos parlamentares, que representam os partidos na Câmara, entretanto, apenas três vereadores responderam à solicitação. Conversamos por telefone com o
vereador Thiago Ferro (PSDB) e a vereadora professora Josete (PT), e entrevistamos o vereador Osias Moraes (PRB), em seu gabinete. As assessorias dos outros quatro líderes de blocos parlamentares não responderam até o fechamento desta reportagem. Para a vereadora Josete, uma das funções centrais dos vereadores e vereadoras é legislar e fiscalizar as ações do executivo. “Pra mim, o papel principal é o de fiscalizar a efetivação das políticas públicas por parte do executivo. E também fiscalizar a aplicação dos recursos públicos em diferentes áreas e a execução orçamentária”. O vereador Osias Moraes apontou outras funções como construir leis para a população e organizar a cidade. Há também a função de ouvir opiniões e demandas diferentes da população e encaminhar para que o legislativo analise e encaminhe para o executivo como obras, saúde pública, iluminação, asfalto e outras solicitações que fazem parte da manutenção da cidade e que garantem qualidade de vida para a popula-
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
público e funcionam pela manhã.
” e aprova leis s da cidade
ra quê, nem que existe. A Câmara reidade deve tomar para a população.
Câmara deveria envolver mais a população, defende vereadora De acordo com o pro- dados, e ainda assim encontram fessor Luiz Domingues, do dificuldades e lentidão do sistecurso de Ciência Política, da ma. Uninter, o acompanhamento A transparência de quanto à transparência sobre o contas públicas e de gastos desenvolvimento do Legislati- dos políticos é importante para vo não só de Curitiba, mas de o bom funcionamento e para todo o país, deve ser por meio o exercício da cidadania. “O de órgãos especializados nesse que falta é uma modernização tema. “É difícil fiscalizar 38 como, por exemplo, simplifiindivíduos, então é preciso ter car o acesso dos dados de maorganismos da sociedade civil neira que um cidadão que não empenhados num trabalho de tenha conhecimento técnico monitoramento para o eleitor”. consiga entender o que está Pela publicado”, acresLei de Res- É preciso ter centa o vereador ponsabilidaThiago Ferro. de Fiscal (Lei organismos da “Eu acho que Complementar sociedade civil a Câmara é muito nº101/2000), fechada e deveria empenhados os planos, orçabuscar meios de mentos, leis de num trabalho de envolver mais a podiretrizes orça- monitoramento pulação”, salienta a mentárias, presvereadora Josete. Ela tações de conta, para o eleitor. ainda comenta que já relatórios da Luiz Domingues, propôs em conversas Execução orçaprofessor de Ciência no plenário para que mentária e Geso horário das sessões tão Fiscal devem Política, da Uninter sejatransferido da ser disponibilizamanhã para a noite. das tanto no formato convencional Assim, quem trabalha poderia, de como nas mídias digitais. certa forma, acompanhar as sessões O livre acesso de dados e já que as empresas não liberariam informações referentes à gestão do o funcionário para ir até a Câmara prefeito, governador ou presidente, durante o dia. facilita e incentiva a participação “Utilizo as redes sociais popular, como diz o artigo 48, pa- como forma de contato com a porágrafo 1º - inciso I, da Lei de Res- pulação. Hoje em dia, poucas pesponsabilidade Fiscal. soas vêm ao gabinete. Diferente O vereador Thiago de dez anos atrás quando a “Casa Ferro comenta que o Portal da do Povo” era muito visitada, agoTransparência é importante, ra poucos vêm aqui. Por outro mas é uma ferramenta que di- lado, as redes sociais se tornaram ficulta um cidadão sem conhe- um canal de comunicação”, diz cimento no sentido de fazer a o vereador Thiago Ferro. Contou fiscalização. Apenas, jorna- ainda que os contatos iniciais gelistas e pesquisadores conse- ralmente chegam pelo Facebook e guem efetivamente acessar os Instagram, por exemplo. Chico Camargo/
Até julho deste ano, a Pefeitura de Curitiba arrecadou cerca de R$ 4,960 bilhões. Deste valor, foram repassados neste período para a Câmara Municipal o montante de quase R$ 87 milhões. São feitos dois repasses mensais, um em cada conta da Câmara, uma no Banco do Brasil e outra na Caixa Econômica Federal. Quem determina o número de vereadores em cada cidade ou município é a Constituição Federal de 1988. Dados do IBGE indicam que Curitiba possui 1.751.907 habitantes, de acordo com o artigo 29. inciso IV. Curitiba tem 39 vereadores, que recebem em média R$ 11.400,00 e o presidente da Câmara cerca de R$ 14.700,00. Cada vereador pode contar com um número máximo de
mo tendo orçamento próprio, por exemplo, a Casa não conta com independência total porque isso é definido pela Prefeitura. Os vereadores não definem gastos públicos, a lei vem do prefeito e os vereadores analisam e aprovam. A Câmara acaba se tornando uma casa de chancela que passa a concordar com as decisões do prefeito, e é muito frágil perante os poderes do executivo. Funciona com os vereadores governistas e oposicionistas. Os governistas tendem a apoiar as decisões e projetos do prefeito e os oposicionistas podem recusar ou pedir para que volte para nova redação do projeto ou correção de propostas. Segundo o professor Luiz Domingues, a participação da população ainda é insuficiente, pois os vereadores são vistos como “levadores” de recursos ou providenciam soluções para problemas urgentes ou imediatos para a comunidade, como pontes ou creches. “Mas, por outro lado, a atenção da população tem crescido durante as duas últimas décadas. Isso é pouco perceptível, mas sim houve um amadurecimento das últimas gerações”. Segundo ele, o problema da educação em relação à política deve ser visto de uma forma mais ampliada. “É preciso que a geração que cresceu na democracia e que aprendeu sobre a função do vereador, por exemplo, tenha comprometimento com as gerações futuras. É necessário, também, que tenhamos uma imprensa que atente mais para esse assunto. Se a imprensa não insiste na pauta do legislativo municipal, as ações do poder público ficaria inválido e seria anulado”, destaca o
Chico Camargo/
Orçamento
oito assessores. O chefe de gabinete chega a receber em média R$ 12 mil por mês. Já os assessores ganham mensalmente entre R$ 4 mil e R$ 11 mil. Para 2017, está previsto que a prefeitura gaste mais de R$ 148 milhões com o legislativo. Na gestão passada, a Câmara recebeu pouco mais de R$ 120 milhões.
7
ZERO
Chico Camargo/
ção. O problema é que muitas pessoas não sabem onde fica, nem para quê, nem que existe. Outros acham que nem seria necessária a sua existência, embora seja uma instituição muito importante para o bom funcionamento da cidade.
MARCO
Papel da imprensa
Conforme o professor de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter, Luiz Domingues, a responsbilidade dos vereadores é a de fiscalizar o trabalho do prefeito, de propor algumas iniciativas que representem o interesse da população através de alguns mecanismos, como projetos de iniciativas populares. A Câmara não tem poder de iniciar matéria orçamentária e definir gasto municipal. A Câmara acaba sendo um poder que anda a reboque do poder executivo, ou seja, mes-
O vereador tem a função de ouvir as demandas da população e propor ações nas áreas de saúde, iluminação, asfalto, entre outras. Osias Moraes, Vereador (PRB)
Pra mim, o papel principal do vereador é o de fiscalizar a efetivação das políticas públicas por parte do executivo. Professora Josete, Vereador (PT)
A transparência de contas públicas e de gastos dos políticos é importante para para o exercício da cidadania.” Thiago Ferro,
Vereador (PSDB)
8
CULTURA
MARCO
ZERO
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
A época de ouro do chorinho em Curitiba Uma história que se renova e se perpetua a cada geração
Clóvis Pedrini Jr.
Clóvis Pedrini Jr.
Ao meu coração só lhe resta escolher Outro compositor de mão cheia e que ajuda a dar o tom autonômico e autoral da cena curitibana é o virtuoso Julião Boêmio. “Devo escrever em torno de cem músicas por ano e é algo que não vai parar”, revela o compositor logo após a roda que acontece todas as quintas-feiras no Conservatório da Música Popular Brasileira (CMPB) desde 2001. Os músicos sempre foram muito profissionais, afirma Joãozinho do Pandeiro, o que levava a uma saudável competição no início. “Janguito e o Tortato tinham uma pequena divergência musical. Mas não só isso, um grupo era patrocinado pela prefeitura e outro pelo Estado”, revela.
Surgido no calor do Rio de Janeiro por volta de 1870, o choro encontrou na fria capital paranaense um ambiente profícuo para se desenvolver. Apesar de aqui ter chego apenas 100 anos depois de sua criação, a única diferença é mesmo o clima. O choro em Curitiba começou forte com dois grupos, ou ‘Regionais’, como são conhecidos no meio, que rivalizavam de forma branda. O lendário Janguito do Rosário comandava o primeiro Regional da cidade, o Arco da Velha, ou simplesmente Regional do Janguito. A formação contava, além de seu fundador no cavaco, com Arlindo dos Santos no violão sete cordas, Lara no acordeão, Oscar Fraga no violão, Alaor na flauta e Edmundo no pandeiro. O grupo acabou depois da morte de seu fundador, em 1984. Para muitos, Janguito ainda é o nome mais importante da história do choro paranaense. O segundo grupo surgiu nos anos 1970 e permanece na ativa sem dar sinais de cansaço. O Choro e Seresta consolidou-se como o mais forte da cena curitibana e em 2017 completou 44 anos. Moacyr de Azevedo do cavaquinho, hoje com 92 anos, é o único integrante remanescente da formação original que contava ainda com o fundador Alvino Carbonar Tornato e seu filho Hiram Tortato nas flautas, Benedito Ferreira no pandeiro e Gerson de Souza no violão sete cordas.
Roda de choro das quintas-feiras no Conservatório da Música Popular Brasileira de Curitiba gênio que ainda merece ser melhor conhecido pelo público. Wilson Moreira talvez seja o maior compositor do choro curitibano, mesmo não sabendo escrever ou ler uma linha de partitura. Morto em fevereiro de 2017, vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), é um dos personagens mais presentes nas rodas de choro da cidade e autor de uma centena de composições ainda inéditas. “Ele pedia ajuda para os amigos para transcrever suas músicas”, conta a historiadora Ana Paula Peters, autora do livro ‘Nas Trilhas do Choro’. “Ainda estamos sentido sua perda repentina, por uma luz, o Da-
Com meu trabalho criei meus quatro filhos, mantenho minha casa e esposa. E posso me orgulhar de ter uma filha pedagoga niel Migliavacca (bandolinista e compositor de choro curitibano) conseguiu registrar algumas músicas de autoria do Wilson e estamos em um constante trabalho para reconstruir seu catá-
Pequenos códigos
logo”, diz a pesquisadora para quem a postura autoral talvez seja a principal característica do choro curitibano e o que o faz manter-se forte e em constante renovação. Lucas Melo, da atual formação do Choro e Seresta, diz que eles conseguiram recuperar algumas canções de Wilson Moreira e pretendem registrá-las. “Ele não tinha o conhecimento formal, mas tinha a técnica, era um supercompositor, com mil ideias na cabeça e junto com o Moacyr, o Pedrinho da Viola, que está com 90 anos e muitos outros escreveram a história do choro curitibano que é muito bonita e que nos inspira”. Acervo Choro e Seresta
Não cabe na batida
Hoje, o Regional Choro e Seresta está em sua quarta geração. Por isso, “Geração” (Curitiba, FonoMídia, 2014) é o nome do último álbum que traz dez canções inéditas, a maioria de autoria de Wilson Moreira, um
Assim, cada regional mantém pequenos “códigos”, quase secretos, entendidos apenas pelos músicos e imperceptível para quem assiste. Apesar da roupagem popular e democrática, não é qualquer músico que pode ir se metendo na roda do choro. “Existe um código sim, quando estamos tocando há várias questões entre os músicos, são regras na verdade que protegem a música, o cara tem que mostrar que sabe tocar com o risco de passar vergonha”, revela Lucas Melo. Muitos dos novos músicos do choro produzido em Curitiba são ou foram alunos no CMPB, como é o caso do próprio Julião Boêmio e de Lucas Melo. “Aqui, o aluno tem o curso preparatório e logo depois já começa a ser inserido aos poucos nas rodas com os músicos profissionais para ir aprendendo as regras e pegando repertório”. Para Melo, isso faz com que o chorinho se perpetue. Clóvis Pedrini Jr.
Acervo Choro e Seresta
Wilson Moreira: Autodidata, o compositor deixou inúmeras canções inéditas
Todos os domingos, o grupo Choro e Seresta se apresenta na Feira Municipal do Largo da Ordem
Cena do choro de Curitiba se destaca pela produção autoral
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
MARCO
9
ZERO
Mas por favor, tire esse bicho do celeiro
Ambiente acadêmico e Conservatório ajudaram na visibilidade do choro em Curitiba Divulgação
A história do regional mais famoso da cidade se confunde com a do Conservatório. “O Choro e Seresta começou tocando na Sociedade Batel. Teve uma vez que eles foram se apresentar no Teatro Paiol e o então prefeito Jaime Lerner disse que tinha um plano de trazer a feira hippie e o mercado das pulgas para o Largo da Ordem e queria que houvesse música no local”, conta Joãozinho do Pandeiro. A partir daí a Prefeitura de Curitiba iniciou um trabalho de revitalização de um antigo casarão do século XIX, localizado na antiga rua do Assunguv e que serviu de Solar dos Guimarães, no centro de Curitiba. Nos anos 1960, deteriorado pelo tempo, o local se tornou o Hotel “familiar” São José. Em 1979, o bordel foi incendiado criminosamente e, posteriormente, já sem uso, foi adquirido pelo poder público no mandato do prefeito Jaime Lerner. Nos anos 1980, o memorial passou por uma grande reforma e foi reinaugurado pelo prefeito Rafael Greca, em 07 de outubro de 1993, como Conservatório da Música Popular Brasileira no aniversário de 300 anos da cidade. Ana Paula Peters explica que a grande contribuição do Conservatório foi dar visibilidade para o choro que já acontecia em vários nichos espalhados pela cidade. O próximo salto foi nos anos 1990, quando o estilo adentrou à universidade e passou a ser objeto de pesquisa acadêmica, sendo um dos principais expoentes, Claudio Fernandes. “Em 2004, o gênero do choro foi tão difundido no ambiente acadêmico que despertou o interesse de toda comunidade, no sentido de ter um curso voltado ao repertó-
ELAS QUEM MANDAM – Regional ‘As Brejeiras, formado só por garotas
Se você se propõe a fazer algo e se dedica a coisa acontece. Desde pequeno, eu tinha a ideia fixa de que viveria do choro e com as aulas. Julião Boêmio músico rio de violão com o objetivo de aprender a acompanhar, solar melodias, escrever os ritmos e se não bastasse conectar as informações com a história da música popular brasileira”. A Oficina de Choro da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) formou mais de 300 alunos. Um dos registros mais significativos da cena está no Clóvis Pedrini Jr.
livro ‘Songbook do Choro Curitibano’ idealizado por Tiago Portella (Curitiba, Otto Produções, 2012). O livro traz uma compilação de partituras, gravações e imagens de composições de chorões contemporâneos e de numerosos registros dos primórdios do choro da cidade. Foram reunidas partituras manuscritas e editadas, fonogramas e vídeos, que documentam oito gerações de compositores desta música em Curitiba. Ele ainda reúne em seu primeiro volume cinquenta obras musicais produzidas por quinze compositores de seis gerações. Ao contrário de Wilson Moreira, que dividia a paixão pelo chorinho com o trabalho na área de telefonia, os músicos atuais conseguem viver da música, ou no caso de Julião Boêmio, “apenas” do choro. “Se você se propõe a fazer algo e se dedica a coisa acontece. Desde pequeno eu tinha a ideia fixa de que viveria do choro e com as aulas, gravações, eventos e as rodas dá para se manter. E um pouco de talento, claro” (risos).
Brasileirinho chegou e encantou O choro tem ao longo dos anos transitado livremente entre o erudito, o jazz, a música tradicionalista e a música folclórica. O estilo já foi serviu de trilha de fundo para o nacionalismo empregado por Getúlio Vargas nos anos 1970, mas mantém-se atual e se adapta. Apesar de ser o estilo favorito da ditadura militar é, em seu gene, uma celebração democrática. Por muito tempo foi visto como uma música machista, não pelas letras, mas porque a presença de homens nas rodas sempre foi predominante. Mas até nesse quesito o choro curitibano dá sua contribuição com um grupo formado só por mulheres, o Regional Brejeiras. Na década de 1970 o rádio ajudou os músicos a se profissionalizarem. Atualmente, sem ao menos um programa dedicado exclusivamente ao estilo, o gênero domina um movimentado cenário de bares, restaurantes e eventos. Isso fez com que o choro volta-se para onde ele mais se nutre e se fortalece, a roda.
E só assim então serei feliz O Clube do Choro, criado em 2015, ajudou a divulgar ainda mais o gênero na cidade. “Criamos o Clube em 2015, começou pequeno, mas no ano seguinte tínhamos até camisa personalizada e esse ano será ainda maior”, orgulha-se Joãozinho do Pandeiro. O momento atual é um dos melhores, concorda Ana Peters, “mas meu maior desejo é ter um espaço para o choro curitibano, nos moldes da Casa do Choro do Rio. Nosso acervo documental está crescendo muito e nos falta um local apropriado para preservar toda essa memória”.
Estilo único
A pedagoga Vanda Pereira de Moraes, 67, é fã de chorinho, estilo que aprendeu a admirar desde os quatro anos de idade com seus pais. Sempre que pode ela acompanha as rodas de choro das quintas-feiras no Conservatório e aos domingos na feira do Largo da Ordem. Para ela, o chorinho é um estilo único de música. “É uma música que cumpre sua real função, a de emocionar, me toca, me alegra. Para mim, é a música em seu sentido mais puro”, define emocionada ao final de mais uma roda. E para não dizer que se fez uma reportagem sem citá-lo uma única vez, antes de terminar, me redimo. Tudo isso é apenas graças a ele que levou o estilo aos patamares mais altos em todo o mundo e hoje cada nota tocada e cada letra escrita sobre o choro será sempre uma homenagem e só é possível, graças ao músico brasileiro Pixinguinha. Não por acaso, o Dia do Choro é celebrado em 23 de abril, data de seu nascimento. Ana Paula Peters/divulgação
MAIS QUE MÚSICA – A pedagoga Vanda Pereira de Moraes, 67, se debruça para apreciar o choro
Livro foi idealizado por Thiago Porttela, em 2012
Nas trilhas do choro, da pesquisadora Ana Paula Peters.
10
MARCO
ZERO
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
COMPORTAMENTO
Exercícios físicos em casa exigem atenção Crédito: divulgação
Ter uma vida ativa melhora seu bem-estar e evita inúmeras doenças, porém convém fazer exercícios sem o auxílio de um profissional? Aliana Machado
também, como ganho de força e hipertrofia. “Seja caminhada, corrida
diz Duane, acrescentando que uma das bases, que guiam o trabalho do personal, é a intensidade e um erro nesse componente pode ser muito lesivo ao praticante. O exercício físico não é simplesmente calçar um tênis e sair por aí aproveitando o sol e o ar fresco. Ele deve seguir uma série de etapas, desde a escolha do melhor tipo de exercício para a pessoa, incluindo tempo de duração, intensidade, frequência, outros. “Isso são coisas importantes e que, se não forem bem orientadas, podem causar grandes riscos”, explica Duane. “ O auxílio de um personal, por exemplo, vai direto Crédito: Gabriela Ciola
ou demais exercícios, é aconselhado que se tenha acompanhamento, mas o que mais vemos são pessoas que fazem corridas ou caminhadas, às vezes até por prescrição médica, não observando diversos fatores, como o risco de lesões por fazerem as atividades por conta”,
O exercício físico auxilia na melhor disposição para atividades do dia a dia nesses componentes, as escolhas são individualizadas e, portanto, o risco reduz significativamente” finaliza. Luana de Paula, 36 anos, administradora, faz exercícios regularmente com o acompanhamento de um personal trainer. Para ela, é essencial essa orientação, pois quando era mais jovem se lesionou. “Eu era viciada em atividades físicas quando tinha 19 anos e fazia sem nenhum acompanhamento de algum profissional. Acabei tendo tendinite nos meus
dois joelhos e precisei ficar um tempo afastada”. Afirma que hoje tem um cuidado redobrado com sua saúde e não faz nada sem a aprovação de seu professor. “Até para fazer caminhadas em parques ou quando estou fora da cidade eu peço o auxílio do meu personal em relação à intensidade e tempo. Não faço nada que ele não tenha me aconselhado pois mais que eu queira”, encerrou Luana.
O que devemos comer
O acompanhamento de um profissional na atividade física é essencial
Quando pensamos em dieta, devemos manter uma alimentação bem variada e sempre bem colorida. Isso contribui bastante para o fornecimento de diversos nutrientes para o nosso corpo. Pensando em emagrecimento saudável e uma alimentação equilibrada, alguns alimentos não podem faltar na sua reeducação alimentar: cereais, batata (a mais adequada é a doce pois seu
açúcar é mais saudável), mandioquinha, pães (os integrais), massas (integrais também), os legumes, verduras, as frutas, leites e iogurtes (sempre de preferência o desnatado), queijos brancos (contém menos calorias e gorduras), carnes brancas e vermelhas (dando preferências para as magras), ovos, azeites (oliva, óleo de girassol, canola). Segundo a nutricionista Gisele Raimundo, para ter uma alimentação saudável não devemos excluir nada. “Devemos consumir todos esses grupos de alimentos e sempre maneirando, comendo um pouco de cada coisa em intervalos de 3 em 3 horas, assim perde-se peso gradativamente e o preserva”. Para manter uma dieta equilibrada, devemos evitar alguns alimentos como os açucares, frituras e gorduras. “Trocar sempre que possível o açúcar daquele cafezinho por adoçante. Balas, chocolates, sobremesas, devem ser evita-
dos, procurar sempre substituir o doce do dia a dia por frutas, é muito mais saudável” disse Gi-
nosso organismo por isso devemos evita-las como também as massas como pizza, lasanha e macarrão. A nutricionista Gisele Raimundo disse que hoje temos uma vasta quantidade de produtos integrais para substituí-los. Devemos sempre optar por molhos naturais de tomate. É sempre muito bom evitar conservantes e temperos prontos pois eles incham e não fazem bem ao organismo. Sempre procurar temperos naturais sem conservantes. Evitar bebidas alcoólicas é fundamental, pois elas também têm uma grande quantidade de calorias. É preciso comer a cada 3 horas, devido ao fato de que jejuns longos fazem com que o corpo perca massa muscular e não gordura, “acabamos armazenando o tecido gorduroso, o organismo fica parado para não perder energia, ele acaba perdendo tecido muscular” explica Gisele. Variar sempre o cardápio também é interessante, “não devemos comer sempre a mesma coisa para não acabar enjoando, nós
temos bastante variedades de alimentos saudáveis que podemos comer, sempre em pequena quantidade”, Gisele ainda comenta que devemos apostar bastante nas frutas, comer de 3 a 6 frutas por dia é o ideal e alimentos com fibras (integrais, legumes e verduras). Isso faz nosso
organismo trabalhar melhor, como o funcionamento do intestino. Tirar do nosso cardápio tudo que for embutido faz bem, como a maionese e o leite condensado, fugir de produtos industrializados, açúcar branco, principalmente à noite é o mais correto. Prefira as opções diets e lights. Castanha do pará, castanha de caju, pistache, amêndoas, fazem muito bem para a saúde de 1 a 3 por dia. E o principal é tomar bastante água: no mínimo 2 litros por dia e fora das refeições, nunca tomar junto com a comida, meia hora antes ou depois e não esquecer de tomar água durante todo o dia. Crédito: divulgação
Os exercícios físicos são atividades que ajudam a alcançar a saúde e também a recreação. Sua consequência está diretamente ligada ao reforço da musculatura e do sistema cardiovascular, o aperfeiçoamento das habilidades atléticas, a perda de peso e/ou a manutenção de alguma parte do corpo, melhora a qualidade do sono, além do melhoramento da saúde mental e na prevenção a depressão. E se são feitos de forma regular estimulam o sistema imunológico e ajudam a prevenir doenças. Mas será que todo exercício físico deve ser praticado sob a orientação de um profissional qualificado? Segundo o personal trainer Duane Quíron Strassacapa, não se aconselha qualquer tipo de atividade física sem acompanhamento, pois há uma série de riscos. Porém há alguns exercícios que dá para serem feitos em casa e voltados não apenas ao emagrecimento, mas para diversos objetivos
sele. A fritura tem um alto índice de gordura e não faz bem ao
A alimentação deve ser bem variada e colorida
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
MARCO
11
ZERO
Crédito: divulgação
CRÍTICA
@TÁ NA WEB Aliana Machado e Larissa Oliveira
Oliveira
Metrópolis é um filme alemão dirigido pelo cineasta Fritz Lang. O longa de ficção científica foi lançado em 1927, mas sua história se passa no futuro, no ano de 2026. A estética futurista do filme chama a atenção do espectador, assim como elementos do movimento expressionista. O movimento surgiu em contraposição ao impressionismo e não se limitou apenas à pintura, abrangeu também a arquitetura, o teatro e o cinema. Deve-se recordar que o movimento teve sua expansão durante o fim da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha estava devastada e sendo responsabilizada por todos os danos da guerra. Mas ao contrário de outros segmentos nesse período, que estavam abalados economicamente, o cinema permanecia em uma “boa” fase. Metrópolis conta com alguns elementos do expressionismo alemão, como expressões faciais marcadas e exagero teatral. O cenário é gigantesco, causando a sensação de desproporcionalidade em relação aos personagens. Mesmo com esses elementos, a película não traz características tão evidentes do movimento expressionista quanto em filmes como “O Gabinete do Doutor Caligare” (1920) ou “Nosferatu” (1922), no entanto há a presença de uma das características mais fortes desse movimento: a crítica social subjetiva. A magnifica metrópole, criada por Fritz Lang, retrata uma sociedade dividida entre classes e desigualdade gritante entre elas. Os moradores do subsolo eram trabalhadores que estavam cansados da exploração dos cidadãos da superfície. As autoridades do filme, como o prefeito Joh Fredersen, são vistas como vilões. A dominação tecnológica também é um ponto forte da película. O que pode remeter o sujeito à “dialética do senhor e do escravo”, presente na filosofia de hegeliana. De forma simplificada, Hegel diz que há
Crédito: divulgação
Larissa
uma relação de co-dependência entre o senhor e o escravo, em que um não é soberano ao outro, no sentido em que para ser o que são, eles dependem da existência de ambos. Podemos fazer dessa dialética uma relação direta com os casos das sociedades desiguais da obra cinematográfica. Após ter sido estabelecida a premissa do filme, os personagens são inseridos ao espectador. Freder é o filho de Joh e tem seu arco desenvolvido no decorrer do filme, porém logo no início ele fica encantado por Maria, uma jovem que defende o direito de igualdade entre os operários (sociedade do subsolo). O discurso pacifista de Maria faz com que os operários tenham esperança de dias melhores. Quando Freder descobre todo o sofrimento que a exploração causa à sociedade do subsolo, ele tenta alertar seu pai, este finge espanto, mas sabe de toda a verdade. Além desses personagens centrais, há Rotwang que é um cientista maluco. Joh visita Rotwang para ver qual sua nova invenção e este lhe apresenta uma ginoide chamada Hel. A personagem ganha destaque na narrativa após tornar-se um clone de Mari, que representa a bondade e a vontade de mudança. Já Hel é subversiva e deseja apenas causar intrigas entre as duas sociedades, mas esse comportamento é uma influência de Rowang. Hel incita os operários a se rebelarem conta as pessoas da superfície. Estes acreditando que ela é Maria, se revoltam e acabam deixando com que as máquinas, que são o maior símbolo de repressão, entrem em colapso e explodam. A explosão causa uma enchente. Há todo um desenrolar e consequências das atitudes de ambas as sociedades, revelando que uma depende da outra. A película termina de forma romantizada, fazendo com que as sociedades entrem em um consenso. Nem esse final previsível faz com que o filme perca sua magnitude. Metrópolis é uma obra maravilhosa de Fritz Lang e nos faz refletir sobre a desigualdade que ainda permanece nos dias atuais.
Game of Thrones é uma série de televisão norte-americana baseada na obra literária de fantasia do escritor George R. R. Martin. A série fez sucesso no mundo todo desde a primeira temporada, (transmitida em 2011 pela HBO), recebendo diversas indicações a prêmios como o Globo de Ouro de melhor série dramática. Game Of Thrones tem uma legião de fãs em polvorosos que adoram comentar sobre os personagens que eles mais amam e odeiam na série, fazendo memes e até paródias dos acontecimentos trágicos na obra.
Teoria da Conspiração, a terra é redonda? Todos nós aprendemos, desde criança, que a Terra é um globo, ele é redonda. Porém, nas últimas duas décadas surgiu a tese que retoma a antiga hipótese de que a Terra é plana. Os terraplanistas dizem que já são milhões de adeptos espalhados pelo mundo. A ideia se baseia no globo ter o formato parecido como o de uma pizza e de ser o centro do universo, no qual o Sol e os outros astros giram ao redor da Terra.
Memes são uma evolução cultural Meme é um termo usado para qualificar uma informação que se multiplica nos cérebros dos internautas, podendo ser considerado como replicadores de comportamentos de uma mente para a outra. Ele foi criado em 1976 por Richard Dawkins. Várias ideias podem ser usadas. Sons, desenhos, valores estéticos e morais e qualquer coisa que possa ser aprendida facilmente também se encaixam como memes. O estudo dessa evolução de informações é chamado de memética. A internet é o lugar onde se encontra uma imensidão de memes para todas as situações.
Crédito: divulgação
O futuro no passado
A febre Game Of Thrones
Crédito: divulgação
As obras expressionistas buscavam explorar emoções
12
MARCO
ZERO
Número 54 – Agosto/Setembro de 2017
Sousa
Robison
HiP HoP para a vida
ENSAIO FOTOGRÁFICO A organização Zulu Nation, fundada por África Bambaataa, foi criada com o conceito de “elementos do hip hop” e reúne Graffiti, DJ, MC, Breakdance, cujo lema é: paz, amor, união e diversão. Seu objetivo é dar voz, visibilidade e identidade aos jovens que praticam dança (breakdance), pintura/ arte (graffiti), música (DJ) e composições/poesia (MC).
Minha amiga poesia Nunca mais vou me esquecer da primeira vez que te ouvi, meu irmão te apresentou disse que eu ia curtir, você veio num CD com a missão desafiadora, de passar informação com suas palavras encantadoras, funcionou, e não é que meu irmão estava certo, não só curti mas me apaixonei e sempre quero te ter por perto, me ajuda a me expressar, informar e conscientizar com alegria, você é o Rap, o ritmo, a rima... minha amiga poesia. MC Renato Sales