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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VIII- NÚMERO 55 – CURITIBA, OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2017

pág. 3 Foto:Karin de Paula

Reprodução facbook Mão Amigas

Programa social usa mão de obra de apenados para projetos em escolas públicas

pág.5 Foto: Mari Flores

A Curitiba que se transforma e assume a luta e bandeiras de várias identidades

pág. pág.8 3 Beatriz Vasconcelos

Entre massas e picolés, consumo de sorvete no Brasil chega a 1 bilhão de litros por ano

pág.10 Arthur Neves

Sequelas de uma dor que não passa O Paraná é o terceiro em casos de estupro registrados no Brasil

A luta contra a intolerância religiosa

págs.6 e 7


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Número 55 – Outubro/Novembro de 2017

OPINIÃO Ao Leitor

Equipe Marco Zero

O Marco Zero

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Expediente

Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.

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Por um futebol sem machismo Arthur Neves

Qual sua opinião sobre a segurança pública no centro de Curitiba? Foto: Patricia Zeni

Nesta edição, o jornal Marco Zero traz como matéria especial a violência sexual, revelando que muitas mulheres carregam as sequelas de abusos, como o estupro, para o resto da vida. Na página de perfil, a Miss Curitiba 2017 fala sobre o preconceito que sofre por ser mulher negra. Já a Assembleia Legislativa abriu, no dia 31 de outubro, as portas para universitários terem a sensação das rotinas dos deputados estaduais e essa matéria você confere na página 10. O estado do Paraná tem 20 mil presos, mas apenas 29% participam de alguma atividade laboral. Três dias de trabalho equivalem a um dia livre. Saiba mais informações na matéria da página 4. Outro assunto nessa edição é sobre a Parada Gay de Curitiba. E, por fim, o jornal traz um ensaio fotográfico sobre as cores e belezas do Paraná. Isso e mais nesta edição do Marco Zero. Boa leitura!

Arthur Neves

Partida da Liga Feminina Sub-20, disputada em 2016, em Curitiba.

Patricia Zeni

Mesmo com o preconceito, o futebol feminino cresce a cada ano no mundo. Até a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) estima que 45 milhões de meninas e mulheres estarão praticando o esporte, de maneira profissional ou somente por lazer. Atualmente, a população feminina no mundo é de quase quatro bilhões de pessoas. Isso significa que 11,25 % das mulheres praticarão futebol. Número pequeno se comparado aos homens, que desde pequenos ganham uma bola, são colocados em escolinhas para treinar e tem uma disponibilidade de clubes muito maior. No Brasil, o Ministério do Esporte fez uma pesquisa em 2016 que mostrou que 64% da população masculina pratica futebol, contra 16% da feminina. Isso é reflexo de uma sociedade machista, que proibiu na década de 1940 que mulheres jogassem futebol. O artigo 54 do decreto-lei nº 3.199, de 14 de abril de 1945, deixava claro: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Natureza no caso, é a maternidade. Esse decreto só foi derrubado em 1979. Claro que elas não deixaram de jogar, mas isso tornou o futebol

feminino invisível no país, tanto foi mais realizada. que até hoje a Seleção não venceu Em 2017, mudaram o formato as principais competições do mun- do Campeonato Brasileiro, criado, já que não pode competir com ram duas divisões. Isso poderia ser a evolução dos Estados Unidos, uma coisa positiva, e no começo Inglaterra e Alemanha, por exem- foi, mais clubes teriam oportuniplo, que estão um passo à frente do dades de montar um time feminino Brasil na luta por direitos iguais. e colocar na competição. O Brasil não tem uma liga naO que deu errado foram clubes cional nem categorias de base. Os da Série A do campeonato mascuclubes de futebol masculino não lino conseguindo vaga na primeira investem, com a justificativa que divisão, como o Grêmio, e o Aménão dá retorno financeiro. Como rica Mineiro, primeiro time brasinão dá retorno financeiro. leiro a profissionalizar as jogadoBasta ver que no Brasileiro de ras, ficou fora. Como resultado, o 2017 o Iranduba, Grêmio foi rebaixado. time de Manaus, A CBF, logo após as Olimpíacolocou 25 mil das de 2016 trocou No torcedores na o comando técnico Brasil, as da Seleção FemiArena da Amamulheres foram zônia (muito nina, colocando mais do que pela primeira vez proíbidas de vários times de praticar esportes uma mulher, Emily homens). Lima, porém após entre os anos Em 2016, resultados negativos 1945 e 1979, foi criada a em amistosos, a tiratornando o Liga Feminina ram e recolocaram desenvolvimento Vadão, o treinador Sub-20, uma competição que não conseguiu esportivo sem ligação feminino tardio e passar das quartas com a Confedede final na Copa do de baixo nível ração Brasileira Mundo em 2015 e de Futebol (CBF), organizada pelo não classificou a Seleção para a Ministério dos Esportes. final das Olimpíadas, em casa. Vários times se inscreveram e O que falta é colocar pessoas a organização foi por região. Na que se preocupam com a modalifase final se enfrentaram os me- dade e com as mulheres – colocar lhores de cada região do país e o mulheres – para comandar a seleIranduba – aquele mesmo do pú- ção e as competições, ouvir quem blico recorde no Brasileirão – se- entende e sempre continuar lutandiou a final com 17 mil pessoas do para que a mulher seja respeitapresentes, o Centro Olímpico foi da tanto com uma bola no pé quancampeão. Depois disso, a Liga não to em qualquer outra coisa.

O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter Coordenadora do Curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Professores responsáveis: Alexsandro Ribeiro, Mauri Konig e Roberto Nicolato

Diagramação: Alunos - Quadrimestral Mídia Impressa Artur Neves Larissa Oliveira Aliana Macho Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira

Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131 80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail comunicacaosocial@grupouninter.com.br

Telefones 2102-3377 e 2102-3380.

Roberto Cezar, 25 anos

“Fico sabendo de vários casos de assalto, e até mesmo estupro, isso faz com que nos sintamos inseguros né. ”

“Nos finais de semana eu ando mais tranquila mas não por causa do policiamento, e pelo simples motivo de ter mais gente, e isso passa seGreice Milaski, gurança, mas 22 anos se dependesse do policiamento a gente nem saia de casa. ” “Não acho que ta totalmente ruim mas pode melhorar, tem que ser mais intenso o policiamento principalmente com essa infestação do crack aqui na região central, Marcos Tama- sem falar dos asceno, 37 anos saltos que agente fica sabendo sempre de uma pessoa ou outra que foram assaltadas por aqui.” “Trabalho perto do largo, e sinto muita auxência de policiamento efetivo, são raras as vezes que vemos carros da polícia passando, são poucas as vezes que vejo a polícia Luciano Vaini rodando na re28 anos gião.” “As vezes que vi policiamento, obsrvei a policia muito violenta, e parece que ela não tem ferramentas principalmente psicológicas para lidar com situações dos Paul Wegman, cidadãos.” 26 anos


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PERFIL

Para a Miss Curitiba 2017, o preconceito por ser mulher e negra é um desafio diário Gabriel Bukalowski

Letícia Costa conta como foi o ano de reinado na capital paranaense Arthur Neves

Miss Curitiba em visita à Câmara dos Vereadores um mês antes de entregar sua coroa

MZ: Por que escolheu o jornalismo? Letícia: Além de ser curiosa, também sempre gostei de escrever e ao terminar o ensino médio eu senti a necessidade de

Miss Curitiba durante entrevista com a vereadora Noemia Rocha

ingressar na vida acadêmica. O jornalismo foi minha primeira opção. Quando ingressei na faculdade já estava trabalhando no mercado da moda. Porém apesar de estar conseguindo conciliar ambos, se eu tiver que escolher, com certeza escolherei o jornalismo, pelo motivo de ser um mercado que envolve muito mais do que a aparência. Sinto que através do jornalismo posso ser um diferencial social maior do que na moda, até porque nesse mercado nós não passamos de um produto que é usado para vender outro produto. Como foi ganhar o Miss Curitiba 2017? Com certeza o momento mais intenso da minha vida foi eu ter ganhado o Miss Curitiba 2017. Por ter sido a primeira miss negra da cidade, senti que pude contribuir positivamente na vida de muitas meninas negras, que puderam ver na cor da minha pele e no meu cabelo crespo uma referência de beleza. O desafio foi o que me motivou. Até ser convidada para participar do concurso, apesar de já ter visto outras miss negras, não havia visto ainda uma com o cabelo crespo como o meu. Isso foi uma coisa que encarei como um diferencial para me destacar entre as outras candidatas. Como foi o ano de reinado? O ano de reinado, apesar de corrido, considero que foi o ano em

que mais cresci e aprendi, tanto emocionalmente como profissionalmente, considerando que tive que conciliar a faculdade, estágio e mais a agenda de miss. Fui muito criticada na internet e saber lidar com criticas e comentários maldosos foi um ponto que me fez amadurecer muito. Isso além do fato de ter fechado parcerias com pessoas que pensam diferente de mim foi desafiador. Em contraponto, recebi muitas mensagens, como exemplo uma menina que me falou que antes de ter me visto como miss, ela não tinha coragem de sair na rua com o cabelo solto, por que o achava muito feio. Quando viu que eu ganhei isso a motivou a se assumir.

Para você quais as soluções para a desigualdade? Poderiam haver ações do estado que tragam reflexão, principalmente nas escolas. Não tenho grande envolvimento com esses grupos, não sou ativista, não sou aquela pessoa que vai pra rua, mas apoio. Acho que as pessoas têm que fazer isso para que sejam ouvidas. Pode parecer que não faça diferença grupos irem às ruas levantar cartazes e darem palavras de ordem, mas querendo ou não, os olhos se voltam para aquele movimento e passantes reparam naquela discussão. Isso é importante para a construção democrática da sociedade. Todas as vozes precisam ser ouvidas. Recebe muitos olhares nas ruas? Sim, é difícil saber se é pela beleza, pela cor da pele ou pelo cabelo crespo. Gosto de pensar que maioria está olhando por que me acha bonita mesmo. Arquivo pessoal

notícia de que tinha sido aprovada a lei de cotas para o mercado da moda. E ressalta que isso a incentivou a sonhar que poderia fazer parte desse meio. Em entrevista ao Marco Zero, ela foi sobre o seu ano como miss, a escolha do curso de Jornalismo e sobre desigualidade racial.

Gabriel Bukalowski

No ano de 2001, Curitiba “importava” de Piracicaba uma garota de 4 anos de idade, pele negra e cabelo crespo. De forma modesta, ela foi conquistando seu espaço até se tornar a miss Curitiba 2017. Além de miss, Letícia também é modelo e estudante de jornalismo na Uninter, e vem conciliando várias atividades. Com a família sempre próxima, Letícia teve uma infância tranquila e só pensava em brincadeiras e bicicleta. Sempre encantada pelo mundo da moda, ao comprar revistas e acompanhar referências de beleza midiáticas, sentia falta de ver pessoas que tivessem o mesmo tom de pele, o que acarretou em não se aceitar quando era adolescente. Alisou o cabelo para tentar se sentir mais próxima do que era bonito dentro do senso comum. A modelo conta que, por ter alisado o cabelo, foi por algumas vezes motivo de piada, principalmente vindo dos meninos. Isso lhe passava insegurança com relação a sua beleza. “Só me enxerguei bonita cem por cento depois que deixei o meu cabelo natural”. A miss Curitiba 2017 lembra que ficou extremamente feliz quando seu pai imprimiu uma

Considera que ser mulher negra é mais difícil? Ser mulher com certeza é mais difícil, devido ao fato de que muitas pessoas ainda pensam que o fato de ser mulher quer dizer que somos inferiores, ou que o fato de ser mulher dá o direito de desrespeitar ou invadir a privacidade. Vivi a experiência num dia em que estava voltando para casa às 10 horas da noite, com a rua deserta, e um homem se aproximou e passou a mão em mim. E sobre ser negra, pessoas negras em geral ainda sofrem muito preconceito e o fato de ser negra e mulher são duas opressões que nos fazem sofrer mais.

Letícia Costa durante discurso da II Marcha do Orgulho Crespo


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SEGURANÇA

Presos descobrem que trabalho vale a pena

Casinhas de papel, trabalhos em escolas e ensino ajudam na ressocialização de Oliveira

Há uma ideia corrente no Brasil de que, ao ser condenada por um crime, a pessoa tende a sair pior do que entrou no sistema carcerário ou então que não faça nada lá dentro, que fique apenas cumprindo a pena e usufruindo das acomodações. Mas é possível alguém se incorporar de forma digna à sociedade após cumprir a pena? Ações de ressocialização são capazes de tornar alguém apto a viver em sociedade ao sair da prisão? Antônio diz que sim. Antônio foi condenado a 23 anos e 4 meses de prisão acusado de dar fuga para dois menores de idade que teriam cometido um latrocínio no estado de Santa Catarina. A partir de lá foi transferido para o Paraná, estado de residência. Aqui, a justiça paranaense o condenou a esse tempo de prisão, porém Antônio obteve redução de 14 anos na pena graças a trabalhos realizados na prisão, aos estudos e ao bom comportamento. No presídio de Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, ele fez cursos de capacitação profissional certificados pelo Serviço Nacional de Aprendizado na Indústria (Senai), pelo Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar) e pelo governo federal. Durante o período de cárcere, trabalhou em serviços de costura, de roçada, entre outros. Antônio reconhece a importância dessas atividades para a ressocialização dos detentos e se recorda de uma empresa que usa a mão de obra de presos. “ A KPS Industrial presta serviço para todas as penitenciárias do Paraná e com essa iniciativa de dar trabalho e capacitação profissional para os presos, nos

Reprodução facbook Mão Amigas

Luis Gustavo

ajuda a sair daquela rotina de amargura e prisão. Distrai a mente e ainda reduz o nosso tempo lá dentro”, destaca. Com a ideia de ajudar na ressocialização, o Instituto de Desenvolvimento Educacional do Paraná (Fundepar) fez parceria em 2012 com o Depen e criou o programa Mãos Amigas, que usa mão de obra dos presos em eventuais reparos e pequenas reformas de escolas públicas em Curitiba e região, no litoral do estado e em Ponta Grossa. Segundo o coordenador do projeto, Nabor Bettega Júnior, o programa só apresentou vantagens desde que começou. “Até o momento temos uma média de 1,2 mil presos que trabalharam conosco e o índice de reincidência é zero. Ou seja, além da economia para o estado e assistência às escolas, conseguimos ressocializar essas pessoas”, conclui. Presos do Mãos Amigas trabalhando em um colégio de Fazenda Rio Grande.

Como funciona o projeto

Foto: Luis Gustavo, Marco Zero

Nele, os presos passam por um o benefício conceido pelo projeto teste seletivo de atuação e bom Mãos Amigas. comportamento para ir trabalhar No Centro Estadual de Educano projeto mãos amigas. Após o ção Básica para Jovens e Adultos teste, eles são re(Ceebja) do comtirados do comprisional de De 1,2 mil plexo plexo prisional Piraquara, a vicee são levados presos -diretora da escola, para uma cháde Paula que trabalharam Wanderli cara, onde têm explica a interação mais conforto aqui, o índice de dos presos com os e comodidade. reincidência é zero. professores. Nabor explica “Eles gostam Nabor Bettega Júnior, que a kombi ou muito, zelam, cuicoordenador do projeto o ônibus chega dam do ambiente, Mãos Amigas. por volta das 7 pois como eles dihoras da manhã zem, se trata de um para pegar os presos e os levam ‘adianto’ para sair mais cedo da até o local de trabalho, e lá, eles prisão. Inclusive, quando não tem são extremamente proibidos de di- aula eles ficam bravos e querem rigir a palavra para qualquer pes- saber se está tudo bem com os prosoa senão ao superior policial que fessores”. está com eles. Caso desobedecida Para a vice-diretora, o ensia regra, voltam no mesmo instante no que eles têm é bom, para eles ao complexo prisional e perdem e para os familiares, pois quando terminam atividades ou conseguem atingir a média na nota, querem logo mostrar para os parentes, principalmente para pais e filhos. Isso os motivam muito para sair dela e recomeçar a vida de maneira mais correta. Os materiais usados pelos internos são adquiridos pela Secretaria de Educação, porém eles só têm acesso aos materiais em períodos de aula, pois eles ficam guardados na biblioteca ou sala dos professores do Ceebja. A capacidade das “celas de aula” nas 14 unidades prisionais do Paraná Antônio mostra um dos certificados que já recebeu e a casinha de papel que fez varia de 30 a 35 alunos.

Três dias de labuta por um dia livre Em junho de 2011, a ex-presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que alterou as diretrizes e normas que regiam sobre presos que estudassem ou trabalhassem no cárcere. Com isso, algumas dessas funções puderam ser aprimoradas e garantir maior liberdade para o apenado que estuda e trabalha. Pela lei atual, é permitido ao detento que tenha trabalhado três dias reduza em um dia sua prisão e a cada 12 horas estudadas tanto em conclusão da educação básica como profissional ou superior, reduz também em um dia o período da prisão.


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CIDADE

De chuvosa e cinza a alegre e colorida

Ao menos uma vez por ano, a Avenida Cândido de Abreu se enche de cor e alegria patrocínio público e privado, porque existe uma omissão por parte das empresas privadas. “As emSutil presas têm medo de associar seu nome a viado, travesti e sapatão”, Curitiba, capital paranaense diz Marcio Marins, coordenador considerada chuvosa, fria, cinza geral da Associação Paranaense e muitas vezes vista como con- da Parada da Diversidade. Mas servadora, recebe uma vez ao como em todo ato de manifestação ano a parada da diversidade de pública, há “ajuda” de órgãos púlésbicas, gays, bissexuais, tra- blicos, mas para as paradas da divesti, transexuais e intersexu- versidade é mais difícil. A Appad ais – LGBTI – e é neste dia que recebe ajuda de sindicatos para Curitiba dá lugar a cor, afeto, ca- conseguir manter a parada LGBTI todos os anos, entrando assim no rinho e amor ao próximo. Em 2004, por meio de uma reu- calendário de Curitiba. “É quando nião com órtodos têm que gãos públicos O evento é nos engolir, pois defensores da pacífico e fes- é ali que todas as causa LGBpessoas e TI, ativistas e tivo, porém é ONGs, entidades estão aliados, surgiu então a considerado como lutando por uma causa única”, diz Um “mar” de gente na Avenida Candido de Abreu, centro de Curitiba. Associação Tinna Simpsom, P a r a n a e n s e um ato político drag queen e ati- cretos] pensarem que são melhores plementa Marins. Mas desde a prida Parada da Diversidade –Appad que foi cons- vista LGBT de Curitiba. Para Már- que quem é assumido, pois se nos meira edição, que ocorreu em 2005 truída com o intuito de organizar o cio, o tema deste ano da parada é uníssemos elegeríamos apoiadores realizada pela Appad, o evento já evento e cuidar dos direitos huma- uma provocação para a sociedade e teríamos voz ativa na política reuniu até cerca de 80 mil pessoas. nos voltados à essa comunidade, em geral. também”, salienta a drag queen. As pessoas LGBTI e até mes“Não somos só nós lésbicas, que são consideradas minorias. Ano após ano, a quantidade mo heterossexuais que apoiam a Porém, de minoria não tem gays, bissexuais, travestis, tran- de público oscila, pois sempre há causa dos direitos humanos para nada porque todos os anos essa sexuais e intersexuais algo no mesmo essa comunidade, que é grande, passeata reúne cerca de 80 a 150 que temos a obrigação dia que o even- mas desunida, faz com que saiam As emmil pessoas. Trios elétricos en- de combater a violênto. Em 2017 às ruas milhares de pessoas em presas chem a cidade de sons, tanto da cia, o preconceito e a por exemplo, busca de seus direitos. luta dos participantes, quanto pe- discriminação”, destafoi realizado o Desde então, nem mesmo a têm los organizadores, e também mui- ca Marins. Exame Nacio- chuva é capaz de impedir que mi“Você ficar em medo de assota diversão com shows de drags nal do Ensino lhares saíssem às ruas para esse queens e DJs tocando músicas que silêncio quando tes(Enem). evento, como em 2016, quando ciar seu nome a Médio temunha uma pesestão na boca do povo. Nem mes- cerca de 80 mil, com muita cor e “O evento é pacífico e festi- soa sofrer violência e viado, travesti e mo a prova que alegria ficaram até o final do evenvo, porém é um ato político”, diz discriminação acaba ocorreu dia 5 to na Avenida Candido de Abreu, Brigitte Beaulieu, que é a apre- concordando, compac- sapatão de novembro no centro de Curitiba. sentadora oficial da parada da di- tuando e apoiando a não deixou que mais de 60 mil versidade de Curitiba. “Acho que agressão”, salienta. pessoas saíssem às ruas para irem Censura “As expressões ‘fora do meio’, atrás dos seus direitos. “É um dios organizadores abriram os olhos Pessoas lésbicas, gays, bispara mim por eu já trabalhar na ‘discreto’ me enjoam. Como se reito constitucional. Nós podemos sexuais, travestis, transexuais e noite curitibana”, completa a apre- eles fossem melhores do que as ir para as ruas dizer quem somos, intersexuais sofrem censura e repessoas que se assumem”, acres- e reivindicar nossos direitos, sem pressão diretamente. “Sofremos sentadora. A Appad sofre com a falta de centa Tinna. “Uma pena eles [dis- pedir alvará ou permissão”, com- preconceito o tempo inteiro. Isto foi visto nos últimos acontecimentos no Brasil afora, como a censura a uma exposição em Porto Alegre, de um espetáculo em Jundiaí e diversas outras formas”, explica o coordenador da Appad. “Acreditamos que existe uma tentativa de censura para ações e atos que são em prol a comunidade LGBTI”, lamenta.

Centro de Curitiba com muitas pessoas festejando e reivindicando os direitos dos LGBTI

Ao longos dos anos, as pessoas LGBTI’s vêm ganhando espaços tanto na mídia, quanto no meio na conquistas de seus direitos: 1. Remoção da homossexualidade do Código Internacional de Doenças (CID); 2. Adoção por casais homoafetivos; 3. Direito ao casamento re-

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conhecido por lei. “Uma grande conquista é a retirada da homossexualidade do Código Internacional de Doenças”, relata Marins. Mas ainda falta um direito a ser conquistado pela comunidade LGBTI, que é a criminalização da LGBTIfobia. Dados: APPAD LGBTI Curitiba

Foto: Mari Flores

Conquistas

Foto: Mari Flores

Maicon

Público nas Paradas de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais em Curitiba desde sua primeira edição em 2005: 2005 - “Direitos Iguais, Nem Mais, Nem Menos” - 80 mil pessoas 2006 - “Respeito Sim, Discriminação Não” - 130 mil pessoas 2007 - “Unidos Pela Igualdade e Criminalização da Homofobia” - 120 mil pessoas 2008 - “Viva, Ame e Seja – Homofobia não combina com democracia” - 130 mil pessoas 2009 - “Seus Direitos, Nossos Direitos, Direitos Humanos” - 150 mil pessoas 2010 - “Vote Contra a Homofobia, Defenda a Cidadania” - 130 mil pessoas 2011 - “Estamos ao Redor do Mundo” 130 mil pessoas 2012 - “Por um Paraná livre do Racismo, Machismo e Homofobia” - 100 mil pessoas 2013 - “Liberdade e Cidadania – Defenda a Democracia” - 60 mil pessoas 2014 - “10 anos com você, por um Paraná sem LGBTfobia, machismo e racismo” - 70 mil pessoas 2015 - “Todas as vozes contra as violências de gênero” - 100 mil pessoas 2016 - “E por falar em juventude...” 75 mil pessoas 2017 - “O que eu tenho a ver com isso?


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ESPECIAL

Elas carregam para sempre as sequelas de uma cultura que não respeita as diferenças e as colocam como objetos a serviço deles

Karin de Paula

“ Rita* tinha 29 anos quando foi estuprada pelo guarda da empresa em que trabalhava. Pouco depois, descobriu que estava grávida. Ela já tinha um filho que ficava com o pai dela e, com medo de perdê-lo, resolveu sair de casa e morar na rua até nascer a criança. Após dar à luz, deixou o filho no hospital e voltou para casa. Hoje, aos 59 anos, a zeladora está arrependida. “Minha vontade é de encontrar esse filho e ver o que aconteceu

com ele”, conta. A história de Rita não é um caso isolado. O Brasil registrou, em média, 135 estupros por dia em 2016. Foram 49.497 casos, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No mesmo ano, houve 4.657 registros de mulheres assassinadas, dos quais 533 considerados feminicídio. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp), só em Curitiba são registrados três casos de estupro a cada dois dias. Com 4.119 casos por ano, o Paraná é o terceiro estado com mais registros de estupro no país, sendo 11 por dia, atrás de São Paulo (10.026) e Rio de Janeiro (5.676). Os crimes ocorrem com mais frequência à

Qualquer pessoa pode ser vítima de estupro. Erica Noronha

noite, em vários lugares de Curitiba. Os bairros com maiores índices são o Centro (49 ocorrências) e o CIC (24). Segundo a psicóloga Érica Noronha, do Núcleo de Apoio à Vítima de Estupro (Naves), um serviço do Ministério Público do Paraná, qualquer pessoa pode ser vítima de violência, seja ela psicológica, patrimonial, estupro ou assédio. As formas são variadas, porém às vezes nem dentro de casa ou na escola elas são abordadas. O objetivo do Naves é ajudar no trauma psicológico vivido pelas mulheres agredidas. Todo o processo começa com a parte ju-

rídica, iniciado com o boletim de ocorrência. Depois elas são encaminhadas ao Instituto Médico Legal (IML) para uma perícia que fornece um laudo usado no processo judicial. Logo após, começa a profilaxia de emergência (medida preventiva) nas primeiras 48 horas, que contém uma pílula do dia seguinte como método contraceptivo, um coquetel com vários m e d i c a m e ntos para evitar o contágio de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’S) e a aids. Érica afirma que esse processo é bem difícil, pois dura 28 dias e tem vários efeitos colaterais, in-

Minha vontade é de encontrar esse filho e ver o que aconteceu com ele. Rita

cluindo perda de peso e vômito. A psicóloga ainda comenta sobre as consequências psicológicas que as vítimas podem desenvolver como: estress pós-traumático, síndrome do pânico, desenvolvimento de psicopatologias (transtornos mentais) e esquiva fóbica (quando na presença de um evento ameaçador ou incômodo, tendemos a emitir uma resposta para eliminarmos ou evitarmos algo). Os locais de referência no atendimento às vítimas são o Hospital de Clínicas e o Hospital Evangélico, onde elas são acompanhadas por seis meses pela equipe de infectologia. Isso acontece porque existe um protocolo de que o diagnóstico de aids possa ser identificado após seis meses do contágio, embora essa possibilidade seja pequena. * Nome fictício.

Foto:Karin de Paula

Quando os homens não amam as mulheres


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ESTUPRO NÃO É SEXO!

A cultura do estupro e os seus danos sociais O termo “cultura do estupro” surgiu provavelmente nos anos 1970 por ativistas feministas, para mostrar um ambiente cultural propício para um crime, por ter métodos culturais (normas, valores e práticas) nos quais as pessoas acabam aceitando algumas violências em relação à mulher. Nessa cultura, as mulheres são vistas como pessoas inferiores, como objeto de desejo e propriedade do homem. E elas acabam sentindo culpa e vergonha para denunciar. Para a jornalista e estudante de Direito Vanessa Fogaça Prateano, ativista pelos direitos das vítimas de estupro, a cultura do estupro é algo real, embora ainda seja negada por muita gente. Essa negação acontece porque a ideia de cultura que se tem é associada à literatura, aos museus, à música etc. Em síntese, é algo intrinsecamente positivo. Contudo, cultura é basicamente o conjunto de normas sociais e jurídicas que criado e compartilhado, os discursos pro-

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Pode parecer absurdo, mas existem pessoas que não compreendem a diferença entre sexo e estupro. E sim, há previsão legal especificando o que é um e o outro. Um destes dispositivos é a lei 12.015/09, que aborda os crimes contra a liberdade sexual. Veja o que a lei diz sobre o assunto. Vanessa Fogaça Prateano, jornalista e estudante de Direito

duzidos sobre os fatos, os comportamentos adotados em relação aos fatos, os conceitos criados para explicar as coisas. Segundo ela, neste caso há uma série de discursos, práticas e normas que atravessam a noção que temos do estupro, do estuprador e da vítima, e a isso damos o nome de cultura do estupro. É quando as pessoas afirmam que a vítima pediu ou contribuiu para ser estuprada, ao acreditar que ela é responsável e tem culpa pelo que houve, ao entender que o estupro só ocorre em determinadas

Elas acabam sentindo culpa e vergonha para denunciar. Vanessa Prateano

situações (como entre desconhecidos, numa rua escura, à noite). Isso é falso, porque na verdade ocorrem estupros nos mais diversos contextos (entre cônjuges, contra crianças, dentro de casa, em ambiente de trabalho, dentro de igrejas etc.) A cultura do estupro se apresenta também quando dizemos que o estuprador cometeu o crime porque estava bêbado ou porque é doente ou louco, tirando dele a responsabilidade pela violência que cometeu. De acordo com Vanessa, para mudarmos isso precisamos nos educar sobre esse fenômeno, principalmente os homens. E é preciso que isso aconteça desde criança. Para ela, é preciso ainda amparar as vítimas e responsabilizar os agressores.

Sexo: É consensual, e se for adiante sem consentimento deixa de ser sexo e passa a ser estupro. Pena: Reclusão, de 6 a 10 anos. Estupro: Ato sexual praticado sem consentimento é violência, é estupro. Se a conduta resulta em lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos. Pena: Reclusão, de 8 a 12 anos Se a conduta resulta em morte: Pena: Reclusão, de 12 a 30 anos.


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COMPORTAMENTO

País consome 1 bilhão de litros de sorvete ao ano Dentre todas as variações de gelado, o de massa é o preferido pela população

do”. Chegou o verão! Os brasileiros consumiram, em média, um bilhão de litros de sorvete por ano nos últimos 14 anos. Dados da Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (Abis) revelam que foram 13,9 bilhões de litros entre 2003 e 2016, dos tipos picolé, massa e soft (americano, italiano). Em 2014, ano de maior consumo de gelado, seriam necessárias 474 piscinas olímpicas para preencher a quantidade consumida: 1,3 bilhão de litros, média de 6,43 litros por pessoa. Conforme os dados da Abis, a

Seria o fim do americano?

Em meados do século 20, surgem as sorveterias na capital paranaense, introduzindo um mar de sabores no gosto dos curitibanos. Além das sorveterias pioneiras como a Do Gaúcho e A Formiga (que funcionam até hoje), outra tendência bastante popular foi a do sorvete do tipo americano. Bastava uma volta peas principais ruas do Centro e já se avistava uma máquina cheia de potes coloridos com as abelhas zunindo em volta dis-

Foto:Beatriz Vascocelos

produção do sorvete de massa é maior em relação ao soft. Em 14 Beatriz anos foram produzidos 9,9 bilhões Vasconcelos de litros desse tipo e 1,3 bilhão de litros do tipo soft, uma proporção Os dias são longos e quentes e de apenas 13% de soft em relação nas ruas da cidade grande o caos é ao de massa. Foi a partir de 2010 evidente. Nos bairros periféricos, que o consumo alcançou o patano entanto, o ritmo parece ser ou- mar do bilhão. O ano mais quente no Brasil foi 2016, segundo a Natro. Em muitos tional Oceanic deles há crianA própria and Atmospheças brincando na rua, cachorros evolução do ric Administration (NOAA). eufóricos latindo sorvete fez com que Curiosamente, com o barulho da molecada e um o sorvete americano foi o ano em que se regissom caracterísdiminuísse.” trou maior quetico que remete João Albano da no consumo às lembranças de sorvete, sede infância: “É o gundo a Abis. carro do sorvete que está passan-

A cada ano surgem mais variedades nos tipos de sorvete e diferentes sabores no ramo do gelado

putando a vez para provar o doce do gelado americano. Segundo João Batista Albano, vendedor do tradicional sorvete do tipo americano, atualmente só restam memórias e poucas máquinas com o sabor da velha infância. O sorveteiro ainda comenta que sempre gostou de coisas antigas e que trabalha com o sorvete porque gosta de resgatar a essência lúdica que o

produto proporcionava e que acha res brasileiras eram proibidas de bacana quando aparecem mulheres entrar em alguns espaços da cidagrávidas com o desejo de saborear de, como bares e cafés. Entretanto, o sorvete feito com pó de gelatina e quando surgiram as sorveterias, essência de sabores. elas resolveram quebrar o protoco“A própria evolução lo e fizeram fila do sorvete fez com que para experimenOs o sorvete americano tar a novidade. sorvetes diminuísse. É como a O gelado cheTV: ninguém quer mais gou a terras tupido tipo comprar aquelas com niquins 500 anos soft, como o as caixas atrás depois após seu surgique surgiram as mais na Europa, americano, são mento fininhas”, compara. em 1334. Em São muito doces Por outro lado, Albano Paulo, devido ao acredita que, mesmo fato de não se ter para o gosto escassas, as máquinas como conservar brasileiro” ainda vão durar uns 20 o sorvete gelado, ou 30 anos. O profissioum anúncio no Leila Vanzuit nal ainda conclui que jornal avisava a pode até parar o prohora exata e o locesso industrial, mas sempre vai ter al- cal da fabricação para que pudesguém que vai herdar uma máquina ou se ser consumido imediatamente. outra e continuar o trabalho por gosto. Com o passar dos anos, o sorvete Na opinião de Leila dos Santos evoluiu e diversos tipos e formaVanzuit, uma das proprietárias da tos surgiram no mercado. Picolé, Sorveteria Do Gaúcho, os sorvetes sacolé, italianinha, sundae, casquido tipo soft, como por exemplo o nhas, cascão, milk shakes, frozen tipo americano, são muito doces para yogurt, yogoberry, sorvete amerio gosto brasileiro. “Os consumidores cano, e os mais atuais: paleteiros gostam mais de massa porque são e açaí na tigela. Tem para todos os mais coloridos, e a criançada já gosta gostos! Apesar de o sorvete ter uma de um picolé que dá pra pegar”, diz. tendência maior de consumo durante o verão e funcionar como forma de refresco, nada melhor do que sentir aquela vontade de saborear uma casquinha no inverno e se apropriar dos nutrientes Durante os dias escaldantes presentes em sua composição, grande parte das pessoas procura como: proteínas, vitaminas, cálformas para se refrescar. Há muito cio, fósforo e outros minerais tempo, no século XIX, mais preci- importantíssimos para um ótimo samente no ano de 1834, as mulhe- desenvolvimento.

Sorveterias levam mulheres a “quebrar protocolos”


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COMPORTAMENTO

Brasil padece de intolerância religiosa

No país, prática é crime de ódio de acordo com a lei n°7.716, de 5 de janeiro de 1989 dos Direitos Humanos, o perfil do suspeito de praticar o ato de intoIlana Zaze lerância é 37,3% feminino, 35,5% masculino e 27,2% dos casos não informaram dados do suspeito. Não é de hoje que a intoleCasos de intolerância são muirância religiosa existe no Brasil. to comuns no Brasil. Três casos O problema remonta à chegada ficaram em evidência em 2017 dos portugueses, em 1500, com a através da mídia. Um dos casos imposição da doutrina católica a aconteceu em agosto em Anamilhares de índios, que passaram nindeua, no Pará, onde a diretora a viver em regime de escravidão. de uma escola particular proibiu No primeiro a apresentação de semestre de 2017 uma pesquisa soforam registrabre a umbanda e dos 169 casos de O país foi denunciada por intolerância, 66 deles intolerância religioregistra uma contra religiões de masa na RMB (Região trizes africadas como denúncia a Metropolitana de umbanda e candom- cada 15 horas, Belém). Os outros blé. O Brasil registra dois casos ocorreuma denúncia a cada conforme ram em setembro. O 15 horas, conforme dados do MDH primeiro aconteceu dados do Ministério no Rio, na cidade de dos Direitos Humanos (MDH). Nova Iguaçu, onde um traficante Segundo os dados do Ministério

O que diz a lei:

De acordo com o Ministério Público do Paraná (MP/PR), em 2017 foram registrados seis inquéritos policiais em todo o estado. Fatos que foram incluídos como crime de racismo religioso (injúria racial do art. 140, par 3º do Código Penal ou crimes da Lei 7.716/89) ou perturbação de culto religioso (art. 208 do CP).

O disque 190 da Polícia Militar pode ser utilizado também em casos de violência ou crimes de intolerância. O cidadão deve ligar para a polícia, que irá atender a ocorrência, ou se deslocar até a delegacia para registrar o Boletim de Ocorrência e entrar com o pedido para as medidas judiciais pelo crime de injúria.

obrigou uma mãe de santo, sob a mira de um revólver, a destruir o próprio terreiro de sua doutrina. Já o segundo caso aconteceu em Jundiaí, no estado de São Paulo, onde um incêndio possivelmente criminoso destruiu grande parte de uma casa de candomblé. Para o pai-de-santo da tenda de umbanda Caboclo 7 Flechas, Jean José Cit, as religiões de origem africana e os terreiros são os que mais sofrem com a intolerância no Brasil. “Nossa religião sofre essa intolerância por falta de informação. É até mesmo um erro de muitos de nós que ainda vivemos com nossos terreiros de forma escondida, diferente de igrejas, que se mostram mais. A umbanda e o candomblé ainda são religiões muito fechadas e isso assusta as pessoas”, lamenta. Em janeiro de 2017, uma pastora evangélica de Botucatu (SP) quebrou uma imagem de uma santa da doutrina católica, durante um culto religioso. Esses casos são bastante comuns e repercutem na igreja católica como intolerância por seus fiéis. O padre Carlino Parente de Alencar, da Catedral Basílica de Curitiba, se posiciona em relação à intolerância religiosa: “A imagem para nós é apenas um sinal. Então imagem é a mesma coisa que fotografia, a gente venera”, diz. O sacerdote utiliza o livro sagrado para ensinar um dos

Os números da intolerância 64,6% dos brasileiros católicos relataram 1,8% dos casos de intolerância religiosa. 22,2% dos protestantes respondem por aproximadamente 3,8 registros de agressão 25% das denúncias são contra religiões de matriz africana, o que corresponde a 1,6% da população.

mandamentos da Bíblia. “É viver aquilo que Jesus disse: ‘amai-vos uns aos outros como eu vos amei’. Basta isso, nada mais”. O pastor Paulo Sergio Zuccoli Rodrigues, da Igreja Metodista lembra que neste ano completaram-se 500 anos da reforma protestante, e diz que apesar do avanço em várias

áreas, a intolerância religiosa ainda persiste em todas as crenças. “Toda igreja evangélica já sofreu ou sofre casos de violência ou intolerância por toda parte que não tem a revelação do Espírito Santo de Deus, que nos aponta que Jesus Cristo é a única resposta de Deus para as mazelas da humanidade”.

Passeata contra intolerância religiosa na praça Tiradentes; o movimento atraiu apenas as religiões de origem africana, que mais sofrem agressões no Brasil


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CIDADANIA

Estudante de 21 anos é “eleita” governadora Assembleia Legislativa do Paraná abre as portas para universitários vivenciarem, em duas semanas, as rotinas dos deputados estaduais Pedro de Oliveira/Alep

um deputado traz uma sensação de peso por representar os milhões de paranaenses que vivem no nosso Welke estado”, declarou o estudante Gabriel Soldi, um dos escolhidos para Em uma eleição apertada, 30 vo- o parlamento. O presidente da Assembleia Letos a 24, a estudante de direto Ana gislativa do Paraná, Ademar Traiano Góes, 21 anos, foi eleita a governae o líder do Governo, Luiz Cláudio dora, no dia 31 de outubro. Só que o seu mandato foi meramente sim- Romanelli, desceram até o plenário bólico, pois a eleição valia apenas para responder as dúvidas e incenpara as duas semanas do Parlamen- tivar os jovens a seguirem interessato Universitário, onde acadêmicos dos pela política. Já no último dia do de Direito, Ciência Política e Jor- evento, o governador de Goiás, Marnalismo trabalharam como depu- coni Perillo, conversou e animou-se tados e imprensa no segundo ano com as propostas e ideias dos jovens do evento. O Parlamento teve a acadêmicos. Gostou tanto do que sua primeira edição em setembro viu que pretende mostrar a ideia de 2016, contando com 58 estu- para o presidente da Assembleia Ledantes inscritos, 54 representando gislativa de Goiás, pois acredita que os deputados e quatro suplentes, ideias boas são para serem copiadas promovido pela Escola Paranaense e bem executadas. “Sempre é um aprendizado, você do Legislativo, em parceria com a nunca sabe o suficiente e o Parla- Presidente da Assembleia Legislativa do Paraná recebe junto com os universitários o governador de Goiás. Universidade Federal do Paraná. O mento Universitário nos permite evento de 2017 contou com 1,303 procuraram auxiliar nas matérias aprimorar ainda mais missões temáticas, como Comissão projeto universitário. inscritos, 54 estudanJá os estudantes de Jornalismo ti- de rádio, TV, mídias digitais e imnossos conhecimentos. de Direitos Humanos e Cidadania, tes foram escolhidos “É muito A vida nos ensina perma- Comissão de Finanças e Orçamen- veram a oportunidade de atuar, por presso. Contaram com todos os para serem os depunentemente no dia a dia, to, Comissão de Obras Públicas, meio do Comitê de Imprensa da materiais disponíveis para fazer as tados universitários e importante 24 para suplentes, re- ver todo este tenho muito orgulho de Transporte e Comunicação, entre Alep. Contando com a supervisão suas notícias e reportagens, e ainda da diretora de Comunicação, Kátia tiveram a chance de ter seu material ter encabeçado esta ini- outras. presentando oito uni- nascimento Chagas, os estudantes receberam a publicado no site da Assembleia ciativa pioneira no Brasil. “Essa experiência está sendo versidades (UFPR, das leis” ajuda de profissionais da casa que Legislativa do Paraná. Quero inclusive conhecer muito bacana e enriquecedora, com PUC, FAE, Positivo, Gabriel Soldi, os projetos de lei feitos certeza vai ficar marcada... Sobre o Unicuritiba, UniBrapelos deputados univer- fato de termos 25 mulheres nas ca- Par ticipação feminina no Parlamento Universitário 2017 x sil, Opet e Uninter) estudante Assembleia Legislativa do Paraná (deputadas atuantes) sitários, olhar todas as deiras, eu acho isso incrível, pois o de Curitiba. No primeiro dia do evento des- sugestões e ideias para, quem sabe, lugar da mulher é na política, printe ano, os deputados acadêmicos podermos aproveitar e encaminhar cipalmente em cargos de liderança. pareciam, em sua grande maioria, oficialmente como uma proposta de Espero que as mulheres possam ter nervosos por estarem em um lu- lei para discutirmos e aprovarmos espaço e serem ouvidas”, ressaltou a governadora unigar de tamanha importância para aqui no plenário” disse o presidente versitária Ana Góes. a política paranaense. Sentaram da Assembleia LegisNem todos os onde estavam seus devidos crachás lativa do Paraná. Entre os 54 ocu- “O lugar da projetos apresentae permaneceram em silêncio endos pelos deputados quanto o Dylliardi Alessi, diretor pantes das cadeiras mulher é da Escola do Legislativo, dava as do Parlamento Uni- na política, universitários foram boas de vindas e começava a expli- versitário, 25 são mu- principalmente aprovados. O mais car como seriam as duas semanas lheres, representando polêmico deles foi do parlamento. Os alunos tiveram 46% da casa, dife- em cargos de derrubado por 36 a oportunidade de viver a rotina rente do que é atual- liderança” - Ana votos a 18 e tratade um deputado, realizar Projetos mente na Assembleia Góes, estudante va do Programa de de Lei e puderam defendê-los na Legislativa do Paraná Desestatizações, de Assembleia Legislativa do Paraná onde foram eleitas apenas três de- autoria do estudante Carlos Svion(Alep). “É muito importante ver putadas, ou seja, 5,5% das cadeiras. tek. Alguns alunos afirmaram que o todo este nascimento das Leis até Nessas duas semanas, foram for- projeto era completamente inconselas serem aplicadas, como nós madas a Comissão de Constituição titucional. “Estamos realizando estudamos nas universidades. Ser e Justiça (CCJ) e outras nove co- apenas uma simulação, este projeto não seria publicado oficialmente. Nós perdemos uma oportunidade gigantesca de colocar ele em debate”, afirmou Sviontek. O projeto O projeto do Parlamento Universitário paranaenmais apoiado foi o da Bengala Verse ganhou o III Prêmio Cultural ABEL (Associação de, encabeçado por uma estudanBrasileira das Escolas do Legislativo), categoria Cote de Ciência Política da Uninter, munidade, superando 60 escolas de Parlamento e de Maiane Bittencourt, e que visa diTribunais de Contas. O projeto paranaense da Escola ferenciar pessoas com baixa visão do Legislativo, é exemplo para outros estados. O gode pessoas completamente cegas. vernador de Goiás, Marconi Perillo, acredita que o Foi de tanta importância que os deParaná criou um dos melhores projetos educacionais, putados estaduais querem que vire “Foi uma ideia extraordinária, criativa e inovadora”, lei e não deixe de ser apenas um afirma Perillo.

Thalita

Reconhecimento no país


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CRÍTICA

Se no curta-metragem Luiza, lançado em 2014, o diretor e roteirista gaúcho Pedro Foss abordou a loucura como tema, no ano seguinte, em A Morte & Vida de Ana Belshoff, como o próprio título já sugere, ele preferiu tratar da inquietude humana acerca de sua própria existência, que nunca é exatamente aquela que idealizamos, e faz com que vejamos o ‘filme da nossa vida’ como algo inevitavelmente incompleto. Ana Belshoff é uma nadadora olímpica que acabara de ganhar uma medalha de ouro (como se vê em uma das fotos emolduradas) e está curtindo essa feliz fase de sua vida ao lado do esposo, mas nada de álcool nas comemorações, afinal, Ana não bebe. Vivem no confortável apartamento de número 602 de um condomínio residencial localizado em um bairro nobre do Rio, cuja sacada permite uma vista privilegiada do litoral carioca. Uma vida perfeita... Todavia, a bela jovem começa a perceber algumas coisas estranhas que vão se intensificando à medida que o tempo passa: um lapso de memória aqui, outro acolá, um balconista de lanchonete que a reconhece como sendo sua professora do último semestre, uma moça loira que, de repente, Ana vê circulando à vontade no seu próprio apartamento, como se ela morasse ali, além do misterioso homem alto, sempre vestido de preto, que Ana vê sucessivas vezes no elevador, e que lhe diz palavras enigmáticas, sempre ao som de “Lollipop”, na versão gravada em 1958 pelo quarteto vocal feminino norte-americano The Chordettes. O que, diabos, está acontecendo? Qual é, afinal, a verdade? Bebendo uma vez mais na fonte de grandes obras de suspense e terror norte-americanas, Pedro Foz escreveu um roteiro que consegue, durante os 21 minutos de duração do curta, prender a atenção do expectador, que vai tentando adivinhar os acontecimentos, bem como seus motivos,

@TÁ NA WEB Aliana Machado

O gênero terror em evidência O ano de 2017 foi marcado por mais de 20 obras cinematográficas excelentes. Os fanáticos por terror ficaram bastante contentes pela quantidade e qualidade dos filmes. Além de sequências, como “Jigsaw”, “O Chamado 3”, “Annabelle 2”, “Olhos Famintos 3”, “O Culto de Chucky”, também teve o remake de “IT - A Coisa”, do diretor Andrés Muschietti. Além de lançamentos, com uma vasta opção para todos os gostos, que prometem aterrorizar com o psicológico do público como “Corra!”, “Mãe!” e “A morte te dá parabéns”. Para quem gosta de sentir medo, também não vai ficar desapontado ano que vem, pois serão exibidas mais películas do gênero como “O Homem Torto”, “Halloween” e a “Freira”. É só conferir!

Crédito: divulgação

Oliveira

é

Pitaya é a fruta do momento A pitaya é originária do México e vem ganhando popularidade no Brasil, além de ser cultivada em Israel e na China. O termo “pitaya” significa fruta escamosa e possui três espécies, porém apenas uma é encontrada com maior facilidade no Brasil. Com poucas calorias, ela é muito benéfica à saúde auxiliando na redução do colesterol e ajuda no reforço do sistema imunológico. Essa fruta exótica é rica em nutrientes como as vitaminas C, B1, B2, B3 e alguns minerais como ferro, cálcio e fósforo. Por causa de seu aroma agradável e graças aos oxidantes que retardam o envelhecimento, vários os laboratórios aderiram à fruta como ingrediente de produtos para beleza, como cremes e de cuidados para a pele.

Black “fraude” Quando os anunciantes veiculam a informação da Black Friday, os consumidores sempre ficam empolgados e normalmente vão às compras, porém, a maioria deles acaba sendo enganados pelas armadilhas que as lojas fazem sobre seus produtos. Para auxiliar os consumidores, existem sites de fiscalização que comparam e monitoram o histórico de preços cobrados anteriormente. Normalmente, o Procon também lança uma lista com os endereços eletrônicos que o consumidor deve evitar por causa do número de reclamações.

Crédito: divulgação

Roberto

ao passo que a direção dinâmica do jovem cineasta evoca um clima de tensão que corrobora para o estabelecimento de uma atmosfera sobrenatural que paira no ar o tempo todo, com direito a alguns sustos e, é claro, uma reviravolta no final, no melhor estilo M. Night Shyamalan. Ao contrário do que aconteceu no já citado (e comentado em crítica anterior) Luiza, protagonizado pela ‘azeda’ Luana Piovani, e primeiro curta desta série intitulada Projeto Delirium, desta vez o elenco está mais convincente, gerando diálogos proferidos com uma maior naturalidade. A diretora de teatro Bia Oliveira faz a mãe de Ana, e Bruno Gissoni, o esposo. Ambos compõem eficientemente o ‘núcleo familiar’ da trama, enquanto que o robusto pai da filha da Xuxa, Luciano Zafir, encarna de forma espantosa o intrigante ‘emissário do elevador’, conferindo a ele um tom ao mesmo tempo sinistro e lúdico. Quanto à protagonista, Carol Castro, além de sua beleza ímpar, ela também exibe de forma magnífica todas as incertezas de Ana, por meio de suas expressões corporais, seus olhares perdidos, seus diálogos desorientados e suas lágrimas que caem tão espontaneamente de seus olhos diante da impossibilidade de entender a realidade assustadora que se desenrola ao seu redor. Pedro Foss, por que não escalaste Carol também para o primeiro filme? Além de se mostrar outro ótimo curta de terror psicológico, A Morte & Vida de Ana Belshoff ainda propõe uma breve, porém relevante reflexão sobre a vida, como a vivemos, como a imaginamos, o que fazemos dela, o que esperamos dela e... por que não, o que nos aguarda depois dela. Sobrenatural com psicanálise, temas recorrentes na obra de Foss, que se misturam e se completam, e que você pode conferir no site oficial do diretor: http://pedrofoss.com. br/site/. Na contramão do atual cinema nacional, que ultimamente tem priorizado comédias e dramas biográficos, o suspense e o terror são gêneros que apresentam enorme potencial para também serem desenvolvidos por aqui, como esses curtas (e muitos outros) têm comprovado pela qualidade de suas execuções. O que nos leva a imaginar o quão interessante poderia ser o primeiro longa-metragem de terror dirigido por Pedro Foss, e torcer para que um dia ele o faça, e seja bem-sucedido nesta empreitada.

Crédito: divulgação

Uma reflexão sobre a vida


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ENSAIO FOTOGRÁFICO

As cores e belezas do Paraná Larissa Oliveira

Na estrada, a expectativa é chegar bem ao destino e no caminho encontrar belos cenários. Sob o sol, as cores vibram, parecem estar vivas quando se encontram com o olhar. As araucárias são rainhas do Paraná, reinam majestosas em nossa paisagem. As nuvens, as árvores, as borboletas, os pássaros... todos parecem dançar no ritmo do vento, balançam, correm e acenam para nós – pequenos peregrinos. Impossível não nos encantarmos com o céu azul, com as casinhas isoladas, com as raras pessoas que encontramos. A natureza é tão fascinante que nos faz esquecer as mais de seis horas de viagem até chegar em Pato Branco, sudoeste paranaense.


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