JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER - ANO VIII- NÚMERO 57 – CURITIBA, JAN A MAR DE 2018
Foto: Sérgio Junior
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O drama de quem luta contra a depressão e busca fugir dos números alarmantes de suicídio
Foto: Mariana Maciel
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A vida em uma casa sobre rodas: famílias trocam casas por motorhome
Foto: Instituto História Viva
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Como a musicoterapia pode ajudar no tratamento de saúde de adultos e crianças
Foto: Pixabay
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A felicidade reconstruída após o câncer de mama págs.6, 7 e 8
Os filmes que poderiam ter ganho as telas de cinema mas que ficaram apenas na ilusão
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Número 57 – Janeiro a Março de 2018
OPINIÃO Pantera Negra e representatividade Ao Leitor O jornal Marco Zero traz nessa edição as histórias de mulheres de garra que venceram o câncer de mama, e que juntas reconstruíram a autoestima. A luta contra os estigmas e contra o preconceito na sociedade não quebraram a união e nem a vontade de viver. Nesta edição também mostramos como o Centro de Valorização à Vida (CVV) vem atuando para dar suporte às pessoas com depressão e com pensamentos suicídas, um mal que vem vitimando mais de 800 mil ao ano. E como seria a realidade cultural e da cena cinematográfica que os inúmeros filmes “fakes” realmente fossem gravados? Claro, muitos deles adoraríamos ver na telas!A música é a cura para a alma. Mas é também uma tremenda ferramenta em busca da recuperação psicológica e até em tratamentos de ferimentos. Conheça mais sobre a musicoterapia e como pode nos ajudar. Como ensaio fotográfico, as imagens impactantes do Museu do Holocausto, em Curitiba. Isso e mais nesta edição do Marco Zero. Boa leitura! Equipe Marco Zero
O Marco Zero
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Expediente
Na Praça Tiradentes, bem em frente à Catedral, está o Marco Zero de Curitiba, que oficialmente é tido como o local onde nasceu a cidade, além de ser o ponto de marcação de medidas de distâncias de Curitiba em relação a outros municípios. Ao jornal Marco Zero foi concedido este nome, por conter notícias e reportagens voltadas para o público da região central da capital paranaense.
1o lugar MAR CO ZERO
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Aliana Machado
Qual o prejuízo que as “águas de março” trouxeram para você?
O personagem Pantera negra foi criado nos anos 60 Por Stan Lee e Jack Kirby
Larissa Oliveira
Imaginei diversas maneiras de começar esse texto. São tantas questões para falar... representatividade, preconceito, igualdade, cinema, conceitos, afrofuturismo, construção de mundo, história e várias outras. Mas é preciso organizar o pensamento para repassar a você o que descobri em minhas leituras. Partiremos do início... O personagem Pantera Negra foi criado nos anos 60 por Stan Lee, criador de personagens como Homem-Aranha, Hulk, Thor e outros queridinhos da moçada, e Jack Kirby, um dos mais famosos quadrinistas da Marvel. Porém, o Pantera não surgiu “do nada”. Assim como outros heróis do universo Marvel, o contexto político e social contribuiu muito para a criação de T’Challa, rei de Wakanda e identidade pública do Pantera. O preconceito que os negros sofriam (e sofrem) nos Estados Unidos serviu de inspiração para a dupla de ilustradores. No entanto, Pantera Negra foge do estigma de negro “coitado”. O herói é um nobre, herdeiro de um reino com uma tecnologia absurdamente avançada. O filme lançado em 2018 gerou uma comoção absurda. Prova disso é a bilheteria, que rapidamente bateu a casa de U$ 1 bilhão. E qual o motivo desse sucesso? A pergunta tem várias respostas. Primeiramente, a direção e o elenco. Ryan Cooglerm, diretor do longa, disse ter se inspirado em “Cidade de Deus” para criar Wakanda. Coogler conta que quando assistiu ao filme brasileiro,
sentiu-se em outro mundo, e buscou fazer isso com o Pantera Negra também para deixar o espectador imerso naquela realidade. O elenco, em grande maioria negro, fez com que as pessoas negras se vissem na tela do cinema. A representatividade foi um fenômeno que arrematou as salas de cinema. A representatividade não é apenas a relação entre a cor da pele do ator e do espectador. Vai além disso, pois tem a ver com o passado e com as relações de poder, principalmente, o Imperialismo (recorra às lembran-
Milhares de pessoas perderam a conexão com suas “origens”, como por exemplo seus sobrenomes. Tiveram o passado “apagado” pela escravidão e suas culturas foram quase dissipadas. ças das aulas de história). Milhares de pessoas perderam a conexão com suas “origens”, como por exemplo seus sobrenomes. Tiveram o passado “apagado” pela escravidão e suas culturas foram quase dissipadas. Atualmente temos fortes ligações com culturas como a grega (mesmo sem nos darmos conta), sua mitologia está em nosso dia a dia, seus deuses, arte, vocabulário, filosofia, arquitetura, etc. Mas ouvimos pouco sobre a
O jornal Marco Zero é uma publicação feita pelos alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter Coordenadora do Curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Professor responsável: Alexsandro Ribeiro
Diagramação: Alunos - Larissa Oliveira; Aliana Machado; Gabriel Mafra e Thays Polhmann Projeto Gráfico: Cíntia Silva e Letícia Ferreira
cultura africana, seus deuses são desrespeitados, tratados de forma preconceituosa. No entanto, o filme lembrou a esses espectadores que com muita luta e esperança seus antepassados continuaram com a cabeça erguida e continuaram mantendo acesa a chama da ancestralidade, da tribalidade, das representações da natureza, da ligação com o sobrenatural, dentre outras conexões. A estética da película é uma referência proposital ao afrofuturismo. O termo “afrofuturismo” ainda é pouco conhecido em nosso país, além disso, assim como o personagem dos quadrinhos, o movimento surgiu na década de 60. Mas foi apenas em 1994 que ganhou espaço na sociedade e atingiu o “patamar” de movimento cultural. O afrofuturismo é uma mistura de elementos futurísticos, ficção cientifica, misticismo we mitologia africana. Além da música e comportamento, este movimento cultural influenciou a música e o cinema, tanto que, a construção de mundo e a fotografia de Pantera Negra nos faz mergulhar na cultura daquela civilização. O que nos deixa encantados e surpresos é que ao mesmo tempo que existe o futurismo, há a tradição. Não é à toa que o filme fez tanto sucesso, pois ele deixa fluir temas complexos e densos de forma natural, não forçando os diálogos. Os que assistiram ao filme podem ter saído da sala do cinema com esperança de que o mundo está caminhando rumo a conscientização e respeito. Mas sabemos que esta (infelizmente) está longe de acabar. Mas lembre-se caro leitor Wakanda Forever! Uninter - Campus Tiradentes Rua Saldanha Marinho 131, CEP 80410-150 |Centro- Curitiba PR E-mail
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Telefones 2102-3377 e 2102-3380.
Em março deste ano as chuvas castigaram os curitibanos, com duas grandes enchentes e muito transtorno que atingiu milhares de cidadãos da capital paranaense. O Marco Zero foi às ruas perguntar quais foram os prejuízos para os curitibanos. Confira
“Na frente da minha casa, teve uma calçada que desmoronou nessas Wilhein últimas semaRicardo, 37 nas. A casa dos meus tios ficou destelhada por causa da chuva forte”. “Inundou a casa de uma amiga minha que mora no bairro CIC. Ela perdeu Mara geladeira, Coimbra, 64 móveis e mais um monte de coisas”. “Graças a Deus não fui prejudicada com as chuvas. O bairro onde Rosi Dalla moro, Santa Estela, 66 Felicidade, não foi muito afetado. Apenas os parques e praças foram inundados”. “Ficou tudo alagado perto da minha casa, no Santo Inácio. Tanto que tive Álvaro que desviar Andrade, 31 meu trajeto rotineiro e fazer caminhos alternativos. Nossa cidade está um abandono”. “Conheço várias pessoas que foram prejudicadas com alagamentos Georgina nas últimas seRibeiro, 58 manas. Alguns vizinhos meus perderam tudo em Rio Branco”.
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ESPORTE
Mercado em expansão, academias são frequentadas por menos de 5% da população Mesmo com a crise financeira dos últimos anos, indústria fitness dobra sua participação no mercado e movimenta bilhões no país Foto:Sérgio Aparecido
Cuidado com o corpo, melhora na saúde e no rendimento fisico estão entre os motivos que desencadearam aumento de público e de academias no país
Gabriel Mafra
Uma área profissional para explorar
O Personal Trainer Juliano Gallo, 30 anos, prática atividades físicas desde criança. “Sempre tive o hábito de praticar atividades físicas, tinha uma deficiência na respiração e a partir daí comecei a praticar, tinha oito anos” explica. Juliano confessa que quando
adolescente não tinha dimensão da amplitude das atuações na área profissional da educação física. “Não sabia que o esporte tinha esse lado profissional, mas entendia como era importante estar ativo. Como existe um certo preconceito, acabei indo para a área de exatas, trabalhei cinco anos com análise e desenvolvimento de sistemas por causa da remuneração. Acabei não me formando nessa área, e como sempre tive interesse na educação física iniciei a faculdade com 28 anos”. Hoje, no sexto período da faculdade, Juliano trabalha como personal trainer em uma academia, dá aulas de musculação e de corrida, além de trabalhar em um projeto dando aulas de natação na sua faculdade.
Saúde acima da estética
Mais que um corpo escultural, o principal benefício das atividades físicas regulares está na qualidade de vida e no combate a doenças. Para o personal trainer, no entanto, há diferenças entre atividades e exercícios físicos. “Eu pratico exercícios todos os dias, mas existe diferença entre atividades físicas e exercícios físicos. A atividade física pode se dizer bem simples, que é tudo o que fazemos com o corpo para atender as demandas diárias. Já o exercício impõe ao organismo se adaptar a uma nova condição” explica. Os benefícios de ser ativo vão além dos benefícios físicos, como explica o profissional. “Os benefícios são muitos, o que as pessoas
não costumam perceber é que o esporte ajuda as pessoas com a questão social também, sendo indicados para pessoas com quadros depressivos, isto por causa dos hormônios liberados em algumas modalidades como a endorfina e a dopamina. Melhora a coordenação motora, o reflexo, ajuda a prevenir quedas da população idosa melhorando o tempo de resposta do sistema motor. Gosto de ressaltar que o benefício da atividade física vai muito além
da estética. Na verdade, educação física e estética não tem nada haver. Hoje o mercado vende junto, mas há uma distorção imposta” conclui. Você sabia? - O modelo que se conhece de academia surgiu nos anos 80, até então, o mercado era voltado para o “halterofilismo”, voltado apenas para homens. - Também nos anos 80, a atriz Jane Fonda foi a pioneira em ginástica aeróbica, influenciando aos poucos as mulheres a entrarem neste mercado. Dados: Acad e IBGE Infografia: Marco Zero
O número de academias de ginástica mais do que dobrou no Brasil nos últimos sete anos, passando de 15 mil para 34 mil entre 2010 e 2017. Isso revela uma mudança de comportamento dos brasileiros, que na busca uma melhor qualidade de vida e bem-estar passaram a frequentar mais esse tipo de estabelecimento. A evolução, destacada pela Associação Brasileira de Academias (Acad), mostra ainda que o país é o segundo com mais academias no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 36 mil. Mas quando o assunto é quantidade de pessoas frequentando os ambientes, aí o país cai para a quarta posição, com 9,6 milhões de participantes. Nos EUA, esse número sobre para 57,2 milhões. Na sequência vem Alemanha, com 10 milhões e Reino Unido, com 9,7 milhões. Ao olhar para o rendimento dos estabelecimentos, aí o Brasil cai mais uma vez no ranking, aparecendo como décimo na lista do setor, registrando R$ 8,5 bilhões ao ano. No mercado estadunidense, a quantia é dez vezes maior, de R$ 91 bilhões. Os números dão conta de um cenário favorável para a prática esportiva no país. No entanto, segundo a Acad, apenas 4% da população frequenta academias. Olhando apenas para as grandes cidades,
esse número sobe para 15%. Os percentuais são alarmantes, ainda mais quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que mais de 60% dos brasileiros estão acima do peso. Os dados mostraram ainda que a obesidade acometia um em cada cinco brasileiros de 18 anos ou mais em 2013 (20,8%), sendo que o percentual é mais alto entre as mulheres (24,4% contra 16,8% dos homens). Funcionária de uma academia no bairro Bacacheri, em Curitiba, Brenda Eduarda Rocha fala que o mercado está bom, mas já esteve melhor. “Em 2014 chegamos a ter 1,3 mil alunos ativos na academia. Mas com a crise, hoje são cerca de 600”, diz. A perda de interesse também é um dos motivos de algumas pessoas desistirem. Para chamar a atenção do consumidor, as academias investem em várias modalidades. Na academia de Brenda não é diferente. “Aqui, além da musculação também temos aulas de luta, ginástica, treinamento funcional, bike spinning, pilates solo e aulas especiais para crianças”, enumera.
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COMPORTAMENTO
Aventuras em uma casa sobre rodas Deixar uma casa ou um apartamento em um endereço fixo para levar a vida em movimento. Você conseguiria? Então conheça esta realidade de alguns brasileiros que fizeram a troca e não se arrependem nem um pouco da decisão Foto: Mariana Maciel
A casa é sobre as rodas e o quintal é o mundo. Onde parar é só abrir a lona, colocar as cadeiras para fora, e contemplar o ambiente.
Mariana Maciel
Trocar um apartamento por um veículo. Parece absurda a ideia. Mas e se o veículo tiver cozinha, sala, banheiro e quarto, aí fica mais fácil de compreender a permuta. A corretora de imóveis Kátia Fatinan-
zi e o técnico em eletrônica, Fabio Fatinanzi, fizeram isso em 2017. Deixaram a vida em condomínio para conquistar o mundo em um motorhome. O nome já dá a dica. A junção de casa e motor, uma espécie de veículo-casa. A vida nova, segundo eles, custou R$ 120 mil. “Era a oportunidade de conhecer o mundo, com mais liberdade e gastando menos, e viajando mais Foto: Arquivo Pessoal
vezes durante o ano, já que trabalhamos em empresas com horários fixos”, aponta o casal. A mudança, no entanto, não foi repentina. O casal já vinha “namorando” o veículo desde 2011, quando conheceram o primeiro motorhome numa exposição de carros antigos em São Paulo. De lá pra cá, a ideia venho amadurecendo. Quanto mais pesquisavam sobre o assunto, mais encantados ficavam com a possibilidade de viver com mais qualidade de vida. “O fato de termos nos preparado por anos, para viver em um motorhome, fez com que eliminássemos várias dívidas, nos tornássemos menos consumistas, mais econômicos e conscientes do que realmente é necessário comprar, ou seja, nos trouxe vantagens que nunca paramos para pensar antes de nossa decisão’’, disse Kátia.
Vivendo em movimento Como coração de mãe: espaço interno é otimizado e amplo
Naquela noite de sábado Kátia estava na sala, apreciando uma taça de vinho enquanto assistia um epi-
sódio de Os Simpsons. No quarto ao lado, o marido dormia. Soltos pela casa estavam os cachorros do casal, Cacau e Thor, que perambulavam de cômodo a cômodo após um dia de corridas e brincadeiras. Parece
Mas para quem acha que tudo é diferente ao viver sobre rodas, saiba que há muita coisa similar às casas convencionais, como custos e manutenção. Exemplo disso foi o que aconteceu naquele mesmo sábado. Um vento forte estragou parte do toldo, que para uma casa de 22 m² é parte fundamental para garantir espaço de convivência e de lazer. Fabio passou o domingo resolvendo a situação, como alguém que em uma casa fixa cuida do telhado da garagem.
Era a oportunidade de conhecer o mundo, com mais liberdade e gastando menos, e viajando mais vezes durante o ano, já Como é o banheiro? Há uma caixa d’água no teto que trabalhamos do motorhome, e o casal nem semem empresas com pre precisa ligar a bomba. A água desce para as torneiras por causa horários fixos
uma simples rotina, normal para várias famílias no país, se não fosse o fato de que no dia anterior a casa estava estacionada há trinta quilômetros de onde estavam naquele momento. A mesma casa, em um cenário diferente a todo o momento. Até a vizinhança muda sempre.
da gravidade. Porém, quando é o ‘’número 2’’ a bomba é sempre necessária: para não haver risco de ficarem detritos na bacia (que é de plástico) ou no encanamento. O casal também liga a bomba para tomar banho e enxaguar a louça, momentos em que precisam de água com pressão e volume.
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Incipiente no Brasil, vida sobre rodas tem história fora do país
Nem precisa conhecer pessoalmente os Estados Unidos para saber que o motorhome é muito utilizado lá. Filmes, séries e desenhos dão conta de retratar a relação daquele país com o estilo de vida quase nômade. São mais de 8 milhões de pessoas vivendo ou em motorhomes ou em trailers. O número, informado pela Escapees Organization, é maior que o da população da cidade do Rio de Janeiro. Nada comparado aos 3,8 mil que vivam aqui no país, conforme apontam os dados da Associação Brasileira de Campis. Não são apenas números diferentes, mas também legislação e mercado. O auditor-fiscal de Curitiba, Rodrigo Maciel, resolveu juntar o amor pela Europa e por motorhome. Em 2014, juntou as malas e foi viver uma aventura sobre rodas no velho continente. Hoje, dono de uma “Kombihome” aqui no Brasil, faz um paralelo entre como é o estilo de viva nos dois continentes.
O planejamento da viagem na região austríaca estava regrada, hora a hora, minuto a minuto fechado para que a aventura e as experiências fossem ampliadas ao máximo, afirma Maciel. A viagem começou em uma cidade próxima à cidade de Munique, uma das mais populares da Alemanha, após a capital. De lá, partiram para tomar um café no Castelo de Neuschwanstein, passando pela Áustria no Palácio Linderhof e por fim, chegando à cidade de Innsbruck, no oeste austríaco, conhecida pela paisagem dos alpes. E aí, se animaria em embarcar numa “trip” dessa? Com essas cidades e este roteiro, dá até vontrade de encarar um “mochilão”.
“Lá [na Europa] há muita estrutura disponível para viagens assim, com ampla oferta de aluguel de motorhomes por preços acessíveis. Tem também muitas possibilidades de locais para estacionar e ótimo sistema de transporte público para a realização dos passeios nas cidades de parada. É uma oportunidade de conhecer o interior dos países sem preocupação com reservas de hotéis, sem precisar fazer, desfazer e carregar malas em cada local”.
Barraca, trailer ou motorhome: saiba por onde começar
Comprar logo um motorhome ou ir aos poucos se inteirando da vida em constante mudança? Para o bancário Henrique Espínola, dá para ir com calma. Hoje aos 62 anos, Espínola fala com ar de quem já passou por vários tipos de equipamentos. Antes de comprar um carro-casa, teve barraca para acampar, depois um trailer e na sequência um motorhome. “A decisão de acampar, nas opções de barraca, trailer e motorhome, se deve ao fato de viajar com a família, com um custo bem inferior ao de um hotel, onde tenho gastos de hospedagem (no apartamento), alimentação diária e, desconhecimento de quem está hospedado ao lado. O contato com as pessoas no camping tem mais aproximação que num hotel, fa-
Comodidade, custo e conforto devem estar na balança na hora de decidir o melhor tipo
zendo refeições em conjunto e trocando experiência de campings e outros passeios”, afirna Espínola. Com a barraca, o bancário teve que levar várias coisas para compor a hospedagem: fogão, geladeira pequena, lona sobre toldo, lona piso, colchonetes e várias outras coisas, que ocupam espaço. Além disso, tem uma segurança limitada pois é só rasgar a lona que qualquer um pode ingressar no interior
da barraca. Segundo ele, no trailer e motorhome a comodidade é superior. Outra vantagem é que com os veículos, pode-se estacionar para pernoite em postos de combustíveis, junto aos caminhoneiros, o que aumenta a segurança.
Qual o custo mensal?
Com pouco mais de dois mil reais ao mês, é possível pagar a estadia e a estrut ura de permanência de
um motorhome. Os dados, da tabela de gastos do casal Fabio e Kátia Fatinanzi, já incluí gastos com alimentação. Comparado à média de locação de imóveis em Curitiba, a soma de custos de estacionamento, luz e água é 50% mais barato. De acordo com o site especializado em locação, Imóveis Curitiba, a média na capital é de R$ 950,00 o aluguel de um apartamento. Isso sem contar condomínio e taxas. Roteiro e mapa: Arquivo Pessoal
“Dois coelhos de uma só vez”. Veja como foi a rota de viagem de Rodrigo Maciel, que em 2014 percorreu o Velho Continente em uma aventura sobre rodas:
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Foto: Mariana Maciel
Todas as fezes vão para uma caixa acoplada embaixo da Silibrina. Para esvaziá-la acoplam uma mangueira que tem no ônibus para uma fossa ou caixa de esgotos externa e abrem uma válvula. O esgoto é biodegradável: usam um produto chamado FossaKlin no vaso sanitário.
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ESPECIAL Fotos: Cláudia Freire
A força das mulheres que venceram o câncer de mama Veja as histórias de união e reconstrução da autoestima de mulheres sofreram remoção das mamas na luta contra o câncer
Maria de Fátima Oliveira descobriu que tinha câncer de mama. Operação retirou 26 nódulos dos seios.
Cláudia Freire
tive câncer nas duas mamas, fiz a cirurgia das duas e agora, graças a Deus eu tô curada”.
O risco da depressão e ansiedade
A luta para chegar à cura, revela Maria, foi dura. Sobretudo para enfrentar o estigma da mutilação, além de outras mudanças drásticas
no corpo acarretadas pelo tratamento. “Você vê que o teu corpo não é mais o mesmo. Eu até quis ficar meio depressiva. Porque você passa a mão e tá tudo amortecido. Teu corpo tá diferente, você sente diferente. Isso mexe bastante com o seu psicológico”. Contudo, a zeladora afirma que o que mais a incomodou foi a rejeição das pessoas. “Eu enfrentei
muito preconceito, muito preconceito. Se você entrar no ônibus com a sua carteirinha, você tem preferência nos assentos. Você precisa daquele banco, ainda mais se estiver debilitada pelo tratamento. Mas a turma só falta entrar lá e te tirar pelo braço, porque você entrou na frente e tomou o banco. Tomei de ninguém, é o meu banco preferencial. Preconceito por você
Mulheres mortas por neoplasia maligna da mama - 1997 e 2016 Dados: DataSUS Infografia: Marco Zero
“Era uma sementinha, eu sentia uma coisa”, puxou na memória a zeladora de condomínio, Maria de Fátima Oliveira, os primeiros indícios de que sua saúde não estava bem. “A minha irmã dizia que não doía, até porque ela já teve. Essa sementinha começou a crescer semanalmente”, finaliza. Maria estava com câncer de mama. O diagnóstico veio meses depois, quando os nódulos começaram a incomodar. A luta para vencer não apenas o mal, mas também o preconceito e retomar a autoestima seria longa. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), este é o tipo mais comum de câncer entre as mulheres brasileiras e o mais frequente na região sul. Mais de 58 mil casos foram diagnosticados nos últimos dois anos em todo o país. Em 2013, segundo dados ins-
tituto, o câncer de mama vitimou mais de 14 mil mulheres. O mesmo poderia ter ocorrido com Maria, caso não tivesse diagnosticado a tempo e feito operação para a retirada dos nódulos. “Eu fui para fazer a biópsia e já me operaram. Tinham 26 nódulos malignos de um lado só”, afirma. Michelle Bornemann, 37 anos, também fez a retirada dos nódulos. Após o disgnóstico, aos 32 anos, Michele fez mastectomia radical e mais um ano de quimioterapia. Mesmo com a retirada do tumor, ainda deve permanecer em tratamento via oral pelos próximos dez anos. “Eu acho que para todas que recebem o diagnóstico de câncer é a mesma coisa. A gente sente como se abrisse um buraco e você caísse dentro. E daí vem as opções, ou você se levanta e segue em frente, ou você se deixa levar por esse buraco”. No caso de Maria, o tratamento durou dois anos entre a retirada e o resultado da biópsia que identificou que não corria mais risco. “Eu
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Dados: DataSUS Infografia: Marco Zero
das pacientes, e 17,9% das mulheres preencheram todos os critérios para o transtorno do estresse pós-traumático. A presença de dor e de metástases aumenta a prevalência de depressão maior em pacientes com câncer. O risco de depressão é maior no primeiro ano após o diagnóstico do câncer, principalmente em pacientes jovens. Os pensamentos suicidas foram detectados em 13% dos pacientes.
A imagem e a estética em jogo
O tratamento para combater o câncer de mama é demorado e cansativo. É preciso aprender a conviver com os efeitos colaterais da medicação, que é extremamente forte. A cor da pele já não é a mesma, podendo inclusive aparecer manchas no rosto. O inchaço surge gerando um aumento de peso e muitas das vezes as mamas precisam ser retiradas. E é preciso se despedir de algo pelo qual as mulheres zelam muito: o cabelo. Roseli Aparecida Hoffmann descobriu que estava com câncer aos 32 anos, em 2017. Tinha o cabelo comprido, mas resolveu raspá-lo antes que caísse todo por conta própria. “Tomei essa decisão porque conforme eu passava os dedos vinha na mão os fios de cabelo e aquilo impactava demais na minha autoestima”. Ela relata uma experiência de quando ficou careca. “Eu experimentei usar lenço uma vez só. Peguei um ônibus e fui para o centro. Não consegui chegar no centro. Desci no meio da estação e comecei a chorar. Me deu uma crise de choro, porque eu
não sei se era impressão minha, mas eu acho que não. Todo mundo estava me olhando e aquilo começou a mexer demais comigo. Eu não consigo sair de casa sem a peruca”. Roseli diz não conseguir se olhar no espelho desde que as mudanças ocorreram. “Eu fujo, evito, porque toda vez que eu me vejo sem peruca no espelho eu não me reconheço. Eu não me vejo, eu vejo um monstro”, diz ela respirando fundo para segurar o choro. Em relação ao marido, ela diz ser bem motivada por ele, o que não acontece com frequência com outras mulheres. “Ele tenta ser forte, eu acho que para me passar essa força. Ele sempre fala ‘você vai sair dessa’. Eu até brinquei ‘Se você não me largar agora, não vai me largar nunca mais, né?’. Ele riu e me chamou de boba”. Karina Lacerda, que tem câncer de mama e de ovário, descobertos quando ela tinha 36 anos, afirma que sofreu diversas alterações em sua imagem. “Eu não consigo lembrar de quem eu era. Precisei trabalhar muito isso na minha autoestima”. Durante o tratamento, manter ou começar relacionamentos gera apreensão, devido a parceiros que não conseguem lidar com as dificuldades que surgem. Karina tinha um relacionamento de cinco anos quando descobriu a doença, mas a relação não resistiu ao tratamento. “Hoje eu sei que ele não foi forte o suficiente para ficar comigo. Assim como eu tive medo de morrer, acredito que ele
Grupo de apoio é a recomendação da psicóloga Alessandra de Freitas
também tenha tido esse medo. Eu não o culpo.”
Encontrar apoio para enfrentar a doença
Como seguir a vida após a remoção dos seios, a queda de cabelos com o tratamento e o preconceito? Para a zeladora Maria de Fátima, buscar ajuda profissionais é fundamental para ajudar a enfrentar a recuperação. “Hoje em dia, raramente um tratamento pós-câncer te encaminha para um psicólogo e isso é fundamental. Qualquer pessoa diagnosticada leva um choque e pensa que vai
morrer. Não adianta, a pessoa vai pensar isso aí, por mais que não demonstre. Lembro que quando descobri, minha garganta secou. A impressão que eu tive foi de que eu nunca mais ia conseguir falar na minha vida”. Buscar apoio nas histórias e nas forças de outras mulheres que enfrenta o câncer ou que está em fase de recuperação. Para a psicóloga Alessandra de Freitas, este é um passo fundamental, que é o de interagir com grupos de apoio e ouvir experiências de pessoas que já passaram ou ainda passam pelo mesmo. “Você acaba se fortalecendo vendo a experiência de Fotos: Cláudia Freire
estar careca”. Os comentários e a reação das pessoas tiveram um impacto muito grande para a zeladora, cujas memórias de cenas em que sofreu preconceitos parecem vívidas, sobretudo nas histórias que relata. “Eu já tinha sofrido na minha vida preconceito racial. Sofri muito. Mas esse dói mais, porque eu amo a minha corzinha, então tiro de letra. Mas a enfermidade, a pessoa acha que só o vizinho vai ter problema de câncer e que você não corre nenhum risco de passar por aquilo. Eu tava com a máscara no ônibus para eu me proteger, porque a gente perde a nossa imunidade. E as pessoas achavam que eu tinha alguma doença infecciosa. Todo mundo ficava bem longe de mim, olhando. O preconceito é muito triste”. As mudanças no corpo, a intensidade do tratamento de quimioterapia, a rejeição, a mutilação inúmeros outros fatores podem criar um ambiente psicológico propício para depressão e ansiedade, é o que revela um estudo divulgado pelo Inca. Segundo o instituto, as chances de prevalência de ansiedade e depressão é maior entre pessoas em tratamento contra o câncer, cerca de 31,33% e 26,18%, respectivamente. “O câncer de mama é o tipo com maior prevalência de comorbidades psiquiátricas”, e por isso, revela o estudo, aparece com maior percentual de incidência de casos de ansiedade e depressão. Na mesma pesquisa do Inca, os sintomas de estresse traumáticos associados ao diagnóstico de câncer estavam presentes em 24,5%
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Fotos: Cláudia Freire
Faixa etária das mulheres mortas por neoplasia maligna da mama - 2010/16
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O câncer de mama é o tipo com maior prevalência de comorbidades psiquiátricas”, e por isso, revela o estudo, aparece com maior incidência de casos de ansiedade e depressão
Michelle Bornemann: da luta ao câncer à criação de um grupo de apoio às mulheres em recuperação
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outras pessoas. Quando você passa por isso sozinha, você não tem um exemplo no qual se espelhar”, aponta a psicóloga. E foi isso que Michelle Bornemann fez, sobretudo incentivada pelas enfermeiras que buscavam a motivar para conversar com outras mulheres em tratamento. Aos poucos foi conhecendo outras histórias, compartilhando experiências, e em pouco tempo já era administradora de um grupo de um grupo de Whatsapp dando dicas para aquelas que não viam saída. Nesse período, sem que ela percebesse, já nascia um tipo de instituição para ajudar mulheres que combatem o câncer de mama,
e hoje a iniciativa conta até com um espaço físico chamado AutoEstima. Michelle abriu esse espaço para ter encontros frequentes com mulheres que precisam enxergar que é possível se sentir forte e bonita durante o tratamento contra o câncer. “Eu procuro sempre fazer com que elas enxerguem a beleza delas do jeito que estão agora”.
Aprender a enfrentar o preconceito e retomar a vida
Com grupo de apoio, na religião, com atividade física, atuando em ações beneficentes, viajando,
estudando, e por aí vai. A lista de ações ou formas de buscar o retorno às ações diárias da vida após o tratamento ou durante a luta contra o câncer é interminável. Em todas elas, é indiscutível a necessidade de se conectar com o próximo, de trocar experiências. Michelle, que hoje encabeça um grupo de apoio às mulheres com câncer de mama, conseguiu na família o apoio para vencer as dores e reconstruir a sua autoestima e sua confiança em sua aparência. “A minha preocupação maior era estar viva, independente de como ia estar”. Hoje, após a retirada das mamas, colocou prótese, mas por escolha dela ainda não refez a auréola e nem o mamilo. Resolveu raspar a cabeça um mês antes de começar a quimioterapia, em um churrasco com a família participando deste momento. “Cada um cortou uma parte e depois raspou um pouco. Um momento diferente, até por causa dos meus filhos, que eram pequenos na época. Para eles entenderem um pouco mais e encararem aquilo com naturalidade e não com sofrimento”, comenta, ressaltando a importância da família no suporte ao momento importantíssimo no processo de aceitação. Voltar ao trabalho conversar com as pessoas e retomar à antiga rotina foi parte do tratamento psicológico de Maria. “Eu até voltei a trabalhar. Estou muito feliz, porque a melhor terapia do ser humano é o trabalho, não adianta. Eu sou zeladora de condomínio residencial, então, assim, você lida com o povão o dia inteiro. Enfim, não importa a profissão de cada um. Eu acho que o trabalho é a tua terapia, porque você tá ocupando a sua mente. Você vê pessoas, você conversa, foca no seu trabalho. Você vai ter tempo de pensar besteira? Claro que não!”, afirma. Vencido o mal e de volta à ativa, Maria se sente feliz com sua aparência. “Meu cabelo nasceu mais cacheado do que era antes, a sobrancelha não caiu”
Previna-se contra o câncer de mama! De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), estima-se que 28% do risco de a mulher desenvolver câncer de mama pode ser reduzido com controle do peso corporal e cuidado para não atingir a obesidade, por meio de alimentação saudável e a prática de atividades físicas. Evitar bebidas alcoólicas e amamentar também são recomendações básicas para prevenção. É muito importante que a mulher se atente ao exame clínico das mamas, buscando realizá-lo a cada dois anos a partir dos 30 ou 35 anos. O autoexame também é fundamental e pode ser feito a partir dos 20 anos. A chance de cura é muito maior se o câncer for descoberto no início. Observe-se!
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Ilustração: Marco Zero
Fotos: Cláudia Freire
Roseli Aparecida enfrentou um grande problema com a aparência
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SAÚDE Foto: Sérgio Junior
A luta contra os próprios tormentos: dados alarmantes revelam um mal que pouco debatido na sociedade, o suicídio.
Sérgio Júnior
Cansado após ficar quase 44 horas trabalhando, o único pensamento de OldCrazy (nome fictício), como ele prefere ser chamado, era de que não conseguiria chegar a tempo para ver o seu menino. Tinha ficado quase dois dias trabalhando para poder levar o filho a um passeio. Afinal, após a separação podia vê-lo apenas nos fins de semana. Foi depois de pensar assim que ele teve vontade de fazer algo que não imaginava havia muito tempo. “Senti-me sozinho, aquele sentimento de perda que tinha quando
meu pai morreu parecia que tinha voltado” diz. Logo após de ter esses pensamentos, novamente o Siate recebeu uma chamada. Um motorista tinha colidido o carro contra um poste na BR-376, na região de Ponta Grossa, sentido Curitiba. Diagnosticado com depressão e bipolaridade, OldCrazy tem um histórico de maus-tratos, sofrimento e humilhação. Após sofrer anos seguidos nas mãos de seus tios e tias, e depois de perder seu pai quando era jovem, ele tinha a sensação de que o suicídio era a única solução para os seus tormentos. Hoje, aos 46 anos, ele já não pensa que esse é o único caminho possível. No entanto, há uma legião de pessoas que ainda pensam da mes-
Mortes por suicídio por sexo - 2011/16
Dados: DataSUS Infografia: Marco Zero
ma forma que OldCrazy antigamente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em torno de 800 mil pessoas cometem suicídio a cada ano no mundo. É uma guerra silenciosa que ano após ano tira a vida de uma população com quase o dobro de pessoas que vivem em Londrina (PR). Dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que a prática do suicídio aumentou em 2011 e 2015 no Brasil, sendo a quarta causa de mortes entre jovens de 16 a 29 anos. Em média 11 mil pessoas tiram a própria vida por ano no país, sendo que 65% dos óbitos desta faixa etária são por motivos externos (violência urbana e acidentes).
Rastros de dor
As razões de quem tira a própria vida têm fundo emocional. Segundo a psicóloga Daniela Brites, as situações podem ser as mais variadas, geralmente causadas pela dor emocional ao extremo, levando a pessoa a acreditar que a única forma de amenizar a dor é com a prática do suicídio. Mas o suicídio nunca é a melhor alternativa, pois também deixa um rastro de dor para quem fica. A depressão pode contribuir para um estado de maior desorganização e desconforto emocional, dificultando a capacidade para encontrar a saída em situações adversas do dia-a-dia. A ajuda de um profissio-
Tentativas de suicídio - 2011/16
Dados: DataSUS Infografia: Marco Zero
nal é imprescindível nesses casos, com a psicoterapia e com as sessões de psiquiatria em conjunto ameniza e vai aos poucos fazendo a pessoa perceber que não está sozinha. No mundo, mais de 300 milhões de pessoas sofrem com a depressão, segundo o relatório global divulgado pela OMS. Embora existam tratamentos para a depressão, menos da metade dos afetados no mundo recebem o tratamento adequado. Em alguns casos, o que dificulta é a falta de informação, recursos e de profissionais capacitados.
Um Centro que salva vidas
Fundado em 1962 em São Paulo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica. Reconhecida como de utilidade pública federal em 1973, presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e de prevenção
ao suicídio para todos que precisam, sob total sigilo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 90% dos casos resolvidos são através de tratamentos realizados por associações e centros de ajuda. O trabalho no CVV é realizado de forma voluntárias e quem estiver interessado em fazer parte dessa ação não precisa ter qualquer formação acadêmica. Só é necessário passar por um treinamento que tem de ser renovado a cada seis meses. Em torno de duas mil pessoas em 18 estados e no Distrito Federal fazem esse atendimento. A ONG realiza mais de um milhão de atendimentos por ano. Além de lidar com casos específicos, o CVV serve também como um ombro amigo. Em algumas situações, há ligações de pessoas que se sentem sozinhas e ligam para espantar esse sentimento. Em todos os estados em que o CVV funciona, o atendimento é 24 horas. Em Curitiba, o contato é pelo número 141 ou pelo site da ONG.
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COMPORTAMENTO
A arte em prol da saúde e do bem-estar A arteterapia e a musicoterapia trazem benefícios à saúde mental Foto: Instituto História e Vida
Alémde forte instrumento em terapias, a música conforta a alma e conecta as pessoas
Valéria Alves
Música de boas-vindas desejando paz e boas vibrações para quem chega atrasado. Assim é a recepção para quem participa da roda de conversa realizada pela psicóloga Marilda Alves. Através de sons, pessoas de qualquer idade podem trabalhar o seu interior e melhorar sua qualidade de vida. Usada desde meados do século passado, na recuperação de soldados feridos durante a Segunda Guerra Mundial, a musicoterapia tem apresentado resultados positivos nos tratamentos de saúde, e vem se consolidando com um tratamento efetivo. Em sua clínica, Marilda emprega diariamente. “Muitas vezes eu pergunto se tem alguma música que tem ligação com o momento da pessoa, que lhe chama atenção ou que goste de ouvir”, diz. O tratamento é indicado para todas as pessoas que tenham interesse no desenvolvimento ou tenham necessidades motoras, psicológicas, físicas, sociais entre outras. Hoje, entre as principais técnicas estão a improvisação musical, a composição, a audição e a
recriação, porém não é necessário ter conhecimento sobre música para participar. O tratamento está presente em hospitais, ONGS, escolas, instituições para idosos, clínicas de reabilitação e em outros lugares, com o objetivo de tratar e também prevenir problemas de saúde mental. Na empresa de assessoria Acreditar e Compartilhar a musicoterapia é usada em várias ações e sempre aparece nas rodas de conversa e de palestras. Especializada em desenvolvimento de profissionais e organizações públicas e privadas da área social, a empresa foi a porta de entrada de Marilda para outro projeto de ação social, chamado Cantinho da Misericórdia, em que a musicoterapia é um instrumento no acompanhamento e conversas com moradores em situação de rua e usuários de drogas. “A música me traz uma sensação muito boa, me deixa muito feliz cantar lá”, afirma um dos participantes do projeto, que abre as portas para a ação social às sextas-feiras, pouco antes do horário do almoço. Nas rodas de conversa, os participantes têm a possibilidade de criarem suas próprias músicas,
adicionando palavras às músicas já existentes, e expressando seus sentimentos, suas angústias e situações. “Vemos quando a música vem da própria pessoa. É muito profundo e eles gostam muito, Isto chama a atenção do pessoal de rua e tem um efeito profundo na estima e para a paz de espírito”, conta a psicóloga. Além dos dois projetos, Marilda já participou de uma instituição onde idosos contam histórias, e em forma de conto de fadas, essa história é contada para crianças em situação frágil. A criança faz um desenho, uma música ou poesia
relacionada a história e a devolve para o idoso. O projeto, chamado Ouvir e Contar, integra as ações da ONG História Viva. A dança, música, teatro, fotografia e pintura também são usados para tratamento na arteterapia. De acordo com Cleonice Soares, presidente da Associação Paranaense de Arteterapia (APAT), o objetivo é promover aos pacientes/ participantes meios de expressão, reflexão e organização de suas emoções, motivações e observação crítica da forma como a pessoa interage em seu mundo. O que difere a arteterapia da musicoterapia é que uma é focada somente em música, enquanto outra abrange outros tipos de arte. A arteterapia é recomendada para autoconhecimento e expressão, mas também para tratar doenças mentais. Segundo informações da APAT, fazer arte e escolher materiais, cores, estilos e texturas, por exemplo, contribuem para fortalecer a autonomia e a dignidade. “Estes podem ser fatores de importância primordial na adoção, manutenção e fortalecimento de comportamentos saudáveis e sentimentos positivos em relação a si mesmo, favorecendo a recuperação da saúde”, afirma Cleonice.
Musicoterapeuta: uma profissão A formação do musicoterapeuta é realizada através de uma graduação de terceiro grau com em média quatro anos de estudos. No Paraná o curso é ofertado na Universidade Estadual do Paraná (Unespar). O profissional passa por disciplinas da medicina, psicologia, música, filosofia, entre outras matérias relacionadas a área. Já para se tornar um arteterapeuta é preciso ter o terceiro grau completo e cursar uma especialização ou formação em Arteterapia que siga os princípios curriculares estabelecidos pela União Brasileira de Associações de Arteterapia (UBAAT). É necessário também obter o registro profissional através da Associação Regional ou Estadual de Arteterapia. No Paraná, especificamente na cidade Curitiba, ainda existem poucas ações na área de arteterapia. Foi em 2016 que a Associação Paranaense de Arteterapia conseguiu ser reconhecida pela UBAAT. Há em média 40 arteterapeutas associados e cerca de 10 ateliês.
Vemos quando a música vem da própria pessoa. É muito profundo e eles gostam muito, Isto chama a atenção do pessoal de rua e tem um efeito profundo na estima e para a paz de espírito
Foto: Instituto História e Vida
Muitas vezes eu pergunto se tem alguma música que tem ligação com o momento da pessoa, que lhe chama atenção ou que goste de ouvir
Histórias infantis e música integra uma das ações do instituto História Viva junto aos hospitais
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CRÍTICA Histórias de“quase” filmes Foto: Pixabay
@TÁ NA WEB Aliana Machado
Larissa Oliveira
Como seriam nossas memórias ou bagagem cultural se tais obras cinematográficas tivessem vindo a cabo? Quem sabe um dia tenhamos a oportunidades de assisti-los.
Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, foi assassinada a tiros no dia 14 de março, no Rio e Janeiro, causando revolta e indignação por boa parte da população brasileira. Nascida no dia 27 de julho de 1979, Marielle foi uma socióloga, ativista, feminista e totalmente a favor dos direitos humanos. Vereadora pelo PSOL, foi a quinta mais votada na capital do Rio de Janeiro. Liderança das comunidades cariocas, Marielle denunciava frequentemente abusos de autoridade dos policiais contra a população carente e desaprovava atitudes da Polícia Militar. Até o fechamento desta edição o caso de seu assassinato não solucionado.
O homem que mudou o universo Foto: Divulgação
Stephen William Hawking faleceu no dia 14 de março, com 76 anos. Aos 21 anos, o jovem cientista foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), mal que paralisa os músculos, sem atingir funções cerebrais. A doença, cuja cura ainda não foi encontrada, não impediu de Hawking ser um dos mais consagrados cientistas contemporâneos. Ele foi um físico teórico, doutor em cosmologia, diretor de pesquisa do Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica e fundador do Centro de Cosmologia Teórica da Universidade de Cambridge. Hawking também foi escritor de best-sellers, ganhou dezenas de prêmios, títulos e medalhas. A humanidade sentirá falta de sua genialidade!
Essência Lollapalooza Lollapalooza é um festival de música que ocorre anualmente em diferentes países. Formado por diversos gêneros como, por exemplo, heavy metal, rock alternativo, punk rock Grunge, e bandas independentes, foi criado em 1991 pelo cantor Perry Farrell e ficou um intervalo de 1997 a 2003 sem sua execução. A palavra Lollapalooza é uma expressão do inglês americano que significa “uma pessoa, vento ou algo extraordinário, uma situação ou exemplo de alguma coisa excepcional”. Levando em conta de como ele era, hoje o festival tem um público totalmente diversificado e se tornou um evento para bandas desconhecidas de todos os gêneros. Foto: Divulgação
Diversas vezes fiquei pensando sobre realidades alternativas e Teoria das Cordas. Seria incrível ter a oportunidade de saber o que aconteceria se tomássemos “outra” decisão em situações “definitivas” de nossa vida. Abrindo assim um leque de opções de uma nova existência. Papo de lunático né? Mas não desista ainda, tudo vai ficar mais claro. Deixando de lado as teorias e focando nossa conversa no cinema: e se os filmes que mudaram a história da sétima arte nunca tivessem sido lançados? Há mais ou menos duas semanas, li que seria lançado um filme sobre a Caverna do Dragão. Na hora, fiquei empolgada. Mas o frenesi começou a passar, e aí achei que tinha algo errado. Sim, infelizmente descobri que se tratava de uma fake news. O sentimento de nostalgia me fizera desejar que a notícia fosse verdade. Gostava muito de assistir o desenho e, quem dera poder depois de adulta rever aqueles personagens na telona. Isso ficou martelando na minha cabeça...quais outros filmes não foram produzidos? Qual seria o impacto deles para a indústria cinematográfica? Quais ideias não viram a “luz do sol”? Pesquisando descobri que diversas histórias e roteiros foram abandonadas e simplesmente deixadas de lado pelos estúdios, o motivo principal é o dinheiro. O primeiro da lista é “Superman Lives”, do diretor Tim Burton. Devido ao sucesso do filme Batman (1989), Burton era o
nome certo para dirigir um filme do homem de aço que, teria Nicolas Cage no papel principal. Mas o roteirista Kevin Smith foi afastado do projeto, e tudo desandou. Irônico ou não, o filme não saiu, mas em 2015 foi lançado um documentário chamado “A morte de Superman Lives. O que aconteceu?”. O foco era justamente contar os bastidores da produção e os motivos de desistirem do filme. Laranja Mecânica, O Iluminado e 2001: Uma Odisseia no Espaço fazem parte do “currículo” do famoso diretor Stanley Kubrick, e são considerados obras de arte do cinema. Outro grande filme que poderia estar nesta lista é “Napoleão”, uma biopic na qual Kubrick se dedicou a vida toda. Após ler, estudar e pesquisar diversos detalhes da vida do líder francês, o diretor já tinha tudo programado e até conseguiu 40 mil soldados da Romania para fazer figuração nas cenas de batalha. Infelizmente, Kubrick não realizou esse sonho. Por causa dos altos custos a produtora “Metro Golwyn Mayer” decidiu cancelar esse projeto ambicioso. Esses (não) filmes, apesar de ficarem apenas no mundo das ideias, geraram materiais como histórias em quadrinho, documentários, livros e vários outros produtos culturais. Como seriam nossas memórias ou bagagem cultural se tais obras cinematográficas tivessem vindo a cabo? Olha, o futuro a Deus pertence, afirma o dito popular. Quem sabe um dia tenhamos a oportunidades de assisti-los. Por estas e outras que, mesmo sabendo que era apenas uma Fake News, resiste no fundo uma esperança de que alguém ainda produza uma versão para as telonas do clássico A Caverna do Dragão.
Marielle presente, hoje e sempre! Foto: Divulgação
“Não adianta apenas o diretor idealizar um filme incrível, a produtora também tem que comprar a ideia”
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
Museu do HOLOCAUSTO Fotos e Texto: Thays Polhmann
É quase impossível não se emocionar ou sentir um calafrio na atmosfera escura do Museu do Holocausto. As vívidas memórias expostas nas fotos e dezenas de itens de vítimas da crueldade humana nos leva ao cenário de um dos mais cruéis episódios do século passado. Inaugurado em 2011
em Curitiba, o museu recebe em média 700 pessoas por semana. O rico acervo do museu, no bairro Bom Retiro, torna viva a memória das vítimas do Holocausto, denunciando para a sociedade o sofrimento causado. Um alerta sempre presente para que nunca mais se repita.
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