Especial Freguesia de Fonte
Fonte de Angeão Gândara Parada de Cima Rines
de Angeão Ed. 248 de 25 janeiro 2012
«Fonte de Angeão a minha freguesia» A Junta de Freguesia de Fonte de Angeão saúda os seus habitantes bem como os seus emigrantes espalhados pelo mundo...
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II
Especial Freguesia de Fonte
de Angeão
Entrevista a Albano Gonçalves, presidente da junta de freguesia de Fonte de Angeão
Requalificação da traça arquitetónica «é a nossa marca enquanto gandareses» O final do ano passado trouxe duas boas notícias para a freguesia de Fonte de Angeão. Uma delas foi o início da construção do centro escolar das Gândaras, localizado junto do parque de merendas. Acredita que, após concluído, a freguesia ficará mais rejuvenescida com a presença de mais crianças e jovens?
irá dinamizar e melhorar muito a freguesia.
Sem dúvida alguma que fica, uma vez que vamos ter quatro freguesias dependentes desse centro escolar (Ponte de Vagos, Santa Catarina, Covão do Lobo e Fonte de Angeão). Portanto, vai ter um acréscimo de população. Não podemos esquecer que uma infraestrutura como esta traz professores, pais e funcionários. Trará muito movimento e dará a conhecer a freguesia aos que moram noutras freguesias vizinhas.
Eu acredito que sim. Embora nos baste morrer dez pessoas por ano para ficarmos logo com défice, visto que não temos natalidade que supere a taxa de mortalidade. Basta nascerem três ou quatro crianças, se morrerem dez, como tem vindo a registarse, ficamos logo com défice. Com certeza que, com a vinda destas duas infraestruturas e de prováveis radicações na freguesia, conseguiremos subir o número de habitantes. Mas também é preciso que o país melhore, caso contrário as pessoas veem-se forçadas a emigrar. Temos que ser otimistas de que as coisas não irão só melhorar para nós como em todas as freguesias.
Nos últimos anos, quantas escolas foram desativadas na freguesia? Perdeu duas escolas, a da Parada de Cima e a da Gândara. Neste momento temos poucas crianças, mas logo iremos ter mais, concentradas num só espaço, o que proporcionará melhor ensino e melhor relacionamento entre as crianças. A outra boa notícia é o arranque do Centro da Ciência e Cultura, a nascer na desativada escola da Parada de Cima. Com o financiamento que a autarquia conseguiu recentemente, perspetiva que esta “transformação” da antiga escola seja rápida? Segundo as informações que tenho da câmara, prevê-se que sejam efetuadas as obras rapidamente, mas isso já é dito há algum tempo. Agora, com o financiamento, cremos que as obras irão arrancar, embora estejamos em tempos de crise. A freguesia estava a necessitar destas duas infraestruturas para se tornar mais dinâmica? Sem dúvida alguma. Todas as infraestruturas que vierem para cá são para dinamizar a freguesia. E com estas duas prevemos dinamizar a freguesia, com a vinda de mais estudantes, seja em tempo letivo, seja através de visitas de estudo. Com estas duas novas obras concluídas e em funcionamento, a freguesia de Fonte de Angeão conseguirá responder a todas as solicitações, sobretudo ao nível comercial/serviços e de restauração? Esses serviços só surgirão depois de tudo estar em pleno funcionamento. Não creio que alguém arrisque com um restaurante ou uma pastelaria sem primeiro ver qual a movimentação. Já temos oferta, mas acredito que o sector virá a crescer muito mais. E também não tenho qualquer dúvida que isso
instalada, mas foi suspensa. A informação que eu tenho é que as obras só recomeçam quando as obras que foram objeto de reclamação estiverem de acordo com o projeto. A estrada que vai para Gândara é um exemplo, porque a estrada recebeu as obras e depois de concluídas abateu mais de 30 centímetros. Não sei qual o ponto de situação atual. Mas é algo por que anseia a freguesia, até porque, em complemento das obras de saneamento, a autarquia se comprometeu a fazer as obras das águas pluviais. Vamos aguardando.
Na última década, e segundo os sensos, Fonte de Angeão cresceu de 1177 para os 1245 habitantes. Acredita que poderá registar um aumento maior na próxima década, um pouco por força da vinda destas duas infra-estruturas?
O parque de merendas está concluído, ou pretende a junta agregar outros equipamentos? O parque de merendas é algo que nunca está concluído, porque há sempre isto ou aquilo que falta. Se tivéssemos a esbanjar dinheiro, é claro que já tínhamos feito, por exemplo, um parque infantil para as crianças brincarem. Também é certo que não temos estado muito motivados para desenvolvermos ainda mais o parque porque ele tem sido muito vandalizado. Acreditamos que só com mais segurança no local – com o centro escolar em funcionamento – é que poderemos avançar no parque de merendas, inclusivamente na colocação de um campo de futebol de praia.
Em 2005, em entrevista a O PONTO, a então presidente de junta, Helena Marques, confessou que um desejo da freguesia era a construção de uma unidade de saúde. Esse desejo já caiu por terra, mesmo que tenham recebido utentes de Calvão, que viram a sua extensão de saúde encerrar? Neste caso temos também que ser otimistas. Já nem pensamos na construção de uma extensão de saúde nova quando vemos tantas outras, aqui ao lado, a encerrar. E não pensamos nisso apesar de possuirmos e até já termos oferecido à administração regional de saúde a requalificação de algumas casas para as transformar em unidade de saúde. Se isso não se vier a concretizar, manteremos o que temos até podermos e estou convencido que, enquanto o médico aqui estiver, a unidade irá manter-se. Até porque a de Ponte de Vagos já não tem capacidade para todos os utentes.
várias casas, também muito bonitas, de arquitetura gandaresa que foram ou estão a ser restauradas pelos proprietários. E nós próprios também incentivamos ao restauro em detrimento da demolição.
A riqueza histórica, que é as casas gandaresas, predomina na freguesia de Fonte de Angeão. Há algum projeto ou ação para a sua valorização, recuperação ou adaptação?
A agricultura tem mantido o seu peso graças à produção de nabos, própria desta região próxima de Carapelhos, ou tem desenvolvido por outras dinâmicas?
Nós já tivemos várias ideias, mas projeto nunca. Havia uma casa que gostaríamos muito de requalificar, na Parada de Cima, por detrás da antiga escola primária. É uma casa com uma mistura da arquitetura brasileira com a casa gandaresa. Para tal teríamos que a comprar, mas os proprietários, quando contactados, recusaram a venda. Fizeram algumas obras e adaptações, danificando um pouco a traça da própria casa. Mas a imagem da casa, com os seus bustos diferentes da arquitetura gandaresa, ainda permanece. Pela freguesia há
Arte Institute
Cabeleireira e estética 234782784 / 918785800 Rua Dr. João Rocha, 58 Fonte de Angeão
Mas verifica-se uma maior preocupação dos proprietários na preservação dessas casas? Sim, há uma grande preocupação dos donos e mesmo dos próprios filhos e herdeiros, na restauração e preservação, até porque há, na freguesia, casas lindíssimas. É a nossa marca enquanto gandareses.
De facto, as pessoas continuam com a atividade dos grelos, uma tradição na agricultura de há muitos anos e não após a criação da confraria Nabos e Companhia, de Carapelhos. As pessoas conseguem escoá-los através de venda nas superfícies comerciais e até mesmo na venda direta. Vêm camiões de Lisboa, de Coimbra e do Porto, e através da cooperativa de Oliveira do Bairro também conseguem vendê-los. A agricultura sempre foi a grande riqueza embora se tenha perdido muito após a redução da quota leiteira. As pessoas conseguiam bons salários, e tinham ainda as feiras e mercados onde
vendiam tudo o que produziam (legumes, cereais e até carne). Hoje não se consegue isso porque as pessoas preferem adquirir este tipo de produtos nos hipermercados. Nesta altura em que impera a palavra crise, a junta tem sido confrontada com pedidos de apoio efetuados pela comunidade ou o Centro Social e Paroquial tem conseguido tomar conta de todas essas ocorrências? A comunidade não tem pedido esse tipo de ajudas à junta de freguesia, porque as pessoas esforçam-se para que isso aconteça. Se recorrem ou não ao centro não sabemos, mas acreditamos que apoia caso haja solicitações dessa ordem. E como está a taxa de desemprego na freguesia? Há uma ou outra pessoa que está desempregada, mas há aqui uma grande vantagem: quando não há trabalho há o pedacinho de terra ao lado de casa para se dedicar à agricultura. Não me refiro que seja para vender, mas para o objetivo principal, que é ter comida. Em termos de qualidade de vida, a freguesia possui rede de água, mas não possui ainda rede de saneamento. É algo por que anseia a comunidade local? A rede de saneamento já começou a ser
A junta de freguesia procedeu, há anos, à requalificação e restauro das fontes. Estão todas concluídas? Sim. Temos outra na Parada de Cima, que está registada em nome da junta. Queremos ver se a descobrimos para depois analisar se dá para ser restaurada ou não. Será mais uma que poderá juntar-se às duas que têm água natural (fonte da Moura e a fonte dos Amores) e a Fonte do Ansião, que é abastecida pela água da rede pública. Temos ainda a fonte de Rines, com os seus bonitos painéis, mas que não está a funcionar atualmente, porque é imprópria. Queremos ver se a conseguimos ligar à rede pública. E para quando um roteiro que una todas as fontes? Quando iniciámos a requalificação era com o pensamento na criação do roteiro “ecopista terras do pinheiro”, que ligaria a fonte da Moura até à fonte na Gândara, sempre por meio de zona florestal, incentivando à atividade física e ao conhecimento do património local. Mas sem dinheiro nada podemos fazer. Apesar dos gastos não serem muitos, temos sempre outros investimentos mais prioritários a fazer, como a cobertura do polidesportivo, já que não temos um espaço grande para receber eventos de grandes dimensões.
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III
Casa Gandareza
A gândara feita de adobe
Uma marca do concelho – eleita mesmo como uma das 7 Maravilhas do concelho de Vagos pelos leitores do Jornal O PONTO – mas sobretudo da região gandareza é a chamada casa gandareza. De rés do chão, este tipo de habitação era constituída, regra geral, pelo quarto da frente (também conhecido por meia sala e que era reservado às visitas, sobretudo dos médicos) e sala do senhor, que tinha acesso à rua, e depois do estreito corredor dois ou três quartos, sala de jantar, quarto de banho e a cozinha com borralho. As casas mais ricas tinham duas cozinhas, uma das quais era mais utilizada, sempre com borralho e com forno de lenha. Na parte da frente era costume haver uma porta (para a sala do senhor) e duas janelas e, ao lado, um portão largo e alto, por onde passavam as carroças dos bois. Nas traseiras, para além da eira, havia casa de arrumos, currais e quintal. Manuel Ramos, natural e residente na freguesia, agora com 78 anos, está reformado, mas até aos 65 dedicou-se à serralharia e, depois, à construção civil. «O meu avô era construtor e vinha de Calvão para a Parada de Cima, a pé, para construir a antiga capela. Foi pelo caminho que conheceu a minha avó», diz. Anos mais tarde, Manuel Ramos viria a ser um dos construtores da atual capela que hoje existe na Parada. Seguindo as pegadas do avô e do pai, dedicou-se primeiro à construção, ajudando o seu pai. Enquanto estudava, assim que saía das aulas ia ter com ele para o ajudar, deixando
os trabalhos de casa para a noite, à luz da candeia. Depois, quando se casou, decidiu experimentar a serralharia, onde tudo se fazia manualmente. «Não havia motosserras e tínhamos que serrar tudo à mão, mesmo as tábuas de 1,5 ou 2,5 centímetros para o teto ou soalho. E os feitios das portas e dos móveis eram também feitos à mão». Só alguns anos depois é que decidiu enveredar pela construção. No início, conta, não havia cimento e tudo era feito à base de adobe, areia e cal. Os metros eram contados aos palmos e as divisões da casa eram feitas de acordo com a dimensão do terreno e recorrendo a estacas e linhas já que naquela altura «não havia projetos». Para a construção das paredes, quer externas como internas, fazia-se um buraco no quintal e era aí que se misturava a areia com a cal, queimada no próprio local com água. Os adobes também eram ali construídos nalguns casos, noutros vinham do Seixo (concelho de Mira). «Ficava depois um buraco grande que, geralmente, se mantinha durante alguns anos, até ser tapado com areias de pinhais, servindo de piscina aos patos em tempo de chuva», ri-se. Sem pilares de ferro ou cimento, nos cantos os adobes eram cruzados ou intercalados. A segurança ou sustentabilidade eram muito reduzidas mas, como refere Manuel Ramos, existem casas com mais de 80 ou 100 anos que «nunca caíram nem causaram acidentes». Prova disso é, por exemplo, a casa gandareza que está em frente a sua casa, construída pelo pai em 1942. Deste tipo de arquitetura, destaca ainda os feitios feitos manualmente, com apoio de moldes, junto ao telheiro da casa. Requeria «muita paciência, experiência e tempo», mas confessa que era algo que gostava muito de fazer e que acha muito lindo. Manuel Ramos lamenta que as casas existentes não sejam requalificadas, mas ele próprio acaba por confessar que gosta mais da arquitetura moderna, já que dá mais conforto, tem mais estética e outro tipo de estabilidade e segurança. «Quanto mais moderno melhor, daí o desenvolvimento e modernismo das localidades», remata.
Agricultura já não é o que era no tempo das vacas leiteiras
A terra das fontes Foi em 2009 que a junta de freguesia de Fonte de Angeão, com o apoio da autarquia vaguense, decidiu requalificar as fontes existentes na freguesia. Nalguns fontenários foram construídos telhados, noutros foram reconstruídas as paredes. Foram embelezadas as fontes da Margarida (mais conhecida por Fonte do Ansião) em Fonte de Angeão, a fonte do ‘ti Filipe (Rines), dos Amores (Carvalhal) e fonte da Moura (Parada de Cima). São fontes naturais, com exceção da fonte do Ansião e a de Rines, ligadas entretanto à rede pública. As de nascente têm água potável, pelo que são muito procuradas pela população local e de freguesias vizinhas. Para além da água potável, as fontes foram, em tempos, muito procuradas pelas lavadeiras de roupa. Deolinda Samelo, com 63 anos, foi uma das que, até há poucos meses, sempre utilizou a fonte para lavar a sua roupa. Um dia por semana, todas as semanas do ano, deslocava-se à fonte dos Amores levando a roupa num carro de mão. Sozinha ou acompanhada, demorava no mínimo «duas a três horas». «Tudo dependia da quantidade de água, da quantidade de roupa e do número de pessoas que lá estava», diz. E porque não comprar uma máquina de lavar roupa? A esta questão, Deolinda Samelo responde que só não a tem porque nunca quis. «Sempre fui habituada a lavar a roupa à mão e até gosto muito de o fazer… pode ser ideia da nossa cabeça, mas parece que fica melhor lavada», acrescenta, rindo-se. Já a sua mãe lavava à mão, passando depois essa tarefa para ela e suas irmãs, a partir dos 15 anos. Agora, e depois de ter ficado doente, passou a lavar a roupa, também à mão, mas em casa. «Parece que a roupa não fica tão viva como quando lavada na fonte, mas dentro de casa sempre estamos mais confortáveis, longe do frio, chuva ou vento». De todos os anos em que fazia este ritual semanal, recorda que, sobretudo no verão e dias de mais calor, a nascente ficou sem água algumas vezes. Recorda ainda as obras de requalificação de que foi alvo a fonte, elogiando o resultado final. «Já tínhamos pedras grandes, mas ficou muito mais linda e agradável».
É mais no início do inverno que se vê mais, ao passar pela freguesia de Fonte de Angeão, os agricultores a carregarem grandes camiões com os nabos e, mais tarde, os grelos de nabo. Apanhados logo de manhã cedo, bem fresquinhos, estes verdes gandarezes são levados para os mercados nacionais e mesmo internacionais. De facto, a região gandareza, à qual pertence a freguesia de Fonte de Angeão, é muito conhecida pelos seus terrenos férteis e pelos seus nabos. Para além dos nabos, esta freguesia é conhecida pelas suas batatas, existindo diversos comerciantes que se dedicam, maioritariamente, à comercialização deste tubérculo. É o caso de João Oliveira, agricultor há 25 anos influenciado por um cunhado, também ele agricultor na freguesia. Enquanto jovem, nunca imaginou que deixaria a mecânica (era responsável por um oficina mecânica) para ir para o ramo da panificação na Venezuela e que, correndo mal, fosse parar à agricultura. Sozinho com a esposa, João Oliveira confessa, hoje, que gosta daquilo que faz, «de semear e de ver as coisas a crescer». Com os parcos conhecimentos e experiência que tinha ao ajudar os pais e sogros, que sempre estiveram ligados à agricultura, iniciou a produção e garante que ainda nos dias de hoje aprende qualquer coisa nova. «Depois, com a aquisição de umas máquinas, fomos modernizando a nossa forma de trabalhar», acrescenta. Para além de revendedor, produz essencialmente batatas, nabos/grelos e hortaliça. Há cerca de sete anos começou a produzir uma «área considerável de piripiri» que é, na totalidade, direcionada para uma empresa localizada na Praia de Mira, bem como, parcialmente, pimentos. Apesar do movimento aparente dos agricultores da freguesia, João Oliveira afirma que o sector foi “morrendo” assim que acabou a venda de leite das vacas. «Qualquer pessoa na
freguesia e um pouco por todo o concelho tinha quatro ou cinco vacas e a respetiva quota leiteira. O meu pai, por exemplo, tinha uma ordenha pública onde as pessoas iam tirar e deixar o leite; quando isso acabou, as pessoas deixaram de produzir milho e voltaram-se para aquilo que era mais rentável e que dava menos despesa: os nabos». Contudo, e de ano para ano, as pessoas começaram a deixar os terrenos de monte e a prova está na redução da compra das sementes. Com o aumento de terrenos “abandonados”, João Oliveira recebe muitas solicitações para produzir nos terrenos a título gratuito. «Neste momento produzo em cerca de 14 hectares, dos quais apenas quatro são meus». O único senão é serem terrenos de reduzidas dimensões, o que não permite modernizar a produção, tornando-a mais rentável. Por outro lado, e como os produtos são passíveis de ser apresentados ao longo de todo o ano, «já não há a novidade e as pessoas tendem a adquirir menos o produto. Por vezes, preferem gastar mais num produto mais caro só por ser novidade», testemunha, afiançando que os preços são «bem mais baixos» do que aqueles que praticava há «dez ou quinze anos».
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Centro Social e Paroquial de Fonte de Angeão
Idosos apoiados por serviço de «excelência» Constituído em 1983 por Manuel Oliveira, Manuel João Gonçalves, Flávio Cardoso, João Rocha e Manuel Augusto Domingues, o Centro Social e Paroquial de Fonte de Angeão iniciou funções seis anos depois, com a construção do edifício desta instituição particular de solidariedade social. Presidida pelo pároco local, o padre João Sarrico, a instituição alberga atualmente 15 crianças na valência de creche e cerca de 40 em regime de Atividades de Tempos Livres (ATL) e Atividades Extracurriculares (AEC’s) com quem tem protocolo com câmara municipal de Vagos. Presta, ainda, Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) a 35 idosos da freguesia, apesar de ter protocolado com a segurança social para prestar este serviço a 20 idosos. «O acompanhamento aos restantes idosos é feito por nossa conta e responsabilidade», afirma um membro da direção ao nosso jornal. Apesar de estar voltada para a infância, a instituição está «muito preocupada» com os «nossos idosos que estão sozinhos, dado que a grande maioria tem os filhos no estrangeiro». Deste modo, o centro social e paroquial tenta como que substituir-se à família e prestar cada vez mais um «serviço de excelência», acrescenta o dirigente. Para poder alargar o número de
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beneficiários deste serviço apoiados pela segurança social, há cerca de ano e meio a direção iniciou obras de requalificação do edifício para modernizar as instalações, mas sobretudo a cozinha. «A cozinha era do século passado e não tinha grandes condições; com as obras, teremos cozinha, apoio à cozinha e despensa «modernas, eficientes e de resposta eficaz» capazes de prestar melhor serviço a mais utentes no SAD. O “novo” edifício terá melhores condições para as salas de creche e para o centro de dia, que atualmente se resume a uma sala de convívio frequentada por cerca de dez idosos. «É uma forma de acompanharmos o dia destes idosos e lhes proporcionarmos diversas atividades», informa. As obras estão orçamentadas em 100 mil euros, valor que poderá sofrer aumentos com obras a mais. A câmara municipal e a segurança social comparticipam em cerca de 50%. «Neste momento, não fomos para a rua pedir à comunidade, pelo que o futuro será de contenção e de manutenção». A inauguração das “novas” instalações está prevista para o próximo mês de fevereiro. De salientar que, atualmente, as valências funcionam na casa do povo, que se localiza ao lado do edifício do centro social e paroquial.
Associação Sociocultural, Recreativa, Desportiva e Religiosa de Rines
de Angeão
Agrupamento de Escuteiros nº 826 – nossa senhora do Livramento
Escuteiros há 25 anos Criada associação garantem agrupamento para zelar pelo templo religioso Rines foi a última localidade da freguesia e paróquia de Fonte de Angeão a receber um templo religioso. A capela foi inaugurada no dia 21 de agosto de 2004, pelo então Bispo de Aveiro D. António Marcelino, quase quatro anos depois de ter sido lançada a sua primeira pedra. O terreno onde está implantada a capela foi cedido pelo pároco da altura, o padre Manuel Augusto Marques. A semente estaria lançada, mas em 2002 “entornou-se o caldo” quando estava prestes a iniciar a segunda fase das obras de construção. «Não havia entendimento entre o padre e as pessoas da povoação sobre a quem entregar os acabamentos: o padre queria entregar a uma empresa da freguesia mas que apresentava orçamento mais caro em quase 2.500 euros em relação ao apresentado por uma empresa da região». Explicações dadas por João Violas, tesoureiro da Associação Sociocultural, Recreativa, Desportiva e Religiosa de Rines, que acrescenta a’O PONTO que «2.500 euros ainda era muito dinheiro para angariar porta a porta». A solução passou, por conselho dado pelo presidente da câmara da altura (e que ainda hoje mantém cargo), Rui Cruz, pela criação e constituição desta nova associação. «Devidamente formalizada e constituída, foi através desta associação sem fins lucrativos que conseguimos angariar verbas das entidades para a conclusão da construção da nossa capela», afirma. A capela viria a ser concluída e inaugurada em agosto de 2004 e, a partir daí, «pouco ou nada» tem feito a associação de Rines. Através dela procedeu-se à pintura do templo no ano passado e, agora, o sonho passa pela ampliação do templo. O projeto já está efetuado e refere-se à construção de uma sala de reuniões e sala de arrumos para as coisas da capela e localidade, nomeadamente os andores e outros objetos que estão distribuídos pelas casas dos membros da associação, e da construção da torre da capela. «O objetivo da nossa associação [presidida por Alcino dos Santos Pinho] é apenas zelar pela manutenção do templo», vinca, sublinhando que a “dona” é a comissão fabriqueira. Para já, e por se tratar de uma pequena povoação, com grande parte das pessoas emigradas, a associação não prevê a realização de outro tipo de atividades para além do zelo à capela. De salientar que a capela recebe, na última quinta-feira de cada mês, celebração eucarística promovida pelo pároco local, padre João Sarrico, pelas almas defuntas. «São missas assistidas, sempre, por 40 a 60 pessoas; eu próprio nunca falto a uma», garante. A festa em honra da padroeira nossa senhora da Boa Viagem é realizada no primeiro domingo de agosto, pela comissão de festas. Uma festa «simples», onde o religioso impera mais que o profano. «Pode ser que este ano, com o apoio dos nossos emigrantes, se consiga mais verbas para contratar um conjunto para animar a noite», remata.
Armazenista e embalador de Batatas, Cebolas e Alhos Rua do Sul, 34 Fonte de Angeão – Vagos Tel: 234 783 927 email: batataslopes@gmail.com
Foi no dia 22 de fevereiro de 1987 que nasceu o Agrupamento de Escuteiros nº 826 de Fonte de Angeão, cujo patrono é a nossa senhora do Livramento. A poucas semanas de comemorar as bodas de prata (25 anos), o agrupamento da paróquia de Fonte de Angeão é constituído atualmente por cerca de 55 a 60 elementos, entre escuteiros e dirigentes. Mas nem tudo foram rosas para o agrupamento. Com altos e baixos, como é habitual na grande maioria das associações sem fins lucrativos, onde o voluntariado e a carolice são os pilares da sua sustentabilidade, o Agrupamento nº 826 esteve quase à beira do desaparecimento em 2005. Foi nessa altura que um grupo de antigos escuteiros decide reativar o grupo, para que este não perdesse o seu número. Augusto José Miranda, antigo escuteiro (desde os 9 aos 17 anos) passou a ser o chefe do Agrupamento. «Aceitei o desafio com algumas reservas, porque não me sentia muito à vontade, mas o “bichinho” que estava dentro de mim e o facto de o meu pai (Manuel Augusto Miranda Francisco) ter sido um dos fundadores do agrupamento fizeram-me avançar com o projeto». E desde as promessas de 2007 que o agrupamento nunca mais parou de crescer, atingindo agora a manutenção dos números alcançados no último ano. O agrupamento de Fonte de Angeão recomeçou, tal como no início, com apenas as primeiras duas secções (lobitos e exploradores), tendo já aberto a de pioneiros. «Temos ainda uma caminheira (4ª secção) a colaborar connosco, que veio de outro agrupamento, mas essa será uma secção que prevemos criar quando os pioneiros atingirem a idade», explica. Para além das crianças e jovens da
paróquia, o agrupamento é frequentado por elementos das paróquias vizinhas (Covão do Lobo, Covões, Carapelhos, entre outros), por não possuírem agrupamento ou apenas por laços de amizade. Defendendo o crescimento de baixo para cima, Augusto José Miranda lamenta apenas a falta de dirigentes perante a dimensão e dinâmica que o agrupamento já exige. Apela, portanto, a que todos os interessados apareçam e ajudem a manter este projeto. Neste momento, são mais importantes os recursos humanos do que a obtenção de uma sede própria. Esta é a ideia que o chefe faz transparecer por diversas vezes em conversa com a nossa redação, apesar de garantir que a sede própria «faz muita falta». Atualmente, os escuteiros estão a trabalhar na desativada escola primária da Gândara, mas em breve esperam assinar protocolo com a junta de freguesia e câmara municipal para usufruir daquele espaço. Contudo, Augusto Miranda volta a vincar que «a sede é uma questão acessória», dando como exemplo os agrupamentos de Calvão ou Ponte de Vagos (estes últimos que foram os seus “padrinhos” aquando da sua reativação) que também possuem 25 anos e que apenas tiveram a sua própria sede recentemente. «Com os altos e baixos que tivemos até agora não podemos querer ter uma sede construída por nós e adaptada às nossas necessidades como os outros têm». Para além das iniciativas de cada secção ou do agrupamento, os escuteiros de Fonte de Angeão participam ainda nas atividades regionais e locais, com a venda de produtos ou a promoção de peças de teatro entre outras. «Sempre com o apoio da comunidade, sobretudo os familiares».
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Do atletismo para o futebol
CRAC da bola
Em 23 de abril de 1977 foi fundado o Centro Recreativo e Ação Cultural da Parada de Cima, na freguesia de Fonte de Angeão, mais conhecido como CRAC, um clube que viria assumir a vertente desportiva. Com Mário Castelhano à frente dos destinos da coletividade e com a modalidade de atletismo, foi a partir de 1982, quando Manuel Cartaxo chegou a Portugal, que o clube começou a pensar na modalidade de futebol. «Naquele tempo o atletismo já não dava e havia muitos jovens que gostavam de futebol e como sabiam que eu também gostava incentivaram-me para formar uma equipa», disse a’O PONTO o presidente do clube desde esse ano. «Sou como o Pinto da Costa, só não tenho o mesmo dinheiro», brincou. Primeiramente o clube começou por construir uma sede junto à escola primária da Parada de Cima, que ainda existe, e depois «as brincadeirazitas que lá fazíamos e que dava dinheiro eram todas canalizadas para o futebol», que viria a ser lançado dois anos depois com duas equipas federadas. Manuel Costa e Mário Castelhano eram os treinadores, na altura, de seniores e formação respetivamente. Entretanto, devido à sua vida particular, Manuel Cartaxo deixou a direção do clube em 88 e um ano depois aquela associação vaguense parou retomando a sua atividade em 1995, novamente com Cartaxo ao leme do barco. É fácil cativar jogadores? A esta questão, o timoneiro da equipa responde com
prontidão: «antigamente era bem mais fácil. Hoje em dia há muita diversidade de desportos, há as discotecas, os bares, as internetes e a juventude dispersa-se mais e torna-se mais complicado», disse. Com cerca de vinte sócios com as quotas em dia, Manuel Cartaxo afirma conseguir aguentar o clube com os subsídios que recebe da junta e da autarquia, e as bilheteiras e o bar vão dando para pagar os jogos que «custam à volta de trezentos euros cada um». Sem nunca chegar ao primeiro escalão da distrital, por este clube já passaram centenas de atletas, quer no setor sénior, quer nas camadas mais jovens (estas últimas tiveram o seu fim na época passada). «Este ano, para quem começou quase do nada, estamos a fazer um bom campeonato. Temos um grupo coeso e muito educado». Só com a carolice, como em todas as outras associações desportivas do concelho também impera, «é que se consegue deixar a família de sangue, para nos juntarmos a esta família. Quando a nossa carolice acabar, não sei o que vai acontecer», perspetiva. O CRAC, durante a sua atividade e através da Comissão CRAC Eventos, realiza de alguns anos a esta parte um torneio de futebol 7 já considerado por muitos como o melhor torneio da região, que se disputa a seguir ao fim dos campeonatos. Quanto ao futuro do clube, Manuel Cartaxo não se pronuncia. «Este ano queremos aguentar, depois logo se vê», conclui. AC
Ferreira Café Mini-Mercado Pronto a Vestir Telf. 234781132 Rua Dr. João Rocha – Fonte de Angeão
Centro de Ação Cultural da Gândara
Jovens “perdidos” reencontraram-se na casa da juventude O edifício chama-se Centro de Ação Cultural da Gândara mas é mais conhecido como casa da juventude. Nasceu há mais de 27 anos por ser considerado como a única solução para que alguns jovens da povoação da Gândara se “reencontrassem”. Na altura, presumindose que, pelo menos, «dois jovens andassem metidos no “pó”», Celso de Oliveira entrou em contacto com a anterior presidente da junta de freguesia de Fonte de Angeão, Helena Marques, que se encontrava a estudar em Coimbra. «Tinha ela 17 anos quando lhe falei da situação e chegou-se à conclusão que teríamos que fazer algo que os mantivesse ocupados, para que, caso andassem a consumir drogas, não tivessem essa necessidade». A solução passou pela construção do edifício, realizada pelos jovens da localidade, sobretudo aos sábados e domingos de manhã. «Eu era, naquela altura, funcionário da câmara municipal de Vagos. Falei com a dona Alda Vítor que se mostrou interessada em apoiar desde o início. Fomos ver o terreno e depois ela ajudou com toda a documentação», recorda Manuel Celso de Oliveira. E mais orgulhoso fica ao verificar que, atualmente, aqueles jovens são «super-homens e alcançaram o sucesso na vida». Com o objetivo cumprido, a função desta associação passou por promover iniciativas para os jovens mas também para toda a comunidade. Foi ali que foram apresentadas diversas peças teatrais realizadas pelo grupo de teatro local, entretanto “adormecido”. «Falta-nos mais juventude para que possamos dinamizar mais o centro e a própria localidade e freguesia», defende. Atualmente, duas vezes por ano, o centro é local de recolha de sangue por parte dos dadores (geralmente em fevereiro e agosto) e é o local escolhido pelas professoras e docentes para a realização das festas e atividades promovidas pelos alunos do 1º ciclo e préescolar.
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V
Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão
Cultura e tradição gandaresa promovida em cada atuação e iniciativa A recuperação, preservação e divulgação da cultura rural ancestral da freguesia de Fonte de Angeão tem vindo a ser efetuada, nos últimos 14 anos, pela Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão. Para além do tradicional festival de folclore, onde estão representadas as figuras e profissões típicas da freguesia (lavadeira, tremoceira, camarinheira, mulher da bilha, a típica gandaresa) e respetivos trajes e cantares, o grupo de folclore reaviva as memórias dos mais antigos e mostra aos mais novos como era o dia-a-dia de antigamente através da recriação da matança do porco à moda antiga, da vindima, da desfolhada, do trabalho nas eiras, do magusto ou dos serões culturais com as tradicionais récitas. Passando por um momento de transição na direção, agora presidido por Mário Pimenta, é no entanto a sua antecessora que apresenta à nossa redação o grupo e o trabalho desenvolvido pela associação. Começa por garantir que a preservação da cultura e tradição local só foi possível graças à colaboração e à «partilha de saberes e experiência» das gentes mais antigas. «A nossa população é, maioritariamente, idosa e com muitos anos e não podíamos desperdiçar os seus conhecimentos, sendo a criação do rancho uma forma de promover e divulgar esses saberes», sublinha Madalena Pinto. Apesar de o trabalho «nunca estar concluído», já que aparece sempre mais uma pessoa que sabe ou recorda mais alguma coisa, o rancho possui «muitas danças» que são interpretadas pelos 30 a 40 elementos que constituem o grupo. Entre cantores, músicos e dançarinos, os elementos (oriundos da
freguesia e de Covão do Lobo) possuem entre os 8 e os 70 anos de idade, «mas é considerado como um grupo muito jovem e dinâmico». Aliás, a grande maioria dos pares é composta por casais de jovens o que, por si só, garante a continuidade do rancho. «Já tivemos 12 pares a dançar, que tinham que dar vez nalgumas danças porque não cabiam todos no palco. Agora são só oito. Poderão dizer que são poucos, mas nós achamos que são os essenciais», defende Madalena Pinto. Inicialmente, o rancho ensaiava no salão cultural existente no primeiro andar da casa do povo da freguesia mas desde há seis anos que se deslocou para o edifício do Complexo Social e Comunitário de Fonte de Angeão. «A acústica não é a melhor, mas é o nosso espaço, onde ensaiamos, organizamos as nossas iniciativas e onde recebemos os nossos convidados». De facto, é ali que se realiza, anualmente, o festival que assinala mais um aniversário – apesar de, neste ano, a 20 de maio, estar a ponderar-se a sua realização para o adro novo junto à igreja matriz. Depois, é a vez do Rancho Folclórico de Fonte de Angeão responder aos convites que fez, o que já lhe proporcionou atuar em vários pontos de norte a sul do país. Apenas não conseguiram concretizar o sonho de atuar no estrangeiro. «Já esteve para acontecer no ano passado, em França. Mas os estudantes tinham provas e não foi possível. Quem sabe um dia… nem que seja aqui ao lado, em Espanha», diz Madalena Pinto. A ideia é levar a cultura gandaresa a países onde residem os emigrantes locais.
O Ponto | 16/
VI
Especial Freguesia de Fonte
de Angeão
João José Cabral de Albuquerque Simões Rocha
Um homem que o povo da sua terra admira mais antigas e originais do tendo-se dedicado à investigação de Vagos, decidiu concorrer à um professor, com a construção nosso concelho: o MOLICEIRO. do direito processual, chegando referida câmara, vindo a suceder das escolas da Gafanha, Santa Uma terra onde a cultura criou mesmo a publicar um livro a Alda dos Santos Vítor, sem que Catarina e Covão do Lobo raízes (o seu rancho folclórico “Comentário ao Código Civil” antes tenha sido seu vereador. e algumas pré-primárias é espetacular!). Uma terra de -, obra muito utilizada como Exerceu estas funções desde implantadas em quase todas gente católica por excelência, compêndio de consulta pelos janeiro de 1986 a dezembro de as freguesias do concelho. E como se vê pela sua monumental alunos da Universidade de 1993, altura em que lhe sucedeu ainda neste campo, a sua coroa igreja, recentemente benzida e Coimbra e ao qual o dr. Mário Carlos Fernandes Roseiro Bento. de glória foi a construção da inaugurada. Frota teceu os maiores elogios. Durante os seus mandatos há escola C+S (Dr. João Rocha Pai) Aqui viveu João Rocha, Mais tarde veio a exercer que reconhecê-lo que o concelho e o pavilhão municipal a que foi tendo estudado em Pombal, as funções de adjunto do de Vagos sentiu um grande atribuído o seu nome, na altura na altura em que seu o segundo pavilhão maior pai era presidente da do país. câmara daquela cidade. Não esqueceu os Mais tarde, ingressou na agricultores, criando Universidade de Coimbra, a Vagros – Feira Agroonde frequentou o curso Pecuária que Carlos de direito. Bento, como presidente da João Rocha nasceu em Coimbra, câmara, viria a manter mas vindo viver para Fonte de Angeão Como grande futebolista que era, jogou na Académica com o nome de Florivagros. com seus pais, João Augusto dos de Coimbra, tendo exercido, No apoio aos empresários Santos Simões Rocha e Maria de inclusivamente, as funções deu também g r an d e Lurdes Rocha. de diretor da associação impulso à zona industrial Ao descrever a vida e obra de académica. de Vagos. João Rocha, impõe-se que faça Durante o serviço militar, Porque passou pelo uma pequena referência à terra Ultramar, foi um grande da sua naturalidade: Fonte de onde esteve durante nove anos, inclusive na adepto das geminações Angeão. com outras câmaras, Esta belíssima povoação, berço de Administração Militar, foi destacado para Timor-Leste nomeadamente de países gente boa e solidária, freguesia e onde exerceu as funções de língua oficial portuguesa: paróquia, assenta as suas origens militares como capitão. cidade de Bagatá (na guiné nos tempos dos Mouros. Dentro De salientar que quando Bissau) e a S. vicente (Cabo dos seus muros ainda existe a regressou do Ultramar, teve Verde). afamada “Fonte dos Amores”. Da esquerda para a direita: Professor Ernesto, Dr. Francisco Vale uma grande receção em Na administração A etimologia do nome vem de Guimarães (Governador Civil de Aveiro), José de Oliveira (Presidente Fonte de Angeão, onde municipal, face a uma da Câmara de Vagos em exercício), Eurico Pena e Dr. João Rocha (pai) “Fonte do Ansião” que, com o sindicância à gestão andar dos tempos, veio dar a tinha a esperá-lo o próprio presidente da câmara da camarária da sua palavra “Fonte de Angeão”. altura, professor Ernesto Neves, Governador Civil de Aveiro. desenvolvimento e progresso. responsabilidade, João rocha teve É uma terra encravada na Pretendendo seguir as pegadas No que toca a estradas, ligou o alguns dissabores, certamente região gandareza. Uma terra de saudosa memória. Passou a exercer a advocacia, de seu pai, que foi ilustre centro do concelho ao mar com nem todos por culpa própria, cujo povo se pode orgulhar de presidente da câmara municipal a construção dos “estradões”, a que o abalaram bastante e que, ter exercido uma das profissões nomeadamente em Soure, avenida do parque de nesta altura, tenta a todo custo campismo e a construção ultrapassá-los. das pontes da Vagueira e Esta é, a meu ver, a vida e obra do Areão, além de outras de João Rocha que o povo da sua estradas pelas freguesias. terra, e não só, muito considera Foi da sua iniciativa o e admira. abastecimento de água Permitam-me, ainda, que preste a parte da freguesia da a minha homenagem póstuma ao Gafanha da Boa Hora. seu pai João Augusto dos Santos A saúde da população foi Simões Rocha, figura pública para si uma preocupação, ilustre que Vagos dificilmente c o l a b o r a n d o n a esquecerá e que quis o destino construção do centro que eu o acompanhasse nos Centro de Classificação P.T. 121 de saúde de Vagos, últimos momentos da sua vida. diversos postos médicos Esta homenagem está bem sitos na maior parte das vincada na publicação de uma freguesias. notável e espetacular saudação Não esqueceu as que dirigiu, há longos anos, a coletividades e VAGOS, por ocasião de uma instituições do concelho homenagem prestada a um que substancialmente dos filhos também ilustres deste apoiou. concelho: dr. Agostinho Furtado. A educação e o ensino SAÚDO-O, dr. João Rocha. foram também a sua Rua de Sto Amaro grande bandeira ou Por Basílio de Oliveira Tel. 234 781 207 e 966 774 058 Parada de Cima - FONTE DE ANGEÃO não fosse ele filho de
João Evangelista Loureiro SEIXO, 02/02/1926 - AVEIRO, 03/03/1986
João Evangelista Loureiro, para muitos um pedagogo e humanista, nasceu no Seixo de Mira e era oriundo de família que vivia da terra que trabalhava, para o seio da qual voltava sempre que a oportunidade espreitava. Os últimos anos do seu intenso e atribulado percurso, viveu na freguesia de Fonte de Angeão, numa das mais antigas casas do Conselho de Vagos, pertencente aos progenitores de Esmeralda Catarino de Miranda Nazaré, com quem casou e de quem teve quatro filhas. A sua formação superior, longa e diversificada, teve início no Seminário da Figueira da Foz e levou-o a frequentar diversos cursos no estrangeiro: Salamanca, finais dos anos 40; Madrid, nos anos sessenta; e Lovaina, no início dos anos 70, onde fez o doutoramento, que se debruçou sobre o pensamento pedagógico do Padre Américo. Iniciou a sua atividade como professor do Ensino Superior na então Universidade de Lourenço Marques, em meados da década de sessenta. É chamado por Veiga Simão para colaborar na reforma do sistema de ensino de 1973, sendo nomeado director da Escola Normal Superior de Lisboa, em finais desse ano. Foi autor do modelo de formação integrada de professores, que funcionou em várias instituições até muito recentemente. Depois de uma curta passagem pela Universidade do Minho (1975-78) veio para a Universidade de Aveiro (1978-1986), onde era Vice-Reitor quando viu a sua vida inesperadamente e precocemente ceifada. Nas cerimónias oficiais do Dia de Portugal e de Camões de 1996, o Presidente da República, Jorge Sampaio, atribuiu-lhe, a título póstumo, o grau de Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública. Nas palavras de Filipe Rocha, que fez o seu elogio fúnebre, era um homem de trato fino e delicado; que não mendigava favores a poderosos nem usava os humildes; que sabia contemporizar sem transigir; de espírito jovem, alegre e camarada; dotado de um notável optimismo e espírito de abertura; de coração aberto e profundamente cristão. Consciente das suas capacidade e limitações, inteligente e simples, nasceu para líder e como tal tinha o olhar sempre no futuro. Deixou-nos uma profunda saudade. MJL
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Especial Freguesia de Fonte
de Angeão
O Ponto | 17/
VII
Silvino de Oliveira
Albina Simões
De padeiro a Capitão
Uma centena de anos Uma vida por terras gandarezas a contar histórias
Natural da freguesia de Fonte de Angeão – aliás, nasceu a poucos metros da habitação onde reside atualmente -, o capitão Silvino de Oliveira é conhecido por todos ou quase todos da freguesia. Foi sobretudo graças à sua dedicação e empenho que se criou a Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão há mais de 13 anos. Em conversa com O PONTO, recorda que havia dificuldade em definir os estatutos da associação e que foi chamado para resolver a situação. Presidiu a esta associação durante largos anos. Hoje gosta de ir assistir aos seus festivais, elogiando a promoção e a divulgação da tradição gandareza que este grupo desenvolve. Segundo diz, «sempre fui chamado para a criação de novas estruturas». Enquanto jovem, depois de ter feito a 4ª classe e de se “refugiar” na área da padaria numa das duas grandes padarias existentes na Parada de Cima – em busca de melhores condições de vida, já que os pais «eram muito pobres» -, Silvino de Oliveira foi chamado por João Rocha (pai) para «tomar conta da casa do povo, que tinha sido mandada construir a nível nacional nos primeiros anos de governo de Marcelo Caetano». Fonte de Angeão tinha sido contemplada com uma com o intuito de unir o povo mais distante dos centros urbanos. «Presidi durante cinco anos, até ir para a escola de oficiais», relembra. Silvino de Oliveira ingressou no exército quando completou os 21 anos de idade, idade imposta para prestar o serviço militar obrigatório. Porque indicou a padaria como sua especialidade, acabou por ir parar ao quartel de Póvoa do Varzim, onde se promoviam cursos de padeiro. Aí ficou, com mais 50 homens, a tirar a escola de cabos. Tendo sido um dos três melhores do curso, teve a possibilidade de escolher o quartel para onde queria ir. Optou pela «manutenção militar, que fornece padaria e alimentação, em Coimbra». Convidado para ingressar na GNR, aceitou o conselho do seu chefe e decidiu prosseguir estudos no exército e, ao mesmo tempo, tirar o curso de três anos na escola comercial e industrial que ficava a paredes meias com o quartel. No final, concorreu ao quadro e passou por todos os postos de sargento, chegando a capitão com 47 anos. Hoje com quase 81 anos, reformado desde os 58 (por ter atingido idade), recorda os «momentos difíceis e de grande exigência e responsabilidade» por que passou. O objetivo era subir até aos cargos superiores no exército, mas o limite de idade assim o impediu. «Ali crescemos enquanto homens», sublinha, elogiando todos os serviços que chefiou e que o representaram, porque «graças ao seu trabalho fui chamado para diversos cargos de alta importância». Regressando à sua terra natal, afirma que veio encontrar uma «terra apagada», mas que foi evoluindo ao longo dos últimos anos. Na sua ótica, existem apenas duas necessidades que nunca foram atendidas: a existência de uma farmácia e de uma entidade bancária na freguesia. «Se tivesse isso poder-se-ia dizer que não faltava nada».
Nasceu em Carapelhos, freguesia do concelho de Mira, mas seria na terra da sua mãe, na Gândara, que viria a casar, a construir casa e a constituir família. O seu sorriso, a sua memória ou a sua prontidão para dois dedos de conversa nunca fariam alguém adivinhar que Albina Simões nasceu aquando da implantação da 1ª república, em 1918. Sim, Albina Simões (na foto) tem mais de 101 anos. E não fosse o AVC que sofreu há cerca de cinco anos, Albina Simões ainda teria forças, como diz à nossa redação, para se «desenrascar sozinha». Teve seis filhos (dois dos quais vieram a morrer, uma com seis anos, o outro morreu logo à nascença), mas quando lhe perguntamos quantos netos, bisnetos, trinetos ou tetranetos tem, responde apenas que «já são um rancho que até lhes perdi a conta», rindo-se. Na brincadeira, recorre também aos amigos que partilham a sala de convívio do Centro Social e Paroquial de Fonte de Angeão, onde passa os seus dias há cinco anos (a noite é passada na casa dos filhos), para saber que idade tem. «São cento e quê?». Como gandareza genuína que sempre foi, explica que trabalhou sempre na agricultura, a trabalhar «para este e para aquele». Era um trabalho árduo, que tinha que ser feito «de manhã à noite, fizesse chuva ou sol, e no final do dia até parecia que tínhamos as chagas do nosso Senhor». Naquela altura, recorda-se de Fonte de Angeão como tendo poucas pessoas e pequenas casas, caminhos de terra batida e nada de carros. Só a pé e carroças de bois. A terra era o sustento e dela retirava-se sobretudo os nabos e as batatas, mas também o milho ou o feijão. «Era um pouco de tudo», afiança. Albina Simões foi uma das meninas da altura que não teve a oportunidade de ir para a escola aprender a ler ou a escrever. Diz ela que o pai não deixou as cinco filhas irem aprender porque «tinha medo que as filhas escrevessem aos rapazes e depois fugissem com eles». No entanto, os três irmãos tiveram a hipótese de ir para Leitões aprender. «Eram tão bons a escrever – saíram ao meu pai, que parecia um doutor – que vieram ensinar os rapazes dos Carapelhos». Albina acabaria por aprender alguma coisa com o marido e depois com os filhos, que fizeram a 3ª e a 4ª classe. Uma vida de «muito trabalho, que nem sei como ainda aqui estou», mas sempre sem a presença ou a ameaça da fome. Recuando largas décadas na memória, recorda que tanto em casa de sua mãe como na sua nunca passou fome. «Não havia as lambarices que existem agora, mas nunca passámos fome. Na casa dos meus pais, a minha mãe até enchia uns potes de azeitonas, na altura delas, e comíamos como quem come tremoços». Também as sardinhas, que ela e suas irmãs iam buscar à praia com a cesta à cabeça e os irmãos com cesto às costas, eram «à fartura». Ao contrário de muitas famílias, que dividiam uma sardinha por cada duas pessoas, a família de Albina comia «duas e três». «Nunca comi broa sem conduto a acompanhar», acrescenta. E qual o segredo para chegar a tão bela idade? Responde que não sabe explicar. «Só sei que de um dia para o outro não somos ninguém. Estou meia “taralhoca” como dizem os novos, e tomo muitos medicamentos por causa do AVC, bronquite e diabetes – é uma porção de remédios – mas o que interessa é estar viva. Todos temos que morrer, mas ninguém quer ir», brinca. Por isso, sempre acostumada a comer as verduras e hortaliças que a terra oferece, aconselha os netos a comer também, «que só querem batatas-fritas e a sopa, que é boa, não querem».
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Tel. 234 782 305 Rua da Liberdade, 96 Gândara – Fonte de Angeão – Vagos
Arminda Almeida
Mas se tu dás ao desprezo Os teus pais na realidade Hás de sentir esse peso Se chegares à mesma idade Deves compreender que a idade Quer carinho e atenção Não vás pagar com maldade Os deveres de criação Pelo caminho que vais Não irás ter um bom fim Vê se tratas bem teus pais Se queres ser tratado assim Andas com os pés no mundo Parece que desconheces Que estás num pego sem fundo Às tantas desapareces
Arminda Almeida, natural da Gândara, toda a sua vida gostou de decorar. Em outubro vai completar 71 primaveras e ainda se lembra de muitas poesias, mais de vinte, contadas pela sua mãe quando ainda era nova. Da sua infância recorda-se dos teatros que desenvolvia com as «moças da minha idade e a minha irmã a orientar. Enchíamos sempre as casas, vinham pessoas de longe e tudo só para nos ver fazer muitas comédias e lindos dramas», disse com saudade. Toda a vida trabalhou no campo e não houve a oportunidade de fazer da arte de representar a sua profissão, mas não esquece o que aprendeu enquanto criança e ainda hoje declama como se fosse há uns cinquenta ou mais anos atrás. Dedicou-se mais à poesia, mas há um “sermão” que não esquece. «Quando eu tinha doze anos, recebíamos aqui em casa o jornal A Voz de Fátima e num desses jornais vinha o sermão do bispo de Leiria que eu decorei e ainda hoje o sei dizer todo. Ainda é grande», disse, orgulhosa da sua memória. Mas como ninguém é eterno, Arminda pretende deixar as suas poesias aos seus netos. Para isso, afiançou que vai tentar transmiti-las todas à sua neta que tem oito anos para que o que vem dos seus antepassados possa
perdurar no tempo, «o que é muito importante para mim». No entanto ainda se liga com a cultura local. É no Rancho Folclórico de Fonte de Angeão que vai dando música com as suas maracas já depois de durante alguns anos ter dado voz às músicas do rancho. «Agora a minha voz está mais fraca e passei para o ritmo». Foi no pátio da sua casa gandareza que recebeu O PONTO e recordou uma das poesias. «Esta tem um significado muito especial para mim porque me foi dito um dia pela minha mãe quando eu era ainda uma criança», justificou. AC
Pelas palavras que encerra O refrão antes de mais Tu vais pagar já na terra O que fizeres a teus pais Andas como o filho pródigo Ausente do teu dever Cujo dever é um código Que é bem fácil de aprender Um pai não exige muito Dos filhos a quem criou Quer apenas o produto Da semente que lançou Deus manda honrar pai e mãe No seu quarto mandamento Que aprendeste tão bem E que deves estar atento
Os teus pais tudo fizeram Para te valorizar E se eles mais não te deram Mais não te podiam dar Sofreram mais do que pensas Por ti teus pais outrora Contraindo até doenças De que se queixam agora Espero que tenhas ouvido As palavras que te apresento Sem que se tenham perdido No teu frágil pensamento Estou pregando aos peixinhos Como Santo António o fez Se tens ouvidos mouquinhos Se tens olhos e não vês Mas os peixinhos sem mágoa Embora causando espanto Vieram ao cimo da água Escutar a voz do santo Depois dito não te queixes Oh filho inconvertido Se indo pregar aos peixes Eu for melhor atendido Os conselhos que te ofereço Que rejeitarás por fim Pelo seu valor e apreço Também os quero para mim Não precisas de conselhos Nem tão pouco o meu parecer Porque tens muitos espelhos Onde tu te podes ver E para sermos mais concretos No fundo vem os valores Muitos pais analfabetos Fazem os filhos doutores Depois da vida que sonham Se vir a concretizar Alguns até se envergonham De seus pais apresentar
Se a caso te aborreceres com teus irmãos Vê lá bem Não confundas os deveres Que tens para com pai e mãe
Que tristeza meus amigos Se convosco isto se passa Não temeis de Deus castigos Ou outra qualquer desgraça
Recebeste a educação Que transmitirás aos teus Por isso tu és cristão E acreditas em Deus
Há quem não aceite a carga Quem a tem e não a sente Porque a carapuça é larga Mas não serve em toda a gente
O Ponto | 18/
Especial Freguesia de Fonte
VIII
de Angeão Sobre a Fonte de Angeão
Freguesia de Fonte de Angeão em números Área: 9,55 km2 População: quase 1.245 habitantes Recenseamento: 1.545 eleitores (últimas Presidenciais) Espaços populacionais: Fonte de Angeão, Gândara, Parada de Cima e Rines Festividades religiosas: - Rines – nos finais de julho, em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem; - Parada de Cima – 1º domingo de agosto, em honra de Nossa Senhora da Saúde; - Fonte de Angeão – 15 de agosto, em honra de Nossa Senhora do Livramento; - Gândara – 22 a 24 de agosto, em honra de Nossa Senhora de Fátima Festividades tradicionais - Festival do Rancho Folclórico de Fonte de Angeão (final de Maio) Locais de interesse público: - igreja matriz e capelas - fontes naturais - complexo social e comunitário - parque de merendas Associações: - Associação Rancho Folclórico de Fonte de Angeão - Associação Sociocultural, Recreativa, Desportiva e Religiosa de Rines - Centro de Ação Social da Gândara - Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento de Escuteiros nº 826 – Nossa Senhora do Livramento - Centro Recreativo de Ação Cultural (CRAC) – da Parada de Cima Ensino Público: - EB1 em Fonte de Angeão - Jardim de infância em Fonte de Angeão Atividade económica: Agricultura, construção civil e comércio Emigração: 30% da população está emigrada em França, Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Canadá, Venezuela e Espanha
Lendas e locais de lazer Lenda da Fonte da Moura Noutros tempos, havia mouros em Fonte de Angeão. Mandava o Rei de Leão. Alguns mouros, porém, amigos dos cristãos e da terra em que nasceram e continuavam a cultivar, ficaram. Eram chamados “mudejares”. Muitos deles até iam aderindo à religião cristã, misturando línguas, usos e costumes. O mesmo tinham feito os cristãos que haviam ficado nas terras conquistadas pelos mouros, onde eram conhecidos por “moçárabes”. Eram os “mudejares” os que mais sofriam, quando os mouros do sul por cá faziam as suas “razias”, tentando recuperar estas terras. Não perdoavam os seus irmãos de raça, que tinham ficado amigos dos cristãos. É neste ambiente que se passam os factos
narrados na lenda que retrata uma moura muito bonita, chamada Alzira (al-Zahira, em árabe). Estava noiva do dono destas terras, um cavaleiro cristão chamado D. Gião. Quando os mouros da “razia” chegam, as primeiras vítimas foram logo os pais de Alzira. Ela, porém, conseguiu fugir para o mato, tentando esconder-se numa mina ou nascente de água, que sabia haver além de um ribeiro. D. Gião, chefe dos cristãos derrotados, pede ajuda ao seu amigo D. Senão, que governava estas terras em nome do rei. Vencidos e de novo expulsos os mouros, D. Gião e os amigos procuram Alzira por todos os recantos onde se poderia ter metido. Na mina onde diziam ter-se escondido, apenas se descobriu a água que dela nascia. Era deliciosa, pura e cristalina. E ficou com o nome de Fonte da Moura.
Lenda da Chuva É uma lenda que tenta justificar o nome da freguesia de Fonte de Angeão. Conta a lenda que, um dia, depois de uma grande seca, as gentes resolveram pedir a chuva ao Senhor que tudo manda. Foram pelas terras fora, em procissão, rezando e cantando as ladainhas com muita devoção. Às tantas, o céu começa a escurecer e, ao longe, já se ouviam os trovões. E a desejada chuva, grossa como nunca se tinha visto, começou a cair. Mas ninguém arredou pé; antes ergueram os braços para o céu, agradecendo a Deus a bendita chuva. E ela era tanta e tão grossa, que houve quem visse os anjos lá nas nuvens despejar os cântaros de água para baixo. E, no sítio onde estavam, formou-se uma grande enxurrada e, mais tarde, até lá nasceu uma fonte.
No que respeita ao património, a anotar a existência de duas casas gandaresas invulgares, sobretudo pela riqueza que ostentam nas fachadas. Uma no largo da antiga feira da Parada e outra no lugar da Gândara. A primeira, com fachada a fresco rosa, mostra friso pintado e pilastras encimadas com relevos de cabeças de anjo. A segunda afirma-se sobretudo pela beleza das cantarias ricamente trabalhadas, embora termine a fachada do lado esquerdo em estranha solução oblíqua. Sobre a igreja recentemente construída, lamentamos que se tenha perdido a oportunidade de erguer uma obra qualificada, de acordo com os actuais saberes sobre arquitectura. O excesso de diversidade de materiais utilizados e a inabilidade total em os conjugar deita tudo a perder. Sobretudo a necessidade de corformação do espaço no sentido de agregar eficazmente em torno de um ponto convergente uma comunidade não é de todo conseguida. Também não se percebe porque razão o edifício adjacente à igreja não respeita o alinhamento do prédio confinante. Já sobre a toponímia,não nos parece ter fundamento a pretensão de, partindo de mais uma lenda, a da chuva, estabelecer ligação entre o nome Fonte de Angeão e Fons Angelanum (Fonte dos Anjos). A ideia estriba-se em mau latim, pois a expressão correcta seria Fons Angelorum, o que transforma a pretensão numa angélica ingenuidade. O Dicionário luso-brasileiro encontra a origem do nome de Fonte de Angeão num genitivo antroponímicoAngiani villa, de origem talvez germânica ou hipocorística, ou seja, vila de um indivíduo com o nome de Angião ou Gião. Nós porém levantamos uma outra hipótese, que achamos bastante plausível. Aguião é o nome do vento norte (do lat. Aquilone). Em documentos notariais dos sécs. 15 e 16, a demarcação de terrenos era feita de acordo com estes indicadores: Aguião, Suão, vendaval, tal como hoje se diz, a norte, a sul, a poente, e anteriormente do lado do mar e do lado da serra. Assim como se incorporou na toponímia elementos de orientação, como mar e serra, de baixo e de cima (Lameiro do mar, Choca da Serra, Canto de Baixo, Parada de Cima, etc.), assim nos parece que Fonte de Angião nada mais significa do que Fonte do Norte (Fonte d agyam), por contraponto a alguma fonte existente a sul, mantendo assim essa designação antiga correspondente ao lado setentrional. A capacidade que os gandareses têm de manipular a língua a seu bel prazer, numa perspectiva de grande economia e acomodação leva a que, tal como dizem Íbalho e Bagos, acabemos por achar lindíssima a inovação fonética que se encontra no nome com que todos designam a terra de que tratamos: Fontinjão. Paulo Frade www.construcoesvizinhos.com
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