Ouca a minha freguesia

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carregosa ouca rio tinto tabuaรงo

Ed. 203 de 10 Marรงo 2010


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II

Entrevista a Fernanda Oliveira, presidente da Junta de Freguesia

«Recuperar tudo o que é de Ouca para Ouca» Depois de terminada a 1ª fase do Parque da Fonte, o início deste mandato é marcado com a obra da casa mortuária, que está quase concluída… Já está concluída neste momento. Apenas falta mobilar (com um altar e algumas cadeiras) e pendurar uma pintura que encomendámos à senhora que efectuou pinturas para o Centro Comunitário. Isto porque a casa mortuária, em si, é um espaço com uma finalidade fria e triste. Nós queríamos que a casa servisse todas as religiões existentes na freguesia: católica, evangélica e jeová. Perguntei a representantes de todas se achavam por bem que a casa tivesse uma pintura de Jesus Ressuscitado e todos concordaram com a ideia. Apesar das obras estarem concluídas, a casa mortuária não pode ser utilizada sem estarem efectuados os arranjos exteriores, que a Câmara aprovou recentemente. Esta é uma infraestrutura necessária, e muito ansiada pelas pessoas porque só na semana passada faleceram duas pessoas e os familiares tiveram que recorrer-se da casa mortuária perto do lar, que é muito pequena. Como estão as obras da beneficiação do cemitério de Ouca? A obra do cemitério de Ouca foi uma das que já concluímos. Encontrava-se muito degradado e, por isso, “enterrou-se” muito dinheiro ali porque não tinha esgotos – uma vez vi que funcionárias do Lar lavaram tapetes no adro e a água com espuma ia até ao fim do cemitério -, não tinha electricidade, tinha os passeios muito deteriorados e a parte nova precisava de ser elevada para estar tudo ao mesmo nível. E estava tão desalinhado que a única hipótese de acabar com o desalinhamento foi fazer fundações. Deste modo, a ampliação do cemitério foi feito com fundações e numa das paredes foram feitos gavetões, porque o lar ocupa muitos lugares. Como não temos hipóteses de alargar mais, falei com o padre para levantar os restos mortais daqueles que é possível por lei para colocar nos gavetões. E há já muitas pessoas interessadas em ocupar com restos mortais de campas e capelas já antigas. Depois do cemitério, as atenções voltam-se para a entrada da Igreja, que fica no interior do Lar ... Depois de ter gasto tanto dinheiro no cemitério nestas obras todas (incluindo som e capela envidraçada para cerimónias), verificámos que também o adro da Igreja se encontra muito deteriorado. Como precisamos de ter apoio financeiro da Câmara, falei com o sr. Presidente, e ele pediu-me que fosse solicitar autorização ao padre António Martins, que se mostrou totalmente de acordo. Isto porque a igreja

Que destino terão as escolas desactivadas? Estão todas ocupadas, servindo de sede a associações locais: o Futebol Clube Rio Tinto está na EB1 de Rio Tinto, a mais recente associação local – Motor Trilhos de Tabuaço – ocupa a EB1 Tabuaço e o Atletismo Futebol Clube de Carregosa encontra-se sedeado na EB1 de Carregosa. Os únicos estabelecimentos activos (EB e Jardim-deinfância de Ouca), depois de desactivados, terão igualmente como destino as associações. Tem-se registado, nos últimos anos, que a sociedade civil se tem movimentado, criando novas associações ou reactivando outras. Qual a explicação para este retomar do associativismo? Algumas já existiam e foram retomadas. Mas eu penso que a que deu movimentação foi a ARCO, há dez anos, da qual sou uma das sócias fundadoras. Tendo por base uma afirmação de Eurico Pena - «Ouca tem de tudo e tudo está fora de Ouca» -, tentámos recuperar tudo o que é de Ouca para Ouca. E julgo que a ARCO movimentou as pessoas e deu uma espécie de incentivo ao associativismo.

está muito escondida e o lar tem muitos recantos, o que acaba por reduzir o espaço, não dando a amplitude e visão merecidas à Igreja. Até os próprios bombeiros têm dificuldade em lá ir. O pedido foi efectuado e aprovado em reunião de Câmara recentemente. Do projecto dos arranjos exteriores deverá constar o avanço das portas do cemitério para que as capelas, que estão no adro, sejam integradas no interior do cemitério. Será em Ouca que vai ser instalado um dos cinco pólos educativos do concelho de Vagos. Que importância/impacto pode ter para a freguesia, depois de ter visto desactivadas três escolas? Eu penso que é uma enorme tristeza sempre que se fecha algo que é tradicional. Mas um pólo educativo para a freguesia será muito bom: veremos novamente mais jovens e crianças na nossa freguesia, trazendo juventude para a terra, porque as nossas aldeias têm dificuldade em não ter o que os jovens precisam, obrigandoos a ir atrás do que a vida futura proporciona, nomeadamente o trabalho,

fora das nossas aldeias. Com eles levam os filhos, e julgo que o pólo irá trazer mais pessoas, mais jovens e meninos para as nossas aldeias, rejuvenescendo-as. Também com esta infra-estrutura virão professores que, certamente, procurarão residência aqui próximo, trazendo consigo os filhos. Os alunos passarão a ter outras oportunidades, o que fará com que se enraízem na sua terra. Já estão adquiridos todos os terrenos para a sua construção? Já estão todos, mas ainda há uns terrenos que a Junta está interessada em adquirir para, próximo, construir um campo desportivo que sirva toda a freguesia. Nós temos duas equipas (Carregosa e Rio Tinto) que têm campos com as medidas exigidas, mas ambos estão na freguesia de Soza, em terrenos doados por ouquenses. Pensamos que também irão ser adquiridos para o futuro Parque Empresarial de Soza. Por sua vez, os terrenos para o pólo educativo e campo desportivo estão em Ouca e Carregosa mas irão servir toda a freguesia.

E que benefícios colhe a freguesia com essa movimentação? Muitos. É muito agradável ter a nossa juventude, e não só, em movimento. Estamos a passar por um longo Inverno, mas diariamente perguntam-me quando fazemos mais alguma festa. Este facto dá outro movimento às nossas aldeias e todos gostam de participar e colaborar dentro das suas possibilidades. É esse associativismo que dá um maior carisma ao nosso povo que sempre teve um bocadinho de tudo e estava a perder-se no tempo. Ouca é uma freguesia muito rural. Como está a ser desenvolvida essa prática, ainda de forma tradicional ou já com investimentos tecnológicos significativos? É uma actividade apenas realizada pela população mais idosa? Acredito que Ouca, neste momento, é uma das freguesias do concelho de Vagos que mais agricultura tem, especialmente a nível leiteiro. Infelizmente, penso que já fecharam algumas empresas que estavam em mãos de jovens, por não terem muito apoio e pela desvalorização do preço do leite. Mas apesar de alguns terem desistido, o que é muito lamentável, existem ainda muito jovens na agricultura e com grandes projectos. Como costumo dizer, Ouca é uma mancha verde de agricultura. Temos, também, uma grande área de estufas, sobretudo de flores em Ouca, enquanto que Carregosa tem estufas de flores e de

horticultura. E em mãos de jovens. Podemos dizer que existe equilíbrio entre a agricultura mais industrializada dos jovens e a agricultura tradicional da população mais idosa. E qual é o peso do tecido empresarial/ industrial na freguesia? É pouco; temos apenas algumas PME’s . Esperemos que aumente ou seja favorecido com o Parque de Soza. Considero que Ouca tem um pouco de tudo no comércio local, mas todos os serviços necessários. Com a abertura da A17 e o novo PDM, esperava-se que mais jovens se instalassem na freguesia. Acabou por se verificar tal perspectiva? Com o novo PDM os jovens casais passaram a poder construir nos terrenos que tinham disponíveis e que não estavam em área urbana. Era essa uma das razões que “obrigava” os nossos jovens a “fugir” da freguesia. Diziam que o valor da compra de um outro terreno dava para adquirir um apartamento. Também a A17 veio encurtar distâncias e, mesmo trabalhando na cidade, as pessoas podem viver aqui, porque chega-se lá muito mais rápido. Para alargamento da instalação da rede de saneamento, começou já a ser construída a ETAR. Em que passo se encontra esse processo, uma vez que esse sector será gerido pela empresa Águas da Região de Aveiro? A rede existente é diminuta. No entanto, e de acordo com o mapa que me foi entregue há dias, está já projectada uma área significativa e que, como consta, já está em execução. É uma área que engloba quase a localidade toda de Ouca e algumas ruas principais das restantes aldeias. Acredito que esteja para iniciar, uma vez que era considerada prioritária pela autarquia e já está assinalada no mapa como “em execução”. O arranque do funcionamento da rede já existente está dependente da conclusão da bomba elevatória que está parada por causa das águas da chuva que ali se depositaram. Que outras obras estão previstas para a freguesia? Com o apoio da autarquia, está previsto para breve o arranjo da Igreja da Carregosa (a Câmara adquiriu o terreno com vivenda que era necessário para fazer essa obra), assim como o arranjo exterior da casa mortuária e da frente da Igreja de Ouca, obras que já tiveram lugar junto às igrejas de Rio tinto e Tabuaço. E pretendemos ainda adquirir os terrenos necessários para dar continuidade ao parque da fonte. Esperamos concluir estas obras e outras que entretanto surjam ou que temos em mente. GP


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Bodas de Sonho Micas à moda antiga Gentes de Ouca

Chama-se Maria de Almeida Simões, mas é carinhosamente mais conhecida por D. Micas. Para quem não conhece – e serão muito poucos os ouquenses que não a conheçam –, D. Micas é proprietária daquele que foi o primeiro café de Ouca: o Café Cruzeiro. «Tinha 24 anos quando eu e o meu marido abrimos portas; era uma mercearia e café», relembra D. Micas, que já assinalou 85 primaveras. «Depois do meu marido ter falecido, há 42 anos, continuei à frente do negócio e acabei por criar os meus filhos e hoje já tenho duas netas e uma bisneta», conta orgulhosamente. O negócio, nos dias de hoje, classifica-se em poucas palavras: «está muito fraco e parado». No entanto, a sua força de vontade não esmorece, dando continuidade à actividade. «Dá pouco, mas é aqui que passo os meus dias… com esta idade também já não dava para fazer muito mais», ri-se, adiantando que «assim sempre falo com quem passa e com os poucos fregueses que cá vêm tomar o café», como Aristides António Bio, mais conhecido por sr. Marcelino. «Eu sou cliente desde que o café abriu e sempre foi aqui que abasteci a despensa lá de casa», diz, recordando igualmente que «ainda sou do tempo em que um café custava oito tostões. Agora são precisos 50 cêntimos para tomar um». Aquando da sua abertura, na parte da mercearia vendia-se um pouco de tudo mas «em grande quantidade»: «adubos, sal, cereais, café, açúcar, ovos, …», enumera. Era ainda posto de leitaria. «Os lavradores que tinham vacas traziam o leite, que era depois recolhido por um camião, que o levava para Aveiro». Ao contrário dos dias de hoje, em que os produtos são comercializados em embalagens próprias, «antigamente nós despejávamos o café, açúcar e o arroz em tulhas [recipiente] e colocávamos o produto com a ajuda de um passador (mas nós chamávamos corredor) em cartuxos de papelão grosso de um quilo, meio quilo ou um quarto de quilo. Enchia-se na hora, conforme

o que pedia o cliente». Já na parte de café, os clientes eram «às dezenas». «Estavam cá sempre novos e velhos até às tantas, sobretudo a jogar cartas e matraquilhos numa sala de jogos que aqui tínhamos», conta, lamentando a falta de clientes que preferem os hipermercados e centros comerciais. Pinturas particulares Apesar de ser frequentado diariamente por poucas pessoas, o café é visitado, ao longo de todo o ano, por dezenas de pessoas que ficam fascinadas pelas pinturas existentes na parede. Efectuadas por um senhor que vivia em Mira, numa delas está retratado “S. Tomézinho, apóstolo de fé, volta ao Cruseiro tomar um café”. Nas outras pinturas, uma a cada lado de uma grande porta que dava acesso à sala de jogos, está pintada uma mulher branca que diz “Portugal é aqui”; do lado oposto, uma imagem de uma mulher negra, com um filho nos braços, afirma “Aqui também é Portugal”. «É uma brincadeira que o senhor pintou por sua própria autoria, numa altura em que Angola ainda era uma colónia portuguesa», vinca D. Micas. GP

III

Foi uma ouquense que fundou o Convento de Jesus

Projecto Museave explica ligação entre Ouca e Aveiro

Sabia que o Convento de Jesus de Aveiro (actual Museu de Aveiro) tem ligações ao concelho de Vagos? Pois foi D. Brites Leitoa, residente em Ouca e proprietária da Quinta de Ouca, uma das fundadoras do convento depois de, em 1453, ter ficado viúva – o seu marido, D. Diogo de Ataíde, faleceu por causa da peste. O casal decidiu-se instalar na Quinta de Ouca (apesar de terem outra nos arredores de Leiria) depois da tragédia de Alfarrobeira. Perspectiva-se que a localidade de Ouca daqueles tempos devia ser uma povoação muito importante por ser assinalada como porto de Mar nas cartas geográficas holandesas do século XVI. Foi também nesta quinta em Ouca que se produziu o material (telha de canudo e tijolo) utilizado na construção do convento. Para além do contributo com este tipo de material, a Quinta também produzia grandes quantidades de ovos, cereais e vinho, que servia como ajuda ao sustento das religiosas. Isto porque D. Brites Leitoa tinha uma forte inclinação para a hospitalidade franca. A ligação entre a freguesia de Ouca e o Convento foi alvo de um projecto, desenvolvido entre Fevereiro de 2005 e Dezembro de 2006, resultante de uma candidatura do consórcio constituído pelo Museu de Aveiro (entidade gestora) e os Municípios de Aveiro, Vagos e Oliveira do Bairro ao Programa Aveiro Digital. O objectivo foi o de produzir uma aplicação digital que explorasse conteúdos museológicos e patrimoniais de forma lúdica (na página da Internet www.eraumavezemaveiro.pt), para uma faixa etária dos 8 aos 13 anos. De acordo com Lurdes Carvalhais, Técnica Superior da Biblioteca do Município de Vagos e uma das investigadoras do projecto Museave, a participação do Município de Oliveira do Bairro prende-se com o facto das quatro léguas da Quinta de Ouca abrangerem, na altura, parte das actuais freguesias de Ouca, Soza, e Palhaça (Oliveira do Bairro). Deste modo, o consórcio criado promove uma visita virtual onde é retratado o crescimento urbano nos séculos XV e XVI da Vila de Aveiro, o Convento de Jesus e as propriedades que com ele se relacionavam, nomeadamente, o casal de Requeixo e a Quinta de Ouca. «É uma visita virtual que se destina a todas as pessoas, mas a animação é destinada aos mais novos, porque sentimos que era importante dar a conhecer às crianças a história da sua localidade e qual a relação entre Ouca e o convento», menciona Lurdes Carvalhais, assegurando que «todas as investigações efectuadas foram avaliadas por Maria Helena da Cruz Coelho, medievalista e professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra». GP

Evaristo o espírita e endireita da Carregosa Maria Vitorino era dona de uma capacidade superior na interpretação e conhecimento das pessoas. Tinha o “espírito” dentro dela, dizia-se. Apelidada desde nova como “a Bruxa”, Maria Vitorino chegou mesmo a ponderar acabar com a própria vida. Não se sentia uma Bruxa, mas sim “Espírita”. Quem a visitava procurava o melhor encaminhamento para enfrentar as dificuldades que se lhes apresentavam. Era uma espécie de psicóloga à época. Os que havia estavam longe: Lisboa e o Porto pareciam estar a dias de distância e a proximidade fazia toda a diferença. Há meio século atrás proliferavam os espíritas pelo país e Maria Vitorino sentia a posse desse Dom. Evaristo casou com ela e assim também ele foi absorvendo o «espírito», a capacidade de interpretar os outros. Há quase trinta anos, desde a morte de sua mulher, que Evaristo ajuda a curar e a «endireitar» as pessoas com massagens e produtos naturais apoiados pelas suas rezas. Da alcunha não se livra, mas soube melhor lidar com ela. Combalido e com mais de oitenta anos, Evaristo Ferreira transmitiu as suas “sabedorias” à filha Amorosa para assim dar continuidade a esta tradição familiar. Menos que antigamente, é certo, ainda hoje há quem venha de longe a Carregosa à procura de ajuda para os seus males. EF


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Matança do porco à moda antiga Antigamente, no final do Inverno, era muito comum fazer-se a matança do porco, depois de muitos meses de engorda do animal. A matança do porco à moda antiga é uma das tradições que, ano após ano, é reavivada pela Associação Recreativa e Cultural de Ouca (ARCO) – este ano está marcada para o próximo dia 28 de Março, no recinto da Casa do Povo da freguesia. «Logo pela manhã costumamos recriar a própria matança, onde se pode assistir ao chamuscar e desmanchar do animal», adianta Tony Richard, da direcção da associação. Segue-se depois a confecção das mais diversas iguarias gastronómicas típicas desta região: sarrabulho, arroz de leves, rojões feitos ao lume, sainhas, fêveras, sopa dos ossos da cabeça, entre outras. Pratos que estarão ao dispor, a partir das 12 horas, de todos quantos queiram participar na iniciativa. Depois do almoço convívio, durante a tarde há sempre lugar para a actuação do rancho local e há sempre animação musical. «Para além de unirmos a freguesia em volta da tradição, pretendemos, com esta acção, reavivar memórias e a “festa” que era matar o porco: a família e vizinhos uniam-se e ajudavam na matança e na preparação da carne, que era salgada para consumir durante todo o ano», explica. GP

S. Martinho

Mata-se o porco, prova-se o vinho É mais conhecido por ser o dia dos magustos e das castanhas assadas, mas na freguesia de Ouca é dia de festa: é o dia do padroeiro S. Martinho. É nestes dias, também, que (habitualmente) a Comissão de Festas promove uma tradição já antiga e que vai de encontro ao famoso provérbio: “Em dia de S. Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho». Freguesia marcadamente agrícola e vinícola, Ouca cumpre à risca este costume como complemento às festas religiosas. Chega-se mesmo a verificar uma espécie de “romaria” para assistir à matança do porco à moda antiga e fazer a prova do vinho do lavrador local e da região. No final, juntam-se todos os ouquenses à mesa para saborear os petiscos típicos desta região. «Para além de homenagear o nosso padroeiro, é uma festa que é aproveitada para as pessoas conviverem e relembrarem memórias antigas», adiantou Paulo Jordão, membro da Comissão de Festas, em Novembro passado, no dia em que a tradição teve lugar mais uma vez. GP

IV

Carregosa

recria Via Sacra Todos os anos, perto de meia centena de jovens e adultos da localidade de Carregosa reconstituem a Via Sacra na noite da Sextafeira Santa. Tudo começou em 2002, quando um grupo de jovens foi desafiado para criar discursos directos e encenar os passos de Jesus Cristo. «Apenas houve um ano em que fomos obrigados, por causa do mau tempo que se fazia sentir, a adiar por uma semana, mas ainda foi a tempo porque a visita pascal, na Carregosa, é no domingo seguinte à Páscoa», explica Tony Richard. O membro fundador desta iniciativa ainda não consegue adiantar se, este ano, a Via Sacra volta a ter lugar, mas o que é certo é que centenas de pessoas esperam que se realize. «As pessoas – algumas até vêm de longe acompanham-nos ao longo das 15 estações ao vivo, e há até quem se emocione com o “pregar” de Jesus Cristo na cruz, junto à Igreja da Carregosa», acrescenta. Todas as personagens, vestidas a rigor, concentram-se no interior da igreja onde, com as pessoas que querem assistir, fazem uma oração. A encenação tem lugar um pouco por todo o lugar, terminando no largo em frente à Igreja. GP

“Gaiola” para pagar aos professores Não se sabe qual a origem e muito menos o ano em que aconteceu pela primeira vez, mas ao Entrudo estavam associados a “gaiola” e o “testamento do galo”, promovidos pelos alunos da escola primária. A gaiola tinha lugar, tradicionalmente, no sábado que antecedia o domingo de Carnaval (o chamado domingo gordo). Os meninos, escolhidos pelos professores, construíam a gaiola que tinha cerca de dois metros de altura e meio metro quadrado. Segundo consta no livro “Memórias de Ouca”, do já falecido ouquense Eurico Pena, a gaiola era «cercada pelos quatro lados com rede de arame, dividida a meio para separação de galinhas e galos dos coelhos, com uma portinhola para cada divisão. Tinha quatro rodas de madeira com eixo preso, obrigando as crianças, com desmesurada algazarra, a mudarem de direcção. Era toda revestida de ramos de acácia e em tal profusão que até era difícil observar a criação». Com a gaiola, as crianças percorriam todo o lugar, batendo de porta em porta. Em três largos de Ouca subiam a uma espécie de muro, de onde sentenciavam o galo, encenando um tribunal, com juiz e testemunhas. «Finalmente, o que fosse mais esperto lia o testamento do galo, contendo piadas carnavalescas para quase toda a gente, mas muito em particular para a classe jovem. Tudo isto constituía muita alegria para os miúdos e muito riso para o povo que, por vezes, deixava todos os seus afazeres para ir ouvir o testamento», conta Eurico Pena no livro. Todas as crianças também levavam o maior galo

ou galinha da capoeira dos seus pais, e chegando à escola ofertavam os animais recolhidos ao professor, que anotava, encaminhando-os de seguida para o cortelho (curral) do docente. Era esta a forma de pagamento pelos seus serviços. No final, havia um convívio com figos passados, pão de trigo, garrafas de vinho tinto, que dava início a três dias de férias (as aulas recomeçavam na quarta-feira de cinzas). Nas ruas, os alunos gritavam “Viva o nosso professor!”. Testamento do galo animava Entrudo Já o testamento do galo retratava desinteligências, casos vergonhosos, namoros clandestinos, traições ou difamações, sendo tudo posto a claro. Em 1875 há registos de que o galo era enterrado no chão até ao pescoço e, com olhos vendados e um pão na mão, os meninos tentavam matá-lo. Depois de morto seria preparado e cozinhado para o professor e familiares – uma iniciativa «desumana» que foi decaindo, dando lugar apenas ao seu testamento. Temido e ao mesmo tempo divertido, os versos eram mantidos a meio segredo, mas tinham antecipadamente a aprovação do professor, «que fazia as correcções necessárias, a fim de não criar atritos ou responsabilidades». Sempre em estilo um tanto ousado e crítico, o testamento tinha 30 ou 40 quadras. Com o tempo, passou a haver mais cuidado com a linguagem devido à “censura” dos professores e em 1930 passou a simular um julgamento em tribunal. «Por falta de iniciativas, ou mesmo falta

de bairrismo, este divertimento das crianças ficou parado por mais de três dezenas de anos (…) Alguém das escolas me alertou para ver se o restaurava» e, em 1993, Eurico Pena voltou a fazer o testamento em forma de julgamento de 1930. Repetiu-se em 1997, 1998 e, pela última vez, em 1999, quando escrevia o livro “Memórias de Ouca”. Este tinha 100 quadras. Aqui ficam algumas:

«Vou fazer meu testamento, Pois eu não quero morrer Sem ter feito juramento De ninguém ir ofender. Sem a “graça” do testamento, Éramos um povo sisudo. Sem este divertimento, Já nem lembrava o Entrudo. (…) Sou um “galão” sem “marmita” Sem poleiro nem casa. Se encontro franga bonita, Ficamos logo em brasa. (…) Mário Rui no seu táxi Vai levá-los sem demora. Se eles não pagarem na hora Põe-lhes a casa em penhora. (…) Gostava que continuasse Esta velha tradição. Mesmo que lhe custe, Faça das tripas coração. (…) O Manuel do Boco, no Cruzeiro A jogar as cartas é “chaga”, Mas, quando está sem dinheiro, Vai ser a Alice que as paga.(…)»


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V

grandes vantagens: por um lado, há mais produção pois aumenta o número de ordenhas por animal. Por outro, há mais conforto para o produtor, que já não tem de fazer ordenha de manhã e à noite». Antes gastava 6 horas diárias só para a ordenha. Hoje, 45 minutos bastam para fazer a monitorização no computador. A modernização permitiu, ainda, reduzir a mão-de-obra. «Temos dois funcionários a tempo inteiro e um a meio-tempo. Se tivéssemos ordenha normal, seriam necessários mais dois efectivos», explica Odino. A aquisição das máquinas abriu-lhe novas portas e começou, entretanto, a representar a marca e comercializar equipamentos de ordenha robotizada em Portugal. A empresa está sedeada em S. Félix da Marinha, pois «a região leiteira é mais no norte do país», explica.

Quinta da Pedreira de Ricardo Furtado

Odino Almeida

Resistir às dificuldades

Ordenhas robotizadas Produz 40 mil garrafas de aumentam produção e espumante por ano conforto «O vinho para este espumante é fruto da rigorosa selecção das castas existentes na Quinta da Pedreira onde predominam a Maria Gomes, Bical e Chardonnay. Para a vinificação deste espumante foram fundamentais uma viticultura muito cuidadosa ao longo do ano, nomeadamente no que se refere aos tratamentos fito sanitários; o controlo de maturação e o corte das uvas no momento ideal para a elaboração do vinho base». Nota final do avaliador Luís Lopes, da Revista de Vinhos: 16 valores, numa escala de 0 a 20. A nota de prova do Grande Reserva Bruto Natural, um dos vários vinhos espumantes produzidos por Ricardo Furtado, não deixa muita margem para especulação. A qualidade e o rigor são palavras de ordem na Quinta da Pedreira, em Ouca. O espaço, que antes pertencera ao avô materno e mais tarde ao pai, passou para a gestão do jovem de 36 anos corria o ano de 1993. Ao todo são sete hectares de onde saem anualmente cerca de 40 mil garrafas, divididas entre espumante reserva bruto natural (colheita de 2006), espumante grande reserva bruto natural (2003), espumante bruto natural rosé (2006), espumante reserva bruto natural (2005) e aguardente vínica velha. Quando chega ao consumidor final, uma garrafa de aguardente Quinta da Pedreira custa 30 euros e um espumante grande reserva, por exemplo, pode chegar aos 15 euros. A maior percentagem do produto é vendida em Portugal continental, mas uma fasquia já é comercializada no arquipélago da Madeira, Alemanha,

Estados Unidos da América e Cabo Verde. Ricardo Furtado gosta de vinho, desde a produção ao saborear na mesa. O vitivinicultor engarrafador orgulha-se das «condições únicas» do seu terreno e fezse rodear de especialistas, nomeadamente do conceituado enólogo Rui Moura Alves. Para além disso, integra a direcção da ViniBairrada e é associado da FENAVI – Federação Nacional de Viticultores Independentes. Mas, no dia-a-dia, tem de repartir as atenções com outras “ciências”, aproveitando a licenciatura em Economia e pós-graduação em análise financeira para dar aulas de mercados financeiros. Vindimas empregam 80 pessoas A Quinta da Pedreira não emprega funcionários a tempo inteiro mas, por altura da vindima, poda, ata ou enxertia, as necessidades aumentam e é necessário procurar trabalhadores. Em Setembro, durante as vindimas, chega a empregar 80 pessoas. «É cada vez mais difícil arranjar pessoas para os trabalhos especializados e mais específicos. E às vezes para a vindima também, porque isto é uma actividade sazonal», explica. Na última década «as colheitas têm sido boas», mas a produção de vinho está muito sujeita aos «efeitos do tempo» e é «preciso controlar muito bem os custos para sobreviver». Os preços «têm decaído desde 2000, de uma forma geral. Há, por exemplo, muitas cooperativas que enfrentam dificuldades», assegura. No fim de contas, «a agricultura e a vitivinicultura fazem-se por gosto», remata. ZC

Odino Almeida não é mais um agricultor ou produtor de leite. Di-lo com orgulho e não sucumbe ao «preconceito ou vergonha» de quem as considera actividades menores. Natural de Tabuaço, o jovem concluiu o 12º ano na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos, aprofundando depois conhecimentos com uma licenciatura em Engenharia Zootécnica e uma pós graduação em Ciências da Produção na Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro. Há cinco anos tomou as rédeas à exploração de bovinos leiteiros da família e, um ano depois, adquiriu dois equipamentos de ordenha robotizada holandeses. Na Quinta dos Alteiros – produção agro-alimentar, o jovem tem cerca de 280 animais: 118 bovinos de leite e 162 novilhos de engorda. «Este é o futuro», diz, convicto de que a actividade agrícola tem de se modernizar e ganhar dimensão para sobreviver. «As ordenhas robotizadas têm duas

As dificuldades no sector de bovinos leiteiros são muitas. A diminuição do preço de leite pago ao produtor «caiu de 0,40 para 0,29 euros no espaço de ano e meio. No mesmo período, os custos de produção subiram cerca de 25%», diz. Mas há mais. Para alimentar as cabeças de gado, o empresário cultiva 32 hectares, repartidos por 42 parcelas entre as localidades de Tabuaço (Vagos) e Bustos (Oliveira do Bairro). «Já pensei fazer a exploração noutro lado, devido à dificuldade de conseguir emparcelamento de terrenos. Se tivesse mais terreno seguido, poderia cultivar toda a forragem, leguminosas e gramíneas que necessito para alimentar os animais. Assim, tenho de comprar 1/3 do alimento. É complicado e oneroso», desabafa. A terra e os animais são um gosto que o acompanha desde pequeno, mas não são amarras. «Se tiver que ser, também vendo a exploração», diz, pragmático. Para já, resiste. ZC


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Alma Mística rejuvenesce Rio Tinto Reactivada e formalizada em Novembro do ano passado, a Alma Mística – Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Rio Tinto surgiu com o objectivo de criar um espaço destinado aos jovens, bem como promover iniciativas para jovens e todos os residentes deste lugar da freguesia de Ouca. Sedeada na Escola Básica do 1º Ciclo de Rio Tinto, entretanto desactivada, a “nova” associação existe há mais de dois anos. «Começou por ser apenas um convívio de um grupo de amigos, maioritariamente deste lugar, e que decidiram constituir-se em associação formal». Com nove membros fundadores, actualmente a Alma Mística já possui cerca de três dezenas de associados que têm em comum «o gosto pela promoção e participação em actividades culturais e desportivas», afirmou o presidente da direcção Eduardo Ramalho à nossa redacção aquando da formalização da associação. Para este ano, do plano de actividades constam, entre outras actividades, a promoção de um passeio de BTT/Cicloturismo na freguesia, um torneio de futebol e paintball, bem como a organização do Dia de Rio Tinto onde, durante todo o dia, a população local será convidada a participar em diversas acções recreativas, culturais e desportivas. Também será a partir do próximo mês que, mensalmente, será disponibilizado um dia para a realização de testes de medição da tensão arterial e diabetes. Todas as pessoas interessadas estão convidadas para frequentar, ao fim-de-semana, o espaço, que possui um pequeno bar, televisão e alguns jogos lúdicos como setas, uma mesa de snooker e duas de ténis de mesa. Mais informações podem ser obtidas em www.tintofc.webnode.com. GP

VI

Tabuaço trilhado por motores Motor Trilhos de Tabuaço é a mais recente associação da freguesia de Ouca. Criada por amantes de Todo-o-Terreno para matar o “vício”, a associação resultou de conversas mantidas entre os elementos que a constituem nos seus momentos de confraternização. «Sentíamos necessidade de estarmos mais ligados ao mundo que tanto gostamos: o TT. Foi assim que surgiu o Motor Trilhos de Tabuaço em Novembro passado», afirmam os membros da direcção. Sedeados na desactivada EB1 de Tabuaço, os objectivos da associação passam, a curto/médio prazo, melhorar as instalações e espaços envolventes e realizar actividades que envolvam TT e desporto aventura. «Pretendemos criar novas amizades e envolver a população local», afirmam. Para tal, prevêem também a promoção de actividades tão diversas como jogos de cartas ou malha. «Queremos fazer da nossa “casa” a casa do próximo e, por tal, aproveitamos para agradecer à Junta e Câmara a disponibilização do espaço e a confiança depositada em nós para o envolvimento da nossa freguesia em algo diferente». Mais informações sobre a associação podem ser consultadas em http://motortrilhosdetabuaco.hi5.com. Os elementos (fundadores) da direcção Presidente: “Carramão” – Carlos Martins | 24 anos | Sta Catarina | «Desde pequeno que a paixão pelas motas e motores me ferve o sangue… enfim, desde que me lembro ser gente.» Vice-presidente: “Pama” – Paulo Alexander Andrade | 27 anos | Ponte de Vagos | «Lembro-me de comprar uma DTR 125 para me deslocar para o trabalho e em vez de ir por estrada ia por caminhos e trilhos. A moto já não tinha a potência necessária e então comprei uma RM250. A partir dai foi só gastar dinheiro e então tornei-me um “motodependente”.» Tesoureiro: Luís Fonseca | 27 anos | Tabuaço | «O “vício surgiu desde criança, desde que eu me lembro de ir a uma corrida de motocross na nossa zona, onde ainda tive a oportunidade de ver o nosso campeão Mário Kalssas.» GP

Centro Social e Bem-Estar de Ouca

25 anos a servir pequenos e graúdos «Foi no dia da festa de S. Martinho: estava eu a fazer a homilia e, ao narrar a história do padroeiro da nossa paróquia e Lar, anunciei o meu sonho de construir um lar para idosos e necessitados, porque, nessa altura, lembro-me que estava um pouco traumatizado com os idosos que foram repatriados de Angola e não tinham onde morar. Ainda fui ao Governo Civil solicitar casas pré-fabricadas para colocar em terreno da paróquia, mas nada consegui». Foi assim que nasceu o Lar de S. Martinho de Ouca. O padre António Correia Martins relembra ainda que, logo no final da eucaristia, «veio uma senhora à sacristia ter comigo para dar a primeira ajuda para construir o Lar: duas notas de cem escudos. Fiquei sensibilizado, até porque a senhora vivia em Coimbra, mas tinha origens de Ouca». Foi a partir deste momento que o primeiro e único pároco da paróquia de Ouca começou a trabalhar e a estabelecer contactos com a Segurança Social. «Fizemos projecto e, com o apoio da Câmara (no tempo da D. Alda), conseguimos uma verba do Estado no valor de 12 mil contos. Foi, até hoje, o único subsídio estatal que tivemos», lamentou, agradecendo, pelo contrário, à população local e emigrantes o apoio dado. «Naquele tempo, em que podia andar de um lado para o outro, fui ao Brasil, América, Venezuela e Canadá e, junto da comunidade ouquense ali residente, conseguimos as verbas necessárias para a construção do primeiro Lar misto do concelho – até então apenas existia o Lar feminino de Santo António». Inaugurado a 8 de Dezembro de 1984 – dois anos depois do início da sua construção -, o Lar de S. Martinho começou com as valências de Lar da 3ª Idade (30 idosos) e centro de dia. Depois sofreu obras de ampliação, aumentando para 70 vagas. «Por ser tão elogiado – referiam-no como um hotel de 5 estrelas – o Lar sempre teve uma procura enorme; a lista de espera chegou mesmo a ultrapassar a centena», menciona orgulhoso o pároco. Razão que o levou a apresentar o caso à Segurança Social, onde foi aconselhado a apresentar projecto. Aprovado o novo edifício (em Julho de 2000), «comecei outra peregrinação pelo estrangeiro para conseguir mais fundos». Obra controversa, mas quase ocupada Foi desta forma que nasceu o Centro Comunitário do Centro Social e Bem-Estar de Ouca, orçado em 2,4 milhões de euros. «Foi uma obra com algumas complicações:

parte do terreno estava em área de Rede Ecológica Nacional, mas através de um despacho de 1998, assinado por Ferro Rodrigues, João Cravinho e Elisa Ferreira, fomos autorizados a ocupar 5 mil metros dessa área para construção de mini apartamentos em redor do edifício que recentemente inaugurámos (e que foi construído em área urbana)», explicita António Correia Martins. Entretanto, os mini apartamentos, que constam do projecto inicial, estão pendentes «porque até hoje não recebemos qualquer apoio e não temos meios próprios para já». De acordo com o director de serviços da IPSS ouquense, o novo edifício tem capacidade para 70 idosos, no entanto apenas está ocupado nas valências de creche (20 crianças), apoio domiciliário (30 idosos) e 13 crianças da CAF (prolongamento de horário). «Desde o ano 2000 já promovemos, também, oito cursos de formação profissional nas mais

variadas áreas», adianta Daniel Amaral, salientando ainda que «prestamos apoio, em parceria com a autarquia, na refeição a 16 crianças do pré-escolar e 30 do 1º ciclo». Neste momento, o Centro é o maior empregador da freguesia (50 funcionários). «O Centro Social ajudou a crescer Ouca nas mais diversas vertentes», vinca Daniel Amaral. «Dinâmica e com vontade de crescer», apesar dos seus 25 anos, a instituição tem «outros sonhos que gostaria de realizar», acrescenta o pároco. «Tentamos adaptar-nos às exigências, com vista a uma melhor prestação de serviços, e depois da ocupação do novo edifício, vamos ver se conseguimos avançar com a piscina de hidroginástica (para o qual já temos projecto) e com a instalação de painéis solares para criação de energia fotovoltaica», conclui. GP


O Ponto | 17/

VII

Desporto em Carregosa

Do atletismo ao futebol distrital

Foto: Edgar Almeida

Associação Recreativa e Cultural de Ouca

Uma ARCa de saberes e tradições ao dispor da freguesia Teve início há dez anos, no seio do grupo de jovens da freguesia de Ouca, mas foi a partir de 2005 que a Associação Recreativa e Cultural de Ouca (ARCO) iniciou o seu trabalho de promoção e divulgação da memória e cultura popular e tradicional da freguesia de Ouca. «O ressurgimento da associação foi coincidente com uma altura muito má na nossa vida», relata Tony Richard Almeida, membro da direcção da ARCO e filho da fundadora e presidente da direcção, Fernanda Oliveira. «A associação funcionou como que um tratamento psicológico para a minha mãe», acrescenta. A primeira valência a surgir foi o Coro Misto da ARCO, do qual é maestro. «Eu estava à frente do grupo coral da paróquia e, depois de sair, fui desafiado para criar um coro polifónico». Quase em simultâneo é tornado realidade um sonho de Fernanda Oliveira: a criação do Rancho Folclórico. Foi criado para «preservar as raízes culturais que se estavam a perder no tempo, uma vez que estava a decair a interligação oral entre gerações», explicita, afiançando que «o trabalho comunitário da minha mãe despontou a partir desse momento». E, «para espanto de todos», o rancho foi muito procurado por crianças que, por não quererem apenas um papel passivo, passaram a ter o seu próprio grupo: o Rancho Infantil da ARCO.

Depois dos Tambores da Venezuela e da Fanfarra, a banda ou orquestra Uns anos mais tarde, e partindo de uma «brincadeira», surge o Grupo Tambores da Venezuela. «Esta é uma expressão do barlavento venezuelano, com raízes indígenas, reconhecida por todos os emigrantes ou pessoas que estiveram na Venezuela», afirma Tony Richard. Também ele nascido na Venezuela, garante que «é uma valência da ARCO que faz muito sucesso por onde actua», levando uma «alegria contagiante» a todas as pessoas. A última valência a ser criada foi a Fanfarra. «Era outro sonho da minha mãe» e a que «mais trabalho» deu. É que a associação não tinha qualquer verba para a criação deste núcleo. Para conseguirmos adquirir os instrumentos, andámos a fazer peditório porta a porta – e aqui deixo um grande obrigado a toda a população da freguesia, que foi muito colaboradora e prestativa -, a minha mãe fez a farda e também a autarquia nos apoiou imenso», lembra. Para além das agendas «preenchidíssimas», a associação tem a pretensão de crescer ainda mais. Em carteira tem alguns projectos, como a criação de um núcleo federado de xadrez ou de ténis de mesa, e a constituição de uma banda ou orquestra. «Este é o mais recente sonho da minha mãe, depois da

actuação conjunta do Coro Misto com a Orquestra Tuna de Santa Cecília, de S. Bernardo», uma iniciativa que pretende repetir em Ouca, «talvez na Páscoa». «Quando olhamos para a freguesia, verificamos que há muitas pessoas com vocação para a música, mas está tudo fora de Ouca - como costuma dizer a minha mãe – porque aqui não existem as estruturas necessárias; o que não significa que não estejam a fazer um bom trabalho, antes pelo contrário». A única razão que os vai impedindo de concretizar este sonho é a falta de meios, «não só financeiros, mas sobretudo humanos». «Somos sempre as mesmas pessoas a trabalhar e este novo núcleo iria obrigarnos a ter outra estrutura, porque teríamos que dar início à formação musical», adianta. No entanto elogia os elementos que são comuns em diversas valências e que, por isso, se «deslocam três ou quatro vezes por semana para os ensaios».

A ARCO em números Coro Misto – 30 elementos Rancho Folclórico – 30 elementos (com músicos) Rancho Infantil – 18 elementos (com mesmos músicos do Rancho) Tambores da Venezuela – 20 elementos Fanfarra – 52 elementos

O Atletismo Futebol Clube da Carregosa é a única associação desportiva da localidade. Fundada em 1983, pela equipa liderada por Albino Carrancho, durante cerca de dez anos dedicou-se à modalidade de atletismo, numa altura em que era “moda” ter ou pertencer a um clube de atletismo. «Era uma equipa como o actual GRECAS: os nossos atletas estavam bem classificados e ganhavam muitos prémios a nível regional», relembra Rogério Leirião, actual presidente da direcção do clube carregosense. «Com o passar do tempo, e porque as despesas são sempre muitas, as direcções que se seguiram decidiram continuar com a modalidade mas apenas com as camadas jovens», acrescenta. Sem interrupções na sua actividade, o Atletismo Futebol Clube da Carregosa decidiu, passada uma década, voltar-se para o futebol. Foi, aliás, a primeira equipa do concelho de Vagos a inscrever-se na Inatel depois de «quatro ou cinco anos» de trabalho com as camadas mais jovens (iniciados e juvenis). «Aos poucos fomos conseguindo ajudas financeiras e o apoio da população e o clube passou a estar menos descaracterizado», afiança, justificando a entrada para a Associação de Futebol de Aveiro (divisão distrital) no início desta temporada. «Sabemos que isto não é para dar lucros e só passámos a ter mais despesas e trabalho, até porque o campo teve que sofrer alterações quando entrámos para o Inatel e também agora para o futebol federado», explicita Rogério Leirião, lamentando recompensar os jogadores somente com o pagamento de seguro e a alimentação em dias de jogo. «O pagamento é mesmo a amizade que permanece entre todos», defende,

elogiando a prestação da equipa que, «embora esteja ainda em fase de adaptação, “dá o litro” e só não faz mais porque não consegue». Freguesia distanciada do clube Ao fim de seis anos enquanto presidente da direcção, Rogério Leirião mostra-se contente por ter consigo formalizar a associação para poder receber subsídio da autarquia, bem como registar o campo em nome do clube. «Entretanto, conseguimos adquirir uma carrinha, que acabou por ser roubada», mas nem isso os fez desistir. No que diz respeito à estreia da equipa do Carregosa no distrital, o presidente confirma que os resultados estão dentro das expectativas. «Não ficar em último é o que nos interessa e, até ver, estamos a conseguir». Contudo, diz não perceber o porquê da freguesia não apoiar muito o clube. De acordo com o presidente, o Carregosa tenta participar em todas as iniciativas que são promovidas na freguesia, «mas ninguém vem ter connosco; não sabemos qual a razão, deve ser algo do passado», advoga. E isso verifica-se pela composição da equipa: a grande maioria é de Carregosa. «Já jogaram dois ou três de Rio Tinto mas desistiram, pelo que tivemos que recorrer a jogadores das freguesias de Soza e Santa Catarina», diz. Mas, mais uma vez, não baixa braços e cria, por exemplo, aulas de ginástica de manutenção na sede – na desactivada EB1 da Carregosa – para chamar a população ao clube. «Mesmo que não apareçam as pessoas em número que gostaríamos, não esmorecemos e continuamos a vir nós», conclui. GP e AC


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VIII Breve apontamento sobre a História de Ouca

Ouca em números Área: 20 km2 População: 1990 habitantes (de acordo com sensos de 2001) Recenseamento: 1.656 eleitores Localidades: Ouca, Carregosa, Rio Tinto e Tabuaço Festividades religiosas: - Festas em honra de Santa Maria Madalena – Rio Tinto (meados de Julho) - Festas em honra do Senhor dos Aflitos (1º domingo de Agosto) - Festas em honra de Nossa Senhora da Saúde – Carregosa (1º domingo após 15 de Agosto) - Festas em honra de Nossa senhora das Virtudes e S. Sebastião – Ouca (segundo domingo de Agosto) - Festas em honra de S. Gregório – Carregosa (Setembro) - Festas em honra de S. Martinho – Ouca (Novembro) - Devoção a S. Tomé e Nossa Senhora de Belém e da Guia – Ouca - Procissão Mártir S. Sebastião (20 Janeiro) Curiosidade: A freguesia foi a terra natal de doze padres que se formaram entre 1710 e 1876 Locais de interesse público: - Igreja Matriz - Capelas de Nossa Senhora da Guia e Nossa senhora de Belém (Ouca) - Lar de S. Martinho - Quinta do Barroco (Tabuaço) - Quinta da Fonte - Estufas de Flores (Quinta da Agra) Associações culturais e desportivas: - Associação Cultural e Desportiva de Ouca (desactivada) - ARCO – Ass. Recreativa e Cultural Ouca - Atletismo Futebol Clube da Carregosa - Alma Mística - Associação Cultural, Desportiva e Recreativa (Rio Tinto) - Motor Trilhos do Tabuaço Ensino público: - EB1 de Ouca - Jardim-de-infância de Ouca Actividade económica: - Agricultura - Algum comércio tradicional Emigração: - 30% sobretudo em França e Venezuela, mas também na Suíça, Canadá e Angola

Parque da Fonte à espera da continuidade… Outrora uma área coberta por silvas e escondida por cedros, o Parque da Fonte, em Ouca, veio dar uma vista mais “airosa” àquele espaço, constituindo-se num dos mais belos recantos locais, convidativo a almoços e lanches entre amigos ou familiares. «Quando eu fui eleita para a presidência da Junta de Freguesia, uma das coisas que achei mais degradadas foi essa área, porque os cedros ali existentes estavam mais altos que o muro do Jardim-deInfância, parecia-me quase uma prisão. Além disso, o sítio estava tão escondido que o pessoal ia com motorizadas fazer espécie de ralis para esse local», relembra Fernanda Oliveira. Classificando-o de «assustador», a presidente de Junta afirma que fora sua intenção, desde logo, “desfazer-se” das paredes e placas de cimento que escondiam a água da nascente. «Quando perguntei às educadoras se estavam de acordo em arrancar os cedros, elas ficaram muito contentes porque não entrava sol na escola e só entrava bicharada». Com esta resposta positiva, foi com a ajuda da

edilidade que se removeram os cedros e se deu início à construção do actual Parque da Fonte. «Quando era miúda existia ali um rio onde, em mesas de madeira, lavávamos a roupa, que depois estendíamos a corar na relva existente nas encostas envolventes; e com esta obra quisemos trazer um pouco desse passado para o novo visual», adianta. Deste modo, os tanques «degradados» foram substituídos por outros novos - «porque ainda há, pelo menos, duas pessoas que lavam nos tanques» -, retiraram-se as placas de cimento para dar visibilidade «mas com segurança» e construiu-se a churrasqueira (coberta), o lago e os balneários. No decorrer dos trabalhos, «descobrimos que a AENOR tinha adquirido alguns terrenos, uma vez que estava previsto para aquele espaço o traçado da A17». Foi a partir desse momento que se decidiu, numa parceria Junta/Câmara, dar continuidade ao Parque da Fonte para o lado oposto para além do parque de merendas, entretanto construído.

«Estamos a negociar alguns terrenos e já adquirimos alguns, nomeadamente o que possui a Azenha do Pedro – a Azenha do Cedro já foi demolida há tempos –, enquanto que a autarquia está a negociar com a AENOR os terrenos que havia adquirido», explica Fernanda Oliveira. No âmbito da 2ª fase do parque – vai até aos terrenos do Lar de S. Martinho –, pretende-se requalificar a encosta com alguns socalcos, aproveitando as «águas tão cristalinas e óptimas para o consumo humano» para ali localizar uma praia fluvial ou piscina. «Estamos ainda a negociar um terreno com o intuito de reconstruir os destroços existentes de um moinho de jacto de água – até hoje só vi um, no Norte, e que foi recuperado para fins turísticos» -, acrescenta, esperando conseguir «avançar com esta obra até final deste mandato». Este é um espaço muito procurado, sobretudo quando há bom tempo, para convívios diversos. Actualmente é a “casa” de um casal de patos bravos e, em breve, de mais patinhos que nascerão dos ovos já colocados. GP

A origem do topónimo parece ser o étimo latino aqua que quer dizer água. Na evolução Aqua- Auca- Ouca, verifica-se uma metátese. A origem aquática condiz com a referência a Ouca em mapas do séc. XVI como importante porto de mar. As ligações de Ouca com o Mosteiro de Jesus de Aveiro são bem conhecidas e estão bem documentadas. Ainda hoje são visíveis em Ouca muros de alvenaria bem antiga na zona que foi da quinta de Dona Brites Leitão. Com efeito o nobre Diogo de Ataíde e sua mulher D. Brites Leitão para aqui se deslocaram após a aquisição da quinta de Ouca. Aconteceu isto em meados do séc. XV, em consequência da batalha de Alfarrobeira, em que perdeu a vida o infante D. Pedro, em luta com seu sobrinho D. Afonso V. D. Diogo pertencia à casa do infante D.Pedro. A quinta de Ouca foi o embrião donde partiu a fundadora do mosteiro de Jesus de Aveiro, tendo depois funcionado como base recuada de apoio económico e fornecimento de géneros agrícolas. Foi também D. Brites quem, cumprindo vontade testamentária de seu marido, fundou um hospital ou albergue, que mais tarde daria o nome ao lactual lugar de Albergue. Os lavradores de Ouca e outras terras onde o convento detinha propriedades pagavam foros das terras, vinhas, pomares e azenhas, recebendo ainda o convento direiros de portagem sobre produtos vindos de fora para venda, como sal, telha, sardinha ou mexilhão. O topónimo advem portanto da proximidade do rio Boco. Ainda no séc. XVIII era navegável o braço de mar desde Sosa até São Romão. Para se ter uma ideia comparada da população de Ouca no passado, vamos referir os dados do numeramento de 1527. Sabemos que Vagos tinha nessa altura 100 vizinhos, Sosa 49, São Romão e Ouca 19 cada, Covão do Lobo 18, Lavandeira, Boco e Fareja 5 cada, Mesas, Fontão e Carregosa 4 cada, Salgueiro 3 e Sorães 2. Curiosamente, os lugares actualmente constituintes da freguesia tiveram diferentes ligações no passado: enquanto Ouca se ligava a Sosa, Rio Tinto e Tabuaço andaram durante muito tempo ligados ao antigo município de Sorães. Por outro lado há a informação de que a produção de sal foi substituída pela de arroz, em época não precisa, mas que em meados do séc. XIX era bem visível nos campos de Ouca. O descasque do arroz era feita nas inúmeras azenhas que ficavam na encosta, bem próximas das marinhas. Calcula-se que entre 1750 e 1800 se extinguiu a extracção de sal nas margens do Boco, tendo servido as marinhas depois disso para o referido cultivo de arroz. Pinho Leal refere o cultivo intenso de arroz em Sosa. Paulo Frade


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