Santo António, A minha Freguesia

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Corgo do Seixo de Baixo Corgo do Seixo de Cima Lameiro da Serra Lameiro do Mar Lomba Quintã

«St. António, a minha Freguesia» Ed. 210 de 23 Junho 2010


O Ponto | 14/

II

Especial Freguesia de Santo António

de Vagos

Entrevista a Fernando Julião, Presidente da Junta de Santo António de Vagos

«O que eu mais queria era ter uma creche» Que percentagem da freguesia de Santo António já beneficia de cobertura de redes de água e saneamento e como tem sido a adesão das pessoas a esses serviços?

Ouviram-se críticas por ter realizado alguns trabalhos na freguesia com recurso a uma empresa de familiares. Como reage a essas críticas?

São dois serviços distintos. O saneamento na freguesia não se prevê nos próximos anos. A rede de água está agora a ser trabalhada pela Águas de Portugal e não pela Câmara. A cobertura de água é grande, a rede chega a quase todas as pessoas da freguesia. Era conveniente que as pessoas que ainda não se ligaram o fizessem.

Não. Embora haja uma empresa, na qual não estou envolvido, a fazer serviço de máquinas na freguesia, não é a Junta que paga. A Junta não tem nada a ver com isso, isso é através da Câmara. Os materiais que a Junta compra, por exemplo, é directamente aos fornecedores e não à empresa que diz ser dos meus familiares.

Que novas possibilidades abriu ou que problemas ficaram resolvidos com a revisão do Plano Director Municipal (PDM) na freguesia? Penso que resolveu a maioria dos problemas de construção na freguesia. Ainda estão alguns por resolver, mas penso que ficarão resolvidos daqui a uns dois anos. O mais essencial ficou agora tratado. Na rua das Carreirinhas, na extrema entre Santo António e Santo André, antes não era permitido mas, agora, uma boa parte da rua é de construção. Na rua Irmã Rita, metade também já dá para construir e o resto espero que fique resolvido daqui a dois anos. Porque diz daqui a dois anos? Estamos a tentar negociar com as entidades para libertar algumas situações e penso que daqui por dois anos terá sido revisto o PDM. É mais ou menos esse o prazo que acho que vai demorar. No seu primeiro mandato alargou o cemitério, construiu o armazém da Junta e abriu caminhos. Qual pretende ser a sua marca neste 2º mandato? No mandato que está a decorrer irei fazer a ligação da rua do cemitério, a partir da frente do armazém, até à estrada principal. Quero também tratar do resto do cemitério, porque faltam obras lá dentro e é neste mandato que espero concluir. Estamos a alcatroar a Rua de Santo António, junto à Igreja, para aquilo ficar mais razoável. No final da rua, no Lameiro do Mar, em frente ao estabelecimento do Pandeirada, iremos fazer uma rotunda. Estou a tentar adquirir terrenos junto ao polidesportivo para que se possa fazer um pavilhão desportivo. Estou a tentar desbloquear essa situação para ver se conseguimos fundos para fazer esse trabalho ainda este mandato. Pode não ficar acabado, mas será iniciado. Também queremos alcatroar a rua dos Grecas. E estas são as principais obras, mas depois queremos abrir outros caminhos, se for possível.

A Junta tem como princípio dar preferência a empresas da freguesia para realizar os trabalhos necessários? Claro, eu creio que os serviços necessários deviam ser feitos pelas empresas da freguesia. Isso ajuda os da terra e eles também fazem mais “em conta”. Santo António deverá albergar o primeiro espaço museológico municipal: a casa Gandareza. Que importância terá esta obra para a freguesia? Não é uma obra da Junta. Pois não. É uma obra da Câmara Municipal, mas está sedeada na freguesia e prevê-se que venha a albergar algumas associações da mesma. A construção devia ser para o museu, rancho e rádio e está acabada. Acho que estão a ser discutidas alterações em relação ao que estava inicialmente planeado, mas ainda não há certezas e acho que este não é o momento indicado para falar. Em termos culturais, sobressai a existência do Grupo Folclórico de Santo António. Que papel assume esta entidade em termos de mobilização da população e divulgação da freguesia? É uma associação que traz valor à freguesia, porque ajuda a divulgar o nome da terra noutros lados do país e até lá fora [estrangeiro]. Eles fazem muitos sacrifícios e sei que andam por “amor à camisola”. Dou-lhes os parabéns pelo trabalho. Em termos desportivos, é de realçar o clube de atletismo Grecas. Eles também transmitem o nome da freguesia muito longe. Graças a eles, Santo António é mais conhecido. Eles estão em instalações da Junta, que foram cedidas num protocolo, já no tempo do primeiro presidente de Junta, acho eu. E penso que não haverá nenhum presidente de Junta que os irá tirar de lá. Assim como qualquer outra associação que estivesse em instalações que pertencessem à Junta, tenho a certeza que não haveria presidente

nenhum que a retirasse de lá, porque são da freguesia. Eu não o fazia e penso que ninguém na freguesia o faria. No campo da Comunicação Social, é nesta freguesia que está instalada a única rádio do concelho. Como é a relação entre ambos? Eu apoio a rádio e, tal como as anteriores, leva a freguesia mais longe. Valorizo as pessoas que estão à sua frente, porque se entregam e dão o seu tempo. Sei que é difícil neste momento gerir a rádio porque não há dinheiro e estão a trabalhar para esse fim. No campo social, a freguesia é servida pelo Centro Social. A instituição consegue dar resposta às necessidades da população? Pelas informações que tenho, penso que o lar está a trabalhar bem, não tenho queixas. Na parte do ATL, o centro social entendeu que não tinha condições e não podia continuar com essa parte. Fiquei triste porque se calhar podia-se resolver de outra forma, mas não se pôde resolver, paciência. Que serviços, em geral, ainda faltam para melhorar a qualidade de vida da população de Santo António? O que eu mais queria - e estou a tratar neste momento - era ter uma creche. Faz falta. Espero não sair da Junta sem ter uma creche para as nossas crianças. Estou a trabalhar para isso e não vou desistir. Será um projecto para desenvolver em parceria com o Centro Social? Com certeza iremos resolver alguns problemas em conjunto com o lar. Sobretudo por causa… (pausa) Das instalações? Precisaremos para desenvolver a valência. Em certa medida queremos contar com a colaboração do lar. A intenção é que a creche fique nas instalações do Centro Social? Não, serão umas instalações novas. Em breve poderemos avançar mais pormenores. Em tempo de crise, já se notam constrangimentos financeiros na gestão da Junta? Enquanto não nos cortarem os valores do subsídio que o Estado atribui, continuaremos a trabalhar como até aqui. Nunca é fácil. ZC


Especial Freguesia de Santo António

de Vagos

Grupo Folclórico

Victor Martins, actual director artístico, orgulha-se de o GFSA já ter «identidade própria» e ser «uma referência na região». «Já passaram por aqui muitas pessoas, desta freguesia e de outras». Ele, a par com João Agostinho (fundador e ainda hoje presidente da direcção) é dos melhores exemplos. Victor, por exemplo, envergou os trajes desde a fundação do grupo, quando contava apenas 15 anos e manteve a ligação ininterruptamente até aos dias de hoje. «Tenho orgulho porque é um grupo de qualidade que tenta manter as tradições genuinamente e manter vivas as vivências de antigamente», vinca. Ao longo de mais de três décadas, actuaram em praticamente todo o país e deslocaram-se por diversas vezes a Espanha e França. Mas nem só actuações e danças preenchem os dias do grupo. Para contar há também recriações de feiras antigas, escapadelas, romarias, festivais do moliceiro e encontros de

ranchos. Na verdade, o grupo divide as actividades em três grandes áreas: trabalhos ligados à Ria e ao Mar, o campo e Romaria à Senhora de Vagos. Festival do Moliceiro difícil de recriar É com o típico Festival do Moliceiro que a colectividade se distingue e tenta manter viva a memória da faina do moliço, recolhido nas profundezas da ria e usado para adubar os campos em tempos idos. «O rio Boco, antigamente, era a “auto-estrada” da zona, pois servia para transportar lenha, milho, sal e muitos outros produtos», explica Victor Martins. Era do seu leito que era recolhido o moliço, um produto «muito importante para fertilizar os campos, porque antes eram só areias», acrescenta. Pelas águas da região circulavam desde barcos saleiros, bateiras, mercantéis, moliceiros, matolas e muitos outros. No cais das Folssas Novas, em Vagos, aportavam e avistavam-se sobretudo os matolas, uma espécie de “parente humilde” dos moliceiros, uma vez que «não possuíam qualquer adorno, tinham a proa cortada ou mais pequena e eram totalmente revestidos com o breu preto. Circulavam mais na zona sul, no Canal de Mira da Ria de Aveiro», explicou a O PONTO Senos da Fonseca, um ilhavense que ainda se recorda de ver os matolas a cruzar as águas e se tem dedicado a recolher dados históricos da região ligada à Ria de Aveiro. Segundo aquele, o nome matolas serviria igualmente para definir as gentes da Bairrada que iam a banhos nas praias

III

Casa Gandareza, uma das maravilhas da Gândara

Mais de três décadas a preservar tradições

Estávamos a 15 de Agosto de 1978 quando, no seguimento de uma festa paroquial, foi criado, pela mão de João Agostinho “Padeiro”, o Grupo Folclórico de Santo António (GFSA), um bastião da cultura tradicional da freguesia. A autenticidade dos trajes que envergam e das músicas, resultado de recolhas junto da população idosa e de um grande esforço de preservação etnográfica, tornaram-nos uma referência no folclore da região. O reconhecimento chegou em 1998, com a adesão à Federação de Folclore Português.

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da Costa Nova, em Outubro, findas as vindimas, mas sem ligação explícita às embarcações. Mas as tradições vão sendo cada vez mais difíceis de recriar. Os barcos matolas, já extintos, foram substituídos por barcos moliceiros e saleiros na viagem organizada pelo grupo folclórico. À semelhança dos anos transactos, no próximo dia 8 de Agosto, os vários ranchos convidados deverão voltar a embarcar para uma viagem até Cais das Folssas Novas, em Vagos, onde assistirão à reconstituição de um leilão de moliço. No ano passado, já não foi possível adquirir moliço e este ano dependerá do preço. «Reviver mesmo a sério a faina talvez já não seja possível. Há dificuldade em conseguir moliço, porque há pouco e a apanha fica dispendiosa», explica Victor Martins. Mudança de instalações aguarda termos da autarquia Relativamente à mudança de instalações - do salão paroquial para a construção da casa-museu de Santo António (casa gandareza) - Victor Martins referiu apenas que aguardam «proposta formal da Câmara Municipal de Vagos sobre o modo como iremos para as novas instalações». O director artístico escusou-se a avançar mais pormenores. O PONTO sabe que a mudança, assim como os objectos do grupo que previsivelmente farão parte do espólio da casa-museu, são matérias que ainda estão a ser discutidas com a autarquia vaguense. ZC

De tradição árabe ou mourisca e com incorporação de elementos renascentistas, a Casa Gandareza deixa adivinhar a vida sóbria e serena do campo e das pessoas que trabalhavam, outrora, no campo. Construídas à base de granito, adobe, telha caleira e madeira de pinho, o recurso a este tipo de arquitectura já não é muito usual nas novas construções e as que ainda persistem vencer o tempo e a evolução estão, na sua grande maioria, votadas ao abandono. São poucos aqueles que optam pela reconstrução ou requalificação deste património tão conhecido da região da Gândara. Esta é uma casa pátio. A sua construção em L permitia ter um pátio fechado à retaguarda. Conhecida pela sua fachada frontal – composta por um motivo típico janela-porta-janela, das quais uma era a porta da sala e outra o portão por onde se passava habitualmente (quer as pessoas quer a carroça dos bois) –, a Casa Gandareza era constituída, no seu interior, por dois ou três quartos (localizados entre a cozinha e a sala) e pela chamada sala do Senhor, destinada sobretudo a eventos de cerimónia: era aberta no dia da Páscoa para receber a Cruz, e nos dias de casamentos, festas familiares e, sobretudo, para velar os seus entes falecidos. Existia, também, uma ou duas cozinhas: uma mais pobre, onde existia um borralho a lenha e forno e onde se reuniam os da casa; a outra era mais arrumada e servia sobretudo para receber pessoas de fora. Uma eira para estender o milho ou os feijões, um celeiro para guardar as alfaias agrícolas, e diversos currais com os animais constituem as restantes partes que compõem a casa gandareza. Casa-museu muda-se de freguesia Dado que este património está a cair no esquecimento, a Câmara Municipal de Vagos tem apostado na aquisição de casas (não muito) devolutas para proceder à sua recuperação e transformação em unidades/pólos museológicos. Exemplo desta intenção é o trabalho que a edilidade tem vindo a desenvolver na Casa Gandareza de Santo António de Vagos, que durante muitos anos foi zelada pelo Grupo Folclórico local. As obras de requalificação da casa e construção de um novo edifício na retaguarda (destinado ao uso do Grupo Folclórico e à instalação da Vagos FM)

tiveram lugar nos últimos dois anos e, há já muito, foi contratado um técnico ligado à museologia etnográfica para se proceder à instalação do espólio existente no museu. Contudo, no decorrer da semana passada, o edil Rui Cruz informou que o processo «ainda está em negociações». Em declarações solicitadas pelo PONTO, explicou que a Câmara «ficou de elaborar uma proposta numa reunião que teve com o Rancho, Rádio e Junta». É que «chegámos à conclusão que a casa-museu era exígua para criar um espaço museológico que cumprisse os requisitos para integrar a Rede Nacional de Museus», facto que impediria o acesso a financiamentos para desenvolver, posteriormente, o museu. Por outro lado, «a somar, tínhamos necessidade de encontrar um espaço para o rancho», uma vez que o rés-do-chão do edifício novo – cujo «projecto foi acompanhado e alterado diversas vezes quer pelo rancho quer pela rádio» - não era o mais adequado para a associação. «Questionados, disseram-nos que precisam de uma nova

construção com 210 metros quadrados», afirmou, defendendo que seria um «custo semelhante ao que já lá estava». Face a estas duas circunstâncias, e numa reunião tida entre as partes, a casa será cedida ao Grupo Folclórico, enquanto a Junta de Freguesia ficará responsável por zelar e proceder à manutenção do espaço envolvente e do edifício novo, «fazendo protocolos com as associações que entender», uma vez que «a rádio não tem condições para ali se instalar». O futuro só será definido logo que a proposta seja aprovada por todas as partes. Como contrapartida, a autarquia pretende apenas que lhe seja cedido o espólio para o futuro espaço museológico «de qualidade», que «continua a ser intenção do Município». Sem querer desvendar o local do futuro museu, apenas deu a entender que não será na freguesia de Santo António. GP

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IV

Especial Freguesia de Santo António

de Vagos

Manuel Creoulo

O padre operário que deixa saudade e obra O desenvolvimento da freguesia de Santo António confunde-se com a vida do padre Creoulo, um homem que, mais que saudade, deixou obra feita. Manuel da Rocha Creoulo nasceu em Calvão a 3 de Novembro de 1922 e foi ordenado sacerdote no Bunheiro (Murtosa) em 1947. Passou alguns anos em Nariz e foi depois colocado como Capelão em Santo António. Dario Martins, “pupilo” e amigo do falecido sacerdote, elogia-lhe a capacidade de empreender e traça o perfil de um homem que, assume frontalmente, lhe moldou a forma de ser e estar na vida. «O padre Creoulo era bondoso, preocupava-se com as pessoas e tentou ocupar a juventude com diversas actividades para os tirar de maus caminhos. O povo confiava e tinha respeito por ele. Era trabalhador e, que me lembre, nunca tirou férias. Era esperto e sabia aproveitar as oportunidades e sugestões que iam surgindo. Também tinha um carácter forte, do género “antes quebrar que torcer”», recorda. Foi sob a sua égide que se construiu o cemitério, a residência paroquial e se remodelou a antiga capela que existia na localidade. Em 1964 haveria de direccionar todo o tempo e esforço na construção da igreja matriz e salão paroquial, obras que ficaram concluídas em 1971. «Era um padre operário. Lembro-me que ele andava na obra da Igreja de pá e picareta na mão, a trabalhar. Era dirigente e operário ao mesmo tempo, dava o exemplo. Tinha um carisma e uma capacidade de cativar e congregar a população muito grande», recorda o ex-seminarista, hoje diácono.

Segundo este, «naqueles tempos, a Igreja tinha muita força e o padre, para além da parte eclesial, também colaborava na formação cívica e ocupação de tempos livres dos jovens». Mas a obra não fica por aqui. Há cerca de 25 anos, aproveitando um projecto iniciado por algumas mulheres sob o nome de Lar de Betânea, o sacerdote adquiriu um terreno e iniciou a construção do lar. Entretanto, o espaço teve de ser remodelado e ampliado para dar lugar ao Centro Social e Paroquial. Em 1987, fundou, em conjunto com Dario Martins e João Agostinho (Padeiro), a rádio Boa Nova que, após legalização e processo de renovação de imagem, deu lugar à actual Vagos FM (88.8 Mhz). Enquanto isso, desempenhou funções como professor de coral no Seminário de Aveiro, director do Colégio particular de Vagos (já extinto), ecónomo do Seminário de Calvão (actual Colégio) e presidente da Assembleia-geral da Cooperativa Agrícola, sublinha Dario. Em 1999, o padre Manuel Creoulo viria a falecer, vítima de doença. O homem partiu, mas a obra permanece. ZC

Lucinda e Céu amassam pão há quase 40 anos Todos os dias da semana começam da mesma forma para Lucinda e Céu Santos, duas irmãs que residem em Lameiro da Serra. Não há sábados, nem domingos, nem feriados: qualquer dia começa às 5h da manhã, com o acender do forno. Estamos a falar das duas irmãs padeiras, as únicas na freguesia – e talvez no concelho de Vagos – que ainda cozem o pão artesanalmente. «Sou padeira há quase 40 anos. Aprendi com as padeiras de Vale de Ílhavo, aos 22 anos, mas foi em casa que me aperfeiçoei e apanhei entusiasmo», afirma Lucinda Santos, que apenas fez desta a sua vida profissional depois que se casou. «Primeiro comecei em casa dos meus pais e só passado algum tempo é que vim para a minha casa», diz, depois de uma manhã de volta da massa, do forno e dos pães bem fresquinhos acabados de sair do forno e que já começam a ser procurados por vizinhos. «Costumam cá vir várias pessoas da localidade, mas também outras vindas de mais longe que provaram uma vez o pão e que gostaram muito», continua, garantindo que o pão «não tem qualquer segredo»: «é feito à base de farinha de trigo natural, sal (muito pouco), água e fermento. Não tem qualquer químico», desvenda sem qualquer tipo de receio. Com a ajuda do marido, que procede à distribuição do pão porta a porta ou nalguns estabelecimentos comerciais e restaurantes ali próximos à medida que as fornadas vão saindo, o pão de Lameiro do Mar e os seus folares, com ou sem ovos, confeccionados pela altura da Páscoa, são também conhecidos dos emigrantes. «Quando vêm de férias não passam sem cá vir buscar pão e até levam os folares para o estrangeiro», afirma orgulhosa. Apesar de «termos trabalho suficiente para nós as duas, tendo em conta a nossa idade», a realidade é que o número de fornadas «nada tem a ver com há quinze ou vinte anos atrás». Com a concorrência das padarias e com a redução do poder de compra, as pessoas passaram a consumir menos pão. «Nem vou dizer as fornadas que fazemos diariamente para que as pessoas não tenham medo que deixemos de cozer», brinca, dando garantias de que irá cozer «até poder». Este é um pão certificado e, apesar de ser confeccionado em casa, tem assegurada a sua qualidade pela delegação de saúde de Vagos. GP

João “Padeiro”

Quatro décadas a trabalhar pela freguesia João Agostinho, mais conhecido como “João Padeiro”, dedicou mais de quatro décadas da sua vida ao trabalho em prol da freguesia que adoptou e sente-se satisfeito. Aos 89 anos, inscreve no currículo colaborações na construção da igreja, rádio, fundou o grupo folclórico e ainda deu “uma mãozinha” na cooperativa agrícola. João Agostinho nasceu em 1921 em Lombomeão (freguesia de Vagos) e casou em Santo António onde, anos depois, viria a fixar residência. Antes disso, emigrou para Venezuela. «Diziam que lá as pessoas eram bem sucedidas e faziam fortunas. Eu também fui e acabei por ser proprietário de padaria. Estive lá 16 anos mas voltei porque fui assaltado e ameaçado de morte pelos ladrões. E também por saudades da filha», contou, quando há dias recebeu O PONTO na sua casa. Quando voltou a terras lusas, em 1965, «não tinha necessidades financeiras e pude dedicar-me à freguesia», acrescenta. Colaborou na construção da Igreja, no lar, na criação da rádio Boa Nova (hoje Vagos FM) e esteve três anos na direcção da Cooperativa Agrícola. Mas foi na fundação do Grupo Folclórico de Santo António de Vagos que se distinguiu. «O padre Creoulo pediu-me que ensaiasse as crianças para uma festa e a ideia ficou». Daí até à fundação do rancho, em 1978, foi um ápice. João Agostinho tocava viola e, com a colectividade, correu Portugal de lés a lés e foi várias vezes a Espanha e França. Actualmente ainda preside ao grupo e assiste a todos os ensaios mas «o trabalho é mais deles [restantes membros do grupo folclórico], que eu já estou velho», ri-se, do alto dos seus 89 anos. «Dediquei o meu tempo quase todo à freguesia desde que vim da Venezuela. Acho que fiz um bom trabalho. A amizade das pessoas é o essencial e recompensa suficiente. Sinto que me respeitam, tanto em Santo António como em Lombomeão. A vida está quase no fim e posso dizer que estou satisfeito», termina, sorrindo. ZC

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de Vagos

Bispo emérito D. António dos Santos

Vida de fé repartida entre Vagos e Guarda A 14 de Abril de 1932, D. António dos Santos tomou o seu primeiro sopro de uma vida que haveria de dedicar a Deus e aos outros. Foi o quarto de sete irmãos e logo aos doze anos escolheu o seu caminho: «desejava ser melhor, ser mais santo e ajudar os outros», resume, sem hesitar ou reflectir muito. Mais à frente na entrevista que cedeu ao PONTO, haveria de confirmar que estas são, ainda agora, aos 78 anos de vida, as linhas mestras que orientam a sua vida. Não é por isso de estranhar que a passagem bíblica «Deus amou de tal forma o mundo que lhe deu o seu filho unigénito», seja a sua eleita. A fé e entrega notam-se nos gestos, no desprendimento, na paciência e nas acções, como sejam as três horas diárias que passa na capela da sua habitação a meditar e a «rezar pelas intenções que me pedem». A vida de alguém que se entregou a Deus não é mais sua. D. António dos Santos estudou no Seminário em Aveiro e depois nos Olivais. Ponderou. «Se for para ser mau padre, não quero ser, disse. Mas sossegaramme e disseram-me que demonstrava aptidões». Não mais olhou para trás. Foi ordenado presbítero a 1 de Julho de 1956, em Albergaria-a-Velha. A nomeação como Bispo Titular de Tábora e Auxiliar de Aveiro surgiu em Dezembro de 1975. Seguiu-se a ordenação episcopal e, em 1979, foi nomeado Bispo da Guarda. Resignou em 2005, na sequência de

problemas de saúde, mas não deixa de ser bispo (emérito). Porque não é um posto qualquer, há-de fazer parte de si até ao fim dos seus dias. Em 2005, voltou à terra natal, para a casa construída ao lado daquela onde nasceu, em Quintã (Santo António de Vagos). Mas nunca deixou de ser da Guarda, tal como nunca deixara de ser de Santo António, pois os amigos e os laços que as vivências partilhadas criam, mantêm-se. As visitas sucessivas «aquecem o coração» e reavivam a memória.

como é carinhosamente chamado pela população, garante, ainda, entre sorrisos de boa disposição, que «o que tenho recebido da Igreja ficará para a Igreja, não vou deixar para a família». Foi um conselho da mãe que promete seguir. Mas há algo que é apenas seu, porque não se desprega nem se compra. O respeito, que repete diversas vezes ao longo da conversa com o PONTO, é uma dádiva que conquistou ao longo da vida. Haverá maior bênção que sabê-lo genuíno? ZC

Hoje, preenche os dias entre leituras, orações, visitas, confissões e algumas celebrações eucarísticas, tanto em Vagos como na Guarda. «Gosto de livros que falem de teologia e de ideais, que é algo que falta hoje em dia. Também gosto de falar latim», desvenda. Foi nesta língua que se orgulha de ter comunicado com o Papa Bento XVI, em Roma. «Conheci-o quando era ainda o cardeal Ratzinger. Ele era simples, cordial, inteligente e humilde». Há dois anos, recebeu das suas mãos a cruz peitoral que traz junto ao coração e «falámos os dois em latim». O eterno “bispo da Guarda”,

Padaria, todo o tipo de pastelaria, Pizzas e Hamburgueres Bolos para casamentos/Baptizados/Comunhões/Aniversários

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V

Mário Kalssas

Campeão nacional de MotoCross ajuda a manter modalidade no concelho Tinha apenas «12 ou 13 anos» quando pegou pela primeira vez na motorizada Sachs do pai para percorrer as ruas de Santo António, mas o gosto e o jeito calaram fundo e, nos anos subsequentes, haveria de sagrar-se por cinco vezes campeão e oito vezes vice-campeão nacional de MotoCross. Mário Jorge da Rocha ficou conhecido pelo nome de família “Kalssas” e, apesar da fama, nunca desfez os laços à terra que o viu nascer ou ao negócio de família onde, ainda hoje, aos 53 anos, procede à venda e reparação de maquinaria agrícola. «Comecei a correr a sério quando tinha 16 anos, numa prova realizada pelos Bombeiros Voluntários de Vagos na Quinta do Ega. Comecei bem, fiquei em terceiro lugar. Viram que tinha jeito e os amigos, família e a marca Zundapp incentivaram-me a continuar», recorda, a pedido do PONTO. A partir daí, começou a treinar duas vezes por semana e a participar em provas por todo o país e também em Espanha, França, Suíça, Itália e Suécia. Correu pelas marcas Zundapp, Husqvarna, Villa, Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki. Até se retirar, em 1990 e ao fim de 17 anos de carreira, fez «mais de 500 provas e ganhou 106 corridas», contabiliza, com um misto de orgulho e saudade, olhando para as taças que se amontoam na sua sala de estar.

Mas nem tudo foi bom pois, ao longo da carreira, também sofreu avarias e lesões. A maior de todas acabou por ser um ponto de viragem. «Em 1984 estive para me retirar, a conselho dos médicos, com um problema renal, agravado por uma queda muito complicada numa prova no Porto». Resistiu. E foi a partir daqui que, por ironia do destino, conseguiu sentir o gosto de alcançar o primeiro lugar no pódio. Foi nos anos de 1987, 1988 e 1989 que se sagrou (num total de cinco vezes) campeão nacional, em 250 cc e/ou 500 cc. Nos anos de 1978, 79, 81, 83, 84, 85, 89 e 90 foi vice-campeão nacional de MotoCross em 250 cc e/ ou 500 cc. A última competição foi no ano de 1990. Estava no auge da carreira mas, ainda hoje, considera que foi a decisão acertada. «Fechei a década com vitórias e saí quando estava bem. Preferi que fosse assim», diz, simplesmente. Saiu campeão e é assim que será sempre recordado. Mas, como o gosto pela modalidade não esmoreceu, passou agora para “o outro lado” das pistas. Actualmente assume o cargo de vice-presidente da associação que rege a Pista da Floresta (situada na estrada que liga Santo António à Boa Hora) e colabora na organização do Troféu Baixo Vouga de MotoCross (abarca Vagos, S. João de Loure e Alquerubim). É uma nova pista que se estende à sua frente. ZC

Quintã Vagos


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VI

Vagos FM

Diariamente a dar música e notícias do concelho e região Começou por se denominar Rádio Boa Nova quando, em 1987, foi fundada pelo pároco da freguesia, pd. Manuel Creoulo. Com o objectivo de promover o concelho de Vagos, baseando-se nos valores de inspiração cristã, foi no dia da festa religiosa local, a 13 de Junho, que as suas instalações (por cima do salão paroquial) foram benzidas. Tal como todas as rádios criadas na altura, também esta era “pirata”, tendo sido obrigada a encerrar, ano e meio depois, com a nova Lei da Rádio. É nessa altura que é criado estatuto jurídico e que recebe o alvará de radiodifusão reservado ao concelho de Vagos, constituindo-se a Cooperativa Rádio Emissor de Santo António. Retomou a actividade sob a designação de Rádio Voz de Vagos a 16 de Setembro de 1989. «Moralmente» ainda ligada à paróquia e à inspiração cristã, «continua apenas ligada à religião fisicamente, já que o presidente da direcção é o pároco local e as suas instalações são cedidas pela paróquia», explica o director Manuel Pereira. Uma situação que pode ser alterada com a mudança de instalações para o novo edifício construído junto à Casa Gandareza. «Realmente, as actuais instalações são “apertadas” mas o edifício não é propriamente velho; no entanto, o equipamento mobiliário deixa bastante a desejar», afirma, mostrando o seu orgulho pelos profissionais da casa já que «outros, com melhores condições técnicas, não conseguem fazer aquilo que ali se faz». Relativamente à mudança em si, Manuel Pereira relembra que a cooperativa apresentou uma estimativa de custos para a eventual mudança, mas admite que «para nos mudarmos, seriam necessárias obras de adaptação e equipamento mobiliário novo», pelo que «não temos

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de Vagos

Centro Social e Paroquial de Santo António de Vagos

condições financeiras para tal». «Aliás, se temos dificuldades para as despesas correntes, não nos podemos comprometer com um montante daqueles, até porque terminaram as candidaturas a financiamento de equipamento e novas instalações para rádios no ano passado», lamenta. Mais rádio… Desde 2004 que a rádio tem vindo a renovar-se e dinamizar-se no sentido de acompanhar a evolução do tempo. Uma nova equipa veio reforçar a equipa já existente e ajudou a proceder à reformulação geral da programação, passando a rádio a designar-se Vagos FM, com o lema “Mais Rádio”. «A direcção entendeu que a rádio necessitava de acompanhar os tempos, de se reconverter, de mudar a sua imagem/ layout e até a sua designação para algo mais moderno e dinâmico», esclarece Gustavo Neves. Ainda de acordo com o radialista e gestor de conteúdos da Vagos FM, foi a partir dessa altura, em que foi contratado, que se trabalhou a “plástica” da estação 88.8MHz, desde as apresentações (áudio) da rádio, programação e aspecto musical, com a ordenação das músicas numa playlist ordenada. Como é o dia-a-dia da Vagos FM? Gustavo Neves admite ser o «mesmo de uma rádio local». Com um «contingente curto» em termos de pessoal – duas a três pessoas na produção/locução e uma na parte informativa –, o dia começa às 8h e, «tal como em qualquer órgão de comunicação, não há hora de saída… apenas quando todo o trabalho está feito». GP

Três décadas a apoiar os idosos e carenciados Uma das características do concelho de Vagos que tem merecido rasgados elogios diz respeito à área da acção social. Todas as freguesias possuem uma instituição nesta área e a de Santo António de Vagos não é excepção. Aliás, o Centro Social e Paroquial foi uma das primeiras a ser criada no concelho. Teve início há mais de três décadas, quando apareceram na freguesia duas senhoras oriundas da região do Porto, ávidas de fazer o bem e proteger os mais carenciados por invalidez ou doença. Instalaram-se numa casa que alugaram, localizada em Corgo do Seixo de Baixo, onde iniciaram a sua acção de solidariedade social, apenas a senhoras idosas. O pároco local, padre Manuel da Rocha Creoulo, apercebendo-se que esta actividade ia ao encontro das necessidades existentes, chamou a si a organização de um centro de apoio aos carenciados e aos necessitados. «À medida que os tempos iam evoluindo, foram coexistindo maiores necessidades e exigências para dar resposta, o que nos obrigou a legalizar a instituição em termos formais, criando os primeiros estatutos do então Instituto de Santo António, em Outubro de 1977, com o apoio da Diocese de Aveiro», explica à nossa redacção o vice-presidente da entidade. Foi nesse momento que a Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) passou a designar-se Centro Social e Paroquial (CSP) de Santo António de Vagos, albergando e dando resposta social não só a senhoras idosas como também a homens. «Uma das prioridades foi abrir o lar a homens, sobretudo aos maridos das

senhoras que cá estavam, para acabar com o distanciamento dos casais; depois abrimos portas a outros casais ou a homens individualmente», continua. A casa entretanto deu lugar a um outro edifício construído num terreno adquirido pelo pároco, e que albergava, inicialmente, seis utentes, tendo sido ampliado de modo a receber 45 idosos. «Mas chegámos a uma altura em que os serviços sociais nos pressionaram a fazer obras, caso contrário teríamos que encerrar. Decidiu a direcção, na altura (há cerca de 15 anos), avançar para as obras que receberam um financiamento do PIDDAC no valor de 750 mil euros, metade do investimento global», explica, justificando que a falta de recursos financeiros – o que obrigou a um empréstimo na banca – fez com que a obra tivesse sido efectuada por etapas. «Primeiro, e porque era mais prioritário, abrimos a cozinha e refeitório no dia 13 de Junho de 2003, no dia de S. António; seguiu-se a lavandaria no dia 27 de Agosto do mesmo ano (no dia de S. Mónica); a secretaria e parte administrativa abriram no dia 20 de Fevereiro de 2004 (no dia dos beatos Francisco e Jacinta) e depois passámos os idosos para o novo lar, inaugurado em 31 de Janeiro de 2005, no dia 19 de Março de 2004 (dia de S. José)», recordou Dario Martins. Utilização da «parte velha» está a ser ponderada Actualmente, o CSP de Santo António tem 41 utentes na valência de Lar (oito pessoas da freguesia, 18 do concelho e 15 de fora do concelho) e 27 em apoio domiciliário. «Em tempos, tivemos 46 crianças em regime

de ATL, mas por não existir viabilidade económica, decidimos encerrar esta valência em Agosto de 2007», vinca, garantindo que a segunda fase do projecto – construção de creche – foi adiada «por tempo indefinido». Paralelamente, mostra a sua lamentação pelo facto da IPSS ser «muito procurada» e «nem sempre ter a oportunidade de dar resposta àquilo que nos solicita a nossa comunidade». Isto porque a lista de espera é considerável (cerca de 15, dos quais apenas dois são da freguesia) e o Lar é muito procurado por pessoas dos concelhos de Vagos, Ílhavo e Aveiro. «Estamos limitados a 40 vagas apenas, de acordo com o protocolo com a Segurança Social, mas sentimos que por vezes as pessoas da nossa comunidade não percebem que funcionamos por lista de espera e que, face à procura, nem sempre temos vagas disponíveis», remata. Uma situação que poderá ser alterada com a requalificação e utilização da «parte velha». «Temos oito camas nesta área que poderão ser utilizadas; já elaborámos um projecto que vamos apresentar à Segurança Social em breve para estudarmos a viabilidade da sua utilização por utentes. Só depois é que decidiremos, perante os conselhos e previsões de custos, se será possível avançar com o projecto ou não». O CSP de Santo António tem actualmente 35 funcionárias que apoiam 24h/dia todos os utentes. «São todas senhoras – os homens apenas estão na parte de gestão – tal como era como quando este lar iniciou», brinca o vice-presidente. GP


Especial Freguesia de Santo António

de Vagos

O Ponto | 19/

VII

Pista da Floresta

Motocross, modalidade que nunca morreu na freguesia

GRECAS

Quatro Fernandos na criação de clube de referência Foi em 1976, aquando da conquista da medalha olímpica pelo atleta português Carlos Lopes, que, um pouco por todo o país “nasceram” clubes de atletismo. Também em Vagos surgiram o Grudesco (Covão do Lobo), o CRAC da Parada de Cima, o FC Boco, o Carregosa e…o GRECAS, o único clube que sobreviveu aos tempos e às “modas”, e que hoje continua a ser um dos melhores clubes do distrito de Aveiro. Foi na Lomba que o clube nasceu, pelos pés de Fernando Capela. «Comecei a actividade desportiva do então Clube Recreativo e Cultural de Santo António quando tinha 16 anos. O clube começou com futebol juvenil, do qual eu era o monitor», explica o fundador do clube e director desportivo até 2005. O também treinador desde a sua criação admite que foi com a conquista desta medalha que o atletismo foi visto de outra forma pelas pessoas e também por si próprio. «Fascinou-me e passei a dedicar a minha actividade desportiva a esta modalidade», confessa, lembrando-se ainda que a primeira prova realizou-se no dia 15 de Janeiro de 1978, no CRAC. «Passou a ser a data da nossa fundação, apesar do clube ter sido oficializado apenas em 14 de Agosto de 1984 e de ter recebido a denominação de GRECAS – Associação Desportiva, Recreativa e Cultural de Santo António». A história da sua criação foi conseguida pela união de esforços dos quatro Fernandos: Fernando Capela, Fernando Martins,

Fernando Doutor e Fernando Kalssas. Da casa dos pais, a sede passou para uma habitação (já demolida) na actual Rua do GRECAS, estando agora localizada no polidesportivo da freguesia, cedido pela Junta. Há mais de trinta anos a correr Actualmente, o clube é presidido por Rosa Rocha. Por entre taças e medalhas nos armários e prateleiras, garante à nossa redacção que a adesão ao clube «sempre foi muita», aliás, todos os anos, cerca de trinta novos atletas se inscrevem no GRECAS. Também a adesão do clube de atletismo de Santo António de Vagos às conquistas foi sempre visível. Considerado clube do ano por diversas vezes, pela Associação de Atletismo de Aveiro, «desde sempre que o GRECAS teve grandes atletas e grandes campeões», afirma Rosa Rocha, sublinhando que a formação nunca foi descurada. “Obrigados” a treinar “fora de casa”, sobretudo na Universidade de Aveiro, o clube tem, diariamente, quatro carrinhas na estrada para transportar os atletas. «Espero que a pista de atletismo, já há muito prometida, esteja pronta para a próxima época, porque é uma ajuda muito grande para o GRECAS, dado que a grande maioria do nosso orçamento vai para o transporte dos atletas para os treinos», lamenta, garantindo que esta pista irá permitir, ainda, a realização

de provas do campeonato. Recorde-se que, agora, o GRECAS apenas promove o Cross de Vagos na Quinta do Ega e a Milha Urbana na Vagueira. Do lote de atletas, destaque para diversos campeões, diversos prémios e diversas presenças. «Tenho que destacar dois atletas que estiveram presentes no apuramento para os Jogos Olímpicos da Juventude em Moscovo», vinca a presidente da direcção, salientando, para além de diversos títulos conquistados esta temporada, diversos atletas: Tiago Boucela (campeão de salto em altura na fase final de pista coberta), Ricardo Freitas (esteve presente em Moscovo e vários títulos), Diana Hernandez (que também esteve em Moscovo e muitos títulos conquistados), Carolina Pandeirada (vice-campeã nacional de júnior de pista coberta) e Joana Esgueirão, entre muitos outros como João Dias (campeã de triplo salto e salto em comprimento em pista coberta) e Luís Silva (campeão salto com vara na 2ª divisão de clubes em pista coberta). Actualmente, o clube é constituído por 90 atletas inscritos na Associação de Atletismo de Aveiro e cinco treinadores (Júlio Cirino, António Bessa, Fernando Capela, Manuel Rocha e Herlander Marcos, actual director desportivo) e possui 200 sócios. Em jeito de agradecimento, Rosa Rocha garante que «o GRECAS apenas consegue sobreviver graças aos apoios da Câmara Municipal, Junta de Freguesia, e aos patrocinadores Prifer e JPrior, na pessoa de Carlos Neves». GP

Toda a gente conhece, ou já ouviu falar, de Mário Kalssas, o campeão nacional (por diversas vezes) de motocross. Natural da freguesia de Santo António de Vagos, foi um dos impulsionadores da “instalação” da modalidade na freguesia, que ainda perdura nos dias de hoje, se calhar ainda com mais vivacidade, após um grupo de amigos ter criado a Pista da Floresta. «Desde os tempos em que o Kalssas corria como piloto que um grupo de amigos se juntava, sobretudo ao fim-de-semana, para praticar a modalidade, embora não participassem em provas federadas… era mais como passatempo e para convivermos um pouco a fazer o que gostávamos», relembra António Almeida, secretário da direcção da Associação Pista da Floresta, recentemente criada. Antigamente, este grupo de amigos juntava-se numa “pista” criada na Quinta da Mónica mas, há alguns anos, com o aparecimento de um projecto de agricultura para aquele espaço, «fomos “obrigados” a sair e a procurar um novo espaço». Foi aí que nasceu o agora Crossódromo de Vagos, junto ao estradão da Lomba. Ainda antes de se constituírem em associação, este grupo conseguiu alugar dois terrenos (com uma área de 40 mil metros quadrados), ideal para construir a pista que hoje existe. «Quando fizemos a pista, há cerca de três anos, era basicamente para nós andarmos, mas começaram a aparecer outros pilotos, alguns dos quais profissionais, que nos pediram para a usarem em treinos. Actualmente, todas as semanas, dezenas de pilotos que participam no campeonato nacional de motocross e quadcross (moto 4) fazem do Crossódromo de Vagos o seu local de treinos, sobretudo os três pilotos vaguenses: Rui Gonçalves, Carlos Silva e André Pereira. «À medida que

apareciam, iam-nos incentivando a realizarmos uma prova», tendo sido a primeira há dois anos. «Porque há muito “know-how” e há muita tradição da modalidade na freguesia e porque contávamos com o apoio do Mário Kalssas e de outros membros que pertencem a outras associações (como o Soluções D’Aventura) e estão habituados a promover eventos, acabámos por organizar uma prova com um nível acima daquilo que é o nível de provas não federadas». Provas federadas, para já, não Para já, é objectivo da associação continuar a reforçar o peso da associação e da pista na modalidade mas, no futuro, «quem sabe se não daremos um passo em frente, promovendo provas federadas», avança, ainda que tenha consciência de que «seria necessário alugar mais um terreno (que por vezes já usamos nas provas) para aumentar a pista, e seria necessário construir infraestruturas essenciais, nomeadamente balneários, salas para os pilotos ou para a imprensa», enumera António Almeida. Além disso, precisariam de «muitos mais» apoios, já que os custos para a realização de provas do campeonato são «consideravelmente elevados». Para já, a associação presidida por João Bernardes, promove apenas uma prova anual e, com outras duas organizações, o Troféu Regional Baixo Vouga 2010, contando, para tal, com o apoio da Junta de Freguesia de Santo António e da Câmara Municipal de Vagos, bem como o apoio dos Bombeiros de Vagos, que «estão sempre presentes em todas as provas que realizamos». «Temos ainda que destacar todo o apoio dado por amigos e conhecidos, com máquinas e aterros, aquando da construção da Pista da Floresta», acrescenta. GP


O Ponto | 20/

VIII

Especial Freguesia de Santo António

Santo António, uma freguesia da Gândara

Santo António em números Área: 9,64 Km2 População: 1773 habitantes (sensos 2001) Localidades: Corgo do Seixo de Baixo, Corgo do Seixo de Cima, Lameiro da Serra, Lameiro do Mar, Lomba e Quintã Festividade religiosa No fim-de-semana de 13 de Junho, em honra do padroeiro da freguesia, o Santo António Festividade tradicional Festival dos Moliceiros, promovido anualmente pelo Grupo Folclórico de Santo António de Vagos, nos primeiros dias do mês de Agosto. Realiza-se um passeio pelo Rio Boco (desde Gafanha d’Aquém), o leilão de moliço (quando é conseguido) e o festival de rancho com diversos grupos convidados no Cais das Folssas Novas Locais de interesse público - Igreja Matriz - Cais das Folssas Novas, em Cabeço das Pedras, na Quintã - Polidesportivo (com parque de merendas e campo de jogos) - Parque Infantil de Santo António Associações sociais, culturais e desportivas - Centro Social e Paroquial de Santo António de Vagos - Grupo Folclórico de Santo António de Vagos - GRECAS - Rádio Vagos FM Estabelecimentos de ensino - EB1 na Quintã e na Lomba - EB1 na Quintã e na Lomba Actividades económicas - Agricultura - Pequeno comércio - Construção civil

de Vagos

Folsas Novas

O cais do olá e do adeus na altura do moliço Outrora adubo natural com que os agricultores fertilizavam e enriqueciam as areias estéreis, o moliço era apanhado durante dias e noites pelo Rio Boco mas, sobretudo na Murtosa, a bordo do matola, uma variante do moliceiro coberto a breu escuro que vinha de Covão do Lobo. O cais de embarque e desembarque, no concelho, era nas Folsas Novas, em Cabeço das Pedras. Era lá que matolas, carregados de moliço, afastavam ou aproximavam os homens das suas famílias. Na freguesia de Santo António de Vagos, em todas ou quase todas as casas havia alguém da família que andava na apanha do moliço. O último matola da freguesia a “desaparecer” foi Manuel Simões Júnior. Seu filho, Jaime Simões, tem em sua casa uma espécie de homenagem ao pai (ver foto) que andou na apanha do moliço até perto dos 18 anos. Foi por entre painéis colocados nas paredes, um leme, uma âncora e pequenos e grandes utensílios

que se usavam antigamente, que Jaime Simões recordou a O PONTO que «a vida de antigamente era totalmente diferente dos dias de hoje». «As terras eram áridas, porque o mar tinha andado por estes lados e, com a falta de adubos e de dinheiro na altura, os agricultores recorriam sobretudo ao moliço». Tanto o avô materno (de quem guarda com carinho a âncora do seu matola) como o paterno fizeram da apanha do moliço a sua vida. Também o seu pai optou por esta “profissão” até completar os 18 anos. «Foi nessa altura que os matolas deixaram de apanhar», disse, contando que, sempre que a maré permitia, iam «dois ou três» homens em cada barco até à Murtosa, já que «no Rio Boco não havia muito moliço porque a procura era em demasia». Munidos de farnel (broa, toucinho e batatas), era necessário cerca de uma semana para a viagem de ida e volta e para a apanha. «Contava o meu pai que, ao chegarem ao cais das Folsas Novas, os homens descarregavam as três ou quatro carroças de bois que cada

moliceiro trazia, sendo aguardados por um vendedor de moliço». Depois dos vaguenses desistirem da apanha, foi a vez dos homens da Murtosa cá virem vender este adubo precioso. «Era muito bonito o que faziam com o moliço; pareciam caixas de bombocas (apesar de naquela altura não existirem): cada moliceiro tinha as suas carreiras de montes de moliço e aos montes era dado um jeito que ficavam todos certinhos, tal como as bombocas», recordou rindo-se. Todos os anos, esta tradição da apanha do moliço é relembrada pelo Festival do Moliceiro, promovido pelo Grupo Folclórico de Santo António. Em jeito de homenagem a estes homens, os moliceiros voltam a navegar no Rio Boco e, sempre que possível (embora seja cada vez mais difícil arranjar), é efectuado um leilão de uma carroça de bois cheia de moliço. Tudo como antigamente. GP

Santo António, uma freguesia de tradições vivas

A JUNTA DE FREGUESIA SAÚDA TODOS OS SEUS HABITANTES

Constituída por seis lugares Corgo Seixo de Baixo, Corgo Seixo de Cima, Lameiro da Serra, Lameiro do Mar, Lomba e Quintã –, a freguesia religiosa de Santo António de Vagos foi criada por D. João Evangelista de Lima Vidal, Bispo de Aveiro, em 29 de Junho de 1956. A freguesia civil viria a ser criada mais tarde, a 4 de Outubro de 1985. Não há registos referentes à sua antiguidade, mas sabe-se que, nos princípios do século XIX, vivia no lugar de Corgo Seixo de Cima a família Ribeiro, possuidora de quase toda a área territorial desse lugar. Família crente e abastada, encaminhou o seu filho Isaac para o sacerdócio. Ao aproximar-se a ordenação sacerdotal de Isaac, construíram uma capela num pinhal que possuíam no lugar de Corgo Seixo de Baixo, dedicando-se a Santo António, o santo padroeiro da freguesia. Vivendo sobretudo da agricultura e da construção civil, esta localidade gandareza é dada a conhecer “portas fora” pelo clube de atletismo GRECAS na área do desporto e, na área cultural, pelo Grupo Folclórico de Santo António de Vagos. É através deste grupo e da casa-museu (ainda em construção) que as tradições, usos e costumes das gentes da Gândara são preservados e dados a conhecer a todas as pessoas, sobretudo às gerações vindouras. Duas instituições marcantes da freguesia são, igualmente, a rádio Vagos FM e o Centro Social e Paroquial que alberga idosos de toda a região no seu Lar da 3ª Idade. GP


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