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PRECONCEITO ATÉ QUANDO? Quem são Kérollen e Nancy, filha e mãe influencers do RJ investigadas por racismo
As duas somam 17 milhões de seguidores nas redes sociais e postam vídeos de assistencialismo, testes de maquiagem e pegadinhas.
As influenciadoras Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves passaram a ser investigadas pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) por vídeos em que aparecem entregando um macaco de pelúcia, uma banana e dinheiro para crianças negras abordadas na rua. Nancy e Kérollen se apresentam como “mãe e filha divertindo você”, mas em diversos vídeos afirmam ser meias-irmãs de pais diferentes — em um deles, Nancy conta ter pegado a caçula para criar depois que a mãe das duas avisou que daria Kérollen para adoção.
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Em outra publicação, Nancy afirma ter sido garota de programa “por necessidade” e “para cuidar de Kérollen”.
‘Racismo recreativo’
No inquérito que será aberto na Decradi, os investigadores vão apurar se Kérollen e Nancy praticaram crime de racismo ou injúria racial e se também infringiram o Estatuto da Criança e do Adolescente.
O caso veio à tona após a advogada Fayda Belo, especialista em direito antidiscriminatório, denunciar os vídeos — já apagados dos canais. A advogada destacou que as cenas apresentam o chamado “racismo recreativo”, que ocorre quando alguém usa de “discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão”.
“O racismo recreativo incita a discriminação e tira de nós, pessoas negras, o status de pessoa, nos animaliza e nos desumaniza. Seguirei com a denúncia dentro da lei e me coloco à disposição para esclarecimentos”, finaliza. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) recebeu, até esta quarta-feira (31), 690 comunicações com denúncias contra os vídeos.
Em nota divulgada por sua assessoria jurídica, a dupla disse que "não havia intenção de fazer qualquer referência a temáticas raciais ou a discriminações de minorias" no vídeo.
"Sendo assim, gostariam de se dirigir às pessoas que se sentiram diretamente atingidas, para dizer que não tivemos intenção de as ofender individualmente, nem como gênero, etnia, classe ou categoria a que elas pertençam", diz um trecho do texto.
Não há informações sobre o local exato dos registros, mas Kérollen e Nancy usualmente gravam em Niterói e em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.
O que elas postam
No Instagram e no TikTok, Kérollen e Nancy postam de dois a três vídeos curtos por semana.
A produção alterna cenas de assistencialismo, testagem de produtos de beleza e pegadinhas — ou trollagens, como aparece nas legendas. Nancy também imita a cantora Katy Perry, a quem se compara.
Nos clipes de ajuda, as duas supostamente abordam pessoas aleatoriamente na rua e perguntam se querem dinheiro ou um “presente misterioso” — circunstância dos vídeos da banana e do macaco.
A dupla também leva crianças para lojas de brinquedo e supostamente dão a elas tudo o que elas tocarem.
Outro vídeo contestado traz a dupla oferecendo uma linguiça a um homem, que diz estar com fome, e colocando uma venda nos olhos dele. Acabam dando larvas vivas em sua boca.
As duas também gravaram oferecendo R$ 100 ou um beijo de Nancy a quem aceitasse raspar o cabelo. Um idoso diz aceitar e aparece com metade do couro cabeludo à mostra — mas, com os olhos tampados, beija o dedo da influencer e parece acreditar ter sido na boca.
Em alguns vídeos, seguidores questionam a veracidade das cenas. Em um deles, um homem descalço bate no portão da casa das influencers “pedindo socorro” com uma bebê no colo. O rosto dele é cortado, mas a câmera mostra a criança — que muitos apontam ser uma boneca. O clipe termina com a dupla dizendo entregar R$ 2 mil em espécie.
Polícia investiga alunos por gravação com insultos racistas e homofóbicos contra professor de escola privada no Rio
Frases racistas, homofóbicas, xenófobas e machistas. Tudo em um mesmo vídeo. O conteúdo, ao qual tivemos acesso, mostra estudantes do Ensino Fundamental da rede de ensino Elite atacando, em rede social, pelo menos dois professores da unidade Vila Valqueire, na Zona Norte. Os alunos, que têm em torno de 14 anos, divulgaram as gravações no último dia 19 de maio. Nelas, é possível assistir a uma série de ofensas com xingamentos contra os profissionais. “Safada” e “preto viado” são alguns dos insultos proferidos por uma das adolescentes que aparecem no vídeo. A Polícia Civil apura a ocorrência por crime de injúria por preconceito. As imagens circularam entre alunos da unidade onde foram gravadas e, também, de outras unidades da rede, no decorrer da última semana. No registro, um adolescente aparece uniformizado, como “entrevistador” em um tipo de enquete. Ele pergunta a uma menina o que ela acha da demissão de uma professora de português. “Acho ótimo, porque ela é uma piranha, vadia, safada, que descontava os problemas pessoais nos alunos”, responde. Em seguida, começam os insultos racistas, homofóbicos e xenófobos: a mesma estudante comenta que, no entanto, “não gostou” da admissão de um novo professor, já que, nas palavras da adolescente, ele é “preto e viado”. Depois, a menina debocha e diz “poxa vida… é do interior de Minas”. A substituição, segundo ela, não foi boa, porque a professora demitida era “ruiva e gostosa” e “veio um preto, mineiro e viado”. Localizado um dos profissionais atacados. Arnaldo César, de 26 anos, se mudou para o Rio há pouco mais de duas semanas, dias antes da gravação do vídeo. O professor, que é bissexual, foi contratado recentemente para lecionar Língua Portuguesa. Em seu terceiro dia de trabalho, foi surpreendido pela exibição das imagens, apresentadas a ele pela própria gestora da escola, que o acompanhou no registro da ocorrência, efetuado na 28ª DP (Campinho).
— Sou do interior de Minas, de uma cidade chamada Perdões. Estava morando em Belo Horizonte. Morei um ano e dava aula lá.
Vim para o Rio porque passei em um processo seletivo para professor. Me mudei na terça-feira, dia 16, e comecei a dar aulas no dia 18. Essa primeira aula foi na unidade da Vila Valqueire, nessa turma na qual depois fui discriminado e injuriado — conta. Logo que chegou à instituição, na quinta-feira, dia 18 de maio, Arnaldo relata não ter percebido nenhum tipo de ação ou movimentação discriminatória na sala de aula.
Ele fez o que havia planejado: se apresentou, deixou que os alunos se apresentassem, contou sua história, de onde vinha e qual era a sua formação acadêmica.
A estudante que o insulta no vídeo não fez nada diferente, no primeiro momento. O vídeo foi gravado entre a quinta-feira e a sexta-feira, dia 19, quando a coordenação da escola tomou conhecimento do compartilhamento das imagens. Arnaldo foi avisado dias depois, na terça-feira, dia 23 de maio.