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Ainda sobre o auxílio, a economista Pamela explica que, “foi injetado todo esse dinheiro na economia, porém, não houve aumento na produtividade, que significa que não estava tendo produção na mesma proporção que o dinheiro foi injetado, gerando dessa forma uma inflação e, consequentemente, um aumento dos preços”.

Após uma pausa de quatro meses, o auxílio emergencial voltou a ser pago aos brasileiros, em abril de 2021. Os valores variam entre R$150,00 e R$375,00, representando, assim, uma redução considerável do valor que era recebido no ano anterior. Essa queda no Auxílio Emergencial vai em contraponto, especialmente, se comparada aos preços nos supermercados.

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Como resultado, o trabalhador mato-grossense gasta mais de 50% do salário mínimo com alimentação básica. Segundo pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) o salário mínimo de uma família composta por dois adultos e duas crianças deveria ser de R$ 5.315,74, aproximadamente.

Ainda conforme a economista, o impacto produzido pelo aumento dos preços acaba sendo mais sentido entre as pessoas pobres, pois, precisam despender de mais recursos para comprar o básico.

Outros fatores acarretam aumento nos alimentos

Desde o início do ano, a Petrobras já aumentou o preço dos combustíveis seis vezes. Somente em 2021, o preço da gasolina subiu 53%, no acumulado, ultrapassando a casa dos R$5,00 em quase todos os postos.

Sobre o reajuste, a Petrobras declarou, em nota, que o “alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras”.

“O preço do combustível é dado de acordo com o mercado internacional, assim, quando o dólar está alto no Brasil, isso vai pesar no bolso dos brasileiros”, explicou a economista Pamela.

Esse aumento no preço dos combustíveis também impacta diretamente no valor dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, pois afeta tanto os custos da produção, quanto os custos de distribuição, com isso, os produtores se veem obrigados a repassar a diferença ao consumidor final.

Quanto à influência cambial apontada pela economista, em 2020, o Real ficou entre as moedas que mais foram desvalorizadas no mundo. Isso significa que os produtos comercializados no país e que dependem do dólar sofreram aumentos significativos, como é o caso da gasolina.

Avaliando o futuro, a economista Pamela acredita que estas oscilações nos preços dos alimentos, por serem pontuais, possam voltar à normalidade. “Justamente por sermos um país emergente e em desenvolvimento, provavelmente, a gente vai demorar um pouco mais pra sair desse processo”.

“Quanto antes a gente se vacinar, mais rápido a gente consegue se recuperar. Sem a vacinação a gente fica nesse ambiente de incerteza”, apontou a economista.

Empreendedorismo por necessidade torna-se saída para trabalhadores na pandemia

Ao todo, mais de 13,5 milhões de brasileiros estão desempregados e muitos buscam no empreendedorismo informal uma saída por Annelise Bertuzzi e Tylcéia Tyza

Nos últimos anos, o Brasil enfrenta um longo período de instabilidade financeira, que resultou em uma redução do produto interno bruto (PIB) e recessão econômica, ou seja, a queda na atividade econômica que gera reflexo no Índice de Emprego e arrecadação do governo e consequente aumento na taxa de desemprego e desigualdade social, deixando milhares de famílias e trabalhadores vivendo em condições precárias.

Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, a expectativa dos brasileiros em relação ao aumento do desemprego é alta, para 80% dos entrevistados, as taxas de desemprego tendem a aumentar nos próximos meses e para 79% deles, a expectativa é de piora significativa nos números; além disso, o sentimento é de pessimismo generalizado, sendo o pior resultado já visto, segundo as pesquisas Datafolha, considerando a série histórica iniciada em 1995 para essa pergunta, no governo FHC. Sem perspectiva de emprego, em meio a uma pandemia que impõe restrições imprevistas e ausência efetiva da gestão governamental, vigora no Brasil o empreendedorismo informal, ou como denominam os que resistem e insistem em lutar ‘o empreendedorismo por sobrevivência’.

O cenário é devastador. Desde 2002, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vem fazendo uma série histórica de comparações entre as taxas de desemprego do país, e com 13,9%, o quarto trimestre de 2020 passa a ocupar o primeiro lugar entre as séries. Colocando o índice em números absolutos, encontra-se uma média de 13,4 milhões de brasileiros em busca de um emprego em 2020, 840 mil a mais do que o observado em 2019, ocupando a maior marca histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

A crise econômica que começou em 2014, gerando a queda de 3,8% do PIB em 2015, só se agravou com a chegada do coronavírus em 2020, que contribuiu para o aumento das taxas de desemprego em todo o mundo e, principalmente, no Brasil. A administração governamental, a variante do vírus e a lenta imunização abrem uma perspectiva de piora para o cenário econômico brasileiro.

O efeito da crise na vida dos brasileiros foi devastador e, assim, muitos dos desempregados, encontraram no empreendedorismo uma possibilidade de sobrevivência. Impulsionado pelo cenário da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), nasce o empreendedorismo por necessidade no país, e muitos sonhos precisaram ser colocados em prática às pressas.

Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), dos 55 países analisados em uma pesquisa, o Brasil está entre os dez primeiros colocados, onde a falta de emprego é a maior motivação na

Ao serem obrigados a empreender, muitos brasileiros deixaram de lado a segurança oferencia pela carteira de trabalho. Foto: via Google Imagens

hora de abrir um negócio. Assim, empreender passa a ser a esperança de muitos brasileiros.

Esse foi o caso da recém empreendedora Rayane Marteli de Lima, 27, que com a chegada da crise perdeu o emprego em um salão de beleza onde trabalhava e precisou colocar em prática o projeto de iniciar o próprio negócio. “Com a chegada da pandemia, precisei tirar do papel a ideia de empreender, atualmente a minha fonte de renda vem exclusivamente do meu empreendimento, dependo 100% disso”, afirma a idealizadora do Ray in home, que oferece serviços de manicure e pedicure em domicílio.

Rayane Marteli ocupa hoje a porcentagem de trabalhadores ativos, mas praticamente invisíveis, que nem o IBGE consegue garantir a presença nas estatísticas. Em 2020, o Brasil chegou a 22 milhões de trabalhadores por conta própria, segundo dados do IBGE, desde autônomos que pagam impostos e ocupam lugar nos índices, até a grande maioria que ainda está na informalidade, como é o caso de Rayane, e que não aparecem nos números divulgados com precisão. “Eu ainda estou no processo para regularizar a minha empresa, devido a essa burocracia toda, com toda certeza isso acaba impedindo muitos a saírem da informalidade. A documentação, os impostos, tudo dificulta, a impressão que tenho é que a legislação não tem nenhum interesse em facilitar para os pequenos e futuros empreendedores.”, comentou ela.

Do ponto de vista técnico

Para a economista e analista de perfil do Detran-MT, Dayanne Darth Ananias, “houve vários incentivos para a redução de certidões, no pedido de empréstimos, empresas informais que queriam negociar ou buscar empréstimo, conseguiram ser atendidas dentro do setor bancário devido a uma mudança de documentação pedida. Então, houve uma melhora no cenário, mas ainda há muita burocracia.”

Além de Rayane, outra brasileira que se viu desempregada em meio a pandemia foi Juliana Bispo, 19. Desde cedo precisou trabalhar para ajudar com as contas domésticas, porém, com a redução nas vendas, Juliana acabou sendo dispensada de seu trabalho formal. Foi na paixão por doces, que antes era tida apenas como um hobbie e renda extra, uma saída para as contas que não paravam de chegar. “Quando eu pensei em empreender, eu pensei em uma renda extra porque no Brasil é muito difícil pagar contas e ajudar em casa com um salário mínimo, e durante a pandemia tudo piorou, porque tudo ficou mais caro”.

Em um ano de pandemia, o preço dos alimentos, por exemplo, subiu em 15%, de acordo com dados divulgados pelo IBGE. Assim, muitos brasileiros, que embora não tivessem emprego formal, ainda tiveram que se adaptar aos tempos difíceis A busca por uma fonte de renda complementar passou a ser uma realidade em muitas famílias brasileiras.

Foi a partir daí, que Kelsy Karoline Dias, 20, que antes trabalhava fazendo “bicos” como professora de reforço e babá, encontrou no empreendedorismo informal uma solução para aumentar sua renda e ajudar em casa. Kelsy, que tem mãe manicure, cresceu rodeada por este universo das unhas, e vendo as necessidades

Com a chegada da pandemia, precisei tirar do papel a ideia de empreender

Rayane Marteli, 27, é um das tantas brasileiras que viram no empreendedorismo, uma saída para o desemprego. Foto: Arquivo pessoal

de sua família, começou a estudar pela internet e hoje já conquistou algumas clientes fiéis como manicure. “Já fiz algumas unhas que ajudaram bastante do mês passado pra cá e é uma parceria com minha mãe, então, é uma ajudando a outra para ter uma renda extra”.

Para Dayanne Ananias, a retomada de crescimento do país será bem mais lenta do que o esperado e haverá dificuldade para retomar os postos de trabalho de 2019, já que a entrada de novas empresas no mercado continua de forma lenta e, como consequência, a desocupação tende a crescer. “O IPCA (Índice de preços no consumidor) está em torno de 11% desde março, o que mostra a perda no poder de compra do consumidor, que sente na mesa a redução dos produtos consumidos. Então, o reflexo é de piora na qualidade de vida dessa população”, completa a economista.

Quem já tem seu próprio negócio, busca sobreviver. Para Alequissandra Munhoz, empreendedora no ramo de cantinas escolares, a situação foi alarmante, “A pandemia fechou as escolas e consequentemente o nosso negócio. Tivemos muitas perdas, tivemos que demitir 70% dos funcionários, ficamos com muitas dívidas trabalhistas, mas conseguimos um acordo para pagá-los depois. O ganho que tivemos foi a oportunidade de criar essa nova empresa”, comenta a empreendedora que abriu, desde o início da pandemia, a NatusNutri, empresa que aposta no delivery de massas caseiras. Segundo pesquisa recente realizada pela consultoria de recrutamento e seleção de profissionais, Audens, o maior índice de demissão aconteceu nas empresas de pequeno porte, com faturamento de até R$30 milhões por ano; 51% delas precisaram desligar profissionais, especialmente nas áreas operacionais.

O momento é de muitas incertezas e requer calma, a população se sente desamparada pelo governo vigente e o desemprego dispara no crescimento, batendo um recorde de mais de 13,5 milhões de brasileiros sem emprego, de acordo com dados divulgados pelo IBGE em 2020. Segundo o professor doutor em economia, Carlos Magno, o cenário do desemprego no Brasil é preocupante; “o país vinha saindo de um período de recessão econômica que se iniciou em 2014, e ainda estava ensaiando seus primeiros passos de crescimento, e logo, veio a pandemia. Assim, hoje nós temos mais de 13,5 milhões de desemprega-

dos no Brasil”.

O contexto da pandemia influencia a qualidade desses novos empreendimentos, que crescem e nascem a partir do desespero e necessidade de sustento; são pessoas que não tiveram tempo para estruturar seus planos, se preparar para enfrentar a burocracia, e tiveram que achar soluções para a falta do emprego da noite para o dia. Assim, os negócios correm sérios riscos de sofrerem com a gestão financeira e não sobreviverem no pós pandemia.

Para a economista Dayanne, a literatura já havia mostrado um rearranjo nos formatos tradicionais de trabalho, pedindo inovação e ingresso no universo digital, “muitos setores e muitas profissões foram afetadas e uma das alternativas é o empreendedorismo que tem essa linguagem de busca para o novo, entretanto, os negócios precisam ser pensados e estruturados para que, de fato, gerem lucro e crescimento”, completa.

A estratégia governamental para o momento de crise foi falha e mostrou o abismo estrutural entre as principais economias do mundo, aponta a especialista. “A gente vê algumas economias no mundo apontando alguns caminhos mais certeiros, os Estados Unidos, por exemplo, já estão fazendo um programa para investimento público, mostrando que o estado vai atuar diretamente e indiretamente em desenvolver setores para gerar novos empregos.

O Brasil está investindo pouco desde 2015, e esse controle dos gastos pode vir a piorar a situação econômica, então é bem difícil a gente conseguir crescer com esse controle rígido dos gastos. Uma das formas de crescer seria flexibilizar esses gastos e fazer investimentos públicos”, afirma a analista de perfil do Detran-MT.

O futuro se torna incerto e desesperançoso para muitos trabalhadores, com isso, Dayanne ressalta ainda algumas medidas que poderiam ser tomadas pelo governo atual, “o governo poderia arcar com as folhas de pagamento das empresas ou mesmo reduzir os tributos do trabalho para que a empresa não tivesse esses custos, seria um incentivo tributário, um incentivo de renda.

Além disso, seria preciso ter um rearranjo no mercado bancário, os juros baixos precisam chegar ao consumidor e não ficar apenas na taxa SELIC. Outro ponto, manter a taxa de câmbio desvalorizada, embora ela gere uma certa inflação no período, mas ela pode fortalecer a indústria que está enfraquecida, a concorrência externa é muito pesada e o Brasil não está conseguindo dar conta. Precisamos que mais investimentos externos cheguem ao país para termos taxas mais sólidas e sustentáveis de crescimento”, afirma ela.

Por mais que o Brasil necessite de mais investidores e recursos externos, devido ao alto número de desemprego e perda no valor de compra do consumidor, está cada vez mais difícil para o país prospectar vendas.

Para o professor especialista em economia, Carlos Magno, esse desequilíbrio na economia faz com que o país perca investidores externos; “Ninguém vai investir, porque não vai ter demanda, não vai ter renda, o que acaba acentuando o desemprego; e essa questão fiscal é muito importante, porque o Brasil depende de recursos externos para crescer e se desenvolver. Se não tem equilíbrio fiscal, não tem como o governo honrar os seus compromissos, criando uma instabilidade que impede o país de captar recursos produtivos lá fora, principalmente o capital produtivo, ou seja, empresas não virão se instalar no Brasil, muitas inclusive estão indo embora, como a Ford.”

Assim, por mais que sejam necessárias mais políticas públicas e governamentais que incentivem o movimento econômico, de acordo com o economista Carlos Magno, está cada vez mais difícil para o governo arcar com seus compromissos tributários, isso porque, atualmente o valor de arrecadação está menor do que é gasto, o que poderá em breve gerar atrasos em pagamentos e salários. Desta forma, o Brasil passa por vários problemas econômicos, causados por uma má administração da verba pública que se intensifica com a chegada do novo coronavírus. Sendo assim, o trabalhador se vê obrigado a buscar soluções, ainda que em meio às dificuldades, para sobreviver, empreendendo por necessidade.

Entre os corredores do trânsito: entregadores

relatam insegurança no trabalho e falta de apoio das empresas

Com o avanço da pandemia da Covid-19, trabalhadores reivindicam mais EPIs, redução do preço dos combustíveis e mudança na política de preço dos apps. por Tuani Awade

No fluxo do trânsito cuiabano, motociclistas portando mochilas verdes, vermelhas e amarelas atravessam avenidas, ruas e estreitos corredores para levar até o cliente um item básico: a comida. Com o avanço da pandemia da Covid-19 em terras mato-grossenses, a busca por esse tipo de serviço cresceu, mas o suporte dos contratantes não acompanhou o aumento. Entre as principais reivindicações estão: mais equipamentos de proteção individual, redução do preço do combustível e remunerações justas.

“Faz mais ou menos 9 meses que trabalho como entregador. No início, busquei empregos formais, mas estava bastante complicado, e como percebi uma alta demanda nestes serviços, acabei me inscrevendo”, conta o entregador de aplicativo, Wander Gustavo, de 45 anos. Antes de atuar no delivery, o profissional era contratado em uma Escola Municipal, mas acabou tendo seu contrato encerrado após o fechamento das unidades de ensino da capital.

Assim como Wander, Diego Alencar, de 32 anos, também se deparou com a possibilidade de fazer entregas como um meio de obter renda. Questionado sobre os receios que atravessam a profissão em tempos de pandemia, Diego acredita que para existir o mínimo de biossegurança, é necessário que o cliente

também colabore. “Muitos clientes não nos ajudam, porque quando vão pegar a embalagem estão sem máscara. Se a gente chegar sem máscara, eles não nos recebem, mas, se for o contrário, está tudo bem”, rebate.

Ambos os entregadores fazem parte de um contingente de trabalhadores que encontrou uma forma rápida de recompor a renda perdida desde o início da pandemia. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aplicativos como o Ifood, 99 Food, Uber Eats e outros tiveram um aumento de 201 mil pessoas cadastradas durante o primeiro semestre de 2020.

Entre o pedido e o risco, a distância é curta

Com o agravamento da pandemia, ações foram criadas pelas desenvolvedoras dos aplicativos de entrega, dentre elas a entrega de kits com álcool gel e máscaras descartáveis. Apesar de amplamente divulgadas, entregadores que utilizam os apps como ferramenta de trabalho apontam a ineficácia, e até mesmo inexistência, do apoio anunciado pelas empresas.

“Eu já telefonei para o aplicativo e me falaram que não tem [kits de entrega]. Deles eu nunca recebi, a única ferramenta que eu consegui foi do Ifood”, afirma Herlon Bezerra, de 38 anos, ao comentar sobre a plataforma para a qual presta serviço, o 99 Food. O entregador questiona a veracidade da campanha de entrega de kits de higienização, anunciada pela empresa desde junho de 2020.

Segundo Herlon, a única empresa que forneceu itens de higienização e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) foi o iFood. No site da organização que gere a plataforma, é apresentada a informação de que ações como a distribuição de kits de proteção (com 4 máscaras reutilizáveis e 500 ml de álcool em gel) e estações de higienização seguem acontecendo. Segundo as fontes ouvidas para esta matéria, os kits são enviados a cada dois meses.

Apesar da iniciativa, o entregador alerta para a baixa quantidade de material pelo tempo de trabalho executado. “Essa quantidade de álcool em gel é muito pouco se levarmos em conta que sempre estamos usando. Caso a gente não consiga pegar, eles disponibilizam R$30, e isso a cada dois meses, então acaba sendo muito pouco”, diz o profissional.

Em uma breve pesquisa feita em duas das principais redes de farmácia da capital, localizada em regiões diferentes, apenas uma caixa com 10 unidades de máscara cirúrgica ocuparia 73% do valor total recebido pelos entregadores. Para Herlon, apesar do cenário crítico e de riscos constantes, o trabalho informal ainda lhe garante uma renda maior do que quando trabalhava de carteira assinada. “Teria que fazer duas ou mais funções para ganhar o mesmo sa-

“É inviável trabalhadores de aplicativo trabalharem com entregas neste momento”

Herlon Bezerra, entregador de app

“Essa quantidade de álcool em gel é muito pouco se levarmos em conta que sempre estamos usando.”

Herlon Bezerra, entregador de app

Sobe combustível, desce faturamento

“É inviável entregadores de aplicativos trabalharem com entregas neste momento, já que vai haver mais aumentos e acabará sobrando para gente”, retoma Herlon ao falar sobre os recentes aumentos no preço do combustível. De acordo com cinco fontes ouvidas pela nossa equipe de reportagem, a média recebida por cada entrega se aproxima de R$ 5,29.

Diante da baixa remuneração, muitos trabalhadores começaram a sentir o peso da ponta do lápis quando a conta não fecha. A indignação gerou em julho de 2020 uma das primeiras Greves dos Entregadores de Aplicativo. A movimentação que começou nas redes sociais, ganhou diversos contornos pelo país, exigindo melhorias como: reajuste dos preços por distâncias percorridas, o fim de bloqueios indevidos, apoio contra acidentes e outras demandas. O ato, segundo o entregador, gerou poucas respostas contundentes das empresas, que seguiram sem atender às reivindicações dos trabalhadores.

Para além do preço por distância percorrida, o combustível também é uma preocupação constante dos entregadores. Entre os dias 10 e 11 de março, motoristas de aplicativo e profissionais do delivery foram para as ruas de Cuiabá e Cáceres, a 218 km da capital, exigir revisão do valor cobrado no combustível. O ato cruzou avenidas e paralisou o funcionamento de postos de abastecimento da região central de ambos os municípios.

Questionado sobre o faturamento diário frente aos impasses que pesam na ponta do lápis, Wander Gustavo revela que trabalhando 12 horas, é possível faturar aproximadamente R$ 120. Já Herlon Bezerra comenta que em dias com muitas entregas, consegue faturar até R$ 170, entretanto, também há dias em que o profissional garante apenas R$ 20.

O que dizem as empresas

Em nota, a 99 Food afirmou que os EPI’s foram distribuídos em formas de kits assim que começou sua operação na capital mato-grossense, em novembro de 2020. Além da entrega dos kits, a empresa reforçou que segue promovendo ações para garantir a segurança de todos os seus colaboradores.

Já o Ifood se manifestou dizendo que desde o início da pandemia vem realizando uma série de ações para a proteção dos entregadores. Entre as medidas realizadas, a desenvolvedora do app afirmou ter distribuído mais de 3 milhões de itens de proteção, além da criação de um fundo especial para apoiar profissionais acometidos pela Covid-19. Até o fechamento desta edição, o Uber Eats não se pronunciou sobre suas medidas de proteção para os trabalhadores que utilizam a plataforma.

Entre um sinal fechado e outro aberto, os entregadores seguem driblando as dificuldades para levar alimento não só para quem pede, mas também para a mesa de quem espera ansioso em casa pelo seu retorno.

Impasses na Educação Estadual ultrapassam os limites da tela

Após mais de um ano do primeiro caso de Covid-19 em Mato Grosso, professores da rede estadual relatam dificuldade na implementação do ensino remoto durante a pandemia. por Letícia Corrêa

Demonstrativo da plataforma desenvolvida pela Seduc-MT . Foto: Marcos Salesse

“A falta de inclusão e planejamento faz com que o modelo esteja fadado ao fracasso”, revela o professor da rede estadual, Graziano Uchôa, de 37 anos, sobre a execução do ensino à distância em Mato Grosso. Com o avanço da pandemia e o fechamento das escolas, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) desenvolveu desde agosto de 2020 uma plataforma online onde atividades são produzidas semanalmente, além de vídeo aulas e jogos especiais para alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. Entre a falta de acesso à internet e a inexistência de diretrizes, sobram dúvidas e incertezas na cabeça de professores e alunos.

Segundo o docente Yan Rocha, de 34 anos, servidor no município de Lucas do Rio Verde, a 332 km de Cuiabá, as aulas remotas não comportam a complexidade educacional envolvida nos processos de ensino e aprendizagem. “Não temos diretriz, nem habilidade para dar conta de uma educação à distância, tudo funciona no improviso. A falta de suporte neste ano tem sido ainda maior que no ano passado, digo para os meus colegas que estamos ‘abandonados online’”, afirma.

O abandono virtual se reflete não só na reivindicação de Yan, como na rotina de muitos estudantes que acabam desistindo dos estudos. Segundo o secretário Estadual de Educação, Alan Porto, apenas em 2020 cerca de 76 mil alunos deixaram de participar das atividades à distância, representando aproximadamente 20% do total de alunos matriculados (320 mil estudantes). A justificativa se ancora na falta de computadores e acesso à internet. Para Graziano, a limitação imposta pelas barreiras financeiras são também um entrave para que o ensino remoto de fato atinja os estudantes. “A maioria dos alunos tem pacote de dados limitado e não pode abrir vídeos ou receber materiais. Isso deixa o ensino debilitado e as aulas pouco atrativas”, reforça.

Outro ponto levantado pelos educadores está na falta de um planejamento metodológico que atenda às necessidades de professores e alunos. Diante da situação, Yan resolveu adaptar suas aulas em atividades assíncronas, ou seja, dando a oportunidade para que o aluno acesse o material da disciplina no horário que preferir. “É extremamente desgastante para o estudante ficar seis horas na frente de um computador. Por isso, optei por adotar o método assíncrono. Disponibilizo os textos e atividades, e fico disponível para tirar dúvidas no horário de aula. Quando a demanda dos estudantes é maior, marcamos um momento extra para tirar as dúvidas”, explica. Magda Cunha relata uma realidade dupla dentro de casa ao acompanhar a rotina de estudos de ambos. Enquanto Pedro Eduardo, de 11 anos, se desdobra para acompanhar as aulas ao vivo, João Henrique, de 12 anos, recebe apenas apostilas de atividades, sem orientações fixas de nenhum educador. Para Magda, essa nova realidade também exigiu maior atenção dos pais para a educação de seus filhos.

“Sabemos que a criança depende totalmente do interesse de cada um de nós, mas também sabemos que nem todos os pais ou responsáveis têm tempo e o conhecimento necessário para auxiliar as crianças e adolescentes no processo de aprendizagem”, pondera.

Questionada sobre a situação do seu segundo filho, Magda afirmou que na escola são disponibilizadas apenas apostilas. “Lá apenas entregaram as apostilas e não há interatividade entre os colegas e professores, como as aulas online da escola do Pedro. Acredito que isso seja uma variante da organização de cada instituição. Não deveria ser assim, as escolas deveriam seguir um padrão. Infelizmente, a realidade é outra”, aponta.

Plantão de dúvidas: quanto vale a vida de um professor?

Diante de uma ligeira queda no número de casos confirmados da Covid-19 em Mato Grosso, o Governo Estadual implementou em fevereiro deste ano o Plantão de Dúvidas, momento onde professores podem realizar atendimentos presenciais de até cinco alunos. O resultado já era previsto por educadores sindicalistas: um surto de Covid-19 entre os professores e funcionários de escolas estaduais.

Diante do anúncio da medida, o Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) se posicionou contra a decisão da pasta da Educação e chegou a propor uma Greve Geral da categoria. A pro-

posta não ganhou força e o Plantão foi mantido. Em poucas semanas, o site da instituição foi tomado por notas de falecimento.

Entre os dias 1 a 22 de abril, foram 13 notas de falecimento publicadas no site oficial do sindicato, relatando a morte de profissionais da rede estadual por conta da pandemia da Covid-19. Ainda em abril, o Sintep registrou o maior número de mortes de profissionais da educação em um único final de semana, sendo cinco educadores mortos pela doença entre os dias 10 e 11.

De acordo com a coordenadora pedagógica da Escola Estadual Manoel Cavalcanti Proença, Marcela Brito, de 36 anos, o plantão de dúvidas aconteceu em meio a problemas pelo tempo limitado frente às demandas dos estudantes. “Só tivemos uma semana desse plantão na escola, lá tínhamos 30 minutos para tirar dúvidas, mas sabemos que isso não é efetivo, já que com esse tempo você não resolve o problema do ano todo”, diz a pedagoga.

A unidade coordenada por Macela está localizada no bairro Tijucal, região sul de Cuiabá, e no local, além do plantão, também acontece a entrega do Kit Merenda, iniciativa da pasta da Educação para assegurar alimentação dos alunos durante a pandemia. De acordo com a pedagoga, cada kit é formado por oito itens básicos, como arroz, feijão, óleo e uma quantidade pequena de carne, pago pela Seduc.

Apesar da proposta já estabelecida, a coordenadora aponta que vêm enfrentando dificuldades para manter a entrega dos kits. “A gente ainda não recebeu repasses da Seduc em 2021 para fazer a entrega do Kit Merenda. Até o momento, fizemos apenas a entrega de uma leva de kits, com a verba que tinha sobrado do ano passado. Essa entrega chegou a uma média de 450 estudantes, então não foi para todo mundo”, afirma.

Outra ação tomada pela secretaria diante de um cenário de incerteza é a ajuda de custo de R$ 6.020,00 para os professores concursados e contratados. Desse valor, R$ 3.500,00 são destinados à compra de um computador portátil e R$ 2.520,00 para custear 36 meses (três anos) de internet, valor que será pago em parcelas de R$ 70 mensais.

O dinheiro será depositado diretamente na conta do servidor, que ficará responsável pela compra do aparelho. O professor

terá 60 dias para prestar contas junto à Seduc por meio de notas fiscais.

A pasta exige ainda que os computadores tenham configurações mínimas pré-estabelecidas. Diante da recomendação, o educador Graziano questiona o valor enviado pelo Governo Estadual, já que a quantia disponibilizada é insuficiente para custear notebooks de última geração.

Para o legislativo, educação é atividade essencial

No dia 14 de abril, os deputados estaduais de Mato Grosso aprovaram o Projeto de Lei nº 21/2021, que insere a educação como atividade essencial durante a pandemia. De acordo com o texto, de autoria do deputado Estadual Elizeu Nascimento (DC), as unidades podem funcionar com 30% de sua capacidade. O PL assegura ainda que os pais e responsáveis possuem autonomia pelo retorno presencial ou à distância na educação básica.

Na justificativa, o deputado afirma que as medidas tomadas pela gestão estadual não levam em consideração a importância da educação. “As medidas de combate à pandemia, muitas das vezes, negligenciaram a importância da atividade escolar e sem o mínimo de planejamento suspenderam as atividades”, discorre o parlamentar.

Ainda no texto do projeto, o parlamentar cita a Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das incentivadoras da reabertura das escolas. “Segundo a Organização Mundial da Saúde, o fechamento de escolas tem impactos negativos claros sobre a saúde infantil, educação e desenvolvimento dos estudantes. Esses são um dos motivos que devem ser levados em consideração para que a atividade educacional seja classificada como essencial”, afirmou o deputado.

Apesar da declaração, em um documento criado pela organização, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), regiões com transmissão comunitária do vírus devem promover o fechamento das unidades escolares. Diante dos impasses, a professora e participante do Coletivo Autonomia e Luta, Patrícia Acs, de 37 anos, conta que ao aprovar o projeto a AL-MT vai na contramão da realidade da pandemia e, também, das unidades da rede estadual. “A realidade do estado é grave, as mortes seguem em número alto e os hospitais estão sem condições. Nesse cenário, abrir escolas é colocar em risco toda a população, não apenas estudantes e professores. Esse projeto e sua aprovação são uma irresponsabilidade”, afirma.

Na mesma linha do que defende o legislativo estadual, a Câmara dos Deputados aprovou, em 21 de abril, o Projeto de Lei 5595/20 que proíbe a suspensão de aulas presenciais durante pandemias e calamidades públicas. Foram sete horas entre a discussão do projeto e a votação, que culminaram na aprovação da proposta. O texto segue agora para o Senado Federal.

Entre as parlamentares que se posicionaram contra a proposta está a deputada federal, Rosa Neide (PT-MT). Durante sua fala na Plenária Virtual, Rosa afirmou que é necessário maior investimento em tecnologia nas escolas. “Queremos, sim, vacinas para todos e todas, queremos tecnologia para as escolas, queremos protocolo seguro, e não obrigar profissionais da educação a virem para a sala de aula para a morte, estudantes levarem o vírus para casa”, disse.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) para informações e esclarecimentos sobre os questionamentos feitos pelos educadores durante as entrevistas, entretanto, até o fechamento desta reportagem nenhuma resposta foi encaminhada.

Até o dia 4 de maio, data do fechamento desta reportagem, 14.860.812 brasileiros foram infectados pelo coronavírus e 411.854 perderam a vida por conta do vírus. Em Mato Grosso, o número de pessoas infectadas chegou a 366.948, com mais de 9.948 óbitos confirmados em decorrência da Covid-19. Mesmo com o início da vacinação, o ritmo de vacinação ainda segue lento dando espaço para uma terceira onda da doença.

Novato no futebol, Cuiabá Esporte Clube, chega à elite e se torna referência aos times tradicionais do estado

Após 35 anos, o estado de Mato Grosso volta a ser representado no futebol nacional

por Anny Carvalho e Sarah Mendes

Cuiabá conquista acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. Foto: Federação Mato-grossense de Futebol.

Mais conhecido como Dourado, por causa do mascote do time que é um peixe nativo dos rios do estado e símbolo das políticas de conservação da biodiversidade na região, em 2020, o Auriverde da Baixada conquistou seu espaço na elite do futebol nacional. Com as cores amarelo, branco e verde, o time foi fundado em 12 de dezembro de 2001 pelo ex-jogador Luís Carlos Tóffoli, o Gaúcho. O clube subiu da Série D para a Série C em 2011, da C para a B em 2018, com o acesso para a Série A em 2020.

A ascensão do Dourado na elite do Brasileiro é resultado do trabalho realizado pela direção do Cuiabá, que desde 2011, vem construindo seu espaço no futebol brasileiro e está entre os clubes que nunca foram rebaixados, já que subiu da Série D para a Série A sem nenhuma queda. A administração do clube funciona como empresa, sem atraso salarial e isso tem chamado a atenção de grandes jogadores que chegaram neste ano ao clube, como o goleiro Walter, o zagueiro Paulão e o atacante Clayson.

Para essa nova fase, o clube apresentou no último mês um novo técnico, Alberto Valetim. Na coletiva de sua apresentação, que ocorreu de forma online devido à pandemia, Valentim disse que pretende dar o seu melhor junto a equipe técnica.

“É uma satisfação muito grande poder estar aqui no Cuiabá. Espero juntamente com a comissão técnica, com a diretoria e com a peça mais importante, que são os jogadores, fazer um grande ano aqui, com o Cuiabá na Série A do Brasileiro”, declarou Valentim.

O volante Auremir dos Santos conta que o clube, os jogadores e a cidade estão ansiosos para a estreia na Série A, que tem previsão para ser iniciada no dia 29 de maio de 2021. “Acreditamos que o Estado também, já que há 35 anos um time de Mato Grosso não disputava a elite do futebol nacional. Pena o momento que atravessamos de pandemia e os jogos ainda sem públicos, já que a expectativa era para a Arena Pantanal receber grandes públicos em todos os jogos neste Brasileirão”, afirma.

O torcedor Flávio Amorim que acompanha o clube desde 2014 também conta como foi ver o time do coração chegar à elite do futebol nacional. “Parece que estamos vivendo um sonho. Enxergávamos aquele time que disputava a Série C alçando vôos altos, mas chegar à Série A é como um sonho realizado”, afirma.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou a tabela do campeonato deste ano e o primeiro jogo do Cuiabá é contra o Juventude. As datas e os horários da primeira rodada ainda não foram divulgados pela CBF.

Devido à pandemia, continua proibido aos mandantes levarem seus jogos para fora do Estado de origem. Com exceção dos casos em que governos locais vetem jogos por causa do período pandêmico.

Outra novidade do campeonato deste ano é que será o primeiro da história com algum limite

CLUBE-EMPRESA

O time foi comprado pela família Dresch, em 2009, oito anos após o ex-jogador Gaúcho ter formado o elenco. A família opera no ramo da indústria de borracha, no Estado de Mato Grosso, com a empresa Drebor. Atualmente o time é administrado pelos irmãos Alessandro e Cristiano Dresch. Além disso, o patriarca Aron Dresch é o atual presidente da Federação Mato-grossense de Futebol (FMF). O time se consolidou também devido ao patrocínio da empresa familiar Drebor. Além de outros patrocínios como: Raytak, Sicredi, Agro Amazônia, Dourado Store, Sócio Torcedor Dourado, TV Cuiabá e Escolinha Oficial do Cuiabá.

De acordo com a Federação Mato-Grossense de Futebol (FMF) o Cuiabá é o único clube-empresa no estado. para as trocas de técnicos dentro da competição: cada time só poderá ter dois treinadores ao longo do torneio. Ao mesmo tempo, cada técnico só poderá treinar dois times diferentes. Até agora, esse tipo de limitação não existia. Para a jornalista esportiva, Juliana Bino, essa regra vai profissionalizar o campeonato, pois ainda tem alguns pontos que favorecem quem tem mais investimento.

“A decisão demorou a acontecer e que sempre achou destrutiva a famosa ‘troca de cadeiras”. O técnico pode vencer vários campeonatos, na primeira queda a torcida começa a pedir a cabeça. Não é assim que funciona. Outra coisa que acontece muito é a união de jogadores para boicotar o técnico, uma inversão de valores absurda, partindo do princípio que o comando deveria estar na mão do comandante e não dos peões”, finaliza.

Mas muito antes desse jovem time chegar às paradas de sucesso, outros três já passaram por lá, o

Mixto, Dom Bosco e Operário Várzea Grandense, considerados os times tradicionais de Mato Grosso historicamente.

A história do Estado e o futebol

Mas antes de colocar a bola em campo, precisamos lembrar que até 1970 o estado de Mato Grosso compreendia também o que hoje conhecemos como Mato Grosso do Sul. Somente no dia 11 de outubro de 1977, por meio da Lei Complementar nº 31, o então presidente da república, General Ernesto Geisel desmembrou do estado de Mato Grosso a região sul, que só em primeiro de janeiro de 1979 se tornou o estado do Mato Grosso do Sul.

Para entender a história do futebol de Mato Grosso recorremos ao entusiasta do esporte, o brasiliense Sergio Santos, mixtense e apaixonado por futebol, que em 1999 decidiu fazer um repositório dessa história. “Eu guardava tudo sobre futebol brasileiro e pensei, por que não Mato Grosso? Quando comecei a pesquisar no arquivo público em 2003 passei a me aprofundar na história do futebol do estado”, relata.

Sobre o interesse em registrar a história do futebol no estado, o jornalista esportivo Olímpio Vasconcelos, comenta que faltava entusiasmo por serem times pouco conhecidos no Brasil. “Para fazer um levantamento da história, você precisa ser muito apaixonado, porque você não tem um retorno financeiro para isso. O dinheiro é o que move tudo, então se não tem incentivo é difícil de se fazer esse levantamento”, conta.

Em suas pesquisas, Santos encontrou alguns relatos dos primeiros times mato-grossenses. “Em 1940 já haviam alguns times espalhados pelo estado, o futebol era disputado em cidades como Cuiabá, Campo Grande, Corumbá, Aquidauana, Três Lagoas, Dourados, entre outras e cada cidade tinha sua própria liga”, lembra.

Vale ressaltar que nessa época ainda não havia uma instituição que organizasse os times e fizesse com que falassem a mesma língua. Somente em 1942 é fundada em Cuiabá a Federação Mato-grossense de Desportos (FMD), denominação originária da Federação Matogrossense de Futebol (FMF), que passou a supervisionar não somente o futebol, mas todas as modalidades esportivas no estado. No entanto, os campeonatos de futebol ainda eram disputados cada um em suas cidades. Em 1943 houve o primeiro campeonato feito pela FMD e teve como campeão o time do Paulistano.

Daí por diante os vencedores eram considerados como campeões mato-grossenses, mas ainda não havia a participação de todos os times do estado, devido ao espaço geográfico, que envolvia o deslocamento dos times tornando inviável à época.

A primeira participação no campeonato mato-grossense só ocorreu em 1973, com a participação dos clubes: Comercial (Campo Grande), Operário (Campo Grande), Dom Bosco, Mixto, Palmeiras, Operário (Várzea Grande) e União de Rondonópolis. O Operário Várzea-grandense tornou-se campeão, após decidir o título com o Dom Bosco.

O apito inicial - Estreia no campeonato brasileiro

A competição nacional denominada como Campeonato Brasileiro, como conhecemos atualmente teve a sua primeira edição realizada em 1971. Nos dois primeiros anos não houve a participação de equipes de Mato Grosso. Somente em 1973 o estado teve seu primeiro representante, através da Confederação Brasileiro de Desportos (CBD) que incluiu Mato Grosso entre os participantes da competição. A princípio o time escolhido foi o Operário de Campo Grande. Esta escolha representou para o regulamento do campeonato uma quebra em um de seus itens que previa a não participação de clubes que não pertencessem às capitais.

Santos acredita que a influência dessa escolha foi que, em Campo Grande já possuía o Estádio Pedro Pedrossian, que tinha a capacidade de receber jogos de maior porte. Com isso, em Cuiabá também houve uma aceleração na construção do Estádio Governador José Fragelli, o Verdão, que já estava sendo realizada. O Comercial acabou representando o estado no brasileiro em 1973.

“Os times tinham nas suas equipes a escalação de atletas que se formavam nas várzeas, como não havia ainda um grande desenvolvimento urbano, então as pessoas praticavam futebol em todos os campinhos que existiam e muitos craques surgiram na época”, comentou o mixtense, Antero Paes de Barros, um dos principais nomes da cobertura histórica do futebol.

Ele lembra que o seu pai, Ranulfo Paes de Barros, e o radialista Ivo de Almeida lançaram a campanha de que Mato Grosso precisava de energia e Cuiabá precisava de estádio. O slogan era “Cidade sem luz é cidade sem futuro e cidade sem estádio é cidade sem futebol” para a construção do Verdão.

Outra fala do radialista Ivo de Almeida que marcou a época foi “Cuiabá merece um estádio ao nível de seu futebol”. O narrador, Igor Gabriel, conta que Ivo foi uma das grandes influências para a construção do estádio em Cuiabá. “Ele tinha muito prestígio e cobrava as autoridades com o argumento de que o futebol e a torcida estavam aptos nacionalmente para ter o seu próprio estádio. Em 1974, o até então governador, José Fragelli abraçou a ideia e lançou a pedra fundamental para a construção do Verdão. A partir daí surgiu, no futebol, a rivalidade entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, relatou.

Em entrevista ao jornal O Estado de Mato Grosso, em 31 de maio de 1974, o então presidente da FMD, Agripino Bonilha Filho afirmou que se o “Verdão” estivesse pronto em março de 1975, a federação iria reivindicar mais uma vaga para Mato Grosso junto à CBD.

Nos dois anos seguintes, Operário de Campo Grande (1974) e Comercial (1975) foram os representantes. Em 1976, com a inauguração do es-

FEDERAÇÃO MATO-GROSSENSE DE FUTEBOL

O acesso do Cuiabá à série A já refletiu no Campeonato Mato-grossense de 2021 que, há muitos anos, não atraía tantos patrocinadores como agora. É o que afirma Humberto Frederico, coordenador de Marketing e Relações Institucionais da Federação Mato-grossense de Futebol. Segundo ele, muitas empresas que não têm condições financeiras de investir no Cuiabá, buscaram patrocinar o próprio campeonato estadual. “Mais importante que apoiar o clube da série A, a Federação tem que apoiar o futebol do nosso Estado como um todo”.

Hoje, a diretoria da FMF ocupa a 12º posição no ranking de melhores federações de futebol no Brasil, segundo a CBF - posto que é motivo de orgulho para a Federação Mato-grossense. Inaugurado em 1976, o Verdão foi palco de partidas memoráveis de futebol. Foto: Reprodução.

1977 1979

Dom Bosco ganha 1976 disputa entre o Mixto e Operário Várzea-grandense e garante vaga no Campeonato 1978 Brasileiro.

O Estado de Mato Grosso garantiu sua participação no Campeonato Brasileiro sendo representado pelo Mixto.

Neste ano, além do Dom Bosco, o Comercial, o Mixto e o Operário de Campo Grande também representaram Mato Grosso na competição.

1986

No último ano em que um clube mato-grossense participou do Brasileirão, foi a vez do Operário Várzea-grandense representar o estado na competição.

1985

Depois de um ano, sem participar da competição, o Mixto volta a disputar o Campeonato Brasileiro.

Desta vez, já tendo seu território dividido, Mato Grosso pôde contar com a participação de três clubes: Dom Bosco, Mixto e Operário Várzea-grandense.

1984

Neste ano, foi a vez do Operário Várzea-grandense garantir a sua participação no Brasileiro.

1980

A partir daí, o vencedor do campeonato estadual no ano anterior já garantiu sua vaga automaticamente no Brasileirão do ano seguinte. Sendo assim, o Mixto representou o estado neste ano.

1981, 1982 e 1983

Em todos esses anos, o Mixto carregou consigo a responsabilidade de representar Mato Grosso no Campeonato Brasileiro.

tádio Verdão, Mato Grosso passou a ter mais um representante no brasileiro, o Mixto.

Sobre a estreia do Mixto no futebol nacional, Antero relata que a média do clube no campeonato brasileiro foi de mais de 38 mil pessoas.

Mato Grosso no Campeonato brasileiro de futebol

O processo para a escolha do representante na

O slogan era “Cidade sem luz é cidade sem futuro e cidade sem estádio é cidade sem futebol” para a construção do Verdão.

capital era feito através da disputa de um triangular envolvendo os campeões dos três primeiros turnos da Chave Norte do Campeonato Mato-grossense: Dom Bosco, União e Mixto respectivamente. O Operário de Campo Grande foi o outro representante.

O ex-jogador Nasser Untar, que passou pelo Operário Várzea Grandense (1980 a 1988), Mixto(1988 e 1992), Dom Bosco (1991) e União de Rondonópolis (1984), descreve como foi a sensação de representar o estado e ser o último time a jogar na brasileiro “A sensação, foi muito boa em ser o último, mas quando eu participei em 86, ser o último a participar nem passava pela cabeça”, relata.

O Clube dos treze (C-13)

Após o fim do campeonato de 1986, a CBF foi a público dizer que não realizaria o Campeonato Brasileiro do próximo ano por falta de verbas. Na época da fundação, os clubes eram os treze primeiros do Ranking da CBF, em ordem alfabética: Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco. Após a união desses times houve a eliminação dos times do interior.

De acordo com Vasconcelos, foi por esse motivo que os times mato-grossenses não participaram do Campeonato Brasileiro de 1987 até 2020. “Os clubes já eram fracos financeiramente, então por consequência da eliminação, em 1988 a 1990 a segunda divisão já estava sendo consolidada. A partir daí os clubes não tinham condições de montar bons times para se manter”, comentou.

Para o jornalista, isso também está ligado às crises que os clubes passaram no Campeonato Mato-Grossense. “Com a má administração os times perderam suas sedes e estar longe do eixo também atrapalhou”, finalizou.

Depois de 33 anos de existência, o C-13 chegou ao fim em fevereiro de 2011, após diversos desentendimentos entre os clubes, CBF e a emissora detentora dos direitos de transmissão da competição nacional.

Os impedimentos dos clubes tradicionais na série A na visão dos profissionais da comunicação

Para chegar à elite novamente, os times mato-grossenses possuem, hoje, alguns obstáculos. De acordo com Paes de Barros, os times tradicionais sempre foram muito frágeis em estrutura. “Eles não evoluíram, eles não fizeram um centro de treinamento, não investiram na base, exatamente por isso é que estão hoje superados pelo Cuiabá, mas a participação deles no campeonato brasileiro foi uma participação que orgulhou e honrou o futebol de Mato Grosso”, opina.

Outro ponto levantado é a questão financeira e logística. O estado de Mato Grosso fica longe do eixo Rio e São Paulo. Para Vasconcellos esse distanciamento geográfico impacta muito na entrada dos clubes na elite do futebol.

“Chegar na série A, exige um mega trabalho, uma boa estrutura e seriedade que precisa ser mantido por um longo período. Então manter esse trabalho, as dívidas em dia, tem sido uma dificuldade para os clubes do Estado. Afinal, não se faz futebol sem isso, é preciso contratar, investir para ter retorno”, comenta a jornalista esportiva, Bruna Ficagna.

Ficagna também associa a má administração dos clubes ao esvaziamento no estádio. “Eu acredito que os clubes tradicionais, como o próprio Mixto e Operário que já tiveram a presença maciça do torcedor, perdeu esse vínculo devido ao momento e as fases que foram passando. Mas na Série B de 2019, vimos que um clube consegue sim contar com essa torcida, na final da Série C em 2018, o Cuiabá provou isso, quando a Arena lotou”, relata.

É possível que haja uma luz no fim do túnel, agora, com o Cuiabá na série A. O narrador Eslteneil de Sousa, mais conhecido como Anjinho Moreno, acredita que não precisa ser um clube-empresa para alcançar o sucesso, mas é necessário seriedade na tratativa das decisões. Para que isso ocorra, é necessário que os clubes invistam em publicidade no Campeonato Mato-Grossense.

Após três décadas, o Dourado, que é o mais novo time do estado, terá a oportunidade de mostrar todo o seu talento no futebol. Agora é torcer para que o Cuiabá tenha uma bonita trajetória na elite do campeonato brasileiro.

Alimentação e atividade física potencializa a saúde na infância

O Ministério da Saúde recomenda em seu guia alimentar evitar a ingestão de alimentos processados durante a fase de crescimento por Camyla Rondonn

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), há uma relação direta entre alimentação e o crescimento da criança, onde a infância vai de zero a 9 anos e a adolescência de 10 a 19 anos. Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento físico é acelerado e conforme o avanço da infância, ocorre uma desaceleração na altura, que volta com tudo na fase do estirão, na adolescência.

Yaskara Schuistak, 31 anos, é administradora e mãe de Bernardo, 4 anos. Ela conta que o filho pratica natação desde os seis meses de idade, a partir do momento em que foi para o berçário onde a atividade estava inclusa. Como a diversão era garantida na natação, Yaskara diz que ele chegava cansado, dormia mais cedo e obteve uma melhora no seu sono. “Percebi o seu desenvolvimento social, a autonomia, o desenvolvimento motor e a perda do medo da água”, relata.

Em virtude do coronavírus, ela retirou o filho do berçário, mas pensa em matriculá-lo em outro esporte futuramente. Enquanto isso, Bernardo pratica a atividade física em família, pois a sua avó paterna, Anatalia Souza Silva, aposentada, é ex-professora de educação física na UFMT e incentiva o neto a manter atividades.

A administradora disse que, apesar de cuidar da alimentação do filho, houve uma fase que o excesso de um único tipo de alimentação (cenoura e abóbora) que contribuiu para a hiperpigmentação na derme (pele), deixando-o com uma cor alaranjada.

Entre outros motivos, a regularidade da consulta com um pediatra auxiliou a mãe a identificar e reverter a hiperpigmentação do filho Bernardo. O qual foi readequado para a fase da vida do pequeno, conciliando com a atividade exercida por ele.

Segundo a nutricionista, Sheila Zuchello, o corpo humano não foi “feito” para ficar parado, pois toda a nossa estrutura celular e molecular funciona baseada em movimentos. Quando uma parte do corpo precisa ficar imobilizado por um determinado tempo, o nosso organismo “entende” que aqueles músculos não precisam de energia, devido a imobilidade e o cérebro dá a ordem para que as reservas de nutrientes daqueles músculos sejam reabsorvidas e reaproveitadas, assim o músculo do local atrofia, ou seja, perde tônus muscular, sua força.

E o que acontece quando aquele mesmo membro começa a se movimentar novamente? O cérebro dá a ordem para reconstruir, ou seja, fortalecendo o músculo que agora está em movimento, “enviando” energia e hipertrofiando, desenvolvendo o músculo. A mesma coisa acontece com nosso corpo inteiro, se há pouco movimento, ocorre atrofia, diminuição de músculos, ossos e até órgãos. Mas quando há movimento, há construção, manutenção e crescimento.

Culturalmente o sonho de algumas meninas é aprender balé e ter a aparência de uma boneca dos desenhos infantis, Geovanna, 6 anos, pratica essa atividade física a aproximadamente 2 anos. Michelle Teixeira, 34 anos, secretária e mãe de Geovanna, relata a melhora da postura da filha e sua alegria ao praticar essa dança. “Na igreja, ela pedia para dançar, e o balé foi a sua escolha, a qual deixa muito feliz”, afirma a mãe.

Michelle diz que a filha é muito agitada e está sempre alerta, tem muita energia para gastar, como toda a criança nessa fase. A escolha pela dança foi a melhor opção, pois além da menina gostar dessa atividade o valor também era acessível já que a igreja tem uma parceria com a professora de dança, ficando dentro do orçamento familiar.

Como outras atividades, as aulas de balé ficaram suspensas em razão da Covid-19 e as instruções da professora foram por meio de vídeos no WhatsApp para que realizassem alongamentos e assim estimulando-os na atividade.

A nutricionista, disse que a atividade física é fundamental para o desenvolvimento saudável em todas as fases da vida, principalmente na infância e adolescência. A falta de exercícios nesta fase pode resultar em ossos com menor densidade, sinapses nervosas com menos eficiência e órgãos e músculos menores e mais fracos, a chamada sarcopenia.

A falta de cálcio, vitamina D, magnésio, fósforo e outros nutrientes influenciam diretamente nas fases de maior crescimento. Mesmo que um indivíduo tenha genes que determinem que ele será alto, se sua alimentação durante a fase de crescimento for deficiente, o organismo vai priorizar órgãos vitais coração, pulmões, rins, fígado e cérebro, assim a estatura ficará mais baixa, relata a nutricionista, Sheila Zuchello.

Recomendações alimentares

É recomendável que a alimentação seja o mais natural possível, composta por frutas, legumes, leguminosas, verduras, carnes magras, peixes, aves e castanhas. E no Brasil, a cultura alimentar inclui a mandioca, arroz e feijão. Mas não podemos deixar de consumir proteínas, carboidratos, gorduras, fibras, minerais, vitaminas e água. Já os alimentos de origem vegetal têm a vantagem de ter compostos bioativos que agem no organismo como antioxidantes e anti-inflamatórios, além de nutrir.

Quanto mais natural, variado e colorido for a refeição melhor e mais atrativo será para a criança. Se a refeição for preparada em casa, melhor ainda. Evitar os produtos

Geovanna, 7 anos, em sua primeira apresentação do balé Foto: Arquivo pessoal

alimentícios industrializados, que tiveram os principais nutrientes removidos e receberam acréscimo de gordura trans, açúcares e sódio em excesso. Além de muitos conterem o glutamato monossódico, que além de viciar o organismo, ativa o centro de fome no cérebro, sendo uma substância orexígena (estimulam o consumo alimentar).

De acordo com as recomendações do guia alimentar do Ministério da Saúde, deve-se evitar a ingestão de alimentos processados, com excesso de sal, açúcar, gordura trans e aditivos, pois pode levar a doenças do tipo hipertensão, diabetes, cáries entre outros. O guia alimentar recomenda que as crianças se nutrem com alimentos in natura, ou minimamente processados, pois neles contém maior quantidade de nutrientes, vitaminas e minerais.

IMPORTÂNCIA DE UMA BOA NUTRIÇÃO

Fontes de proteínas: leite e derivados, carnes, aves, pescados, feijão, lentilha, grão de bico, ervilha, até arroz com feijão são ótimas fontes de proteína. Fontes de carboidratos: arroz, batata, mandioca, etc. Fontes de gorduras (boas): castanhas, azeite de oliva, abacate, carnes magras, leite e derivados, etc. Fontes de minerais, vitaminas e fibras: frutas, legumes, verduras e cereais integrais. E a quantidade de água necessária por dia pode ser calculada com a fórmula: peso x 35ml, por exemplo: uma pessoa com 70kg x 35ml de água = 2,450 L por dia.

Bernardo, 4 anos, praticando natação em família. Foto: Arquivo pessoal

Nieta Costa:

Na Casa das Pretas o que liberta é a educação

por Beatriz Passos

“A minha trajetória no movimento negro começou muito cedo” relembra Nieta Costa, fundadora e presidente do Instituto de Mulheres Negras (Imune) e líder da Casa das Pretas, espaço inaugurado no Centro Histórico de Cuiabá onde localiza-se a Afroteca Comunitária Carolina Maria de Jesus. Nascida em 1967, Nieta iniciou sua trajetória de luta ainda na adolescência, quando sentia de perto o encanto do pai, sindicalista, pelo movimento negro.

Era 1989, ano em que o Brasil experienciou a primeira eleição presidencial direta desde a Ditadura Militar, quando Mato Grosso recebeu o Encontro Nacional da Consciência Negra. Neste evento, Nieta deu seus primeiros passos enquanto liderança ao ser convocada pelo pai para pensar a programação cultural do encontro. Amante da dança, a jovem se juntou com colegas e fundou o “Grupo Cultural Filhas de Oxum”.

Foram 24 anos atuando junto ao grupo, até que em 2002 a dança deu lugar à militância e Nieta passou a se dedicar ao Imune. Completando 19 anos de existência, o Instituto promove ações de acolhimento e reivindicação de direitos voltados às mulheres negras.

Dentre os mais diversos reconhecimentos pelo trabalho realizado, Nieta relembra o momento em que o Imune recebeu a Comenda Senador Abdias Nascimento, ao lado

Nieta Costa coordena não só o espaço físico da Afroteca como também o Instituto de Mulheres Negras (Imune)- Foto: Beatriz Passos de personalidades como Zezé Motta e Lazzo Matumbi.

Em um novo capítulo de sua história, Nieta Costa abriu as portas da mais nova realização do Imune, a Afroteca Comunitária Carolina Maria de Jesus, e recebeu a equipe de reportagem do Jornal SôFoca para uma entrevista especial.

JS: A Casa das Pretas está localizada em uma região histórica da capital, a Praça da Mandioca. Diante disso, conte sobre como nasce esse espaço físico do Imune?

NC: Durante 17 anos e 10 meses nós não tivemos sede. Nós íamos até a comunidade falar sobre as mulheres negras e lutas sociais. Com a pandemia o impacto foi grande, já que entre as nossas mulheres, 90% a 95% não possuem proximidade com a tecnologia e isso foi um choque.

Com o apoio do fundo Baobá, a gente conseguiu

comprar dois notebooks, conseguimos comprar celular, para a gente poder fazer nossos trabalhos virtualmente, aí a gente começou a fazer as nossas rodas virtuais.

Esse espaço estava fechado há mais de dois anos, é uma casa do século 19, onde tem um poço e toda uma estrutura daquele tempo. Quando a gente entrou aqui sentimos que era nossa casa. Sempre falava que a gente teria uma sede, aí uma companheira disse assim: ‘É Nieta, você falava que a gente ia ter sede, mas a gente nunca imaginou que seria tudo isso’, aí eu falei ‘É tudo do tamanho do nosso sonho, e pode ser maior’.

JS: Pensando em uma perspectiva de futuro, como o Instituto pretende manter a Casa em funcionamento?

NC: Queremos tornar esse espaço sustentável, e a gente tá aqui trabalhando para isso. Hoje a gente precisa muito da ajuda de projetos e da população para manter. Mas, a luta agora é para comprar esse espaço.

A deputada Federal Rosa Neide (PT) prometeu que vai fazer uma emenda de compra desse espaço, e tudo isso não é para o Instituto, aqui é nossa casa coletiva, temos três princípios: acolhimento, resistência e luta. Se não tiver isso, não é Casa das Pretas.

Nós somos um quilombo urbano de mulheres negras, e queremos aquilombar, mas nesse aquilombamento cabe diversidades. Aqui é a casa de quem precisa.

JS: Dentro desse quilombo urbano, temos hoje um espaço recém inaugurado que é a Afroteca Carolina Maria de Jesus. Como surgiu a ideia de criar um local como esse e porque a escolha desse nome?

NC: Sou professora, pedagoga e geógrafa, mas antes de ser professora, sou mulher preta e preciso de referências. Durante minha construção acadêmica e até mesmo no processo de formação de cidadã, a educação não me trouxe as referências que eu precisava. Não quero isso para os meus e nunca quis isso.

A gente quando parou aqui, a primeira coisa que criamos foi uma biblioteca pequena, era só uma prateleira com os livros, que trouxe da minha casa e as meninas trouxeram da casa delas.

Quando pensamos em um nome para a Afroteca, me assustava que ninguém conhecia Carolina

Maria de Jesus, eu, mulher preta do movimento negro, não conhecia até poucos anos atrás. E pensei se eu, que sou do movimento negro, demorei tanto conhecer, imagina as minhas irmãs pretas. Mato Grosso precisa conhecer Carolina Maria de Jesus.

JS: Essa ligação com escritores negros e negras também se relaciona aos autores mato-grossenses?

NC: Olha, Mato Grosso precisa conhecer Carolina Maria de Jesus. Mas, Mato Grosso precisa conhecer Luciene Carvalho, escritora daqui. Mato Grosso precisa conhecer Neusa Batista que é escritora daqui.

Luciene Carvalho faz parte da Academia Mato-grossense de Letras e muita gente ainda não a conhece. É preciso conhecer Neusa Batista, escritora e mulher preta que escreveu livros que estão entre os 10 mais bem indicados para Educação Infantil em relações raciais, o ‘Cabelo pixaim é Cabelo ruim?’.

Eu não quero esperar morrer como Vilma Moreira, primeira mulher negra a ser deputada estadual em Mato Grosso, morreu, sem ninguém falar sobre. Queremos falar dos nossos ainda em vida

“Nós somos um quilombo urbano de mulheres negras, e queremos aquilombar, mas nesse aquilombamento cabe diversidades. Aqui é a casa de quem precisa.”

Nieta Costa, 54 anos e por isso criamos a Afroteca, porque o livro liberta, a educação liberta, a leitura liberta.

JS: E diante todo esse trabalho já realizado pelo Imune e parte dele concretizado hoje com a Afroteca, qual o legado que você gostaria de deixar para as mulheres negras de Mato Grosso?

NC: Fui a primeira mulher a assumir o Conselho de Promoção de Igualdade Racial, tomei surra que nem o que, e por um homem que coordenava. Lá eu não tinha direito a ter uma folha de papel sem me explicar mil vezes.

Sempre digo para as meninas aqui: “A luta não se faz no conforto, você não muda nada no conforto da sua casa’. Precisamos nos posicionar. As pessoas precisam se colocar como instrumento de mudança.

Nós não queremos mais pessoas que não sejam anti-racistas, porque dizer que não é racista é fácil, já que é crime, o difícil é combater o racismo. Como dizem em Cuiabá: ‘Chupa essa manga’.

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