Asilo São Vicente de Paulo Poços de Caldas
Cem anos Associação das Damas de Caridade 1914 - 2014
Irmã Iracy Bezerra Irmã Maria Dulce Mendes
Centenário da Associação das Damas de Caridade Mantenedora do Asilo São Vicente de Paulo em Poços de Caldas (1914-2014)
Organizadores Michele Carlos Vanessa Carlos Wiliam de Oliveira
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...a única fonte (de renda) real era a Providência Divina, pois colocando no bico da pena, não era possível acreditar que com o número de pessoas acolhidas e funcionários, uma obra deste porte já estivesse completando cem anos. Irmã Iracy Bezerra
Deus nos concedeu Eu me lembro muito bem. Foi nas vésperas do Natal de 2010, quando recebemos a visita de um casal amigo: Vicélia e Luiz Carlos Magalhães. Visita que sempre se repete. Luiz Carlos nos perguntou como era a vida da instituição e quais as fontes de sustentação. Respondi que a única fonte real era a Providência Divina, pois colocando no bico da pena, não era possível acreditar que com o número de pessoas acolhidas e funcionários, uma obra deste porte já estivesse completando cem anos. Comecei a contar-lhes fatos do cotidiano, testemunhados por mim e por companheiras de caminhada. O casal, um pouco surpreso, nos disse: “As senhoras nunca pensaram em escrever o que estão nos contando?” Na verdade não havíamos pensado nisso. “Escrevam” - insistiram. Confesso que relutei um pouco, mas outras pessoas foram insistindo. Assim, convidei Ir. Maria Dulce Mendes - MJC - para fazer um levantamento das atas da Associação das Damas de Caridade, bem como nos livros tombos da presença das Missionárias de Jesus Crucificado na Instituição. Então, com o material em mãos, pedimos às nossas boas amigas Michele e Vanessa Carlos, ambas pedagogas, que assumissem a tarefa de organizar, buscando outras fontes e colecionado fotos para o enriquecimento do livro. Posteriormente, contamos com o auxílio do jornalista e escritor Wiliam de Oliveira que prontamente nos atendeu na organização das informações e textos. O que vamos apresentar é apenas um pouco da vida deste Asilo São Vicente de Paulo, por onde tantas vidas passaram em doação constante aos empobrecidos da humanidade. Sabemos que não é possível transcrever em poucas páginas uma caminhada centenária, com seus obstáculos e desafios. E sempre houve muita alegria em conviver com gente amiga e comprometida com esta causa. Mulheres guerreiras, que não mediram esforços em caminhar conosco. Homens, que junto com seus familiares se fizeram presentes como bons cirineus. Sacerdotes, religiosos e religiosas, em especial as Irmãs do Instituto Jesus Maria José, que durante alguns anos foram presença nesta obra. Os meios de comunicação social, sempre divulgando os eventos. Não é possível enumerar, pois seríamos injustas com quem ficasse no esquecimento. Só temos que agradecer a todos que direta ou indiretamente foram presença na história das Damas de Caridade e do Asilo São Vicente de Paulo por elas mantido. Por tudo, queremos glorificar a Deus, que está sempre nos abençoando nesta trajetória de acolhimento. Irmã Iracy Bezerra Lu Alves Photo Design
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Um livro escrito por centenas de mãos No início de 2013, recebemos o convite para organizarmos a história da Associação das Damas de Caridade, Mantenedora do Asilo São Vicente de Paulo. Posteriormente, em um dos encontros com a Irmã Iracy, definimos que o livro contaria pequenas histórias cotidianas, porém especiais, ocorridas nesta Casa de Acolhida. Alguns dias depois, a Irmã Iracy anunciou, após o término de uma celebração eucarística, que havia encontrado em seu acervo álbuns com as mais diversas notícias de jornais, convites, anúncios, dentre outros registros históricos do Asilo São Vicente de Paulo e das Damas de Caridade. Tendo em mãos um rico material, prosseguimos com nossa tarefa, digitalizando e montando, como um grande quebracabeça, todos os documentos, textos e fotos recolhidos. Infelizmente algumas peças se perderam, principalmente aquelas que permitiriam demarcar com precisão as datas de cada uma das fotos, o que não invalidou a ideia de inseri-las no livro. Já em agosto de 2014, a Irmã Iracy sugeriu convidar o jornalista e escritor Wiliam de Oliveira para que pudesse se juntar a nós para a finalização do projeto e assim foi feito. Por tudo, este é um livro escrito por centenas de mãos. Não só àquelas inseridas neste livro, seja por fotos, relatos ou depoimentos, mas também as que auxiliaram e ainda auxiliam a construção desta linda e centenária história. Queremos agradecer a todos pela realização deste trabalho, esperando que esta publicação faça jus a memorária do incessante trabalho desenvolvido pelas Damas de Caridade e pelas Missionárias de Jesus Crucificado no Asilo São Vicente de Paulo.
Michele Carlos Vanessa Carlos
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Nasce o Asilo São Vicente de Paulo Iniciava-se o século XX em Poços de Caldas. A pequena vila há pouco havia se tornado uma estância hidromineral conhecida em todo o país. Administrada por Francisco Escobar, no período de 1909 a 1918, a estância vivia grandes momentos: o início da edificação do prédio da Prefeitura, ampliação e reforma do Mercado, fundação do Horto Florestal, construção de pontes, melhorias nas ruas das cidades, as quais foram nomeadas com os nomes dos Estados Brasileiros. O turismo desenvolvia-se consideravelmente, sobretudo com a abertura de casas de jogos de azar e diversões e com a inauguração do Grande Hotel. (MEGALE, 2002, p. 34). A vila era bastante visitada, em razão das propriedades medicinais das águas sulfurosas. Mas também era crescente o número de pessoas carentes, pedintes, em situação de vulnerabilidade social. Nesta época, as Damas de Caridade eram senhoras da sociedade, imbuídas do espírito de caridade, trabalhando arduamente para a aquisição de fundos necessários para alimentação, construção de casas e todos os auxílios possíveis aos necessitados. Para assegurar o compromisso com os pobres, dando corpo à Associação das Damas de Caridade, houve uma eleição, compondo a primeira Diretoria: Presidente: D. Elza Lobato; Vice-Presidente: D. Maria Luiza Ottoni; Tesoureira: D. Platiudes de Paiva; Secretária: D. Rita Guimarães; Procuradora da tesoureira, Sra. D. Antônia Chaves, além de outras que ainda seriam nomeadas pela mesma tesoureira. No coração destas senhoras, havia um grande sonho: construir um espaço para lhes oferecer o conforto merecido, o que não foi fácil: aquisição do terreno, valores para edificação, sem esquecer os cuidados com aqueles e aquelas já amparadas pela Associação. Em 11 de outubro de 1914, o padre Serafim Augusto da Cruz, da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, juntamente com as Damas de Caridade, iniciam uma bela trajetória de acolhimento e apoio a todos os necessitados: nascia o Asilo São Vicente de Paulo, abrigando as pessoas carentes em pequenas residências, dando-lhes com amor e carinho, toda a assistência. Este sonho começou a tomar forma em novembro de 1916, quando D. Agostinha de Barros Cobra doou um terreno. “No entanto, os engenheiros acharam-no impróprio para a edificação do prédio (...)” (MEGALE 2002, p. 168) e houve a permuta deste lote por outro, situado à rua Rio Grande do Norte, onde atualmente o Asilo atende a 46 idosas em situação de vulnerabilidade social. Conquistado o terreno, foi confeccionada a planta “e em 21.01.1917, D. Antônio Augusto de Assis, Bispo de Guaxupé, lançou a primeira pedra do Asilo São Vicente de Paulo” (Conf. Ata à parte do Livro de Atas, nº. 1), desejando inaugurar o prédio no dia 19.07.1918, dia de São Vicente de Paulo. Porém, a Missa nesse dia desejado foi na Matriz, pois ainda não havia sido concluído o primeiro pavilhão do prédio. 9
Em 20 de setembro de 1917, as Damas de Caridade receberam a importância de um conto de réis, primeira prestação do auxílio concedido pelo Estado no ano de 1917, para a construção do Asilo. As damas, através de incansável trabalho, conseguiram fundos por meio da realização de espetáculos, eventos e quermesses, além das contribuições da população poços-caldense. Houve ainda o apoio da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas e do Bispo Diocesano. Em 19 de julho de 1919, o Diretor Revmo. Padre Serafim Augusto da Cruz partiu para Portugal, vindo a substituí-lo o Revmo. Padre Alcidino Gonzaga Pereira. Neste mesmo ano, o “(...) Prefeito Dr. Policarpo de Magalhães Viotti doou mais três lotes, contíguos, que constituem o atual patrimônio do asilo”. (MEGALE, 2002, p. 168). Embora a pedra fundamental tenha sido lançada em 1917, devido à falta de recursos, a obra “(...) só foi iniciada em 1920, graças aos esforços e à dedicação do Juiz de Direito, Dr. Felício Buarque de Macedo.” (MEGALE, 2002, p. 168). Em 29 de janeiro de 1922, o Padre José Faria de Castro foi nomeado vigário da Paróquia e Diretor das Damas, exercendo suas funções até 31 de dezembro de 1923, quando foi substituído pelo Padre Eduardo Baptista. No entanto, apesar de todos os esforços, “os anos passavam e a construção se arrastava indefinidamente”. (MEGALE, 2002, p. 168). Então, em 1922, foi instituída uma Cruzada Santa, para que fosse possível concluir a tão sonhada obra. A Cruzada Santa envolveu o Poder Público e a Igreja. Ao término de cada missa, o pároco avisava que as Damas de Caridade, mantenedoras do Asilo São Vicente de Paulo, estariam na porta da Basílica Nossa Senhora da Saúde para receberem donativos. Finalmente, em 30 de setembro de 1923, concluídas as obras de construção, o prédio foi inaugurado, contando com a presença das Damas de Caridade; do Prefeito Municipal, João Benedicto de Araújo; do Bispo da Diocese, D. Ranulfo da Silva Faria; do Vigário da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Padre Eduardo Batista; do Presidente do Conselho Deliberativo Municipal, Doutor Alfredo Porto; além da população amiga e em especial os pobres, que eram assistidos pelas Damas de Caridade. “Iniciou-se a cerimônia com a benção da capela e a celebração do Santo Sacrifício da Missa, pelo Revmo. Bispo de Guaxupé. D. Ranulfo da Silva Farias, acolitado pelo vigário, Padre Eduardo Batista e pelo Cônego José Felipe da Silveira. Procedeu-se em seguida à bênção da imagem de São Vicente (...).Foi prestada também uma homenagem póstuma ao Dr. Felício Buarque de Macedo, falecido cinco dias antes da inauguração do estabelecimento (...)” (MEGALE, 2002, p. 168-169).
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São Vicente de Paulo
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Não pode haver caridade se não vai acompanhada de obras de justiça.
São Vicente de Paulo O Asilo, que recebeu o nome de São Vicente de Paulo, vivencia cotidianamente os ensinamentos e propósitos deste presbítero que dedicou grande parte de sua vida à caridade. Vicente nasceu em Dax, na França, em 24 de abril de 1581. De origem humilde, cuidava dos animais da família. Desde sua ordenação, São Vicente de Paulo teve uma paixão pelos sofredores da vida: pobres, doentes, crianças, idosos, etc. Vendo em cada um a pessoa de Jesus, para cuidar deles, fundou em 1633 as “Filhas de Caridade” (vicentinas), constituída de jovens unidas por votos, com o objetivo de atender aos necessitados. No ano seguinte, a instituição Damas de Caridade surgiu em Paris, como suporte para as religiosas no atendimento aos pobres. Fundou também as instituições “Servos dos Pobres” e a “Congregação dos Padres da Missão”, especialmente nas zonas rurais. São Vicente faleceu em 27 de setembro de 1660, sendo canonizado em 1727 no pontificado de Clemente XII.
São Vicente de Paulo. Imagem situada nas proximidades dos dormitórios das acolhidas do Asilo São Vicente de Paulo
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O período de transição Com a sobrecarga de trabalhos e o pequeno número de integrantes da Associação das Damas de Caridade houve a proposta de transferir a Administração do Asilo para os Vicentinos, que consultados, se dispuseram a recebê-lo, encerrando as atividades das Damas de Caridade. O pequeno grupo das Damas de Caridade, porém, pediu um tempo para pensar e refletir sobre a proposta. Foi um espaço curto, mas o suficiente para um trabalho junto a outras senhoras, que aderiram ao convite, voltando com renovado ardor em número dobrado, com objetivo claro de continuarem a obra por elas começada em 1914. Em 1942, as irmãs Missionárias de Jesus Crucificado foram convidadas para assumir a direção do Asilo. O Bispo da época foi especialmente à Campinas, no interior de São Paulo, para tratar do assunto, de modo que o Monsenhor José Faria de Castro, pároco da Matriz, recebeu uma correspondência que firmava o compromisso das Missionárias quanto à direção do Asilo, tão logo fosse possível. No ano seguinte, em 22 de setembro, foi realizada reunião extraordinária, presidida pelo Monsenhor José Faria de Castro, para tratar da proposta de transferência por doação do Asilo de São Vicente de Paulo à Sociedade Feminina de Instrução e Caridade, que se obrigava a manter a instituição para o atendimento de idosos desamparados de ambos os sexos. Nesta proposta, constava que “surgindo maiores dificuldades para a manutenção do asilo ou vantagem para mudança de finalidade, a autoridade Diocesana resolverá a situação”. 14
Irmãs Missionárias, que aconteceu em 10 de abril de 1944, sob a direção da Madre Urbana Ferreira Rosa. Na oportunidade, também estiveram presentes o Revdmo. Monsenhor Manoel Correia de Macedo, a Madre Geral da Congregação, Maria do Calvário e o grupo de Irmãs desta primeira comunidade em Poços de Caldas. As Irmãs foram recebidas com festas, estando presentes na estação o Revdmo. Mons. Castro, diversas religiosas desta cidade, sacerdotes, Irmãos Maristas, Damas de Caridade, representantes de colégios, autoridades, associações, o benfeitor Capitão Reinaldo Amarante, o Sr. Prefeito Dr. Joaquim Justino Ribeiro e diversas famílias distintas. Os asilados estavam sorridentes no terraço. A associada e tesoureira Liliza Ottoni manifestou pleno acordo e a proposta foi acolhida por unanimidade, incumbindo ao Presidente em exercício, Monsenhor José Faria de Castro e à Sra. Tesoureira, a realização do balanço de todo o patrimônio da Associação, bem como de proceder à doação, transmitindo os bens encontrados e providenciar toda a documentação necessária. Esteve presente neste ato a presidente da Sociedade, Maria Villac, que manifestou pleno acordo com a referida doação.
Após pequena oração na Capela, as Irmãs ouviram as palavras do Dr. Diolindo Toledo Junior, Promotor Público desta cidade, que enaltecia o valor das
Religiosas. (Conf. Ata págs. Em 1943, Monsenhor José Faria de Castro anunciou a chegada das 1-2, Livro Tombo nº. 1). 15
Fundação da Comunidade das Missionárias de Jesus Cristo em Poços de Caldas No dia seguinte, em 11 de abril de 1944, foi realizada na Matriz a Santa Missa Inaugural, celebrada pelo Monsenhor José Faria de Castro. Assim como ocorreu na recepção do dia anterior, estiveram presentes diversas pessoas, dentre elas, religiosos, religiosas e autoridades. Finda a Santa Missa, foi realizada a benção do prédio que abriga o Asilo. No pequeno pátio, foi plantada a árvore da Cruz de Jesus Crucificado e realizada a benção do mesmo. (Conf. Ata págs. 2b-3ª, Livro Tombo nº 1). Estabeleceu-se então a parceria das Irmãs Missionárias e as Damas de Caridade. (Conf. Ata págs.: 3-3b, Livro Tombo nº 1 ). No mês seguinte, as Irmãs receberam a visita do Bispo, que percorreu toda a casa, deixando uma benção especial para a Comunidade e seus trabalhos” (Conf. Ata pág. 9, Livro Tombo nº 1). Em 21 de maio de 1944, foi feito um agradecimento formal às componentes da Diretoria da época, Sra. Anela Oliveira S. Lima, Maria Aparecida Pereira e Liliza B. Ottoni, em razão de terem empreendido, com êxito, a reforma e o aparelhamento completo do Asilo, bem como pela entrega definitiva do prédio às Missionárias de Jesus Crucificado, sem ônus para a congregação.
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Primeira Comunidade das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado em Poços de Caldas Quer conhecer a Primeira Comunidade das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado em Poços de Caldas? É muito fácil! As irmãs estão numeradas, ladeando sua Superiora, Madre Urbana de Maria Mãe de Deus.
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Madre Urbana de Maria Mãe de Deus Irmã Doracina Maria do Meigo Olhar de Jesus Irmã Flávia do Coração Compassivo de Maria Irmã Cacilda Maria do Santo Sonho Irmã Olga Maria do Amor Crucificado
6- Irmã Josefina Maria de Jesus Pai ( que na ocasião, estava em tratamento em Poços de Caldas) 7- Irmã Maria José de Jesus Reparador 8- Irmã Otília Maria do Zeloso Pastor
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Missionárias: Instrumentos de Deus Atualmente, as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado são conhecidas por seus nomes civis: Ir. Iracy, Ir. Terezinha, Ir. Angelina, Ir. Dulce. Nem sempre foi assim. As primeiras Irmãs Missionárias que chegaram ao Asilo São Vicente de Paulo foram Irmã Doracina Maria do Meigo Olhar de Deus, Irmã Flávia do Coração Compassivo de Maria, Irmã Margarida Maria do Menino Jesus, Irmã Hilda Maria do Rei Pacífico, Irmã Carolina de N.Senhora das Dores, Irmã Evangelina Maria de Jesus Amável, Irmã Conceição de Maria Imaculada e Irmã Ana de Maria Rainha dos Corações. Assim, o nome de cada religiosa era composto pelo seu nome civil, seguido de Maria, pois para a Congregação todas as irmãs deveriam seguir o exemplo de Nossa Senhora e finalizado com uma invocação. Ir. Iracy Bezerra
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Salus in Cruce. Minhas bênçãos aos relevantes trabalhos que as beneméritas Missionárias de Jesus Crucificado desenvolvem na dileta Paróquia de Poços de Caldas.
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A Associação Nossa Senhora das Dores As Irmãs Missionárias, com o objetivo de anunciarem a “Boa Nova e promoverem a formação da população carente, deram início a diversos grupos. Organizaram a Associação de Nossa Senhora das Dores, oferecendo o ensino de culinária, artesanato e de prendas domésticas.
Primeiro grupo de senhoras que frequentava o curso de culinária
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Estandarte de grupo com a estampa de Nossa Senhora das Dores
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Catequese Logo nos primeiros meses de sua atuação, as missionárias também prepararam a realização de Páscoa para choferes e charreteiros, totalizando sessenta homens, dos quais vinte e quatro receberam a Eucaristia pela primeira vez. Desde então, as atividades prosseguiram incessantemente: preparação e realização de Páscoa para crianças, senhoras, moças, homens, meninos engraxates e jornaleiros, trabalhadores da Companhia Mogiana, garçons, moradores de diversos bairros, operários, grupos escolares.
Trabalho das Missionárias de Jesus Crucificado com os operários da Mogiana.
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A catequese avançou, com a abertura do Centro de Catecismo “Prediletos de Maria”, para os meninos, sem deixar de lado a preparação das meninas
Primeira comunhão, com vestes brancas as meninas eram ladeadas por anjos.
Primeira comunhão – os meninos trajavam ternos com laços amarrados no braço esquerdo, simbolizando a pureza.
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Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Marcos 16, 15
Missões Como missionárias de Jesus Crucificado, as irmãs estenderam a evangelização além dos muros do Asilo São Vicente de Paulo, sempre atuando junto aos mais necessitados, semeando a palavra de Deus em inúmeros corações. E assim, muitas famílias foram acolhidas no caminho da fé através da paciência, escuta, compreensão e solidariedade.
Evangelização na zona rural, coordenada pela Irmã Líbera. Nestas ocasiões, havia preparação para Primeira Comunhão de crianças e adultos, bem como para casamentos religiosos.
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(Tiago 2, 17)
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A fé sem obras é morta.
Cotidiano no Asilo Além do cultivo de hortaliças e de plantas medicinais, havia a criação de porcos, galinhas e patos. Certa ocasião, as galinhas foram furtadas, restando apenas um casal. Preocupada, Irmã Líbera contou aos padres oblatos o ocorrido, que não mediram esforços para a recomposição do galinheiro. (Relato: Irmã Terezinha Oliveira).
Criação de galinhas e patos
Horta
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A obra das Damas de Caridade e das Irm達s Mission叩rias de Jesus Crcuificado sempre contou com o apoio da comunidade. Ao lado, foto da primeira televis達o doada ao Asilo S達o Vicente de Paulo, pela Alcoa.
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Casa de Formação O Asilo São Vicente de Paulo também foi uma Casa de Formação, destinada às aspirantes ou postulantes, noviças e junioristas da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado. Era um tempo de estudo e de aprendizado para missão.
Noviças. Julho de 1952.
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Um amor especial – Ana Luiza Ana Luiza passou grande parte de sua vida no Asilo São Vicente de Paulo, recebendo todos os cuidados e o carinho especial de Irmã Líbera Carminatti. Com deficiência auditiva (era surda-muda), Ana Luiza enfrentou uma difícil história familiar e foi acolhida nesta Casa. Dentre as fotos cuidadosamente guardadas pela Irmã Iracy, encontra-se um álbum de Ana Luiza, em diferentes momentos de sua vida.
Ana Luiza, ainda sem firmeza nas pernas, em Ana Luiza, e Irmã Líbera na gruta de Nossa um piquenique na Represa Saturnino de Brito. Senhora de Lurdes
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Em 06 de agosto de 1952, a chegada de Ana Luiza, acompanhada por Irmã Líbera, ao Instituto Santa Terezinha, especializado no atendimento de surdos-mudos
Quando muitos auxiliam, muitos são auxiliados Ao longo de sua trajetória, as Damas de Caridade e o Asilo São Vicente de Paulo, contaram sempre com o apoio de autoridades, empresários, profissionais da saúde, imprensa, e voluntários anônimos que contribuíram para que o trabalho de prestar assistência às pessoas mais carentes tivesse continuidade. Registramos aqui algumas das centenas de ações, atividades e campanhas realizadas.
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Salmo 23,1
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O Senhor é meu pastor e nada me faltará.
Aproximava-se o Natal e Irmã Líbera, como era de seu costume, procurava as pessoas acolhidas na Instituição (na ocasião, a instituição acolhia homens e mulheres e a maioria fumava) e perguntava o que desejavam ganhar do menino Deus em sua noite de Natal. Os acolhidos foram unânimes em pedir fumo e palha para cigarro. Ela lhes disse: “Fumo é vício e eu não posso alimentar o vício de vocês, peçam outra coisa. Voltarei depois para saber”. Chegou a hora do encontro com as irmãs da comunidade: 13 horas. Nesta época, o carteiro trazia a correspondência na porta e anunciou: “Carteiro... Carta para Líbera vinda de Curitiba, Paraná.” Irmã Líbera abriu a carta, que trazia um cheque acompanhado de uma mensagem: “Esta importância é para a senhora comprar fumo para seus velhinhos.” Então ela foi ao mercadão e comprou todo valor enviado em fumo e palha. Ao receber, os idosos falaram: “Então Irmã, a senhora não nos disse para pedirmos outra coisa?”
Ir. Iracy Bezerra
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Salmo 32, 8
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Vou te mostrar o caminho que deves seguir.
Certa vez, fui à residência de uma senhora para buscá-la e acolhê-la em nosso asilo. Durante o tempo em que ela terminava de arrumar seus pertences, ela apresentou-me apenas uma trouxinha de roupas já bem desgastada pelo tempo, mas que gostaria de levar consigo. A princípio, fiquei sem entender a razão do singelo pedido, mas não a contrariei. Quando chegamos ao asilo, pedi a uma funcionária que providenciasse roupas melhores para aquela senhora e desse fim àquela trouxinha. Porém, ao abri-la, a funcionária encontrou uma Bíblia bem antiga e sem condições de uso. Sem saber o que fazer, ela me procurou e orientei que queimasse. Depois disso, fiquei pensando como faria para explicar ocorrido para aquela senhora, sem deixá-la magoada. Decidi vê-la. Durante a nossa conversa, ela me perguntou onde estava a sua Bíblia. Contei a história e prometi a ela que eu iria providenciar uma Bíblia novinha. Comprida a minha promessa, certa vez passando pelo seu quarto, vi que ela estava segurando a Bíblia de cabeça para baixo. Aquela situação me deixou intrigada. Logo perguntei se ela sabia ler. Imediatamente ela respondeu que não, mas que isso não fazia diferença, pois a Bíblia era sinal de que ela estava com a Palavra de Deus nas mãos e podia meditá-la. Irmã Iracy
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Marcos 9, 23
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Tudo é possível aquele que crê.
Ir. Líbera era responsável pela contabilidade da casa. Um belo dia me chamou e confidenciou que havia chegado uma cobrança, cujo pagamento deveria ser efetuado no dia seguinte, mas que não dispunha do valor necessário para tal quitação. Como já estava saindo para um trabalho à noite, falei-lhe que ao voltar conversaríamos sobre o assunto. Ao descer a escada da Casa, debaixo de uma forte chuva, parou um carro, cujo ocupante me abordou, perguntando se eu residia na instituição. Recebendo a resposta positiva, me entregou um envelope, pedindo que entregasse à responsável pela Casa. Voltei e entreguei para Ir. Líbera, saindo de imediato. Ao regressar às 22 horas, Ir. Líbera estava me esperando para dizer que o envelope continha o valor do pagamento que devia fazer. Fiquei surpresa. Ela queria saber do nome da pessoa. Creio está no coração de Deus.
Irmã Iracy Bezerra
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E não nos cansemos de fazer o bem, porque se não desanimarmos, colheremos os frutos no tempo. Gálatas, 6, 9.
Certa vez, ficamos sabendo de uma Instituição que abrigava idosos em uma cidade vizinha, que passava por dificuldades. Como era época de muito frio e havíamos recebido uma boa doação em cobertores, resolvemos partilhar o que havíamos recebido: de 100 cobertores, ficamos com 50 e doamos 50 para a instituição irmã. Qual foi a surpresa? Em seguida recebemos 3.500 cobertores. Na verdade, Deus não se deixa vencer em generosidade. Quem partilha, recebe muito mais do que imagina. É a mão da Divina providência agindo na vida de quem nela acredita.
Ir. Iracy Bezerra
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Os que confiam no senhor são comoo Monte Sião, não se abala, firme para sempre. Salmo 125, 1
Certa vez chegou um mendigo na portaria e pediu um pão. Uma irmã foi até a cozinha e pediu à cozinheira, a qual respondeu que só havia a quantidade exata para oferecer às pessoas acolhidas na instituição, portanto não poderia atender àquele pedido. A irmã insistiu, solicitando que os pães fossem partidos em dois pedaços, assim poderia atender o pedinte, que parecia com muita fome. Atendendo à solicitação, foi repartido o pão e qual não foi a surpresa, quando na mesma hora tocou a campainha da Rua Correa Neto para entregar várias sacolas de pães. Dos pães que chegaram, todas comeram e ainda sobraram. Foi assim que aconteceu, como quando Jesus multiplicou os pães e peixes no deserto.
Ir. Iracy Bezerra
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Quem é generoso será abençoado, pois reparte o seu pão com o pobre. Provérbios 22, 9
Foi em uma manhã de sol, uma pobre mulher bateu à nossa porta, dizendo que seu esposo estava doente e que havia recebido uma cesta básica, porém, a única coisa que ele havia desejado comer era arroz e que na cesta não havia. Assim, pedia que se possível, que fosse arranjado um pouco de arroz para prepará-lo ao seu marido, já debilitado. Ir. Líbera chegou na cozinha e perguntou para cozinheira se seria possível arranjar um pouco do arroz, o que foi feito com carinho e muito amor. A senhora não havia dobrado a esquina, quando a campainha da Rua Correa Neto tocou e qual não foi a surpresa, pois era um senhor, trazendo uma saca de 60 quilos de arroz, como doação.
Ir. Iracy Bezerra
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Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Hebreus 11,1
Na ocasião, havia uma criação nos fundos do Asilo: galinhas, patos, marrecos e porcos. Chegou à Casa uma pessoa, pedindo para arranjar três ovos de pata, para preparar um fortificante. A irmã foi até a cozinha e só encontrou três ovos, que foram prontamente doados. No mesmo dia, eis que o Asilo recebeu mais de cem ovos de uma senhora da fazenda Chiqueirão. Embora não fossem ovos de patas, eram ovos, que foram saboreados pelas acolhidas por uma semana.
Irmã Iracy Bezerra
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Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós. Antoine de Saint-Exupéry
Quando eu era mais jovem, costumava visitar as famílias com uma imagem de Nossa Senhora para que pudéssemos rezar o terço e compartilhar experiências de fé e vida. Na época, havia um casal que residia no bairro Cascatinha e que estava enfrentando algumas dificuldades no matrimônio. O casal até permitia a minha visita, mas a esposa sempre ressaltava o momento delicado que estavam vivenciando. Certa vez, durante uma visita, estava na casa apenas a esposa. Então entreguei a ela um terço, pedindo que dissesse ao seu esposo que eu estava rezando por ele. Após uma semana, quando estava a caminho da residência do casal para buscar a imagem de Nossa Senhora, encontrei o marido. Como fazia um tempinho que não nos víamos, ele logo me perguntou se eu era a Irmã Angelina. Prontamente, respondi que sim e ele agradeceu pelo terço, deu-lhe um beijo, guardou-o no bolso de sua camisa e seguiu o seu caminho. Ao chegar à residência, a esposa estava um pouco assustada. Perguntei a ela o que havia ocorrido, para que eu pudesse ajudá-la. Ela contou-me que na noite anterior, havia sonhado que a imagem de Nossa Senhora havia sumido de sua casa e que ela chorava muito por não saber o motivo e não conseguir encontrar uma explicação para me dar quando eu chegasse na sua casa para buscar a imagem. Porém, quando acordou a imagem estava no mesmo local e decidiu rezar. Após ouvir a sua história, disse a ela que isso era um sinal de Nossa Senhora para que ela rezasse com mais fé. Então ela continuou a rezar. A partir desses acontecimentos e das constantes orações, o matrimônio desse casal foi restabelecido.
Irmã Angelina Grosselli
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Reforma do Asilo São Vicente de Paulo Em 1943, o prédio que abriga o Asilo passou por uma grande reforma. Para tanto, foi lançada uma grande campanha para mobilização dos munícipes, solicitando qualquer contribuição: dinheiro, móveis, materiais de construção, peças de vestuário ou mantimentos.
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O Pensionato Betânia Abrigando cinquenta pessoas, de ambos os sexos, entre idosos, inválidos e deficientes, em 1944 o Asilo São Vicente de Paulo anunciava o início do funcionamento do “Pensionato Betânia”, destinado a moças e senhoras em férias ou em uso das águas sulfurosas. Dirigido pelas Irmãs de Jesus Crucificado, o pensionato funcionava de maneira independente do Asilo, na parte térrea do edifício. Eram oito quartos, destinados a duas pessoas cada um. Tudo isto com o objetivo de conseguir fundos para manutenção da casa. No Pensionato Betânia muitas vidas foram gravadas e resgatadas pela palavra de Deus.
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Betânia Apesar de ter alguns sócios contribuintes, a crise financeira era preocupante. Desta forma, foi organizada na parte térrea do Asilo uma seção de hospedaria, que recebeu o nome de “Betânia”. Os quartos eram alugados a veranistas por preços simbólicos e a renda destinada a cobrir o déficit financeiro. (Heloísa, 19581).
1 Heloísa, Elza. Assistência Social em Poços de Caldas. Notícias do “Singra”, n. 333, 1958.
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Retiro para senhoras Mantendo sempre estreitos laços com a comunidade, era comum a realização de retiros para senhoras no Asilo São Vicente de Paulo. Em 1948, foi orientador o Cônego José Maria Mathias, vigário de Areado. Após nova oportunidade em 1954, a iniciativa repetiu-se em novembro de 1959, tendo como orientador o Revmo. Padre Lauro Sigristi, professor do Seminário Arquidiocesano de Campinas. Em novembro de 1964, foi realizado um retiro espiritual para moças e senhoras, nos regimes internato e semi-internato, com a orientação do Monsenhor Trajano Barroco.
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Campanha de Emergência Pró-Asilo e Livro de Ouro O ano de 1957 foi sem dúvida bastante marcante na história do Asilo São Vicente de Paulo. A Casa enfrentava dificuldades financeiras. Abrigando sessenta idosos, era preciso vesti-los, alimentá-los e providenciar os medicamentos necessários. Diante desta situação, em 07 de junho, o Diário de Poços de Caldas apresentou apelo aos munícipes. O mesmo jornal, na edição de 11 de junho daquele ano, trouxe o artigo “O tributo dos moços”, redigido pelo Sr. Américo Ferreira, alertando novamente a população para as necessidades da instituição. Os apelos seguiram no n. 3.741 do Diário de Poços de Caldas, noticiando o início da “Campanha de Emergência Pró-Asilo”. Nesta campanha, as Damas de Caridade realizavam a coleta nas missas da Basílica e percorriam as ruas da cidade com o Livro de Ouro da Campanha. O Livro de Ouro tinha essa denominação não porque era de ouro, mas porque simbolizava o dinheiro que as Damas de Caridade recebiam durante as campanhas. Em julho do mesmo ano, foram anunciados, através do Jornal “Diário de Poços de Caldas”, mais eventos em prol do Asilo.
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Campanha da Lenha e o Livro de Ouro A edição n. 3.764 do Diário de Poços de Caldas, trouxe nformações sobre a Campanha da Lenha, Livro de Ouro e a Campanha da Sra. Ana Maria Genofre Ferreira.
Diário de Poços de Caldas, ano XIII, n. 3.772, 31 de julho de 1957
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A messe é grande, mas os operários são poucos. Lucas 10, 2
Eventos em prol do Asilo Assim como hoje, as obras de caridade enfrentam muitas dificuldades, sobretudo financeiras. É preciso arcar com despesas frequentemente superiores às receitas e desta forma, eventos eram e continuam sendo realizados para a continuidade dos trabalhos. Foram inúmeras parcerias, que indistintamente contribuíram valorosamente para a manutenção do asilo, algumas delas apresentadas a seguir:
“Bem no meu coração” No dia 09 de agosto, o saudoso Cine São Luiz realizou três sessões cinematográficas com o filme “Bem no Meu Coração”, cuja renda foi totalmente revertida em benefício do Asilo São Vicente de Paulo. Em agradecimento, foi impresso o singelo e carinhoso cartão:
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Muitos outros eventos seguiram-se pautados pela qualidade e contando com empenho e esforço das Damas de Caridade, Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado e inúmeros colaboradores dos mais diversos segmentos. Todos foram igualmente importantes para a manutenção das atividades do Asilo São Vicente de Paulo, todavia, a título ilustrativo seguem alguns anúncios que certamente trarão boas lembranças a muitos corações fraternos:
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Panorama da Assistência Social em Poços de Caldas em 1958 A reportagem de Elza Heloísa, de 1958, relatou mais um pouco da história do Asilo São Vicente de Paulo. À época, a instituição acolhia doentes e idosos, de ambos os sexos, tendo como Diretora a Irmã Lina Maria de Santa Cristina.
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Inauguração de novas dependências do Asilo São Vicente de Paulo Em 30 de agosto de 1975, realizou-se no Asilo São Vicente de Paulo a inauguração de seis novos quartos. A fita simbólica inaugurativa foi desatada pelo então Prefeito Municipal, Dr. Ronaldo Junqueira e pelo Padre Marino Power.
Inauguração das novas dependências do Asilo em 1975, com a presença do então Prefeito Dr. Ronaldo Junqueira.
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Semana do Idoso No dia 23 de setembro de 1980, figurou nas páginas do Diário de Poços de Caldas, o início das comemorações da Semana do Idoso no Asilo São Vicente de Paulo. Naquele domingo, cada acolhido recebeu a visita de crianças, jovens e adultos e foi possível contar ainda com a presença do Monsenhor Trajano Barroco. O acordeonista José Pires proporcionou um alegre baile e a indústria e comércio de bebidas Erler e Dacar ofereceram refrigerantes.
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Lucas 10, 2
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Colocar citação
Festa da pobreza – Festa de São Vicente de Paulo Anualmente, o Asilo São Vicente de Paulo realizava, no dia 19 de julho, a Festa da Pobreza, iniciando-se com Tríduo preparatório, missa e benção solene na Capela do Asilo. Em seguida, servia-se almoço aos asilados e aos pobres, ofertado pelo comércio e famílias poços-caldenses. Atualmente a festa de São Vicente de Paulo é celebrada em 27 de setembro, sendo que as festividades acontecem durante o mês, com passeios e celebrações, visitas de corais, grupos de danças e confraternização de escolas. É um mês pleno de atividades. As guloseimas são preparadas com a orientação da nutricionista da casa.
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A história continua Hora da Graça A “Hora da Graça” é uma devoção dos primórdios da Congregação das Missionárias do Jesus Crucificado, que reuniam as pessoas com a oração do terço e ao mesmo tempo, apresentando os pedidos e agradecimentos, que eram queimados aos pés da imagem de Nossa Senhora das Dores. Com o crescimento de frequentadores da Hora da Graça, a capela do Asilo São Vicente de Paulo tornou-se pequena para acolher tanto fiéis. Certa vez, Monsenhor Trajano Barroco, pároco da Basílica Nossa Senhora da Saúde, observando a incompatibilidade do espaço com o número de participantes da hora das graças, ofereceu à Irmã Líbera Carminatti o espaço da igreja para promover esses encontros. A Irmã Líbera aceitou a oferta e a partir de 1972 começou a presidir a “Hora da Graça” na Basílica Nossa Senhora da Saúde, sempre às 15:00h da última quarta-feira de cada mês, permanecendo nessa função até alguns meses anteriores ao seu falecimento, em 07/01/2007. Após o falecimento da Irmã Líbera, Irmã Iracy tem dado continuidade a este momento de oração.
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Grupo de Estudo Bíblico No asilo, existem atualmente dois grupos de estudos bíblicos. Um grupo existe há quase quinze anos, com encontros durante as segundas-feiras e outro há aproximadamente cinco anos, com encontros às terças-feiras. Ambos os grupos reúnem-se das 19h30min. às 21h00min. Os integrantes destes grupos são pessoas católicas, leigas, que buscam aprofundar seus conhecimentos sobre Igreja, a palavra de Deus e temas que permeiam o cotidiano. A cada encontro é rezado, meditado e compartilhado um salmo ou uma leitura bíblica. Como subsídios, são adotados os livros elaborados pela Diocese de Guaxupé. Os encontros são conduzidos pela Irmã Iracy Bezerra, que possibilita a discussão, o esclarecimento de dúvidas e partilha de histórias pessoais. Nas palavras da Irmã Iracy, os estudos não têm previsão para término, o importante é a reflexão, a partilha, o aprendizado, a vivência em comunidade.
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A Capela
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As Damas de Caridade e o Asilo São Vicente de Paulo Tudo na vida é dinâmico e não poderia ser diferente nesta instituição. Se observado o ontem e o hoje, será possível constatar as mais diversas modificações na vida do Asilo São Vicente de Paulo e das Damas de Caridade, bem como o envolvimento das Missionárias do Jesus Crucificado. Os desafios continuam. O envolvimento da população também. O prédio é o mesmo. Então quais as mudanças? É preciso analisar por partes: o número de pessoas acolhidas, a princípio era maior, o Asilo chegou a abrigar 100 pessoas. Hoje, há a capacidade para acolher 46 idosas. Embora o número de acolhidos tenha sido reduzido a um pouco menos que a metade, a qualidade do atendimento avançou bastante, graças à implementação de diversas melhorias no espaço físico e à constituição de uma equipe de profissionais. O Asilo São Vicente de Paulo conta hoje com uma sala de fisioterapia bem equipada; lavanderia industrial; sala de confecção de fraldas geriátricas, com máquinas, mesas e cadeiras; salão de eventos; posto de enfermagem; sala para atendimento médico; sala de esterilização; escritório para atendimento da assistente social e outro para a parte administrativa; cozinha. No quadro de colaboradores, há enfermeira com curso superior; técnicas de enfermagem; psicóloga; nutricionista; fisioterapeuta; assistente social; cuidadoras; médico; serviços gerais; lavadeira; recepcionista; gerente administrativo; três cozinheiras. Em suma, a equipe conta com 29 funcionários, cada qual a seu turno, mantendo a Casa em funcionamento diariamente.
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Sala de confecção de fraldas geriátricas
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Sal達o de Eventos: Festa de Natal
Grupo Somlidariedade
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Despensa, com os donativos recebidos atrav茅s da campanha de Natal 2013, promovida pelo Vereador Ant么nio Carlos Pereira
Cozinha Industrial
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Sala de Fisioterapia
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Além de tudo isto, há pessoas voluntárias, que atuam em função da entidade. No momento, são 41 senhoras, membros da Associação. A Diretoria e os Membros do Conselho Fiscal são eleitas por 2 anos, permitida a reeleição para um segundo mandato. As Damas de Caridade continuam sendo o suporte para as Irmãs Missionárias do Jesus Crucificado, que atualmente são apenas quatro: Angelina Grocelli, Antônia Iracy Bezerra, Dulce Ribeiro Sena e Herminia Guilherme.
Damas de Caridade
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Ontem eram acolhidas pessoas de ambos os sexos, desde que necessitadas. Hoje, são senhoras idosas a partir dos 60 anos em situação de risco e vulnerabilidade social. Assim que o Asilo São Vicente de Paulo recebe o pedido para acolhida de uma idosa, a assistente social visita a família, com a presença de outra técnica para constatar a real necessidade de atendimento asilar. Uma vez acolhida, é firmado um termo de compromisso, assinado pelo responsável e pela Diretoria. Como todas as asiladas recebem o benefício previdenciário, estabeleceu-se que 70% do valor deste benefício deve ser revertido para contribuição da manutenção da casa, e os 30% restantes destinam-se às despesas extraordinárias da idosa, ficando sob a responsabilidade da família. Entretanto, quando a idosa não tem mais familiares, a instituição assume este papel. Infelizmente, nem sempre é possível atender a todos os pedidos de acolhida de idosas, pois as vagas são limitadas. A presença das Irmãs é de acolhimento, para que todas se sintam felizes no ambiente no qual passam a viver. As irmãs acompanham a parte espiritual, sempre respeitando o credo de cada idosa.
A Betânia deixou de ser pensionato e passou a ser uma oficina de trabalhos artesanais, que uma vez vendidos, têm sua renda revertida para a manutenção da obra. Em geral, no final do ano é realizado um Bazar para exposição dos trabalhos artesanais. Na verdade é de admirar, senhoras de terceira idade realizando verdadeiras obras de arte, que é preciso ver para acreditar. Aqui entra o papel do voluntariado, que se associa ao das Damas de Caridade com o objetivo de conseguir fundos para o dia-a-dia. Além das voluntárias das artes, há as que se reúnem na confecção de fraldas geriátricas, bem como aquelas que vêm para cuidar da aparência de cada acolhida: são cabeleireiras, manicures, pedicures, etc. São inúmeras as contribuições que com a graça de Deus sempre estiveram presentes no decorrer da caminhada e assim o Asilo tem sido sustentado pela Divina Providência, que nunca falha e usa de pessoas generosas que chegam na hora certa. É preciso mencionar ainda que haja um convênio celebrado com o a Prefeitura Municipal de Poços de Caldas importante para o custeio parcial das despesas da folha de pagamento de funcionários. Para completá-la, todos os meses são realizados eventos beneficentes, como bingo de prendas, feirões de roupas, pechinchas, etc. Por fim, há doações vindas de pessoas físicas ou empresas, que sustentam o dia-a-dia da Casa. É bom saber que em se tratando de voluntariado e Damas de Caridade, existe uma diferença: as Damas têm um compromisso, que é manter as acolhidas e responder por todas as situações que surgirem na caminhada. Os voluntários e voluntárias já não têm esta responsabilidade. Tudo o que tem sido feito em questão de adequação tem o objetivo de atender às disposições do Estatuto do Idoso, mas sempre lembrando que a caminhada da Instituição é centenária e o Estatuto do Idoso foi implementado apenas em 1º de outubro de 2003. Neste ano de 2014, houve a Assembléia Eletiva, que reelegeu para dois anos as seguintes senhoras: Marta Elena Pomárico Barbosa (Diretora-Presidente), Malvina de Jesus G. Oliveira (Vice-Presidente), Arlete Assis Tomazoli Figueiredo (Secretária), Karla Maria Acúrcio Barbosa (Vice-Secretária), Juçara D’ Angelo de Azevedo (Tesoureira), Antônia Iracy Bezerra (Vice-Tesoureira). Para o Conselho Fiscal, foram eleitas como titulares as senhoras: Maria do Carmo Granato, Luciana Untura Santiago Barbosa, Maria Conceição V.Tonelli; e suplentes: Neusa Maria Frison Amo, Odracy S. Fontoura e Elza Aparecida de Melo Tassi.
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Damas de caridade e atividades manuais em prol do Asilo.
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Bingo
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Doações de Natal 2013 da Faculdade UNINTER-FATEC
Bazar de Natal 2013
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Atuais Missionárias da Congregação de Jesus Crucificado no Asilo São Vicente de Paulo Ao longo dos anos, várias missionárias religiosas dedicaram a sua vida em prol dos idosos e necessitados de Poços de Caldas, dando um verdadeiro testemunho de vida, pautado no amor de Cristo. Assim, a intenção inicial era contar um pouco da história de cada uma, mas infelizmente muitas já foram chamadas para a casa do Pai, como por exemplo, a saudosa Irmã Josefa, conhecida pelo seu jeito sincero de falar, a nossa querida Irmã Benedita, que adorava cozinhar e a doce Irmã Maria. Entretanto, não poderíamos deixar de mencionar a inesquecível Irmã Líbera, que durante muitos anos foi a pedra angular do asilo, desenvolvendo os mais diferenciados trabalhos em prol dos necessitados. Nos últimos anos, o grupo de missionárias reduziu-se a quatro irmãs: Angelina Grocelli, Antônia Iracy Bezerra, Herminia Guilherme e Dulce Ribeiro Sena. Apesar da idade avançada, todas procuram utilizar a sabedoria adquirida ao longo dos anos para orientar aqueles que as procuram e ajudar nas tarefas da casa conforme as necessidades. Nesse capítulo, caros leitor e leitora, vocês poderão conhecer a história dessas impressionantes missionárias.
Irmã Líbera Carminatti Irmã Líbera Carminatti nasceu em Monte Azul Paulista- SP, em 10 de dezembro de 1918. Filha de José Carminatti e Artimisia Papani era a quarta filha do casal. Era proveniente de uma família de camponeses, mas de uma profunda vivência cristã. Após o seu nascimento, seus pais mudaram-se para Araras. Sua mãe, Artimisia Papani, faleceu quando Irmã Líbera tinha apenas 3 anos de idade, que passou a receber os cuidados de sua madrasta. Durante a sua infância, estudou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, com as irmãs Salesianas. Tinha uma personalidade forte e gostava de praticar esportes. Dada a piedade de seus pais e o comportamento da menina Líbera, almejavam que ela fosse uma religiosa Salesiana (Congregação das Filhas de Nossa Senhora Auxiliadora). Naquela ocasião, foi aberta uma Comunidade das Missionárias de Jesus Crucificado em Araras. Desde que conheceu o trabalho das missionárias, Líbera começou a acompanhar as irmãs no atendimento à população carente, se identificando com o carisma dessa congregação e em 25 de março de 1934, aos 16 anos, nela ingressou. Nos seus primeiros anos de vida consagrada, Irmã Líbera partilhou sua vida na Bahia, Itapira, Ribeirão Preto e em Poços de Caldas, onde permaneceu grande parte de sua vida. Durante a sua vida religiosa, viveu procurando ser um eco da palavra da Mãe de Jesus, que foi a sua grande e forte referência. Participou 35 anos da Hora da Graça. Dentre as suas virtudes, amigos recordam da sua simplicidade, alegria, bondade, amor, seriedade, humildade, delicadeza e doçura. Sua vida era um acolhimento permanente a todas as pessoas: crianças, idosos, portadores de necessidades especiais e de todos que dela se aproximavam. “Ás vezes se chegava junto dela com o coração sangrando e após uma conversa com ela, a gente saía consolado e com coragem.” (Letícia Álvares N. Silva – 08/01/2008) Após um dia de atividades normais, sexta-feira, dia 07 de janeiro de 2008, um AVC (acidente vascular cerebral) inesperado interrompeu a vida de nossa irmã. Aos 89 anos, em 09 de janeiro de 2008, celebrou a sua Páscoa indo ao encontro do Cristo, do qual se apaixonou durante sua vida.
Para uma grande alma Irmã Líbera! Por onde passou deixou perfume. Perfume de rosas brancas da nossa Mãe Maria! Pois seu coração exalava bondade, Seus braços eram acolhedores e meigos. De seus lábios saíam a ternura e o sorriso pleno Do pequeno corpo magro e frágil Vinha força para lutar pelo dia-a-dia dos desvalidos, dos esquecidos. Mulher de olhos miúdos que irradiava luz, Mulher de fé inquebrantável, Mulher de amor incondicional. Viveu na simplicidade e na humildade, Soube ser amiga, mãe dos carentes e irmã. Viveu em Cristo. Deixa saudades, deixa exemplo, Pois não passou em vão pela vida. A dor da saudade será sufocada, Pois após a grande travessia, vai rezar por nós junto à Virgem Maria Encontra-se serena e em paz Ao lado de Maria. Letícia Álvares N. Silva 08/01/2008
Irmã Angelina Irmã Angelina Grosselli nasceu em Capivari-SP, 26 de abril de 1931, filha de Luiz Grosselli e Conceição Carrilo. Em sua família, já havia uma prima que era religiosa e sempre que era possível, vinha visitá-los. Aos 14 anos, Angelina sentiu-se tocada por Deus para tornar-se religiosa, no entanto sua mãe estava muito doente e precisava de sua ajuda, pois era a filha mais velha de três irmãos. Muito debilitada e já no seu leito de morte, sua mãe disse que Deus já estava aguardando-a e que Angelina não iria perder sua vocação. Após o falecimento de sua mãe, certo dia seu pai entrou na farmácia e contou ao farmacêutico que Angelina tinha um imenso desejo em ser freira, mas que seus recursos financeiros eram insuficientes para providenciar o enxoval da filha. O farmacêutico, comovido com a história, disse que tinha uma irmã que precisava de companhia e morava em São Paulo. Caso Angelina se interessasse, poderia ajudar a senhora e juntar o dinheiro necessário para providenciar a compra do enxoval de freira. Ao saber da história, Angelina aceitou a proposta do farmacêutico e com muita dificuldade seu pai fez a compra de uma malinha para que ela pudesse viajar a São Paulo. Ao chegar na capital, uma senhora que ficou sabendo de sua história, ofereceu-lhe no prazo de um ano o enxoval que precisava. Desta forma, ela pôde voltar a viver com o pai e irmãos antes de ingressar na vida religiosa. Na data marcada, sua prima foi buscá-la em Capivari para levá-la ao convento das Missionárias de Jesus Crucificado em Campinas, onde iniciou seus estudos e preparação como postulante, aprendendo a bordar, fazer limpeza e prendas domésticas. Em 1951, como noviça veio para o Asilo São Vicente de Paulo, onde permaneceu por 6 meses, desempenhando atividades de limpeza e auxiliando o padre em suas atividades, preparando-lhe as refeições e contribuindo nos afazeres domésticos da casa paroquial. Em seguida mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ficou por 6 meses no Pensionato Pio XII com a Madre Conceição Menezes; retornou a Campinas, onde professou seus primeiros votos e foi transferida para Santa Maria-RS. Após alguns meses, mudou-se para Pelotas e em seguida para a Casa do Retiro em Passo Fundo, cidade próxima à Porto Alegre. Mais uma vez, retornou à Pelotas, permanecendo em uma casa especial para meninas internas, que totalizavam 60 alunas, sendo algumas estudantes para se tornarem freiras e outras não. Para preparar-se e fazer os votos perpétuos, Angelina voltou a Campinas e depois retornou a Pelotas. Diante da doença de seu pai, voltou a Campinas para ficar mais próxima e ajudá-lo no que fosse necessário. Seu pai faleceu em 24 de março de 1970. Em 1961, retornou a Poços de Caldas e ao Asilo São Vicente de Paulo, onde reside até hoje. O seu trabalho nessa época era ajudar nos serviços gerais da casa e cuidar do antigo pomar, onde hoje se encontra o salão de festas. Com o adoecimento de uma irmã no asilo, começou a cuidar de idosos até o advento do Estatuto do Idoso. Após o falecimento da Irmã Benedita , ficou responsável pela despensa e auxílio na cozinha. Atualmente, com a idade um pouco avançada e a saúde debilitada, auxilia nas atividades que são possíveis. Já está no asilo há 53 anos.
Irmã Dulce Irmã Dulce Ribeiro Sena nasceu em Pratinha-MG, em 23 de março de 1938. Terceira filha do casal de agricultores Custódio Ribeiro Senna e Maria Ribeiro Lemos. Desde criança, Dulce já demonstrava um grande desejo em ser freira, mas o que a impedia era o fato de não gostar da ideia de ter que usar o hábito. Assim, sua mãe dizia que o seu sonho era algo impossível. Até os 12 anos, viveu no campo, na companhia de seus familiares de forma muito alegre e aventureira. Ao completar 13 anos, ela e os irmãos mais velhos mudaram-se para Araxá para que pudessem dar continuidade aos estudos. Ao completar 22 anos, concluiu o Magistério e mudou-se para Campos Altos, assumindo a função pública de Professora Primária. Após algum tempo, a escola em que trabalhava recebeu a visita de um grupo de padres Missionários do Sagrado Coração, que estavam à procura de voluntários para missões catequéticas e orientações religiosas. A diretora da escola, conhecendo o amor de Dulce pelas coisas de Deus, a convidou para participar da missão voluntária. Dulce prontamente aceitou e durante 15 dias esteve em várias cidades de Minas Gerais, visitando as famílias. Ao término da missão, o padre responsável pelo grupo verificou que Dulce tinha desempenhado a missão que lhe havia sido confiada como uma verdadeira Missionária de Jesus Crucificado e perguntou se ela não gostaria de ser freira. Dulce contou ao padre que esse era o seu grande sonho, mas que as roupas de freira não lhe agradavam. O padre então explicou que o hábito era usado apenas em casa e que seria interessante Dulce conhecer a Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado para que pudesse tirar suas dúvidas sobre os costumes das freiras. Dulce solicitou ao padre o endereço da Congregação para que ela pudesse visitar, mas como o padre não dispunha, ela pesquisou e encontrou o endereço da Congregação em Campinas, para qual escreveu uma carta contando sobre o seu sonho. Após seis meses, Dulce recebeu de Irmã Maria José Batista, integrante da Pastoral Vocacional a resposta de sua correspondência, orientando-a procurar as comunidades mais próximas à Araxá, localizadas em Uberlândia, Uberaba ou Belo Horizonte. Assim, seguindo as orientações recebidas, durante um ano Dulce teve contato com as Missionárias de Jesus Crucificado e aos 29 anos, ingressou na vida religiosa. Após alguns anos, em um encontro religioso em Petrópolis-RJ, ao contar sua trajetória para outras freiras, encontrou a Irmã Maria José Batista, que havia respondido sua carta. Dulce e a Irmã Maria José ficaram muito emocionadas, pois mais uma vez a providência divina havia providenciando o encontro de ambas. Durante todos esses anos de vida religiosa, Dulce desempenhou papéis diferentes em várias cidades: catequista, preparadora de grupos para orientação de estudos bíblicos, grupo de jovens e casais. Atualmente, reside nessa acolhedora casa, o Asilo São Vicente de Paulo, auxiliando com muita alegria nas funções que se fazem necessárias.
Irmã Terezinha Irmã Terezinha Maria de Oliveira nasceu em Crucilândia-MG, 17 de julho de 1928, filha de José Ferreira Leite e Sebastiana Emília de Oliveira. Seu pai era ajudante de pedreiro e sua mãe dona de casa. Sua família era composta de 6 irmãos, sendo 2 homens e 4 mulheres. De sua infância, recorda-se que sua mãe dizia que ela era um doce, por ser uma filha que não dava trabalho e ser muito boazinha. Estudou até a quarta série na cidade onde nasceu e os próximos anos em Poços de Caldas no Colégio Pio XII, onde Irmã Iracy foi professora de Ensino Religioso. Aos 15 anos, começou a trabalhar na casa de um padre em Belo Horizonte e entre os 18 aos 20 anos, trabalhou na rouparia da Santa Casa, onde conviveu com as Irmãs Servas do Espírito Santo, identificando sua vocação. No entanto, como essa Congregação de irmãs alemãs não recebia jovens negras, Terezinha encontrou as Missionárias de Jesus Crucificado. A mãe aceitou a vocação, mas o pai no início ficou um pouco contrariado. Como Teresinha não queria seguir sua vida religiosa sem as bênçãos do pai, tentou convencê-lo dizendo que se ela casasse, ela teria que se mudar para um local bem distante, onde ele não poderia vê-la. Enquanto seu pai pensava sobre o assunto, Teresinha já preparava seu enxoval para o convento, certa de que seu pai mudaria de opinião. Não tardou e o seu pai concordou com a decisão e Terezinha terminou o enxoval partindo para Campinas em 1949, onde viajou pela primeira vez de trem. Após cerca de 4 anos, em 1953, Terezinha fez o primeiro voto e foi para o Colégio em Goiás, dirigido pelas Missionárias, onde permaneceu por 4 anos, trabalhando na assistência e na cozinha. Por questões de transferência da Congregação, em fevereiro de 1957, veio para Poços de Caldas, exercendo a função de enfermeira, embora não tivesse o curso, desempenhando com sabedoria a missão a ela confiada. Atendia com muito carinho e amor: irmãs e acolhidas, deste asilo, sempre com sorriso nos lábios, muita paciência e mansidão. Em 1998, deixando este trabalho, colaborou na catequese, participou da pastoral dos enfermos e da escuta. Tornou-se ministra extraordinária da comunhão eucarística, procurando levar conforto e paz para os doentes. Com o início dos estudos de formação cristão, tornou-se assídua aos encontros, testemunhando a humildade, simplicidade e atenção, cativando a todos que cruzaram o seu caminho. Em 17 de julho de 2015, data de seu aniversário natalício, preparando com muita alegria a mesa para o lanche com as funcionárias, sofreu uma queda da própria altura. Conservando o bom humor, permaneceu sem queixa alguma, embora os presentes soubessem que sentia dor. Participou da celebração da Santa Missa com todo o fervor e ao término, fez um lanche com os presentes. Em seguida, foi para o hospital da Unimed para avaliação de um médico que constatou uma trinca no fêmur. Com o parecer do mesmo, voltou para casa com a recomendação de repouso absoluto por quinze dias. Nos dias 18 e 19 passou bem, fazendo crochê e olhando os presentes recebidos em seu aniversário. Na madrugada de segunda-feira, dia 20, sentiu-se mal e novamente foi levada ao hospital, sendo diagnosticada a suspeita de um trombo pulmonar, que a conduziu ao CTI. Assim, na madrugada de 21 de julho de 2015, Irmã Terezinha respondeu ao chamado do Senhor da Vida e tomou posse da vida eterna.
Irmã Iracy Antônia Iracy Bezerra nasceu em Crato-CE, em 13 de junho de 1933. Filha de Pedro Bezerra Luna e Marfiza Simeão Sampaio. Sua família era composta de 12 irmãos, sendo a terceira filha do casal. Seu pai era agricultor e sua mãe dona de casa. Durante a infância, ajudou sua mãe a criar os irmãos e já apresentava desejo de ser uma serva de Deus, mas não sabia como. Em certa ocasião, seu pai lhe deu de presente um livro de Santa Teresinha do Menino Jesus. Ao iniciar leitura, se encantou com a vocação e começou a sonhar em ser carmelita. Porém, durante a adolescência entre período de 15 a 18 anos, ficou um pouco indecisa sobre sua vocação. Aos 18 anos, ao participar de um Congresso Eucarístico em Barbalha-CE, onde se encontrou com as Missionárias de Jesus Crucificado, tomou sua decisão: ser freira. Logo, em 01 de junho de 1952, em Juazeiro do Norte-CE, ingressou na congregação. Em setembro desse mesmo ano, mudou-se para Campinas onde se preparou para uma consagração definitiva durante 6 anos. Em 01 de fevereiro de 1958 veio para Poços de Caldas, para o Asilo São Vicente de Paulo onde permanece até hoje. Durante muitos anos, atuou como coordenadora da catequese na Basílica Nossa Senhora da Saúde e foi responsável pelo ensino religioso no Colégio Pio XII. Atualmente continua auxiliando na parte administrativa do asilo, é reponsável por coordenar a Hora da Graça na Basílica Nossa Senhora da Saúde e grupos de estudo de formação cristã.
Irmã Hermínia Irmã Hermínia Guilherme nasceu em Cambé- PR, em 07 de agosto de 1938, filha de João Guilherme e Maximina Magnani. Sua família era composta de 8 irmãos, sendo a terceira filha do casal de agricultores. Durante a infância viveu em sua cidade natal, na companhia de seus familiares, avós e tios em um sítio. Aos 12 anos, quando o avô vendeu o sítio, foi morar em Maringá-PR, onde concluiu seus estudos. Desde criança gostava muito das coisas da igreja e sempre esteve envolvida em atividades relacionadas ao ambiente familiar, tanto que aos 6 anos de idade aprendeu a fazer tricô com uma tia. Seus pais eram muito religiosos. A mãe nunca os deixava dormir sem rezar e sempre procurava conduzi-los no caminho de Deus, através do catecismo e da participação em missas. A vocação religiosa de Irmã Hermínia foi despertada em seu coração pela semente da fala de sua mãe que não conseguiu tornar-se uma religiosa. Assim, quando decidiu ser freira, seus familiares não se opuseram, mas ficaram receosos se ela realmente seria capaz de seguir a missão, visto que teria que se distanciar da família, a qual era tão apegada. Decidida, ingressou no convento em Maringá e quando tornou-se freira e Missionária de Jesus Crucificado, iniciou seu trabalhos em Londrina, dando aulas de catequese na paróquia e nos bairros, além de orientar catequistas. Após 12 anos em Londrina, permaneceu um ano em Maringá e um ano na Bahia, preparando–se para ser missionária em Angola, África. Em setembro de 1977, deixou o Brasil, e iniciou suas atividades em Malanje, onde realizou trabalhos distintos, tais como visita às aldeias de cristãos e acompanhamento de catequistas. Com a guerra em 1987 e a partida de muitos missionários estrangeiros daquele país, passou a auxiliar na distribuição de alimentos levados pelos aviões da ONU, além de outras atividades que se fizeram necessárias. Em janeiro de 2015 retornou definitivamente ao Brasil, devido aos problemas de saúde e em 15 julho deste ano, com a saúde mais restabelecida, a congregação a encaminhou ao Asilo São Vicente de Paulo, onde pudesse dar continuidade ao seu tratamento médico e ficar mais próxima de sua família. 87
Depoimentos Antes de completar dez anos de idade, conheci o Asilo São Vicente de Paulo, pois ao lado, na Escolinha Santa Terezinha, fiz o meu curso primário, de onde eu admirava a Cruz do Asilo que ficava exposta, como podemos ver até hoje. Eu e minha colega pedimos para beijá-la, e foi assim que conheci as saudosas e queridas Irmã Líbera e Irmã Joaninha. Irmã Líbera, sabendo que morávamos distante, não mediu esforços para nos preparar para recebermos Jesus, porém a capela do asilo era pequena e as freiras estavam sempre em orações, então ela passou a dar catecismo para nós no barracão do São Benedito, assim tivemos a oportunidade de estarmos sempre no asilo. Minha fé aumentou e, quando maior, comecei a dar catecismo com a Irmã Joaninha na garagem de minha casa. Ela não media esforços, saia com chuva ou sol, e lá estava ela com todos os catequistas ensinando o amor a Jesus. Levava as crianças até o asilo, onde havia um órgão no qual a Helena Chaves tocava lindos hinos. Brincávamos com muitos asilados da época, como a Dadá, que adorava bater de leve na sua cabeça para piscar sem parar e dava gostosa gargalhada. Também o Nico, como tenho saudades, e muitos outros que não me lembro agora. Havia também onde nos reuníamos um palco de teatro pequeno, onde eram ensaiados lindos esquetes pela Irmã Benedita. A última peça, que não terminamos, foi “A Canção de Bernadete”. O papel de Nossa Senhora foi feito pela mãe da Eliana Crivelari e eu representava a madre. O Asilo São Vicente de Paulo é para mim um ponto de referência marcante em minha vida. Depois de meus pais, ele completou-me através das dedicadas religiosas, o amor, a fé, a união e a esperança que não terminam nunca, pois até nos dias de hoje estão lá, com toda dificuldade, a lutar. Irmã Iraci e outras encontram forças e muita dedicação pela missão que Deus lhes deu. Obrigada queridas Irmãs, de ontem e de hoje.
Maria Helena Oliveira
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Quando muito jovem, acompanhando um grupo de amigos, fui até a igreja Matriz para iniciar o curso da Crisma. Fiquei no final da igreja, apenas observando, quando escutei alguém se aproximando e de repente uma voz perguntou o meu nome. Convidou-me a ir até a frente para sentar com os demais jovens. Era a Irmã Iracy! Ali começou uma nova fase da minha vida. Passados alguns meses, tive o privilégio de fazer a preparação da Primeira Eucaristia com a Irmã Iracy e a Irmã Líbera, exemplos de força e santidade. Assim, pude conhecer o asilo e as Irmãs, que nos últimos 14 anos de minha vida têm sido para mim e minha família sinal e exteriorização de santidade, acolhimento e amizade. Pude, através do grupo de formação no asilo, conhecer e conviver com a Irmã Josefa, tão brava e tão doce ao mesmo tempo, um raio de alegria. Conviver com a simplicidade da irmã Terezinha. Sem falar nas demais irmãs que nos seus trabalhos cotidianos sempre puderam nos externar amor e carinho. Estar no asilo das irmãs é como estar num pedacinho do céu. É poder acreditar no Reino de união e fraternidade pregada por Jesus. É poder viver o amor, é estar próximo de Deus.
Leandro Moreno
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Durante os anos 2005, 2006 e 2007 que trabalhei na comunidade de Poços de Caldas, tive alegria de conhecer as Irmãs. Uma presença muito próxima foi de Irmã Josefa, de quem tenho muitas lembranças bonitas de atenção, carinho e amor a Deus. Sou grato à Deus pela presença das irmãs na minha vida e pelo maravilhoso trabalho que elas desempenharam durante estes 100 anos de presença religiosa junto a esta comunidade. Abraços à Irmã Iracy e em todas as damas que fazem parte deste trabalho tão bonito em prol dos nossos irmãos menores.
Frei Adilson Gonçalves Ferreira
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Tudo o que acontece nesta casa, o asilo São Vicente de Paulo, é realmente mandado por Deus. Quero dar testemunho de como um sonho que parecia estar tão longe, pôde se tornar realidade. Como muitos sabem a Festa Junina deste asilo, já se tornou tradição e naquele ano, junho de 1997, não era diferente. Tudo estava pronto: barracas montadas, lanches, sanduíches, caldos, pães de queijo e doces. Foi aí a surpresa: por volta de duas horas da tarde, o tempo virou e a chuva caiu. O vento forte e frio destruiu os enfeites, as bandeirinhas e também todo o desejo de uma linda festa. Mas, nossa intenção de trabalhar para manter esta casa, não foi por água abaixo. Contando com a boa vontade das Damas de Caridade, mantenedoras deste asilo, o carinho das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado e do auxílio incansável do povo de Poços de Caldas, a festa, mesmo embaixo de chuva foi realizada, aqui mesmo, dentro da casa, e ninguém se importou com o aperto, com os encontrões e com o constante “com licença”, no sobe e desce das escadas. Realizamos o leilão, vendemos os sanduíches e tudo foi como uma linda “festa de família.” Assim, o sonho adormecido, tomou força e se tornou realidade. Depois desse episódio, nós precisávamos de um espaço, de um local apropriado para realizarmos nossos eventos. Com a ajuda de várias empresas, pessoas físicas e eventos beneficentes, surgiu o nosso Salão de Festas. É assim que a Associação das Damas de Caridade pôde realizar seus trabalhos e eventos e com as bênçãos de Deus Pai e comemorar esses tão importantes 100 anos de doação.
Marta Elena Pomárico Barbosa
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Conheci as Irmãs há muitos anos, quando meus filhos ainda eram pequenos. Desta amizade, a vida da minha família se transformou para melhor: meu marido converteu-se ao catolicismo, fomos preparados para a Primeira Comunhão e Crisma. Com isso, ficamos cada vez mais próximas, tornando-se comadres, madrinhas e afilhados. Frequentar esta casa de bênçãos é muito gratificante. Sinto-me muito honrada de ter as Irmãs como parte de minha família. Algumas das Irmãs já se foram. A Irmã Maria, por exemplo, eu a tinha como minha “nona”. Todas elas ocuparam um lugar muito especial no meu coração, deixando muitas saudades. Mas é bom permanecer ao lado daquelas que ainda vivem, espero que permaneçam conosco por muitos anos. “Simples e misericordiosos ...
Rosimeire B. Carlos
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São assim os encontros do nosso grupo de estudo bíblico no Asilo São Vicente de Paulo mantido pelas Damas de Caridade. Imensa gratidão a nossa querida mestra, Irmã Iracy, pelos ensinamentos, atenção e carinho dispensados, aos colegas pelas valorosas experiências compartilhadas, um verdadeiro encontro com Cristo! Que Deus continue abençoando essa grande obra de caridade e amor ao próximo, por muitos e muitos séculos!!! Amém.
Gilmara Botazini de Paiva
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Meu relacionamento com o Asilo São Vicente de Paulo, começou há mais ou menos 35 anos. Lembro-me que quando menina estudava música e às vezes, vinha tocar piano, para as acolhidas e Irmãs, juntamente com a minha professora. Depois, com o passar dos anos, comecei a frequentar as reuniões da Associação das Damas de Caridade, acompanhada de minha mãe e irmã, convidada por minha sogra, Marta Barbosa, que na época, estava na sua primeira gestão como Diretora-Presidente. Sempre tive imenso respeito por essa instituição e um profundo carinho e admiração pelas Irmãs Missionárias, que a conduzem até hoje! Encontrei e ainda hoje encontro um bem-querer tão grande, que sinto-me em casa. São pessoas queridas e que fazem parte da minha vida e da minha família! Foi uma surpresa que, em 14 de janeiro de 2006, fui eleita para assumir a diretoria da Associação, pelo período de dois anos. Posteriormente, fui reeleita para mais dois anos, exercendo o cargo de 20 de janeiro de 2006 a 19 de janeiro de 2010, onde aprendi muito. Sempre foi uma honra e uma responsabilidade muito grande, representar essa instituição, reconhecida por todos e por seu lado humanitário, como uma das mais sérias e honestas de Poços de Caldas. O trabalho ali desenvolvido, pelas Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, Damas de Caridade, funcionários e voluntários, é cercado de atenção e carinho! O acolhimento das senhoras, que ali residem, sempre foi fundamentado no respeito e dignidade, para que seja possível resgatar um pouco de conforto e amparo, àquelas que já sofreram ou ainda sofrem algum tipo de exclusão da sociedade. Todos os eventos que realizamos (bingos, chás e almoços beneficentes, festas juninas, bazares, feiras, etc.), bem como a parceria com empresas da cidade, tem como objetivo, exclusivamente, a arrecadação de fundos para melhorias no Asilo, visando o bem estar das escolhidas, no seu dia-a-dia. E outros tantos acontecimentos, como festas e encontros internos, viagens, passeios, a participação de grupos de dança e música, eram e são realizados, para maior e melhor integração das senhoras, com suas famílias, damas, funcionários e voluntários. Sempre contei com a ajuda de todos para que os eventos fossem bem sucedidos, porém, uma instituição de acolhimento ao idoso, não é somente feita de eventos (é claro !), e algumas vezes, me deparava com situações delicadas, dentro e fora da instituição; problemas administrativos, que exigiam maior atenção e cuidado. Algo que me incomodava muito e de maneira particular, era ter que demitir algum funcionário, que não estava desenvolvendo seu trabalho como deveria, por um motivo ou outro. Sempre que isso acontecia e me chateava, contava com o carinho das Irmãs (Iracy, Líbera, Josefa, Terezinha, entre outras). Com a palavra certa, acalmavam meu coração e me faziam continuar... Infelizmente e como é parte da vida, na época da minha administração, Ir. Líbera Carminatti veio a falecer, deixando em todas nós, uma sensação de enorme de vazio e desamparo. Porém, ficou a certeza de que ela era um “anjo”, com quem tivemos o privilégio de conviver! Ainda sinto muito forte, sua presença no Asilo, assim como de outras Irmãs queridas, que já estão junto de Deus, intercedendo por nós e por essa obra que agora completa merecidos 100 anos! Sou agradecida por ter feito e ainda continuar fazendo parte dessa instituição! Para mim, meu marido e meus filhos, essa convivência e a troca de amizade e carinho contínuos, é mais que um privilégio... é um presente de Deus!
Karla Maria Acúrcio Barbosa 94
Lembro-me, eu tinha uns 5 anos de idade, de ir com minha avó paterna ao Asilo. Ela ia visitar as Irmãs e fazer suas doações. Muito provavelmente o que fez essa lembrança ficar gravada na minha memória por décadas é que minha avó dizia que uma das Imãs que cuidavam dos velhinhos no Asilo São Vicente de Paulo tinha conhecido meu avô quando ele chegou emigrado de Portugal, pois era filho da dona da pensão onde ele foi morar no Rio de Janeiro. E eu concluía para mim: “A irmã conheceu o Vovô antes da Vovó!” Desta época também me ficaram marcadas as expressões das imagens (enormes para um menino de calças curtas) da Capela do Asilo: o rosto triste de Nossa Senhora da Piedade (também chamada das Dores) e a face serena e feliz de São Vicente de Paulo. Chamava-se ainda a atenção o fato de que as Irmãs, sendo freiras, não usavam um hábito quando saíam à rua para o seu trabalho apostólico; mas no Asilo e nas celebrações e procissões usavam um hábito moderno demais para uma freira naqueles tempos anteriores ao Concílio Vaticano II: de cor azul diferente, forte e viva, o véu branco na cabeça e uma larga faixa vermelha (isto lá é cor para freira usar!) na cintura. Mais tarde aprendi talvez com a Irmã Josefa, que o vermelho simbolizava o sangue derramado por Jesus Crucificado. No entanto, o que mais me impressionava era o cuidado que as Irmãs tinham com os velhinhos e velhinhas, alguns dependentes, outros doentes ou deficientes físicos ou mentais. A imagem desse cuidado delas me veio intensamente à consciência quando, recentemente, li que um Chefe de Estado disse à Madre Teresa de Calcutá: “Irmã, nem por um milhão de dólares eu faria o que a senhora faz!” ao que ela respondeu: “Eu também não!” Entrei para a escola e aí foi um período de relacionamento mais próximo com as “Irmãs do Asilo” (Irmã Líbera- com sua mansidão doce -, Irmã Josefa- com sua mansidão firme- e Irmã Iracy- com sua mansidão concreta) que nos davam semanalmente o Catecismo e nos preparam para a Primeira Eucaristia. Época de frequentar o Asilo e seu quintal (com a horta, o pomar e o jardim). Época de assistir filmes que a Irmã Iracy, antecipando-se no uso das técnicas pedagógicas multimídia, passava na Catequese- para fazê-la entrar mais facilmente na nossa cabeça, nos nossos corações e nas nossas almas -ou nos Domingos de manhã- para garantir que iríamos à Missa. Eu me lembro de ter reencontrado alguns dos velhinhos e velhinhas que conheci no tempo das calças curtas, e de ver mais uma vez o cuidado e o carinho das Irmãs com eles. É aos 20 anos que volto a ter contato com o Asilo e as Irmãs, trazido pelo Grupo de Jovens e pela minha namorada (e hoje pela esposa) que auxiliava então as Irmãs Josefa e Iracy na Catequese. Casado e morando fora de Poços, os contatos com o Asilo e as Irmãs se reduziram aos períodos de férias. O que não impediu que ao longo dessas décadas se mantivesse, e crescesse o respeito, a admiração e a gratidão pelo que o Asilo e as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado representaram e ainda representaram e ainda representam para mim e para a minha família. O Asilo São Vicente de Paulo e o convívio com as Irmãs são para mim o exemplo concreto, o testemunho vivido e a referência inquestionável da possibilidade de se viver o Evangelho de Jesus Cristo e de se experimentar o amor, a misericórdia e o cuidado no cotidiano, no miudinho da vida. Agora, uma coisa é certa: quando eu chegar ao Céu vou exigir imediatamente do anjo porteiro que traga, para me apoiar naqueles primeiros momentos de entrevista com São Pedro, a Irmã Líbera e a Irmã Josefa (só as duas porque a Irmã Iracy ainda estará aqui por baixo). Pois estou completamente convencido que com a doçura de uma e a firmeza da outra terei a melhor defesa possível, o que vai aumentar muito a minha chance de ficar no Paraíso. Que Poços de Caldas nunca se esqueça da riqueza social, moral e espiritual que o Asilo São Vicente de Paulo e a presença das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado são para essa cidade.
Luis Carlos Magalhães 95
O asilo, e sobretudo as Irmãs, fazem parte da minha vida desde que eu era menina. Eu tinha seis anos quando meu Irmão Marcelo e eu começamos a frequentar o Asilo para sermos preparados para a Primeira Comunhão. Porque fazíamos essa preparação só nós dois, e não no grupo com as outras crianças, não sei ao certo, mas guardo na minha lembrança de criança que era momento muito prazeroso. Nossa catequista, que nós adorávamos, era a Irmã Josefa que apesar da aparência enérgica era uma psicologia sem igual e nos conquistou desde o primeiro momento. Lembro-me que após a aula nos levava para passear na horta, nós que morávamos numa casa pequenininha sentíamos desbravando o universo. Nessa excursão sempre ganhávamos uma cenoura ou um rabanete colhido na hora (legumes que certamente recusávamos comer em casa), mas que naquela situação adquiria um charme todo especial e amenizava as agruras de decorar a Salve Rainha e o Credo, orações longas e difíceis demais para uma criança dessa idade e que eu sofri bastante para recitar na ponta da língua. Essa foi a primeira semente lançada fora do âmbito familiar que veio desenvolver minha vida de fé. Mais tarde, já na faculdade e participando da Pastoral de Juventude, fui ajudar a Irmã Iracy na catequese das crianças. Parei quando me casei e sai de Poços de Caldas. Hoje mais de cinquenta anos passados, continuo essa caminhada espiritual junto com o meu marido em um Movimento de Espiritualidade Conjugal, as Equipes de Nossa Senhora. Revendo toda a trajetória da minha/nossa vida de fé e com carinho e muita gratidão que penso nas Irmãs. Pelo menos uma vez ao ano, geralmente por ocasião do Natal, pois não moramos em Poços de Caldas, fazemos uma visita ao Asilo. É com alegria que revemos Irmã Iracy. Colocamos a conversa em dia. Falamos de tudo: vida, da saúde, da família, das leituras, das experiências de fé. É um daqueles momentos preciosos e inesquecíveis! Assim vamos acompanhando este lugar abençoado: as mudanças, as reformas da casa, a luta das Irmãs para manter, a casa, acolherem e se ocuparem com amor e dignidade das Velhinhas que lá estão. Torcemos por todas elas e temos certeza de que do céu Irmã Líbera e Irmã Josefa, de quem sentimos saudades e que estão muito presentes na nossa memória afetiva, intercedem por elas.
Vicélia Maria Coutinho de Magalhães
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Conheci a irmã Antônia Iracy Bezerra em 1959, quando ambas lecionávamos no Colégio Comercial Pio XII, dirigido por Mons. Trajano Barroco, o qual se chamava, à época, Colégio Comercial Jesús Maria José, e funcionava à noite no colégio desse nome, na esquina da Rua Rio Grande do Sul, com a Rua 15 de novembro. Mais tarde, assumi também as funções de secretária do Colégio Virgínia da Gama, também sob a direção do Mons. Trajano Barroco, seu fundador. A Irmã Iracy lecionava Religião nesse educandário. Acompanhando essa irmã, fiz um retiro espiritual, na casa-mãe das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, em Campinas. Foi através dessa amizade que conheci o Asilo São Vicente de Paulo, que acolhia homens e mulheres necessitados de cuidados e também crianças e jovens. A manutenção do Asilo era feita (como ainda é) pela Associação das Damas de Caridade, mas quem cuidava do andamento diário do Asilo eram as irmãs, que realizavam o trabalho hoje feito por cuidadoras, psicóloga, fisioterapeutas e outros profissionais. Além da Irmã Iracy, das Irmãs Terezinha e Angelina, conheci as saudosas e inesquecíveis Irmã Líbera e Irmã Josefa. Hoje, conheço também a Irmã Dulcinha. A partir de 1968, a Alcoa (na época Alcominas) construiu em Poços de Caldas uma fábrica de alumínio. Eu já trabalhava naquela empresa e alguns anos depois (1973), assumi um cargo de gerência. No meu orçamento havia uma verba para auxiliar as instituições beneficentes da cidade. Essa verba era estabelecida anualmente e meu maior trabalho era dividir o bolo pelas instituições que mais necessitavam. O Asilo era uma delas e como eu conhecia a obra e o trabalho das damas, das voluntárias e das irmãs, tinha sempre o cuidado de manter essa entidade no orçamento. Creio até que a favorecia um pouco. Foi assim que a primeira TV do Asilo foi doação da Alcoa/Alcominas, e eu tive a satisfação de ser a portadora dessa nova forma de distração para as pessoas ali acolhidas. Na sua exortação “A alegria do Evangelho”, o Papa Francisco, citando São Tomás de Aquino, diz que “As obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito”. Creio que essa citação fica bem aqui e por isso parabenizo as damas de caridade de ontem (que inclui a minha saudosa mãe Ana de Paula Lima e Silva) e de hoje, as voluntárias, e as irmãs missionárias de Jesus Crucificado, as quais, ao longo dos anos, têm vivenciado a graça do Espírito Santo, que se manifesta através da fé que opera pelo amor (São Tomás de Aquino).
Marília de Gonzaga Lima e Silva Tose
Nos termos do que dispõe, expressamente, a Constituição Federal, a assistência social é uma das obrigações do Estado. Este e outros dispositivos constitucionais nos levam à conclusão de que buscamos viver em um Estado Democrático Social de Direito. Entretanto, de longa data, não fosse a ação supletiva de algumas entidades particulares, muita gente não estaria recebendo a assistência a que tem direito. Aqui em Poços, há cem anos, começou a esboçar-se um movimento destinado a socorrer as pessoas dependentes da ação de seus irmãos para uma existência condigna, considerando que vários fatores, inclusive a idade avançada e eventuais doenças, aliadas a carências financeiras, não lhes permitiam uma vida de maior acolhimento. Foi quando a Associação das Damas de Caridade se dispôs ser a entidade mantenedora de um Asilo, que receberia o nome do apóstolo da caridade, São Vicente de Paulo. A instituição teria a finalidade de acolher aqueles que, mesmo tendo parentes próximos, não recebiam a assistência e o amparo que jamais poderiam serlhes sonegados, principalmente no ocaso de sua passagem por este mundo. É difícil encontrar, nesta cidade, quem não possua um parente ou um conhecido que, através dos tempos, não tenha merecido a acolhida fraterna do Asilo São Vicente de Paulo. Esta entidade beneficente começou a ser esboçada, em 1914, pelo Padre Serafim Augusto da Cruz e pela Associação das Damas de Caridade, seguida de várias outras iniciativas. Assim, a doação do terreno para a construção do prédio respectivo por Dona Agostinha Barros Cobra, o lançamento da pedra fundamental da instituição, as doações recebidas dos órgãos oficiais e populares, a participação das irmãs do Instituto Jesus Maria José e dos vicentinos, até a providencial vinda das Irmãs benemerentes foram sempre inspiradas por um arraigado sentimento de amor ao próximo por amor a Deus. Foi em 1943 que o Monsenhor José Faria de Castro, o bom senhor, anunciou a chegada das Irmãs Missionárias, o que acabou ocorrendo, em 10 de abril de 1944, sob a direção de Madre Urbana Ferreira Rosa, segundo a historiadora Da. Nilza Botelho Megale, o que constituiu o marco definitivo da ação caritativa da entidade que ensinava seus passos iniciais.
A partir aí, o Asilo São Vicente de Paulo, como era e é conhecido, passou a ser a casa da população que necessita de maior assistência, através de várias práticas. Entre elas, a catequese, o ensino da culinária, o artesanato, os movimentos religiosos, a evangelização e a plena acolhida dos idosos, para ali instalarem sua residência. Acrescentem-se, ainda, serviços de fisioterapia e de enfermagem, atendimento médico, nutrição e muito mais. A população desta cidade sempre deferiu particular atenção à instituição, participando ativamente dos eventos que ela proporciona, procurando ajudá-la em suas iniciativas, atendendo os seus pedidos e reconhecendo o trabalho das irmãs e dos funcionários e funcionárias daquela Casa. Poços de Caldas tem um imenso débito para com as Irmãs Missionárias, que, através de seu trabalho, tanto bem tem feito à sua população, podendo todas, sem exceção, serem homenageadas, nas pessoas, da saudosa Irmã Líbera e estimada Irmã Iracy. Para se entender a dedicação das irmãs e de todos que trabalham naquela instituição modelar da caridade cristã, mais do que as palavras, vale uma visita àquele abrigo fraternal. Ali se encontrará uma doação permanente aos idosos de todas as condições, que recebem irrestrita e providencial assistência física e espiritual repassada sempre de muito carinho e amor. Só mesmo a fé e o sentimento de caridade podem manter por tanto tempo essa constante atividade dos lidadores do asilo voltado aos necessitados, que ali aportam que não teriam condições de um final de vida digno e tranquilo não fosse o apoio material e espiritual daqueles que elegeram a caridade como meta primordial de suas vidas. A cidade sempre teve e terá uma dívida de gratidão com as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, com a Associação das Damas de Caridade, e com todos os que se voltam para aquela casa do bem. Deus haverá de cobrir de bênçãos todas as irmãs e todos os que as ajudam a fazer de cada idoso, de cada doente, de cada necessitado um verdadeiro irmão, deferindo-lhes o amor que o Estado e a família, tantas vezes, não lhes pode ou não lhes quer dar.
Gaspar E. P. Pereira
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A você que passou dos 80 William de Oliveira A você que traz nas ruas da face, as rugas do tempo. Você que muito pouco ouve e muito poucos o ouvem também. Que tem tanto a dizer, mas se aquieta em meio a tantas vozes que não sabem o que dizem. A você que caminha lento e soluça de solidão nas manhãs de domingo. Que tanto já viu e hoje ninguém mais vê. Que ainda espera e, por vezes, se desespera de tanto esperar. A você que plantou as sementes ou não teve sequer um chão pra plantar. Que vive de recordações e de quem ninguém se recorda mais. Você que esquecido está em um asilo ou no exílio de um lar. Você que muito doou e hoje vive na espreita do verbo doar. Que revela no olhar o sorriso do primeiro encontro e o último abraço de um grande amigo, a lágrima e o riso, o canto e o desencanto de viver, uma única palavra: Perdão!
Referências bibliográficas »» LEITE, Roberto Alves. São Vicente de Paulo, coluna da Igreja e do Estado. Catolicismo: revista de cultura e atualidades. Disponível em: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia. cfm?IDmat=92601754-3048-560B-1CA4799A567865C2&mes=Setembro1996. Acesso em: 28/12/2013. »» MEGALE, Nilza Botelho. Memórias históricas de Poços de Caldas. 2.ed. Poços de Caldas, MG: Sulminas, 2002. »» SGARBOSSA, Mario; GIOVANNINI, Luigi. Trad. Onofre José Ribeiro. Um santo para cada dia. São Paulo: Ed. Paulinas, 1983, p. 308-309.
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Uma casa construída na rocha A Associação das Damas de Caridade, mantenedora do Asilo São Vicente de Paulo, completa o seu primeiro centenário. São cem anos de muitos desafios, conquistas, tudo com um único objetivo: acolher ao mais necessitado, ao mais pobre, a todos os que necessitam de amparo material e espiritual. Como disse o Padre Francisco Carlos Pereira na abertura do ano centenário: “Quando uma obra é simplesmente humana, não chega a dobrar a esquina, logo se acaba; porém se é divina atravessa os séculos e se perpetua, mesmo enfrentando desafios, obstáculos, pois é como a casa construída na rocha”. Esta obra é de Deus e sua mão poderosa a sustenta e carrega no colo com o amor de Pai. Assim, em comemoração a esta data, este livro apresenta momentos da história do Asilo São Vicente de Paulo, iniciando-se pelas Damas de Caridade, passando pela construção do edifício que abriga esta instituição até a chegada das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. Permeado por relatos do cotidiano, este livro também apresenta a contribuição das Irmãs da Congregação Jesus Maria José, uma breve biografia de São Vicente de Paulo, além de depoimentos e relatos de muitas pessoas que vivenciaram e ainda têm a oportunidade de ajudar e serem ajudadas pelas Damas de Caridade, que ao longo dos anos têm se dedicado incessantemente para a manutenção do Asilo São Vicente de Paulo. E como a obra continua, ao final deste livro, foi delineada a história que começa a ser escrita agora e certamente será relembrada daqui a alguns anos.