Marcus Vínicius de Morais
Poços de caldas do meu tempo
1ª Edição O Jornalista Ltda. - Edições e Publicações 2016
Direitos reservados ao autor: Proibida a reprodição ou adaptação sem prévia autorização Marcus Vinícius de Moraes Rua Prefeito Chagas, n° 100- conj. 06 CEP 37701010- Poços de Caldas- (MG)- Brasil Telefone n° 035.3715.3396 Telefax n° 035.3722.9239 Capa: Antigo Coreto da Praça São Benedito década de 1.940, Foto: Décio Alves de Morais Demais fotos: Acervo Marcus Vinícius de Moraes Revisão: Professor Hugo Pontes Projeto Gráfico e Impressão Offset: O Jornalista Ltda. - Edições e Publicações Av. Monsenhor Alderige, 02/02 - Jd. Elvira Dias Tel: (35) 3697-5800 CEP 37704-284 - Poços de Caldas - MG
dedicatÓria Às minhas adoradas netinhas que, no espaço que medeia a publicação do meu último livro e o presente, vieram enriquecer e iluminar a minha vida, juntamente com seus irmãos e primos: ANA LUÍZA e MARCELA. A primeira é “ A Brisa da Primavera” e a segunda, “ O Anjo da Paz “
aGradecimentos Agradeço este livro, primeiramente, a DEUS, pelo dom da vida e pelas graças e bênçãos recebidas no trascurso desta minha singela existência. À Virgem Santíssima, nossa MÃE, pela proteção e bondade com que distingue a mim e à minha família, em todos os momentos
PreFÁcio Profundamente honrado fiquei ao receber a incubência de meu dileto amigo e confrade Mracus Vinícius para escrever o prefácio deste seu livro crônicas: POÇOS DE CALDAS DO MEU TEMPO! São dezenas de crônicas repletas de saudosismo e realidade que, em sua maioria foram publicadas em jornais da cidade durante vários anos. O autor retrata com lirismo contagiante as coisas todas da cidade de seu tempo. Fatos, pessoas, tipos populares, movimentos literários, dezenas de biográfias, homenagens justas a esta e a aquela pessoa, despedidas de muitos que já se foram, enfim, Marcus Vinicíus com seu estilo próprio retratou em suas crônicas, escritas quese todas com o título “Folhas Soltas” a história de Poços de Caldas nos últimos trinta ou quarenta anos... O autor em suas crônicas deixa em cada uma um pedaço de sua alma, de seu coração, de seu sentimento, pois estampa a realidade mesclada com o mais puro lirismo que só é dado aos remânticos e sonhadores escrever. Marcus Vinícius no mundo das letras, além de um excelente trovador e poeta de inegáveis qualidades já retratadas em seu vários livros como Palavras ao Vento, Retalhos D´ Alma, Sonhos e Quimeras, Poesia de Caetano, e outros, de há muito vem se revelando não apenas um cronista, dono de uma pena escorreita que reproduz com singularidade pessoas desta Cidade “Rosas” e fatos do quotidiano mas sobretudo o autor é um biógrafo nato, atento que pesquisa em profundidade a vida da pessoa que está sendo biografada.
Quero falicitá-lo, meu caro Marcus Vivícius pelo livro que você agora publica. Depois de seus vários livros de poemas, trovas e sonetos, você vem brindar a todos nós, seus amigos e os que vivem nesta encantadora Cidade Sorriso com bem lançadas crônicas e que constituem o seu novo livro “Poços de caldas do meu tempo” - Folhas Soltas- que por tudo quanto ele encerra nos conta um pedaço de nossa história enfocando pessoas, casos da cidade, fatos, sentimentos, situações e problemas vividos pela comunidade nas últimas décadas... Escrever crônicas exige, antes de tudo técnica, sentimento, bem como o cronista deve possuir a capacidade de usar o tom casual e mais que isto, deve saber empregá-lo... Marcus Vinícius , neste seu livro, demonstra em cada página o seu acendrado amor e respeito pelas coisa todas da cidade e escreveu tudo com muita técnica masclada com os sentimentos de lirismo e saudade. São crônicas lúcidas e bem arquitetadas, onde a casualidade se faz presente a cada instante. Meu amigo Marcus Vinícius: Aceite os meus agradecimentos pela honra que me facultou de prefaciar o seu livro e nesta oportunidade lhe desejo todo o sucesso que você merece em sua trajetória no mundo das letras. JOSÉ RAPHAEL SANTOS NETTO Poços de Caldas, outubro de 2002
PreÂmBulo É costume dizer, que a crônica não se presta a figurar ou ser reunida em livro, dada a sua efêmera existência. Em que pesem o posicionamento e a opinião dos doutos no assunto, permito-me deles discordar, com o respeito devido. É de ancião conhecimento que existe dois tipos de crônica: a primeira, é a que chamamos “do jornal”, nas autóctones. Já a segunda, que classificamos de “para o jornal”, são as alóctones. No primeiro caso, a crônica é insita ao jornal. Ela nada mais é que o relato do cotidiano. A radiografia do dia a dia, nascendo e morrendo a cada número do periódico que a abriga. No segundo, ela vive na mem´ria do autor. É concebida e publicada em determinado jornal, mas a ele não pertence. Não se trata da análise ou do relato de cada dia. Mas sim, de fatos guardados na mente do cronista, que serão futuramente publicados. Entretanto, mesmo em razão de sua fugaz existência, no caso das autóctones, a crônica, a exemplo de toda manifestação escrita destina-se à posteridade ao depois de publicada. Nas bibliotecas, nos museus, nas escolas sempre haverá um registro deixado por alguém. É de meu sentir que a crônica é a arte do tempo. Através dela, é que o autor vai alinhavando a história com a agulha da inspiração e a linha do talento, projetando-a no infinito. Sem qualquer pretensão histórica ou didádita, aqui vão reunidas pouco mais de uma centena de minhas pequenas crônicas, que são as lembranças de um saudoso coração. Sei que existirão erros de datas e outras imperfeições involuntárias. Assim, espero que aqueles que se
dignarem a conhecer seu conteúdo me perdoem, pois este é um relato de saudade, sob a ótica e o conhecimento de quem um dia teve a ventura de viver nesta terra maravilhosa, que é a “Cidade-Rosa”, terrra do sonho e da poesia. Espero que as minhas pegadas, conquanto não sejam luminosas como as dos grandes vultos, através do meu amor a Deus, à Virgem Santíssima, à minha esposa Márcia Maria, aos meu filhos e netos, aos meus singelos livros, às poucas árvores que plantei possam demonstrar a minha imperecível vontade de com eu trabalho e toda a minha luta deixar este mundo melhor do que o encontrei, ainda que somente um pouco! Para finalizar, faço-o valendo-me da inolvidável lição do saudoso Dr. Mário Mourão, citado por seu famoso filho, o consagrado escritor poçoscaldense, Dr. Benedictus Mário Mourão que ao manifestar-se sobre o labor intelectual, assim se expressou: “Renovando o velho milagre de Apolônio de Thyina que, quando atirava ao ar os papiros e pergaminhos, do nobre balcão da biblioteca de Alexandria, eles se transformam em passáros, desaparecendo alígeros no azul intérmino dos céus, são as minhas idéias que vão pelo mundo afora, explicava o mago. Elas vão pousar em algum lugar e algum dia serão úteis” É meu desejo, portanto, que as modestas idéias e os desvalidos pensamentos aqui recolhidos, possam um dia, ser úteis áqueles que se dispuserem conhecê-los. Marcus Vinicius de Moraes “Nenhum homem é uma ilha, um todo comleto em si mesmo; todo homem é o pedaço de um continente, uma parte do conjunto. Se o mar carrega um punhado de terra, a Europa é diminuida, como se as ondas tivessem levado um promontório, o solar de teus amigos e o teu; a morte de qualquer homem me diminuiu, porque pertenço ao gênero humano; assim nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram: eles dobram por ti.”( JOHN DONNE, Inglaterra, 1.624). “A vida dos grandes homens nos faz lembrar que podemos tronar nossa vida sublime, E que, ao partir, deixamos para trás, Pegadas na areia do tempo!” (‘Salmo da Vida’, De Henry Wodsworth Longefellows)”
Índice 01. - AS RAZÕES E MOTIVOS DE SUA EXISTÊNCIA 02. - “ADEUS MESTRA” 03. -LÁGRIMAS... 04. -MONSENHOR TRAJANO BARROCO, VINTE E SEIS ANOS À FRENTE DO DESTINO ESPIRITUAL DE POÇOS DE CALDAS 05. - “MEU CRISTO” 06. - “UM DOS CREDORES PREJUDICADOS PELAS CRÕNICAS EM CONCORDATA” 07. - “SAUDADE” 08. - O QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL DO CÔNEGO CAVOUR CARLETO 09. - “NEM TUDO ESTÁ PERDIDO” 10. - UMA CHAMA QUE SE APAGA 11. - “O FILÓSOFO- A CONTRACULTURA E EDUCAÇÃO NOVA” 12. - “TRIBUTO DE HOMENAGEM E GRATIDÃO” 13. - 0 67° ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO DA ESCOLA SETE DE SETEMBRO 14. - O NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO 15. - “CADEIRA VAZIA” 16. - PROFESSOR JÚLIO BONAZZI 17.- “DONA ZELINHA” 18.- FALANDO DE POETAS E “POETAS” 19.- CRÔNICA DE UMA CIDADE
20.- O PALÁCIO ENCANTADO DA CIDADE 21.- ENFIM, A CASA DA CULTURA! 22.- CONSELHO EDITORIAL DO MUNICÍPIO 23.- “DA QUIETA SUBSTÂNCIA DOS DIAS” 24.- “SEU” ALCINO 25.- O GRANDE POETA 26.- O PRÊMIO MERECIDO 27.- O VALOR DO TRABALHO 28.- O CERRAR FILEIRAS NA TRISTEZA 29.- VIRANDO A PÁGINA DA HISTÓRIA 30.- O LUTADOR INCANSÁVEL 31.- O ANJO TUTELAR DOS NECESSITADOS 32.- O PODER E A FORÇA DA AMIZADE 33.- UM FARMACÊUTICO DO INTERIOR 34.- MEMÓRIAS DE UM BOTICÁRIO DA ROÇA 35.- PAPAI NOEL E O NATAL 36.- DÉCIO RABELO ACURCIO 37.- A PRIMEIRA FORMATURA 38.- A CURTA MEMÓRIA DO SER HUMANO 39.- VENÍCIO BERTOZZI 40.- O SANTO VICENTINO DOMÉSTICO 41.- EXEMPLO DE SIMPLICIDADE E COMPETÊNCIA 42.- ESCÔRCIO HISTÓRICO DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA 43.- A FUNDAÇÃO DE POÇOS DE CALDAS 44.- O PAI DA IMPRENSA DE POÇOS DE CALDAS 45.- A SAPATARIA MASCOTE 46.- O MAIS ANTIGO VICENTINO EM ATIVIDADE 47.- O SANTO DA TERRA TAMBÉM FAZ MILAGRES... 48.- A LIVRARIA VIDA SOCIAL 49.-O PESO DE UMA TRISTEZA 50.- O CASSINO DA URCA 51.- UM DOS VARÕES DA “REPÚBLICA DE MONTE CARMELO” 52.- O REPENTISTA DE POÇOS DE CALDAS 53.- “UM ITALIANO DE POÇOS DE CALAS”
54.- O AMIGO “FILHINHO” 55.- AO MEU PAI ARTHUR RIBEIRO DE MORAES 56.- UMA PÁGINA DE SAUDADE 57.- DR. JOSÉ CARLOS DE PAIVA CARDILLO 58.- A VOCAÇÃO SACERDOTAL 59.- ADEUS ÁTHILA!... 60.- CARLOS ANTÔNIO BONAZZI 61.- A LITERATURA NA ESTÂNCIA 62.- HONRA AO MÉRITO 63.- SAUDADE... SEMPRE A SAUDADE 64.- A MORTE DO POETA 65.- A PARÓQUIA QUE HABITAMOS 66.- RONALDO DURANTE 67.- LEMBRANÇAS 68.- O SANTO PADROEIRO 69.- A PRESENÇA DE ANITA 70.- CAFÉ COM PERVITIN 71.- O MALABARISTA 72.- A TRISTEZA DO ADEUS 73.- VAI- SE A LUZ DE UM ASTRO 74.- O DIA DO POETA 75.- POÇOS DE CALDAS E SEUS VULTOS PITORESCOS 76.- O BAR PIGALE 77.- DR. MARTINHO DE FREITAS MOURÃO 78.- BOM DIA VIDA 79.- DR. CHAVES 80.- VÓ ESTER 81.- MAIS DO QUE UM ANIVERSÁRIO NATALÍCIO 82.- PARABÉNS À ACADEMIA POÇOS-CALDENSE DE LETRAS 83. O SAPATEIRO E O SANTO 84.- RESPINGOS DE SAUDADE 85.- A POSTA RESTANTE DA VIDA 86.- O CURSO DA VIDA 87.- 0 CARNAVAL
88.- A DONA MIRCÉA ESTÁ? 89.- O NOSSO TRÂNSITO 90.- O TRIÂNGULO DA FÉ 91.- O NOSSO MECENAS 92.- UMA BOLSA DE ESTUDO 93.- A MONTANHA CHOROU 94.- TEMPO DE REVOLUÇÃO 95.- POÇOS DE CALDAS E SEUS VULTOS PITORESCOS II 96.- O ANJO DA GUARDA 97.- O TRABALHO QUE VEIO DE LONGE 98.- VINTE E UM ANOS DE LUTA 99.- DEVOÇÃO 100.- “A VENDA DO ZEVARISTO” 101.- OS JARDINS DA MINHA TERRA 102.- O PEREGRINO DA CARIDADE 103.- PRONTIDÃO 104.- TEMPOS BICUDOS 105.- ATÉ QUANDO, SENHOR? 106.- PARABÉNS, POÇOS DE CALDAS 107.- “O REINADO DE MOMO” 108.- PEQUENOS ESCRITORES 109.- INVENTÁRIO DE LEITURAS 110.- NOS TEMPOS DO AGOSTINHO 111.- “ A CASA RÁDIO”
as raZÕes e motiVos de sua eXistÊncia Há muitos anos, graças à bondade e à generosidade do amigo e sempre lembrado, jornalista Gerson Alves de Moraes: ao apoio e auxílio dos amigos Dr. Marcílio Chagas leite e Dimas da Silva Almeida, o primeiro, proprietário da saudosa Gazeta do Sul de Minas; os demais, diretor e revisor e o linotipista daquele jornal, respectivamente, iniciei minha deslustrada participação na imprensa local. Participação esta que consistia na divulgação periódica das matérias apresentadas sob os títulos “coluna literária”, onde noticiava os acontecimentos relacionados à literatura, os recentes lançamentos de livros de escritores poços – caldenses e outros; e , “lições do cotidiano”, que eram as crônicas singelas dos fatos acontecidos na estância. Publicava ainda, alguns poemas e trovas. Posteriormente, passei a colaborar, também, em outros jornais e revistas, destacando – se “o Diário de Poços” que, para tristeza e consternação geral, encerrou suas atividades; “ Brand News”, do amigo e confrade Odair Camillo; “Jornal da Mantiqueira”, na época, de propriedade dos diletos amigos Décio Alves de Moraes e José Carlos Poli; “A cidade livre”, também desaparecida; “A cidade de São João “, da vizinha cidade de São João da Boa Vista e muitos outros. Chega – se assim, ao momento atual quando, por especial gentileza de um dos seus proprietários, o estimado amigo Ilair Henrique de Freitas, passei a colaborar neste prestigioso e importante periódico, com esta coluna, cujo título já vinha assinando nas derradeiras participações da “Gazeta do Sul de Minas”.
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Juntamente com o registro do cotidiano de nossa cidade, através destas crônicas, se é que assim podemos denominar estas despretensiosas linhas, eu me propuz a registrar alguns aspectos da vida e da obra de alguns de seus moradores. Independente de qualquer outro interesse ou conotação político-partidária, sem distinção de credo, cor, classe ou posição social, meu desejo estuante é legar aos mais jovens a história de Poços de Caldas, escrita por alguns de seus moradores, do anônimo e desconhecido ao mais importante, do eminente e em evidência àquelas que passaram por esta terra, modesta e simplesmente. Na verdade, como diz Anatole France: - “ O passado é a única realidade. Tudo que existe é passado.” A exemplo do trabalho de fôlego e envergadura, de imensurável valor para a posteridade, levado a termo por Daniel de Carvalho(“ Novos estudos e depoimentos”, livraria José Olympio Editora, edição 1.959); e J. de Castro Nunes(“Alguns homens do meu tempo”, mesma editora, edição 1.957), que registraram a atuação e a vida de figuras ilustres de sua época e outras tantas que, embora desconhecidas, foram alvo de seu respeito e estima. O primeiro, advogado, político, jornalista e homem público. O segundo, advogado, juiz de direito, jurista e ministro do tribunal maior da nação. Personalidades de proa em seu tempo, ambos militaram na imprensa, ao que me foi dado apurar. Guardadas as devidas proporções e minhas palpáveis limitações, esta é a minha intenção. É de sabença comum que todas as vidas, mesmo as mais obscuras e de pouco ou nenhum relevo de algumas personalidades, não deixam de apresentar aspectos interessantes. Mesmo no anonimato se escreve a história. E é esta história, em conjunto com aquela escritura por vultos de notória expressão e marcante atuação que pretendo registrar. É o esbatido perfil daqueles vultos e personagens, no sentido de impedir que suas imagens desapareçam no espaço e no tempo. É para evitar que as figuras daqueles que, de maior ou menos projeção, escreveram a história de Poços de Caldas sejam envolvidos pelas brumas do esquecimento e se tornem vultos esfumados nos anais infinitos da eternidade.
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Poços de Caldas do Meu Tempo
Como diz J. de Castro Nunes, na obra citada: “ O homem morre, mas as grandes vidas permanecem. E é preciso recordá-las, contálas nos seus lances mais expressivos, para que as gerações novas se inspirem nesses padrões magníficos do passado.” Assim, para meus contemporâneos, para os coetâneos de meus filhos e netos, para a posteridade enfim é que, despretensiosamente, escrevo estas croniquetas em que, às vezes, à mingua de informações, relato de memória fatos por mim presenciados ou conhecidos. Por certo, a influência do coração é marcante, mas sem resvalar para o panegírico, que é o elogio postiço, encomendado, descometido e derramado. Este o meu intento! Se algo puder ficar, ser aproveitado e contribuir para o registro da história de minha terra, dar-me-ei por satisfeito e realizado. Poços de Caldas, 02.12.92
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“adeus mestra”
lĂ Grimas...
monsenhor trajano Barroco,
Vinte e seis anos À Frente do destino esPiritual de Poços de caldas.
Há mais de cinco lustros, mais precisamente, no dia 02 de fevereiro de 1958, ganhava a Basílica Nossa Senhora da Saúde seu novo mentor, e a coletividade católica de Poços de Caldas, um pastor corajoso, enérgico e atuante. Profundo conhecedor do seu mister, grande e incondicional devoto de Nossa Senhora, orador de nomeada, portador de vastíssima cultura, Monsenhor Trajano desde logo angariou o respeito dos seus paroquianos e hoje, graças ao seu dinamismo, ocupa posição de destaque na sociedade local. Ombro à cruz, criticado por alguns e louvado por muitos, empreendeu ele sua jornada na prédica do rito, na defesa dos altares, no santo e perene apostolado de Jesus Cristo. Vinte e seis anos de labor intenso, de fervor extremado, de sacrifício voluntário, em que seu espírito de apóstolo, com zelo indefectível, vigilou incansavelmente nos escritos pastorais e nas prédicas dominicais. De suas mãos, contra as fraquezas e pecados escrutais nos corações de seus paroquianos, jamais baixou o raio apostólico que fulmina, fustiga e flagela, verberando as costas dos desditosos qual
impiedoso látego, brandido por entre vitupérios e imprecações. Ao contrário, de seus lábios sempre brotaram palavras de fé, de aviso e de esperança, convertendo consciências e, através do santo perdão, erguendo-as, animando-as e concedendo-lhes a esperada absolvição. Bem cedo os reflexos da sua marcante personalidade se fizeram sentir não só no terreno espiritual, como na comunicação, onde há vários anos labuta no “Diário de Poços”, proporcionando à coletividade a informação religiosa, segura e honesta, como lídimo guardião e perfeita sentinela da verdade, da liberdade e da justiça. Na educação, avulta-se o relevante trabalho por ele desenvolvido na instrução de três gerações de poços caldenses, quer no Colégio “Pio XII”, quer na Autarquia Municipal de Ensino, distribuindo à mancheia seu talento, seu saber e, sobretudo, seu tempo e seu labor. No campo social e filantrópico, sua atuação, calcado nos mais elevados princípios da caridade, atinge as culminâncias. Sempre destinada a amenizar os padecimentos e dificuldades dos seus semelhantes, máxime os menos favorecidos, suas campanhas são coroadas de êxitos. Principalmente a de Natal, quando ele, mercê de insano trabalho e, posteriormente, com os auxílio dos vicentinos da cidade, distribui aproximadamente mil e quinhentas cestas aos pobres. A festa de hoje é a festa do bem, da fé e da caridade. E rogando à divina providência que o conserve, congratulamo – nos e damos graças a Deus pelo afortunado êxito da sua augusta missão e que ele mantenha sempre como nosso guia espiritual. Estes são os nossos votos, estas as aspirações da família católica de Poços de Caldas. Que Nosso Senhor, em sua infinita misericórdia e sabedoria, o ilumine e abençoe, Monsenhor Trajano Barroco. Poços de caldas, 3.01.84
“meu cristo” Bem sei que o mundo anda mudado. Também sei que os valores atualmente são outros. Que o progresso endurece os corações dos homens, tornando-os insensíveis aos bens espirituais. Mas hoje, meu Cristo querido, senti tanta revolta quando vi tua imagem santa, sem qualquer indicação, nem o título do filme, em meio a cenas de sexo, mulheres e homens nus, em posições comprometedoras, na porta de um cinema local! Logo nessa época, a Semana Santa, tempo de respeito, de fé e de oração, estavas ali, postado entre tantas iniquidades, tantas imoralidades e desrespeito que tive ganas de destroçar os painéis e, a exemplo do que fizeste com os vendilhões do templo, punir exemplarmente os responsáveis. Não que tu precises de legenda ou apresentações pois, durante toda tua senta existência não escreveste nada. Possuías e ainda possues o sagrado dom da presença e da palavra. Milhares de anos depois, contrariando o conhecido aforismo romano: - “ VERBA VOLANT SCRIPTA MANENT”, tua palavra permanece atual e aterna. Tua presença viva e radiante incomoda tantas pessoas como as do fato narrado que, recorrem a artifícios como esses, sem saber que assim o fazendo mais aviva nossa fé, mais aumenta nosso amor por ti e a certeza imperecível de que permaneces vivo eternamente, meu Cristo! Porém, não aceito e jamais aceitarei o desrespeito e o vilipêndio de valores tão sagrados. Ninguém está obrigado a exibir as películas que dizem de ti. Mas, ninguém tem o direito de, em nome do lucro
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fácil e do sensacionalismo, macular tua sagrada imagem. Que ao menos nesta época de recolhimento e de oração, respeitem nossa fé e nossos princípios de católicos e de cristãos. Poços de caldas, em 19 de abril de 1984
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Poços de Caldas do Meu Tempo
“Um dos credores prejudicados pelas crônicas em concordata” No último “BRAND-NEWS”, de dez(10) deste mês, como sempre faço, pois sou leitor assíduo e fã incondicional, dele meditei sobre a costumeira crônica de meu dileto amigo e confrade Odair Camillo. Confesso que à primeira vista senti-me alarmado e até receioso sobre o desfecho da mesma. Alarmado em perceber como, a cada dia, engrossa o número de escritores sem possibilidades de publicar um livro sequer, dado o elevado custo, aliado ao desinteresse do povo e autoridades pelas obras literárias, tão necessárias à cultura da comunidade. Receioso, fiquei na expectativa de vir a confirmar – se a intenção deste que é um dos maiores cronistas destas plagas. Em tal ocorrendo, a literatura poços caldense, ver-se-à privada de uma das mais privilegiadas inteligências locais. Com suas crônicas mensais, traduzindo o cotidiano, em linguagem simples e facilmente assimilável, como gosta o mineiro, Odair Camillo vai alinhavando uma série gostosa de acontecimentos que enfeitam e alegram a vida poços-caldense. Espero, como leitor (credor) de sua arte, juntamente com boa parte da população, que a intenção do cronista não passe do terreno da suposição. Ao contrário, a bem da cultura de nosso povo, na conformidade das leis civis, serei obrigado a, ingressando no juízo da
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arte da ciência, apelando para a consciência literária local, promover o embargo da concordata referida, como credor prejudicado, e, também, em defesa da cultura nacional. No entanto, algo de bom restou da crônica enfocada. Seria de bom alvitre e com reflexos mais que positivos na cultura nacional, que as instituições financeiras patrocinassem os intelectuais, financiando e promovendo suas obras, a exemplo do apoio que vem sendo dado aos artistas plásticos. Tenho a certeza de que isso ocorrendo, a cultura nacional há que ser enriquecida com o surgimento de novos valores e expoentes das letras deste sofrido pais. A ideia está lançada... Poços de caldas, 14 de agosto de 1984
saudade Quando começamos a preocuparmos mais com o passado e menos com o presente, é evidente que estamos envelhecendo. PROUST dizia que “a recordação de certa imagem não é senão a saudade de certo instante.” E é desta saudade que hoje quero falar. Se escrever memórias e reviver com sensação de estar passando a limpo a vida, como diz Henrique Pongetti, nas curvas e nas esquinas do tempo, nas recordações e fragmentos nebulosos de minha infância eu me debruço e, num esforço mnemônico, busco e rebusco fatos e acontecimentos de outrora, quando menino, livre e despreocupado, sonhava com a vida. Sonhos pequenos e sem grandes pretensões. Recentemente, por ocasiões de inauguração da agência do banco do Bamerindus, em Poços de Caldas, li, no jornal Cidade livre, que periodicamente recebo, a notícia desse acontecimento. De felicidade ímpar, a matéria, com merecidas e justas referências aos meus amigos Jacques de Carvalho, espírito devotado e coração generoso, bandeira imperecível na defesa dos pobres; Jurandir Ferreira, escritor de escol e consagrado representante literário da “terra da saúde e da beleza”; Ataulfo Marques de Souza, o maestro Ataulfo, da gloriosa e eterna banda “ Maestro Azevedo”, a animar a vida poços-caldense, no coreto da Praça Pedro Sanches. Na sequência, retrata o articulista, eventos da vida da estância, dos quais, em sua maioria, participei. Dentre esses fatos, um me diz respeito em parte. É o que se refere ao meu tio do lado materno, Galileu Dias de Almeida, churrasqueiro – mor da cidade. Caladão, circunspecto, de alma generosa e coração puro,
em toda festa ou comemoração, quer política quer social, era presença obrigatória, com seu churrasco, agradando a comensais dos mais variados e exigentes paladares. Na festa de São Benedito, sua barraca era a mais frequentada. Um a um, vão desfilando personagens de destaque na vida desta cidade que, segundo meu particular e dileto amigo, José Raphael Santos Neto, o popular e querido “Zé Neto”, é cidade rosa, e não das rosas, título este último ostentado por Barbacena, em razão do comércio profícuo da flor referida. Poços de Caldas é, com justa razão, a própria rosa. Assim, recordo-me do saudoso” Zé Biri”, bonachão e de idade indecifrável, que me carregou no colo ; Xandó, o menino que vi crescer, filho desse casal amigo, Cida e Oscar Lovato de Oliveira. Numa retrospectiva que somente a saudade permite, volto no tempo. Nas folhas dobradas e amarelecidas da vida, vejo-me criança, na escola Sete de setembro, quando ainda funcionava na Rua Assis Figueiredo. A figura austera e inesquecível daquela que foi a professora de tantos poços-caldenses, a professora Nicolina Bernardo. Lembro de meus colegas de aula, Élio Virga, José Cássio, Sérgio Zono e tantos outros. O morro do “tororó”, onde a garotada empinava seus “papagaios”. A casa Togni, do Sr. Dante. A casa deliciosa, do velho Júlio Poli. A vetusta estação ferroviária. O antigo mercado municipal, onde eu e tantos amigos carregávamos as cestas de compras das senhoras, aos sábados e domingos, para garantir as “matinés” no cinema São Luiz e no Politeama. As festas de São Benedito, com sua igrejinha simples e modesta, com as barracas de toda espécie, e os inesquecíveis “correios-elegantes”... Tantas recordações que me vêm à mente, lembranças de um passado que, preso as regras inexoráveis e irreversíveis da vida, não mais voltará... Resta-me o consolo de lembrá-lo, envolto nas cálidas e envolventes asas da saudade e, a certeza de que, quando pela mão da lembrança, recuamos no tempo, ganhamos em alegria e satisfação, conseguindo forças e esperanças para enfrentar o futuro. É ... esta saudade que me ponteia o peito, me umedece os olhos e aperta minha garganta, é o sinal indefectível de que estou envelhecendo... Campestre, em 15.03.1985
o QuadraGÉsimo aniVersÁrio de ordenaçÃo sacerdotal do côneGo caVour carleto Nunca é tarde para corrigir-se um erro ou suprir uma omissão. Salvo engano, em novembro pretérito, quase no anonimato, transcorreu o quadragésimo aniversário de ordenação sacerdotal desse que é, sem sombra de dúvidas, o verdadeiro apóstolo da fé, o Cônego Cavour Carleto, o nosso querido “Padre Roberto”. Em razão de minha promoção para a longínqua cidade de Paracatu e os festejos natalinos, não me foi possível render-lhe a justa homenagem que lhe é devida. Ainda que tardia, presto-a nesta oportunidade. O evento é de real e expressiva importância. São quarenta anos de dedicação a Deus e às coisas da igreja. Com abnegação, carinho e desvelo o Padre Roberto, diuturna e incansavelmente, sempre levou e continua a levar a palavra do Senhor, o conforto e o consolo àqueles que necessitam. Jamais, em momento algum, furtou-se ele ao cumprimento de sua sagrada missão. Sempre que procurado, quer de dia, quer durante a noite, com chuva ou sol, ele atende seus paroquianos e todos aqueles que o requisitam em qualquer lugar ou circunstância.
Sua fala simples, porém vibrante, seu ar extrovertido e amigo, sua imensa bondade dão aos seus sermões um cunho especial, fazendo-os atingir os objetivos propostos. É comum nos batizados, e em outros atos litúrgicos, ele ensinar ás mães como prepararem até as mamadeiras dos filhos, bem como os cuidados com a higiene pessoal das crianças e evitar as doenças mais comuns que atingem os bebês, assim como tratá-las. Seu amor às crianças é algo notável. Onde quer que vá está rodeado de crianças e jovens que procuram o lenitivo das palavras do criador e uma vida cristã. Há mais de vinte anos, com denodo e persistência, luta ele para concluir o templo dedicado a Nossa Senhora Aparecida, por ele iniciado e que, segundo seu desejo, há de ser o maior e mais bonito, em homenagem à mãe de todos nós, brasileiros. Guia espiritual de grande parte dos poços-caldenses, amigo de todas as horas, merece ele o especial carinho de nós, católicos, pelo transcurso de data tão marcante em sua vida sacerdotal. Que o senhor nosso Deus o abençoe e o conserve como é, querido amigo e irmão de Cristo Jesus, Padre Roberto, a quem reverencio e registro o indesmentido preito de gratidão e amizade.
“nem tudo estÁ Perdido” Noite dessas, ao fechar a janela do quarto, deparei-me com uma luzinha tímida e intermitente, brilhando à distância. Para minha surpresa e espanto, apesar das potentes luzes de biodo dos postes de iluminação, ali estava um vagalume ou pirilampo. Não sei a causa do fenômeno que proporciona luz própria a esse inseto. Segundo meu filho Cleyton, estudioso de entomologia, este fenômeno é devido a uma substância chamada luciferina. Que expliquem os doutos e entendidos... A mim, me bastam as recordações gratas de uma infância em que se observava a vida e suas mutações, quando um maior contato com a natureza nos proporcionava descobertas incríveis. O casulo da borboleta, do bicho da seda, os ninhos dos pássaros e a sensação indescritível em ver um inseto tão pequeno como o vagalume, com sua luz de ré, a piscar nas noites escuras como um sinaleiro mirim... Tudo isso, mais tarde, encontrado nos livros de estudos. Quantas noites, por horas a fio, fiquei a observar o trabalho de sinalização desses bichinhos, em seu vai-e-vem noturno, a clarear a imensidão e a estralar de modo característico. Quem de nós, quando criança, não colheu ao menos um bichinho desses, guardando-o em caixas de fósforos, para apreciar mais de perto sua luzinha tênue e pequenina. Ao ver aquela luz azulada riscando a noite, em meio aos passantes holofotes dos postes de iluminação, como a lutar e dizer: “ Sou pequena, mas tenho vida própria. De nada mais necessito além deste frágil corpinho”, confesso que fui tomado de profunda
nostalgia. E , voltando ao passado, vi-me garoto a brincar com meus amigos vagalumes, em sua faina incansável, a quebrar o negror da noite. A tímida claridade a emanar daquele bichinho, entre a potência e a profusão das luzes artificiais, dá - me a certeza inarredável de que nem tudo está perdido... Ainda existem os vagalumes... Destacando-se também, a atuação desse sentimental e envolvente declamador que é Izidoro Junior, nosso querido “Poeta do povo”, e, finalmente, para o oportuno e profícuo pronunciamento do acadêmico Benedictus Mario Mourão que mercê da sua cultura invejável e experiência incomum, nos aviventou a memória para fenômenos idênticos ocorridos em entidades congêneres, concluindo que fatos como esses apenas valorizam mais a luta pela cultura. Aliada aos fatos acima, a atuação dos acadêmicos Jorge Beltrão foi fulgurante, sua inteligência resplendente e viva nos proporcional memorável noite de cultura, que há de ficar indelevelmente marcada na história de nossa academia e na memória de todos aquelas que estiveram presentes. Parafraseando o inesquecível Aloysio de Castro, podemos afirmar que, além da faculdade de ouvir suprindo o que falta às palavras que lhes são dirigidas, os grandes homens fazem de um acontecimento simples um evento maravilhoso e inesquecível, graças às inatas qualidades que lhes são peculiares. Realmente , a alma é a essência do ser humano. É a força que move as engrenagens da vida. E nossa almas, genuflexas, absortas e embevecidas souberam recompensar a grandeza de seu gesto. Obrigado Jorge Beltão, meu incomparável mestre. As lágrimas que inadivertida e furtivamente vieram, se transformaram em força incomum e nos lembrar do compromisso há tempos assumido, renovando e revigorando nossa disposição de lutar pelo ideal da cultura de nossa terra e a certeza imorredoura de que, enquanto viver um daqueles que lá estiveram e que amam as letras, nossa bandeira não cairá jamais. Poços de caldas 24 maio 1983.
uma chama Que se aPaGa Durante bem mais de duas décadas, ela reinou absoluta. Em seu trabalho, que fazia com perfeição, arte e simpatia, era incomparável. Sua fama transpôs as fronteiras da cidade de muitos turistas importantes vinham de longe, para apreciar seu trabalho e conviver com ela. Ela servia café!!! Era esse o seu trabalho que exercia como ninguém, pois fazia com amor, graça, delicadeza e educação. Estamos falando da querida “ Dita do bar ao ponto”. Seu nome , que poucos ou quase ninguém conhecia era Benedita Lina Gonçalves. Não era bonita. Pode -se -ia dizer até que era feia. Mas, irradiava uma força interior tão grande e tanta simpatia que, de um a noventa anos, todos os fregueses eram-lhe cativos. Conhecia ela o gosto e as preferências de cada um. “ café carioca” para o Dr. Fulano, “ pingadinho” para o ciclano, café no copo para beltrano, etc. Alegre, extrovertida e agradável, sempre com aquele sorriso de quem vive de bem com a vida, a todos atendia com a mesma distinção e gentileza. Seu período áureo, se bem lembramos, foi na época do senhor “ Joaquim” ( que se chama Eberle Teixeira) e Dona Nena. Nesse tempo, o ponto de referência era o bar do ponto, onde o cafezinho famoso, feito e servido por ela, era obrigatório.
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Depois, o bar foi vendido para outros proprietários e ela ali permaneceu, como parte integrante do estabelecimento. Uma espécie de patrimônio, reinando altaneiro e imbatível naquele quarteirão da rua Rio de Janeiro. Dia destes, retornando de viagem, soubemos do seu passamento ocorrido em 08 de abril passado, o que nos entristeceu sobremaneira. A chama da alegria apagou -se ... Não mais teremos aquele sorriso e a gargalhada gostosa. A presença alegre e simpática, a brincar com todos os fregueses. Sempre pronta a ouvir e a ajudar, sem uma palavra sequer de crítica ou maldade. Não mais veremos a inigualável “ Dita do bar ao ponto” ... Porém, sua imagem, seu jeito faceiro, amigo e carinhoso hão de permanecer indelevelmente marcados na memória daqueles que, como nós, tivemos o privilégio de conhecê-la , respeitá-la e admirála. A morte, segundo um velho adágio, é um repouso para aqueles quem amam a Deus. E ele, em sua infinita sabedoria, chama sempre e em primeiro lugar os bons. Temos absoluta certeza de que ela foi para junto do Pai Celeste. E , com sua alma pura, seu jeito simples, amigo e carinhoso, continua o seu trabalho, por ela tão amado: servindo café no céu! Saudades, “ Dita”. E até um dia, grande amiga...
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“ O FILÓSOFO A CONTRACULTURA E EDUCAÇÃO NOVA”
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“triButo de homenaGem e GratidÃo”
o 67º aniVersÁrio de FundaçÃo da escola sete de setemBro No último dia dezessete de fevereiro, numa solenidade intima, simples e singela, nas dependências da Escola, comemorou-se o 67° aniversario de fundação da Escola Sete de Setembro, tradicional educandario desta cidade. Fundada a 16 de fevereiro de 1.922, tendo como uma de suas fundadoras a querida e inesquecível mestra/Prof,Nicolina Bernardo, de quem fomos aluno, a exemplo de varias gerações de poçoscaldenses. Por muitos anos funcionou ela no antigo prédio da rua Assis Figueiredo que, além de abriga-la, era residência de suas fundadoras, na parte superior, onde ainda reside uma de suas an tigas proprietarias, a Prof. Margarida Bernardo, ja de avançada idade. Posteriormente, em virtude da aposentadoria de suas fundadoras e antigas proprietarias, a Escola foi vendida a algumas das professoras que ali lecionavam. Desse grupo faziam parte as Professoras Ana Maria Paiva, Maria Lúcia Sartori Pellachin e outras, cujos nomes não me ocorrem no momento. A transação, se não me falha a memória, ocorreu no inicio da década de sessenta, mudando-se a Escola para o antigo sobrado dos Curi, na esquina das ruas Paraíba com Mato Grosso. Nessa
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segunda fase, meus tres filhos, Cleyton Artur, / Marcia Cristina e Mércus Vinícius, bem como grande parte da atual geração de jovens ali estudaram. Por um largo período, fui responsével pela contabilida de da Escola, ali prestando meu modesto concurso como profissional . Atualmente, mantida pela Maçonaria, funcional ela no prédio do antigo “Lar de Irmã Catarina”, tendo como Diretora a Prof. Maria Lúcia Sartori Pellachin e, como Diretor Administrativo, o atuante empresario João Batista Delgado. Desde a sua fundação, ate os dias atuais, Inobstante as dificuldades que não são poucas, a Escola Sete de Setembro sempre manteve um elevado grau de ensino, através do trabalho valio so e dedicado de sua Diretoria e de suas professoras. Relevantes e inigualeveis serviços tem ela prestado no campo da educação, iniciando nas primeiras letras uma grande par te de poçoscaldenses. Razão pela qual, hoje e modelo e orgulho desta cidade. De parabéns estã essa querida Escola, sua incansãvel Diretora e demais membros da Diretoria, as abnegadas professoras e os funcionãrios, pelo transcurso do 679 aniversãrio de fundação. Por tudo de bom que nos fizeste, pela alfabetização correta de tantas de nossas crianças e pela inestimãvel contribuição ã cultura de nossa Terra, registramos nossa homenagem que, acreditamos, e a de todos os poçoscaldenses, e tendendo aquela que foi o símbolo e a mola—mestra desse modelar estabelecimento de ensino, a pranteada e sempre lembrada Professora Ni-colina Bernardo e a todos aqueles que por ela passaram, Que essa nossa simples e sincera homenagem represente o preito da nossa imorredoura gratidão, do nosso amor e desta imperecível saudade.,. Encerrando, transcrevemos o poema de nossa autoria, feito em honra da Escola Sete de Setembro há muitos anos atrás:
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QUERIDA ESCOLA Velho casarão de tradicional passado, Onde gerações varias se iniciaram Na arte do saber tão ilustrado, Levando de ti, as marcas que ficaram. Hoje, ao ver-te tristonho e acabado, Com suas seis grandes janelas que restaram; A olhar o mundo, sõ e abandonado, Segundo a vida dos que por ti passaram. Sinto em meu peito o pezar tristonho Ao lembrar que tu acalentaste tanto sonho, Hoje com tão pouca coisa se consola. Sabes que o fim se aproxima e te conformar, Pois, o progresso exige a tua morte, é a norma. Mas sempre viveras em mim, queri Da A.P.L., . e da U.B.E.
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o nosso Patrimônio histÓrico
“cadeira VaZia”
ProFessor jÚlio BonaZZi Como sempre viveu, na humildade e na simplicidade, nn dia 06 de dezembro passado, aos 87 anos de idade, faleceu o mestre JÚLIO BONAZZI. Natural de Pescia, na Itália, era casado com a Sra. Ida Profili Bonazzi, também italiana e da mesma localidade. Dei xou ele numerosa prole. Seus filhos, Carlos Antonio Bonazzi, casado com Iracema Martinez Bonazzi; Turido Ítalo Bonazzi, casado com Milka Baptis ta Bonazzi; Icilio Bonazzi (todos já falecidos, o último ainda na juventude) e a Sra. Clari Bonazzi Stoppa, casada com o cirur gijo dentista e ex-professor, Dr. Aldo Stoppa, vários netos e bisnetos. Radicado em Poços de Caldas há vários anos, durante um largo espaço de tempo exerceu ele, até aposentar-se, o espinhos, mistér de professor, em muitos Colégios locais. Era professor de matemática. O melhor deles! Várias gerações de poçoscaldenses com ele aprenderam a cancia dos números. Homem integro, honesto e dedicado ao trabalho, legou a esta cidade, que o acolheu, uma vida devotada ao ensino, onde se destacou como figura maior. Austero, enérgico e vigoroso na árdua missão de mestre, ele possuia o seu lado humano, compreensivo e amigo. Orientando sem castigar ou humilhar o aluno, grangeou ele a admiração e a veneração de todos os seus discípulos. Excelente chefe de família, marido exemplar, foi o patriarca de uma prole que, demonstrando e confirmando a grandeza do tronco de que provém, sempre honrou e engrandeceu nessa comunidade, segundo o exemplo daquele que, isolado na
sua simplicidade, primou pela retidão de caráter, pela honestidade, pela dignidade e pelo amor ao trabalho. Como tantos outros, tivemos a honra de ser seu aluno e o inefável privilégio de privar de sua amizade e, também de to da a sua família. Grande amigo e conselheiro, era indisfarçável o seu gulho ao saber ou acompanhar n sucesso daqueles que um dia foram seus alunos. gbeça branca, sempre de terno e gravata voz grave e sonora, sem alterações, a sua figura ainda permanece viva em nossa memória. Com pesar e tristeza, soubemos do seu falecimento depois de ocorrido. As asas negras e sombrias da morte o envolveram, cei-fando a vida daquele que foi o exemple sublime do amor e dedica çjo ao Magistério. Seu sepultamento, discreto e sem alardes, retratou o que em vida ele sempre foi. Na sua grandeza de alma e na magnitu de de sua personalidade, para a Eterna MOrada foi-se o insigne mestre JÚLIO BONAZZI. Um vazio imenso em nossos corações, simboliza que uma grande luz que se apagou na Terra. Mas, o horror da morte, longe de esmaecer a sua figura altiva e querida, dá-lhe novo esplendor e glória. Mesmo pnrque, njo estando, aqui está; porque as almas dos que estremecemos sempre estio onde’ ossas!!! ,Irmo diz GIBRAN, a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como no rio e o mar são umX e t)
“dona Zelinha” Naquele tempo, o Mercado Municipal funcionava onde hoje encontra-se instalada a Casa Carneiro. Ali era feito o comercio de hortifrutigranjeiros, carnes, aves, ovos e de outros géneros alimentícios. Não haviait as atuais feiras livres semanais. Os sitiantes traziam seus produtos no lombo de burros, mulas, cavalos e ate em carros de bois. Estes, quando bem carrega dos e pesados “cantavam” dolentes, como a fazer coro ã vOz vibran te e forte dos carreiros a estimular e conduzir as parelhas de ani mais. O movimento do Mercado crescia nos finais de semana, notadamente nos sábados de manhã. Havia muita fartura! Ainda recordo-me: os queijos eram trazidos em jacás de taquara trançada, acomodados aos pares nos lombos das montarias.As aves(galinhas, galos, patos, marrecos, gansos e outras), eram trans portadas dependuradas em uma vara comprida, tendo os pés atados com tiras de palha de milho. Talvez, em razão da abundância existente, os pais e mães de família preocupavam-se mais com a alimentação da prole. O restante vinha por acréscimo, quando vinha. Naqueles dias as famílias compravam mais. Não que no decorrer da semana inexis-tisse movimento naquele logradouro. Mas era nos sábados que os cabo elos e sitiantes se abancavam nas suas dependencias, mais precisa-mente, no pátio interno e ali vendiam de tudo. Eu, e tantos garotos da época, provindos de famílias de baixa renda, desde às seis horas da manhã, como não havia aulas aos sábados, ali nos encontrávamos carregando as cestas de compras para as senhoras da sociedade local. Raramente éramos contratados para acompanhá-
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las nas compras. O normal e geral era a solicitação para levarmos as cestas apôs concluídasragas.Os mais afortunados possuiam carrinhos de madeira, fazendo dois ou mais carretos em uma só viagem. Porem, estes eram uns poucos. A maioria, como eu, carregava as cestas, sacos e sacolas era no “lombo” mesmo. Não havia tabelas ou preço pré-estabelecido. O pagamento ficava a critério das senhoras, que nos remuneravam levando em conta: o número de arestas, o peso, a distância percorrida, etc. Mas, invariavelmente, pagavam elas o transporte no centro, ate a Matriz Cr$ 1,00(um cruzeiro); nos Bairros da Cascatinha, São Bene dito, Jardim dos Estados e altos da rua Assis Figueiredo Cr$ 2,00 (dois cruzeiros). Às vezes, as mais generosas nos premiavam com alguma fruta. Com o dinheiro recebido nas manhãs de sábado e domingo, mais o produto da venda de “gibis” usados, conseguia eu o dinhei-ro suficiente para pagar os ingressos meus e de meus irmãos nas matinás domingueiras e concorridas do Cine São Luiz. 4rntre todas aquelas senhoras ,ique hoje ecordo com res-peito, admiração e saudade, uma se destacava pela bondade, pelo carinho e generosidade com que tratava os meninos-como-ietl, que carregavam as suas cestas. Era a Senhora ZÉLIA DE ALMEIDA NOGUEIRA, a “ Dona Zelinha”, como carinhosamente era conhecida. Ela era esposa do Sr. Mário de jouza Nogueira que, ao que me parece, era corretor de seguros. A família, alem de ambos, era constituída pelos filhos: Marinho, José Tarciso, Maria Tereza(hoje viúva do saudoso amigo José Gracco Bertinatto), Maria Zélia, a “Nenete” e Sônia Maria. Penso que eles eram muito ricos., Segundo os padrões da época e minha ótica infantil, a casa deles, situada na rua Rio de Janeiro, era uma beleza, tinha até piano. Mas o que me impressionava mesmo, era a grande mesa existente na sala onde, todas as vezes que eu levava a cesta. em de gratificar-me com Cr$ 2,00, “Dona Zelinha”, sempre me incentivando pelo trabalho honesto, com palavras de ternura e de esperança, ainda me oferecia o café da manhã. Confesso que meu eterno acanhamento era superado pelo espan to e admiração que me causava aquela mesa farta, repleta de frutas diversas, geléias, pães, broas dàmilho, bolos de fubá, café, leite, sucos, manteiga e uns pãelinhos esquisitos(que anos mais tarde vim a saber tratar-se de “croissant”). Em meio a tanta fartura, eu me regalava e, satisfeito e agradecido, retornava ao Mercado para no vas empreitadas. 54
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Passado algum tempo, consegui emprego fixo, meu primeiro, por sinal, onde ganhava Cr$ 10,00(dez cruzeiros) por semana, para trabalhar no período da tarde, na banca do “Tião Sapateiro”, situa da na mesma rua Rio de Janeiro, na garagem da casa que hoje perten ce ao meu dileto e estimado amigo, Lindolfo Granero e suas filhas. Semanalmente, eu engraxava os sapatos de toda a família e, além da gorgeta sistemática, era ainda brindado com o lauto café matinal, digno de um rei. Saudoso e triste, retorno ao passado para relembrar e homenagear aquela senhora, cuja fidalguia, bondade extrema e lha neza no trato ficaram marcadas de forma indelével em minha memória. Meus agradecimentos, “Dona Zelinha”, pela generosidade de seu coração e, sobretudo, pelo incentivo dado aquele menino franzino e de calças curtas para que ele sentisse orgulhoso, honrado e recompensado por dedicar-se ao trabalho honesto e produtivo. No céu, onde tenho a certeza que a Senhora está, receba as orações e minha sincera e imperecível gratidão! Guarujá, em 08.07.92.-
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Falando de Poetas e “Poetas”
crĂ´nica de uma cidade
o PalĂ cio encantado da cidade
enFim, a casa da cultura
conselho editorial do municĂ?Pio
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Poços de Caldas do Meu Tempo
“DA QUIETA SUBSTÂNCIAS DOS DIAS” Em recente artigo publicado nesta coluna, sobre a inauguração da Casa da Cultura, dissemos que um dos grandes benefí-cios que ela traria seria o apoio, a promoção e a divulgação dos escritores locais. A prova concreta dessa assertiva e a publicação do livro “Da Quieta Substância dos Dias”, do consagrado escritor poçoscaldense JURANDIR FERREIRA. Não que ele ou sua obra necessitem de promoção. Ambos transcendem às estreitas fronteiras destas mo destas plagas, para desvendar, percorrer e deslumbrar horizontes mais largos, maiores e mais exigentes. Ganha a sociedade, isto sim! trabalho de JURANDIR FERREIRA dispensa comentários. Sua produção literária traz sempre a marca indelével da erudição, do manejo e do uso escorreito do vernáculo, sem afetação ou pedantismo. Escritor de renome internacional, e ele avesso e infenso às fatuidades, às louvaminhas, aos rapapés e aos ouropéis do sucesso fácil e efémero; e, também, do enganoso brilho da fama. Sem ser subserviente, e modesto ate no falar, fazendo-o sem alardes ou rompantes de grandeza ou, ainda, para usar uma de suas expressões: “não a campas tangidas”. Altaneiro e enérgico, quando preciso, não se deixa levar pelos modismos corriqueiros e nem verga-se à injustiça, parta ela de onde partir. inimigo fidagal da desonestibade e da fraude. Com rara felicidade, o Professor Antonio Cândido, ao prefaciar o livro ora referido, assim se expressa sobre o autor: “Nas mãos de Jurandir cada palavra, assim como seu arranjo, rece bem tratamento preciso 67
e oportuno. Trata-se de um escritor singular pela elegância do estilo, que parece brotar espontaneamente de uma necessidade interna, mas é fruto de critério que levou tempo e esforço para se apurar.” Seu livro “Da Quieta substância dos Dias”, é uma coletânea de crónicas que abrangem quase oito lustros, ou seja, de 1.946 a 1.984, todas elas sobre Poços de Caldas. Editada pelo Instituto Moreira Salles, a obra enfeixa as crónicas do autor de “Saia Branca”, “O Tocador de Requinta” e tantos outros, publicadas na imprensa local, relatando e retratando a vida ide nossa comunidade desde as épocas primevas até os idos de 1.984. É o retrato fiel, saudoso e sublimado de nossa querida Poços de Caldas, resultante da ética perfeita, da inspiração fecunda e da pena privilegiada de um dos seus filhos mais ilustres. Cada página virada, é um perfeito e sentido retorno às terras do nunca mais...É a lembrança de um tempo que, não fora ultimamente diligente e o trabalho de JURANDIR FERREIRA, estaria perdido por todo o sempre! Com invulgar maestria, o autor nos leva aos tempos de antigamente, contando, de modo sentimental e romântico, fatos tristes, alegres e pitorescos de uma Poços de caldas que quase não mais existe. Na galeria dos personagens que desfilam por seu livro, encontramos uma grande parcela de amigos e conhecidos. Na névoa do tempo, levantada a cortina que separa o passado e o presente, pudemos sentir, percorrer e brincar em lu gares e ruas, que outrora foram campos de nossos folguedos de criança. Para ANATOLE FRANCE: - “ O passado é a única realida de humana. Tudo que existe é passado.” O livro de JURANDIR FERREIRA, fadado ao costumeiro su tgj cesso, em boa hora é dado ao público. Quando o materialismo graça incontrolável. Quando o hábito da leitura .£4-postergado e su ---------_____ focado pelos meios de comunicação. Quando os mais jovens desconhecem a evolução natural da vida e das coisas, de grande valia N(414C é a lição do Mestre, pstran ocra-dna Poços de Caldas, a vila de antanho, o comércio era sem ganância, o trabalho um sacerdócio,( Correio, ou “mala postal”, mais precisamente, era feito a cavalo; o transporte, em carros de bois, carroças, tilburis, cabriolés, aranhas e charretes, e, o mais importante: - a homenagem e a re erà nossa cida veréncia prestadas aos homens e mulheres qüe f de! Do Gja., piP.Caldas, em 07.09.92.-
“seu” alcino Nossa amizade, apesar de sincera, desinteressada e inten sa, foi de pouca duração. Conheci-o em circunstãncial de profunda e inaudita tris teza e de grande sofrimento. Dizem que o sofrer, além de nos aproximar do Criador, tem o poder de unir as pessoas. talvez por isso ou por sua personalidade alegre e amiga, sei que nossa amizade floresceu e solidificou-se. ter “Seu” Alcino, Obstante ja avançado, em idade e, era bem apessoado e falante. Funcionário público municipal, era ele o vigia encarregado de zelar pelo estande de tiro, do TG. local, onde residia a trabalhava. Aposentando-se, continuou ele a residir no lugar onde 1 trabalhou por tanto tempo, contando com o beneplácido dos encarre gados pelo Tiro de Guerra. Mesmo com a redução de sua capacidade làborativa e a idade provecta, continuava ele a prestar o serviço para o qual fora contratado. Natural de Campestre, neste Estado, era viúvo e tinha um casal de filhos: Adão(já falecido) e Eva; tendo deixado vários netos e netas. Vivendo soginho, ansiava ele pela companhia de amigosoÇos tava de um bom papo em reviver sua vida, outrora agitada, contando passagens tristes e alegres. As viagens feitas por este Brasil, conduzindo boiadas a um desfilar sem fim de lances ousados e pitorescos. Quantas tardes de sábado ficávamos horas a conversar tomando o gostoso cafezinho, que ele fazia questão de preparar e servir. ALCINO MUNIZ RAMOS, era na sua pobreza à humildade, um homem honesto, probo e amigo sincero. Não era um revoltado com a velhice. Sofria apenas com o isolamento e o esquecimento a que
fora relegado. Dia destes, em conversa com o Sargento Viana, um dos responsáveis pelo TG., soube que o “Seu” Alcino havia falecido há alguns dias. k? notícia colheu-me de supresa, comovendo me pela perda do amigo querido. Nesta oportunidade, receba,meu saudoso e dileto amigo ALCINO MUNIZ RAMOS, meu preito de saudade e as orações sentidas que venho depositar em sua campa, onde quer que ela esteja. Que DEUS receba sua alma na eterna Morada’ P.de Caldas, em 14.09.92.-
o Grande Poeta Quem o vê caminhando lento, cansado e cabisbaixo, em sua infinita tristeza, não pode imaginar que ali vai um grande poeta.y uiçá o maior poeta vivo de Poços de Caldas e das Gerais. Infinitamente modesto, alheio ao sucesso e à sociedade, ele escreve como se transportasse para o papel sua alma sensível, triste e sonhadora. Estamos falando de MILTON FERREIRA DA COSTA! Durante vários anos,trabalhou ele no saudoso Diário de Poços onde, com seu profundo conhecimento da língua pátria e x inata sensibilidade, ajudava os mais novos que, como nós, buscan do um espaço por pequeno que fosse no mundo das Letras, desejava mos ver publicados um poema e um artigo. Paciente, bondoso e ami go, tinha sempre uma palavra de estímulo e encorajamento àqueles que buscavam seus conselhos e a inegável experiência. Autor de quatro livros (“Quimera Azul”, versos-1949; “Monólogo Noturno”, versos - 1.956; “Guímel”, novela - 1.977; e, “Um Vulto que Passou”, versos - 1.9810 poeta marca sua presença nas Letras Mineiras de forma perene e indelével, graças à beleza invulgar do seu trabalho e à expressiva imagem e às mensagens as mais belas que emanam de seus versos. Em nossa biblioteca possuimos somente os dois últimos livros. “Guímel” e uma primorosa, sensível, ingênua e pura es-7 . tória de amor, que comovek‘nternece nossos corações. Com rara felicidade e peculiar conhecimento, em maio de 1977, o consagrado escritor poços-caldense, JURANDIR FERREIRA, assim se referia à obra: -”É história que emociona pela surpreen dente e abaladora pureza, um livro que as crianças lerão sorrindo, os
adolescentes lerão sonhando e os mais velhos lerão chorando. Estes, imagino eu, serão os seus maiores leitores, porque todos nós, sem exceção, tivemos nossa Guímel.” “Um Vulto que Passou”, a nosso ver, é a sublimação e o esplendor do poeta. Modestamente designados versos, como o é o próprio autor, o livro reune,entre os poemas ali contidos, inúmeros sonetos e trovas, as duas mais difíceis formas da arte de ver seja, na qual MILTON COSTA é mestre consagrado e indiscutível. Impossível dizer-se qual o melhor ou o mais belo dos poemas. Excelente, pelo conteúdo, pelo que traduz e representa o soneto título “Um Vulto que Passou”. O “Poema Escrito Numa Carta em Branco” é belíssimo e de invulgar inspiração. Transcrevemos a seguir, como mostra da criatividade e da grandeza do trabalho do autor,este que é de nosso sentir um de seus mais belos sonetos: PRECE INÚTIL PERDOA-ME, Senhor, haver-me convencido de que me queres bem. Vaidade tola: o mundo é tão amplo, tão vasto, imenso, desmedido... sou simples grão de lama em pântano sem fundo. Não deves ter-me visto nem sequer ouvido. Onipotente que és, justiceiro e fecundo, não sentiste, talvez, meu pranto e meu gemido, nem o débil clamor do meu peito iracundo. Desculpa a pretensão: tantas almas aflitas te mendigam socorro e clemência e venturas... Jamais te alcançarão meus ais, minhas desditas. E os lamentos que escrevo em negro tom faceto são meras presunções de mágoas e torturas... Por certo nem lerás também este soneto. Nossa sentida e sincera homenagem ao grande poeta poçoscaldense/MILTON FERREIRA DA COSTA, inigualável mestre que, além , ct)Z--honra) c--01,14 4e—privex—de sua amizade, AaMi -(L.£44412 (te-a cada dia, a aetda possuímos u p n indtsfarsáveIorgulho-_ por ser ele primo de nosso tio, José Ferreira•osta. P.de Caldas, em 15.09.92.-
o PrÊmio merecido Como é de sabença comum, a ALCOA ALUMÍNIO S/A.(antiga ALCOMINAS), desde sua instalação, lá pelos idos de 1.970, sempre se preocupou com o desenvolvimento da cidade. Sempre apoiou, incentivou e patrocinou um cem número de atividades sociais, literárias, artísticas e esportivas. E ainda continua a faze-lo! Em nossa curta e modesta permanência a frente da Assessoria Jurídica do Município, pudemos acompanhar de perto a atuação dessa empresa que é o orgulho de todos nós e o seu relevante e expressivo trabalho na preservação do meio ambiente. Tendo à frente do Departamento de Mineração o excelente geólogo americano:DON DUANE WILLIAMS, aqui radicado há muito tempo,integrado de forma definitiva em nossa comunidade, em nossa “paisagem”. Tanto assim é que, dias atrás, comemorou ele, só de Alcoa, trinta anos de serviço. A empresa, desde 1.978, vem pesquisando e desenvolvendo um pioneiro projeto de reabilitação de áreas mineradas e o gerenciamento ambiental da bauxita. Antigamente ao depois de exaurida a área minerada, o replantio era feito com a utilização de florestas homogeffias de eucaliptos e capim gordura,obstante haver alcançado a finalida de pretendida, que é a contensão da erosão, principalmente. Não satisfeita, a empresa criou e mantém em funcionamento o Departamento de Recuperação de Áreas Mineradas da Companhia, que tem como responsável e supervisor o Engenheiro Agrónomo CLEYTON ARTUR FERREIRA DE MORAES. Esse Departamento, apesar da carência de tecnologia, cuida da recuperação do solo minerado sem deformar a obra da natureza, sem
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agressões ao meio ambiente, mediante um trabalho de importância capital para a paisagem local. Em síntese, o trabalho desenvolvido é o seguinte:- Previamente, apôs os estudos necessários, são coletadas espécies da vegetação nativa e uma camada orgânica composta de galhos, folhas secas depositadas na superfície do solo das matas, juntamente com uma pequena camada de terra. O material colhido é removido para o viveiro mantido pela empresa, denominado “Retiro Branco”. Termina da a extração do minério, a depois de corrigido o solo, aquele 1 material previamente colhido e cultivado é replantado, permanecen do a paisagem, depois de alguns meses, quase inalterada. Segundo os informes prestados pelo Supervisor: - “ b trabalho de revegetação desenvolvido pela Alcoa consiste em incen tivar a sucessão natural e, para isso, são feitas as coletas de sementes de espécies herbáceas e arbustivas nativas.(...) Com es se trabalho procuramos aproveitar tudo que a natureza tem, recons tituindo seu ambiente natural.”(Excertos pinçados da entrevista concedida ao jornal Gazeta Mercantil). Todo esse processo, constando de um trabalho bem elabo rado pelo citado Engenheiro Agrônomo, concorreu com inúmeras ou-tras empresas do país, ao Prêmio de Conservação Ambiental e Desen volvimento, organizado pelo Jornal Gazeta Mercantil, patrocinado pelo UNIBANCO e pela BRASILIT SIA., tendo por objetivo demonstrar que é possível assegurar o crescimento econômico sem degradar o meio ambiente, Uma comissão de especialistas, chefiada pela con-sultora LAURA TETTI, ex-diretora da Companhia de Engenharia Ambi ental de São Paulo-CETESB, analisou todos os casos inscritos e se lecionou 20 finalistas. Uma comissão de jurados, “samposta por personalidades de renome internacional e de comprovado conhecimento, relação a seguir apresentada: - FLÁVIO PERRI - Secretário de Meio Ambiente da Presidência da República; ISRAEL KLABIN - Presi dente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável; JOSÉ ZATZ - Diretor da Agencia para a Aplicação de Energia do Es tado de São Paulo; LUIZ FERNANDO FERREIRA LEVY - Presidente da Gazeta Mercantil; RAFAEL NEGRET - Assessor de Meio Ambiente do Banco Interamericano de esenvolvimento(BID) para o Brasil, Boli via e Paraguai; e, WASHINGTON NOVAES - Secretário de Meio Ambien te,
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Poços de Caldas do Meu Tempo
Ciência e Tecnologia do Governo do Distrito Federal, escolheu entre os finalistas, os cinco vencedores, destacando-se entre I eles a ALCOA ALUMÍNIO SIA., tendo em vista o expressivo e valio-so trabalho apresentado pelo poços-caldense e supervisor do Depar tamento de Recuperação de fireas Mineradas da Companhia,’-Enge-nheiro Agrariam°, CLEYTON ARTUR FERREIRA DE MORAES. A solenidade de premiação dos vencedores aconteceu no Sheratton Mofarrej Hotel, na Capital de São Paulo, no último dia dez de setembro. Congratulações “à ALCOA ALUMÍNIO SIA. pelo prêmio mais do que justo e merecido, em nosso nome particular e de toda a cidade, com o registro de nosso perene agradecer. Não bastasse a alegria de poços-caldense, o velho e 1 sentido coração deste modesto escriba bate acelerado de júbilo e de orgulho incontidos. O Engenheiro Agrariam° CLEYTON ARTUR FERREI RA DE MORAES, além de natural desta cidade é filho do autor des-tas singelas linhas. Parabens meu filho! Que DEUS o abençoe e ilumine sempre o seu caminho! É o dardo arremessado, atingindo as culminâncias nunca dantes sonhadas ou conquistadas pela melho e cansãdd\arco! Orgulho de pai, bem o sabeffios. Porem, fido incontestável! P.de Caldas, 24.09.92.-
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o Valor do traBalho Acostumado ao trabalho desde cedo, pois, com menos de dez anos de idade, já estudava de manhã e trabalhava na parte da tarde, tenho como lemal_f/q e somente o trabalho honesto e produtivo tem o poder de alterar o curso da história e mudar o mund Os frutos do trabalho são tardios, porém, são certos e, uma vez sazonados e colhidos, se perpetuam. Outros meios exis tem, por certo. Todavia, são eles efêmeros e precários. Com a mes ma rapidez com que se realizam, eles se estiolam no curso natural da vida. Para GIBRAN, o trabalho 4(, - É p.8r em todas as coisas que fazeis um sopro da vossa alma.” Quando exercemos com amor a profissão escolhida,ainda que não financeiramente, realizamo-nos como profissionais. O tra-balho não pesa! As vitórias são os frutos da realização e da sa tisfação do dever cumprido. As derrotas servem como lições e experiências e, mais ainda, como estímulo para o aperfeiçoamento do nosso trabalho, da nossa personalidade. É no cadinho sagrado do trabalho, no cotidiano da vida profissional, nas alegrias e nas tristezas enfrentadas que se for jam a honestidade, a probidade, a dignidade e a grandeza do ser humano. É ali que se amolda e consolidas mro caráter do homem! Eu,de minha parte, amo de forma total, com integral doação a profissão escolhida: a ADVOCACIA! NUma escala de valores diria que, em primeiro lugar amo a DEUS, em segundo, minha família e, em terceiro, minha profissão. Esse amor e essa dedicação, tornam-me suspeito para discorrer sobre ela. Sem deslustrar, desmerecer ou menosprezar qualquer ou-tra profissão, eis que todas elas são dignas e necessárias, tenho para comigo que a medicina nasce das dores do homem e, as demais profissões, de
suas necessidades. Já o direito precede o próprio ser humano(o direito do nascituro) e com ele nasce! correm-me à lembrança, neste momento, as palavras do inesquecível mestre RUI BARBOSA, referindo-se ao exercício da advocacia, na “Oração aos MOços”: - “ Na missão do advogado também se desenvolve uma espécie de magistratura. As duas se entrela çam, diversas nas funções, mas idênticas no objeto e na resultan-te: a justiça. Com o advogado, justiça militante. Justiça imperan te, no magistrado.” Muito embora os raros atributos com que me distinguiu a natureza e as grandes limitações de que sou portador, posso dizer que tive a honra e o grande privilégio de ser Juiz de Direito, lo grando aprovação em concurso de provas e títulos, hoje aposentado voluntariamente, por tempo de serviço. Procurei servir ã magistra tura, como tudo que fiz na vida, com indenpendência, dignidade, retidão e honestidade. Mas, advogado sou. £como advogado eu hei de morrer... Nossos filhos são a forma e o registro de nossa passa-gem pela vida. 31ts ão a certeza de que, através deles, em nossos netos e demais descendentes, continuaremos a viver. E essa certeza é muito mais gratificante, quando um de nossos filhos resolve seguir a mesma profissão que abraçamos.Quan do isso acontece, e ele segue as mesmas pegadas, percorrendo os mesmos caminhos, enfrentando a mesma luta, os mesmos embates e os mesmos obstáculos, temos a convicção confirmada e reforçada de que nossa existência não foi em vão. Eu, com as sagradas bençãos de DEUS, Nosso Pai, recebi essa graça em dobro. Tanto minha filha MARCIA CRISTINA DE MORAES CORRÊA, advogada, e meu filho caçula MARCUS VINICIUS FERREIRA DE MORAES, estagiário de direito, escolheram a mesma carreira que, desvalida, mas honradamente exerço. Dou-vos glórias e louvores infindos Senhor, pelas dádi vas com que, durante todas esta deslustrada e pobre existência, premiaste este Teu filho, entre todos o menor e o mais pecador. E, no altar sacrossanto do coração, com a alma genufle xa, no sentido silencio de uma prece rogo-Te que abençoes e(Acom panhes estes filhos que em mim se espelharam! Da mesma forma como a mim fizeste, iluminai o caminho por eles escolhido para que, no fim da vida, como eu, realizados profissionalmente, possam eles dizer:OBRIGADO/SENHOR!!! P.de Caldas, em 03.10.92.-
o cerrar Fileiras na tristeZa O ser humano, a exemplo de todos os seres vivos, possue seu ciclo de vida que um dia termina,,para tristeza nossa. No decorrer dos anos, vemos desaparecer aqueles que nos são caros. Parentes e amigos vão-se deste mundo numa sucessão amar ga e triste. É um cerrar fileiras na dor, na tristeza e na saudade, que marca indelevelmente nosso coração e veste de negro a nossa alma... Disse um escritor desconhecido que: - “Chegar e partir são fases de uma mesma viagem.” Mas, como dói a partida... Assim, não mais veremos o querido e alegre amigo NIVALDO PASQUINI, o popular “Bicudo”, desaparecido d dia 20 de setembro pretérito, de forma abrupta e dolorosa. Ainda outro dia, em conver sa com a Sra. “Zeze” Danza, viúva do sempre lembrado Ui-tirai° Danza, dizia ela haver combinado.com o “Bicudo” e sua,esposa, como sempre b fazia, encontrarem-se na parte da manhã do domingo, dia 20, na Praça Dr. Pedro Sanches. Mal sabia ela que, naquela hora.e naquele dia, nosso amigo Nivaldo deixava este mundo. “Bicudo”, além de amigo e companheiro, era brincalhão, sempre espalhando o riso e a alegria à sua volta. Era, tambem,fã de meus singelos escritos. Certa feita, logo após haver eu lança do meu livro de poemas, “Retalhos d’Alma”, em 1979, encontrei-me com ele, casualmente. Qual não foi minha supresa e felicidade, 1 quando ele pediu-me um exemplar de meu singelo trabalho. Mas, autografado, exigiu, NIVALDO era casado coma sra. Nair e deixa uma filha.Era irmão do Walter, do Lázaro e
do Rolando Pasquini, ex-gerente do UNIBANCO, onde aposentou-se. Amigo de longos anos, Rolando foi o Técnico do sempre lembrado “Borboleta Futebol Clube”(nome dado em razão de todos os seus integrantes, na época, usarem a indefectí-vel gravata borboleta), onde jogávamos nós, os estudantes da sau dosa e inesquecível Escola Tócnica de Comercio. Durante alguns 1 anos os dois, Nivaldo e Rolando, foram proprietários do Bar Car-letto, de”gloriosa memória”, como diria meu amigo Renato Sebastião Ferreira Bucci,-ásCrivão do crime na vinha Campestre. Retornando ontem, dia quatro, da nossa Chacrinha, onde costumo permanecer para recarregar a bateria” e onde estivemos Márcia e eu, desde o dia trás, depois de havermos cumprido o de-ver cívico do voto, fiquei profundamente consternado com a infaus ta notícia do passamento do dileto amigo HUGO GAIGA que, de forma não menos abrupta e dolorosa, de inopino deixou este “vale de lágrimas”, no dia tres, sendo sepultado em naquele mesmo dia. HUGO GAIGA, bonachão, companheiro e amigo, com sua vóz de barítono, a contar os “causos” de suas pescarias e desta Poços de Caldas. Era ele casado com Dona Irene e deixa vários filhos e netos. Juntamente com seus irmãos e também amigos queridos, Ro naldo, Romeu, Helio e “Nenê” Gaiga, após o falecimento de seu pai Ângelo Gaiga, durante muitos anos esteve à frente da tradicional “Casa Gaiga”, de saudosa memória. Loja de rara qualidade e expres são para seu tempo, onde a população poços-caldense compravande eram confeccionados, de modo artezanal e carinhoso, os mais varia dos e difíceis aparelhos, botas e sapatos ortopédicos. É com pe dar e profunda tristeza que registro estes dolorosos fatos, externando às famílias enlutadas meu profundo sen timento de dor e as sentidas condolências, registrando a certeza de que as imagens de ambos hão de permanecer em nossa memória. No coração daqueles em que plantamos apenas uma semente de amor, viveremos eternamente! P.de caldas, em 05.10.92.-
Virando a Pà Gina da histÓria
o lutador incansÁVel Nossa amizade remonta há muitos anos atrás e não se pren de ou se origina se na política. Ela está plantada em raízes mais fortes e profundas:- no dia a dia, no trabalho e na familia. Nossas filhas;”Tininhan e “Beta” são amigas desde pequeninRs.Ersm companheiras inseparáveis de estudos efolguedos. Nossas esposas, Márcia e Dona Cristina, mantinham uma amizade sincera e constante, somente rompida com o abrupto e doloroso passamento de Sra. Cristina, cuja memória ainda permanece viva em todos nós sue tivemos a ventura de conhece-1a. Refiro-me ao querido amigo, companheiro leal e dedicado, sempre presente em todas as horas, sejam elas de alegria, sejam de tristeza: - o ex-Deputado, Vereador e, agora, VicePrefeito recém eleito no Ultimo dia tres(3) de outubro, ROBERTO BENEDITO JUNQUEIRA, ao lado do novo Prefeito, o não menos amigo e compa-nheiro Luiz Antonio Batista, em expressiva e marcante vitgria re gistrada nos anais da política desta cidade. Descendente da tradicional família JUNQUEIRA, altamente conceituada não s6 na cidade, mas em vários pontos dos Estados-Membros de Minas Gerais e São Paulo, SEis antepassados foram os fundadores de Poços de Caldas. Foi ele casado com a saudosa amiga Sra. CRISTINA BIANCHI SANTOS JUNQUEIRA, tem duas filhas excelen-tes, amigas e carinhosas4Roberta, casada com Rui Frayha; e n caçula Fabiola, ce504R( solteira. É ele excelente chefe de família e pai extremado,
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tudo fazendo por seus entes queridos. Como ami go, g leal, dedicado, fiel e bondoso. Avesso aos rapapés e às ba julações, que repudia e repele sem contemplações, jamais exigiu ou aceitou de seus amigos e companheiros qualquer ato servilismo ou vassalagem. “ROBERTÃO”, como é carinhosamente conhecido, o exemplo vivo e marcante do político sincero, honesto, caridoso. Ho-mem simples, de hábitos comuns, integro, de vida ilibada e cará ter impoluto, possue um grande e generoso coração. É um ferrenho batalhador em prol desta cidade que tanto ama. Sem alardes, sem pompas ou ostentações, no silencio e na quietude que marcam e engrandecem as boas ações, vive ele a ajudar os mais carentes. Através de terceiros, sabemos que, enquanto Vereador, seus ven-cimentos sempre foram distribuídos às entidades filantrópicas e caritativas da cidade. Homem público de incontáveis realizaçõeslem favor de Po ços de ealdas e da região, pela relevância e grandeza do trabalho por ele desenvolvido, suas aspirações s o pequenas, despidas da ganância e da ânsia de poder que carcteriza e identifica todo aquele que é guindado a um cargo público. Seu único desejo e indesmentido ideal e continuar trabalhando pelo engrandecimento de cidade onde nasceu e à qual devota um amor imensurável. Sempre colocando os interesses da comunidade acima de qualquer outro, por eles luta com denOdo e dedicação extremada. Se um projeto é benéfico para a sociedade poços-caldense, ainda que partindo da oposição, lá está ele à frente erguendo a bandeira da inicia tiva, da luta, da dedicação e do amor à causa pública. Enquanto Deputado Estadual, sua dedicação a todos quem tos o procuravam era inexcedível. Seu gabinete na Assembléia Le gislativa era ponto de encontro dos poços-caldenses e amigos da região. Quantas e quantas vezes o procuramos, levando-lhe proble mas os mais variados de clientes e amigos.’ Uns em situação difícil, por falta de emprego e de redursos. Outros, enfrentando com plicações fiscais e tributárias e ele, com o seu comportamento alegre, simples e prestativo sempre conseguia a solução para os casos mais intrincados, acompanhando-os pessoalmente. Homem que tem a força dos espíritos retos, lutador in-defesso, não se deixa abater ou abalar por causas externas. In-fenso à vaidade e à soberba, não se considera infalível ou — insubstituível. Sua atuação como político
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muito tem beneficiado não só Poços de Caldas, mas grande parte do sul das Gerais. A fulgurante carreira politica, repleta de realizações e obras de vulto em beneficio da comunidade, é a marca luminosa de sua passagem pelo cenário político. Tanto na vida privada,como na pública, sempre. manteve posições e atitudes claras e definidas. Com um vozeirão tão-e-só seu, franco e positivo, vai direto ao assunto, sem peias ou rodeios. Sobre ele, pode-se dizer o que disse DANIEL DE CARVALHO a respeito de RAUL SOARES e FRANCISCO SALES:- ° Apresenta ele as características dos grandes políticos mineiros do tempo do Impe rio e da República Velha. Probidade pessoal, rigoroso escrúpulo no emprego dos dinheiros do erário, decânc:ia na vida pública e privada, lealdade para com os chefes, os companheiros e o parti do, dedicação ao bem comum, equilíbrio e segurança no meio das paixões e dos movimentos desordenados da opinião, visão clara dos interesses de Poços de Caldas, de Minas Gerais e do Brasil, tem o culto da pavra empenhada.°(°Novos Estudos e Depoimentos”, Livraria Jose Olympio Editora - 1959). Por seu trabalho em beneficio desta querida Poços de Caldas, pela amizade sincera e sempre presente, ao amigo, ao grande homem público ROBERTO BENEDITO JUNQUEIRA, o registro des’ ta homenagem, pálida e desvalida por certo, poro repleta de admiração e estima. P.de Caldas, em 12.10.92.-
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o anjo tutelar dos necessitados Na verdade, nós nos conhecemos na Capital de São Paulo, lá pelos idos de 1.953 ou 1.954. Naquela época, ainda menino,com meus treze ou quatorze anos, trabalhava eu, como auxiliar e aprendiz, em um laboratório d rótese dentária pertencente a trés protéticos dos quais me recordo apenas os seus primeiros nomes:- Januario, Geraldo e Jorge. O Laboratorio situava-se na antiga Praça Clóvis Bevilácqua, hoje desaparecida, cedendo espaço à nova e mo-derna Praça da S. Ali eram narradas por meus chefes, periodicamente, as fa çanhas e os atos de caridade desse incomparável e incansável anjo tutelar dos necessitados, que é JACQUES RODRIGUES DE CARVALHO. Estranhavam eles o fato de, havendo eu residido em Poços de Caldae, não conhecesse o famoso e caridoso protétíco. Fazendo um parentese, cumpre registrar que, ao que me consta, ) JACQUES é natural da tinha e querida Campestre, cidade que me é particularmente cara, pois ali advoguei durante largo tempo e foi onde iniciei-me na Magistratura, deixando infindáveis e inumeros amigos, dela guardando gratas e inesquecíveis recordações. Não me e possivel precisar quando ele aqui fixou residencia. Talvez tenha sidc quando eu já me encontrava na Capital de São Paulo, onde residi de 1.949 até o final do ano de 1.955. Um belo dia, apareceu ele no laboratório, como sempre o fazia, para deixar seus serviços de prótese dentária que ali eram confeccionados. Fomos apresentados e entre nós
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floresceu uma sin-cera e grande amizade, cimentada na admiração, no respeito Mútuo e na caridade, que até hoje perdura. Na primeira oportunidade que vim a Poços, logo após co-nhece-1o, fomos levar calçados e roupas por ele angariados, aos presos recolhidos à Cadeia Pública local que, naquela época, em 1.954, funcionava em um casarão localizado na rua José Piffer, também conhecida porska dos Ânchados”, na Casacatinha, assim chamada pelo forte e pronunciado aclive. Sempre que ia a São Paulo levar os serviços, Jacques dor mia no laboratório, para fazer economia mesmo sem a inflação assustadora que hoje assola o pais, sem os “PCs.” da vida... Sem a “República de Alagoas”...Eram tempos difíceis e de muito trabalho. Ainda assim, apesar da árdua luta, das dificuldades e dos obstáculos enfrentados e superados, jamais ouvi de seus lábios uma palavra de revolta, de amargura ou de indignação. Depois de muita luta, de anos e anos de trabalho, de in gentes esforços e de uma fé inabalável, conseguiu ele realizar o seu sonho maior: a costrução e a manutenção do Albergue e Pronto Socorro do Jacques, onde atende aos necessitados, quaisquer que sejam eles, sem distinção de credo, cor, raça, o ou condi ção. Inabatante todo o sofrer, o desgaste e os reveses encon trados em sua santa caminhada, ele é de uma alegria contftgiante, o riso constante(é”o sorrir com os olhos”), a fisionomia aberta e sincera. Sempre disposto a auxiliar a ouem precisa. Dos seus lábios, nas situações mais adversas e aflitivas, sempre brotam palavras de consolo, de esperança e fé. Para ele a caridade é o lema maior de sua existência. Sua vida é um verdadeiro apostolado! Com sacrifício da família e dele próprio, pela vida em fera vai o meu querido e dedicado amigo, qual um anjo de bondade, semeando o bem, atendendo a todos, levando o conforto material e espiritual aqueles que necessitam. Os Santos, como os humildes mortais, também percorrem a sua estrada de martírios e de provações, antes de atingirem as culminâncias da realização na caridade, na esperança, no amor e na fé. E esse caminho, difícil, ingrene e tortuoso a principio, no final se transforma, ilumina e resplende em ondas de luz e de cores esplendorosas, na consagração e na recompensa àqueles que na Terra foram carido&os, humildes, humanos e generosos, desape-
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gados dos bens materiais e indene das mazelas humanas. Essa a estrada da santidade... essa a estrada que você percorre no cotidiano da sun vida e na prética da caridade, meu valoroso e estimado amigo, JACQUES RODRIGUES DE CARVALHO da estrada dos Santos, dos humildes, dos uros de coraçao e de alma... “Cantinho dos Sonhos”, em 23.1o.92.—
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o Poder e a Força da amiZade Feliz do homem que, no mundo atual, encontra um amigo. É a amizade nascida na obra dignificante do trabalho, na comunhão dos mesmos ideais que valoriza uma existência. Trabalhava eu, na ocasião, no Cartório do Ofício da Comarca, kmde ingressara atraves-concurso)i~itular era o sau doso amigo Aldo Dias Simões Vieira. O Tabelião Substituto era o querido e grande amigo Jose Botelho Muniz Neto, hoje titular do Cartório do Registro de Títulos e Documento e organizador, fundador e Membro efetivo e atuante de várias obras de benemerência, dentre elas destacandose o Banco de Olhos da cidade de quem eu já e-Ta---amigo -e---admirador de longa data„ . “Zé Botelho”, para complementar o orçamento, representava e ven dia o livros do “Clube do Livro”. O primeiro Código Comercial e o meu primeiro Dicionário dos Irmãos Lello, em tres(3) volumes, dele comprei, em 1.963. Ali eu exercia a função de Escrevente Auxiliar concursado, tendo como companheiros e colegas Edgar Latrônico, ho je também Magistrado, no Estado do Paraná; Jeremias Amaral, reno-mado advogado local e Miguel Passos Neto, funcionário do Banco do Brasil SIA., agencia desta cidade. Havendo me casado em dezembro de 1.962, as despesas au mentaram e o salário que já não era muito, tornou-se insuficiente. Após muita negociação, consegui com o Sr. Aldo um aumento que aju trI121 dou um pouco. .1fl ‘ Como-mald,ip-lemax,a,~(ecnico em Contabilidade no ano anterior, resolvi complementar o orçamentp_
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domestico fazendo algumas escritas à noite ar-perle _e-scritaa_ parae-para- ou treys-C65Eaddres-maiS■agies.a Com isso1 consegui) relln-ír-a-Igumas- ______----- ‘-1 . pequenas_ases-; com- as-quai-&-iá:equlibrando- o orçamento. Um belo dia, em conversa com o Contador LUÍS CARLOS VERONESI, o “Kau”,-;,contando-lhe minha situação, perguntei se não ti -YYte c Xy-ei’jr nha ele algumas firmas que íb mais desejasse fazer a esc ituraçao e---pu-desse”passarme, Qual não foi minha surpresa quando ele, com o seu modo franco, sincero e objetivo, disse-nre-não-p-o-ssuir nenhuma-O- -------- ; es-cTi;ba:, fa o=mék--Seguinte proposta:Mr ajudaria no seu escritório e, alem do salário que me pagaria, eu poderia fazer minhas escritas, usando desde seus impressos ate os móveis, máquinas de es crever de somar, etc.’fSeu escritório era localizado na rua Assis Figueiredo, nó 1.051, no 20 andar, funcionando, no térreo, o anti-go Palácio dos Fogões, onde hoje funciona a Casa Paraíso. Lembro-me perfeitamente que impôs ele uma única condição que, a meu sentir, nada mais era que verdadeiro incentivo. Ele me ajudaria apenas uma vez. Foram suas palavras:- “ Se você estiver agarrado ã borda:, do poço, eu pisarei em seus dedos para que voce afunde mais rápido.” A proposta, apesar de tentadora, era temerá-ria. O sucesso dependeria unicamente da minha capacidade de traba lho. Conversei com Márcia, já grávida de nosso primeiro filho, o Cleyton, tendo ela me apoiado. Ainda receoso, aconselhei-me com o grande(em ambos os sentidos) e querido amigo/Jose Carlos Domingos, o “Tio Gordo”, então funcionário da empresa de ônibus J.Maringolo, que fazia a linha Poços-São João da BOa Vista, com escritório, lhor dizendo, agencia de passagens situada à rua Rio de Janeiro,p n412/ ncentivou muito, dizendo: “ Na pior das hipóteses, mesmo que não de certo, voce adquirirá experiencia e se tornará conheci do, podendo instalar seu próprio escritório.” Aceitei a oferta. Logo em seguida, o “Kau” montou outro escritório, situado na rua São Paulo, para lá se mudando.- fiquei eu. rabalhando em suas escritas e nas minhas, com uma vontade enorme de aprender e de realizar-me como profissional. A ajuda e o incentivo funcionaram. Dentro em breve, adqui ria eu outras salas, comprando máquinas e móveis. Montando meu pró prio escritório de contabilidade.
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relativamente bom. Convivendo com ele no dia a dia, muito aprendi. Não só na contabilidade, mas verdadeiras lições de vida e de bondade.Tra-balhador, honesto, profissional competente e íntegro, possuia mui to serviço. Costumava dizer: “Se algum cliente deixar de pagar seus serviços por vários meses, sem justificação, entregue a escrita.Não fique se lamentando e tentando receber, pois, assim, você perderá tempo e oportunidade de produzir e ganhar mais.” Boníssimo, sempre pronto a ajudar o próximo, não media esforços(n-a-maís-das(ezes colocando dinheiro do próprio bolso) ,pa conseguir a aposentadoria, o seguro e acertar outros assuntos de quantos o procuravam em razão de sua fulgurante inteligência e pro fundo conhecimento, aliados ao seu generoso e imenso coração. Quan tas vezes o ajudei a entregar cestas de mantimentos e outros arti-jgos aos menos favorecidos Casado com Junes Frison Veronesi, possue os filhos ‘Juiza Helena, Ana Cristina, Cláudia Maria e Luís Cesar. Os filhos, atual mente, trabalham e mantem em funcionamento o escritório de presta-ção de serviços por ele iniciado. Amigo fiel e leal companheiro de todas as horas, não me faltou na doença. Serviume com solicitude, presteza e dedicação. No comercio da amizade é ineNcedível. Todos que dele se acercam e com ele convivem podem atestar a sua bondade, seu caráter retilíneo. Sabe valorizar e auxiliar os que lhe são ca ros. Na boa e na má fortuna, sua grande felicidade é conservar os amigos sinceros e verdadeiros pela vida ,E,J fora. O renomado escritor J.M.SIMMEL, em seu livro “Só o VEnto sabe a Resposta”, afirma: -” O Bom Deus dá às criaturas, como compensação pelas suas atribulações, sofrimentos e misérias, tres coi sas: - o sorriso, o sono e a esperanç2”/Eu acrescento a quarta, 1 que é a amizade. É de meu sentir, sempre acreditei e afirmo: aben-çoado é o homem que consegue repartir um pouco do que possue. Nem que seja um simples sorriso, um gesto de carinho ou um pouco de amor. Esse homem pode ter a certeza de haver encontrado o caminho da verdadeira e eterna felicidade... Controvertido e contestador nato, ele é um incansável batalhador em prol desta cidade e sua gente! Recordo-me do nascimento do seu último filho. Mesmo sen do o pai extremado que é, amando as filhas com desvelo, intensida de
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e carinho, Luís Cesar, nascido a 18 de fevereiro de 1.966, é o varão que ele sempre desejou. As comemorações foram tantas que,ao fim do dia, não mais aguentávamos. Mas, o fato marcante como não poderia ser diferente, é que ele, “Kau”, ganhou na loteria, no jo ‘v’tA go do bicho e todas as rifas por ele compradas, uma vez que jogou no número do quarto onde a Junes ficou, na Santa Casa de Misericór dia. Os asilos e pobres da cidade é que foram beneficiados, recebendo grandes quantidades de géneros alimentícios e outras uti lidades sorteadas. Com esta singela e despretenciosa crônica, registro a minha gratidão e a homenagem a essa figura humana extraor é o amigo LUIS CARLOS VERONESI, o popu4ar “KAU”, rodor que o conserve como é! Pode Caldas, em 25.10.92.-
um FarmecÊutico do interior Sem sombra de dúvidas, ú ele um verdadeiro Boticário do interior. Homem simples, coerente e equilibrado. Modesto e tímido, a vida toda viveu entre seus sais, suas fórmulas e remúdios. Por entre as prateleiras da sua farmácia, hoje considerada um dos mais modernos e atualizados estabeleci-mentos, reina ele absoluto. Oportuna e merecidamente, hoje rendo minha homenagem ao amigo querido, ao confrade e companheiro dedicado e leal, ao grande farmacêutico que e BENEDICTO CYRILLO DE OLIVEIRA, fundador e um dos proprietários da Drogaria e Farmácia Rosário, orgulho de Poços de Caldas. Dotado de um generoso e imenso coração, de uma olmo sensível, pura e caridosa; católico fervoroso e praticante, ú um dos mais edificantes e grandio sos exemplos de especime_do gúnero humano que me foi dado conhecer, digno de ser imitado. Sempre pronto a atender o pobre ou o rico, com igual desvelo,. pres teza e solicitude, o “Dr. Cyrillo”, como ú carinhosamente chamado pelos que o procuram, em sua salinha reservada, ú o próprio anjo da bondade, irradiando sim patia e esperança, ouvindo e atendendo todos aqueles que nele buscam o lenitivo e a cura para os seus males. De conduta ilibada, quer na vida privada, quer na profissional, cará ter retilíneo, honesto e prõbo, seMlema e norte ú o trabalho! Em vários car-gos, instituições e clubes de serviço, prestou e ainda presta serviços de rele vãncia e de grande valia para nossa comunidade. Casado há mais de cinquenta anos com a Sra. Maria Macedo Cyrillo
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de Oliveira, desse consórcio, que, desafiando o tempo há mais de dez _lustros(fato raro hoje em dia), nasceram os filhos seguintes:Benedito Júnior, casado com Marilene Severino Cyrillo; Tereza Cyrillo Gutierrez, casada com Milton Gutierrez; e, Pedro Neliton Cyrillo de Oliveira, casado com Marilda Carneiro Nogueira da Silva de Oliveira, que lhe deram inúmeros netos e bisnetos. Sobre a sua atuação profissional, podemos aplicar as referencias de singular felicidade, feitas por outro famaceutico de nomeada, o saudoso Oscar Nassif, na monografia “Espelho do Boticário”, que ilustra o livro de outro não menos inesquecível e querido boticário, Alfredo Valques: - “Não sou sacerdote, mas sou mais que isso, pois não sei dizer “r1150” ao ver uma criança doente e sem remédios. Luto para criar meus filhos, sustentar minha família; jamais go zei ferias. Minhas distração e conversar com os meus vidrinhos na prateleira:-”Voce e meu. Voce aí, ainda não, pois ainda não paguei a duplicata!”(...) E eu, fazendo um exame de consciencia, digo apenas: - Sou um farmaceutico!”. A par dessa vida de abnegação e dedicação fervorosa ao trabalho, BENEDICTO CYRILLO DE OLIVEIRA possue outra face que, desconhecida da maioria dos seus conterrâneos, como e costumeiro, e o labor poético, que o destaca e consagrada. É onde o poeta boticário revela todo o estro maravilhoso de que e dotado. Se esta atividade de poeta não exce(e a de farmaceutico, em nada se mostra inferior. Aqui ele extravasa toda a sensibilidade e o romantismo que habita em seu coração simples e em sua alma sincera e sonhadora. Com um cem número de trabalhos publicados, colabora em vários jor-nais e revistas de Poços de Caldas e da região. Tem editado o livro de poemas “Janela para o Crepúsculo”, que se encontra na segunda edição esgotada. Seus poemas, obras primas da poesia coetânea, revelam a índole romântica, o sonho, a esperança que animam e inspiram os versos que, generosa-mente, ele oferece e brinda àqueles que lhe são caros. Distribuindo-os a mãos-cheias pela vida erix, ora. Tenho a honra e o indisfarçável orgulho de com ele conviver, perten cendo ao círculo imenso de seus amigos e admiradores incondicionais. Para o júbilo de todos nós, esse expoente das Letras não só de Poços de Caldas,e das Gerais, mas do Brasil, faz parte da Academia Poços-Caldense de Letras, onde e titular da Cadeira n2 27, que tem como Patrono Pedro
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Saturnino. Alem disso, faz parte de sua Diretoria, ocupando o cargo de 22 Vice-Presidente. Em 25 de outubro de 1.982, com erudição e brilhantismo, em concorrida noite de gala acontecida na Casa do Saber local, proferiu o elogio hisórico do seu Patrono, peça de rara beleza e de indiscutível cultura. Dia destes, encontrando-o casualmente, disse-lhe haver encontrado en tre meus guardados um dos seus mais belos poemas. Ao que ele respondeu: - “É, Marcus, a vida e assim. Só nas coisas antigas hoje eu existo.” Engano seuimeu dileto amigo. Sua vida, tanto a profissional, como a literária e os inestimáveis serviços prestados a esta cidade se encarregam de imortalizá-lo e de monte-lo sempre presente no coração de todos nós que o estimamos. Sua obra, vazada em linguagem escorreita e perfeito vernáculo, reple ta de lirismo, e um excelente e maravilhoso bouque das mais finas e belas flo-res da poesia nacional. Dentre ela pode-se destacar “Velha Caso”, “Quando Jesus Passar”, alem do belissimo e perfeito soneto “Ao Farmaceutico”. Mas, a meu tir, fRobstante a beleza que eXPlende toda sua produção, um poema se destaca pela sonoridade, pela mensagem linda que encerra, pelo ramo e pela harmonia e cadencio dos decassílabos. É o poema “A Esperança”, encontrado em meus guar dados e com o qual encerro esta modesta, mas sincera e merecida homenagem ao amigo, companheiro paciente e bondoso, inigualável poeta e excelente mestre que e BENEDICTO CYR1LLC) DE OLIVEIRA. A ESPERANÇA Nos tempos bons da minha mocidade, Recebi um recado certo dia, Quem me mondou foi a felicidade, Eu quero ser a tua companhia. Exultei de contente. Alguns viinhos Disseram-me: desista de esperar. Ela nunca passou nestes caminhos, Vai mandar a esperança em seu lugar. E a esperança chegou...Trouxe floradas,
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Pôs guirlandas de sonhos nos portões. Enfeitou de quimeras as sacadas, Encheu a casa toda de ilusões. Numa lição de sábio conteúdo, A esperança chegou, fez o que quN Ensinou-me a sonhas, e eu tenho tudo, Pois basta um sonho para ser feliz. P. de Caldas, em 24.11.92.-
memÓrias de um BoticÁrio da roça Dia destes, não me recordo onde, vi uma referência sobre a obra “Memórias de um Boticário da Roça”, de autoria do sempre lembrado farmacêutico ALFREDO VALQUES. Solicitei ao filho do autor, o estimado amigo Alfredo Valques Filho, também farmacêutico, que me cedesse um exemplar do livro, a fim de ampliar e enriquecer a modesta coleção de obras publicadas por escritores poços-caldenses que possuo. Prestativo, como sempre, o Alfredinho, autorizando-me a reproduzi-lo por xerox, cedeu -me, por empréstimo, o único exemplar que lhe restava e que fora rabiscado por uma de suas netinhas, escusando-se pelo fato. Ao contrário do que pensa o amigo, os rabiscos a que se refere não inutilizam a obra, nem a desfiguram. Mas, valorizam-na pela inocência... Aliás, diga- se “en passant”, a criança, ao contrário do adulto, nada inutiliza deliberadamente. O livro, de autoria de ALFREDO VALQUES, pessoa excelente, profissional renomado e respeitado, apresenta uma série de coincidências gratas e saudosas. O autor, como afirmei, é pai de meu incondicional amigo e companheiro de longa data, Alfredo Valques Filho. A apresentação, é feita pelo não menos amigo, outro farmacêutico, o saudoso Oscar Nassif que ainda assina a página “Espelho do Boticário”. A homenagem fica por conta do belíssimo soneto da lavra do querido amigo, mestre, confrade, farmacêutico e vate de nomeada Benedicto Cyrillo de Oliveira, denominado “ Ao farmacêutico”, que transcrevo a seguir: -
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AO FARMACÊUTICO O velho farmacêutico, operário E sacerdote ao mesmo tempo, amigo, Que nos sóis todos de teu calendário, Uma lição de amor vives contigo. Eu amo o teu fadário. Amo e bendigo A mão que dosa, o gesto humanitário, Para aquele que a sorte, por castigo, Joga no leito, ás vezes solitário. Bem hajas, velho amigo das famílias, Tu que plantas nas noites de vigílias, A sementeira de um amor profundo... E vives, entre grais e entre balanças, Preparando e vendendo as esperanças, Para os doentes todos deste mundo. Concluindo o registro das felizes coincidências, o prefácio foi escrito por Tereza Maria Valques Carvalho de Faria, neta do autor e filha do casal Dulce Valques de Carvalho e Heitor Jesuíno de Carvalho, meus padrinhos de casamento. O livro todo é a história de um homem simples. Simples e singela como foi a passagem de ALFREDO VALQUES por este mundo. Mas repleta de expressivos e edificantes exemplos de honestidade, de caridade, de humildade e de amor a Deus, à família, ao próximo e ao trabalho. Poucos homens, como ele, podem ufanar-se da atuação tanto no campo profissional, como no familiar e privado, quando chegam ao acaso da existência, na bruxoleante dança da chama da alma que se finda. Numa linguagem concisa, direta e sem afetação, o autor narra a história de sua vida, de modo fluente e pitoresco, ora alegre, ora triste. Sua história é a própria história das cidades de Palmeiral, Botelhos e Poços de Caldas e nos revela fatos e acontecimentos que,
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não fora sua memória privilegiada, estariam perdidos e estiolados no tempo e no espaço. Nascido na cidade de Itu(SP.), em 14 de dezembro de 1.888,descende ele de família modesta, mas norteada pelos mais rígidos cânones religiosos, da moral e da honestidade, sendo seus pais Henrique Valques e dona Maria Ozório de Camargo. Sua infância foi difícil e sofrida. A família percorreu várias cidades, povoados e fazendas, onde o pai não media esforços para sustentar a prole. Até que mudaram-se para Campinas, onde residiam atrás da igreja do Rosário. Segundo seu relato, ali tinham por vizinho um sapateiro que espancava constantemente a mulher e o filho de ambos. Este menino, mais tarde, viria a ser o Bispo Dom Neri. Naquela cidade permaneceram até o segundo surto epidêmico de febre amarela quando, após haverem perdido na primeira epidemia, dois filhos, seus pais, e os amigos Pantaleão Stanziola e Carlos Henrique, apreensivos e temerosos pela sorte e segurança de sua prole, mudaram – se de Campinas, vindo residir aqui, em Poços de Caldas. Nesta cidade ele passou a infância e a parte da adolescência, frequentando a escola primária apenas por cinco meses. Para ajudar nas despesas de casa, caçava passarinhos, entre eles uma espécie de pássaro de canto mavioso e hoje extinta, de enorme muito desde criança. Em março de 1.901, começou a trabalhar em farmácia. Seu primeiro emprego no ramo foi na farmácia N.S. da Saúde, de propriedade de Manoel Emílio Ferreira, nesta cidade. No dia seis (6) de maio de 1.908, na igreja de São Bom Jesus da cana verde, também conhecida por igreja de Santo Antônio, localizada na atual Rua São Paulo, nesta cidade, casou – se com a Sra. Andozina. Dessa união nasceram os filhos seguintes: Odilon, Ubaldo, Geraldo, Ivone, Palmira, Simone, Iolanda, Alfredinho, Dulce e Terezinha que lhe deram vários netos e bisnetos. Foi juiz de paz em Palmeiral e vereador e adjunto de promotor, em Botelhos. Em Palmeiral, onde manteve por longos anos sua farmácia, graças ao seu trabalho, diligência e iniciativa conseguiu inúmeros benefícios tais como: abertura da estrada para Botelhos, construção da caixa d’ água, instalação do telefone, etc. Botelhos também muito lhe deve.
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Anos depois, mudou – se em definitivo para Poços de Caldas, onde já se radicara seu filho Odilon, adquirindo a farmácia Santa Cecília, da qual viria ele a ser um dos proprietários, associando – se àquele filho. Com a mudança deste para São Paulo, ele transferiu a farmácia para o outro filho, o Alfredinho. Naquela época fui responsável pela contabilidade da farmácia Santa Cecília por longos anos. Posteriormente, o Alfredinho vendeu – se para o Sr. Álvaro Machado, seu proprietário até hoje. Em 16 de julho de 1.975, falecia Alfredo Valques. Sua vida, exemplo de fé, de honestidade e de trabalho apagou – se em definitivo. Mas, além dos exemplos edificados, legou – nos seus filhos, netos e bisnetos nos quais há de viver eternamente. Poços de Caldas, 04.12.92.
PaPai noel e o natal Hoje, quando se avizinha a data maior da cristandade, eu abro espaço nesta coluna, para falar de um assunto de real importância. Dedico estas singelas linhas à Marcia, minha esposa, aos meus filhos Cleyton, Cristina e Marquinho; às minhas netas adoradas: Mariana, Carolina e Gabriela, à minha família, aos meus amigos, às amiguinhas Flávia e Juliana e a todos aqueles que um dia, em um tempo não muito longe, acreditaram ou ainda acreditam no Papai Noel. O que importa, quando se comemora o nascimento do CRISTO JESUS, é a fé e a força interior de cada um de nós. Esse dia do calendário cristão, é uma espécie de prestação de contas. Se acreditamos, o milagre acontece. E, por conta da fé que anima e habita os corações puros e oblativos, ele se repete a cada dia. Nem sempre o presente esperado vem por intermédio ou na pessoa do Velho Noel. Às vezes, ele nos chega através de uma notícia auspiciosa, de um gesto de carinho, de um sorriso ou de uma palavra de conforto. Outras, pela realização de um sonho de há muito buscado. Outras ainda, na alegria do reencontro de um amigo, de um ente querido. Em outras oportunidades, encontramo – lo no silêncio confortante de uma prece, no recolhimento do espírito, no suave murmúrio do regato, no cantar dos pássaros, no bailado lindo e perene das borboletas, na pura e cristalina gota de orvalho a brincar no aveludado da pétala de uma rosa.
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No entanto, quando atingimos a idade adulta, nos afastamos e nos olvidamos das coisas simples e belas da vida. Relegamos a inocência e a eterna criança que vive em nossos corações, a segundo plano, por vergonha talvez, ou ainda, por acreditar que cultivando esses sentimentos cairemos no ridículo. Tadavia, por obra e graça do CRISADOR, o certo é que para todos aqueles que nele acreditam, o milagre realiza – se a cada instante. Ele se materializa para todos que crêem em DEUS. Em DEUS, sim! Como todos sabem, o Natal é o evento comemorativo do nascimento do Filho de DEUS, o Cristo Jesus. Papai Noel, aquela figura extraordinária, corada, risonha, feliz e bonachona que representa e encarna o espírito natalino e a esperança de todos nós, nada mais é que DEUS, nosso senhor, descendo à TERRA para comemorar o aniversário natalício do seu filho amado, o Menino - Deus. Por isso, o Natal, para aqueles que levam uma vida digna, distribuindo amor, irradiando luz, felicidade e, mormente, na prática constante da caridade é e sempre será o despertar da fé e o resplandecer do milagre da vida, da bondade e da esperança a todo o momento. Confiante na paciência dos leitores, trago a seguir o poema de minha autoria relativo ao evento: MILAGRE DE NATAL No humilde casebre, de pobreza infinda, A luz das velas está uma pobre criança Cheia de sonhos impossíveis, tentando ainda, A todo custo realizar uma esperança. E no papel, aquela irregular letrinha, A renovar pedido tantas vezes feito Ao papai Noel, destinatário da cartinha, Esperando ver seu desejo satisfeito. Repicam os sinos em bimbalhar festivo, O Natal chegou... E na Terra toda um só hino
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De regozijo e graças, com justo motivo, É o nascimento do CRISTO, evento divino. E naquele casebre tão pobre, esquecido, Por obra e graça do espírito natalino, Além do “Velho Noel” atender o pedido Os homens viram renascer o DEUS – MENINO... Que o menino-DEUS, expressão maior do afeto, da oblação e da caridade; retrato vivo e perene do amor do PAI CELESTE pela cristandade possa trazer aos corações de todos os cristãos o renovar constante e diário do espírito natalino. Feliz Natal e um venturoso Ano de 1.993, são os meus calorosos e sinceros votos. Poços de Caldas, em 23.12.92.
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dÉcio raBelo acurcio Todo gordo é feliz e alegre, dizem. Talvez seja uma forma de compensar a falta de agilidade, irradiar e espalhar alegria e contentamento à sua volta. E, com sua luz imperecível, aquecer e alumiar aqueles que lhe são caros. Assim era o dileto amigo DÉCIO RABELO ACURCIO. Amigo e colega dos bancos escolares, quando cursamos a antiga escola Técnica do Comércio, fazendo parte da turma que reunia amigos e companheiros como: Waldemar Troiano, Fausto Rizzo do Prado (já falecido), José Carlos Domingos, o “Tio Gordo”, Luís Pedro Delgado, Irvânio Malaquias, Jadir José Alberti, Fausto Del Claro, Amélia Cagnani, Wanda Danza, Renato Mendes Ribeiro, Antonio Iwcrocci, José Gouveia, Newton Maia, e muitos outros. Sereno e tranquilo. Bonachão, alegre, com a presença forte e querida. Amigo sincero, homem íntegro, honesto e trabalhador, seguia sua caminhada, na luta pela vida, de maneira simples e singela, mas expressiva. E, foi assim que, no dia 27 de dezembro passado, a morte, essa companheira inevitável de todos nós, veio buscá-lo: no silêncio, na simplicidade daquela vida devotada ao trabalho, aos familiares, aos amigos e aos irmãos menos favorecidos, como atuante e fervoroso Vicentino que sempre foi, pertencendo à Conferência São José, da sociedade São Vicente de Paulo, nesta cidade. É difícil aceitar a rudeza e o inopino do golpe, a perda irreparável
deixados com o falecimento do amigo querido, do confrade e do companheiro DÉCIO RABELO ACURCIO! Tenho plena certeza, caro DÉCIO, Poços de Caldas ficou mais pobre com a perda irreversível de mais filho exemplar como você! Lá no céu, onde você se encontra, por certo, espero e rogo para que a sua alma generosa encontre o descanso merecido e digo-lhe apenas e tão – somente, como Vicentino que também sou: - Louvado Seja Nosso Senhor JESUS CRISTO(L.S.N.S.J.C.)Cantinho dos Sonhos, Em 17.01.93.
a Primeira Formatura Não obstante o contraste flagrante com os tempos de antanho, o ensino atual que, segundo alguns propedeutas de nomeada, não atende suas finalidades maiores, o certo é que ele destaca, valorizar e busca despertar na criança o amor ao estudo. Isto se vê desde o pré-primário, jardim da infância, etc. Por obra e graça dessa feliz e proveitosa diretriz, no mês de dezembro pretérito, nas dependências do colégio Objetivo, lá estávamos nós os avós, Márcia e eu, a bisavó Nenê, tia Glória, além de seus pais e irmãs, sobressaindo a vaidade e o indisfarçável orgulho do papai Cleyton, pela façanha realizada por nossa primeira e querida neta MARIANA CRISTINA DE MORAES. O evento constou da apresentação de uma pecinha de teatro, de canto em inglês, pelas jovens formandas, viram sò? E , foi encerrada com a entrega dos esperados diplominhas de conclusão do curso pré – primário. Fantástico acontecimento! Vários avós, como nós, lá estavam prestigiando e incentivando seus netos e netas. Destaco a presença do amigo e confrade Dr. João Torres e esposa, Jandira, ao lado da netinha Natália. Registre-se ainda, mesmo que “en passant”, que Poços de Caldas, na área educacional, sempre prestigiou e promoveu eventos de tal ordem. Procedimento continuado muito feliz e oportunamente pelo colégio Objetivo local. Minhas congratulações aos diretores e proprietários do destacado educandário, os amigos José Roberto Cabrera, o fabuloso
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“Tecão”, Marco Antonio Simi, votos extensivos ao dedicado e prestimoso corpo docente. As neo-formadas, meus votos de pleno sucesso e de continuidade no caminho do saber, ora iniciado. E, a você, minha adorada neta MARIANA, todo meu carinho aliado ao estuante desejo de que a estrada iniciada, recebendo ao seus pequeninos e inseguros passos, venha a se transformar no esplendor e na consagração de todos os seus sonhos e desejos e, também, na completa realização do ideal buscado. Que DEUS a proteja, abençoe e ilumine o seu caminho! Cantinho dos sonhos Em 17 de janeiro de 1993
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A curta memória do ser humano Já se disse mais de uma vez, que é curta a memória do povo. Daí a consagração do velho e gasto adágio popular:- “ Rei morto, Rei posto “. Magoa – me o coração. Fere-me a alma quando sou compeetido a registrar, através destas singelas linhas, o passamento de amigos queridos. Amigos que ultrapassaram as fronteiras do nunca mais, deixando atrás de si o vazio imenso da saudade... Dia primeiro de dezembro pretérito, a cidade amanheceu coberta de luto e de dor. O céu plúmbeo e as nuvens carregadas e “ carrancudas” revelavam toda a dor e a tristeza pela perda de mais um de seus filhos queridos. Faleceu o primo e amigo LUIZ ANTONIO BALLERINI. Precocemente ele nos deixou, aos 52 anos de idade. Na flor da idade, pode-se dizer. Nascidos a 09 de dezembro de 1.939, iria completar 53 anos. Era descendente de tradicionais famílias de nossa sociedade: os Prata e os Ballerini. Estes últimos foram proprietários do saudoso Hotel Aurora, situado na Rua Junqueiras, onde hoje ergue-se a construção de moderno e importante “ espigão”. Filho de Maria G. Ballerini e Luiz Ballerini, o “ xulu”, era ele neto da inesquecível Ester Prata, competente e extremada parteira que trouxe ao mundo inúmeras gerações de poços – caldenses. Foi dedicado e eficiente funcionário do antigo Banco Moreira Salles S/A., hoje UNIBANCO – União de Bancos Brasileiros S/A., onde 111
aposentou-se. Atualmente, era comerciante e proprietário da casa de aves “ Frango Amarelinho”, situada à Rua Assis Figueiredo. Na mocidade, ele foi um excelente e completo atleta da A.A. Caldense, no esporte especializado, em mais de uma modalidade, tais como, salto em distância, em altura, vôlei, basquete, etc. Suas atuações o consagraram regional e estadualmente, proporcionando glórias e vitórias, registradas a ouro nos meios esportivos as estância. Casado com Gláucia Pereira Ballerini, deixou os filhos: Luiz Renê Ballerini, Erika Ballerini Fares e Flávia Ballerini; e, os netos, Bruna Ballerini e Gabriel Fares. Chefe de família dedicado, pai extremoso, homem íntegro, honesto, trabalhador, muito conceituado na sociedade local. Amigo leal e sincero. Companheiro de sempre, alegre, jovial, estava sempre de bem com a vida. A sua partida deixa impreenchível lacuna e a estranheza (razão do título destas linhas), pelo fato da ausência da homenagem, ainda que pálida e pequena, de parte da A.A. Caldense e dos meios esportivos locais. Ao dar o corpo à fria sepultura, não se viu a presença de ao menos um representante do clube que ele tanto engrandeceu e glorificou, para render-lhe o preito de gratidão e de respeito. Nenhuma homenagem... nenhum adeus... Como disse Castro Alves: - “ E tive pena de lembrar que em breve nada restaria do peregrino na terra hospitaleira, onde vagara; nem sequer a lembrança desta alma, que convosco e por vós vivera e sentira, gemera e cantara...” Que a sua alma, meu querido e saudoso amigo LUIZ ANTONIO BALLERINI, cruzando os sagrados portais do empíreo descanse em paz e leve esta saudade que punge e angustia o peito de todos nós! ... Cantinhos dos sonhos, em 17.01.93
VinÍcio BertoZZi Dia 14 de dezembro passado, a cidade foi surpreendida com a infausta notícia do passamento do dileto amigo VINÍCIO BERTOZZI, aos 74 anos de idade. Filho dos emigrantes italianos, Pedro Bertozzi e da Sra. Assumpta Benedetti Bertozzi, ele sempre foi um lutador. Desde meninote, já dirigia e operava as famosas “ caçambas” (as saudosas e pequenas carroças de tração animal), transportando a terra removida para a construção do estádio Cristiano Osório, palco de memoráveis jornadas da veterana. Posteriormente, trabalhou no Casino da Urca, e na Mineração Curimbaba, terminando por ingressar no Conselho Municipal de Turismo, onde aposentouse. Desde a fundação da FEARPO- Feira de artesanato de Poços de Caldas, foi seu coordenador. Cargo por ele exercido com dedicação, zelo e competência. Homem trabalhador, digno e honesto. Cumpridor de seus deveres e obrigações. Batalhador incansável, muito conceituado em nossa sociedade. Grande chefe de família e pai amoroso, era ele casado com a Sra. Terezinha Luti Bertozzi e deixa os seguintes filhos: - Luiz Alberto Luti Bertozzi, Casado com Paula Maria Danza Bertozzi; Fábio Antonio Luti Bertozzi, casado com Tânia Cristina Bastos Bertozzi; Marcos Vinicius Luti Bertozzi, também casado, com Márcia Maria Zanetti Bertozzi; Pedro Bertozzi Neto, solteiro; Rita de Cássia Bertozzi Arossa, casada com Alexandre Arossa; e nove netos. Natural desta cidade, sempre a amou com desvelo, dedicação e
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devotamento, e por ela sempre trabalhou com energia e denodo. No último pleito eleitoral foi dedicado à vereança. Mesmo gravemente enfermo, como se encontrava, ainda assim, foi para o sacrifício, mais uma vez... Torcedor e apaixonado pela A.A. Caldense, a ela dedicou – se integralmente, trabalhando a lutando com afinco, ocupando inúmeros cargos de direção na agremiação esmeraldina. Ainda ontem, folheando a excelente publicação editada por Décio Alves de Morais, institulada “ Poços de Caldas em Revista”, n° 16, ano 19, pág. 30, - alusiva às comemorações do 50 ° aniversário de fundação da veterana, - encontramo-lo presente à história reunião de fundação e instalação do Conselho Deliberativo do clube, ocorrida em 29 de outrubro de 1.942 ( e não 1.943, segundo informes e correção do editor). Ele me conhecia desde criança, ainda engatinhando. Mas, nossa amizade se estreitou e se consolidou a partir de meu ingresso no Conselho Municipal de Turismo, como conselheiro, por volta de 1.972, quando tive o indispensável privilégio de, junto a ele, lutar e trabalhar pelo engrandecimento e fortalecimento do turismo da estância. Simples e equilibrado, jamais o vi ou mesmo ouvi ofender ou destratar a quem quer que seja. O “xará”, como carinhosamente me chamava e eu a ele, era a imagem e modelo da dedicação à família, ao trabalho e a esta cidade que tanto amou. Exemplo a ser seguido! Meu querido e sempre lembrado “xará”, como diz J. DE CASTRO NUNES: - “ o homem morre. Mas as grandes vidas não perecem.” A sua vida, através dos seus descendentes e, ainda, pela grandiosidade e pelo imensurável valor dos exemplos edificantes legados, há que perpetuar- se. Que a sua alma generosa e amiga, no empíreo onde por certo se encontra, receba o ramo simples, singelo, mas sincero, de oração e de saudade que ofereço... Cantinho dos sonhos em 20.01.93.
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O SANTO VICENTINO DOMÉSTICO Em junho de 1.975, era eu confrade da Conferência São José, da Sociedade de São Vicente de Paulo, cujo presidente era o confrade Antônio Acconccia que, na época, também era presidente do conselho particular da mesma sociedade. Por sua determinação, transferi-me para a conferência que é a primeira e mais antiga da cidade, tendo sido fundada em 15 de junho de 1.913. Segundo as informações daquele tempo, encontrava- se ela na iminência de encerrar suas atividades, ante a falta de confrades. Lá chegando, deparei com quatro dos mais antigos da Sociedade de São Vicente de Paulo, em nossa cidade:- José Amarante Azevedo, Luiz Pagin, Mário Caponi e João Trindade( os dois últimos já falecidos). Se não me falha a memória, na ocasião, o presidente da conferência era o saudoso confrade Márcio Caponi, o confrade José Amarante Azevedo, no cargo por ele ocupado até hoje, há mais de cinquenta anos. Mesmo atualmente, quando se encontra enfermo e impossibilitado de locomover- se, ainda faz questão de exercer o cargo. O que faz com a eficiente colaboração da consócia Janete da Silva Melo. José Amarante Azevedo é natural de São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais, onde nasceu a 06 de abril de 1.903; sendo filho do casal José Azevedo Silva e Antonieta Azevedo. Em 1.942, ele passou a residir em Poços de Caldas, ingressando, no mesmo ano na Conferência Nossa Senhora da Saúde, onde permanece até hoje. O 115
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presidente da conferência naquela data era o confrade Luiz Pagin e seus membros, os confrades Mário Caponi (falecido), Oswaldo Lanna( hoje residente em Belo Horizonte), João Trindade e Francisco Pedro da Silva, também falecidos. As reuniões semanais eram realizadas na igreja de São Bom Jesus da Cana Verde, mais conhecida como de Santo Antônio, localizada à rua São Paulo. Posteriormente, a conferência passou a se reunir na igreja de São Domingos e, atualmente, desde 1.983, suas reuniões se realizam na residência do confrade José Amarante Azevedo, situada na rua Paraíba, n° 329. Chegando a Poços de Caldas, no ano de 1.942, ele foi trabalhar na firma Junqueira Modas, então situada ao lado da casa bancária Moreira Salles, na antiga rua Paraná, hoje rua Assis Figueiredo. A loja, de propriedade de José Afonso Junqueira, o “Zé Pelota” e seu sócio João Moreira Salles, era uma espécie de armazém que vendia de tudo, ferragens, armarinhos, confecções, tecidos, etc. desfeita a sociedade, José Afonso Junqueira, “Zé Pelota”, transferiu as instalações para a praça Dr. Pedro Sanches, onde a loja Junqueira Modas dedicou – se apenas ao comércio de tecidos a varejo. Ali José Amarante Azevedo trabalhou, como balconista, até o ano de 1.953. Em 23 de maio de 1.953, foi ele contratado pela firma casa New York, loja de confecção masculinas e femininas, na mesma função, onde permaneceu até a data de 15 de março de 1.971, quando aposentou- se. Segundo ele, quando ingressou na Sociedade de São Vicente de Paulo, o Presidente o conselho particular era o sempre lembrado confrade Antônio Grizaro Vieira, o “seu Tatu” e a sociedade era composta pelas seguintes conferências: Nossa Senhora da Saúde Santo Antonio São josé São Paulo. Naquele tempo, as viagens de Poços de Caldas para São Gonçalo do Sapucaí, feitas nas famosas “jardineiras”, eram penosas e demoradas, por estradas de terra em percurso que durava de oito a dez horas. O itinerário era o seguinte: - Poços de Caldas, Caldas, Santa Rita de Caldas, Pouso Alegre, Varginha, Campanha, Cambuquira e São Gonçalo do Sapucaí. 116
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Pertencente às tradicionais famílias de São Gonçalo, de Caldas e de Poços de Caldas, os “Azevedo” e os “Amarante”, sempre viveu e vive ele na simplicidade, modesta e tranquilidade. Caridoso, católico praticante e fervoroso discípulo de São Vicente de Paulo e de Antônio Frederico Ozanan, sua vida toda foi dedicada ao próximo. Homem trabalhador, honesto, de reputação ilibada e conduta retilínea. Amigo leal e dedicado, é ele o símbolo do Vicentino, fazendo de sua vida uma oração, a que se junta a caridade viva e atuante. No comércio da amizade, se destaca e revela a alma grandiosa e o generoso coração sempre pronto a acolher, ouvir e ajudar os amigos necessitados e os confrades que o procuram. Durante todos estes anos em que tenho o privilégio e a graça de privar de sua valiosa e querida amizade, jamais ouvi dos seus lábios uma palavra sequer de indignação, de revolta. Um impropério, uma blasfêmia ou um pronunciamento desabonador a quem quer que seja. Passa ele o tempo a rezar e a meditar, sem a menor queixa. Diariamente, em suas orações (que tenho certeza, são ouvidas por Deus Nosso Senhor), ele não se esquece de um só amigo e confrade. Tal postura, de resignação e fé inabaláveis, traz – me à memória um pensamento colhido no boletim Brasileiro da Sociedade de São Vicente de Paulo, de setembro e outubro de 1.983, reproduzindo matéria publicada há 100 anos no mesmo boletim, ou seja, em outubro de 1.883: - “um dos caracteres da santidade é ser pouco exigente e não se queixar. Cada queixa, ainda que seja justa, nos faz descer um grau na escala da virtude, tão difícil de subir.” No próximo dia seis(6) de abril vindouro, ele completará a provecta e invejável idade de noventa(90) anos. Em homenagem à data de grandeza ímpar e de inegável significado para a sociedade São Vicente de Paulo, por seu exemplo edificante de trabalho, de fé, de caridade e de amor aos irmãos necessitados e por tudo o mais que ele representa para nós, seus amigos e confrades que o amamos, transcrevo o poema que lhe dediquei há muitos anos, em 1.979, que fala por si:-
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eXemPlo de simPlicidade e comPetÊncia Ele foi um homem simples, íntegro, honrado, humilde e trabalhador. Sem jactância ou soberba, avesso às manifestações públicas e do reboliço das reuniões profissionais. Pouco falava! Fumava demais. Acendia um cigarro no toco do outro. Sóbrio, comedido e educado, era um homem fino, excelente profissional. Com ele muito aprendi! O espaço de hoje é dedicado àquele que foi meu mestre, meu guia no engatinhar da profissão de contabilista, quando eu nem formado era, cursando o primeiro ano de contabilidade, na saudosa escola técnica de comércio: - o sempre lembrado e querido amigo NILO PELLEGRINELLI! Natural de Poços de Caldas, era casado com a senhora Dalva Cobra Pellegrinelli, com quem teve os filhos a seguir relacionados: - Fernando, Eduardo, Paulo Roberto, Renata e os gêmeos Márcia e Marcos. Residia com a família na rua Ceará, bem próximo da Escola Técnica de Comércio. Seu escritório se localizava no porão da residência. Alí passei a trabalhar todas a noites, após as aulas, das 23:00 às 02:00 horas aproximadamente, ajudando-o nas escritas sob sua responsabilidade e completando o minguado orçamento de que dispunha. Minha intenção era casar-me logo que me formasse. E foi o que aconteceu. Assim, todo “dinheirinho” extra era sempre
bem-vindo. Trabalhei muito para comprar os móveis e os utensílios necessários à montagem de minha casa. Durante um bom tempo, todas as noites, depois de assistir as aulas teóricas, lá ia eu para a prática, onde o professor e dileto amigo Nilo me aguardava para o início dos trabalhos. Os gêmeos Márcia e Marcus, ainda pequeninos, com seus pijaminhas estampados, sempre me esperavam para uma rápida brincadeira, antes de dormirem. Dona Dalva, com a educação, a generosidade e lhaneza no trato, qualidades que lhe são inatas, solicitava à saudosa querida “Zefa”, aquela santa criatura de infinita bondade e afeto à sua volta, o preparo de um reforçado lanche que eu tomava antes de iniciar o trabalho. No silêncio da noite, até as tantas, ficávamos, meu patrão e amigo Nilo e eu, às voltas com fechamentos de balanços, com a escrituração de livros e toda a sorte de papéis, contas e registros que compõem a arte da contabilidade. Ali, na comunhão do trabalho, no cadinho dos embates do exercício da profissão de contador, sempre desvalorizada e relegada a planos inferiores, mas de vital importância para o crescimento, controle e valorização do comércio e da indústria, dele recebi as mais valiosas e inesquecíveis lições sobre a profissão e de vida também. Calmo, tranquilo, sem explosões ou arroubos temperamentais ele sabia transmitir e comunicar seus pensamentos e as ideias que concebia para o aprimoramento e melhoria do serviço. Além do escritório de contabilidade, em arrojada iniciativa para a época, ele inaugurou a “ Sapataria IT”, no início da Rua São Paulo, ao lado do Bar Maracanã. A loja era um primor. Com instalações dignas dos grandes centros, não obstante seu tamanho diminuto. Seu charme todo residia no tratamento amigo e diferenciado dispensado pelos proprietários a todos indistintamente e no ambiente caloroso e aconchegante que ele e Dona Dalva tão bem irradiavam. Sem contar a qualidade excelentes das outras mercadorias (calçados, bolsas, cintos, etc.), as melhores e mais completa peças femininas da indústria nacional. Naquela loja, graças à bondade de ambos, foi onde comprei o primeiro presente de valor para Márcia, minha esposa: um belíssimo
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par de sapatos pretos, de salto alto, pago em prestações. Dona Dalva foi quem ajudou-me na escolha. Desnecessário dizer que Márcia adorou o presente. Talvez a cidade não estivesse preparada para uma loja daquele porte e naquela forma e estilo de comércio. Ela não vingou, mas o pioneirismo de seus proprietários jamais será esquecido! Em 09 de maio de 1.983 a morte, essa inexorável consequência, em sua tarefa fatal e intransferível, viria buscar o companheiro, mestre e amigo NILO PELLEGRINELLI deixando a lacuna e um vazio imenso em nossos corações. Mas a sua lembrança, como acontece com todos aqueles que semeiam o amor, a caridade, a bondade e a fé em sua passagem, ainda que envolta nas brumas do tempo, há de perpetuar-se na memória de todos nós, por seu trabalho, pelos exemplos edificantes e, mais ainda, pela sua família, testemunho vivo e indesmentido da sua passagem por este mundo! Garujá., em 02.02.93
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escorço histÓrico da santa casa de misericÓrdia “A lançadeira do tempo conduz, sem parar, A trama, através do urdume da história. Anotemos, Ao menos, os nomes dos tecelões Que armaram o tear e desenharam o tecido Do nosso passado.” (DR. ROWILSON FLORA). Por obra e graça dessas coincidência e acaso de que o destino se encarrega, no ano de 1.987, mais precisamente a 08 de maio, em uma das reuniões da pastoral da saúde que presta relevantes e inestimáveis serviços espirituais aos enfermos e à qual pertence minha esposa Márcia Maria, atuando nos hospitais locais, tomei conhecimento de que o DR. ROWILSON FLORA, consagrado cirurgião local, a quem sempre admirei e tenho a honra de privar de sua amizade, há muito tempo, havia escrito um opúsculo sobre a origem, a fundação e a história do hospital da Santa Casa de Misericórdia. O tempo passou! As atribulações, os afazeres inerentes à minha profissão, obrigavam-me a um viajar constante e a um regime de dedicação quase integral. Período da minha investidura no honroso e dignificante cargo na magistratura de nosso estado, obrigou-me a transferir residência, primeiramente para a vizinha e querida Campestre e, por derradeiro, para a longínqua Paracatu, terra de mineiros ilustres, como o jurista de nomeada e político de escola Afonso Arino de Mello
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Franco. Logrei então, aposentar-me, voluntariamente, a pedido e por tempo de serviço. O projeto que sempre desejei realizar: escrever sobre personagens que fizeram e fazem a história de Poços de Caldas, ficou suspenso. Com meu retorno ao ninho antigo, após as provações e privações que sói acometer àqueles que se afastam do torrão querido, retomei o projeto interrompido, reiniciando a coleta de dados, as entrevistas e a publicação das crônicas alusivas à vida, ao dia a dia da estância. São crônicas modestas e desvalidas, mas que retratam histórias escritas não só pelos personagens de projeção mas, também, por aqueles que, no anonimato, na simplicidade, na modéstia e na humildade, escreveram e ainda escrevem um pedaço, ainda que singelo da história. Aliás, o festejado escritor norte- americano SIDNEY SHELDON, em seu livro “ as areais do tempo”, com rara propriedade cita o “salmo da vida” de Henry Wadsworth Longfellow que diz: - “ A vida de todos os grandes homens nos faz lembrar que podemos tornar nossa vida sublime, e que, ao partir, deixamos para trás pegadas nas areias do tempo.” Ano passado, em casual encontro com Dr. ROWILSON FLORA, contei – lhe de meu conhecimento sobre a existência do seu valioso trabalho para a história da cidade e que diz respeito à fundação da Santa Casa da Misericórdia até sua transformação, pode-se assim dizer, no gigantesco, eficiente e modelar hospital não só de Poços de Caldas, mas das Gerais. Solicitei-lhe um número da obra, explicando a finalidade e a intenção do meu projeto de perpetuar o trabalho daqueles que, como ele, engradecem o nome da nossa cidade. Surpreso e agradecido, informou-me que possuía unicamente um exemplar. Gentilmente, ofereceu-me a cópia xerográfica na qual fez constar amável dedicatória datada de 06 de outubro de 1.992, do trabalho por ele levado a termo e que se intitula “ Escorço Histórico da Santa Casa de Misericórdia”, escrito em março de 1.965 e publicado pela gráfica da escola Dom Bosco, de nossa cidade. O livro, para surpresa minha, revela que, a par das qualidades reconhecidas e inexcedíveis, da competência profissional reconhecida e indiscutível como exemplar discípulo de Esculápio, sem olvidar –
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se dos ensinamentos de Hipócrates e Galeno, o autor é um perfeito historiador. Vazada em linguagem escorreita, simples e objetiva, a obra registra o nascer da Santa Casa da Misericórdia, no ano de 1.904, em um prédio situado na Rua Marquês do Paraná, hoje rua Assis Figueiredo, esquina com a antiga Rua Direita que, salvo engano, é a atual rua Paraíba. A doação foi realizada pela Senhora. Maria das Dores do Rosário, que fez questão da inclusão da expressão “MISERICÓRDIA” no nome do nosocômio, com a clara intenção de, além de dotar a comunidade de um local apropriado ao tratamento da saúde da população, assegurasse aos menos afortunados o abrigo e as condições para repouso e cura de seus males físicos. Trabalho que ela, sem auxílio qualquer, altruística e caridosamente, de há muito executava “com a sua enfermagem amadora”. Daí a razão da expressão “MISERICÓRDIA” que até hoje integra o nome do hospital. Entre fatos alegres, tristes, pitorescos, o autor nos traz, ao sabor do relato conciso, sempre fiel ao objetivo proposto, o registro bem elaborado da vida do nosocômio, em nuances desconhecidas da maioria da população. A primeira reunião da Santa Casa de Misericórdia, foi realizada no prédio recebido em doação, no dia 19 de fevereiro do ano de 1.905, presidida pelo então Prefeito Municipal, Dr. Juscelino Barbosa que, numa visão larga e expressiva aliada ao incontido orgulho, pela criação do “Pio estabelecimento” em sua administração, hipotecou apoio incondicional e irrestrito à iniciativa. Fizeram – se presentes ainda, a doadora, Sra. Maria das Dores do Rosário e inúmeras pessoas. A primeira mesa administrativa da entidade recém fundada, foi assim constituída: PROVEDOR: Dr. Ildefonso de Souza; TESOUREIRO: Cap. Euzébio Ferreira; VICE- PROVEDOR: Constantino Muniz Barreto; SECRETÁRIOS: Leopoldo da Câmara Genofre e Venâncio Vivas. Com o passar dos anos aumenta o número de sócios e socias nas diversas categorias. Pessoas das mais variadas e expressivas profissões e classes sociais: médicos, engenheiros, comerciantes,
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fazendeiros, construtores, donas de casa, farmacêuticos, etc., além de integrarem o quadro associativo, fazem doações de bens móveis, imóveis, títulos e valores. Em 01 de novembro de 1.914, os Doutores. Francisco de Faria Lobato e Agnelo Leite Filho, doam uma mesa de operação e um estojo contendo material cirúrgico. Em 19 de dezembro de 1.917,a dona Agostinha Bretas de Barros Cobra faz a doação de um terreno à Rua Barros Cobra, medindo 30 mts de frente por 50 mts de fundo. Dias após, um grupo de irmãos e sócios, encabeçados pelo construtor José Piffer, composto por Luiz José Dias, Damião Santiago da Silva, Dr. Gil Monteiro e Preciliano Pereira da Silva doavam para o hospital 60 ações do “ Sanatorium”, no valor nominal de 200$000 cada uma. Tendo em vista o crescimento da cidade, “a 7 de setembro de 1.920, ás 2 hrs da tarde”, foi inaugurado o novo prédio do hospital, na antiga rua Espírito Santo, ao lado da residência do Cap. Venâncio Vivas, hoje denominada Rua XV de novembro, onde funciona o Colégio Pio XII. A construção do novo prédio da Santa Casa da Misericórdia, a exemplo de outros tantos da cidade, foi construído pelo imigrante alemão-austríaco José Piffer, segundo informação que me foi prestada por sua sobrinha e minha sogra a Sra. Luiza Piffer Ferreira, a “Dona Nenê”, que aos oitenta anos de idade ainda conserva uma memória e lucidez impressionante. Em 07 de novembro de 1.926, foi eleito para o cargo de provedor o Sr. Jorge Dias. Em 1.932, após frustrada tentativa de regionalização do hospital, no governo de Carlos Pinheiro Chagas, volta ele ao cargo, que será confirmado em 1.934. Ao que tudo indica, permaneceu ele como provedor até a sua morte, ocorrida em maio de 1961. Sem embargos aos outros, foi ele o mais dedicado, o melhor e mais atuante provedor da entidade. Outro fato marcante a ser acrescentado é o lançamento da pedra fundamental e a construção da Maternidade “Darcy Vargas”. O lançamento da pedra fundamental, em 28 de fevereiro de 1.937, além da presença da homenageada, contou com a presença augusta de seu esposo o Dr. Getúlio Vargas, então o maior mandatário da nação e outras personalidades. A obra, idealizada por outro entusiasta e abnegado lutador por Poços de Caldas, o Dr. Arthur de Mendonça
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Chaves, foi construída em tempo recorde, sendo inaugurada no dia 05 de março de 1.938. A primeira criança nascida na maternidade, batizada na capela da Santa Casa em 20 de março de 1.938, é o amigo Darcy José Martins, filho de Manoel Cândido Martins e Dona Yolanda Martins. Seus padrinhos foram a Sra. Darcy Vargas e o provedor Jorge Pio da Silva Dias. E continua o autor, com sua privilegiada memória e notável facilidade de expressão a contar e a descrever o passado, que anima e faz viver a todos nós. Seu relato termina com a inauguração do novo prédio do hospital da Santa Casa de Misericórdia, na antiga Praça da Independência, moderníssimo, amplo, funcional e totalmente aparelhado para atendimento das mais variadas moléstias. Acresce registrar que o prédio, muito bem construído, tem o formato de uma cruz... O terreno foi doado à irmandade da Santa Casa no dia 24 de maio de 1.947, pelo então prefeito municipal, Dr. Miguel de Carvalho Dias. A inauguração, acontecia em 20 de maio de 1.962, teve entre as personalidades presentes, o então governador de Minas Gerais, o Dr. José de Magalhães Pinto. Para os pósteros, para as gerações que hão de vir, registre – se a nossa modesta, mas sincera homenagem a este valoroso e dedicado cidadão, o Dr. ROWILSON FLORA, campestrense de nascimento, mas poços-caldense “por direito adquirido”, não só pelo opúsculo escrito, mas por todo trabalho e serviço prestados a esta terra que amamos! Garujá., em 05.02.93.
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a FundaçÃo de Poços de caldas Com o apoio da Circullare Poços de Caldas Ltda., firma capitaneada pelo empresário Dr. Flávio Antonio Couto de Araújo Cansado, dotado de larga visão e inusitado descortínio comercial, aliados ao profundo respeito à população, quando Poços de Caldas, a 06 de novembro de 1.992, comemorou seu 120° aniversário de fundação, a cidade e a população receberam um valioso e inestimável presente. O Dr. Carlos Érrico Neto, homem público e advogado portador de extensa e profícua folha de serviços prestados à comunidade, escritor e historiador de nomeada brindou a nós, poços-caldenses, com a obra que faltava: sua monografia “FUNDAÇÃO DE POÇOS DE CALDAS –ORIGEM HISTÓRICA- 6 de novembro de 1.872”, primorosamente impressa pela Gráfica Sulminas, do amigo Décio Alves de Morais. Antes de maiores e mais extensos comentários (de leitor, como sempre digo), por dever de justiça, impõe- se o registro de um fato que embora já distanciado no tempo e envolto nas brumas do passado, jamais se apagará de minha memória, justificando o título de “meu padrinho” que outorguei ao autor e amigo querido, o “Dr. Carlito”, bem como o preito de minha sentida e perene gratidão. Em fins de 1.955, retornei à Poços de Caldas. De origem modesta e sem recursos, não poderia eu estudar no então famoso e renomado estabelecimento de ensino, o Colégio
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Marista, onde as aulas eram ministradas somente durante o dia e as mensalidades eram bem caras. Além do que, para ajudar no sustento da família, eu trabalhava durante o dia. Restava- me então, como única alternativa, frequentar as aulas noturnas da saudosa e querida Escola Técnica de Comércio, como tantos outros rapazes de famílias modestas, como eu. Mesmo assim, eu não possuía os recursos necessários ao custeio dos estudos. Foi Dr. CARLOS ÉRRICO NETO, então vereador à Câmara Municipal de Poços de Caldas, quem requereu a meu favor uma bolsa de estudos. Foi esse o seu primeiro requerimento em tal sentido. O prefeito municipal, na época, o grande e estimado amigo Agostinho Loyolla Junqueira concedeu- me a bolsa requerida, permitindo que, renovada anualmente pelo critério de classificação e notas, nas quais me revezava com o amigo e colega Enio Pallazzi, então funcionário do Banco de Créditos Real de Minas Gerais S/A, eu concluísse o curso de contabilidade. Feito o registro que se impunha, porquanto, a meu sentir, a história é antes de tudo a fixação da verdade, passemos à monografia em si, cuja dedicatória carinhosa, que bem demonstra a grandeza e a generosidade do autor para com seu discípulos, é a obra que fazia por merecer a cidade. De há muito os pesquisadores, educadores, estudiosos e alunos da Estância almejam um trabalho de tal envergadura. Sem embargos ao resumo da obra, que evidencia a erudição, a cultura e o inigualável poder de síntese do autor, o opúsculo se nos apresenta como prefeito tratado sobre o tema escolhido, vindo a lume quando da comemoração do 120° aniversário de fundação de Poços de Caldas. As pesquisas realizadas pelo historiador, em estafante e árduo trabalho, revelam as raízes e as bases sobre as quais se assentam nossa cidade que, a meu ver, é “o sorriso de Deus na terra”. Se o arco-íris, como dizem os estudiosos bíblicos, é o pacto de Deus Nosso Senhor firmado com os homens, para lembrá- los que não mais destruiria o mundo , Poços de Caldas é a confirmação e a ratificação da promessa divina. De minha parte, costumo dizer que “Deus é brasileiro e, com certeza, poços-caldense”.
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O Dr. CARLOS ÉRRICO NETO, membro da Academia PoçosCaldense de Letras, onde ocupa a cadeira n° 15 e que tem como patrono João Guimarães Rosa, a par da atividade pública intensa e proveitosa que sempre desenvolveu, é escritor consagrado e respeitado além fronteiras, e excelente orador. O livreto, exemplo claro do manejo consciente e escorreito do vernáculo, é objetivo, simples e envolvente. Em uma sequência correta e precisa vai ele desfiando a história da Estância, “como faziam nossos antepassados, de modo coloquial e ameno, à porta das casas, nas cadeiras colocadas nas calçadas”. Acrescente-se ainda, a bela ilustração elaborada pela artista Thaís Danza Érrico, filha do autor. A obra, obrigatória em todas as estantes, também será, temos certeza, um valioso e seguro material de pesquisa para as gerações coevas e para as que hão de vir. Sucesso inegável e merecido ao “meu padrinho”, o Dr. CARLOS ÉRRICO NETO, que a cada dia eleva e engrandece o nome desta Poços de Caldas querida e amada por todos nós. Garuja., em 16.02.93
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o Pai da imPrensa de Poços de caldas Sem menosprezo ou descaso áqueles que fizeram a imprensa local, como José Baldassari, Pedro de Castro Souza, Pedro de Castro Filho, Fausto de Paiva, o “Cazuza”, Dr. José Ayres de Paiva, Fosco Pardini e tantos outros. E, os que atualmente fazem, como J. Izidoro Júnior, José Carlos Poli, Victor de Carvalho, Prof. Hugo Pontes, Felix Cotaet, Lázaro Walter Alvisi, Orlando Gaiga, Odair Camillo, Ilair de Freitas, Cassino da Rocha, Rui Alves e um grande número de jornalistas da imprensa falada, escrita e televisada, nesta oportunidade, homenageio outorgando-lhe o título de “pai da imprensa” ao grande amigo profissional competente e dedicado, Décio Alves de Morais, com quem a imprensa local e a própria cidade têm uma dívida imensa. Nosso homenageado é natural desta cidade, onde nasceu em 25 de agosto de 1.923, sendo seus pais Cornélio Alves de Morais e a Sra. Aída Farah de Morais. É ele o primogênito, tendo os seguintes irmãos:- Gerson, o querido e sempre lembrado “Esquerdinha”; Elza, Odila, Wanda e Élcio, o popular “tota”. Jornalista profissional está legalmente registrado na Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais e no Sindicato dos Jornalistas profissionais do Estado de Minas Gerais sob n° 1.128/MG e tem matricula sindical n°649. Iniciou a militância na imprensa local no ano de 1.939, como correspondente do jornal Esporte Ilustrado, do Rio de Janeiro. Ainda como correspondente em nossa cidade, por mais de
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trinta anos, representou com eficiência e dinamismo e inegável zelo profissional os seguintes periódicos: - A Gazeta Esportiva, a Folha de São Paulo, a Folha de Minas e o Correio de manhã. No mesmo período, ou seja, de 1.939 a 1.942, também colaborou com vários jornais e publicações locais, destacando – se: - “A Justiça”, pertencente a Pedro de Castro Filho; “O Eco”, de propriedade Dr. Carlos Érrico Neto, Mauro Luisi, Ubiratam Noronha e Dr. Leibnitiz Tavares Hovelacque, posteriormente, adquirido por Júlio Dinucci; “O Combate” de José Baldassari. De 1.942 a 1.945, Décio Aves. de Morais serviu o Exército Nacional, fazendo parte do 6° escalão da Força Expedicionária Brasileira (F.E.B), sediado no Rio de Janeiro, na Cia. de Engenharia Batalhão “Marechal Hermes e Deodoro”. Integrou, inclusive, o serviço secreto do exército. Termina a II grande guerra antes do seu embarque para a Itália, ele retornou a Poços de Caldas, onde casouse com a Sra. Araceles Moya de Morais, em 18 de maio de 1.946, companheira e esposa dedicada que lhe deu os seguintes filhos: Richard Alves de Morais, casado com Sônia Caetano Alves de Morais; Rosmali Alves de Morais Borges, casada com Paulo Celso Borges; e, Rosangela Moya de Morais, os quais lhes deram nove netos. Juntamente com Jorge Salim Dau e João Batista Garcia fundou a empresa de reclames Sulmineira, localizada à Assis Figueiredo, n° 1.100,( ao lado da antiga e não mais existente Farmácia Normal). Essa firma funcionou de 1.946 até 1.950. Paralelamente, ele trabalhou no “Diário de Poços”, então de propriedade do Dr. Clodoveu Davis e sua atuante e dinâmica esposa a Sra. Maria do Rosário Mourão Davis (nossa estimada e notável “Dona Nini”), com a função de gerente e encarregado da publicidade, de 1.946 a 1.948. Em 1.950, em razão do seu espirito empreendedor, dinâmico e irrequieto, ele fundou a SULMINAS – Publicidade e Turismo, sediada a Rua Prefeito Chagas, n° 117, que mais tarde serviria de sede para o jornal “ a Folha de Poços”, por ele fundado em 12 de junho de 1.954, sendo seus proprietários: - Diretor Responsável: - Dr. José Ayres de Paiva, diretor: - Pedro de Castro Filho; diretor-secretário: - Décio Alves de Morais. Nesse jornal, muito bem impresso, imparcial e independente, sob o comando dos amigos Décio, Dr. José e “seu” Pedrinho tomei
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gosto pelo jornalismo, lá trabalhando no ano de 1.956. Recordo-me da distribuição do jornal “ a Folha de São Paulo”, que era feita por mim, inclusive aos domingos, aguardando eu na agência da Viação Cometa. (então situada na Avenida Francisco Sales, onde hoje se encontra instalada a Rádio Difusora), a chegada do ônibus que trazia os jornais, às 12:30 horas. Lembro- me também, de minhas incursões à fabulosa biblioteca do Dr. José Ayres de Paiva, onde me deliciava com os clássicos da literatura. Mas, este é assunto para um outro relato. “ A Folha de Poços” foi por ele mantida até 1.957 mais ou menos, quando vendeu- a ao grupo político do P.S.D., integrado pelo próprio Dr. José Ayres de Paiva, Horácio de Paiva, Oswaldo Tramonte, Agostinho Loyolla Junqueira, Roberto Benedicto Junqueira e outros. Esse mesmo grupo viria a transferi-lo, posteriormente, para o saudoso Geraldo de Carvalho. Seu espírito aventureiro e empreendedor, sua sina de jornalista não permitiam as acomodações de uma vida tranquila e sem emoções. Assim, no mesmo ano de 1.957, além de trazer para Poços de Caldas a primeira fábrica de carimbos, Décio fundava outro jornal, sempre marcado por sua atuação imparcial e independente, também de grande tiragem e de expressão nacional: “ A GAZETA DO SUL DE MINAS”, que possuía a primeira clicheria da cidade. Seu primeiro endereço foi nos fundos do salão Dr. Pedro Sanches, à Rua Assis Figueiredo n°1.200. posteriormente, transferiu suas instalações para a Rua Junqueiras, n° 579, onde hoje funciona a padaria Nosso Pão. Finalmente, mudou- se para a Rua Dr. Francisco de Faria Lobato, n° 285, onde permaneceu até o encerramento de suas atividades. Foi nesse saudoso jornal, como tive oportunidade de referir, graças à bondade e generosidade dos amigos Décio, do Gerson, sempre lembrado, do Marcílio Chagas Leite e Dimas da Silva Almeida que sempre me incentivaram e ajudaram, que iniciei minha modesta e incipiente atividade literária. Arrendada anos depois, aos jornalistas Paulo Penido e Dr. Geraldo Tasso, viria ela, “ A Gazeta do Sul de Minas”, mais tarde ser vendida aos empresários Carlos dos Santos, Hélio Opípari, Dr. José Vargas de Souza e Walter Luchesi. Em 07 de julho de 1.974,
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Décio fundou o “Jornal Mantiqueira”, que manteve até o ano de 1.983, quando o transferiu ao grupo empresarial formado por José Carlos Poli, Dr. Luiz Antônio Batista, Dr. Ronaldo Junqueira, Roberto Benedicto Junqueira, Dr. Sebastião Navarro Vieira Filho, Dr. Oswaldo de Podestá Navarro Vieira, Antônio de Podestá Navarro Vieira e outros. Esse grupo também não permaneceu muito tempo com o periódico. Hoje seu proprietário é o jornalista Rui Alves. Atualmente, Décio é proprietário da Gráfica e Papelaria Sulminas, empresa constituída por ele, a esposa e os filhos, situado à rua Assis Figueiredo, n° 1.081. Aliado ao fato de ser possuidor do mais completo arquivo sobre a nossa cidade e, também, sobre o esporte local, notadamente, a A.A. caldense, ele ainda publica: - “ Revista de Poços de Caldas”, “Seleção Carnavalescas” (publicado há 41 anos), “O Guia de Poços de Caldas”, “Dia a dia de Poços de Caldas”, “ Cicerone de Poços de Caldas” e “Roteiro de Poços de Caldas”. Sua dedicação e amor a esta cidade e ao clube do seu coração, a “Veterana”, onde é sócio- contribuinte n°028, levaram – no a prestar incontáveis e relevantes serviços à cidade e à própria agremiação. É ele um dos conselheiros fundadores do Conselho Deliberativo da A.A. caldense, em 25 de outubro de 1.942, tendo ocupado inúmeras outros cargos no clube, destacando – se o de 1° secretário e diretor de esportes. É ainda idealizador e fundador da publicação “Sinal verde”, em 1.989, órgão informativo da A.A. Caldense. Em sua atuação no campo público e profissional, além das realizações já referidas, é ele fundador do antigo Departamento Municipal de Turismo, em 12 de junho de 1.953; fundador da Associação Sulmineira de Imprensa(A.S.I), sendo um dos seus presidentes, ocupando vários outros cargos e sendo seu sócio de n°02(dois). É também um dos sócios- fundadores da Associação dos Cronistas Desportivas de Campinas, em 12 de junho de 1.946. Dentre as inúmeras e incontáveis honrarias recebidas, destacam-se: diplomas de honra ao mérito: - 20.01.71 – Câmara Municipal de Poços de Caldas, assinado pelo então presidente, Dr. João Eugênio de Almeida; 07.06.75 – SENAI- DRMG; - 19.08.75 – A.A. Caldense; - 16.11.77 – Ministério da Fazenda, Secretaria da Receita
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Federal; - 16.09.78 – Rotary Clube Poços de Caldas. Possui ainda várias premiações e medalhas por reportagens e fotografias. Profissional excelente, dedicado e competente, imparcial e independente, é ele profundo conhecedor do jornalismo e, sem favor algum, um dos seus maiores e mais completos representantes. Homem íntegro, probo, de conduta inatacável e caráter retilíneo, ótimo chefe de família e extremoso pai é um dos orgulhos e glória desta Poços de Caldas. Minhas homenagens, meu preito de gratidão e de amizade sincera e perene ao meu arquétipo, DÉCIO ALVES DE MORAIS, o “pai da imprensa local”. Manifestação que, a meu sentir, é compartilhada e sentida por todos os poços-caldenses. Poços. de Caldas, em 16.03.93
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a saPataria mascote Quando menino, além de carregador de cestas no Mercado Municipal aos sábados e domingos, durante a semana, no período da Tarde trabalhei como auxiliar de sapateiro, conforme relatei em uma de minhas crônicas. Assim, não me foi difícil enfrentar, em 1.952 ou 1.953, uma nova banca e sapateiro. Desta vez, foi na Sapataria Mascote, do amigo HENRIQUE GAIGA. Ele se estabeleceu com a Sapataria Mascote, um misto de sapataria, bazar, loja de confecções e banca de sapateiro em 03 de janeiro de 1.946, no prédio da extinta e sempre lembrada Casa Gaiga. No dia 06 de janeiro de 1.948, mudou-se para o prédio também situado na Avenida Francisco Salles, onde permanece até hoje. O Henrique é o pai da paciência. Calado, introvertido, quem o vê pela primeira vez, não avalia a bondade que reside naquele coração imenso, é casado com a Senhora. Aparecida, excelente esposa, fiel, companheira das horas boas e más, que lhe deu vários filhos e netos. Quando trabalhei na sapataria mascote, as rádios de São Paulo não tinham nenhuma penetração na cidade. Só as do Rio de Janeiro conseguiam vencer as montanhas, com especial destaque para a Rádio Nacional. Assim, o futebol aqui acompanhado era apenas o da então capital da República. Na oficina de consertos de sapatos, situada nos fundos da loja, trabalhavam: “xororó”, torcedor do fluminense; e Alcino de Brito, cujo apelido era “Ruarinho”, se não me engano, fanático pelo Botafogo Futebol Clube.
O dia todo só se falava, respirava e comia o campeonato carioca! Na hora do café, eu era o encarregado de buscar os pães, na Padaria Estrela. Todos nós trazíamos o café nas garrafinhas de ¼ dos inesquecíveis guaranás “Rubi” e “Iracê”. Aí, o papo ia longe. Corria légua e quilômetros, cidades e épocas vividas. Cada qual expondo e defendendo as qualidades dos seus times. Bons tempos aqueles... Eu me deleitava com os debates calorosos, homéricos e saudáveis, onde imperava, acima de tudo, o respeito e a admiração mútuas. Alguns deles já partiram para a eternidade, empreendendo a última viagem. Mas suas imagens ainda permanecem vivas em minha lembrança. Posteriormente, ao concluir o curso de técnico em contabilidade, fui responsável pela escrita da sapataria, durante um bom tempo. Mas era diferente. A luta insana do dia a dia, a correria despropositada que marca os tempos hodiernos, não permitiam nem “um dedo de prosa”, como diziam os antigos. Lutando com denodo e determinação, Henrique Gaiga conseguiu manter seu estabelecimento em atividade, não obstante as dificuldades enfrentadas durante todos esses anos e conhecidas de todos nós. Hoje, sou seu freguês! E minha alegria é com ele conversar, relembrando aquele tempo que não mais voltará... Garujá., em 23.04.93
o mais antiGo Vincentino em atiVidade Sizudb, circunspecto, quase nunca sorri! Qiem assim o ve, não avalia a alma generosa e o caridoso coração que difere meu amigo e confrade LUIZ PAGIN dos seres comuns. Nascido na Fazenda Recreio, no Município desta que, a meu sentir, e a mais linda e apra:Sível cidade: - Poços de Caldas, o sorriso de Deus na Terra, -1 no dia 23 de maio de 1.916, sendo seus pais Eugenio Pagin e Dg. Virgínia Paiaro Pagin. É ele o caçula de uma prole de sete filhos, quase todos falecidos. Dos I varões, somente o irmão Alexandre Pagin ainda vive. Em 16 de novembro de 1.949, nesta cidade, casou-se com a Sra. Marina Togni Pagin, com quem (os filhos:Sergio, Marina, Sílvia, Silvana e Luiz Cláudio, que lhe deram 11 netos. Descendendo de família modesta e de poucos recursos financeiros e mes mo ecônomicos, desde criança sua vida foi de sacrifícios, de lutas e de muito trabalho. Em 1.928, trabalhou como charretista. Em seguida, tendo”aprendido o ofício”, como se dizia na época, abraçou a profissão de alfaiate que exerceu ‘ ate aposentar-se, em 1.976. De 1.939 a 1.957, foi proprietário da Alfaiataria I Irmãos Pagin, juntamente com o irmão Alexandre. O estabelecimento era situado na Praça Dr. Pedro Sanches, ao lado do Restaurante Castelões e foi alí que com-prei meu primeiro terno sob medida, de casimira azulmarinho. Em julho de 1.936, ingressou na Sociedade São Vicente de Paulo, na Conferencia Nossa Senhora da Saúde e nela permanece ate hoje, sendo seu atual I Presidente, cargo por ele exercido
inúmeras e reiteradas vezes. Naquele tempo, segundo seu relato, o Pároco local era o Padre Eduardo Batista, que prestava a assistencia espiritual aos vicentinos. As reuniões semanais eram realizadas na antiga Igreja Matriz, onde hoje ergui’-se a atual. Nos fundos daquela havia a igreja consagrada a São Benedito. Somente anos mais tarde e que foi conseguida a transferencia e construção daquele templo na Praça que hoje leva o nome do ‘ santo milagroso que J, São Benedito. Profissional capaz e responsável, homem honesto e digno, de reputação ilibada, possui grande conceito perante a sociedade local, em razão dessas vir-tudes conhecidas de sobejo, aliadas à condição de ótimo chefe de família e pai amoroso. Seu divertimento é” a pescaria, que pratica con assiduidade. É um exímio pescador de tilópias. Apesar da “77g abobrinha que, no próximo dia 23 deste mes, colherá na horta da existincia”, continua ele a prestar seu trabalho e a sua colaboração ó Sociedade São Vicente de Paulo, de modo constante, expressivo e valioso, levando aos irmãos menos favorecidos a ajuda espiritual e material. Seu lema principal é a oração aliada à caridade! Sua figura humana compreensiva e amiga, é o farol que alumia e norteia o caminho nosso de vicentinos... Rogamos a Deus e a São Vicente de Paulo que, em seu aniversário natal! cio que esperamos repita-se ainda muitas vezes, cubram-no de bençãos e que, não só os confrades mais novos, mas a mocidade em geral tomem-no como como exemplo vivo e operante do Apóstolo da Caridade e da fe cristãs! Morou cim, de M3rcee Gja., em 24.04.93.
o santo da terra tamBÉm FaZ milaGres Ele foi meu professor de ciências, na antiga e saudosa Escola Técnica de Comércio. Sua matéria, naquela época, era abrangente e extensiva. Diversamente de hoje, quando existem as divisões e especializações, tais como Biologia, Física, Química, etc. Homem de temperamento forte, introspectivo e recolhido, infenso às manifestações ruidosas e expansivas, o PROFESSOR DR. ALDO STOPPA foi um grande e inigualável mestre. Sábio, educado e lhano no trato! Naquele velho casarão da Rua Minas Gerais, esquina com a Rua Ceará, juntamente com um punhado de idealistas, no cadinho incandescente e em ebulição do magistério, percorrendo com estoicismo a nem sempre florida estrada do ensino, ele forjou e moldou o caráter e a personalidade e muitos poços-caldenses. Retraído, sizudo e cenho constantemente carregando e pouco dado à demonstrações de afeto. Mas, bastava olhar- se em seus olhos vivos e inquisidores, para se descobrir a bondade e toda a satisfação que tomava conta do seu coração quando do sucesso alcançado por algum aluno seu. Eles brilhavam de contentamento e aquela fisionomia, sempre carregada, se iluminava de júbilo! A par do ensino, ele destacou- se e ainda sobressai como um dos melhores cirurgiões dentistas de Poços de Caldas, quiçá das Gerais. Além do que, possui o grau de doutorado em odontologia. Homem integro, de retilínio proceder, pai extremoso e ótimo
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chefe de família, sua vida é um exemplo. Casado com a senhora. Clari Bonazzi Stoppa, esposa exemplar, dedicada, amiga e companheira nas alegrias e nos infortúnios, pessoa excelente, de alegria e otimismo contagiantes, tem dois filhos, Aldo e Patrícia, os quais lhes deram quatro netos. Natural de Aguaí, Estado de São Paulo, onde nasceu a 07 de fevereiro de 1.929, é filho do casal Ida Untura Stoppa e Francisco Stoppa. Radicado em Poços de Caldas há mais de cinquenta anos. Hoje ele não mais leciona! Para surpresa e satisfação minhas, anos mais tarde, vim a descobrir outra qualidade entre as muitas do meu querido e inestimável mestre: ele é um excelente artista plástico e professor de vários pintores locais, inclusive de Márcia Maria, minha esposa. Não obstante minhas limitações e poucos conhecimentos em relação às artes plásticas, atrevo-me a afirmar ser ele um artista nato, primoroso, de rara e inefável sensibilidade, transpondo para as telas não só os temas a que se propõe, mas a pureza, a luminosidade e toda a grandeza de sua alma, dando vida e movimento aos objetos, condição que somente aqueles aquinhoados com o dom divino atingem! Acadêmico por excelência, seus quadros, indiscutíveis e reconhecidas obras de arte, ombreiam com as dos expoentes do academicismo coetâneo, sendo reconhecido e valorizado nacionalmente. Portador de extensa e grandiosa bagagem artística, o Prof. Dr. Aldo Stoppa frequentou uma grande número de cursos de desenho, pintura, composição e história da arte na Universidade Federal de Minas Gerais e na Escola guenard, em Belo Horizonte; no Rio de Janeiro, em São Paulo-capital; e, em Ribeirão Preto (SP). Entre seus professores destacam-se, Bruno Felisberti, de Poços de Caldas; Antônio Baldochi, de São Paulo; e, ainda expressivos artistas plásticos de reconhecido talento e destaque no cenário nacional. Os cursos de artes plásticas por ele concluídos são incontáveis e variados. Participante de exposições individuais e coletivas em salões de belas artes há mais de trinta anos. É possuidor de representações pictóricas em acervos de importantes museus históricos e geográficos, tais como, Poços de Caldas, Araras,(SP), Matão(SP), Rio Claro(SP), Limeira(SP), Piracicaba(SP) e Pouso Alegre(MG). 144
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Entretanto, o que nos chama a atenção, de uma maneira até gritante, é a relação dos prêmios, medalhas, troféus, participações como jurado em salões de belas artes, por este Brasil a fora, atingindo um número significativo, com nada mais, nada menos que quatorze(14) medalhas de ouro, sete(7) de prata; e nove(9) de bronze. Em três oportunidades foi considerado “ hors concours”. A primeira, em 1.986, no III Salão Acadêmico de Belas Artes, de Campinas(SP). A segunda, no mesmo ano, no XI SOBAM, de Matão(SP). E , a terceira, no XI Salão de Artes Plásticas Guiomar Novais, realizado na vizinha cidade paulista de São João da Boa Vista, no ano de 1.987. Meu estimado amigo e sempre mestre, prof. Dr. Aldo Stoppa, segundo a inolvidável lição de HNERY THOMAS e DANA LEE THOMAS, na obra “vidas de grandes pintores”: - “se não conhecemos o pintor, vemos seu quadro apenas parcialmente. É como assistir a uma peça, numa língua que não se entende. É unicamente através da personalidade do artista que podemos conseguir a chave para a linguagem de sua arte. E personalidade compreende o homem total, o retrato Íntimo, não somente os fatos eternos de uma vida, mas também os internos, e portanto o eterno, as aspirações da alma.” Inegavelmente, sua obra revela a busca constante e infatigável da perfeição da forma e do conteúdo, não só no plano artístico e estético, mas, também no individual e espiritual. Demonstra ainda, a perfeição do traço, o estilo marcante, vigoroso e belo e, sobretudo, a beleza e o esplendor que habitam a majestosa, fecunda e inspirada alma do artista consagrado, oculta sob as pálidas e singelas vestes da modéstia. Rogo a Deus pela continuidade do seu justo e merecido sucesso, pela perpetuação e abundância da inestimável fonte de sua inspirações e, finalmente, para que a cidade saiba reconhecer e valorizar o talento, o significado e a magnitude da obra que a engrandece e honra... Poços. de Caldas, em 10.05.93
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a liVraria Vida social Segunda a história, o Dr. CORNÉLIO TAVARES HOVELACQUE, renomado causídico desta cidade, profundo conhecedor do Direito e escritor de escola montou para a sua esposa, sra. ANA TENÓRIO HOVELACQUE, mais conhecida, carinhosamente, por SINHAZINHA HOVELACQUE a Papelaria e Livraria Vida Social, a princípio funcionando apenas como bazar e papelaria. Com o correr do tempo, em decorrência das necessidades dos profissionais liberais então existentes e mesmo da população, ampliou suas atividades nelas incluindo o comércio de livros. Entre estes, romances, poesia, literalmente de um modo geral e os livros jurídicos. Localizada na Rua Prefeito Chagas, n° 25, entre a antiga Casa Bela, posteriormente restaurante “Jeca Tatu” e Restaurante Estoril, e, hoje, Bar e Boite London, na esquina com a praça Dr. Pedro Sanches e, do lado esquerdo, ou seja, na Rua Prefeito Chagas, o consultório médico do falecido dr. Reinaldo Amarante, onde se situa o estacionamento do Banco Brasileiro de Descontos S.A. – BRADESCO. Com um invejável e completo estoque de variedades, a “Vida Social” era a coqueluche da sociedade poços-caldense. Referência e frequência obrigatória paras os amantes da boa leitura, por muitos anos reinou majestosa e absoluta. Com o passar do tempo, dona. SINHAZINHA HOVELACQUE afastou-se da loja! Dr. CORNÉLIO, para quem ela era parte integrante e inseparável
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de sua vida, tomou à frente dos negócios. Não me recordo se ele já possuía ali o seu escritório , quando o conheci, já em provecta idade, ele mantinha sua banca de advogado nas dependências da loja e era auxiliado por seu filho, amigo dileto e mestre de muitos de nós que principiávamos na profissão de advogado, o saudoso Dr. LEIBNITZ TAVARES HOVELACQUE, de rara inteligência e invulgar cultura geral e jurídica, recentemente falecido. Mais precisamente, no dia 22 de maio de 1.991. Com a doença e o afastamento do pai, Dr. LEIBNITZ passou a comandar as atividades da Livraria Vida Social, afastando – se, por completo, da advocacia. Salvo uma outra interrupção, inclusive, quando respondeu pelo contencioso do município. A Livraria Vida Social não era simplesmente um local de comércio de livros. Antes porém, era um templo de culto e da prática da literatura. Além de vender seus livros, era o obrigatório ponto de encontro de escritores e poetas de Poços de Caldas. Corriqueiro era encontrar-se um Benedicto Lopes, um Benedito Cyrillo de Oliveira, um Jurandir Ferreira, um Eduardo Adami, um José Palmério e tantos outros deuses do Olimpo da cultura de nossa terra em animadas conversas ou, simplesmente, por entre as inúmeras e bem arrumadas prateleiras entulhadas de livros, tomando conhecimento das novidades. O produto da venda de alguns exemplares de nossos livros eram utilizados na aquisição das obras dos mais variados e consagrados autores nacionais e internacionais. Eram ela vendidas para nós a preço especiais, dada a generosidade do Dr. LEIBNITZ e a benfazeja interferência da mais antiga funcionaria da casa, tendo ali trabalhado por mais de vinte e cinco anos A srta. Maria Liberty da Silva. A Liberty, como a chamava o Dr. LEIBNITZ que, graças a gentileza e à bondade que lhes são inatas. Sempre nos avisava das novidades recebidas. Em novembro de 1.979, em razão dos mais variados e insustentáveis encargos tais como, aluguel, tributos, etc., a Livraria Vida Social viria encerrar suas atividades, colocando um ponto final em uma tradição e uma glória de Poços de Caldas. Morria assim, não apenas a empresa, o estabelecimento comercial, mas naquela oportunidade findava o espaço da literatura local. Fechavam-se os
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pórticos da erudição e da vida literária, deixando órfãos e saudosos um grande número de literatos desta cidade. É o prêmio à cultura... é a recompensa àqueles que, durante anos e anos, serviram à comunidade de Poços de Caldas, promovendo e incentivando o aprimoramento do espírito e do saber... Guarujá., em 27.04.93
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o Peso de uma tristeZa É bem triste, meu amigo! A impressão que se tem é de que, sobre os seus ombros, outrora fortes e musculosos, repousa a tristeza do mundo. Mas nem sempre foi assim. ANTÔNIO BRAZ DE OLIVEIRA chegou em Poços de Caldas no ano de 1.942, vindo de sua cidade natal, Abre Campo de Minas, tendo nascido em 03 de fevereiro de 1.921. Trabalhou como garçom no Quisisana Hotel e em vários outros, antes de se estabelecer como tintureiro, primeiramente, na Rua Paraíba, onde permaneceu por muitos anos. Em 1.950, casou- se com a sra. Olívia de Abreu Oliveira, a querida e sempre lembrada “dona Lili”, esposa dedicada, companheira de todas as horas, com ela tendo os filhos Marco Antônio e Luiz Eduardo, que lhe deram seis netos. A vida inteira sua luta foi árdua, penosa e constante á custa de muito trabalho, de esforços os mais ingentes e de uma conduta honesta e inatacável, consegui ele construir sua casa à Rua Major Joaquim Bernardes, no Bairro Aparecida, para onde transferiu também a lavanderia. Foi ali que o conheci, quando me casei e até hoje é meu tintureiro. Por sinal, um excelente profissional . Nossa amizade pendura por mais de seis lustros e, mesmo havendo me mudado, continuo a levar- lhe, religiosamente, os ternos, calças e paletós que ele, caprichosa e zelosamente, lava e passa.
Não bastasse a amizade sincera que nos une, sonos ambos confrades vicentinos, embora pertença ele à conferência N.S de Lourdes e eu à conferência N.S da saúde, estamos unidos no amor a Deus, na prática constante da caridade, na dedicação e na assistência aos menos favorecidos. Tempos atrás, ele perdeu sua companheira, esposa e amiga constante e inseparável. Humilde, mansa e silenciosa como sempre viveu, partiu “dona Lili”. Deixando-o perdido e deslocado, em meio a um vácuo que sufoca e oprime, pungindo-lhe o peito de sofrimento e de saudade... Sentindo a dor amarga e cruenta da separação irreversível e a angústia brutal e dolorosa da solidão... Logo em seguida, foi atropelado e quase veio a falecer. No entanto, ainda que suportando tanta desgraça e tamanho sofrimento, mesmo aposentado, continua ele a trabalhar e a prestar sua valiosa e eficiente colaboração para o engrandecimento e a realização da sociedade São Vicente de Paulo. Profissional competente e honesto, chefe de família e pai extremoso, ele possui um imensurável amor à vida, uma ferrenha invejável e inabalável fé em Deus e nos seus desígnios, que nos contagiam e levam a repensar nossas vidas e condutas, mormente a religiosa! O amigo Braz, como o chamo, é um exemplo claro e indiscutível de estoicismo, de coragem e de força de vontade. Hoje eu entendo... A dor e o sofrimento que turvam seus olhos, revelam a origem e a fonte de toda tristeza que carrega... É de solidão e de saudade... Garujá., em 23.04.93
o cassino da urca Depredado, aos pedaços, na iminência de ruir, assim encontrei ao passar, saudosamente, por suas dependências, antes de dirigirme à Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que se localiza nos fundos daquele que já foi uma das pérolas da Estância, na década de quarenta. Local onde se apresentaram os mais renomados artistas. Onde, por centenas e milhares de vezes, Poços de Caldas recepcionou as mais ilustres e importantes personalidades do mundo político, social e artístico. Onde, mais recentemente, funcionaram a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e o Conservatório Municipal. Onde se reuniam o Clube da Saudade, promovendo seus grandiosos bailes. E, em seu teatro, mesmo em condições precárias, o Grupo Teatral Benigno Gaiga se apresentava em interpretações inesquecíveis. Onde se realizaram eventos memoráveis, como a posse solene dos Acadêmicos pertencentes à Academia Poços-caldense de Letras, em 01 de Setembro de 1979, quando ali se apresentaram artistas campineiros de renome internacional. E, também, onde promovi o lançamento de meus três primeiros livros. Pobre Cassino da Urca... que um dia, chegou a rivalizar com seu similar do Rio de Janeiro... Obra arquitetônica de grande expressão e invulgar beleza, hoje jaz mutilada e semidestruída em consequência da vileza, das covardes e ignominiosas agressões que maculam suas paredes. Foi imensa a tristeza que invadiu o meu ser sufocando o peito
em ondas escandentes de revolta. A violência da amargura explodiu em miríades de fragmentos nesse sentir de perda irreparável! É a dor da saudade e da lembrança... Sentimento que sempre me envolve e me entristece quando deparo com aniquilamento, a dilapidação do patrimônio histórico desta terra que amo e extremesso, que elegi por mãe e que por sua vez, me tomou por filho! Através do relato dos meus pais de pessoas mais antigas que viveram a áurea fase da estância quando do jogo bancado, tomamos conhecimento do explendor, da grandeza, do fausto, do luxo e da riqueza que identificava e destacava Poços de Caldas no cenário nacional e mundial como “ O Cartão de Visitas do Brasil”. Em um dos pontos de realce do antigo “ Cartão de Visitas”, era justamente o Cassino da Urca! Hoje, em franca ruína. O amontoado de lixo e de escombros por entre as paredes outrora tão famosas, ricas em ornatos as mais bem trabalhadas obras raras e insuperáveis dos artesãos de antanho. Mas, ainda me resta a esperança, o consolo e a certeza de que nosso Prefeito Municipal, o amigo Dr. Luiz Antônio Batista, a exemplo do seu antecessor a de preservar a memória histórica de Poços de Caldas, concluindo as restaurações iniciadas e promovendo outras tantas, a fim de que as gerações vindouras conheçam e amem a história e o passado da nossa terra. Porque, sem o passado nada existe... Poços de Caldas em 08.06.93
um dos VarÕes da “rePÚBlica de monte carmelo” Pouca gente sabe que, em fins do século passado, por um breve período, a vizinha cidade de Campestre pretendeu o seu desligamento da união, constituindo, por uns dias, a “ República de Monte Carmelo “. É óbvio que a iniciativa não vingou! Os governos federal e estadual enviaram suas tropas que sufocaram a sedição, pondo termo, assim, à aspiração separatista dos campestrenses. No entanto, não é sobre a insurreição dos bravos habitantes daquela cidade que pretendo falar. Mas de um de seus filhos que, a exemplo de outros cidadãos, oriundos de outras plagas, como Andradas, Botelhos, Cabo Verde, Machado, etc., aqui passou a residir, constituindo família e emprestando seu concurso para o crescimento e valorização desta Poços de Caldas que estremecidamente amamos! Falo do Dr. JOSÉ BOTELHO MUNIZ NETO! Bacharel em direito e ex- titular do cartório do registro de títulos e documentos da comarca, recentemente aposentado. Exemplo inconteste de amor ao trabalho, honesto, íntegro, dedicação à família composta da sra. Cleusa Danza Botelho, filho e netos. Além do que, é tio de meus queridos e particulares amigos Graciema Rocha Leite, casada com Sebastião Pereira Leite( antigos proprietários da
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papelaria Poços de Caldas, então localizada na Rua Assis Figueiredo, onde hoje funciona a Lanchonete Restaurante Fanícia); e de Alaor da Silva Rocha, o primeiro funcionário da Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais, a Minas Caixa (maquiavelicamente liquidada), quando esta, simplesmente um posto de serviço, se localizava na esquina da Rua Assis Figueiredo com a Praça Monsenhor Faria de Castro ( hoje bar do marrom ). No andar superior, funcionou durante muito tempo, a delegacia fiscal, atualmente administração fazendária. Aqui, tendo fixado residência lá pelos idos de 1.942, José Bottelho foi auxiliar de Farmacêutico, na Farmácia Santa Terezinha, pertencente ao Major da Guarda Nacional, Martinho Mourão, localizada na Rua Junqueiras, n°574, onde permaneceu até o ano de 1.953. dentre seus proprietários posteriores, podemos destacar o senhor. Alexandre Dias Ferreira, o “ Xandinho” e o último, o querido e sempre lembrado Lázaro Camilo, O “ Lazinho”, com o seu jeito simples, humilde e de bondade imensa. Nesta época, ou seja, quando o Lazinho era o dono da farmácia, diariamente, após o almoço, lá era ponto de encontro de Izabel Camilo, Rosely, do hotel Aurora, Venício Gomes, os primos Luiz Antônio Ballerini, Clóvis Augusto Domênico, meu de tantos outros amigos. Mas é hora de caçar velas à saudade... Voltemos ao querido amigo “ Zé Botelho “, como é carinhosamente chamado por todos aqueles que lhe têm estima. Ainda em 1.953, ingressou ele no cartório do 1° oficio da comarca, então pertencente ao saudoso amigo Aldo Dias Simões Vieira que, na época, cumulava o tabelionato, o judicial, notas e o registro de título e documento. Com o crescimento da comarca, os cartórios foram desmembrados, cabendo ao amigo “ Zé Botelho”, o do registro de títulos e documento, onde permaneceu até aposentarse no ano passado. Impõe-se o registro que, ininterruptamente, sem folga ou revezamento, de 1.954 a 1.992, ele ocupou o cargo de secretários do serviço eleitoral e, de 1.959 a 1.992, o de secretário do juiz corregedor do fórum. Nossa amizade remonta há mais ou menos 1.958, quando
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eu trabalhava no comércio e indústria de bebida dacar, do sempre lembrado amigo Antônio Joaquim Ralo, na Rua Paraíba, onde ainda existe o representante da Antártica. Lá trabalhávamos com os amigos Miguel Bertozzi, João Kalaff, Umari Beccaro, José Da Ré, Antônio Jaculi e Outros. Naqueles tempos difíceis, o “Zé Botelho” representava, vendia e entregava em domicílio, as obras do clube do livro. Eram reedições de autores brasileiros, dos quais adquirimos, mensalmente, um exemplar. Ainda recordo-me dele com aquelas sacolas de lona, pesadas, repletas de romances, a percorrer a cidade. Mais tarde, viria eu a trabalhar com ele no cartório do 1° ofício, tendo aprendido as mais valiosas lições, graças à sua infindável paciência e profundo conhecimento da vida cartorária. Acrescentese ainda, que durante o período aproximado de vinte e cinco anos, compreendidos entre 1.983, trabalhamos juntos em todas as eleições havidas. Sempre preocupado com os menos favorecidos, ele está à frente de inúmeras campanhas e entidades de benemerência. É um dos fundadores do Lions Clube, cujas campanha de auxílio à visão daqueles que necessitam são constantes e bem sucedidas. É o idealizador e fundador do banco de olhos de Poços de Caldas, entre tantas outras atividades à comunidade. Fica aqui, nestas pálidas e singelas linhas, o registro de minha estima e a sincera homenagem a um dos varões de destaque da efêmera, porém valiosa por sua safra, “República de Monte Carmelo”, JOSÉ BOTELHO MUNIZ NETO! Poços. de Caldas, 03.07.93
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o rePentista de Poços de caldas Bem sei que algumas pessoas, levadas por sentimentos inexplicáveis, buscam denegrir e diminuir estas despretensiosas linhas, atribuindo- lhes a feição de panegírico, de elogio encomendado. Além de errada essa concepção, sua inutilidade é manifesta. Não escrevo para adular ou puxar o saco de ninguém! Não vivo da pena, como alguns... Se escrevo, é por gostar e com a intenção de homenagear aqueles que fazem a história da cidade, tanto na evidência dos acontecimentos, como no anonimato e na simplicidade da vida! Sou o que sou! Cheguei onde estou, graças à ajuda de DEUS e ao meu trabalho modesto, porém honrado. Sou infenso às bajulações, louvaminhas e rapapés. Não preciso agradar a ninguém! Aqueles que pretendem dar outra roupagem ao meu trabalho, são os que jamais merecerão de minha parte uma linha sequer, pelos motivos que, de sobejo, eles conhecem... Só escrevo sobre quem realmente gosto e admiro! Escrever, para mim, é como respirar, viver... É um ato de amor, de fé!... Para ALMEIDA CYRINO: “ A inspiração do artista vem de Deus pela graça, é um dom divino, e se animou pro fundo da alma, tornando- o um ser contemplativo que procura penetrar na essência das coisa, num desejo sublime de compreender e divulgar os quatro
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cantos do universo o esplendor da beleza”. Por isso escrevo! E, continuarei a fazê- lo enquanto Deus me der força para tanto. Feitos e reiterados os esclarecimentos já formulados, rogando aos caros leitores o perdão devido, vamos ao objetivo destas desvalidas linhas. Dia destes, ao remexer em meus arquivos, encontrei um acróstico dedicado a Poços de Caldas. Um simples folheto, publicado há muito tempo sob os auspícios do amigo Sebastião da Costa Abrantes, proprietário do joia Hotel. O folheto singelo, encerra uma das mais belas homenagens prestadas à nossa cidade, por um homem simples, humilde e modesto. MESSIAS ALVES DE SOUZA, pai do meu amigo companheiro de folguedos, Wilson Alves de Souza, é a meu sentir, um dos maiores, senão o maior repentista das Minas Gerais. Dê- lhe um tema e os versos fluem com a naturalidade e a facilidade de quem realmente conhece o ofício. Os desafios, as emboladas, ele as domina com desenvoltura, sensibilidade e emoção: É um artista nato! Inúmeras vezes premiado, ele enaltece e divulga o nome desta cidade, em todos os locais em que se apresenta. Extrovertido, alegre e brincalhão, é ele a encarnação de um tempo que não mais voltará Quantas vezes ouvi-o declamar várias de suas obras. Porém, a mais marcante é uma embolada sobre a Copa do Mundo de 1.970, na qual ele incluiu os nomes de todos os jogadores para ela convocados. Sem favor algum, fica o registro de minha homenagem a esse artista excelente, esse mestre da rima e do verso, que é MESSIAS ALVES DE SOUZA! Finalizando, transcrevo o acróstico de sua autoria, dedicado à nossa cidade.
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Poços de Caldas do Meu Tempo
“ ACRÓSTICO SOBRE POÇOS DE CALDAS” Por ser a terra das rosas Os turistas vêm com ansiedade Com muita fé e convicção Onde encontram tranquilidade Seus hotéis são prova disto Digo isso com sinceridade Eu trabalhei em muitos deles Como garçom em minha mocidade Aqui há gente de todo Brasil Lutam, trabalham, mas têm liberdade Dando sua parte para o progresso Alguns ainda passam dificuldades Sei que Deus é brasileiros e abençoa a humanidade Garujá., em 21.07.93
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“um italiano de Poços de caldas” Itália.
Ele nasceu em Lamosano D’ Alpago, Província de Belluno, na
Aos dezoitos anos, após o termino da Segunda Guerra Mundial, com a crise violenta que assolava o mundo, sem emprego, perambulou ele por muito tempo, até que em 13 de setembro de 1.950 emigrou para o Brasil. Aqui chegando, trabalhou como lenhador, em Embu – Graçu (SP). Com a falência da firma onde trabalhava, ele foi para o Paraná, onde trabalhou como aprendiz de pedreiro e, depois como construtor, nas cidades de Nova Fátima e Bela Vista do Paraíso. No carnaval de 1.956, em gozo de suas primeiras férias, veio a Poços de Caldas, encantando-se com a cidade e aqui fixando residência, trabalhando na antiga Casa Cristal. Esse é o meu amigo DUÍLIO DE BATISTA, um italiano profundamente enamorado de Poços de Caldas, onde conheceu a Senhora. Ivone Cagnani de Batista, com ela tendo contraído matrimônio a 22 de maio de 1.958. Há trinta anos, comprou a loja de “souvenirs”, localizada na Praça Dom Pedro II (Jardim dos Macacos), onde ele trabalha e tira o sustento próprio e de sua esposa. Homem tímido, porém amigo sincero, honesto e trabalhador, cumpridor de suas obrigações, vive ele, de maneira simples e modesta, sem badalações, mas, perfeitamente integrado em nossa comunidade que o adotou como filho.
São homens como ele que ajudam a escrever a história da cidade! O seu amor sincero e comovente por esta terra emerge, em toda a plenitude, desta sua afirmação: - “ Voltei algumas vezes à Itália, para visitar a família. Mas sinto saudade logo do meu Brasil, que me acolheu sempre bem, com a educação paterna e com a convivência do inteligente e criativo povo brasileiro, estou integrado e feliz de morar nesta hospitaleira cidade privilegiada que é, sem dúvida, Poços de Caldas.” Registro assim, minha admiração e homenagem a esse lutador e companheiro que é já poçoscaldense DUÍLIO DE BATISTA ! Garujá., em 23.07.93
o amiGo “Filhinho” BENEDICTO RAPHAEL MIGUEL ÂNGELO PISANI é natural desta cidade, onde nasceu a 08 de maio de 1.925. segundo ele próprio diz, referindo-se a seu nome: - “isso tudo aí sou eu “ ! Durante mais de quarenta anos, ele trabalhou na Farmácia Central, fundada por Norberto Ferreira e, inicialmente, situada na esquina da rua Assis Figueiredo com a rua São Paulo. Em 1.935, o saudoso Oscar Nassif, então funcionário do escritor e confrade Jurandir Ferreira, na Farmácia Rosário, adquiriu a farmácia Central, transferindo- a para a mesma Rua Assis Figueiredo, esquina com a Rua Rio de Janeiro, onde até hoje permanece. Ali, o amigo “Filhinho”, aos dez anos de idade, começou a trabalhar, permanecendo até o ano de 1.975, quando aposentou- se por tempo de serviço. Segundo ele, naquela época os remédios eram todos manipulados. As receitas eram aviadas nas próprias farmácias. Todas elas possuíam o laboratório destinado à manipulação dos medicamentos. A responsabilidade, tanto do farmacêutico, como dos seus funcionários, era enorme. Foram seus companheiros de trabalho durante muitos anos, entre outros, os amigos Januário Amalfi e Neusa Della Santina. Quantos garotos com ele aprenderam o ofício! Entre eles, meu irmão Carlos Sérgio, que lá trabalhou por um bom tempo. Em 07 de maio de 1.949, casou- se com a senhora. Jacira Ribeiro
Pisani, esposa e companheira dedicada, profundamente religiosa, que lhe deu os filhos Miguel Ângelo, Francisco e Jacira Rosa, os quais lhe deram nove netos. A amiga dona Jacira, além dos inegáveis pendores domésticos, é uma ótima poetisa e escritora, pertencendo ao clube dos escritores desta cidade. Em 27 de setembro de 1.992, foi homenageada pela prefeitura municipal da vizinha cidade de Muzambinho, neste estado, com um cartão de prata, por sua participação no concurso para a escolha do hino oficial da cidade. Meu amigo RAPHAEL PISANI, o “Filhinho”, é vicentino desde 1.960, pertencendo à Conferencia São Francisco, da Sociedade São Vicente de Paulo. Grande amigo, excelente profissional, chefe de família e pai extremado, mesmo vivendo modestamente, criou seus filhos nos sagrados princípios da moral, da honestidade e da religião e ainda auxilia aos irmãos menos favorecidos. Congratulações, “Filhinho” e as nossas homenagens sentidas e sinceras ! Garujá., em 23.07.93
ao meu Pai arthur riBeiro de moraes É dia dos pais ! Em todos os lares, inclusive no meu, há festa e alegria. Minha esposa, meus filhos e minhas netas amorosamente no costumeiro gesto repleto de estima e carinho, procuram contagiarme com a felicidade e a euforia que transbordam dos seus generosos corações. Mas falta-me algo... Falta-me a tua presença amiga, tua voz forte e a tranquilidade, o calor e a segurança que emanavam de ti... Eras então, a árvore frondosa onde tantas e tantas vezes, quando menino, busquei refúgio e proteção . Meus filhos e meus netos não te conheceram! Para eles, és apenas a foto emoldurada de um homem bom. amarelecida pelo tempo. Esbatida pelo inexorável passar dos anos, pelo trabalho silencioso e dolorido da linha do tempo, que pesam e marcam indelevelmente. Há mais de trinta anos foste embora, transpondo os umbrais da eternidade, para habitar o jardim celeste, onde vivem os justos e os bons. Mesmo decorridos tantos anos da tua partida... Mesmo assim, tua presença viva em mim. E , te sinto a meu lado, com o senhor franzido, com aquele ar de falsa braveza sério, de pouco sorrir! Era meu desejo render-te uma homenagem que fosse toda e inteiramente tua, correspondendo ao teu imensurável valor como
homem íntegro e honesto, como profissional competente e como pai estremado, amigo e companheiro. Homenagem valiosa, que perpetuasse no espaço, no tempo e no infinito. Não os parcos e desvalidos que te dediquei... Mas algo imenso, forte, eterno e duradouro como o carvalho! Por mais que me esforce, não consigo encontrá-la... Então, busco refúgio e consolo na oração. Na prece silenciosa e sentida endereçada ao criador que é, antes de tudo, o PAI ETERNO. E ao longo, atravessando as barreiras do tempo, abafada pelas brumas e pela névoa da tristeza e do passado, sufocada pela força do vento que agita o cimo dos pinheirais, parece-me ouvir a tua voz... A princípio, fraca, quase um sussurro... Depois, Límpida, vibrante, cristalina e sonora como antigamente, a dizer-me: “ Meu filho, não conheci meus netos nem meus bisnetos. Mas em tua vida eu sempre estarei presente, como estarei também nas dos teus descendentes, ainda que não me tenham conhecido. Em tuas veias, como na de cada um deles meu sangue corre... Minha vida, a cada dia, se perpetua e se renova... És Pai e Avô. Quando te homenageiam, a mim grandiosa, a mais completa e perene de todas as homenagens: o renovar constante da vida . Poços. de caldas, em 03.08.93
uma PÁGina de saudade O dia dez de junho pretérito amanheceu como tantos outros que compõem o nosso outono. Frio cinzento e plúmbeo, com aquele ar repleto de saudade. O tom amarelado das flores que, ao sabor da brisa, executam o bailado final de sua existência, traz ao nosso coração o peso da nostalgia e a inevitável remembrança. Há vinte anos, mais precisamente no dia 10 de junho de 1.973, falecia meu sogro JOSÉ BENEDITO FERREIRA. Natural de Camanducaia, neste Estado, onde nasceu a 29 de maio de 1.913. Era filho de Benedito Ferreira de Almeida, prematuramente falecido, tendo ele poucos meses de vida, e da senhora. Esther de Almeida Prata, a querida e saudosa “vó Esther”, parteira de competência indiscutível e imenso coração que trouxe ao mundo uma grande parte da população poços-caldense. Do segundo casamento de sua mãe, nasceram suas quatro irmãs: - Maria, que foi casada com Oswaldo Ballerini, o “Xulu”. Joana casada com Eurico Rochetto, Benedita, esposa de Walter Pomárico, tabelião do registro de imóveis desta comarca; e Nelita, residente na capital de São Paulo e que fora casada com Ari Pavam. As duas primeiras já são falecidas. Em consequência das segundas núpcias, nasceu o menino José que em tenra idade, veio residir nesta cidade, na casa de sua avó materna Eulália de Almeida Prata, sendo criado pelas tias Lucila, Cota e Tina.
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Longe da mãe, sofreu muito com a falta do carinho e do aconchego maternos. Sua infância de luta e sofrer constantes, marcaram o seu caráter ainda em formação. Impedindo de estudar, nem o curso primário conseguiu concluir. Desde pequenino trabalhou muito. Segundo seus relatos, um dos seus trabalhos, entre outros, foi o da realização das obras de calçamento da antiga Rua Paraná, hoje Rua Assis Figueiredo. Com muito esforço, logrou ele ingressar como auxiliar de garçom, no Palácio Hotel, na época considerado um dos melhores, senão o melhor emprego da cidade. De baixa estatura, muito magro, mirrado e o mais novo em idade, recebeu o epíteto de “José Bandejinha”, que ostentava com orgulho e carregou pela vida a fora. Dotado de férrea vontade, mesmo sem instrução, falava e entendia os idiomas inglês, francês e italiano, além de escrever e falar corretamente o vernáculo. No Palácio Hotel permaneceu até 20 de novembro de 1.940, quando passou a trabalhar no Hotel Quisisana, a convite da família Vivaldi Leite Ribeiro. Naquele emprego chegou ao cargo maior da categoria: “Maitre D’ hotel”, que ocupou até fins de 1.963, quando o hotel foi extinto e transformado em condomínio, o atual condomínio Quisissana. Em novembro de 1.963 foi ele admitido no Hotel Minas Gerais, no mesmo cargo, ali trabalhando até 08 de junho de 1.973. Na data de 30 de abril de 1.934, viria ele a contrair matrimônio com a senhora. Luiza Piffer Ferreira, companheira extremada, dedicada e que o acompanhou por mais de cinquenta anos. Desse consórcio, nasceram os filhos: Dorival (falecido em tenra idade); Marilda, casada com Adjalmo Cagnani; José Carlos, casado com Maria Macêdo Ferreira; e, a caçula, Márcia Maria, minha esposa. Sua progênie inclui ainda oito netos e dez bisnetos, alguns dos quais ele não chegou a conhecer. Homem íntegro, extremamente dedicado à família e ao trabalho, sua vida é um edificante exemplo de honestidade, dignidade, de amor à família e ao próximo. Havendo perdido meu pai muito cedo, nele encontrei o companheiro, o amigo, o conselheiro e meu confidente. Com ele aprendi as mais belas lições da vida, de amor, de perdão, aliadas aos
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marcantes e inúmeros exemplos do verdadeiro e grande homem que ele foi . Dos anais do tempo, envoltos nas brumas da tristeza, pungindo dolorosamente este velho coração, nesta singela e desvalida página de saudade, toda minha gratidão e homenagem a JOSÉ BENEDITO FERREIRA, meu segundo pai, pelo muito que lhe devo !... Poços. de Caldas, em 10.06.93
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dr. josÉ carlos de PaiVa cardillo Na década de cinquenta, por estas plagas, vários advogados de renome e de comprovada competência militavam no fórum local. Entre eles podemos citar o Dr. Cornélio tavares Hovelacque, Dr. Edmundo Gouvêa Cardillo, Dr. José Arantes de Paiva, Dr. Leibnitiz Tavares Hovelacque, Dr. João Eugênio de Almeida, Dr. Carlos Érrico Neto, Dr. Rafael Acconccia, Dr. Gutemberg Fernandes, Dr. José Tamoio Vilhena de Andrade e outros. No final daquela década, dois novos talentos vieram somar-se aqueloutros então existentes. Personagens marcantes, rivalizando entre si em inteligência, cultura, saber jurídico, no ímpeto e dinamismo, formam eles, Dr. Arthur de Mendonça Chaves Filho que, salvo engano, bacharelou- se pela Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, no ano de 1.958, a quem me referi anteriormente, e o Dr. JOSÉ CARLOS PAIVA CARDILLO, diplomado pela Pontifícia Universidade Católica de Santos- SP., em fins de 1.959, ambos amigos particulares e grandes profissionais. Tribunos por excelência, bem cedo sentiam eles o sabor das vitórias e o indescritível trilhar da estrada bafejada pela brisa dourada e arrebatadora do sucesso. Duas personalidade de brilho invulgar no cenário jurídico da estância, não obstante as diferenças de atuação, de modo e de expressão, no campo do Direito. O primeiro, criminalista, o segundo, tributalista e civilista, a ambos tenho por arquétipos.
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Se ao primeiro servi como estagiário, do segundo recebi as primeiras linhas e gosto pelo Direito quando, no curso de contabilidade, foi meu professor de “direito usual e legislação aplicada”, matéria que mais tarde, viria eu a lecionar. Acresce lembrar ainda que, contrariando o antigo costume observado na época, que elegia ou indicava políticos de renome e em evidência, ele paraninfou a turma dos formandos em contabilidade do ano de 1.962 , tomando o grau de estima, admiração e respeito que lhe devotam os neocontabilistas de então, seus eternos alunos. Posteriormente, fui seu assistente na cadeira de Direito Tributário, da qual é titular, na Faculdade de Administração de Empresas, desta cidade. Consultor jurídico de renome nacional e internacional, o Dr, JOSÉ CARLOS, o “ zeca “, para nós seus amigos, é um dos luminares da ciência do direito em nossa cidade. Profissional competente, dedicado e culto, de inteligência ímpar, sagaz e combativo, não nega o tronco do qual provém. Seu pai, o saudoso Dr. Edmundo Gouvêa Cardillo, além de escritor de nomeada, autor de vários livros publicados, foi um dos melhores causídicos de Poços de Caldas e das Gerais. Entre os inúmeros cargos por ele ocupados destacam-se o de membro do Conselho Consultivo da Alcoa Alumínio S.A. há vários anos, e o de Consultor Jurídico da Associação Comercial, Industrial e Agrária de nossa cidade, desde a sua fundação. Homem íntegro, de ilibada conduta, é casado com Marisa Nogueira da Silva de Paiva Cardillo, que lhe deus os filhos Zezito (que segue a carreira do pai), Adinho (comerciante) e Claudinha (a caçula e sua grande paixão), os quais o aquinhoaram com vários netos. Com ele muito aprendi e continuo a aprender, a exemplo de tantos outros amigos. Fica assim, o registro de minha sincera homenagem ao amigo particular, mestre de sempre e valoroso profissional do Direito que engrandece e honra não só a classe, mas à cidade, o Estado e o Brasil. E isso faço, por coerência e por entender que as homenagens e a exteriozação dos sinceros e imorredouros sentimentos de gratidão e de admiração, que não se confundem com os panegíricos, com as
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Poços de Caldas do Meu Tempo
louvaminhas e os rapapés, hão que ser prestados em vida e não “post mortem”. Evitando que ocorre o triste e lamentável final daquela música gravada pelo inigualável Nelson Gonçalves: “Depois, quando eu me chamar saudade, quero flores e nada mais.”... Poços de Caldas, 14.06.93
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a VocaçÃo sacerdotal A religião católica, sem embargo ao trabalho de uns poucos abnegados, paulatinamente, vem perdendo espaço e adeptos para as outras religiões, nestes últimos anos. O êxodo continua a aumentar com celeridade incrível. Muitos estudiosos tentam justificar a evasão dos fiéis, apontando como causa as promessas de curas milagrosas das demais religiões para uma população sofrida e desiludida, que espera respostas e soluções urgentes para os seus problemas espirituais e os males temporais. Apesar de concordar, em parte, com essas afirmações, não as considero a causa exclusiva do assustador fenômeno que atinge nossa religião. A atuação de uma ala radical da igreja, preocupada e voltada para os problemas materiais e políticos da sociedade, mais a diminuição constante da formação e ordenação de novos pastores são, o meu sentir, fatores predominantes e que não podem ser desprezados. Não bastassem esses fenômenos, por si só alarmantes, dias atrás, em conversa com meu querido amigo e guia espiritual, o sempre padre Cavour, tomei conhecimento da recente recomendação de S.S. o papa João Paulo II, para que os sacerdotes com mais de 75 anos de idade afastem-se do ministério religioso. A notícia, além de trazer profunda tristeza, causou-me imensa consternação e inegável apreensão. Na proporção assustadora em
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que diminui a vocação sacerdotal, a se cumprir a determinação do Santo Padre, muito em breve, não mais teremos sacerdotes. Por coincidência, no jornal “Brand News” de junho pretérito, li a crônica do companheiro e amigo, o escritor Odair Camillo, na qual ele enfatiza e aconselha a “aposentadoria compulsória” dos padres, como uma forma de provocar a renovação do clero. Com o respeito que merece meu ilustre e consagrado amigo, ouso dele discordar. Se aceita a sua sugestão, a tendência inevitável é o desaparecimento dos padres. Não que seja eu contrário ao descaso desses pescadores de almas. Mas é de sabença comum que a vocação é um dom subjetivo e pessoal. Antes de uma opção de vida, é a inclinação para o sacerdócio e para a vida religiosa. Não existem concursos para despertar ou aumentar a vocação sacerdotal, como não os há para os escritores e os poetas... Quando muito, pode-se incentivar os já existentes ! O sacerdote, continuador da obra de Jesus Cristo na Terra, é um pastor de almas. O guia do seu rebanho e o representante de DEUS e da Igreja! Não é ele um funcionário público... Não onera o Erário... Ao contrário, no mais das vezes, supre ele as deficiências destes! Suas atividades, embora terrenas, são de natureza essencialmente espiritual e divina. A desproporção entre os desfalques e as baixas nas fileiras sacerdotais, motivadas por doenças, abandono da batina em alguns casos, velhice e morte dos padres e o surgimento de novos pastores espirituais é imensurável. Não há, pois, como falar-se em afastamento ou “aposentadoria compulsória” dos membros do clero. Por isso, até que se encontre a solução necessária e consigase reavivar e despertar a vocação sacerdotal, os padres, cônegos, monsenhores, bispos, etc., ainda que em idade provecta, mas com lucidez e disposição suficientes devem permanecer na lida difícil, mas de real significado. E, no perene redil da vida, à frente de suas ovelhas, socorrendo-as, amparando-as e iluminando -lhes os espíritos e as almas, de real valia para o criador... De minha parte e, creio que em nome de todos os seus
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paroquianos, ouso perguntar – lhe, PADRE CAVOUR: - o que será de nós? Rogo a Deus nosso senhor, para que não permita se concretize essa determinação de desastrosas consequências para a nossa Igreja. Por tudo isso, na condição de paroquiano, de amigo e de admirador inconteste, se me é permitido fazer um pedido, com o coração contrito e a alma genuflexa, peço – lhe PADRE CAVOUR: não relegue à orfandade suas pobres ovelhas... Não deixe acéfalo e perdido este seu rebanho! Poços de caldas, em 01.07.93
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adeus, Áthila !... Os desígnios do Senhor são inexplicáveis. No trigal da vida, a loura espiga foi colhida de modo abrupto e doloroso, ainda que não sazonada! Sua existência foi ceifada no esplendor da adolescência, quando o mundo todo lhe sorria. Não maldizemos a sua partida. Agradecemos ao criador a felicidade de havermos compartilhado e participado de sua breve. porém, alegre permanência na Terra. A morte é um repouso para aqueles que amam a Deus. E você, ÁTHILA CAGNANI DE MELO, obra inegável do Pai Celeste, o amou em toda extensão, com o ímpeto, a exuberância e o vigor da adolescência, no calor da sua presença discreta e avessa às ruidosas manifestações; no brilho do seu sorriso, ora tímido, ora maroto. Mas, chegou a inevitável hora da partida ! O retorno à casa do pai... A dor da saudade magoa e punge o coração de todos nós que aqui ficamos, na esperança do reencontro final... Entretanto, apesar do sofrer sentido, resta-nos o consolo de que você viverá para sempre em nossos corações. Você leva um pedaço de cada um e de todos nós. E, nos sagrados vergéis floridos do empíreo, que embelezam e adornam a eterna morada, onde temos certeza você se encontra, junto aos anjos, num cantar melodioso e festivo, em meio ao
doce perfume das flores, o suave murmurio do regato e o alegre e barulhento gorjeio dos pรกssaros, depositamos as nossas preces, nosso carinho e toda esta saudade imensa que invade nossas almas . Adeus ร THILA... Do seu tio Poรงos de Caldas, em 17.07.93
carlos antonio BonaZZi Seu pai, o emérito Júlio Bonazzi, foi meu professor de matemática a antiga escola técnica de comércio. Sua mãe, a sra. Ida Profile Bonazzi, de rara e imensa bondade e incontáveis predicados , era imagem da candura. CARLOS ANTONIO BONAZZI nasceu nesta cidade, no dia 08 de maio do ano de 1.928. em fins de 1.946, concluiu seus estudos de contabilidade, formando- se pela escola técnica de comercio local, recebendo o título de contador, privilegio de uns poucos profissionais. Em 1.945, salvo engano, ingressou na agência local do banco de credito real de Minas Gerais S.A., ali permanecendo durante trinta e cinco anos, até o seu falecimento ocorrido em 09 de abril de 1.980. Foi casado com Iracema Martinez Contolli Bertozzi, esposa amiga e dedicada, companheira, com quem teve quatros filhos: Júlio Eduardo, Icílio, e os gêmeos Carlos Antonio e Carlos Alberto, tendo vários netos. Os dois últimos, regulando em idade com meu filho Cleyton, estudaram juntos, sendo amigos e companheiros e, a exemplo de outros garotos do bairro Aparecida, onde morávamos, jogavam futebol na Guadalajara F.C., cujo técnico era o amigo Adolfinho. Todo sábado ou domingo, lá estávamos nós, o Bonazzi e eu, sofrendo e esbravejando nos campos de futebol amador da cidade, incentivando a garotada. Ora ele, em sua brasilia, ora eu, em meu opala, transportávamos os atletas infantis que, não obstante as
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costumeiras e inúmeras derrotas, nos davam em cem número de alegrias. Católico fervoroso e praticante, tinha ele por hábito inalterável, a frequência à missa dominical as 09:00 horas, na igreja matriz, onde auxiliava os serviços religiosos e, seu único divertimento, além do “sofrimento” com o “guadá”, como carinhosamente denominávamos o clube dos meninos, era o “dedo de prosa” com amigos no estabelecimento dos saudosos irmãos Sayeg, logo após a missa. Sem mais demora, dirigia- se à sua residência, onde o esperavam a esposa Iracema e os filhos. Vicentino dedicado e atuante, pertencia à conferencia São José, da sociedade São Vicente de Paulo, desta cidade. Alí, com ele trabalhei em favor dos necessitados durante muitos anos, após meu ingresso ocorrido a 03 de setembro de 1.963, a convite do então presidente Antonio Acconccia. Sempre pronto a atender e a socorrer os irmãos menos favorecidos, ocupou na sociedade são Vicente de Paulo, os cargos de presidente da conferencia são José, por varias gestões e presidente do conselho particular. Lembro-me: quando iniciai a profissão de contabilista, em 1.963, precisei de um empréstimo de Cr$ 50.000,00(cinquenta mil cruzeiros), uma quantia considerável para época, que se destinava à compra do ponto, ou seja, da sala localizada no 2° andar do prédio n° 1.051, da rua Assis Figueiredo, onde funcionava a telefônica rio verde s.a., dos amigos José Carlos de Paiva Oliveira, Benedito Jorge de Oliveira, o “Pipo”, dra. Maria Brandão de Oliveira, Walter Moraes de Oliveira, o “tio mané”, que, na ocasião transferia suas instalações para a sede própria localizada na Avenida João Pinheiro. Amedrontado e sem jeito, dirigi- me ao banco do credito real de Minas Gerais s.a., instalado onde atualmente se encontra o banco nacional s.a. o gerente era o dr. Alvino Hosquem de Oliveira, a quem solicitei o empréstimo que, por interferência direta de CARLOS ANTONIO BONAZZI, me foi concedido, iniciando eu minha profissão. Amigo sincero, honesto, íntegro e de conduta retilínea, com ele muito aprendi.
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Mesmo havendo decorrido tanto tempo de sua partida para a eterna morada, sua imagem permanece viva na memória daqueles que tiveram o privilégio de privar de sua amizade. Meu caro e saudoso amigo e confrade CARLOS ANTONIO BONAZZI, ninguém morre totalmente. No coração daqueles em que plantamos apenas uma semente de amor, viveremos para sempre... Garujá., em 24.07.93
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literatura na estÂncia Falar sobre a literatura de Poços de Caldas é matéria de fôlego. Mesmo porque não existem estatísticas ou números reveladores do curso do movimento, seus avanços e retrocessos. Rebuscando na memória, nas esquinas e vielas do antanho e através deste escorço histórico, tentaremos trazer algo a respeito. O número de lliteratos de nossa cidade é surpreendente, apesar do cepticismo reinante. Para se ter uma noção, basta atentar para o seguinte fato: - Em 20 de março deste ano, nas dependências do Pálace Cassino, o Clube dos Escritores de Poços de Caldas, por iniciativa de Neide Davini, responsável pela Biblioteca Centenário, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, professora. Maria Helena Braga e da coordenadora da Divisão de Cultura daquela secretaria, Maria Aparecida Bonifácio, realizou sua primeira exposição de obras de escritores. Esperava-se a participação de uns vinte escritores e poetas, quando muito. Para espanto e surpresa geral, mais de cem atenderam ao chamamento e se fizeram presentes. Mas o primeiro movimento literário de que se tem notícia em nossa terra, foi a sociedade cultura e arte, da qual participaram com destaque Jurandir Ferreira, Saul do Prado Brandão, Eduardo Adami, Edmundo Gouvêia Cardillo, José Ayres de Paiva, Sebastião Pinheiro Chagas, José Vargas de Souza, entre outros. Isto lá pelos idos de 1.950. Na década de cinquenta, alguns jovens escritores iniciaram
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um movimento literário no dadaísmo. Dele faziam parte Clóvis Ivan de Melo, José Paschoal Rossetti e Roberto Thomaz Arruda. Sua contribuição literária está contida nos livros “ angústia do nada”, escrito por Clóvis Ivan de Melo e “estátuas da favela”, de José Paschoal Rossetti, reunidos e publicados em uma brochura intitulada “um lugar para dois”, publicação independente. Mais tarde, esse movimento se constituiria no grupo mineiro de vanguarda, tendo como expoentes o consagrado e várias vezes laureado poeta e escritor Hugo Pontes e os não menos laureados José Asdrubal do Amaral e Osmar Pereira. Em 21 de outubro de 1.977, vencendo a resistência e a oposição existentes, fundou-se a Academia Poços-caldense de Letras, congregando escritores e poetas das mais variadas tendências literárias ou escolas; premiando assim, o movimento encetado pelo desvalido autor destas linhas, que foi o seu primeiro presidente. Cargo esse por ele ocupado até hoje. A Academia poços-caldense de letras abriga em suas fileiras literatos de nomeada, reconhecidos e consagrados internacionalmente, como o escritor Jurandir Ferreira que após haver lançado em 1.992, seu livro “Da Quieta Substância dos Dias ”, agora prepara- se para brindar seus muitos leitores com sua última obra “a asa do Dragão”, no próximo dia treze vindouro; Benedictus Mário Mourão, que recentemente publicou mais uma obra de valor incalculável: “Medicina Hidrológica – moderna terapêutica das águas minerais da estâncias de cura”, em julho de 1.992, Eduardo Adami, Carlos Érrico Neto, João Torres, Odair Camillo e suas “Crônicas em concordata”; Marcus Vinicius de Moraes, com “Palavras ao Vento”; Benedictus Cyrillo de Oliveira e seu livro “Janela para o Crepúsculo”; Nilza Botelho Megale, com o livro “Memórias Históricas de Poços de Caldas”, em 17.11.90; J. Izidoro Júnior, Diamantino Rosa, José Raphael Santos Neto, Hélio Ribeiro Landi, Sebastião Roberto de Campos, Jofre José Ferreira Santos, Conceição Arruda Toledo, Gaspar Eduardo de Paiva Pereira, Sebastião Pinheiro Chagas, Norma de Lourdes Guimarães Ribeiro, Celeste Calil, com seu livro “Poços de Caldas em Sonetos”, a ser editado em breve pela municipalidade; José Castro de Araújo, Glorinha Mourão Sandoval, com “Asas do Tempo”, lançado em 09 de março de 1.993; Ligia Braga Westin Romanelli, Luiz Braga
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Westin, Benedicta Pires Duarte, Clóvis Ivan de Melo e tantos outros. Os livros mencionados referem- se apenas às publicações recentes. Além desses, outros escritores e poetas atuam de forma independente, a exemplo de Milton Costa, Márcia Cristina de Moraes Corrêa, delegada da UBT nesta cidade, Lindolfo Lino Belico, ou como integrantes do recém-fundado clube dos escritores de Poços de Caldas, a saber: Darci Rosa dos Reis, poetista e sua primeira presidente; Rita de Cássia Schultz, Nilda Corseti, Patrícia Chagas e um grande número de instegrantes da constelação literária desta querida “Cidade Rosa”. Em 08 de agosto de 1.992, o Instituto Moreira sales, superando as correntes refratárias que se rebelaram contra a ideia, dotaria a cidade do mais belo e expressivo espaço cultural: a casa da cultura, que se transformou no palco principal e mais requintado, aglutinando todas as manifestações artísticas de Poços de Caldas e do Brasil. Para finalizar, por imperativo de justiça e de verdade, registrese que, a partir da gestão do último prefeito municipal, Dr. Sebastião Navarro Vieira Filho, tendo como secretário municipal da educação e cultura, o prof. José de Castro Araújo; bem como na do atual prefeito, o Dr. Luiz Gonzaga Batista, tendo à frente daquela secretaria a professora. Maria Helena Braga, o poder público tem valorizado e promovido o escritor e poeta poços-caldense. Haja visto a criação do conselho editorial do município através da lei n° 4.319, de 02 de janeiro de 1.991 que, desde sua entrada em vigor e a sua instalação, vem publicado obras dos literatos de nossa terra! Poços de Caldas em 10.11.93.
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honra ao mÉrito Salvo engano, foi ele o idealizador, fundador e então presidente das Congregações Marianas de nossa cidade, a uma delas pertencendo meu irmão Artur. Fato esse lã pelos idos de 1950. Coletor ou Exator Estadual na Estância por muitos anos, ele dedicou toda sua vida à Terra que o acolheu. Naturalmente, o homenageado de hoje é o poeta, escritor, musicista, heraldista e compositor poçoscaldense JOSÉ RAPHAEL SANTOS NETO. Provindo de Ribeirão Preto, onde nasceu a 24 de março de 1.909, chegou Poços de Caldas por volta de 1.918. Aqui ‘ contraiu matrimônio com a saudosa Senhora. Alice Ferreira Santos, filha de tradicional família local. Dona. Alice era irmã do sempre lembrado poeta Leopoldo Ferreira( “Leo Ferrer”), desaparecido ‘ prematuramente., Desse consórcio tiveram eles um únicofilho, o Dr.Jofre José Ferreira Santos, advogado, também escritor e poeta, casado com a Senhora. Aparecida Vacarelli Santos, que lhes deram duas netas. O “Zé Neto”, como é carinhosamente chamado pelos amigos e companheiros, além das atividades normais de Coletor Esta dual, das quais encontra-se merecidamente aposentado, desenvolve ainda intensas e profícuas gestões políticas, sociais, literárias e culturais. Seu currículo é de fazer inveja ao mais atuante dos mortais. Tendo feito os estudos primários no Grupo Escolar “David Campista”, concluiu o ginasial na Escola Mackenzie, am bos os estabelecimentos de ensino localizados nesta cidade. Em 1.945,
Marcus Vínicius de Morais
colou grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. A partir do ano de 1.928, exerceu as funções de escriturário da Secretaria da Agricultura, nas obras de saneamento ‘ da Estância e nas construções do Palace Hotel, Palace Cassino, Termas Antonio Carlos e barragem da Represa Saturnino de Brito. Foi membro da Sociedade São Vicente de Paulo e, em 25 de julho de 1.931, juntamente com o então vigário da paróquia, Pe. Eduardo Batista, Dr. Américo Magalhães Gomes, João Senna e ou-tros, restabeleceu e reavivou a Conferência Nossa Senhora da Saúde, primeira Conferência da Sociedade São Vicente de Paulo que, tendo sido fundada em 15 de junho de 1.913, funcionou até o dia 28 de julho de 1.918, permanecendo paralisada por mais de dois lustros. Idealizador e principal responsável pela construção ‘ de obras e monumentos de inegável valor e envergadura, entre ou tros: - a antiga Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no Bairro ‘do mesmo nome, em 1.938; e, em especial, a imagem do Cristo Redentor, com trinta metros de altura, instalado no alto da Serra de São Domingos, que hoje é um dos cartões de visitas de Poços de Caldas. Heraldista e musicista, é autor da Bandeira e do Brasão de Poços de Caldas, do seu hino oficial(“Poços de Caldas Sorriso”), do hino do seu centenário, hino da A.A. Caldense e de inúmeras outras cidades da região. No distante dia 21 de outubro de 1.977, na sede do Lions Clube local, quando da fundação da ACADEMIA POÇOS- CALDENSE DE LETRAS, entre os presentes estavam ele e sua saudosa esposa . Alice Ferreira Santos. Além de ser um dos fundadores da ACADEMIA POÇOS-CALDENSE DE LETRAS, um dos seus membros efetivos, “ZÉ NETO” é o autor de seu Estandarte e do seu emblema, onde está grafada a sugestiva frase de sua autoria: - “ A Cultura Imortaliza o Homem”. É também, Jornalista registrado no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, na Capital de São Paulo, sob número 2.232, Livro 6, fls.116-verso, em 26.10.45; membro da Associação Sulmineira de Imprensa(A.S.I.), da Associação Paulista de Imprensa(A.P.I.) e membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.- não obstante as oitenta e tantas abobrinhas colhidas na horta da existência, o querido amigo e conselheiro ZÉ NETO perma nece lúcido, atuante e cheio de vida,
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sempre trabalhando por esta cidade que tanto ama. É um exemplo de trabalho, dedicação e amor, de vida ilibada e impoluta a ser imitado. Por ocasião da posse da atual Diretoria da Associação Sulmineira de Imprensa, ocorrida no último dia 25 de março, nas dependências do Pálace Cassino, mais precisamente, no Salão Verme lho, foi-lhe prestada significativa e merecida homenagem. Por tudo isso, de há muito, faz ele por merecer o diploma de “Honra ao Mérito” outorgado pelo Legislativo Municipal àqueles que se destacam em todos os ramos de atividades e de profissões que promovem e engrandecem esta que é a sempre e inesquecível “Cidade-Rosa”.Poços.de Caldas,27.01.94.
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saudade... semPre a saudade. Dia desses, passeando pela Praça Pedro Sanches, numa ensolarada manhã de domingo, apreciando a movimentação dos transeuntes, o bulício da FEARPO, voltei ao passado. Sinal de velhice? Concordo! Porém, é tão bom lembrar dos tempos idos. O repassar das páginas da vida, repletas de acontecimentos queridos que a pátina dos anos não consegue embaçar; que a hera do tempo, por mais espessa que seja, não sufoca jamais, é gratificante. E assim, encontrei-me a percorrer a Praça Pedro Sanches em minhas recordações. Ali, nos tempos de antanho, o “footing” de sábado à noite e o dominical( matinal e noturno), era obrigatório palco dos antigos “ firts” que se transformavam em namoros sérios, no mais das vezes. A Casa Bela, apelidada de “Casa dos Espelhos’’(que se localizava no prédio hoje ocupado pelo Bar e Boate London)ponto de parada obrigatória de todos aqueles que desejavam ajeitar a cabeleira e a indumentária, mirando-se nos grande espelhos ali existentes. Praça Pedro Sanches que, ao ano de 1.958, mais precisamente, na esquina com a Rua Rio de Janeiro, onde se localizava a Rádio Cultura, naquela época, foi palco dos sentimentos de angústia, de alegria e de júbilo de todos nós poços-caldenses quando acompanhamos, pela voz vibrante e inesquecível do saudoso Edson Leite, a campanha da Seleção Brasileira de Futebol na Suécia, e a conquista do primeiro título mundial namorávamos, Lugar repleto de romantismo, onde moravamos,Márcia Maria e eu, mesmo no rigor do inverno. Praça
aconchegante, amiga e testemunha dos nossos folguedos de crianças, das inocertezas. da nossa adolescência. Onde andávamos de bicicleta e, todos os dias, clãs 12:00 às 12:30 horas, ouviamos atra(/es_da Rádio Cultura um agradável festival de música italiana, patrocinado pelo vinho “Velho Marcassa”. Onde Waldemar Troiano, José Carlos Domingos, o “Tio Gordo”, e eu sentávamos após haver saboreado a deliciosa feijoada do Bar Sem-Sem, entoo petencente aos saudo-sos irmãos Villa. Local de memoraveis campanhas eleitorais, num desfilar de póliticos daquela época, como Edmundo . Cardillo, Carlos Érrico Neto, ‘ Sebastião Thomaz de OLiveira, Dr. Arthur de Mendonça Chaves Filho, o “Chavinho”, Dr. José Vargas de Souza, Roberto Junqueira, Ronaldo Junqueira, Dr. Sebastião Pinheiro Chagas, Agostinho Loiola Junqueira, Dr. Mortinho de Freitas Mourão e tantos outros com seus discursos inflamados e vibrantes. Poderia eu estender-me por horas a fio a relembrar fatos que marcaram minha existência e de muitos conterrâneos, mas o espaço e restrito e e chegada cassar a hora de mmw velas a imaginaçao que se debruça nas veredas do tempo, folheando as páginas do livro da saudade que nos faz viver... (a.) - Marcus Vinicius de Morais Membro da A.P.L., da A.S.l. e da U.B.E. Poços. de Caldas, em 25.04.94.-
a morte do Poeta “Vós que passais, bani a piedade, que cerrei os meus olhos para o mundo e decerrei-os para a eternidade.”(Do soneto “EPITÁFIO DE UM POETA”, de MÍLTON COSTA). O dia vinte e dois deste mês, como prenunciando o infausto acontecimento, amanheceu chuvoso e frio. Às 13:00 horas, tilinta o telefone trazendo a trágica e dolorosa notícia: - faleceu MILTON FERREIRA COSTA. Morreu o poeta... A natureza, comovida e tristonha, fez descer à Terra o seu pranto ‘ sentido, na chuva fria que dimana das nuvens carrancudas, plúmbeas e gris, lamentando a perda irreparável. Vai-se o amigo, o companheiro e o mestre, um dos maiores, senão o maior poeta e sonetista coevo. A notícia, recebida de inopino, colheu-nos desprevenidos e a dor da separação aloja-se no coração de modo definitivo. O sentimento de impotência diante desse fenômeno assustador que é a Morte nos apavora. É grande a perda. O vazio, imenso! Inefável é o sofrimento! No entanto, para nosso consolo, se de um lado choramos a partida do amigo e companheiro de jornada, MILTON COSTA, de outro nos sentimos resignados pela certeza de que ele, com seu conhecimento e capacidade foi recrutado para elaborar o “jornal divino”. Vem-nos á memória uma história contada há muitos anos, cujo autor desconhecemos. Um certo cidadão faleceu. Chegando ao Céucomeçou a contar a São Pedro, por solicitação deste, como fora a sua passagem pela Terra. Em dado momento, São Pedro perguntalhe o que fazia. Ao que ele respondeu:”- Além do meu trabalho, eu sou poeta!” E então, para seu espanto, São Pedro, abrindo a porta
de entrada de par em par, exclama: - “ Entra meu filho. Pois tarifo o Céu, como o mundo pertence,:aos poetas...” Sabemos que você está no Céu querido amigo. Temos a certeza de que você não morrerá jamais. Sua vida se confunde com a sua obra e nela permanecerá para,todo o sempre. No Empíreo onde,por certo, já está, receba esta nossa singela homenagem e o estuante desejo de que o Altíssimo lhe dê o repouso merecido e a luz que não se apaga. Saiba querido e grande amigo MILTON COSTA, sua passagem neste mundo nunca mais será esquecida e, os borrões que teimam em permanecer no papel,são as nossas lágrimas de dor, de tristeza e de saudade... Poços.de Caldas, em 25.06.94.-
a ParÓQuia Que haBitamos
ronaldo durante Nossa amizade vem de muitos anos, confirmada e consolidada no convívio constante do trabalho desinteressado para o engrandecimento desta Terra que muito amamos: a “Cidade-Rosa”. Em 1.944, trabalhava ele como ascensorista e mensageiro no Palace Hotel, tendo chegado ao cargo de Contador. Ainda como funcionário da hoje Hidrominas, trabalhou no Grande Hotel, da cidade de Araxá, neste Estado, e em Belo Horizonte. É Contador diplomado pela antiga Escola Técnica de Comércio, desta cidade. Em 1.958, casou-se com Maria Beatriz Pagin Durante, companheira de todas as horas, esposa exemplar e mãe extremada, que lhe deu os filhos Ronaldo Alexandre, Ercília Beatriz, Paulo Renato e Luiz Gustavo. No ano de 1.959, ingressou na Cooperativa Regional dos Cafeicultores desta cidade, sendo o seu primeiro funcionário. Como homem público, a sua atuação é das mais destacadas. Fundador e primeiro presidente do Conselho Municipal de Turismo de 1.972 a 1.975, graças ao, seu dinamismo e trabalho, foram restaurados os passeios Represa Saturnino de BritóTõkrele (construído um formidável jato de água, tipo gêiser, localizado no interior da barragem Véu das Noivas, Relógio Floral e o Recanto Japonês.Ainda em sua gestão, foi inaugurada a Rádio Libertas(orgulho da Administração Municipal),e foi outorgada a concessão do teleférico. Ex-membro do Conselho de Curadores da Autarquia Municipal
de Ensino desde a sua criação, participou da compra da área onde hoje está localizada a Autarquia. Vereador por duas legislatura de 1.983 a 1.992,entre outros relevantes trabalhos, é dele o projeto de lei que criou a nova Estação Rodoviária, datado de 14 de março de 1.983 ou 84. RONALDO DURANTE é um administrador nato, homem de visão e muito organizado. Político de escol, de reputação ilibada, honesto, dedicado, batalhador e humano, possuidor de um grande e generoso coração. A força estuante e a imensurável capacidade de trabalho e de organização, aliadas à sua probidade e acendrado amor à família, aos amigos e a esta Terra que tanto extremecemos, fazem dele um exemplo para todos nós! Garujá., em 24.08.94.-
lemBranças Eu era menino e já a conhecia. De avental branco, com a letra redonda e uniforme, preenchia ela os atestados médicos de apresentação obrigatória por todos aqueles que frequentavam a piscina do “Country Club”, o requinte da época. Juntamente com a “Vó Ester”, o “seu” Lazinho, o Chico Pasculli, trabalhava ela no Instituto Médico Dr. Mário Mourão, sob a responsabilidade dos ‘ Drs. Martinho de Freitas Mourão, Dr. Benedictus Mário Mourão e o sempre lembrado Dr. Clodoveu Davis. Com seu sorriso e aquela alegria contagiantes que até hoje identificam-na e a destacam, atendia a todos nós com paciência e desvelo. Além desse emprego, ela foi a eficiente e zelosa secretária da”Câmara Municipal durante muitos anos. Na condição de “aprendiz de Feiticeiro” e assistente do Dr. Arthur de Mendonça Chaves Filho, o “Chavinho”, ali voltei a encontrá-la entregando-lhe os brilhantes e sábios pareceres por ele elaborados e subscritos. O leitor, por certo, lá percebu que nossa homenageada é LÚCIA DE .OLIVEIRA, pessoa de invulgar brilho, amada, admirada e respeitada por todos aqueles que a conhecem. Mulher de fibra, de inesgotável capacidade de trabalho e memória ‘ infalível e insuperável, durante muitos e muitos anos reinou tranquila e absoluta na Egrégia Casa de Leis do Município, trazendo-a na mais completa ordem. Não havia um só processo que ela desconhecesse ou não estivesse a par do seu andamento. Anjo tutelar de todos os vereadores que por ali passaram, Lúcia atendia a todos eles com respeito, dedicação e competência profissional.
Confirmando o velho brocardo popular que diz: “Nos pequenos frascos é que se guardam os grandes venenos e os mais belos perfumes”, LÚCIA DE OLIVEIRA, em seu metro e pouco de altura abriga e reúne um caráter inflexível, uma vigorosa força de vontade e, o que é mais gratificante, a esses atributos se unem a imensa beleza de sua alma simples e sincera e a marca registra da de sua personalidade inconfundível: - uma estuante alegria de viver. Atualmente, no gozo de justa e merecida aposentadoria, Lucinha, como é carinhosamente por nós chamada,é nossa companheira nas viagens que ‘ Márcia, eu e outros amigos fazemos pela”Kikotur”, dos cunhados Marilda e Adjalmo Cagnani. LÚCIA DE OLIVEIRA, pelo seu trabalho, pela sua vida de dedicação e amor a esta que é a Cidade-Rosa, como diz o poeta e amigo “Zé Neto”, é personagem de significado e de expressão na vida e na história de nossa cidade. Poços. de Caldas, em 21.09.94.-
o santo Padroeiro No dia treze de maio passado, este periódico publicou a matéria assinada por Marcelo Barbosa e Chico Lopes sobre São Benedito apresentando-o como Padroeiro de Poços de Caldas. - Como fonte bibliográfica, citam as obras “Memórias Históricas de Poços de Caldas”, de Nadir Megale e “São Benedito”, de Ascânio Brandão. E de meu sentir que os articulistas incorreram em dois manifestos e inegáveis equívocos e, com o respeito devido, nos permitimos registrar. O primeiro é quanto ao nome da autora do primeiro livro, que é o da Acadêmica, consagrada e notável historiadora poçoscaldense/NILZA BOTELHO MEGALE. Já o segundo, a atribuição do patronado de Poços de Caldas ao milagroso São Benedito, esbarra na verdade histórica. Sem querer, em momento algum, desmerecer a notória importância do santo de real valor para todos nós católicos, permito-me discordar dos articulistas. São Benedito, como consta de todos os compêndios, é o protetor dos Cozinheiros, ou das Artes Culinárias. Santo largamente conhecido e adorado por uma gama incontável de seguidores desde o século passado, seus milagres são vários e comprovados segundo seus devotos. Colocada uma imagem sua na cozinha, a casa conhecerá a fartura para sempre. Tem ainda o milagre do “Pão dos Pobres”:”São Benedito trabalhava para um homem malvado, de coração empedernido e avesso à caridade. Todos os dias, sem o conhecimento do patrão, ele entregava aos pobres a sobra de pão do dia, envolta em seu avental. Um certo dia, desconfiado do
que ocorria, o patrão esperou-o nos fundos da casa e, quando ele apareceu, com os pães envoltos no avental, perguntou-lhe:- Benedito, o que levas aí? E o Santo respondeu-lhe:-- São rosas, senhor! Ato continuo, baixou ele o avental e uma centena de rosas caiu ao chão.” No entanto, é de sabença comum que a Padroeira de Poços de Caldas é NOSSA SENHORA DA SAÚDE. A cidade, em seus primórdios, foi colocada sob a sua proteção pelo sesmeiro JOAQUIM BERNARDES DA COSTA JUNQUEIRA, em 1.872. Sua paróquia foi criada pela Lei N° 2.085, de 24 de dezembro de 1.874, com a denominação de Paróquia de Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas. A primeira capela da cidade, localizada à Rua São Paulo, ao lado do Primus Hotel, por falta de uma imagem da Padroeira, continuou dedicada ao Senhor Bom Jesus da Cana Verde, não obstante ser conhecida como Igreja de Santo Antônio, fato que perdura até hoje. Não temos em mãos a obra “São Benedito”, de Ascánio Brandão. Este modesto artigo, porém, é calcado nos relatos de moradores antigos e que foram condensados e reunidos na valiosa obra da historiadora local, NILZA BOTELHO MEGALE, já referida. Não é de meu conhecimento que o equívoco tenha sido corrigido. Da minha parte, porém, a bem da história e da verdade, faço-o nesta oportunidade. Poços. de Caldas, 21.09.94.-
a Presença de anita O jornal “A Folha de Poços”, de larga difusão e grande penetração na cidade e região, na década de 1.950, de propriedade dos amigos Décio Alves de Moraes, Dr. José Ayres de Paiva, Pedro de Castro Filho e Dr. Nelson de Paiva, situava-se na rua Prefeito Chagas, N° 147(salvo engano), na parte térrea do prédio onde residia e tinha seu consultório o Dr. José Ayres de Paiva. Em suas oficinas trabalharam Carlos Monteiro, Marcílio Chagas Leite e muitos outros rapazes de então, incluindo este articulista. Ali convivi com o cheiro da tinta, com o antimônio e o chumbo dos linotipos, confeccionados na ,então fantástica e hoje ultrapassada máquina de linotipia. O chumbo e o antimónio elevados a altíssima temperatura, derretiam-se para a formação e surgimento de novas e reluzentes plaquetas onde estavam presas em uma das extremidades, as milagrosas letrinhas. E eu, ávido de conhecimento e de aprendizagem, a tudo acompanhava estupefato e absorto para afinal, assistir ao nascimento solitário e triste a que se relegam os jornais do interior. Mas, nem por isso deixava de ser um nascimento. Uma nova aurora de luz e de saber que, reiteradamente, se derramava sobre os leitores, alimentandolhes o espírito e revigorando suas almas. Com esses amigos, Décio, Dr. José Ayres, “Seu” Pedrinho, Dr.Nelson, aprendi a viver e a compreender o jornal tomando esse gosto indesmentido pela escrita e pela imprensa, que até hoje me acompanha. Décio Alves de Moraes, o “Pai da Imprensa local”, era na época,
o representante do jornal “O Estado de São Paulo”, sendo eu, menino ainda, o encarregado de receber’’, na antiga agência da Viação Cometa, localizada na Avenida Francisco Sales, onde hoje se localiza o prédio da Rádio Difusora; procedendo, em seguida, a entrega em domicílio aos assinantes, inclusive aos sábados, domingos e feriados. O Dr. José Ayres de Paiva, excelente médico, cidadão probo e respeitado, notável e intimorato escritor, de vasta cultura e pena irônica, ferina, e temida, possuia uma das mais valiosas e completas bilioteca da cidade e da região onde eu, nas horas de folga,(prenunciando o inveterado “ledor de obras todas”, de hoje), dava asas à imaginação e alimento ao intelecto, gravando indelevelmente, na táboa de cera virgem do cérebro, os caracteres do saber, encantando e alargando os estreitos horizontes da minha vida de menino. Entre todos os livros que li, um encantou-me deveras,.”A Presença de Anita”, do renomado escritor Mário Donato, Livro proscrito e renegado, a exemplo de “A Carne”, de outro não menos consagrado escritor que foi Júlio Ribeiro, encantava e povoava de sonhos e fantasias a imaginação do menino que ainda engatinhava e se iniciava nos jogos do amor e do sexo. Tais obras, em cotejo com os mais resumidos compêndios modernos so bre a matéria, corariam de vergonha, sendo classificadas como livros de catecismo, verdadeiras água-com-açúcar. Anos e anos depois, um certo dia, no correr do descontraído bate-papo que, comumente, marcava o final das reuniões acadêmicas, contei ao amigo, companheiro e confrade Dr. José Ayres,sobre as minhas bispadas em sua biblioteca. Pedindo que o esperasse, ele se retirou, retornando em seguida, ‘ quando, para minha surpresa e júbilo, ofereceu-me o exemplar do livro de Mário Donoto, aquele tão manuseado por mim, na infância. “A presença de Anita” Poços de Caldas, em 28.09.94
caFÉ com PerVertin
o malaBarista
a tristeZa do adeus Não gosto e não me sinto bem ao escrever necrológios, se bem que meus pobres escritos estão mais para obituários que para necrológios. Mesmo assim, é deprimente. Morreu o DR. ROMUALDO PAGIN. Ainda me lembro dele, garboso e altivo, ao retornar do não mais existente Colégio Marista, empurrando sua bicicle¬ta na parte de maior aclive da Rua Rio de Janeiro, esquina com a Rua Correa Neto, onde morávamos. Eu, na casa de meus avós maternos Arminda e Pedro Dias de Almeida, á Rua Rio de Janeiro, N° 514; e, ele, no número 528 da mesma rua. Descendendo de duas tradicionais famílias poços-caldenses, era filho do Sr. Alexandre Pagin e da Sra. Ercília (Nonda) Frison Pagin Irmão de Maria Beatriz Pagin Durante, casada com o amigo e companheiro Ronaldo Durante; do meu amigo e companheiro de folguedos Eugênio Pagin, o “Geninho”; e de Cristina Pagin, ele casado com Itamara Dala Rosa Pagin que lhe deu os filhos Pedro Luiz, Raquel e Alexandre. Cirurgião-dentista de nomeada e emérito professor, o amigo Romualdo destacava-se pelo coração imenso e generoso,aliado a sua notória cultura e grande saber. Junto a nossa amizade, tive privilégio de com ele co mungar no cadinho dignificante do trabalho, tendo-o como colega de magistério no Ginasio Estadual “Virgínia da Gama Salgado” e na Autarquia Municipal de Ensino. Nunca vi o Romualdo sobraçando livros e compêndios, ou mesmo, rascunhos e planos de aulas como a
maioria de nós, professores. Tudo era por ele catalogado, registrado e arquivado em seu privilegiado cérebro. Amigo e inseparável companheiro do Dr. Arthur de Mendonça Chaves Filho, o “Chavinho”, de Benedito Cirilo Júnior e de Luiz Carlos Veronesi, o “Kau”,juntos desde crianças, viveram e aproveitaram as delícias desta Poços de Caldas-menina, florida, aconchegante e acolhedora. Infelizmente, no dia 16 de setembro último, foi-se o amigo e companheiro Romualdo. Para nós, que o estimávamos, ele partiu muito cedo, não para Deus, que é onisciente. Partiu ele para um país do qual não se retorna. O país do silêncio, da igualdade e do equilíbrio do espírito. Acolhem-me à mente as sábias e apropriadas palavras daquele que, sem favor algum, ombreando-se a Rubem Braga, foi um dos maiores cronistas coevos, que é OTTO LARA REZENDE:- “. agora que ele está morto, no impertubável silêncio para sempre que sela a boca dos que se foram para o país indescoberto de Shakespeare, para o indevassável país que a todos nos espera, nesse exílio universalmente democrático, ou nessa paz insubornável que a todos iguala.A vida distribui-se com clamorosas in¬justiças; e como a renda; mas a morte tem o agudo perfil da ‘ justiça para todos.” Rogo a Deus que o receba e lhe dê o descanso merecido, meu querido e sempre lembrado amigo, Romualdo Adeus e até um dia. Poços.de Caldas, 11.10.94.-
Vai-se a luZ de um astro Retorno ao lugar comum. Não gosto de necrológio. Nem tanto pela tristeza e constrangimento do tema, sempre o mesmo: a morte que não avisa de sua chegada e, em chegando, se abanca para ficar do que pela angústia e dor da partida. Mas, a vida e isso mesmo.Continua sempre. Não pára nunca, e nem pode fazê-lo. Tenho para comigo que a morte possui função quase profilática, curativa e saneadora, corrigindo as desiguladades do mundo, pondo termo às injustiças da vida. Dia 02 de setembro passado, para tristeza de todos nós, faleceu o Dr. EDUARDO ADAMI. Eu o conhecia de longo tempo, em seu escritório loca¬lizado sobre a Casa Jeca Tatu, na esquina da Rua Rio de Janeiro com a Praça Dr. Pedro Sanches, onde o Manoel de Freitas, durante muito anos, manteve seu escritório de contabilidade e o primo Clóvis Augusto Domênico ali trabalhava. Constantemente, nos intervalos de uma entrega e outra, nas horas de_folga eu ali comparecia para um dedo de prosa com o Clóvis. Nessas ocasiões eu o via, sempre circunspecto, educa¬do e distante. Ele, um grande médico e escritor consagrado e reconhecido, havendo publicado os romances “A Dor tem Sete Cores” e “Um Médico na Tempestade”, este último em dois volumes. Eu, um
jovem curioso, apegado aos livros, já então picado pela serpente da compulsão da leitura. Mais tarde, ao fundar a ACADEMIA DE LETRAS em nossa ‘ cidade, dele tive o apoio inconteste e o grande incentivo, a exemplo de tantos outros intelectuais. De lá para cá, nossa amizade floresceu e fortificou na comunhão dos ideais literários. Por questões de saúde, há alguns anos pouco saia de casa. Espantava-me sua lucidez. Nonagená rio, mantinha-se em atividade, como sempre o fez. Como dizia Amaro de Queiróz: - “ velhice traz sempre consigo uma luz que nenhum vento apaga, só a morte.” E a morte apagou essa luz inconfundível que foi EDUARDO ADAMI. Perdem a cidade e o Estado um de seus filhos ilustres. Perdemos nós, seus amigos, o carinho e a alegria de sua presença. Mas a sua lembrança deixa-nos o consolo e a certeza de que não foi em vão sua passagem neste vale de lágrimas. Garujá., em 14.10.94.-
o dia do Poeta “Los poetas no tienem biografia. Su obra es su biografia.”(Octá vio Paz). Transcorreu, no último dia 20 de outubro, o DIA DO POETA. Surpresa para mim, modesto e desvalido escriba, que sempre acreditei ser a data comemorada no dia 04(quatro), consagrado ao milagroso e venerado santo capuchinho,São Francisco de Assis. Não fora a lembrança e o trabalho oportuno e fecundo ‘ dos amigos Prof. Kajany Cesar Moreira dos Santos, sua esposa Marisa e a escritora Rose Lino, a data passaria “in albis”, como acon tecido todos esses anos. Em sua residência situada à Rua XV de Novembro, nQ 168, onde também funciona a escola maternal por ele mantida e dirigida, Kajany( que também é escritor), abriu as portas para acolher a gama heterogênea de representantes das mais variadas escolas e tendências da literatura da cidade, homenagenado-os e a todos os poetas e escritores desta pátria riquíssima em imensuráveis valo res intelectuais pretéritos e presentes. Destaque-se as presença dos poetas e escritores filiados ao recém-fundado Clube dos Escri tores de Poços de Caldas: - Jacira Pizani, Neide Davini, Dr.Saulo Davini, Dr. Clésio Tardelli, Ludgero Borges, Nilda Corsetti, Vicente de Carvalho; e, os novos: - Andry Belarmino de Assis Brasil, Paulo Emílio Dolabella, Neide Chagas,Glaupner de Carvalho Nogueira, Itiberê, Teixeira e tantos outros. E ali estava eu, representando a Academia Poços-Caldense de Letras(A.P.L.) e a Associação Sulmineira de Imprensa(‘ A.S.I.), por
determinação que me foi cometida pelo grande e atuante presidente, J.Izidoro Júnior, um pouco deslocado, sem jeito, em meio àquela juventude estuante de vida, a esbanjar conhecimento literário. Nossos anfitriões, com carinho, gentileza e amizade souberam receber a todos nós. A diversidade das correntes e tendências literárias e de idades não impediu um congraçamento efetivo e a total comunhão espiritual entre o “velho” e o novo. Os representantes deste último grupo transmitindo o vigor dos verdes anos, a seiva revitalizadora do espírito. Já os daqueloutro, oferecendo os exemplos de persistencia e toda a experiência das existências vividas, verdadeiro alimento da alma. DEUS cometeu aos poetas a sublime e árdua missão de transformar o mundo, tornando-o mais belo. E, nesse mister, sofrem eles toda sorte de discriminação e de opróbios. No entanto, quanto mais obstáculos se anteponham, por apertados e opressivos que sejam os grilhões e por mais tortuosa que seja a estrada, mais eles se tornam livres e, pela vida em fora, vão deixando o rastro luminoso de suas pegadas aspergindo o brilho e as luzes de sua divina inspiração. O sarau, onde foi servido delicioso chá mate, constando da apresentação de trabalhos dos presentes e de números musicais, alcançou pleno sucesso. Esperamos que a experiência não seja enterrada e esque cida após as comemorações merecidas. Congratulações aos amigos ‘ Kajany Marisa e Rose Lino pela feliz e oportuna iniciativa. Continuem! Poços de Caldas,21.10.94.-
Poços de caldas e seus Vultos Pitorescos Meus primeiros contatos com aqueles personagens que marcam nossa existência de criança e a história de todas as cidades interioranas, foi com o Sr. Pedro, rachador de lenhas e com a “Sá Norberta” que, juntamente com um casal de filhos, moravam na parte baixa do antigo e não mais existente coreto da Praça da Igreja de São Benedito. Mas, Poços de Caldas teve e tem vultos expressivos e pitorescos que divertiram, alegraram, escreveram e escrevem a sua história. Dada a exiguidade de espaço, limitar-me-ei a citá-los, relatando, quando possível, um fato engraçado e marcante com eles ocorrido. O primeiro deles foi o “Seu FELIX”, amigo de meu avô Pedro Dias de Almeida e frequentador assíduo de sua casa. Na foto que ilustra o presente artigo, aparece ele, de costas, entre meu tio Galileu Dias de Almeida e um amigo. Não o conheci. Mas, segundo o relato de minha mãe, Eponina Almeida de Moraes e do amigo e companheiro Décio Alves de Moraes, ele enloqueceu de tanto estudar para o ingresso na Faculdade de Medicina, o que fazia, diariamente, até altas horas, com os pés mergulhados em um balde de água fria. Ele morava em um barraco lá pelos altos da Rua Barros Cobra e colecionava latas vazias de todos os tipos. Poliglota, falava nada menos que seis ou mais idiomas. “ ZE BIRI “, gordo e bonachão, alegrava todas as crianças e adultos também. Respeitoso, suas bricadeiras eram todas
Marcus Vínicius de Morais
sadias e infantis. Nunca trabalhou. Ao que consta, foi criado pelo Dr, Clodoveu Davis e Da.Nini Mourão Davis. Hoje, tendo partido há tempos, para os campos do nunca mais, é nome de rua nesta cidade: Travessa “ZE BIRI’, nos altos da Rua Assis Figueiredo. “MISTER JONES “ , homem ilustrado e instruído, paraplégico, locomovia-se em um triciclo. Era professor de inglês. Residiu por largo tempo na antiga Pensão Salles, situada à Rua Prefeito Chagas e, posteriormente, nas dependências do Cassino da Urca. “ SERGINHO “ , anãozinho genioso e briguento. Por qualquer toma lá-dá-cá, arremessava a sua bengala de castão de prata contra quem quer que fosse. “ TIO PEDRINHO “ , sanfoneiro da Vila Nova, tocava sempre o “ lari-fun-la-ri-la-ri-fun” para qualquer melodia que lhe fosse solicitada. Nas noites de lua cheia, altas horas da madrugada, ouvia-se o som da sua sanfona, ato esse que lhe angariou a fama de sobrenatural e lhe conferia um ar fantasmagórico. “ LAZINHO MARETTI “ , sempre bem vestido e muito educado, era ele barbeiro de profissão e sócio do famoso Eugênio Rosa, o “Querosene “ , que foi durante muito tempo o delegado e fiscal dos direitos autorais, na cidade. Talvez não exista nos anais da Câmara Municipal uma pessoa que frequentasse as reuniões com mais assiduidade e pontualidade que o “ Lazinho “. Aberta a sessão, ele ali estava, atento e compenetrado ao trabalho e nossos vereadores. “ PEDRO RABANETE -educado e sempre portando a sua indefectível bengala e acompanhado do fiel cachorro, percorria a cidade diariamente. Suas refeições eram feitas regular e pontualmente no saudoso Hotel Aurora. Nessas ocasiões, o “Coronel”, um dos proprietários do Hotel lhe perguntava: -- “ Servimos primeiro o Senhor, ou o cachorro? “ Ao que ele costumeiramente respondia: - “ Primeiro o cachorro “ FILIPONA -2-, senhora gorda de pele clara, como as mulheres nórdicas, muito espalhafatosa no vestir, era conhecida pelo seu trabalho no Mercado Municipal e por trazer sempre ao ombro o seu amigo fiel e companheiro,— um papagaio.faleceu atropelada por um veículo, quando se dirigia ao trabalho. “ FUBÁ GROSSO “ , rachador de lenhas, impunha temor e
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respeito à criançada pela carranca assustadora. Vivia sempre com o machado às costas. Seus pés, inchados e feridos o atormentavam constantemente. BALEIA - homem bom, trabalhador, dedicado e eficiente, foi o “funcionário coringa” do Cine São Luís. Ia receber os filmes na Estação Ferroviária, trazendo-os na carrocinha de mão. Vendia ingressos,balas e pipocas, era o lanterninha, o operador da máquina de projeção, etc. “ CACILDA negrinha alegre, brincalhona, extrovertida, inocente e simples. Gostava de comer “zalanha” (lazanha), que pedia a todos que encontrava. Foi encontrada morta no Jardim da Fonte Luminosa, de forma inexplicável, em meio aos ‘ buchinhos. “JOÃO GAMELA” -engraxate defeituoso, desbocado e brigão, que fazia ponto na esquina da Rua Assis Figueiredo com a Avenida Francisco Sales. Certa feita, conforme recordou o amigo Dr. Wanderley Elias Colhado, ocorreu uma violenta briga no “ Bar ao Ponto dos ônibus “, que se localizava onde hoje está a Farmácia Glória. No auge do sururu, entra o “João Gamela”, todo torto e gingando. Um dos contendores gritou: - Aquele ali é lutador de capoeira”.Foi um tendepá. Todos caíram de pau sobre o coitado. “ ZE BATATA “, o mais antigo vendedor de jornais e revistas de Poços de Caldas, função que exerce religiosamente há mais de cinquenta anos. Com ela manteve toda a família, formando irmãos e parentes. “ PACIÊNCIA “, este é uma figura. Gordo, chato e resmungão, vive falando e brigando consigo mesmo. E o rei do monólogo. Contam o fato de que ele sempre “ encostava “ no balcão do famoso Bar ao Ponto, situado na rua Rio de Janeiro, perturbando todos os fregueses. Diante disso, o Senhor. Eberle Teixeira, o conhecido Joaquim do Bar ao Ponto “, lhe fez uma proposta: pagaria mensalmente a ele, “Paciência- a quantia de, digamos, R$ 30,00, para que ele não mais aparecesse no Bar, somente o fazendo ao final de cada mês, para receber. Ele disse que iria pensar. No dia seguinte, para espanto geral, disse ele que só aceitaria se o Senhor. Joaquim lhe pagasse o salário mínimo.
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“ INOCÊNCIA - seu problema é com a polícia da qual tem ela verdadeiro horror. Segundo dizem, esse fato tem seu fundamento e origem no espancamento e morte de seu irmão,o Paschoal, perpetrado pela polícia. “ T.K.R.”, funcionário público municipal aposentado. Gosta de falar no rádio, carregando sempre uma latinha, fica horas a fio irradiando programas musicais e de auditório. Chegou mesmo a construir uma imitação de aparelho de rádio. Por obra e graça dos inconsequentes e nefastos elementos, hoje ele é um alcoólatra. De todos os personagens descritos, apenas os quatro últimos estão vivos. No entanto, todos e exceção de nenhum, a exemplo de muitos outros , escrevem a história da cidade. Poços de Caldas, em 10.01.95.
o Bar PiGale Na década de sessenta, perdurando até meados dos anos setenta, na Praça Dr. Pedro Sanches, entre o Cine São Luís e a antiga Cinelândia( então pertencente ao amigo Diamantino Rosa, o “ NON SI SABE “) existiu um barzinho estreito e comprido, com aproximadamente 6,00 mts. de frente por uns 12,00 metros da frente aos fundos, denominado “ Bar Pigale “. Seu dono, o querido e sempre lembrado amigo MÁRIO RAMON REBERT, o “Mário Careca”, descendente de espanhóis e italianos era estimado por todos os que o conheciam. Boémio, seresteiro e jogador possuidor de um coração enorme que não lhe cabia no peito, vivia a socorrer os necessitados. Profundo conhecedor da arte da hospedaria, trabalhou por largo tempo em hotéis da cidade e de fora. Ele foi auxiliar do meu sogro JOSÉ BENEDITO FERREIRA, o “Zé Bandeijinha”(como era carinhosamente chamado), nos Hotéis Palace e Quisisana. Foi ele casado com Avany C. Robert, irmã do Adjalmo Cagnani, meu alegre e extrovertido concunhado, contador conceituado na cidade; do Adauto Cagnani, ‘ comerciante de grande conceito na cidade e do Dr. Amilcar Cagnani, contador e advogado de nomeada. É pai de duas filhas, as amigas Leoni, funcionária do Banco Mercantil do Brasil S.A. e da Leana, atualmente residindo nos Estados Unidos Com base em seus conhecimentos comerciais e de hotelaria, ele fundou o “Bar Pigale”. O nome francês lhe dava foros intelectuais e de internacionalidade. Seu exíguo espaço era disputado quase com hora marcada. -
O chopp da Antártica era excelente, comprado diretamente de Ribeirão Preto. Os petiscos então, nem se fala. Entre seus mais assíduos frequentadores, moradores dos mais ilustres desta cidade, alguns já passados desta para melhor, podemos citar: - Adjalmo Cagnani, Januário Amalfi, Benedito Froes de Carvalho, José Irineu de Moraes, Uriel Solon Amarante, Santo Moraes, Alberto Calil, Viterbo Gabrioli, Wagner Tamburi, Ferreira, Avestruz, Celso da Drogasil, Dr. Arthur de Mendonça Chaves Filho, o “Chavinho”, Baurer, Joaozinho Prata; Lázaro Walter Alvise, Sérgio Alvise, Orlando Gaiga, Marcelo Luiz Benedetti(equipe de peso da Rádio Cultura, na época) Arturzinho Pontes, Luiz Carlos Veronesi, o “Kau”, Wilson Lauana, Dr. Romualdo Pagin, José Onofre Tito, Enéas Bernardo, Nedinaldo Fiorim, Ditinho Cirilo joão Sâmia e um cem número de fregueses outros. Seu único funcionário era um negrinho tímido, alegre,_ prestativo e simpático Celso, apelidado “Feijão”, hoje alto funcionário da Panificadora Fiorela, nesta cidade. Ali passamos horas inesquecíveis de diversão e entretenimento. Discutia-se todo e qualquer assunto. Os problemas mais transcedentais eram resolvidos com a maior facilidade. Falava-se de política e futebol, desde que não se falasse mal do Pelé e nem do Santos Futebol Clube. O pessoal do “Scratch do Rádio”, como eram conhecidos os integrantes da equipe esportiva da Rádio Bandeirantes de então, eram amigos incondicionais do “Maresca”, como o chamávamos, e infalíveis frequentadores do Pigale. Destaque-se as inconfundíveis presenças de Mauro Pinheiro, o “Senador”, um dos maiores comentaristas esportivos, com seu indefectível charuto à boca, Flávio Araújo, Chico de Assis, Roberto Silva, o “Lamaninha” e outros. E, tudo passou! Mas, nas esquinas do tempo, nos escrínios do coração e nos escaninhos da nossa memória, gravadas indelevelmente em letras douradas, as imagens ainda persistem...E a saudade sempre será... Poços de Caldas, em 18 de janeiro de 1995
dr. martinho de Freitas mourĂƒo
Bom dia Vida Dia desses, o amigo J.IZIDORO JÚNIOR me dizia da dificuldade de escrever. É de meu sentir que se trata de um fenômeno cíclico e que atinge toda espécie de escritor. Existem períodos de notável fecundidade literária. Outros há em que se busca e rebusca a inspiração e esta não dá as caras. É o “tempo das vacas magras”. Ainda bem que é fenômeno passageiro. Se um escritor do naipe de IZIDORO JÚNIOR queixa-se da falta de inspiração que dizer dos pequenos escribas como nós, de quem a musa foge como o diabo da cruz? JOSÉ IZIDORO JÚNIOR, funcionário público estadual aposentado com 35 anos de serviços, sendo 10 como Coletor, é natural de Baependi, neste Estado. Tendo fixado residência nesta cidade em outubro de 1.963, é radialista consagrado e titular do programa “Bom dia Vida” que apresenta de segunda a sexta-feira, pelas ondas da Rádio Difusora local e publicada pelo Jornal da Mantiqueira. É casado com a Senhora. Maria Aparecida Guimarães Izidoro que lhe deu muitos filhos, dos quais advieram uma considerável penca de netos e um bisneto que são seu tesouro e a sua vida. Espiritualista, caridoso, humano e dedicado, além de um exemplar chefe de família e profissional honesto e capaz, IZIDORO, brinda seus ouvintes e leitores com as mais belas, inéditas e atuais mensagens de fé”, de esperança, de dedicação à família e ao trabalho. Em seus ensinamentos se evidencia preocupação perene com a caridade e o amor ao próximo. Diariamente, através de lições simples, fluentes e oportunas,
que compõem suas páginas inolvidáveis, IZIDORO vai desfilando seus pensamentos e ensinamentos, incutindo em todos que o ouvem e leem, o amor, a fé e a esperança, proporcionando-lhes a força, a disposição e a coragem para a luta do dia a dia, sendo ele o grande exemplo. De idade provecta, ele é todo dedicação, dinamismo e trabalho em ted2smps seus misteres. Arquétipo da resignação, da fé, da esperança e da constãncia. Nas dobras do tempo, com seu inconfundível programa, é ele o ponto de referência da vida e do amor... Para nos, seus ouvintes e leitores incondicionais, o dia somente começa com a voz inigualável do IZIDORO transmitindo todo o otimismo que anima sua personalidade e seu acendrado amor à vida. Meu bom dia, Vida para você, amigo e companheiro JOSÉ IZIDORO JÚNIOR que ela lhe sorria sempre e que Deus Nosso Pai o ilumine e abençoe, para que você continue a produzir essa pérolas inigualáveis que brotam do seu generoso e grande coração! Poços de Caldas, em 30.01.95.
dr. chaVes Em dezembro de 1.962, eu morava na Rua Capitão Afonso Junqueira, n. 578, juntamente com mamãe e meus irmãos Carlos, Artur e José Tadeu. Meu finado e saudoso avô paterno, José de Moraes, o “O Seu Moraes” , foi o único parente meu de São Paulo a comparecer no meu casamento realizado a 18 de dezembro daquele ano. Na véspera, “Seu Moraes”, com a “máquina” já avariada e gasta pelo tempo, sentiu-se mal por volta de 01:30 horas da madrugada. Falta de ar, dor no peito e angústia eram os sintomas. Assustado, comuniquei-lhe que iria em busca de um médico.Naquele tempo, eu não possuia carro. Não havia pronto-socorro e os médicos atendiam nas residências. Arquejante, na sofrida aflição dispnéica, “Seu Moraes” me disse: - “ Só se for o Dr. Chaves.” Foi um custo explicar-lhe que o Dr.Chaves se aposentara há tempos, não mais clinicando. O velho mostrava-se categórico e irredutível. Outra alternativa não me restou que, àquela hora tardia, bater à porta da casa do Dr. Chaves, quando lhe expliquei o acontecido. Dono de prodigiosa memória e de bondade infinita, ele logo recordou-se de meu avô e foi prontamente atendê-lo. Só a presença do Dr. Chaves bastou para que meu avô, esquecendo-se da doença, fosse tomado de alegria. Dr. Chaves, quando perguntado por mim sobre o remédio a ministrar disse: - “Ele está aí na rua. Suba o muro de contenção ou o ciclópico e apanhe erva-cidreira e faça-lhe o famoso “Chá de
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estrada”. O resto eu e Seu Moraes curamos com as lembranças: E, lá ficaram eles até quase 04:00 horas da manhã a relembrar o passado. Assim era o Dr. Chaves! Profissional dedicado, zeloso e competente. Excelente chefe de família, de bondade e paciência ilimitadas, o Dr.ARTHUR DE MENDONçA CHAVES, nascido em Brasópolis, neste Estado, no dia 26 de março de 1.904, fixou residência em Poços de Caldas no ano de 1.931. Durante quase toda sua vida foi o responsável pelo Posto de Saúde local, atendendo os pobres, distribuindo remédios e fiscalizando as condições de higiene e limpeza dos estabelecimentos comerciais e industriais da estância(atribuição afeta ao Posto de Saúde até então). Tão logo aqui chegou, elaborou o estatuto e reativou a Gota de Leite, fundada por seu antigo companheiro e colega de estudos na cidade de Pouso Alegre, o farmacêutico e escritor emérito Dr. jurandir Ferrera que, havendo fundado a instituição, distribuía leite às pessoas carentes ao lado da Farmácia Rosário de sua propriedade e também por ele fundada , sediada na antiga Rua Paraná(hoje Assis Figueiredo), esquina com a Rua Pernambuco, onde até hoje se encontra. Dona Inah Bráz Pereira Gomes Chaves, esposa do Dr. Chaves e falecida em 19 de dezembro de 1.983, foi a primeira Presidente da Gota de Leite. A segunda Presidente, atuando até os nossos dias é a Sra. Maria do Rosário Mourão Davis, a querida e dinâmica “Da. Nini “. Dona Inah deu-lhe os seguintes filhos: - Dr. Alfredo Chaves Neto, médico, falecido; Helena Braz Chaves, química e funcionária do D.M.A.E. há vários anos; Maria Braz Chaves, museóloga e escritora consagrada; Dr. Arthur de Mendonça Chaves Filho, advogado consagrado, político, vereador em várias legislaturas; Dr.. José Maria de Mendonça Chaves,dentista, advogado Deputado Estadual por Minas Geras em duas legislaturas; Benedito Maria de Mendonca Chaves; Inah Braz Chaves, a “Inazinha”, falecida em criança: e Maria Darci Braz Chaves, escriturária, aqui residente. Honesto, enérgico e inflexível quanto ao direito e à justiça, ele não titubeava e nem esmorecia na punição dos responsáveis por quaisquer crimes, mormente os contra a saúde pública. 230
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Dizem os mais antigos que, certa feita, fiscalizando determinado estabelecimento comercial, constatou que todos os gêneros alimentícios existentes estavam deteriorados. Sem pestanejar, atirou todos eles no Ribeirão de Caldas, na Ponte da Rua Assis Figueiredo. Sua casa, situada à Rua Rio Grande do Sul, n. 1.625, senhoril, altiva e bela ainda existe, para nosso gáudio e felicidade. Recordo-me do Dr. Chaves, sempre impecavelmente vestido de terno e gravata ou de guarda-pó branco, à saída do Correio, com a correspondência numa mão e o guarda-chuva noutra. Muito educado, polido e culto, inteligente e sensível era ele um verdadeiro “gentleman”. Em 06.05.84, por ocasião do aniversário natalício do seu filho e amigo “Chavinho”, tive a felicidade de posar juntamente com ele, Dr. Chaves, para aquela que talvez tenha sido a sua última fotografia, eis que, logo após, no dia 15 de junho de 1.984, viria ele a falecer. Homem íntegro, caráter sem jaça.Profissional excelente e de ilibada reputação, é ele um dos artífices da história desta nossa querida Poços de Caldas
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VÓ ester Contam os antigos que, certo dia, retornando da casa de uma parturiente, por volta das 05:30 horas da manhã, passava ela pela Igreja de Santo António, na Rua São Paulo, quando viu a imagem do santo na rua. Penalizada, inteirou-se do motivo e ficou sabendo que outra imagem mais nova tomaria lugar daquela. Ato contínuo, pediu e ganhou a velha imagem daquele que é um dos mais milagrosos santos, senão o maior. Embrulhando a estátua no avental, dirigiu-se para sua casa. Lá chegando, a correria foi geral.Todos achavam que ela havia trazido outra criança para casa, que somada aos seus filhos menores, iria causar sérios transtornos. A casa de sua mãe, Dona Eulália, situava-se na Avenida Francisco Sales, nas proximidades da residência do saudoso Sr. Jorge Pereira, pai dos amigos Dr. Gaspar Eduardo de Paiva Pereira e Sérgio de Paiva Pereira, o “ Baleia “ Com duas janelas grandes para a Avenida Francisco Sales, onde eram estendidas toalhas e acesas as vel as em bonitos e trabalhados castiçais, quando das procissões era ladeada, à direita, por majestosa varanda, com todas as tortas daquele lado. Ali ainda funcionavam os consultórios dentários de seus irmãos Dra. Lucila de Almeida Prata e Dr.João de Almeida Prata. Residiam na casa, entre outras pessoas, a “Cota” e a “Tina”, a quem eu dedicava admiração e respeito. Eram eles todos tios-avós de Márcia Maria, minha esposa. Dona Eulália, ao ver a filha chegando com aquele volume coberto pelo avental, também julgou tratar-se de outra criança. O
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engano só foi desfeito quando Vó Ester desembrulhou a imagem de Santo Antônio. Assim era ESTER PRATA, a Vó Ester! Nascida em Cambuí, neste Estado, no dia 20 de setembro de 1.895, era filha de José de Almeida Prata(notável advogado e Juiz de Direito, de quem herdei alguns compêndios) e da Sra. Eulália de Almeida Prata. Aos 15 anos de idade casou-se, em primeiras núpcias, com Benedito Ferreira que faleceu dois anos após. Desse consórcio nasceu o meu saudoso sogro José Benedito Ferreira. Com 19 anos contraiu matrimônio com Astholfo José Gonçalves, indeo residir na cidadezinha conhecida por Munhoz, na divisa com o Estado de São Paulo. Desta última união nasceram dez filhos. Destes, só quatro mulhesres lograram viver: Maria, que foi casada com Luiz Balerini, o “Xulu”, ambos falecidos; Joana,casada com Eurico Roquetto, já falecidos; Benedita, a “Ditinha”, casada com Walter Pomárico; e Nelita, divorciada, funcionária pública estadual e escritora, residente em São Paulo. Arrostando as maiores dificuldades e obstáculos, tendo enviuvado pela segunda vez, em 1.932, veio residir em Poços de Caldas com as filhas. O filho José, ainda pequenino, já havia sido entregue aos cuidados da avó Eulália. Durante mais de trinta e cinco anos ela trabalhou como enfermeira no Instituto Médico Dr. Mário Mourão. Paralelamente, trabalhava como parteira. Dona de uma vontade férrea, honesta e dedicada ao trabalho, criou as filhas com carinho, dedicação e zelo. Para trazer ao mundo uma criança, percorria ela quase a cidade inteira. Se a mãe era pobre, além de não cobrar pelos seus serviços de parteira, ainda fornecia o enxoval da criança. A maioria das crianças de umas duas gerações de poços¬caldenses nasceram em suas mãos. Excelente profissional, ela não media esforços para proporcionar às mães e aos bebês conforto e segurança no parto. Profundamente católica, sua fé lhe proporcionava resignação e força inigualáveis com as quais enfrentava as agruras e todas as vicissitudes do dia a dia. Ainda lembro-me dela. O cabelo branco como a neve. O falar
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calmo,devagar e pausado, evidenciando um leve chiado da crônica bronquite com que lhe “premiara” o cigarro. Sua maior distração era pitar seus cigarrinhos. Muitas vezes eu lhe fazia companhia, tirando minhas baforadas e ouvindo as deliciosas histórias por ela contadas. Infelizmente, aos 88 anos de idade, no dia 31 de agosto de 1.984, falecia a Vó Ester, vitimada por violento e irreversível câncer. A morte, como dizem, é um repouso para aqueles que amam a Deus. Ela é apenas a transição para uma outra vida e para o acerto final. E, em sua contabilidade terrena, tenho eu certeza, Vó Ester que o seu crédito é bem maior que o débito. A sua vida, transcorrida sob a luz da caridade, da bondade e do amor ao próximo, há de ser sempre lembrada. Suas luminosas pegadas hão de permanecer nas areias do tempo, como exemplo maior de amor e de oblação. No céu, onde por certo a senhora está, receba Vó Ester a lágrima sentida da saudade e a prece de todos nós.
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mais do Que um aniVersÁrio natalÍcio No dia 02 de setembro próximo vindouro, comemora-se o nonagésimo aniversário natalício desse monstro sagrado da literatura mineira que é o amigo JURANDIR FERREIRA. O evento, mais do que um aniversário natalício, representa um inolvidável marco na literatura das Gerais e, também,do Brasil. Sem olvidar os louros colhidos na vida profissional, JURANDIR FERREIRA representa a expressão maior da literatura de Poços de Caldas que, arraigando-se como a hera dos tempos, espraiandose pelo Estado, culminou por envolver todo o País num crescendo ameno, envolvente e eterno. Aos noventa anos de idade, detentor de inspiração e vigor que fazem inveja, ele continua a nos brindar com obras inigualáveis. Os inúmeros livros e artigos já publicados confirmam a assertiva. Seu mais recente livro, “Um Ladrão de Guarda-Chuva”, ganhador do prêmio Guimarães Rosa, é o atestado vivo e solene do labor extraordinário do nosso homenageado. Aliando-me às fileiras incontáveis dos seus amigos e fãs, em meu nome particular, no da Associação Sulmineira de Imprensa(A.S.I.), da Academia Poços-Caldense de Letras(A.P.L.) e dos literatos todos desta cidade, rogo a DEUS Nosso Pai que o abençoe e conserve e que a continuidade da sua obra valiosa e significativa seja uma constante e que esta data, para gáudio de todos nós, se repita por muitos e muitos anos. Poços de Caldas, 22.08.95.
ParaBÉns a academia Poços-caldense de letras Há precisamente dezoito anos, no dia 21 de outubro do ano de 1.977, na sede do Lions Clube, situada nesta cidade, à Praça Dr. Pedro Sanches, gentilmente cedida pelo amigo e companheiro Odair Camillo, nascia a Academia Poços-Caldense de Letras(A.P.L.). Com a colaboração direta e profícua do sempre lembrado Jorge Beltrão, da vizinha Pouso Alegre cooperação irrestrita das mais renomadas entidades culturais da região, tais como, Arcádia de Pouso Alegre, Academia Paulista de Letras, Academia Campinense de Letras, Academia de Letras de São João da Boa Vista e tantas o movimento foi adquirindo corpo até a sua fundação na data histórica. Além deste escriba(idealizador, coordenador e fundador) fizeram-se presentes: Benedicto Lopes, Ziney Lopes Ribeiro, Emílio Manso Vieira, José Raphael Santos Neto e a sua saudosa esposa Sra. Alice Ferreira Santos, Roberto Benedito Junqueira, Saul do Prado ‘ Brandão, Décio Alves de Moraes, Benjamin Rabelo Mariano, Odair Camillo, Milton Ferreira Costa, J. Izidoro Júnior, Luiz Cardoso, Antonio Carlos Viviani, José Asdrubal do Amaral, Hugo Pontes, Omar Pereira e outros. Os três últimos nomeados, pertencentes ao Grupo Mineiro de Vanguarda, na ocasião registraram seu protestos contra a fundação da nossa entidade. Daqueles que ali estiveram, nada menos que sete já transpuseram os umbrais da eternidade. Diversos obstáculos e acirrada resistência foram enfrentados e vencidos.
Mesmo esquecida e desamparada, ela venceu. Nestes quase quatro lustros de existência tem divulgado o nome de Poços de Caldas aos quatro cantos do Brasil e no exterior. Promove, valoriza e divulga na constelação das letras nacionais os nomes e as obras dos escritores e poetas destas plagas. Sua atuação singela, humilde e anônima, mas decidida e ferrenha continua, sem esmorecer, sem jamais afastar-se dos seus objetivos. No dizer do saudoso ÉRICO VERISSIMO, “A melhor chave para a alma de um país são as palavras de seus escritores”. É a chave do saber!... A Academia Poços-caldense de Letras, aglutinando literatos de todas as escolas e movimentos, de Poços de Caldas , da região e do Brasil em um verdadeiro templo do saber, é uma representante digna e valorosa da cultura da nossa gente. Parabéns, Academia Poços-caldense de Letras, e o nosso estuante desejo de que a sua luta seja reconhecida um dia! Poços deCaldas,em 21.10.95.-
o saPateiro e o santo Ermindo Bertozzi(sem o H), foi amigo pessoal do meu pai, Artur Ribeiro de Moraes. Para minha alegria e júbilo, herdei essa ami zade. Durante muitos anos, privei do convívio e da amizade daquele que foi um homem bom, enérgico, generoso, de caráter limpo, grande pro fissional e pai amoroso. Durante quase a vida inteira ele trabalhou no antigo Banco Moreira Salles S.A., hoje União de Bancos Brasileiros S.A. - UNIBANCO, onde aposentou-se. Natural desta cidade, viúvo da Sra.Rosa de Jesus Eugênia Vieira, aqui faleceu m data de 30 de março de 1.979. Deixou os filhos Marcos António e Izabel Cristina ambos casados e vários netos. Enquanto mantive meu escritório de contabilidade, então loca Iizado à Rua Assis Figueiredo, N° 1.051, 2° andar,(imóvel esse per-tencente, na época, ao Sr. Kamel Arida, de saudosa memória,-pai da Ivone, da Maria Alice e do Maurício durante anos elaborei a sua declaração de rendimentos, como de inúmeros clientes e amigos. Metódico e sistemático, ele gostava que a sua declaração fosse montada e datilografada no mesmo dia. Caprichoso e ordeiro, trazia arquivados por ordem cronológica, classificados por assunto e importância os documentos necessários. Dado o movimento normal do escritório, durante o dia era-me impossível atendê-lo. Assim, marcávamos uma noite da semana, quando eu montava a sua declaração de rendas. Religiosamente, após concluído o trabalho, ele convidava-me
para jantar no Restaurante Sem-Sem naqueles tempo localizado à Rua Assis Figueiredo,onde hoje está a Cantina do Araújo, e que pertencia à conceituada e estimada Família Villa, que escreveu parte da gastronomia de nossa cidade. Nessas ocasiões, enquanto degustávamos um suculento e saboroso jantar, massas de preferência, regado com o inigualável vinho italiano Bolla, ele me contava a história de Poços de Caldas, da região e os fatos e acontecimentos mais pitorescos. Um desses casos eu nunca esqueci. É o do sapateiro italiano devoto de São José. Residente em uma das cidades vizinhas, ele era uma homem alegre, falante, desbocado e brincalhão. Naqueles tempos difíceis, não era qualquer um que tinha condições de comprar calçados constantemente. Os homens optavam por sola inteira e salto, ou meia sola, no mais das vezes. Já as mulheres mandavam trocar sola e o saltinho. Em certo dia, às vésperas de determinado acontecimento de grande significado para a cidade, sua banca encontrava-se repleta de damas da sociedade local, aguardando o conserto dos seus sapatos. A certa altura, distraído pela conversa e solicitações das senhoras, o sapateiro acertou uma violenta martelada em um dos dedos da mão esquerda. Seu primeiro ímpeto foi dizer aquele palavrão conhecido e as costumeiras imprecações, o que concluiu ser impossível. Vermelho de dor e de raiva, olhou bem para as senhoras presentes, que fitavam-no espantadas e em silêncio, tirando o indefectível boné que usava, atirou-o sobre a banca e, erguendo o martelo, bradou:- Tutti Santi qui! Isso feito, lembrou-se de São José, santo de sua confessada devoção. Levantando um canto do boné, gritou:- Giuseppe, salta fora! Ato continuo, arremeteu o martelo sobre o boné com tamanha força que o furou juntamente com a banca. As madames, como não poderia deixar de ser, retiraram-se ‘ apreensivas e assustadas. O sapateiro, por sua vez, lavou a alma e extravazou a profunda dor que sentia. Infelizmente para nós, não mais teremos as conversas sadias e instrutivas, os fatos pitorescos e alegres por ele narrados. Ermindo Bertozzi partiu para a última morada atendendo chamado do Pai Celeste. É a vida.... Garujá., em 31.10.95.
resPinGos de saudade Dia desses, em conversa com um amigo que me é muito caro, o Dr. Irvânio Malaquias(amizade essa que remonta a nossa adolescência), a título de colaboração, falava-me ele da falibilidade da memória humana. A colocação é oportuna e importante. No entanto, é impôrtante que se diga que um mesmo fato ou acontecimento marca diferentemente a cada ser humano. O vínculo que se estabelece nos meandros e na complexa fímbria da memória humana, onde se depositam os tesouros da saudade é diferente para cada indivíduo. O elo que une certos personagens a determinadas circunstâncias, por motivos inexplicáveis não são os mesmos para as pessoas. Assim, a omissão da citação ou referência a fatos ou pessoas na obra de um escritor, além da indesmentida e notória redução da capacidade mnemônica que a idade nos impõe, pode ser debitada, também, ao personalíssimo enfoque da ligação que certa pessoa ou grupo representa para o autor, em determinado momento. Não há, portanto, qualquer intenção de excluir ou diminuir este ou aquele. Feito o registro. Agradecendo a colaboração, passemos aos fatos. Retornando de São Paulo por volta de dezembro de 1.955, onde permaneci desde o final de 1.949, ingressei na antiga e saudosa Escola Técnica de Comércio, hoje Instituto Educacional São João da Escócia, que funcionava no mesmo local, na esquina da Rua Minas Gerais com a Ceará, porém, em um vetusto casarão e não no majestoso edifício que hoje ali está. O Diretor da Escola era o sempre lembrado Arino Ferreira Pinto, um dos baluartes do ensino
Marcus Vínicius de Morais
de nossa cidade, que formou a totalidade dos antigos Contadores e a maioiria dos Técnicos em Contabilidade que, durante anos, militaram e ainda militam na estância. A primeira fanfarra da Escola Técnica foi fundada pelo amigo Dr. lrvânio Malaquias, em 1.954, quando ainda estudante, no período diurno. Era ela composta de seis instrumentos a saber: dois repiques( um por ele tocado), três taróis e um surdo. Já a fanfarra composta de estudantes do período noturno, foi criada em 1.956, salvo engano. Para seu instrutor foi contratado um dos filhos do inesquecível Professor Júlio Bonazzi, o amigo e também falecido Turido Italo Bonazzi, homem íntegro, enérgico e generoso, dono de um coração que não lhe cabia no peito. Era época das grandes fanfarras, das marchas militares a povoar os sonhos e as esperanças daqueles jovens que despertavam para a vida e para o saber. Nosso primeiro uniforme era todo branco, com um distintivo azul, que guardo até hoje(posteriormente, passou a ser camisa branca e calça azul marinho), sendo adquirido na antiga Casa Luz, precursora da Confecções Luz S/A., então situada na Rua Assis Fi gueiredo, onde hoje se localiza a Casa Acconccia. Pertencia ela ao Sr. Sebastião do Prado Luz e aos filhos César e Francisco, o saudoso amigo Chiquito, prematuramente falecido. Eram seus funcionários, entre outros, Sebastião Norberto de Paula, o conhecido “Tião Cabo Verde” e o Claudinei Venafro. A luta foi árdua. Os sacrifícios foram muitos. Os compenentes da Fanfarra renunciavam ao jantar, para treinar, diariamente, no curto espaço de tempo das 18:15 às 19:3o horas, sob as vistas do saudoso amigo Turido. Porém, valeu a pena. A Fanfarra da Escola Técnica de Comércio tornou-se uma das melhores da cidade, ombrando com a do Colégio Marista.-Além do articulista, dela faziam parte os seguintes alunos:- Venício Gomes(já falecido), José Carlos Domingos, Waldemar Troiano, Irvanio Malaquias, Reginaldo Alvise, Roulien de Castro, Aldo Lima, Ovídio Oliveira, os três Irmãos Daniel, Décio e Ivon, Renato Mendes Ribeiro, José Carlos Ferreira, Alberto “Português” (sobrinho do Sr. Manoel Reis), Lester Landi, Fausto Del Claro, Túlio Sérvio Landi, Jessé Araujo, Gilberto Natal Piffer, Demerval Garcia, Jadir José Alberti, Alaor da Silva Rocha, João Edson, Wellington James Borges e tantos outros. A rivalidade com o Colégio Marista era acirrada, obrigando as duasl
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Poços de Caldas do Meu Tempo
fanfarras a treinarem e se aprimorar contínua e infatigavelmente. Nos eventos festivos da cidade, ambas eram convidadas para colaborar e acompanhar os desfiles cívicos. . E os seus componentes se desdobravam ao máximo. Era um dos mais belos espetáculos o desfile daqueles jovens dedicados e imponentes, repletos de amor e abnegação. Mas, a rivalidade existente não se compara à violência e agressões fatais que hoje marcam as participações de jovens. Tanto é verdade que, durante o ano de 1.959, a maior parte dos alunos dos dois educandários serviram o Exército Nacional, pelo então Tiro de Guerra 147 e, esquecendo as divergências de antes, fizeram uma das melhores Bandas que o T.G. já possuiu. Bons tempos aqueles, pontilhados da azáfama e do borburinho que identificam os jovens, na sua ânsia de vida, de amor, de esperança e de realizações. Não voltam mais, bem sei... Restam-me apenas os respingos e os doridos fragmentos da saudade... Poços de Caldas, 12.12.95.
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a Posta restante da Vida
o curso da Vida No entender dos sábios e dos filósofos, a morte é um repouso para aqueles que amam a Deus. Não questionamos o sentido metafísico da morte, nem dis cutimos a veracidade do axioma. O certo é que, apesar da necessidade e da dificuldade de compreensão do fenômeno morte, ele é parte da vida. É a conclusão real e inevitável da qual nunca escapamos. Todavia, essa aceitação é fácil em tese. Quando ela penetra no campo material. especialmente o nosso, é que sentimos o quanto estamos despreparados para enten-der e aceitar essa figura espectral e lendária que á a morte. Em menos de dois meses, a Academia Poços-Caldense de Letras(APL.), a Associação Sulmineira de Imprensa(ASI.) e a cidade perderam dois vultos exponenciais de suas Letras, para consternação geral. No último dia 28 de agosto, aos 75 anos de idade, faleceu o companheiro, amigo e Acadêmico/LUIZ BRAGA WESTIN. Funcionário aposentado do Banco do Brasil SIA., era ele um grande poeta. Titular da Cadeira N° 08 da Academia Pocos-caldense de Letras, que tem como Patrono José Vieira de Mendonça. Membro da Associação Sulmineira de Imprensa e de outras entidades culturais, teve inúmeros trabalhos premiados nos concursos que participou. O poema “Súplica Ecológica”, alcançou o primeiro lugar no Concurso de Poesia realizado na cidade de Uberlândia, em junho de 1.988. “Distâncias”, foi o seu poema mais premiado,,rebendo, inclusive, várias Menções Honrosas. Dentre elas, na cidade de Três Corações, neste Estado; no Concurso de Poesias, da Associação do Banco do Brasil, em 1.983 e, no Concurso promovido pelo Instituto
Internacional de Poesia, de Porto Alegre, em 1.989. LUIZ BRAGA WESTIN, estimado por todos que o conheceram, pelo seu caráter íntegro, reputação ilibada e competência profissional, além da reconhecida atuação literária, deixa a viúva Neusa Galhardo Westin, os filhos Flávio Augusto, Maria Luiza, Lia Cristina; e a irmã Lígia Braga Westin Romanelli, exímia poetisa e nossa confreira na Academia Poços-Caldense de Letras. Em singela homenagem, transcrevemos o seu belo poema ‘ “Distâncias”.Entre o menino e o homem há distâncias imensas... Entre o barquinho de papel, que o garoto soltava na enxurrada, e o navio-cidade em que o homem viaja além-mar, há distâncias imensas... Mas, se os olhos de tua alma perscrutarem a mente do pseudo homem realizado, que galgou o tombadilho do navio-cidade, irão vê-lo, lá nos cimos, transfigurar-se no menino de outrora, de olhos felizes e travessos, tentando, em sua ingênua esperança, trocar todo aquele mar imenso pela enxurrada pequenina e permutar, também, o majestoso navio-cidade pelo frágil barquinho de papel, na mentira azul dessas distâncias Guarujá, em 01.05.97.-
o carnaVal
a dona mircÉia està ?
o nosso trÂnsito
o triÂnGulo da FÉ DORIVAL PEREIRA é amigo antigo, que eu muito prezo. Homem simples, de pouco falar, - mas de muito saber, - é ele grande conhecedor da mitologia grega e da História Universal. A par disso, é ele excelente fotógrafo(aposentado, por sinal), com mais de cinquenta anos de serviço. íntegro, honesto, trabalhador e cumpridor dos seus deveres. Pai amoroso e ótimo Chefe de famí-lia. Casou-se com a Sra. Altiva Barbosa Pereira, que lhe deu os filhos Ricardo e Débora e o neto Rafael o seu “xodó”. Natural desta cidade, onde reside e nasceu a 10.08.27, há quase setenta anos, portanto. São seus genitores: João Pereira Júnior( o “Seu Joãozinho”) e a Sra. Isaura Camargo Pereira. Membro da Associação Sulmineira de Imprensa(A.S.I.) desde 1.971, ali ganhou vários concursos, o que ocorre no Brasil todo, onde foi premiado com inúmeros diplomas, troféus e medalhas de honra ao mérito. Nossa amizade remonta há vários anos. Com ele converso quase diariamente, quando vou recebendo parcelas da sua cultura e formação, o que me envaidece sobremaneira. Dia desses, conversávamos sobre o alferes JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, o Tiradentes, Mártir da Inconfidência e Herói Nacional, nascido a 18 de agosto de 1.746 e executado em 21 de abril de 1.792, há 205 anos, no Campo da lampadosa ou de São Domingos, na cidade do Rio de Janeiro. Lembravamos que a partir de 09 de dezembro 965, por força da Lei nó 4.897, sancionada pelo então Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar ‘ Castelo Branco, foi ele reconhecido,internacionalmente como PATRÔNO CÍVICO DA NAÇÃO BRASILEIRA! Homem de caráter sem jaça, de conduta irrepreensível
idealista sincero e portador de imensa confiança em Deus, Tiradentes foi o mentor e o autor da Bandeira destas Minas Gerais, que tem ao centro um triângulo circundado pela frase latina: - “LIBERTAS QUAE SERA TAMEM”. A origem e o nome ou os nomes dos autores da nossa Bandeira, conhecidos por poucos, tem gerado grandes controversas no decorrer do tempo. Estudioso e conhecedor da História como ninguém, o amigo Dorival espancou de vez as dúvidas que assolavam este escriba. Escorado nas lições do renomado Gal. MIGUEL SANTOS, em sua valiosa obra “O Tiradentes, Patrono da Nação Brasileira”, 1° edição-1.967, diz ele que o triângulo representa a Santíssima Trindade, em cumprimento de uma promessa feita pelo Alferes, como católico fervoroso que era. A frase que adorna o triângulo, é da autoria do também inconfidente,Alvarenga Peixoto, e significa: “ LIBERDADE AINDA QUE TARDIA “! Além da homenagem que rendemos ao estimado amigo DORIVAL PEREIRA, neste mês de abril das manhãs coloridas e luminosas do outono, quando se comemora o duocentésimo quinto aniversário da condenação e morte do herói e martir da nação brasileira, alferes JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, o Tiradentes, a ele estendemos e registramos nossa homenagem e o sentimento de orgulho e júbilo pela sua coragem, despreendimento, dedicação bravura Poços de Caldas, em 15.04.97.
o nosso mecenas
uma Bolsa de estudo Com a proibição do jogo bancado e fechamento dos Cassinos, por ordem do então Presidente da RepÚblica, o Gal. Eurico Gaspar Dutra, meu pai tentou no comércio, uma nova fonte de renda para a subsistência da família, com a instalação de um empório na Av. Champagnat, no Bairro da Vila Cruz. Naqueles tempos, a Av. João Pinheiro, com uma pista apenas, não era calçada e a fileira de eucaliptos plantados ao lado do rio lhe conferia um ma jestoso aspecto. Aliás, a própria cidade possuía calçamento só nas ruas centrais. Sem conseguir o resultado almejado, em 1.949, mudamos para a cidade de Utinga, na Grande São Paulo, onde meu pai conseguira emprego na grande firma, ali estabelecida. A Laminação Nacional de Metais. Posteriormente, mudamos para a Capital de São Paulo, onde permanecemos até o final de 1.955, quando retornamos e aqui fixamos residência em defintivo. O Prefeito Municipal era o grande amigo, Agostinho Loiola Junqueira, irmão mais velho dos amigos e companheiros Roberto Benedicto Junqueira e Ronaldo Loiola Junqueira. O cargo de Secretário da Prefeitura, que abrangia várias atribuições e serviços, era ocupado pelo renomado advogado e consagrado homem póblico ,Dr. Leibnitiz Tavaraes Hovelacque. À guisa de esclarecimento, nos permitimos a abertura de um parenteses para registar que o cargo de Secretário da Prefeitura vigorou de 1.947 ate 1.967. A partir daí, foi denominado Chefe de Gabinete, no
Marcus Vínicius de Morais
governo do saudoso Prefeito Municipal Haroldo G. Junqueira(gestão de 1.967-1970). Até 1.976, permaneceu com essa denominação e atribuições, quando o novo Prefeito Municipal, Sebastião Pinheiro Chagas, transformou as Diretorías em Secretarias, passando ele a denominar-se Secretário de Governo. A Cârmara Municipal era assim constituída:- João Eugênio de Almeida( Presidente), Carlos Érrico Neto(Vice -Presidente), Edmundo Góuvêa, Cardillo( 2° Vice-Presidente), Horácio Alves de Paíva(1° Secretário), Sebastião Thomaz de Olíveira(2° Secretário) os demais Vereadores eram Antônio de Oliveira Fabrino, Adhemar de Souza e Silva, Cornélio Tavares Hovelacque, Frederico Prdini,José Ayres de Paiva, José Francisco Tepedino, José Remígio Prézia e os Suplentes: Carlos Antônio Bonazzi, Jofre Rafael dos Santos, José Gomes Filho, Luiz Peres Álvares, Pedro Línguanotto e William de Macedo Ferreira. Apesar de não estarem em voga termos e expressões como inflação, pacotes econômicos, juros extorsivos, altos ou escorchantes e outros, a vida era difícil. Os salários eram baixos. Os jovens da classe média, desde cedo procuravam trabalho para completar o orçamento familiar. O estudo diurno, em tempo integral, era privilégio garantido apenas aos jovens oriundos das classes mais abastadas. Com a separação dos meus pais, sendo eu o filho mais velho, coube-me a manutenção da casa. Diante disso, teria eu de trabalhar no período diurno, frequentando a escola à noite. Meus irmãos, mesmo sendo mais novos, estudavam na parte da manhã e trabalhavam à tarde. Além do mais, eu não possuía condições de pagar o colégio. Não me restava outra alternativa que requerer ao Poder Legislativo Municipal a concessão de uma bolsa de estudo, que era distribuída àqueles que, possuindo bom índice de aproveitamento escolar, não podiam custear as despesas com o colégio. O projeto de concessão da minha bolsa de estudo é de autoria do meu particular amigo, Acadêmico e companheiro de jornadas literárias, o jurista e historiógrafo Dr. CARLOS ÉRRIGO NETO, então Vice-Presidente da Câmara Municipal. A fim de que se formalizasse a outorga e o Prefeito Municipal Agostinho Loiola Junqueira sancionasse a lei, muito contou o valioso trabalho do saudoso amigo e advogado,Dr. Leíbnitz Tavares Hovelacque, Secretário da Prefeítura na época. 262
Poços de Caldas do Meu Tempo
Assim, no início do ano letivo de 1.956, lá fui eu para a Escola Técnica de Comércio, localizada no antigo casarão situado na esquina da Rua Minas Gerais com a Rua Ceará. O Diretor responsável por aquele educandário era o sempre lembrado Prof. Arino Ferreira Pinto. Naquela época, mesmo já pertencendo à Maçonaria, ainda era conhecida como Escola Técnica de Comércio. Somente na década de sessenta é que passou a denominar-se Instituto Educacional São João da Escócia. Alí frequentei o curso técnico-comercial, diplomando-me como Auxiliar de Escritório no ano de 1.958. E, em 1.962, depois de uma interrupção no ano de 1.959, em virtude da prestação do serviço militar, no Tiro de Guerra-TC-147, concluí o curso de Técnico em Contabilidade. O corpo docente da época era dos melhores. Dentre seus integrantes acorrem-me a memória as figuras queridas e saudosas de Jésus Bernardino da Costa, Júlio Bonazzi, João Narcizo Pereira, João Honório dos Santos, Mercedes Peres Mayo, Eponina Bastos, Elvira Chagas, Joemil Lorenzotti, Manoel de Freitas e outros tantos que as brumas do tempo envolveram. O crédito de confiança e a ajuda que me foram dados pelos amigos CARLOS ÉRRICO NETO, AGOSTINHO LOIOLA JUNQUEIRA e LEIBNOTZ TAVARES HOVELACQUE Muito contribuíram para minha formação, permitindo-me galgar os degraus do saber e, também, enfrentar os embates e obstáculos que a vida nos apresenta. Restam-me as saudades... Fragmentos deste meu velho e sentido coração, que se dispersam no espaço infinito, perpetuando a gratidão e as lembranças que jamais se apagam... Poços de Caldas, em 12.06.97.
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a montanha chorou
temPo de reVoluçÃo Apesar de conhecê-lo de vista há muito tempo, somente na casa do meu saudoso sogro José Benedito Ferreira é que floresceu sólida amizade com o Dr. ANTÔNIO DE OLIVEIRA FABRINO, homem de grande saber e vasta cultura, dotado de enorme sentido de caridade e de raro senso de solidariedade. Além de amigo muito estimado era ele o médico da família, de extremada dedicação e inegável compêtencia. A partir dessa época, passei a conhecê-lo completamente. Mineiro de Carmo do Rio Claro, onde nasceu a 05 de outubro de 7.909, era filho de Randolfo Augusto de Oliveira Fabrino e da Sra. Helena Bernardina de Carvalho Vilela, sendo o caçula de uma prole de sete filhos. A casa paterna,onde sobressaia a intelectualidade, era frequentada por amigos e colegas de seu pai, tais como, Raimundo Correa, Augusto de Lima, Assis Brasil e tantos outros. Assim cresceu o Dr. Fabrino (como era carinhosamente conhecido), vivendo tranquilamente entre os eflúvios e as manifestações intelectuais de antanho. Estudante exemplar, mesmo enfrentando os obstáculos, as adversidades e os reveses da sorte que atingiram sua família, ele sempre se destacou nos estudos com distinção e louvor. Em 1.933, no dia 02 de dezembro, com invulgar brilhantismo, concluiu o curso médico. Pela sua notória inteligência e avidez de conhecimento, fez ele inúmeras viagens pelo Brasil e, também, ao exterior. Em 1.944, percorre o Mato Grosso, Bolívia e Paraguai e, dessa viagem, surge sua obra “Rerminiscência do Paraguai”, de valor inestimável. Na ano de 1.953, como Prêmio do
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Conselho Nacional de Pesquisas e, também, por indicação do então Governador das Gerais, o Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, vai à Europa, onde visita vários países, estudando suas águas minerais e estâncias climáticas. O Dr. Fabrino era reconhecido como uma das maiores autoridades em Crenologia e Termalismo,, nacional e internacionalmente. Além do livro “Reminiscências do Paraguai”, deixou ele as seguintes obras científicas de incalculável valor: “ A Crenologia no Brasil”, “Recursos Crenoterápicos de Poços de Caldas”, “Artrite Reumatóide - Tratamento Hormonal e Crenoterápico”, “Relações entre o Município e o Estado - Verdadeiro desenvolvimento das Estãncias Hidro -Minerais” e “ Aspectos da Crenologia na Europa e no Brasil - 1.950”. Não obstante o alto conceito que desfrutava no Rio de Janeiro, após uma breve e marcante passagem por sua cidade natal, Carmo do Rio Claro e Goiânia, ele fixou raízes em Poços de Caldas, no final do distante ano de 1.943. A consagrada escritora e poetisa CHRISANTEMO NOGUEIRA DA SILVA, membro da Academia PoçosCaldense de Letras, onde ocupa a Cadeira n° 29, que tem como Patrono o nosso homenageado, em seu elogio histórico, assim se expressou sobre ele: “... No lombo dos burros, Dr. Fabrino visita as distantes e humildes casas. Não recusa a um só chamado. Grande é a clientela. Pequeno, o lucro.”Era naquele tempo em que o médico era clínico geral e permanecia atendendo o doente até ele se curar. Não se mudava de médico.” Este era tudo amigo, confidente, conselheiro. Era considerado e tido como a personagem mais importante da cidade.”(Sic) Em Poços de Caldas, desde a sua chegada, ocupou cargos de expressão e relevância. Diretor Científico do Departamento de Crenologia da Assistencia Médica de Minas Gerais, Médico Clínico do Hospital da Santa Casa de Misericórdia, onde destacouse pelos relevantes serviços prestados. No longínquo ano de 1.944, é nomeado Diretor dos Serviços Termais e de Fisioterapia do Hotel e do Balneário Quissisana, onde meu finado e saudoso sogro, José Benedito Ferreira, - exemplo de honradez e de amor ao trabalho, foi Maitre d’Hotel por largo tempo. Em 1.950, foi eleito Vereador à
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Câmara Municipal de Poços de Caldas, tendo prestado os maiores e mais relevantes serviços a esta urbe. Médico e intelectual de renome internacional, apesar da sua imensurável bagagem de conhecimentos e da indesmentida cultura, era ele um sonhador, um aventureiro e solitário. É ainda a escritora CHRISANTEMO NOGUEIRA DA SILVA que, na obra citada, relata o episódio seguinte e revela o singular temperamento daquele que foi uma das maiores inteligjncias de antanho: “ ...Em 1947, foi eleito Presidente do Aero Clube de Poços, por 6 gestões sucessivas. Piloto civil, brevetado em Poços de Caldas, em 1949, brevetado Piloto civil internacional, com treinamento e exame no Rio de Janeiro.(...)
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Poços de caldas e seus Vultos Pitorescos Meus primeiros contatos com aqueles personagens que marcam nossa existência de criança e a história de todas as cidades interioranas, foi com o Sr. Pedro, rachador de lenhas e com a “Sá Norberta” que, juntamente com um casal de filhos, moravam na parte baixa do antigo e não mais existente coreto da Praça da Igreja de São Benedito. Mas, Poços de Caldas teve e tem vultos expressivos e pitorescos que divertiram, alegraram, escreveram e escrevem a sua história. Dada a exiguidade de espaço, limitar-me-ei a citá-los, relatando, quando possível, um fato engraçado e marcante com eles ocorrido. O primeiro deles foi o “Seu FELIX”, amigo de meu avô Pedro Dias de Almeida e frequentador assíduo de sua casa. Na foto que ilustra o presente artigo, aparece ele, de costas, entre meu tio Galileu Dias de Almeida e um amigo. Não o conheci. Mas, segundo o relato de minha mãe, Eponina Almeida de Moraes e do amigo e companheiro Décio Alves de Moraes, ele enloqueceu de tanto estudar para o ingresso na Faculdade de Medicina, o que fazia, diariamente, até altas horas, com os pés mergulhados em um balde de água fria. Ele morava em um barraco lá pelos altos da Rua Barros Cobra e colecionava latas vazias de todos os tipos. Poliglota, falava nada menos que seis ou mais idiomas. “ ZE BIRI “, gordo e bonachão, alegrava todas as crianças e adultos também. Respeitoso, suas bricadeiras eram todas sadias e
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infantis. Nunca trabalhou. Ao que consta, foi criado pelo Dr, Clodoveu Davis e Da.Nini Mourão Davis. Hoje, tendo partido há tempos, para os campos do nunca mais, é nome de rua nesta cidade: Travessa “ZE BIRI’, nos altos da Rua Assis Figueiredo. “MISTER JONES “ , homem ilustrado e instruído, paraplégico, locomovia-se em um triciclo. Era professor de inglês. Residiu por largo tempo na antiga Pensão Salles, situada à Rua Prefeito Chagas e, posteriormente, nas dependências do Cassino da Urca. “ SERGINHO “ , anãozinho genioso e briguento. Por qualquer toma lá-dá-cá, arremessava a sua bengala de castão de prata contra quem quer que fosse. “ TIO PEDRINHO “ , sanfoneiro da Vila Nova, tocava sempre o “ lari-fun-la-ri-la-ri-fun” para qualquer melodia que lhe fosse solicitada. Nas noites de lua cheia, altas horas da madrugada, ouvia-se o som da sua sanfona, ato esse que lhe angariou a fama de sobrenatural e lhe conferia um ar fantasmagórico. “ LAZINHO MARETTI “ , sempre bem vestido e muito educado, era ele barbeiro de profissão e sócio do famoso Eugênio Rosa, o “Querosene “ , que foi durante muito tempo o delegado e fiscal dos direitos autorais, na cidade. Talvez não exista nos anais da Câmara Municipal uma pessoa que frequentasse as reuniões com mais assiduidade e pontualidade que o “ Lazinho “. Aberta a sessão, ele ali estava, atento e compenetrado ao trabalho e nossos vereadores. “ PEDRO RABANETE -educado e sempre portando a sua indefectível bengala e acompanhado do fiel cachorro, percorria a cidade diariamente. Suas refeições eram feitas regular e pontualmente no saudoso Hotel Aurora. Nessas ocasiões, o “Coronel”, um dos proprietários do Hotel lhe perguntava: -- “ Servimos primeiro o Senhor, ou o cachorro? “ Ao que ele costumeiramente respondia: - “ Primeiro o cachorro “ FILIPONA -2-, senhora gorda de pele clara, como as mulheres nórdicas, muito espalhafatosa no vestir, era conhecida pelo seu trabalho no Mercado Municipal e por trazer sempre ao ombro o seu amigo fiel e companheiro,— um papagaio.faleceu atropelada por um veículo, quando se dirigia ao trabalho. “ FUBÁ GROSSO “ , rachador de lenhas, impunha temor e
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respeito à criançada pela carranca assustadora. Vivia sempre com o machado às costas. Seus pés, inchados e feridos o atormentavam constantemente. BALEIA - homem bom, trabalhador, dedicado e eficiente, foi o “funcionário coringa” do Cine São Luís. Ia receber os filmes na Estação Ferroviária, trazendo-os na carrocinha de mão. Vendia ingressos,balas e pipocas, era o lanterninha, o operador da máquina de projeção, etc. “ CACILDA negrinha alegre, brincalhona, extrovertida, inocente e simples. Gostava de comer “zalanha” (lazanha), que pedia a todos que encontrava. Foi encontrada morta no Jardim da Fonte Luminosa, de forma inexplicável, em meio aos ‘ buchinhos. “JOÃO GAMELA” -engraxate defeituoso, desbocado e brigão, que fazia ponto na esquina da Rua Assis Figueiredo com a Avenida Francisco Sales. Certa feita, conforme recordou o amigo Dr. Wanderley Elias Colhado, ocorreu uma violenta briga no “ Bar ao Ponto dos ônibus “, que se localizava onde hoje está a Farmácia Glória. No auge do sururu, entra o “João Gamela”, todo torto e gingando. Um dos contendores gritou: - Aquele ali é lutador de capoeira”.Foi um tendepá. Todos caíram de pau sobre o coitado. “ ZE BATATA “, o mais antigo vendedor de jornais e revistas de Poços de Caldas, função que exerce religiosamente há mais de cinquenta anos. Com ela manteve toda a família, formando irmãos e parentes. “ PACIÊNCIA “, este é uma figura. Gordo, chato e resmungão, vive falando e brigando consigo mesmo. E o rei do monólogo. Contam o fato de que ele sempre “ encostava “ no balcão do famoso Bar ao Ponto, situado na rua Rio de Janeiro, perturbando todos os fregueses. Diante disso, o Senhor. Eberle Teixeira, o conhecido Joaquim do Bar ao Ponto “, lhe fez uma proposta: pagaria mensalmente a ele, “Paciência- a quantia de, digamos, R$ 30,00, para que ele não mais aparecesse no Bar, somente o fazendo ao final de cada mês, para receber. Ele disse que iria pensar. No dia seguinte, para espanto geral, disse ele que só aceitaria se o Senhor. Joaquim lhe pagasse o salário mínimo.
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“ INOCÊNCIA - seu problema é com a polícia da qual tem ela verdadeiro horror. Segundo dizem, esse fato tem seu fundamento e origem no espancamento e morte de seu irmão,o Paschoal, perpetrado pela polícia. “ T.K.R.”, funcionário público municipal aposentado. Gosta de falar no rádio, carregando sempre uma latinha, fica horas a fio irradiando programas musicais e de auditório. Chegou mesmo a construir uma imitação de aparelho de rádio. Por obra e graça dos inconsequentes e nefastos elementos, hoje ele é um alcoólatra. De todos os personagens descritos, apenas os quatro últimos estão vivos. No entanto, todos e exceção de nenhum, a exemplo de muitos outros , escrevem a história da cidade. Poços de Caldas, em 10.01.95.
o anjo da Guarda Na esquina da Rua Assis Figueiredo com a Rio de Janeiro, onde hoje está a Farmácia Líder, existiu durante muitos e muitos anos a Farmácia Central, de propriedade do saudoso Oscar Nassif, onde trabalhavam seus competentes e bondosos auxiliares: Benedito Rafael, Miguel Ângelo Pisani (de saudosa memória), Neusa Della Santina e Januário Amalfi, o popular “Jaguá”, como e carinhosamente chamado. No andar superior, o Dr. Jonas Moreira Salles mantinha seu escritório de contabilidade e administração de empresa, onde exercia com zelo e competência o seu mister. Durante muito tempo fui o contabilista responsável pela escrita da “Farmácia do Seo Oscar”. Por essa razão,a sincera amizade que dediquei ao sempre lembrado Oscar Nassif, se estendeu aos seus funcionários, fincando raízes profundas e vigorosas que até hoje permanecem. É o que ocorre com o nosso caro amigo JANUÁRIO AMALF I, farmaceutico competente e responsável, toda a sua vida ele dedicou ao socorro dos doentes, ministrando-lhes as drogas salvadoras. Natural desta cidade, e casado com a Sra. Enir Della Santina Amalfi que lhe deu os filhos Saulo e Jeferson, que lhe brin daram com muitos netos. O JANUÁRIO, sempre foi o nosso “Anjo da Guarda”, atendendo dia e noite a todos que o procuravam. Quantas e quantas vezes, após aquelas festas e comemorações, ele estava sempre a postos para nos recuperar e devol-ver a capacidade e o tônus vital necessários à luta pela sobrevivência, nos em bates cotidianos. Em outras oportunidades, com paciência e dedicação invejáveis qualidades que lhe são inatas; ele atendia nossos filhos ainda crianças, aplicando-
lhes injeções e ministrando xaropes e vermífugos. Meus filhos Cleyton Artur, Márcia Cristina e Marcus Vinícius quando doentes, se entregavam aos seus cuidados profissionais, com docilidade e calma surpreendentes.
o traBalho Que Veio de lonGe “ Uns plantam a semente de couve para o prato de amanhã, outros a semente do carvalho para o abrigo futuro. Aqueles cavam para si mesmos. Estes lavram para o seu país, para a felicidade de seus descendentes, para o benefício do gênero humano.”(RUI BARBOSA), Como consta da valiosa obra “Poços de Caldas”, de autoria do consagrado historiador Homero Benedicto Ottoni, das informações de testemunhas e dos relatos colhidos junto aos familiares ainda vivos, nas terras que pertenceram à Capitania de São Paulo, localizadas neste vale de Poços de Caldas, com a abertura do caminho direto de Moji-Guaçu, estabeleceram-se o alferes Inácio Preto de Moraes e seu filho e sócio José de Moraes Preto, com uma fazenda de relativa importância. Nessas terras introduziram eles vários melhoramentos. Não podendo demarcar sesmaria, em 1787 eles perderam a posse das terras que foram adquiridas pelo sargento-mór João Bento da Cunha. A partir daí, as ditas terras se tornaram devolutas e, em 1.819, passaram à posse da Família Jun-queira, cujos membros já eram sesmeiros de grande parte. O Major Joaquim Bernardes da Costa Junqueira, além das terras possuídas, mais as devolutas, passou a adquirir por compra e venda as terras de seus parentes, demais sesmeiros e posseiros, tornando-se o maior proprietário de uma sesmaria de terras ao redor das fontes termais, onde construiu a Fazenda Barreiro, ali fincando raízes e expandindo sua descendência. Por interferência do engenheiro Martimiano da Fonseca Reis
Marcus Vínicius de Morais
Brandão, aqui enviado para projetar, orçar e executar melhoramentos nas fontes das águas minerais então exístentes(como tantos outros engenheiros enviados com a mesma finalidade, que não lograram êxito), em 30 de abril de 1.865, por escritura pública, o Major Joaquim Bernardes da Costa Junqueira cedeu a área de 26 112 alqueires de terras ao redor de ditas fontes à Província de Minas Gerais. Mais tarde, a 06 de novembro de 1.872 - considerada oficialmente como a data de fundação de Poços de Caldas - também na Fazenda Barreiro, na presença de seus familiares, das autoridades locais e de outros moradores, o Major Joaquim Bernardes da Costa Junqueira e seus herdeiros, ratificando a cessão realizada a 30 de abril de 1.865, doaram mais 13112 alqueires, perfazendo, assim, o total de 40 alqueires as terras doadas onde se ergeu a cidade. Muitas foram as empresas que celebraram contratos de exploração das águas termais e do potencial turístico da época, das quais fizeram parte figuras de expressão do cenário local, como o Dr. Pedro Sanches de Lemos, Dr. Marçal José dos Santos e muitos outros. Inúmeras tentativas foram realizadas para a completa captação das águas sulfurosas,o que somente foi conseguido no ano de 1.882, não obstante as opiniões e os pareceres contrários de vários engenheiros contratados, - pelo mestre pedreiro Antônio Alves da Silva que, utilizando-se de tubos verticais em alvenaria de tijolos e argamassa, em altura suficiente. conseguiu realizar o abastecimento das banheiras. Durante a gestão do alcaide Francisco Escobar à frente da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, de 1909/1918, por ele foi convidado o arquiteto JOSÉ JOÃO PIFFER, da família alemâ austríaca, nascido em Bozen(hoje Bolzano-Tirol italiano), em 17 de fevereiro de 1.872, tendo estudado em Munique, na Alemanha e chegado ao Brasil em 1.895. Em 1.910, desembarcava ele em Poços de Caldas. Mais tarde viriam os seus irmãos Otto e Augusto(este,o caçula e o único não diplomado), depois de passarem por várias cidades e povoados brasileiros, começando por Sabaúna e Moji das Cruzes, no Estado de São Paulo. José e Augusto fixaram residência nesta cidade, e o irmão Otto mudou-se para a vizinha Pouso Alegre onde, entre outras obras, construiu a Igreja Matriz daquela cidade. Augusto(avô de minha esposa Márcia Maria), o menos estudada, começou a
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trabalhar na construção do edífico das Termas Antônio Carlos, lá permanecendo até a sua aposentadoria. JOSÉ JOÃO PIFFER foi casado com a Sra. Ana Inácio de Toledo, com quem teve os filhos João Adalberto, Maria Amélia e Oswaldo. Pelas cidades que passou até chegar em Poços de Caldas, construiu muitas obras. Dentre elas destaca-se a construção do prédio da Faculdade de Direito, em 1.897, na fundação dó,Belo Horizonte, através de concorrência pública por ele ganha; e muitas outras residências de personalidades importantes de antanho. Em campinas, construiu a Igreja do Rosário, o Cine Carlos Gomes e o antigo Centro de Ciências e Letras. Em seguida, mudou-se para Poços de Caldas, onde construiu a primeira Igreja Matriz de N.S. da Saúde, na Praça do Cemitério Velho. Em continuidade, ele construiu o Cine Teatro Politeama, que viria a constituir parte do capital social da Companhia Melhoramentos de Poços e Caldas por ele fundada e que, mais tarde, encamparia a Companhia Termal e edificaria uma grande quantidade das mais diversas obras. Destaque especial para o antigo Grande Hotel com frente para a Avenida Francisco Sales e fundos para a Rua Pernambuco; a casa de esquina na rua Minas Gerais com a Rua Pernambuco, que era a residência oficial do Prefeito Muni-cipal, onde funcionou por muitos anos a Pensão do Carmo; o antigo Balneário dos Macacos; as Termas antigas, o Palace Hotel e Palace Cassino; o Hotel Moderno, localizado próximo á Fonte Sinhasinha, na Rua Pernambuco, nos fundos do Grande Hotel; o primitivo Hotel Quissisana, o presente mostra o arquiteto JOSÉ JOÃO PIFFER, sua filha Maria Amélia, juntamente com dois amigos, na sacada de sua residência, naquele estabelecimento. De 1.910 a 1.927, durante quase vinte anos JOSÉ PIFFER, como era conhecído, com seu trabalho incansável e valioso imprimiu um grande surto de progresso à cidade, elevando-a à categoria de melhor estância balneária da Ameríca do Sul. Todavia, por excesso das atribuições que lhe foram cometidas talvez, buscando corrigir as falhas e atrasos, cumprir os prazos da empresas que antecederam a Companhia foi compelida a encerrar suas atividades. Assim é que, no dia 05 de fevereiro de 1.927, o presidente Casimiro Alves Serra Júnior requereu a falência da Companhia Melhoramentos de Poços e Caldas.
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Os documentos compulsados revelam que, a Massa Falida que respondeu pelo Passivo à época existente, constituiu-se apenase-tao-somente dos bens particulares do Diretor-fiscal JOSÉ JOÃO PIFFER e do Ativo da Companhia, não figurando nenhum bem dos demais Diretores. JOSÉ JOÃO PIFFER, abatido , desiludido e em estado de pobreza, pôs fim vida em 26 de ¡unho de 1.930; terminando assim, a existência de um dos mais valorosos e operantes construtores de Poços de Caldas. Guarujá., em 12.06.98.-
Vinte e um anos de luta No longínquo dia 21 de outubro de 1.977, na sede do Lions Clube, situada nesta cidade, na Praça Dr. Pedro Sanches, N°145, gentilmente cedida pelo amigo e companheiro Odair Camillo, nascia a ACADEMIA POÇOS-CALDENSE DE LETRAS -(A.P.L.). Com o incondicional apoio do saudoso Dr. Jorge Beltrão, da vizinha Pouso Alegre,: e a valiosa colaboração de várias entidades culturais da região, tais como, a Academia Paulista de Letras, a Arcádia de Pouso Alegre, a Academia Cdmpinense de Letras, a Academia de Letras de São João da Boa Vista e tantas outras,o movimento, tímido a princípio, foi tomando corpo, vindo a consolidar-se. Além deste desvalido escriba(idealizador e coordenador do movimento) fizeram-se presentes àquela memorável reunião,os seguintes intelectuais e pessoas gradas: - Dr. Benedicto Lopes, Ziney Lopes Ribeiro, Prof. Emílio Manso Vieira, José Raphael Santos Neto e sua saudosa esposa, Sra. Alice Ferreira Santos, Vereador Roberto Benedito Junqueira, Dr. Saul do Prado Brandão, então Promotor de Justiça da Comarca, Décio Alves de Morais, Benjamin Rabelo Mariano, Prof. Odair Camillo, Milton Ferreira Costa, J. Isidoro Júnior, Luiz Cardoso, Antonio Carlos Viviani e outros. Daqueles que lá estiveram e de outros que a Academia pertenceram, muitos já transpuseram os umbrais da eternidade, a saber: - Dr. José Ayres de Pai va, Dr. Edmundo Gouvea Cardillo, Dr. Benedicto Lopes, Ziney Lopes Ribeiro, Milton Ferreira Costa, Dr. Benjamin Rabelo Mariano, Prof. Emílio Manso Vieira, Dr.
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Eduardo Adami, Benedicto Cyrillo de Oliveira, Jurandir Ferreira, Romeu Bastos, Prof.Dr. João Batista Pereira Bastos, Luiz Braga Westin, Diamantino Rosa, Felix Cotaet, Prof. José Castro de Araújo, Dr. Clóvis Ivan de Melo e Nilda Corsetti. A primeira Diretoria eleita em 17 de fevereiro de 1.978, para o biênio de 1978/1980(fls.0708, 1° Livro de atas), foi assim constituída:PRESIDENTE DE HONRA: - Dr. Sebastião Pinheiro Chagas, Prefeito Municipal à época; PRESIDENTES-HONORÁRIOS: - Jurandir Ferreira, José Ayres de Paiva, Edmundo Cardillo Eduardo Addmi, José Raphael Santos Neto, Lindolfo Lino Belico; PRESIDENTE: - Marcus Vinícius de Moraes 1°VICE-PRESIDENTE: - BENEDICTO LOPES 2°VICE-PRESIDENTE: - Emílio Manso Vieira 1°TESOUREIRO: - Alberto Macedo 2°TESOUREIRO: - Luiz Braga Westin SECRETÁRIO GERAL: - Hélio Ribeiro Landi SECRETÁRIO: - Ziney Lopes Ribeiro 2°.SECRETÁRIO: - Benjamin Rabello Mariano ORADOR OFICIAL: - Carlos Erríco Neto DIRETOR DE BIBLIOTECA E ARQUIVO: - Antônio Carlos Viviani ASSESSOR DE IMPRENSA: - Odair Camillo Diversos obstáculos e acirrada resistência foram enfrentados e vencidos. Mesmo esquecida e desamparada, ela triunfou. Nestes mais de quatro lustros de existência, tem divulgado o nome de Poços de Caldas aos quatro cantos do Brasil e no exterior. Tem promovido e valorizado os poetas e escritores destas plagas, no universo eLetras nacionais. Além da participação e do trabalho individual dos Acadêmicos, muitos conhecidos internacionalmente, nestes anos todos a Academia Poços-Caldense de Letras realizou inúmeros eventos, destacamos apenas alguns:Memorável Posse Solene dos Acadêmicos em 01 de setembro de 1979, com um almoço de confraternização reunindo mais de duzentas pessoas no Restaurante Véu das Noivas. Na mesma data, realizou-se noite lítero-musical nas dependências do Cassino da Urca, quando se apresentaram artistas de Campinas, pianistas,
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sopranos, tenores e barítonos,todos de renome internacional, como a inigualável pianista Dalva Tirico. Em março de 1.982, na Boate Azul do Palace Cassino, promoveu-se a solenídade de entrega dos diplomas aos Acadêmicos, ¡á empossados. Realização de muitas Conferências sobre vultos literários de destaque na cidade e no país, impressas e arquivadas nos anais da Casa, depois de farta distribuição. Apoio, promoção e patrocínio de lançamento de livros na cidade, de Acadêmicos e de escritores nãoAcadêmicos. Por iniciativa do seu Presidente, foi criado o Trofeu “Dr. Pedro Sanches de Lemos”, primeiro jornalista da cidade destinado a todos aqueles que se destacam por serviços relevantes prestados à literatura pátria. Confeccionado e oferecido por Cristais São Marcos, dos Irmãos Molinari, foi ele outorgado pela primeira vez, em 20 de novembro de 1.997, nas dependências da Boate Azul, do Palace Cassino às seguintes personalidades literárias de nossa cidade: Dr. Benedictus Mário Mourão, Décio Alves de Morais, Jurandir Ferreira, José Raphael Santos Neto e Benedicto Cyrillo de Oliveira. Aluguel da almejada sede, pequena, humilde e acanhada, porém, independente, situada à Rua Prefeito Chagas, n° 100, conjunto 05, nesta cidade. Comemorando o 21° aniversário de fundação, dois importantes acontecimentos marcam, de forma indelevel, a história deste Colegiado. O primeiro, é o lançamento do livro de crônicas “ Bom dia, Vida!”, de autoria do companheiro e Acadêmico J. Isidoro Júnior, em concorrido jantar no Restaurante fenícia, desta cidade, seguido de festejada noite de autógrafos.O segundo, antiga aspiração é a criação da Revista Literária Estância , órgão oficial de nossa Academia. Essa revista, cujo nome traz em si expressa referência à condição de nossa cidade: Estância balneária, hidromineral e climática, doravante será o veículo de divulgação e registro do cotidiano e da história do nosso Sodalício. Com ela pretendemos difundir no Brasil e no exterior, não só a literatura, mas também, os fatos e acontecimentos importantes desta que é a terra do sonho e da poesia. Oportuno é registrar: esta Revista que, a partir desta data, passa a circular representará o bastião maior na luta pelo engrandecimento das Letras de nossa cidade. Ela será condutora de nossas ideias e
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pensamentos que irão espalhando-se pelo espaço, buscando levar a todos os sonhos e a esperança na perpetuação de uma cultura completa, sadia e útil. Vem a calhar a lição do sempre lembrado escritor local Dr. Mário Mourão, ao referir-se sobre o trabalho intelectual:”Renovando o velho milagre de Apolônio de Thyina que, atirando ao ar os papiros e pergaminhos do nobre balcão da biblioteca de Alexandria, eles se transformavam em pássaros, desaparecendo ali geros no azul intérmino dos céu, são as minhas ideias que vão pelo mundo afora, explicava o mago. Elas vão pousar em algum lugar e algum dia serão úteis.” À Academia Poços-Caldense de Letras que, reunindo literatos de todas as escolas e movimentos de Poços de Caldas, da região e do Brasil em um magnífico templo do saber, é a representante digna e valiosa da cultura da nossa gente, o nosso mais fervoroso desejo de que a sua luta seja um dia reconhecida. Rogamos a Deus Todo Poderoso que abençoe e ilumine o seu caminhar. Assim esperamos! Poços de Caldas, em 27.07.99.
deVoçÃo Neste mundo materialista em que vivemos, todos nós, católicos, temos o Santo de nossa devoção. Uns são devotos de São Judas Tadeu, outros, de São Benedito, outro tanto, de Nossa Senhora e assim por diante. Em 1.949, junto com meus pais, retornei a São Paulo e, depois de algumas andanças, fomos residir no Bairro da Liberdade, na Rua Dr. Lund, na casa de meus avós paternos. Dona Ophelia, minha avó, era baixinha, de fala mansa, tranquila, bondosa e paciente como Jó, devota convicta e confessa de Nossa Senhora Aparecida. Semanalmente, eu a acompanhava à missa domingueira celebrada na Igreja da Paz, na baixada do Glicério e, para satisfação de minha saudosa avó, além de ajudar na celebração algumas vezes, quase chegando a Coroinha, aprendi a devoção à milagrosa Padroeira de todos os brasileiros. Com o passar dos anos, além de Deus Nosso Pai e Nossa Senhora Aparecida, tornei-me devoto de Santo Antônio, o Santo dos milagres, o Antônio de todos nós . No entanto, nunca mais afastei-me da Virgem Maria. O eterno conflito entre o Bem e o Mal e visível e preocupante. Mas, para o nosso bem e nossa segurança, graças ao Bom Deus,o Bem sempre vencerá. No entanto, e necessária e urgente a adoção de uma ou mais medidas que façam os católicos sairem “casca”, professando e praticando aberta e orgulhosamente a religão abraçada. A fé em DEUS, a devoção a Ele e aos seus Santos são a mola2 -mestra que, jungida às duas outras virtudes teologais: a esperança e a caridade, sustentam o mundo. Um homem sem fé, é um ser árido, vazio e sem alma.Por outro lado, a fé e a esperança sem ação, ou seja a caridade, pouco resultado produzem.
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Para minha satisfação, dia destes, em visita a um amigo de longa data, a quem muito estimo, tive uma agradável surpresa. Ao entrarmos em seu escritório, antes de qualquer providência:ele dirigiu-se a um oratório onde se encontra o Santo de sua devoção e, depois de rezar em silêncio, beijou a imagem, recolocando-a no lugar. O Santo é São Sebastião martír. E, meu amigo, Sebastião Norberto de Paula, o conhecido “Tião Cabo Verde” sendo ele um dos sócios proprietários desde o início, juntamente com o saudoso Sebastião Luz ”Tião Cabo-Verde”, Claudinei Vénafro e outros, trabalhavam na casa Luz. Nossa amizade remonta aos bancos escolares, quando cursamos antiga e sempre lembrada Escola Técnica de Camercio;do saudoso Prof. Arino Ferreira Pinto, que hoje é esse portentoso gigante da educação, o Instituto Educacional São João da Escócia, Colégio Pelicano”. Naquela época,localizada na Rua Assis Figueiredo, ao lado da Casa Paratodos, onde, posteriormente, viria a se instalar a Casa Acconccia. Foi nessa primeira loja, lá pelos idos de 1.9564que graças a ajuda do “Tião Cabo Verde” e a benevolência do proprietário, Sebastião Luz, compramos o primeiro uniforme da Fanfarra da Esco la, o qual era todo branco, com o distintivo do pelicano fixado no lado esquerdo do peito. A empresa cresceu, dominando o ramo da indústria e comércio de confecções nestas Minas Gerais e no Brasil todo, passando a denominar-sé Confecções Luz Limitada, orgulho de todos nós poçoscaldenses, tendo como principais acionistas o patriarca Sebastião Luz, Francisco Luz, o “Chiquíto”, amigo querido que tão cedo partiu, Martinho do Prado Luz, César do Prado Luz, e os antigos funcionários Sebastião Norberto de Paula, Claudinei Venafro e mui tos outros. Para tristeza e consternação geral, em razão da contumaz e nefasta política governamental, aquela empresa que, ao lado do orgulho, representava a índole criativa, trabalhadeira e empreendedora, do povo de Poços de Caldas foi obrigada a fechar as portas. Bem antes desse lamentável fato, “Tião Cabo Verde” desligouse da empresa, tornando-se proprietário da loja da Confecções Luz, na mesma Rua Assis Figueiredo, onde hoje se encontra estabelecida
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uma camisaria. Atualmente, ele é um bem sucedido empresário, dedicando-se ao ramo imobiliário, altamente conceituado na sociedade. Religioso e assíduo praticante da caridade, ele é o atual presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais(A.P.A.E.). Sua devoção, para minha surpresa e satisifação, fez-me ver que ainda existem católicos despojados, firmes na fé, e orgulhosos de sua religião, pela qual não medem esforços e sacrifícios, trabalhando com denodo e abnegação. Poços de Caldas, em 08.12.99.
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“a Venda do ZeVaristo” “ Somente aquele que pisou a terra batida; que dormiu numa casinha feita de adobe ou taipa, coberta de sape e chão de tijolo, sabe valorizar e se orgulhar das suas raízes.” Dia destes, fomos nós, Márcia, nosso neto Carlos Eduardo, o “Dudu” e eu, ao teatro do SESC. A peça ali encenada pelo Teatro Alvorada Grupo “Benigno Galga” foi “ A Venda do Zevaristo”, adaptada por Miguel de Oliveira do livro do mesmo nome, escrito por Clésio Tardelli. A par da nobreza do gesto(pois,os espetáculos dessa temporada foram em benefício da Casa do Menor “Dr. Ednan Dias”), a grandiosidade do trabalho encantou a todos e, mais ainda, encheu de orgulho os corações de todos quantos lá compareceram. O cenário, sugestivo e original, me levou a um delicioso passeio nas asas da remembrença. Evocações repletas de nostalgia dos tempos de criança, dos passeios às Fazendas, na companhia de meu saudoso avô paterno, José de Moraes. Naqueles tempos eram comuns as famosas “vendas”, que comercializavam de tudo: do urinol à enxada. A cachaça, o melhora, o salaferio, o biotônico, o remédio para dor de dente, o óleo de rícino, a botina, o vestido de chita e tantas outras coisas eram encontradas. Era ali o ponto de encontro dos moradores. Naquelas “vendas” a conversa ao pé do ouvido” era a maior fonte de novidades e informações da vida rural e, também, das cidades das redondezas. Entre um “causo” e outro, um gole de pinga e outro, tomava-se conhecimento dos fatos do cotidiano.
Os atores Clésio Tardelli, Paulo Pioli, Zé Mário, Diva Lima, Miguel Gonçalves e Marcos Franco são artistas de nomeada e de conhecida competência. Conhecedores experientes da arte de representar, à qual se entregam com esmero e dedicação confirmam a fama e o sucesso alcançado.Não obstante a maioria deles repre sentam vários personagens, estão impagáveis nas seguintes interpretações: - Clésio Tardelli, como “Zevaristo”; Paulo Piolli, no papel de “ZÉ Grilo”; Miguel Gonçalves, como “Seo Inácio”; Diva Lima, no papel de “Sá Barbina”; Zé Marcos, como “Bentinho “ e Marcos Franco, como “Avelino”. O Espetáculo todo e uma gargalhada só. “Dudó”, meu neto, apesar de seus seis anos de idade assistiu toda a peça, rindo a mais não poder. O Teatro Alvorada Grupo “Benigno Galga”, orgulho e patrimônio dos poços-caldense está em cartaz ha’ oito anos com a peça “A Venda do Zevaristo” e, entre as incontáveis localidade já se apresentou, destaque-se a cidade de Rosário, na Argentina, conseguindo significativo sucesso. Agora ultimos preparativos para uma temporada no nordeste brasileiro onde, por certo, há de colher merecido destaque, elevando e divulgando cada vez mais o nome de Poços de Caldas, a cidade que para nós é a terra do sonho e da poesia! Poços de Caldas, em 27.01.2000
os jardins da minha terra Os jardins da minha terra, idealizados e construídos em fins dos anos vinte e início da década de trinta, na gestão do Presidente da Província, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, quando eram Intendentes nomeados/ Carlos Pinheiro Chagas e João Afonso Junqueira, sempre foram o cartão de visitas da cidade. Guardiões de tantos segredos e sonhos, de um infinito número de juras de amor, de beijos e carícias trocadas. Suas árvores frondosas e antigas, abrigavam, carinhosamente, uma variedade imensa de pássaros, borboletas e outros animais, além da reconfortante sombra oferecida ao viajor cansado. Um irrecusável convite ao repouso e lazer. Nas noites quentes de Verão, os poços-caldenses, suas famílias e os turistas reuniam-se para apreciar o mágico e encantador espetáculo da Fonte Luminosa, emprestando suas cores exuberantes à água que sobe ao céu, na reverência e culto à saúde e à beleza desta terra que, alem de “Cidade-Rosa”, é, também,”dos sonhos e da poesia”. Ali, eu, minha esposa, nossos filhos e netos demos os primeiros passos e brincamos despreocupados, alegres e felizes. Antes de nós, outras tantas gerações igualmente o fizeram. Certa feita, o genial Burle Marx, consultado sobre os nossos jardins, mais ou menos assim se referiu: - “ Nada a modificar, ou corrigir, só conservar.” Para espanto e consternação geral, ao pálido e insipiente, mais ainda, contraditório, argumento de uma pretensa “revitalização” do Parque José Afonso Junqueira, inúmeras árvores foram sacrificadas,
desfigurando,por completo, um dos nossos mais belos jardins,mais precisamente, aquele localizado na quadra do Palace Cassino. De acordo com os dicionários existentes, o vocábulo “revitalizacão”, do verbo “revitalizar” significa: - “ insuflar nova vida em; tornar a vitalizar.” ( CALDAS AULETE, pág. 3192). No caso em foco, a palavra mais indicada ao ocorrido é “DEVASTAÇÃO”, ou mesmo “ANIQUILAÇÃO” de um bem público para a satisfação da vaidade de uma minoria que não respeita o patrimônio público. É de meu sentir que os jardins e o Parque José Afonso Junqueira foram tombados, pertencendo ao Patrimônio histórico da cidade. Assim a agressão perpetrada por meio de subterfúgios e dissimulações não poderia e nem poderá ser levada a termo, sob pena de responderem civil e criminalmente seus autores, pelos danos e prejuízos ocasionados. Finalizando, é certo que o interesse público está acima do particular, sobre este prevalecendo. Entretanto, no caso presente acontece o inverso. O interesse e o bem públicos são manipulados e dilapidados, servindo de afago e de bajulação aos propósitos egoístas de algumas pessoas. Atos como esses, temerários e irresponsáveis,contribuem para a destruição e o aniquilamento da memória e da história da nossa terra. Poços de Caldas, em 14.03.2000.
o PereGrino da caridade Aproxima-se mais uma eleição municipal. Campanha nas ruas. Corpo a corpo cerrado na busca de votos. Tapinhas nas costas e cumprimentos raros e inusitados daqueles que só se lembram que existimos nesta época. Tais fatos me fazem lembrar de um amigo dileto e saudoso, que há pouco mais de um ano, ou seja, a 30 de abril de 1.999, transpôs os umbrais da eternidade: o DR. MAURÍCIO VIEIRA ROMÃO. Ele era o oposto de certos políticos. Sempre tratou os eleitores, os seus amigos e pacientes de uma só maneira, com res peito, consideração e gentileza em qualquer época ou circunstância. Médico devotado e competente, a todos atendia com bondade e paciência infinitas.Relegando a segundo plano a paga de seus serviços profissionais, fez da medicina um sacerdócio amparando e ‘ protegendo os menos favorecidos. Cioso do seu dever de médico, quantas e quantas noites ficou ele acordado”ao pé da cama” dos I seus pacientes até que se recuperassem, inclusive dos meus filhos A pé, em lombo de burro ou cavalo, viajava léguas e léguas, como dizia, só para atender um doente. E, como paga, recebia porcos, galinhas, patos, etc. De dia ou à noite, sob sol ou chuva, lá ia ele, o Peregrino da Caridade, avançando por caminhos tortuosos e regiões inóspitas salvando vidas e curando as dores. Nascido na Fazenda Campinho, no município de Alfenas, no dia 11 de setembro de 1.907, ficou órfão aos cinco anos de idade. Sozinho e desamparado, ficou sob os cuidados de Virgílio, seu irmão mais velho, na cidade de Areado. Naquela cidade concluiu o ginasial. Em Campinas, para onde mudou-
se mais tarde, completou seus estudos e, a seguir, viria a colar grau em medicina, em Curitiba, onde residiu até o ano de 1.933. Concluindo os estudos, foi clinicar na cidade de Campestre. Ali residiu por largo tempo, chegando a ocupar o cargo de Prefeito Municipal para o qual foi eleito, tendo deixado sua marca de político honesto, empreendedor e de larga visão não apenas política, mas social e administrativa também.Foi ele o batalhador incansável e um dos responsáveis pela emancipação política de Bandeira do Sul, antiga Vila Bandeira e muitas outras realizações de vulto e importância. Em 1.940, casou-se com a Sra. Edith Monteiro Vieira, com quem teve uma filha, Ana Maria, casada com o amigo, comerciante Vinicius Adolfo Figueiredo, dando-lhe dois netos. Em 1.954, fixou residência em nossa cidade, sendo eleito vereador por várias legislaturas. Foi presidente da antiga União Democrática Nacional(U.D.N.) e do Partido da Frente Liberal(P.F.L.). A política estava em seu sangue. Homem público equilibrado, de invejável capacidade de trabalho,. gozava de alto conceito na sociedade, possuindo fortes laços de amizade com todos os políticos de Minas Gerais, o que lhe permitia realizar um sem número de benefícios para Poços de Caldas, Campestre, Botelhos Divisa Nova e região, que muito lhe devem. De fala mansa tranquila e paciencia de santo, sua grande paixão era ajudar e orientar os amigos. Dia destes, lembrei-me com pesar e saudade das conversas amenas e instrutivas mantidas na sala de espera do seu consultório na Rua Rio de Janeiro, das quais também participava o Dr. Luiz Otávio Vieira, seu sobrinho e analista clínico. DR. MAUCCIO VIEIRA ROMÃO, homem de caráter retilinío, de moral inatacável, nos legou uma importante lição de vida, repleta de exemplos de caridade e de amor ao próximo, deixando também, este imerso vazio que nos machuca o peito. Poços de Caldas, em 31 08 2000
ProntidÃo Aproxima-se o 75° aniversário de fundação da Associação Atlética Caldense. Nada melhor para marcar o evento que relembrar um pouco daqueles que fizeram sua história. Excluídos o Décio Alves de Morais,o saudoso Dr. Antônio Megale e uns poucos aficcionados,não me recordo de outro associado que amasse tanto a “Veterana”. JOÃO BATISTA GONÇALVES,o “Prontidão”,era natural desta cidade, onde nasceu a 25 de julho de 1.902. Aqui residiu a vida toda. Tintureiro de profissão, foi proprietário da Titura-ria Central, localizada por muito anos na Rua São Paulo. Também trabalhou e foi dono de alguns “Carteados”, como o antigo Casino Caldense. Em 1.925, aos 23 anos de idade, casou-se com a Sra. Ana de Souza, tendo com ela nove filhos: quatro mulheres e cinco homens. dentre eles a filha Zezé, excelente cozinheira, a que mais se parece com ele. Alegre, sempre de bem com a vida,de ilimitada paciência e uma disposição enorme para servir a quem dela precisasse. Entre os homens, o sempre lembrado amigo e companheiro Victor que partiu bem cedo. Ele era tipógrafo, havendo tra balhado por muitos anos na extinta Casa Tupy. Pouco enxergando, usava óculos de lentes grossas, os conhecidos “fundo de garrafa’: No ano de 1.959, servimos o Exercito Nacional, engajados no então Tiro de Guerra n° 147. Durante um bom tempo, vivi intrigado com um certo fato. Mesmo possuindo pouca ou quase nehuma visão, o “Vitinho”, n°. 1287(salvo engano), era um dos melhores atiradores da “Turma B”, a nossa, turma. Nos tiros de escantilhão,(forma de tiro por aproximação), ele era muito bom. Perguntado certo dia, ele confidenciou-me: - “
Marcus, eu quase nada enxergo. Assim, faço a mira só no 1° disparo e tento manter o fuzil na mesma posição”. Mas voltemos ao seu pai, nosso homenageado. O “PRONTIDÃO” nutria um forte amor pela A.A. Caldense quase veneração compartilhado com o São Paulo Futebol Clube e o Clube de Regatas Flamengo donos do seu coração, também. Era o sócio nato número um(1) da A.A.Caldense, sendo seu Diretor em vários departamentos e por largo tempo. Nas concentrações da Seleção Brasileira de Futebol, em nossa cidade, nos anos de 1.949 e 1.958, destacou-se pela atuação e trabalho decisivos. Dotado de prodigiosa memória, sua maior paixão era reviver os feitos da nossa Caldense No saudoso Estádio “Cel. Cristiano Osório” e em outros estádios de Minas e do Brasil. Alie-se a esta faculdade, as suas reminiscências bem sentimentais e ilustradas de nossa terra que ele tanto conheceu. Dentre os seus muitos amigos, um colheu destaque especial: - o sempre lembrado Dr. Maurício Vieira Romão, médico de reconhecida capacidade de dedicação e idealismo profissional que o diferenciavam dos demais, nunca o abandonou, mesmo nos momentos mais dificeis. Por derradeiro, impõe-se o registro sobre a origem do apelido “Prontidão”, que decorreu da imensa bondade, da presteza e da solicitude que marcaram a vida deste que foi o orgulho e o batalhador incansável em prol da “Veterana” e de Poços de Caldas: - JOÃO BATISTA GONÇALVES, cujo passamento deu-se a 04 de fevereiro de 1.991, deixando um vazio não mais preenchível e a saudade imorredoura de todos nós. Poços de Caldas, em 03 09.2000
temPos Bicudos
atÉ Quando, senhor?
ParaBÉns Poços de caldas Marcus Vinicius de Moraes Poços de Caldas querida, que não se esquece jamais. Fonte das Águas...da Vida... Rainha destas Gerais! Eu desconheço outra cidade tão bela, amiga e acolhedora como tu, Poços de Caldas, minha cidade querida! C Não sou viajante de profissão. Tampouco viajo muito tempo em minhas curtas andanças, conheço algumas capitais e grandes metrópoles do Brasil e de outros países. Por onde passei, não encontrei cidade - exceção feita Rio de Janeiro - que te superasse em beleza natural. Este ano, completas 128 anos de fundação, com teu jeito de menina-moça, tímida e sonhadora, abrigando em teu seio juvenil, diversamente de outras cidades, a integral e perfeita comunhão do ser humano com o solo, o ar, as matas, as montanhas, os rios e regatos, as fontes, a fauna e a flora. É uma das mais fortes relações telúricas que presenciei. É o homem louvando a Deus constantemente por suas raízes fincadas em teu solo abençoado. sonho de amor que não morre nunca e se renova a cada dia de geração em geração que se perpetua na admiração, no carinho e no reconhecimento de teus filhos pela felicidade de aqui viver teu aniversário... Que mais posso oferecer-te, além do meu amor e este coração cansado, mas que ainda palpita e vibra por ti? És a terra do sonho e da poesia, das alamedas floridas
e das fontes cantantes. Das tardes doces e fagueiras, onde o amor e a ternura integram o ar; e a brisa vespertina, cálida e perfumada, de forma suave que envolvem, e penetra nossos sentidos, trazendo à tona sentimentos até então reprimidos dando vazão à alma que se materializa na contemplação da quietude serena dos teus dias e no teu universo de religiosidade, de amor, de esperança e paz! Meu maior desejo era voltar no tempo. Acompanhar teus primeiros e vacilantes passos, para viver e participar da tua história. Mesmo sendo teu filho de coração, eu estaria recompensado e seria o mais feliz dos homens em ser em teu solo haver deitado minhas raízes tranquila e conscientemente. És o berço dos meus filhos e dos meus netos és o túmulo dos meus antepassados...O meu pedaço de chão, a terra que escolhi e que me adotou, na qual hei de morrer! E, no teu aniversário, farto de conhecimento e de inspiração, o menor dos teus filhos que sou, quero agradecer-te por tudo que me tens dado, fazendo-o através da singela e desvalida trova trazida à colação a seguir:Poços de Caldas, em 08 09 00 Tuas flores da cor do so das aves, a sinfonia. Com um porvir tão riso “Terra do amor e poesia”! O autor é Poeta, Escritor e membro da APL., da UBE., da ASI,da UBT e outras entidades.
“o reinado de momo”
PeQuenos escritores Por ocasião das comemorações do 67° aniversário de fu dação da Escola Sete de Setembro, por iniciativa louvável da Diretoria daquele modelar estabelecimento de ensino, foi lançado o livro intitulado “NÓS:”. Até a nada de mais... Ocorre que o livro é uma coletânea de poema e prosa, escrito pelos alunos e alunas da 4a. série, com ilustrações e capa deles próprios. A iniciativa é de grande importância. Além de estimular e valorizar a criança, nela incute o amor às Letras e às Artes, desde cedo. O lançamento foi realizado, inclusive com tarde de autógrafos, precedido de uma breve solenidade que contou com , presença do Secretário Municipal de Educação, Prof. José Castro de Araújo, do Secretário Municipal de Governo, Dr. Gaspar Eduardo de Paiva Pereira, vários pais e professoras. Na condição de ex-aluno e de pai de ex-alunos, por especial gentileza da atuante Diretora, Professora. Maria Lúcia Sartori Pellachin, coube-nos a honrosa e gratificante incumbência de saudar os novos escritores e artista que nos permitiu reviver o passado à distante e, com imensurável e inefável emoção, rever, ainda que por instantes, aqueles bancos escolares que nos trazem tantas e gratas recordações. E, como não poderia deixar de ser, em meio aquele bulício e euforia, o sentir gritante e palpavel da presença austera, enérgica, porém, compreensiva e amiga da sempre lembrada Professora. Nicolina Bernardo, nossa mestra. A emoção foi tão forte e opressiva que, por alguns instantas, julgamos não nos ser possível levar a cabo a incumbência.
Mas, dentro de nossas limitações, ainda assim conseguimos homenagear aquelas crianças radiantes de felicidade. O livro, escrito e ilustrado por meninos e meninas na faixa etária de dez anos, é belo e comovente. Enternece a alma e o coração ate dos mais insensíveis. É gratificante e compensador saber que, mesmo na idade escolar, aquelas crianças são capazes de escrever coisas tão belas e expressivas, ilustrando-as adequadamente. Não obstante e terna idade de seus autores, a obra revela os dons natos de futuros artistas, poetas e escritores, Tanto a Diretoria da Escola Sete de Setembro, pela iniciativa feliz e profícua, como os pequeninos escritores e artistas, merecem os maiores encômios pela empreitada. A estes últimas, fica o despretencioso conselho deste que, ante as maiores e mais qualificadas expressões culturais de nossa Terra, seria o menos indicado para saudá-los: “meus amiguinhos, procurai, através do exercício continuo do estudo e da poesia do espírito, lapidar a alma, para que, purificada e aprimorada, possa ela, ao contemplar as coisas, os seres e a própria vida, encontrar a beleza ideal!”
inVentĂ rio de leituras
nos temPos do aGostinho No dia 23 de março passado, em concorrida noite de autógrafos realizada nas dependências do Museu Histórico de nossa cidade , AGOSTINHO LOIOLA JUNQUEIRA lançou seu livro de memórias, “Nos Tempos do Agostinho”, escrito por Francisco Lopes. De início, forçoso é dizer que, não sou e nem pretendo ser crítico literário. Não me atrai e nem tenho aptidão ara tanto. Quando registro algum comentário sobre o trabalho de algum escritor, faça única e tão somente como leitor. O que não é proibido, porque o gosto e a preferência são manifestações inatas e individuais do ser humano. Feitas estas considerações à guisa de passemos aos fatos O livro é a história de uma vida! Valendo-se dos relatos e entrevistas com o personagem, seus familiares e amigos, o autor registra uma grande e significativa parcela da história contemporânea de Poços de Caldas, em boa parte conhecida e compartilhada por muitos de nós , amigos e admiradores do homenageado. AGOSTINHO LOIOLA JUNQUEIRA, é descendente de uma das mais tradicionais famílias poços-caldenses, tendo no seu avô paterno, Cel. Agostinho da Costa Junqueira a expressão maior, como doador das terras nas quais se instalou e desenvolveu a cidade. Além do que, grande parte dessa família é composta por políticos de renome. Tanto do lado paterno(seu mencionado avô, tios, primos e irmãos, como Ronaldo Loiola Junqueira, prefeito por duas gestões e vereador; Roberto Bendito Junqueira, vereador e Deputado à Assembléia Legislativa deste Estado em duas oportunidades), como do lado materno(seu avô, Dr. Luiz
Loiola, médico, juiz municipal e prefeito). “Seu” AGOSTINHO, como era chamado, não negou a descendência. Foi um grande político. Vereador, Vice-Prefeito e Prefeito Municipal, diga-se “en passant”, eleito pelo voto direto, em duas ocasiões, 1955/1958 e 1963/1966. Político atuante, de rara visão, possuidor de espantosa capacidade de trabalho, notória honestidade e conduta ilibada, ele deixou indelevelmente marcada sua passagem pelo Executivo Municipal com uma atuação limpa, progressista e transparente. Contando com o beneplácido dos caros leitores, permito-me abrir um parêntese, neste ponto. Em uma parte do livro, no capítulo a que se refere ao nosso comum amigo, seu antigo Secretário, Carlos Érrico Neto, às fls. 67, mais precisamente, é ressaltada a sua preocupação e o apoio dispensado aos alunos menos favorecidos, quando, gentil e bondosamente, não nomeia nenhum, assim se referindo: “...e o carinho que demonstrava para com os alunos pobres, que mantinha nas escolas, tendo alguns deles chegado a juízes.” Orgulhosamente, não me envergonho em declarar que sou um daqueles alunos. Mesmo porque jamais repudiei minha origem humilde, de trabalho, de lutas e sofrimentos. Mas, repleta de vitórias, compensações e alegrias, quando o menino pobre e magrinho “carregador de cestas;: no mercado municipal , chegou a Juiz de Direito, por concurso de provas e títulos, graças a ajuda de pessoas como “Seu” Agostinho que concedeu-lhe a primeira bolsa de estudo requerida pelo então Vereador á Camara Municipal de Poços de Caldas, Carlos Érrico Neto, no distante ano de 1.955; Aliás, este episódio já foi contado neste mesmo e importante periódico, em crônica de minha autoria intitulada “A Primeira Bolsa de Estudos”. Muitos acontecimentos, ora alegres e pitorescos, ora relevantes e de grande importância, repletos de sentimentos e de saudades sobre homens e mulheres que ajudaram a escrever a história de Poços de Caldas, desfilam harmoniosamente. Quem deseja conhecer essa parte da história da Estância, tem agora a oportunidade ímpar. AGOSTINHO LOIOLA JUNQUEIRA , um homem de valor imensurável para a política e a história desta que é “A terra do sonho e da poesia”, a “Cidade Rosa”, fez por merecer com justiça essa homenagem e o resgate de suas memórias. Poços de Caldas, 23.05.01.
“a casa rÁdio” Localizada na Rua Assis Figueiredo, n° 1.320, perto da Relojoaria do saudoso amigo Aldo Arossa, quase defronte àquela que foi a precursora dos maiores e mais completos magazines da cidade, a Casa New York, dos amigos Adauto Cagnani e Airton Judice, que viria a ser destruída num gigantesco incêndio rivalizando com a antiga Casa Bela, de José Kufii funcionou durante muitos anos a Casa Rádio, do querido e sempre lembrado amigo Sr. Benigno Giordano Gaiga, com o comércio, conserto, manutenção e assistência técnica de rádios, vitrolas e toca-discos. Ali também trabalharam e aprenderam a profissão de rádio-técnicos, alguns de seus filhos. Foi ali que o menino Orlando, o caçula de uma prole de quatro filhos. (Benigno(Nino), Plínio e Anísio) do casal Senhor. Benigno Giordano Gaiga( “o Pai do Teatro Poços-caldense”, fundador e apaixonado pelo grupo teatral que leva seu nome) e a Senhora. Leonilda Diniz Gaiga(anciã bondosa, simpática e prestativa), viria a aprender a profissão que o destacaria no cenário local um do trabalhado na referida loja desde 1.953 até o termino das atividades e o seu fechamento no ano de 1.962. Durante vinte e seis anos, ORLANDO GAIGA trabalhou na Rádio Cultura desta cidade, onde se aposentou como técnico de som e rádio operador. Em 04 de fevereiro do ano de 1.958, ele casou-se com Tereza Maria Machado Gaiga, com quem convive até hoje, em feliz e harmoniosa união conjugal. No ano de 1.960, foi inaugurada a Rádio Difusora, sendo ele um dos responsáveis pela instalação. Depois de sua aposentadoria, ingressou nesta Rádio, ali tendo fundado e instalado a Difusora FM. Trabalhou também, na Rádio Libertas. Atualmente
Marcus Vínicius de Morais
presta serviços de manutenção de aparelhos eletrônicos, voltando a trabalhar na Rádio Cultura, onde participa todos os sábados, da apresentação do programa “Música e Esporte”, com o seu inseparável e grande amigo de todos nós, o radialista Lázaro Walter Alvise(“o Lólo’› Palmeirense convicto e confesso é, também, ferrenho e incansável defensor da A A. Caldense durante oito anos, e Diretor Técnico do Futebol de Salão. ORLANDO GALGA, um dos expentes e valoroso trabalhador da radiofonia local, é um dos que escreveram e ainda escrevem a história desta nossa cidade. Amigo sincero e de todas as horas, cidadão prestante, honesto e digno, de reputação ilibada é um dos grandes defensores desta Poços de Caldas onde nasceu e que tanto ama. Marca a sua passagem com letras douradas e demaneira indelével na luta em favor do Rádio e do esporte desta terra! Guarujá., em 31.05.01.
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