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Salvaterra de Magos Crónicas do Nosso tempo Tipo de Encadernação: Brochado Autor: Gameiro, José Editor: Gameiro, José Rodrigues Edição: Papel) A 4, e Sistema PDF Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 -1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 Salvaterra de Magos ********
* Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt
Janeiro 2020 O Autor não segue o Acordo Ortográfico de 1990
5 ÍNDICE Crónica Nº
Título
Página
32 - O BOTICÁRIO ALBANO GONÇALVES ……… 07 33 - DIA DE REIS, E A FESTA DA TEOFANIA ………… 11 34 - O CONCELHO DE SALVATERRA, ESTEVE NO CERTAME EM SANTARÉM 14 35 - FOI Á UM SECULO – A PANDEMIA DA GRIPE 18 36 - HOJE, PASSARAM 111 ANOS DO SISMO, 1909 22 37 - UM NOVO EDIFICIO DOS BOMBEIROS ………… 27 38 - QUANDO NA QUINTA-DEIRA DA ASCENSÃO SE APANHA A ESPIGA …………………………………. 32 39 - EM PLENO VERÃO, A COMIDA AZEDAVA ……. 38 40 - AS OBRAS DA CAPELA DA MISERICÓRDIA ……. 43 41 - QUANDO VINDIMAE ERA UMA FESTA …………. 47 42 - COM A CHEIA, CAIU A OBRA-PRIMA ……………. 50 43 - OS SINOS DA IGREJA MATRIZ ………………………. 54 44 - UM COWBOY DO RIBATEJO ………………………… 59 45 - DIA DE SÃO MARTINHO – O SISMO DE 1858 63 46 - A ORIGEM DO LARGO DOS COMBATENTES …. 67 47 - A ÚLTIMA ARVORE AOS 137 ANOS ………………. 72 48 - QUANDO OD PINHAIS DE SALVATERRA, TINHAM LOBOS …………………………………………… 77 49 - A INAUGURAÇÃO DO NOVO POSTO DA GNR .. 81 50 - OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO 25 DE ABRIL DE 1974, EM SALVATERRA DE MAGOS ………… 84
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6 PREFÁCIO FOI APENAS UM SONHO!...
Tudo começou em setembro de 2007. A ideia de usar as redes sociais, para publicar tantas memórias que guardava no meu acervo de um trabalho de carolice iniciado na minha juventude e muito dele já tinha publicado nas páginas dos jornais da região. Muito dele foi recolhido junto do povo de onde vim, e que se entrelaça com a história de Salvaterra de Magos, minha terramãe, que vem do séc. XIII. Um dia veio a oportunidade – o meu sobrinho; Cláudio Gameiro, abriu-me o blogue: http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt, foi o espaço ideal para escrever as minhas Crónicas, textos cujo título, nem sempre se ajustam, ao seu espírito de narração curta. Autodidata, que sou, desde há muito guardo documentos, que ninguém já lê, porque no tempo que passa, dizem os mais novos, é aborrecido folhear um livro. Um dia veio a oportunidade – o meu sobrinho; Cláudio Gameiro, abriu-me o blogue http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt, foi o espaço ideal para escrever as minhas Crónicas, textos cujo título, nem sempre se ajustam, ao seu espírito de narração curta. Para mim, o mais importante era que o conto fosse um diálogo com o leitor, onde o a tema fosse lido numa linguagem simples e espontânea, de fácil entendimento.
7 Nunca pretendi uma literatura de história, que aliás não pretendo nem sei dominar. Os textos aqui inseridos andam na área de um tempo, que é o meu, mas decerto por vezes contam formas de viver do povo, que é o meu. Até ao dobrar do séc. XX, esse povo era na sua maioria gente que do campo tirava o seu sustento, sendo analfabeto e ignorante, guardava a riqueza da sua cultura etnográfica que, vinha desde o tempo da colonização destas terras da bacia do rio Tejo. Os seus saberes andei recolhendo. Os textos publicados já estão guardados nos volumes, I até ao IV, para que não se percam. O meu confinamento voluntário, por causa da pandemia do Vírus Covid 19, levou-me a permanecer mais tempo em casa desde março de 2020. Foi um tempo bem aproveitado, precioso mesmo, para a publicação de pequenos Post(s) no Facebook, e que aqui guardo agora neste V volume. O Tempo de verão estava no início e um dia foi-me pedida a colaboração na rádio Marinhais, que as minhas crónicas fossem lidos, em rubrica apropriada, que lhe deram o título: “Já Sabia Que – Recordar, Também é Construir”, por serem originais acabei por os publicar em volume próprio. Decerto neste trabalho de carolice, os leitores vão encontrar um português usado com lacunas, fruto das minhas carências académicas e literárias. Assim peço, a necessária benevolência para tamanho empenho! Janeiro - Ano: 2021 José Gameiro (José Rodrigues Gameiro)
8 XXX II Crónica Nº 32 Facebook – José Gameiro 13 / Janeiro / 2020
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O BOTICÁRIO ALBANO GONÇALVES, Depois de viver uma longa vida em Salvaterra de Magos, aqui faleceu no dia 13 de Janeiro de 1932. Era alfacinha de gema, ali nasceu em 11 de Fevereiro de 1846. Francisco P. Albano Gonçalves, na sua adolescência, iniciou numa Botica junto à casa onde nasceu, ali aprendeu a arte de manipular; Pilulas, Solutos, Linimentos, Pomadas, Confeitos e Vinho quinado, entre os muitos produtos que se fabricavam e vendiam na época naquelas antigas Pharmácias. Havia como cliente na Botica, um idoso, que muito falava de Salvaterra, uma terra da Lezíria ribatejana. Albano Gonçalves, foi
9 aprofundando conhecimentos e da grandeza de tal relato, que o deixava fascinado. Um dia, ainda jovem já de posse, da licença da prática de farmácia, não deixou de vir assentar vida nesta vila. Encontrou sítio para se instalar na rua Machado Santos, e abriu a sua Botica junto à casa de Alfredo Rodrigues (Alfredo Calafate), em frente ao cinema, passando a ombrear com a Botica do senhor Carvalho, e aos poucos, foi entrando no convívio e costumes do povo salvaterriano, que o tinha acolhido. Ali, juntinho à sua porta abriram os correios, e na parede de entrada, havia uma caixa para as cartas. Para a garotada pequenas, que ali iam depositar as missivas, o Albano não deixava de colocar um pequeno banco de madeira, para eles terem a altura precisa. O Albano Gonçalves, pessoa religiosa e embrenhada no culto do respeito pelo próximo, e quando alguém
10 morria, deslocava-se a casa do falecido, e no velório da família e amigos, indagava das virtudes do defunto. No cortejo fúnebre, incorporava-se à frente do esquife, e em sinal de respeito vestido a preceito com a sua casaca preta, calça riscada, chapéu alto numa mão e bengala noutra. Depois junto à cova, terminada a cerimónia da encomendação religiosa do corpo, ele, não deixava de fazer o “elogio fúnebre público”, enaltecendo os traços de pessoa de bem, do defunto, que foi nesta vida terrena. *O senhor Albano, foi muito participativo na vida social de Salvaterra de Magos. chegando mesmo a ser vereador municipal. Nesta qualidade, organizou a recepção e visita aos concheiros, de Muge, dos Congressistas que estiveram no Porto, no encontro de Antropologia e Arqueologia do
11 estudo do homem pré-histórico na bacia do Tejo. Era solicitado pelos jornais de Lisboa, a dar notícias de Salvaterra, e deste evento não deixou de fazer uma minuciosa reportagem sobre o acontecimento. Os seus textos eram assinados como: “Alberto Calderon”. Durante muitos anos as gerações antigas, não deixavam de o recordar, até pelos remédios que oferecia aos doentes mais necessitados. *José Gameiro ******** Nota: Fotos: Albano Gonçalves (Arquivo do Autor)
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12 XXX III Crónica Nº 33 Facebook – José Gameiro 6/ Janeiro/2020
CRONICA DO NOSSO TEMPO DIA DE REIS, E A FESTA DA TEOFANIA, do Senhor, segundo a fé cristã. É a epifania que comemora o momento que Jesus Cristo – enviado de Deus, se mostra aos magos, que sendo guiados por uma estrela de 5 para 6 de Janeiro, por uma estrela, desde terras do Oriente. Na cultura vinda da Galiza e, aqui entrada em Portugal, desde 1143, conservou-se no norte do país Afonsino, para além da linguística de português - uma mistura do galaico-português medieval, os hábitos de comemorar aquela festa e, aí “aparecem” os doces oferecidos aos grupos de Cantantes das Janeiras, em sinal de jubilo aos reis; Belchior, Baltazar e Gaspar. No Brasil, esta tradição ainda tem muito do que se faz na cultura portuguesa, pais
13 de emigrantes que um dia ali chegaram como colonizadores. A festa é comemorada com doces e comidas típicas das regiões nortenhas de Portugal, que ainda mantém viva a tradição nos seus descendentes. As Janeiras – ainda se conservam, reúnemse grupos cantantes que andam de porta em porta, com alegres e bonitas saudações, desejando boas festas e um bom ano à comunidade. A família visitada, convida-os a entrar para o interior das casas, sendolhes oferecidas pequenas refeições como doces, salgados, charcutarias, vinhos, etc. Estes hábitos de convívio não eram usados, por este povo da Lezíria ribatejana, até que nos últimos anos com a permanência de padres de origem nortenha (minhota e beirã), aqui na Paroquia de Salvaterra de Magos, em sucessivas missões religiosas, que conservavam o costume das suas origens de nascimento. Estes religiosos, depressa encontraram um “veiculo” de apoio no grupo Escuteiros da vila, sendo agora no tempo que passa um festejo desejado pela população. Esta
14 celebração tem a sua época, na noite de 5 para o dia 6 de Janeiro, terminando aqui as festas natalícias do nascimento de Jesus, mas aqui em Salvaterra, foi realizado no passado dia 2, pelos Escuteiros da vila. *José Gameiro **********
(Nota: o autor não segue o acordo ortográfico de 1990) Foto: Fb/Ricardo Cipriano *obtida noite no Cantar as Janeiras (02.01.2020) – 68º Grupo Escuteiros de Salvaterra de Magos
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XXXIV Crónica Nº 34 Facebook – José Gameiro 05 /Fevereiro/ 2020
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O CONCELHO DE SALVATERRA, ESTEVE PRESENTE na Exposição-Feira de Santarém de 1936 Naquele ano o Governador Civil, fez o convite e o executivo municipal de Salvaterra de Magos, convidou uma Comissão Organizadora, composta por; José Seabra Ferreira Roquette, Dr. Alberto Fernandes Barreiros, José Eugénio Meneses, Armindo Filipe Biscaia de Jesus, José Adelino Fernandes Silva e Rafael Santos Gonçalves. No meu espólio de documentos e fotos, guardo os versos e uma fotografia, que os meus pais, com mais 4 companheiros rurais de Salvaterra, estiveram naquela Parada Etnográfica, integrados na representação de freguesia de Salvaterra de Magos.
16 De 17 de Maio a 7 de Junho, os dias foram dedicados a várias actividades dos concelhos do distrito, cujos pavilhões enchiam por completo o vasto largo onde se realizou o certame de Santarém. No pavilhão de Salvaterra, a fachada de entrada, foi decorada com um quadro da morte do Conde dos Arcos, pintada pelo artista escalabitano; António Ferrão Batista. O seu interior estava repleto de produtos da terra e, os Stands de Virgolino Torroaes, e Álvaro Lopes Rosa, mostrando os seus vinhos Licores – produtos de fabrico artesanal, tendo sido oferecido para prova o seu Vinho Licoroso; Toiro Real e a Ginja, respectivamente quando foram visitados pelo Dr. Oliveira Salazar e o Cardeal Cerejeira, no dia da inauguração daquele certame regional. No dia 27, o cortejo da Parada Etnográfica, dedicado aos concelhos de Benavente e Salvaterra de Magos, este último fez-se representar, além do grupo de Freguesia de Salvaterra, com os seus trajes rurais, Muge esteve presente com elementos (homens e mulheres) dos seus lugares já povoados,
17 que mostravam ser Valadores: - Descalços, Calça arregaça, pequenas pás de valar e Padiolas em madeira, todos davam grande colorido entre os participantes. Umas semanas antes, a convite da comissão de honra; Joaquim Ferreira Estudante, fez e ensaiou uns versos, àqueles 6 participantes de Salvaterra - com a Macha "O Rancho vai a Passar" e o Vira "Eu, vi o Melro" Uns anos depois, no dobrar do século os participantes Núncio Costa e a já sua esposa, pessoas viradas para o folclore, "tentaram" fazer um grupo folclórico que, divulga-se aquelas e outras músicas e cantigas do vasto reportório do povo rural da terra, pois os bailaricos dos ranchos nos campos da Lezíria, estavam a cair em desuso. Mais tarde os aparecimentos dos Ranchos Folclóricos, nas freguesias do concelho, guardaram a sua etnografia cultural, onde muitas danças e cantares foram adaptadas (alteradas), aos novos tempos *José Gameiro
18 ********* Nota: Fotos da presença de Salvaterra de Magos, na Exposição-Feira de Santarém, 1036 * Grupo de Trabalhadores Rurais; com José Gameiro Cantante, e Felisbela Lopes Rodrigues (veio a ser esposa daquele), Maria Lopes Rodrigues (Maria Ferreirinha), a esposa e irmã de Núncio Costa. *Frente da entrada do Pavilhão do concelho de Salvaterra de Magos
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19 XXXV Crónica Nº 35 Facebook – José Gameiro 13/ Março/ 2020
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO FOI Á UM SÉCULO – A PANDEMIA DA GRIPE “ESPANHOLA” FEZ VITIMAS EM SALVATERRA DE MAGOS Em Portugal a história repetiu-se, com as calamidades das pandemias dos vírus e, outras sezões pandémicas causadas pelas infecções dos insectos, como a Melga, provindos das águas estagnadas dos pântanos e arrozais que periodicamente vitimavam o povo. Faz agora 102 anos, em Maio de 1918, que o nosso país foi colhido por uma pandemia transcontinental, o vírus H1N1, que entre nós ficou popularmente conhecida por "pneumónica" ou "gripe espanhola", que ceifou a
vida a mais de 60.000 portugueses (60.474,
20 oficialmente) e a outros 200 milhões em todo o mundo. Segundo relatos dos jornais da época, os primeiros casos em Portugal foram registados em Vila Viçosa, trazidos por camponeses portugueses que trabalhavam sazonalmente em Espanha, onde já grassava de forma severa, e rapidamente se espalhou por todo o Alentejo e depois por todo o país, de norte a sul, incluindo as ilhas dos Açores e da Madeira. Em Salvaterra de Magos, normal era em todos os Verões, em pleno Agosto, estando perto de Pauis de Arroz, as Melgas no início do luz-fusco e noite dentro, viam-se na vila, provocavam com as suas picadelas, sezões com febre, muita gente naqueles dias usava vinagre no corpo e em casa as folhas de eucalipto. O seu novo hospital, construído em 1913, depressa se viu cheio de pessoas que tinham sido vítimas por uma doença que
21 não se sabia as causas, mas que afectava, o sistema respiratório da gente graúda, e os idosos de idade avançada. O espaço do cemitério ali próximo tomou-se pequeno para tantos mortos diários. Os enterros passaram a ser em valas comum e os corpos sem caixões. Muita daquela gente doente provinha dos trabalhadores rurais, que estando menos protegida e cuidada de higiene, eram presa mais fácil para a doença. Os urbanos da terra, traziam informações de Lisboa e Santarém, pois falava-se naquelas cidades à época, que Ricardo Jorge, Director do Instituto Central de Higiene, para muitos um epidemiologista "visionário", surpreendeu a comunidade com a pronta tomada de medidas até então nunca adoptadas. Decretou a notificação obrigatória de todos os casos, o isolamento dos doentes, a
22 interdição da migração de pessoas, entre terras a suspensão das aulas e a proibição das visitas nos hospitais. O mundo vivia infectado com esta doença, que depressa passou a epidemia, tendo começado num Forte Militar, nos EUA. No ano de 1920, começou a notar-se que aquele Vírus estava a ficar controlado. *José Gameiro ******** Nota: 1) Foto Hospital da Misericórdia, em tempo de Inauguração - 1913 2) Foto de Uma Enfermaria nos Hospitais de Lisboa
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XXXVI Crónica Nº 36 Facebook – José Gameiro 23/ Abril/ 2020 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO HOJE, PASSAM 111 ANOS DO ÚLTIMO SISMO EM SALVATERRA DE MAGOS Ficaram nas notícias dos jornais da época e, aqui lembramos o que foi os grande estragos e sofrimento que causou, o terramoto de 1909, em Benavente, Samora Correia e Salvaterra de Magos – as mortes, foram as suas grandes vítimas! O terramoto no ano de 1755, que se abateu sobre a cidade Lisboa, onde os focos de destruição foram de tal monta, que depressa fez esquecer, aquele de 1581, que o povo ainda guardava nas suas memórias. Certo é, que este último, segundo rezam as crónicas desde sismo, tinha obrigado o rei D. João III, que pernoitava no Paço de
24 Benavente, a fugir com sua comitiva para Alhos Vedros, e depois esteve em Azeitão, onde passou uns dias a recompor-se do susto. Os relatos contam-nos, que aquele Aposento Real de Benavente, acabou por desabar por completo, até porque a terra, tremeu e fez-se sentir, foi de tal monta, em toda a bacia do Tejo; Vila Franca (assim conhecida em 1855), Azambuja, Santarém, Castanheira do Ribatejo. Os mais antigos de Salvaterra, e que estavam vivendo em dois séculos, lá iam falando do ocorrido em 1858, que destruiu a fachada do Paço real da vila, uma construção que vinha da iniciativa do Infante D. Luís no séc. XIV. Além das habitações, a Igreja Matriz, mostrava danos na sua torre, nas paredes e a cruz de pedra, em cima da porta de entrada da sua frente caiu. O mais recente, o terramoto de 1909, provocou mais estragos e mortes na vila de Benavente, tendo as terras limítrofes de Samora Correia e Salvaterra de Magos,
25 sofrido mais estragos no campo das construções. O dia 23 de abril, segundo relatos que nos ficaram para a história deste sismo, tinha nascido com o sol um pouco morno, pois o tempo de Primavera, já se fazia sentir nestas terras da Lezíria ribatejana. Os rurais, com o dia a meio do trabalho braçal, já inclinando para os alvores da noite. foram alertados com a terra a tremer, ali junto às margens do Tejo. De Salvaterra, os patrões enviaram alguns Abegões, que de cavalo percorreram o campo, e ordens houve “regressem a casa”, mas em fila! As réplicas continuaram, mesmo no dia seguinte, com o povo concentrado no Largo em frente à Câmara Municipal. As pessoas gradas da terra, reuniram num celeiro do lavrador; Gaspar Ramalho, com este a tomar a iniciativa das providências a tomar, informando o Governo em Lisboa e, o seu representante em Santarém. De Setúbal, chegou à vila um Batalhão de militares, Sapadores, durante meses procederam à limpeza do entulho, em que
26 ficaram a casas, mantiveram a ordem e a paz entre a população. A Cruz Vermelha, não deixou de fazer a montagem de algumas barracas que albergaram ao longo dos meses as famílias desprovidas de habitação. Nos anos seguintes, a recuperação de Salvaterra, trouxe benefícios à vila, deixou de estar confinada às suas 8 ruas primitivas, e a urbanização passou a ter espaços novos, a sul e poente da Igreja Matriz, onde nos dias que passam, podem ver-se construídas modernas habitações e bairros sociais e cooperativos. *José Gameiro ******** Nota: Doc. recolhidos pelo autor e publicados no Jornal Aurora do Ribatejo * Texto “ Os Dias que se Seguiram ao Terramoto de 1909”, do autor, e publicado no Jornal Vale do Tejo 1999 * Caderno 17, publicado Vol III * Coleção Recordar, Também é Reconstruir * Livro: O Sismo de 1909, em Salvaterra de Magos, edição Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Abril 2009 * O Terramoto Foi à Um Ano, Cronica do autor, 6.3. 2009 – www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt *
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28 XXXVII Crónica Nº 37 Facebook – José Gameiro 01/ Maio/ 2020 (Texto Refeito)
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO UM NOVO EDIFÍCIO DOS BOMBEIROS Por ter sido feriado no dia 1 de Maio de 2003, os Jornais publicaram, um dia depois a notícia de José Gameiro, correspondente de vários jornais. Houve festa na vila, com a cerimónia da colocação da primeira pedra, do novo Quartel dos Bombeiros de Salvaterra de Magos. Segundo os projectos aprovados, seria um novo e moderno edifício que vinha substituir o que existia na terra, desde 1936, e que já não dava resposta às várias solicitações dos bombeiros, pelas populações do concelho. Não havia bombeiros em Salvaterra de Magos, e a sua existência começou naquele início da Primavera de 1935, o dia manhã cedo já
29 mostrava um sol radioso e, a tarde estava no seu início. A vizinhança gritava à fogo na Arrecadação de Palha do Barão! O largo da Fonte do Arneiro, depressa se encheu de gente com baldes, pois já se ouvia tocar a rebate de fogo, nos sinos da Capela da Misericórdia e Igreja Matriz da vila. A pequena Carreta da Câmara, com duas rodas de madeira, tinha em cima uma motobomba, foi retirada da arrecadação municipal e, quatro homens puxaram-na até ao lugar do fogo, outros levaram aos ombros os vários rolos de mangueira, levando algum tempo até chegarem ao local. O fogo já consumia o madeiramento do telhado do celeiro em altas labaredas, e a velha Fonte do Arneiro, construída em 1711, já não dava resposta, passou-se a usar os poços dos quintais, onde as crianças e jovens, em dois corredores, de balde cheio balde vazio, tentavam que o pavoroso incendio não pegasse ao casario vizinho. Através do telefone, foi pedida
30 ajuda aos bombeiros voluntários da vizinha vila de Benavente, pois a Carreta e os poucos metros de mangueira ao dispor, não de conseguia dominar as grandes labaredas que saiam da palha consumida. Mesmo com prontidão na resposta, a ajuda dos Voluntários de Benavente, chegou umas 3 horas depois, já o fogo estava dominado. São relatos, que ficaram nas páginas dos jornais da época, e nos serviu de estórias na História dos Bombeiros Voluntários de Salvaterra de Magos, para o livro que editamos sobre aquela Corporação. entretanto fundada em Salvaterra, em 1935, como Associação Humanitária. O Quartel da Corporação, foi instalado no antigo prédio do Infantado, ali na Av. Brito Seabra, ao início da Avenida principal da vila, sendo precária a instalação, motivou a generosidade do benemérito; Gaspar Costa Ramalho, a construir num seu terreno, no meio de Salvaterra, um grande e moderno edifício para a época, que ofereceu à Associação.
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A exigência de novas instalações, para aquela Corporação de Bombeiros Voluntários, concretizou-se 72 anos depois, o seu presidente; Joaquim Mário Antão, tomou em mãos os necessários contactos, conseguindo até contributos financeiros, e a cedência de um terreno pela Câmara Municipal. Iniciada e concluída a obra meses depois, foi inaugurado, o novo edifício Tipo B no dia 7 de junho de 2006. *José Gameiro ***********
Nota: Assinatura do Protocolo entre a Câmara e os Bombeiros * Presidente do executivo; Ana Ribeiro, José Domingos Lobo, Presidente da Assembleia Municipal e Joaquim Mário Antão, Presidente dos Bombeiros Salvaterra de Magos
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XXXVIII Crónica Nº 38 Facebook – José Gameiro 01/ Maio/ 2020
CRONICA DO NOSSO TEMPO QUANDO NA QUINTA-FEIRA DE ASCENSÃO, Sempre se apanhava a Espiga!
Da Páscoa à Ascensão – 40 dias vão! Na reforma administrativa realizada em Portugal, em 1936, foi criada a Província do Ribatejo. É uma região genuína na Lezíria do Tejo, e Salvaterra de Magos, estava no seu coração, deixou de estar na Província da Estremadura. Era naquele dia 17 de Maio, que o povo religioso, guardava o preceito da Ascensão da elevação de Jesus Cristo ao céu. Vinha também de séculos, a tradição, do povo ir
34 ao campo, e aquele dia passá-lo numa festa de misto religioso e profano. Com a República em 1910, foi dada a figura jurídica ao feriado municipal, e finalmente com a nova província ribatejana, 10 dos seus concelhos (1), escolheram, um dia móvel, daquele mês de Maio, em plena primavera, para o povo festejá-lo com gestos festivos, no campo convivendo com familiares e amigos. Manhã cedo, ainda na penumbra da noite, era de ver as filas de gente a pé, em carroças e outros transportes, a caminho do campo, e passar o dia em são convívio, onde a vozearia das cantigas punham em dessossego a passarada que voavam pelas cearas em busca de sementes. em tempo de criações! Outros iam pagar as suas promessas, a S. Baco, ali ao pé de casa – no antigo Convento de Jericó. Havia quem fosse à
35 romaria do Senhor da Boa Morte, em Povos – Vila Franca de Xira, e chegavam até a ir à Ermida de Alcamé, em plena Lezíria, onde havia um cortejo religioso do povo de Samora Correia. Havia lavradores, que aproveitavam o dia feriado da Quinta-feira da Ascensão, e faziam as ferras do gado, com tentas dos seus bezerros bravos, depois do desmame dos animais. Nesse dia lá tinham na festa, amigos num almoço campestre. Aos seus trabalhadores e ao povo em geral, ofereciam um lanche. Alguns artista da revista e cantadores de fado, de Lisboa, convidados aproveitavam aquele dia de convite, e vinham a Salvaterra – passar pela primeira vez o dia em pleno Ribatejo. Com as cearas de trigais e manadas de gado, pastando bem à vista, os grupos escolhiam umas sombras de um bom arvoredo, e ali eram abertos os estendais,
36 onde os farnéis seriam repartidos por todos. Naquele ano, o pároco da freguesia de Salvaterra, que vivia isolado numa dependência da Igreja Matriz da vila, aos domingos e dias solenes, era convidado pelas famílias, mais abonadas da terra, para um almoço de convívio familiar à mesa repleta de iguarias, também esteve presente naquele festejo popular O Sacerdote, naquele dia depois da Eucaristia celebrada na Igreja de São Paulo, lá apareceu na sua mota (2), no Campo dos Freires. Antes da hora do almoço, foram interrompidos os festejos dos adultos, e as brincadeiras dos jovens e das crianças. O Padre; Manuel, naquela festa campestre vestiu os seus paramentos religiosos, e presidiu à pequena cerimónia campal onde foi evocado Santo Antão, em favor da sua bênção para a fertilidade dos animais e pedido pelos presentes que, intercedesse para olhar por melhores colheitas nos
37 campos. Pela tarde fora, os adultos e os mais idosos, dormiram uma sesta, enquanto entre os jovens foram trocados olhadores e acenos. A ocasião era propícia, com frequência, ao despontar de sentimentos entre moços e cachopas, trocas de espigas e de olhares naquela tarde de Maio, quente que, depois davam namoro e muitas vezes ligações para a vida inteira. Fazia-se roda, contavam-se histórias, desfiavam-se cantigas e dançavase ao toque da concertina, da gaita-debeiços ou de outro instrumento que alguém levasse e soubesse tocar. Ao findar do dia, havia a apanha da espiga; nesta região da Lezíria, bastava um ramalhete de três espigas de trigo; três malmequeres amarelos: três papoilas; mais um raminho de oliveira em flor. Era em casa, pendurado nas costas da porta de entrada, substituindo o do ano anterior,
38 sempre na crença de maior sementeiras e fertilidade nos animais. Durante uns tempos, era conversa entre os jovens –Este ano, sempre apanhaste a espiga! *José Gameiro *********** –Nota: Na reforma administrativa de 1936, A Província do do Ribatejo, que sendo genuína na Lezíria do Tejo, com a reforma administrativa de 1936, foi instituída, Salvaterra de Magos, tal como outros concelhos, deixaram de pertencer à Província da Estremadura. (1)-Alcanena, Almeirim, Benavente, Chamusca, Cartaxo, Torres Novas, Golegã, Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira * (2)- O Padre Manel, como era carinhosamente tratado e conhecido, à muito vivia em Salvaterra, e transportava-se numa mota – um dia nas suas deslocações às povoações do concelho, teve um acidente nas Ponte do Paul de Magos, onde viria a morrer – foi sepultado no cemitério da freguesia.
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XXXIX Crónica º 39 Facebook – José Gameiro 27/ Maio/ 2020
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO EM PLENO VERÃO, A COMIDA AZEDAVA! (As Gentes e suas Crendices) No dobrar do séc. XX, os grandes ranchos de homens e mulheres ainda eram vistos nos trabalhos do campo – de enxada (cabo curto e folha larga), na faina cavando a terra, fazendo leiras em linha ( a terra era puxada para cima dos pés). Era tempo de Agosto, em pleno dia a temperatura queimava, e lá se dizia: - Mês de Agosto dá água pelo rosto! Nas searas de melão e melancia, era tempo de apanha da fruta, que era colocada em pirâmide à sombra, num anexo do barraco improvisado. Era tempo da espera dos compradores – negociantes que apareciam em camionetas de caixa aberta, e lá
40 transportavam a fruta para o Mercado da Ribeira. Onde na madrugada seguinte era vendida ao retalho em quantidades, e não deixavam deter a sua clientela nas vendas de bairro, em Lisboa. Na parga da Melancia, eram tiradas três à sorte. Bem pesada na mão, era calada com uma navalha num desenho de triângulo, e o comprador, além da cor bem vermelha, seduzia-lhe também a prova da doçura numa “trincadela” no pedaço do triangulo retirado para prova – depois colocado no lugar. Com o decorrer das provas, muitas daquelas frutas eram rejeitadas e tinham outros compradores; criadores de animais para engorda como: Porcos, gado vacum e ovinos em regime fechado. A gente Foreira, cá de Salvaterra de Magos, ainda tinha o velho hábito dos seus “porquitos” de engorda, não deixavam de misturar na alimentação, no Maceiro (outra zona do país chama-lhe cocho), algum Melão, Melancia e Tomate, com a abóbora e milho. Por vezes os animais, apresentavam
41 sinais de problemas intestinais (deixavam de comer e deitavam-se a um canto), depressa no interior da casa se cismava; está doente! Sem melhoras dos animais, havia socorro ali à mão – uma mulher no sítio da Califórnia, que o povo dizia ser possuidora da cura através dos pingos de azeite na água, a troco da oferta de um coelho, ou uma galinha, lá fazia as suas rezas num prato com água e azeite, o resultado: – os animais foram vítimas de “Maus olhares”, de algum vizinho que anda de “avesso” com a família. Lá aconselhava uma ervas de beladona! As horas e os dias passavam, os animais não melhoravam. Sempre que situações destas aconteciam, recorria-se aos Ferradores da vila de Salvaterra, homens entendidos nestas coisas. Por volta de 1949, tinha-se instalado com consultório, nos Prédios Novos da vila, o novo Veterinário; Dr. Joaquim de Carvalho, acabado de se licenciar e portador de novos conhecimentos da escola da
42 Universidade Coimbra. O Veterinário, foi chamado para ir aos Foros de Salvaterra, na estrada da Lagoa, e lá apreciou a situação dos animais doentes. Sobre a alimentação foi-lhe dito: a Comida é a que está à vista. Afinal a cura poderia estar à mão. Quer, o refugo do melão, melancia e ainda do tomate, partidos estavam em parga – era fruta que azedava em poucas horas. Quanto à Beladona, (da batata e do tomate) é uma planta tóxica. *José Gameiro
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XXXX Crónica Nº 40 Facebook – José Gameiro 05/Agosto/2020
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO AS OBRAS NA CAPELA DA MISERICÓRDIA! Era mais uma caminhada, daquelas que gente da minha idade faz para manter a boa forma do corpo e do espírito – até porque é uma necessidade, para quem como eu, resguarda-se em casa muitas horas, para salvaguarda do contágio, provocado pelo Covid 19. A manhã já ia alta, naquele dia de São Inocêncio e, convidava para mais um passeio matinal lá para os lados da vala real. A aragem naquele sítio, a brisa fresca bebida nas águas da maré cheia, “convidava” e, lá fui um pouco mais
44 adiante, e “espectado” no valado, agora deserto, onde na minha meninice, existia uma pequena casa, ajustando-se ao cenário da escadaria das pedras de lioz, que os mais velhos diziam, ainda na década de 30 do séc. XX. ter ali existido um “Moinho de água” onde se moía arroz, Na falta de viva alma, para ao menos “dar os bons dias”, depressa de regresso, em passo largo, ultrapassei a velha ponte, uma obra que vem do séc. XVII, e recebeu benefícios com “cortas-águas”, para regular a força das marés, quando o rei Filipe III, visitou Salvaterra de Magos, e aqui esteve uns 3 dias caçando na Coutada, quando regressava a Espanha. Vinha “cismando” quanto brinquei no seu cais, agora sem aquela azáfama dos barcos fragateiros, e que no dobrar do século passado, ali aportavam. Um barulho dentro da Capela da Misericórdia, despertou-me – havia ali trabalhos, até porque a sua grande
45 porta de acesso estava aberta e, lá entrei – o interior estava em grande desalinho. Uma equipa de três jovens técnicos da firma; “Memoriae Tradere”, empenhava-se nas obras de conservação das madeiras, do Altar-mor, e nova pintura nos seus amarelos oiro velho na talha existente. A parede e abóboda naquele espaço já tinham nova pintura - agora de azul cinza. Na limpeza foi encontrada uma outra original, pois presume-se que tenha sido tapada, quando aquele templo recebeu obras de recuperação, após os estragos provocados pelo terramoto de 1909. O artista, Bruno Assis, gerente daquela empresa familiar de Torres Vedras, lá estava na limpeza do velho madeiramento e, não deixou de me mostrar a caixa das esmolas (cofre) em madeira, que tinha a informação que mostrou (no interior da sua
46 tampa), estava registado a lápis a sua abertura em 1910 e mais tarde em 1913. Ao despedir-me daquele artesão, não deixou de me dizer - a obra, vai continuar durante alguns meses! Realmente, o Provedor da Misericórdia local; João José Oliveira e Sousa, em conversa informal já me tinha informado, que era um desejo empenhado, de toda a sua Provedoria, restaurar aquele centenário templo religioso da vila. *José Gameiro
Nota: Fotos da Reparação e Conservação do interior da Capela da Misericórdia, ano 2020 * Fotos do Autor
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48 XXXXI Crónica Nº 41 Facebook – José Gameiro 20/09/2020
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO QUANDO VINDIMAR ERA UMA FESTA! O vinho é um elemento que faz parte da nossa cultura mediterrânica e judaicocristã. O estreito de Gibraltar, é a porta de ligação entre o Mar Mediterrânico e o Oriente Médio, através da Europa, usando a comunicação das águas do Atlântico. O uso do vinho no médio oriente, perde-se no tempo da humanidade e, os gregos divinizavam-no na forma do uso, e davamlhe um lugar central na plêiade olímpica e nas festividades muitas crenças pagãs. Os romanos de associaram-no à divindade de Baco, o gosto pelo prazer de beber, e o seu consumo tornou-se popular nas orgias e celebrações, e quando os seus exércitos andaram pela Ibéria (218-201 a.C.), por aqui deixaram o gosto pelo seu fabrico em
49 talhas de barro, que ajudavam no arrefecimento e cosedura. Algumas terras do baixo Tejo, desbravadas que foram, no reinado do rei D. Sancho I (1185-1211), por famílias que trouxe da Flandres, numa primeira leva, depois completada por seu neto D. Dinis, pois eram um povo muito dedicado à agricultura. Na vasta Lezíria daquele rio, Salvaterra de Magos, também tinha terras que depois de arroteadas, eram férteis para receberem vinha, tendo o seu brasão heráldico, de 1936, passado a constar além das espigas e do toiro, um cacho de uvas, levando a lembrar as raízes do povo. No dobrar do séc. XX, já com tempo de verão a dar lugar aos dias de outono, onde o São Miguel, trazia as chuvas diárias de aguaceiros, intensos, faziam-se as últimas colheitas do ano – a ceifa do arroz e as vindimas. Os ranchos de mulheres ainda enchiam os campos de alegria, com os seus cantares. Quando acabavam as vindimas, no campo ali à borda do Tejo, havia o hábito de ser entregue a bandeira ao patrão (as cantigas dos ranchos era nos
50 carros que transportavam as dornas de uvas, até às adegas), que esperavam com a família e, ali havia bailarico, onde se juntava os homens da pisa da uva, para se fazer o vinho novo, provado no dia de São Martinho. Nos Foros de Salvaterra, os foreiros, juntavam nas suas pequenas parcelas de vinha, a família e amigos, enquanto durava o fim-de-semana de vindima, e no final havia festança com convívio! Os Anos Passaram, ficou a saudade – Quando havia festa em tempo de vindimas! *José Gameiro ********* Nota: Texto usado da 2ª edição Caderno Apontamentos Nº 09 – Publicado no II Volume “Recordar, Também é Reconstruir” do Autor Fotos: Autor na Vindima familiar em Foros de Salvaterra 198 5 * Capa do Caderno Nº 09 - publicado em José Gameiro Issuu
51 XXXXII Crónica Nº 42 Facebook – José Gameiro 01.11.2020 - Memórias –
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO COM A CHEIA, CAIU A OBRA-PRIMA !.. Naquele ano de 1957, O Inverno estava à porta, não houve verão de S. Martinho, o tempo continuava chuvoso desde os dias de Setembro. O rio Tejo, estava “sufocando” a receber águas das valas, dando mostras de transbordar nas suas margens. Com os campos de Salvaterra de Magos alagados, formava-se mais uma cheia, e as rajadas do forte vento que por vezes fazia, punham de aviso os Marítimos que tinham os barcos de carga aportados no cais d vila. Era necessário ajustar as suas amarras! Segundo os documentos registam, as terras da extinta Coutada real, já na posse da Junta da Paróquia de Salvaterra de Magos, em 1845, foram arroteadas em várias
52 formas, dando origem à povoação de Foros de Salvaterra. Em época de Inverno aquelas terras foreiras, ficavam encharcadas com as águas das chuvas, procurando saída por várias valas. Uma delas corria pelos Marecos, passava junto ao Massapez, e no fim do seu percurso, ficava ladeada por uma fila de choupos (plantados em 1893, quando do arranjo do Rossio da Vila de Salvaterra. Ai, ao terminar o seu longo percurso ainda recebia água que, sobrava do enchimento constante do velho tanque em pedra, onde as manadas de gado bebiam no seu caminho de e para o campo. A vala deixava o seu caudal de Inverno, e desembocava na vala real, através de uma pequena ponte de pedra construída no século XVII. No Verão aquele logrador era cheio pelas águas das marés, sendo aí que as mulheres aproveitavam para lavar a roupa ao longo do ano e, o rapazio em dias quentes de Estio, fazia a sua aprendizagem de natação. Naqueles dias de chuva, era de ver por ali alguns Fragateiros e Pescadores Cagaréus, com chapéus de chuva abertos ao
53 contrário, servindo para guardar as enguias que apanhavam na pesca ao remolhão (rolo de minhocas enfiadas numa linha) e, entre eles o Joaquim Correia dos Santos (conhecido pelo Joaquim Manhoso), era exímio naquela forma de pescar. No mandato municipal de 1956/1960, o Dr. José Luís Seabra Ferreira Roquette, tinha no seu executivo o Eng.º Carlos Costa Freire, com o cargo de Vice-presidente, substituindo o presidente, pois este vivia em Lisboa e vinha a Salvaterra, às sessões da Câmara de 15 em 15 dias. Costa Freire, queria deixar marca da sua passagem pelo executivo e, naquele verão de 1957, depressa mandou construir 2 paredões em pedra e cimento, que “segurassem” as terras junto à boca da “Vala da Pardaleira”, como o povo a conhecia. O barbeiro, fotografo-amador da terra; Alexandre Cunha, ainda teve tempo de a registar nos seus clichés, pois logo no Inverno que lhe sucedeu, foram destruídos pela força das águas das cheias.
54 O povo lá dizia; “Que pena era uma obra prima do Engº. Freire!,” *José Gameiro ******** Nota: Fotos extraídas do negativos em vidro, que Alex. Cunha ofereceu ao autor
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55 XXXX III Crónica Nº 43 Facebook – José Gameiro
07/ Nov/ 2020
CRONICA DO NOSSO TEMPO OS SINOS DA TORRE DA IGREJA MATRIZ Estava-se em 1818, pelas duas horas da madrugada do dia 28 de Setembro, todos os sinos e sinetas da vila, tocam a rebate o alarme tinha sido dado, o palácio real, estava a arder! Logo uma corrente de mulheres se juntou na rua Direita, ao povo requisitado para os trabalhos de combaterem o incêndio e, se dispôs a fazer chegar água desde a vala, até ao palácio, com pequenos baldes de madeira, numa fileira de balde cheio, balde vazio. A torre da Igreja Matriz, já tinha passado por muitas fases de alertar a população. Está da história da vila, que o edifício foi aberto ao culto religioso, um ano depois da doação do Foral a Salvaterra, por D. Dinis,
56 em 1295, que abrangia o pequeno povoado com trezentas almas, com alguns vizinhos a morarem nos Montes de; Bilrete, Misericórdia, Figueiras, Colmieiro, Coelhos e Magos. Com o decorrer dos tempos, ouvia-se os seus sinos, ao longo do dia, especialmente tocar as Repartidas, conforme as horas das refeições diárias. O sinal das Matinas, era logo de madrugada e de tal intensidade, que fazia suar o pobre do sacristão. Outros toques anunciavam a missa aos domingos e dias santificados, para além daquele a finados, quando ia a enterrar as pobres almas a preciarem de conforto religioso. Este método foi usado durante muitos séculos, até que veio o advento do relógio em Salvaterra, colocado na torre da Igreja Matriz, em 1858 após o sismo, que teve início no oceano, perto de Setúbal e afectou aquele edifício religioso, e fazendo outros estragos na casa da Câmara e no Palácio, além das muitas casas da vila.
57 Com a reparação daquela Igreja-mãe, a sua cúpula fechada em zinco, deu lugar a azulejo de cor azul. Um relógio provido de um complicado mecanismo foi ali colocado a expensas do cofre real, com mostradores em chapa de zinco e numeração romana, nos lados Norte, Sul e Poente. A câmara municipal mudou para um edifício, doado pela Rainha D. Maria II. No Paço real iniciou-se o seu desmantelamento, ficando de pé apenas as suas cozinhas, e a capela e o edifício da antiga Falcoaria. . Aquele relógio "sobreviveu" ao terramoto de 1909, e até enriquecido com aparecimento dos Bombeiros Voluntários, em 1936, foi colocado na parte sul da torre, uma cabo em aço para o toque dos incêndios. Este sistema foi posto de parte com a instalação de uma sirene eléctrica no Quartel da Corporação. O executivo municipal, de José Luiz Seabra Ferreira Roquette, no mandato 1957/60,
58 tomou a iniciativa de substituir, o antigo relógio da torre e, seus três mostradores. Era um relógio com um sistema mecânico de vanguarda, da relojoaria nacional, foi construído e montado pela firma Couzinha, de Almada, e apresentava agora os algarismos em árabe. Corria o ano de 1957, tinha eu acabado a minha escolaridde, e a pedido de meu pai, andava arrumando alguns livros, no sótão do edifício da câmara municipal "para não andar na moina", e por vezes vi o zelador municipal; José Miguel Borrego, ensiná-lo na manutenção do novo relógio da vila, trabalho que era mensal. Aquele relógio era o "aí Jesus", tantos eram os cuidados! Era uma operação que durava algum tempo - aquele olear e acertar o complicado mecanismo para que as badaladas ouvidas no pesado sino fossem sempre tocadas a horas certas. No ano de 1985, o vereador; Cassiano Oliveira, obteve dos seus colegas a permissão para mandar substituir os
59 antigos azulejos da torre da Igreja Matriz, que apresentavam aqui e ali algumas falhas, foram colocados novos da mesma cor. O tempo da tecnologia de ponta chegou ao relógio e, aos sinos da Igreja Matriz de Salvaterra. O Pe. Agostinho de Sousa, pároco da freguesia, Conseguiu apoios financeiro, para colocar um computador, cujo programa se encarrega agora fazer todos os toques necessários a alertar a população, quer das horas, quer dos fiéis das missas diárias. *José Gameiro ********* Nota: Post Extraído do texto do autor publicado, no JVT – 04.12.1999 * Post em "www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt publicado pelo autor em 20.02.2009 * Foto do Autor
60 XXXXIIII Crónica Nº 44 Facebook – José Gameiro 11/ Nov/ 2020 *Memórias 8.04.2018 *
CRONICA DO NOSSO TEMPO UM COWBOY DO RIBATEJO Corria o ano de 1983, setembro era mês de férias em Portugal e, os passageiros esperavam a chamava para o voo para os EUA, no aeroporto de Lisboa. Um jovem de chapéu texano na cabeça chamava a atenção dos passageiros na sala de embarque. Aquele corpo esguio do homem de camisa aos quadrados, também não passou despercebido a Ferreira Pinto, que não deixou de meter conversa com o cowboy. O jornalista depressa tomou notas e na semana seguinte; José Carlos Almeida Ganhão, teve honras de foto na primeira página do semanário “Tal &
61 Qual”, e encheu a página 4 da edição 168, daquele semanário lisboeta. O José Carlos, aos 12 anos foi até Rio Maior, aprender a arte de alfaiate, e já em Lisboa na firma; Lourenço & Santos, conheceu uma costureira/modista, com quem viria a casar e, ainda hoje é sua mulher. Já alfaiate feito, estabeleceu-se na cidade lisboeta, e um dia um capitalista americano, entrou na loja e queria fatos feitos pelo José Carlos Ganhão, e foi através deste que a jovem família foi de abalada até aos EUA, em Nova Iorque trabalharam na firma francesa Guy Laroche. Convidados para trabalharem na Neiman Marcus, em Dallas, aí começam a fazer o vestuário para os artistas da série americana “Dallas”, conhecendo pessoalmente os artistas; J.R. e o seu irmão Boby, daquelas filmagens no
62 Rancho de Southfork. Foi apresentado e trabalhou para outros artistas, como o Jerry Lewis, que um dia lhe disse; Joseph Carlos, para os amigos; trata-me por Joseph Levitch! José Carlos, é uns anos mais velho que eu, mas na nossa juventude o seu sorriso constante e bom trato de conversa, foi um dos motivos para ficarmos amigos. Um dia destes encontrei-o no meu passeio matinal, lá andava passeando o seu pequeno cão, e depois de um forte abraço – tivemos dois dedos de conversa, dizendo-me; - “Depois de muitos anos em terras do Tio Sam, regressei de vez a Salvaterra de Magos, nossa terra-natal, para gozar os dias de velhice que lhe restam”. Agora vamo-nos encontrando nas “caminhadas matinais” e, depois de ter publicado este Post, fui convidado para ajustar uma entrevista dele para o jornal “O Mirante”, o que lhe sucedeu
63 uma presença na Tv num programa da manhã. *José Gameiro Nota: 1) Foto publicada no Jornal “Tal & Qual * 2) José Carlos, entrevistado para o Jornal “O Mirante” – Foto do autor
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XXXXV Crónica Nº 45 Facebook – José Gameiro 11/Nov/2020
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO DIA DE SÃO MARTINHO–UM SISMO ABALOU SALVATERRA DE MAGOS, EM 1858 13 de Novembro era o 313. dia do ano no calendário gregoriano (314.º em anos bissextos). Faltavam 48 dias, para acabar o ano de 1858, e devido ao pânico provocado na população, por sentir um sismo na terra, no dia 11, não se realizou a primeira oração do dia, com missa pública da - A hora das Laudes, que seria em honra de São Estalisnau Kostka (28 de outubro de 1550 15 de agosto de 1568).
65 O padre paroquiano da freguesia de Salvaterra de Magos, desde aquele dia passou a celebrar as missas públicas na antiga Capela, pois o cataclismo que desabou naquele dia de São Martinho, sobre a vila, tinha feito estragos na torre da Igreja Matriz, mostrando os sinos alguns sinais de cair. O chão do interior do templo mostrava, quanto foi os estragos no tecto e nas paredes, O Paço real da vila, apresentava danos na sua fachada e muitas moradias na vila tinham as suas grandes chaminés caídas. Reinava em Portugal, o rei D. Luís, e ao cair da tarde daquele dia 13, pelo luz-fusco, foi o povo chamado a ouvir o mensageiro que vindo a toda a brida de cavalo chegava de Lisboa. Com edital do reino, leu que o centro do trágico abalo sísmico, tinha sido em Setúbal, e que o Presidente do concelho mantivesse os seus cidadãos atentos, pois estava para chegar a
66 Salvaterra de Magos, um Piquete militar de socorros. Com a chegada do apoio militar, o seu comandante reuniu com os responsáveis da terra, informando que “O sismo naquela cidade do rio Sado, foi antecedido de pequenos abalos preliminares, ficando o centro bastante danificado (ruíram 50 casas), morreram algumas pessoas e bastantes ficaram feridas; dano que se fizeram sentir em edifícios de Lisboa, e outras povoações nas redondezas”. Um ano depois, as obras na torre da Igreja Matriz e, no seu interior estavam terminadas. O exterior da torre passou a ter uma cobertura com azulejos de cor azul, e nas suas três paredes foram colocados os mostradores de um relógio com mostradores de numeração romana. Tudo isto consta de um relatório que, levou semanas a fazer pelo pároco da freguesia
67 que, teve o apoio da vereação da câmara e foi enviado com urgência para Lisboa. O antigo convento quinhentista, de Frades Arrábidos, criado pelo Infante D. Luís em 1542, grande devoto de S. Baco, do qual há ainda uma escultura na capela que foi privativa daquele. As ruínas do Convento de Jericó (construído em terras com aquele nome), foi vendido em haste pública, em 1843, no reinado de D. Maria II, a António Plácido d`Azevedo, de Benavente, pelo valor 900$500 rs *José Gameiro * Igreja Matriz – Obras em 1991 * Foto Autor
68 XXXXVI Crónica Nº 46 Facebook – José Gameiro
22/Nov/2020
CRÓNICAS DO NOSSO TEMPO A ORIGEM DO LARGO DOS COMBATENTES, Na Primavera de 1542 o ar de Salvaterra de Magos, respirava cheiros de várias flores e, as árvores de sombra embelezavam todo o ano o vasto terreno na frente do magnifico Paço real da vila, uma obra feita pelo donatário de Salvaterra, o Infante. D. Luís. Os visitantes embaixadores e homens de negócios estrangeiros, não se cansavam de o enaltecer nas cortes dos seus países, na Europa. Séculos depois foi a corte de D. José I, que usufruiu de tamanho beleza, já que D. Pedro II, o conservou modernizando-o com obras em 1685, que foi muito do agrado das Infantas, suas filhas, que gostavam muito da estadia em Salvaterra.
69 Os Incêndios e o sismo de 1858, que foi alvo levaram à completa destruição do Paço e do Jardim, cujos restos foram desmantelados a carga de explosivos. Quando da limpeza daquele vasto terreno no primeiro ano do séc. XX, já estava acantonado entre duas grandes adegas e celeiros, com as antigas chaminés bem à vista. Um filho da terra, o médico Dr. Gregório Fernandes, que se tinha destacado nas ciências médicas, nos hospitais de Lisboa, vinha amiúda vezes visitar a família - os Vinagres. Os filhos; o Alberto, e o Eugénio Mac-Bride, nascidos em Lisboa, depressa ainda crianças, passeavam e lanchavam com a mãe Sofia, senhora de origem inglesa, em passeios pelo campo. Com a implantação da república em Portugal, em 1910, os novos autarcas de Salvaterra, afectos àquele novo regime, apressaram-se a mudar a toponímia da vila e, aquele vasto terreno – que um dia foi jardim do paço real, passou a Largo 10 de Outubro.
70 Em 1913, a construção de uma escola, fruto de um peditório do Jornal O Século, após o terramoto de 1909, acabou por encurtar mais o terreno. Uma reunião, em 1924, do já médico Alberto Mac-Bride Fernandes, antigo Alferes - médico cirurgião do corpo expedicionário militar português no I conflito mundial (1914-1918), e, agora membro e fundador da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, pedia que a vila também tivesse uma Rua, Largo ou Praça, com o nome daquela nova associação social de antigos militares. Era uma moda que estava acontecendo por todo o pais e, no final do encontro ficou decidido, que aquele vasto terreno, passase a ter a toponímia; Largo dos Combatentes. Em 1957, o largo recebeu novas obras de urbanização, onde foram conservadas as antigas Tílias, árvores de grande porte que pela Primavera/Verão perfumavam a vila. O vasto local já era conhecido pelo povo como; Largo do Lopes/ ou Largo do Ribatejano.
71 Na década de 90 do Séc. XX, recebeu motivos decorativos (uma esfera armilar, depois uma estatueta de falcão). Esta com inauguração com festejos, pois esteve presente uma Delegação vinda de Valkenswaard, da Holanda. Por fim em 2016, no dia 25 de Abril, foi renovada urbanização do Largo, sendo inaugurado um monumento de homenagem aos Combatentes, do concelho de Salvaterra de Magos, mortos nos vários conflitos ocorridos no séc. XX. *José Gameiro ********* Nota: https://toponimialisboa.wordpress.com/.../rua-alberto.../ * Livros: Toponímia de Salvaterra de Magos – Do Autor *Livro: Gregório Fernandes e seus Filhos* Uma Biografia Familiar / Do Autor (Publicado no Google: José Gameiro Issuu https://toponimialisboa.wordpress.com/.../rua-alberto.../ https://revista.spcir.com/inde.../spcir/article/view/107/105 * Fotos do Autor Anos 90 séc. XX: 1) Fontanário Decorativo com Esfera Armilar; 2) Estatueta de Falcão em Bronze * 3) O autor mostra; – O Falcão foi roubado*Foto Inauguração Monumento Homenagem aos Combatentes do Concelho – 2016 *******************
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XXXXVII Crónica Nº 47 Facebook – José Gameiro 01.12.2020
CRONICA DO NOSSO TEMPO A ÚLTIMA ÁRVORE, AOS 137 ANOS MOSTRA A SUA IMPONÊNCIA, Lembrando o tempo da construção da nova Avenida, que chega para os lados do Oeste de Salvaterra de Magos. Vinha de séculos e, tida como uma das 7 ruas da vila, era um caminho de carros de bois, em terra, desde a Ponte da Vala real, chegava ao antigo edifício da Falcoaria, com acesso à estrada do Convento e Ponte de pedra, na Peteja a beijar a Boca da Goiva, no rio Tejo. No Sul da vila ainda havia uma réstia de pinhal, que pertenceu à extinta Coutada real de Salvaterra, aonde os 3 grande Moinhos de vento, tinham lugar de
74 destaque. O seu registo aparece na demarcação do concelho de Salvaterra de Magos, trabalho feito através do Alvará do rei Filipe III, de 10 de Outubro de 1613. A escassos metros da Ponte da Vala, um largo junto ao adro da Capela da Misericórdia, que ainda chamavam o terreno do Jogo da Pelota, havia um celeiro e, à distância do olhar, um velho Palacete, ambos foram pertença da Casa do Infantado, até à extinção desta em 1834. O velho caminho de carro de bois, até à Falcoaria ficou cortado, pelo entulho de algumas dependências do antigo hospital, no Largo de S. Sebastião, provocado pelo sismo de 1858. A falta de casario no seu lado norte, dava para ver todo o campo e, a vala real a caminho da Boca da Goiva, se não existissem o edifício da Falcoaria e a Fonte do Arneiro, esta uma obra simples com escadaria em pedra de lioz, feita em 1711, mostrando o seu tecto abobadado,
75 era servida por um terreno de Arneiro, por onde escoavam as águas da chuva, que alagavam a Azinhaga da vila. Junto ao Celeiro da vala, uma nova Casa Apalaçada, foi construída por Francisco Ferreira Roquette, uns anos antes, de José Luiz Brito Seabra, ter nascido em 1854, e este ali viria a ser criado junto de sua mãe, com seu primo e padrasto. O executivo da câmara para urbanizar aquela zona e substituir o pavimento daquela via, por pedra de seixo, em 1883, deliberou pedir ao Ministério, em Lisboa, que os seus serviços de obras públicas, desenhassem para ali uma planta urbanística. Depois da visita dos técnicos, a obra teve início na Palhota e, ao longo do percurso a partir do Celeiro da Vala, foi ladeada pelo plantio de árvores, para as suas raízes segurarem o enrocamento da base do trânsito, da que viria a ser Avenida e ter o topónimo; José Luiz Brito Seabra.
76 Este, foi Lavrador, Ganadero e, membro da Junta Geral do Distrito de Santarém, um dos fundadores do Real Club Tauromáchico Portuguez, fundado em 1892, e Presidente da Câmara de Salvaterra de Magos. Nos últimos anos do séc. XIX, por volta de 1990, na área da Fonte do Arneiro, o vitivinicultor e comerciante; António Jorge de Carvalho, construiu uma vivenda de família, fazendo uma réplica das usadas pelos novos ricos (vindos de África e do Brasil) à época no país, *José Gameiro **********
Nota: 1) árvore Foto do autor * 2) Mapa de 1883, da urbanização da estrada da Palhota/estrada à Peteja * 3) As três casas do final séc. XIX Livro: A Origem da Família Ferreira Roquette (2ª edição) * Google –José Gameiro Issuu
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78 XXXXVIII Crónica Nº 48 Facebook – José Gameiro 12-12-2020 (Texto modificado * Memórias – 11.12.2017)
CRÓNICAS DO NOSSO TEMPO QUANDO OS PINHAIS DE SALVATERRA DE MAGOS TINHAM LOBOS Estávamos em 1973, estava um dia bonito de Primavera quando ao cair da tarde um bater de três pancadas na porta, levou minha esposa a entreabri-la com cautela. Um homem, de idade avançada, bem posto de vestuário, onde um chapéu preto, tapava a alvura de um pouco cabelo já ralo, apresentou-se-me para falar comigo. Um aperto de mão, foi o início de uma interlocução um pouco demorada, o que levou-me a convidá-lo a entrar. Era o escritor, José Amaro (José Amaro D`Almeida), conhecido por ter nascido em Almeirim, mas na realidade
79 foi em Lisboa. Já depois de homem feito, vivia à longos anos na capital, onde tinha consultório. Quando criança, depois da idade escolar, veio até Salvaterra, por volta de 1938, aprender o ofício de Ferreiro, com seu tio/avô; Manuel Amaro, com oficina de Ferreiro, mesmo ali à curva para a capela real - como quem vem da estrada do Rossio da vila. A visita que me estava fazendo, tinha o intuito de me oferecer o livro “Contos do Ribatejo”, uma sua edição, pois vinha sabendo que eu, colaborava em Jornais, com "coisas" da história de Salvaterra. Lá me foi falando da Taberna, da "Anunciada", da Casa do seu tio - Manuel Amaro, do prédio da família Andrade, de quem descendia Carlos Rebello; Administrador do Concelho. Também me disse, que com ele tinha "estado na forja" da oficina; José Sabino de Assis, um rapaz da vila, (que mais tarde veio a ser um próspero comerciante, estabelecido junto à torre da Igreja Matriz, com loja de ferragens e
80 drogarias). Uma dedicatória no livro, que incluía o seu conto – “O Último Dia do Lobo em Salvaterra” selou futuras visitas quando se desloca-se a Almeirim. Muitos anos depois, entre os grupos de idosos que logo pela manhã estavam nas escadarias da antiga escola “O Século” apanhando a soalheira daqueles dias de Outono. O de Francisco Costa, com Joaquim Hipólito Ramalho, Francisco Conceição (o Xico Chouriço) e o Eurico Norberto Borrego, também como todos os outros ocupavam o tempo lembrando outros tempos passados. O Xico Costa, tinha uma boa memória e, a ele eu recorria como naquele dia, lá me contou que o Mestre; Manuel Amaro, transportava o pequeno lobo pela vila (o povo tinha medo dele) dentro de um cesto de verga – a conhecida raposa das gentes rurais. * José Gameiro ************** Nota: Foto 1) Antiga Casa de Manuel Amaro, que depois foi um Talho * Foto 2) – Um grupo de Lobos ( Foto Fb) * Foto 3) Capa do Livro O Último Dia do Lobo em Salvaterra, publicado pelo autor (Google) José Gameiro Issuu * 4) Fotos onde decorreu o cenário da estadia do Lobo em Salvaterra
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82 XXXXIX Crónica Nº 49 Facebook – José Gameiro 18.12.2020
CRONICA DO NOSSO TEMPO INAUGURAÇÃO DO NOVO POSTO DA GNR O meu telefone tocou pelas 9,00 horas da manhã, pessoa amiga informava-me que daqui a pouco se procedia à inauguração oficial do novo Posto da GNR de Salvaterra de Magos. O Edifício que serviu de escola primária desde 1936, depois de receber obras de adaptação, foi ocupado em Setembro, com a finalidade de albergar a força policial, que zela pelo policiamento da terra. Um imprevisto com o confinamento de alguns militares daquele Posto, por causa do Covid 19, provocou algum atraso na cerimónia agendada, que hoje teve lugar com a presença do Ministro da
83 Administração Interna (MAI), Dr. Eduardo Cabrita, e altas patentes da GNR. Devido ao pouco tempo que dispunha, lá estive presente com o meu telem. para captar algumas imagens e ficarem assim a pertencer à história de Salvaterra de Magos. Talvez devido à pouca divulgação da cerimónia, no local esteve pouco povo presente, mas o presidente da Câmara, Engº Helder Esménio, e o Presidente da Assembleia Municipal, Dr. Francisco Madelino, acompanhados dos autarcas das freguesias do concelho receberam o representante do Governo e outros convidados. Depois da cerimónia protocolar, com o descerramento da placa que regista a inauguração, e dos discursos de protocolo, antes de findar a cerimónia, estes fizeram uma apressada visita às novas e modernas instalações, que vão servir para a força policial que zela pelo bem estar da população local, trabalhar
84 em segurança, coisa que não existia no antigo posto aberto em 1980. *José Gameiro ********* Nota: Aos meus leitores, e concidadãos salvaterrianos, sento um trabalho de carolice, que agora faz parte do meu Blogue - história de Salvaterra, são as imagens/video possíveis, que consegui obter com o meu telem, entre dificuldades encontradas, pela apertada segurança do protocolo, mas com a boa vontade do Sargento-Ajudante; Fernando Simões, Comandante do Novo Posto, agora inaugurado, foi possível fazer - favor que agradeço. * Vêr: Video 261 em YouTube – José Gameiro 2
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85 XXXXX Crónica Nº 50
Abril de 2020 (Texto Rádio Marinhais)
CRÓNICA DO NOSSO TEMPO OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO 25 DE ABRIL DE 1974 EM SALVATERRA DE MAGOS O século XX, estava a meio, mas o povo continuava vivendo oprimido, o poder do Estado Novo, em que Salazar era o presidente do Conselho de Ministros, tinha na sua polícia política – a PIDE, a grande arma. As pessoas de Salvaterra de Magos, tal como as outras de todo o pais, desconfiavam umas das outras, havia “os bufos”, os informadores. Estes viviam a soldo de algumas benesses, de bons empregos ou de posições de destaque na sociedade. Os de classes mais esclarecidas, esses viviam “dessassogados”, com o rumo que o país levava, especialmente na falta de liberdade de expressão.
86 Por vezes ao abrigo da madrugada, as prisões arbitrárias aconteciam na vila, como aquelas quando a década de 60 estava no início, e uma boa dúzia de nascidos na terra, lá passaram alguns meses presos no Aljube, Caxias e Peniche, engrossando a fila de cerca de 24192, entre1926 e 1960 prisioneiros nas prisões do regime do Estado Novo. Os mais velhos da vila não esqueciam, especialmente os rurais, o que foi em 1933, com a greve interdita pela nova Constituição daquele ano, o mundo rural do Norte a Sul, com maior destaque no Alentejo e Ribatejo, juntou-se à que teve grande relevância na Indústria, na Marinha Grande. As rusgas e prisões que se seguiram, nos campos, àqueles que se tinham destacado na sua organização, acção levada a cabo por uma força da Cavalaria da GNR, de Santarém, que para aqui veio destacada, e bateu durante dias a fio os campos da Lezíria, fazendo imensas prisões. O próprio Sindicato de Classe dos Trabalhadores Agrícolas de Salvaterra, tal como outros pelo país fora, foram fechados e, substituídos pelos
87 Sindicatos Nacionais, com Delegações Distritais, controlados pelo poder do Estado, através dos Ministérios respectivos. Na década de 60, um outro grupo de pessoas, foram presas pela polícia política, a PIDE, cujos relatos da sua experiência, foram mais tarde, editados em livro, pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos. Na madrugada do dia, 25 de Abril de 1974, aquela liberdade de se exprimir, dando voz aos seus desejos e convicções, seria de agora em diante uma realidade para o povo, segundo o Movimento das Forças Armadas - MFA, no seu programa, que seria repor entre outras coisas, a liberdade de expressão e de imprensa. Enfim, chegava a democracia! O país esteve em festa, quatro dias depois, no dia 1º de Maio, data há muitos anos não comemorada em liberdade. A população de Salvaterra, também preparou os seus festejos, sem qualquer restrição. Daí em diante, os partidos e organizações partidárias, davam agora
88 início a um vasto trabalho, de comícios e sessões de esclarecimento, na ânsia de “arregimentar”militantes e simpatizantes para aderirem aos seus programas e propostas políticas. Praticamente todos os dias, e durante muitos meses, as novas forças políticas, promoviam os seus comícios em todo o concelho. Em qualquer espaço, bastava, colocar um atrelado, e logo um palco era concebido, para duas ou mais horas de propaganda política, o povo estava ansioso de tais conhecimentos, e as sessões estavam diariamente cheias. O Cinema Conde dos Arcos, a par da sala da Casa do Povo e Praça de Toiros, também eram espaços disponíveis, para as muitas sessões políticas realizadas. Na freguesia de Glória do Ribatejo., a população aderiu com entusiasmo, e muitos responsáveis políticos nacionais, ali se deslocaram, Maria Barroso, do Partido Socialista, foi lá várias vezes. Os panfletos, e a informação sonora diariamente completavam a presença de muitas individualidades, que faziam o esclarecimento do que era viver em
89 democracia, dando como exemplo outros países europeus. No concelho de Salvaterra de Magos, com maior aderentes vingaram: o Partido Comunista Português (PCP) Partido Socialista (PS), e o Partido Social-democrata (PSD). O tempo decorria, a prática usada por cada uma das forças partidárias, foi-se estabilizando, mas a actividade organizativa do PCP, era uma constante motivação entre trabalhadores, especialmente nas fábricas e nos campos. Tinham em mente a luta na conquista do país, que chegou mesmo à ocupação de terras e saneamentos nas empresas em todo o território, estávamos nos anos 1975/76. Essas situações também aqui se verificaram, foram criadas comissões de trabalhadores, que passaram a ter um potencial poder, ultrapassando por vezes o patronato. O poder Salvação vezes de através
do estado, através da Junta de Nacional–JSN, tinha muitas intervir., com a força militar, do COMCON. As forças
90 extremistas de esquerda, queriam ainda mais, e depressa criaram, comissões de moradores. Em Salvaterra, estas estiveram prestes a formarem-se pois a influencia política do PCP, na população especialmente rural, era determinante, para isso existiram várias convocatórias de reuniões. A actividade política no país, não abrandava, e em 1975, dá-se o PREC, onde o método golpista, estava a caminho do colectivismo, uma situação que levou a maioria do povo a fazer-lhe barreira, e os confrontos foram inevitáveis, estava-se à beira de uma guerra civil. Os comícios instigando as classes trabalhadoras mais vulneráveis, passam a estar na ordem do dia, os operários e camponeses de Salvaterra, também não escaparam à sua manipulação. Naquele ano, em plena campanha agrícola, levou muitos agricultores da região, a organizarem-se numa Confederação - CAP, até porque para Setembro, estava convocada uma greve, nesta zona ribatejana. *José Gameiro
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Elementos da Secção do PS, na Manifestação, no Campo Pequeno (Lisboa) : João Firmo Ramalho, Joaquim Mário Antão, António Joaquim Ramalho, José Gameiro, João da Silva, António Banha (Coruche) e Mário Silva Antão
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