Jovens Talentos Nº3

JOVENS TALENTOS

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Nº3. Julho . 2014

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REVOLTA DO

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À CONVERSA

Concorrente MasterChef 2014

Filipe Neves

“ PUBLICAÇÃO MENSAL ONLINE

Sinto que estar onde estou hoje, vai-me ajudar muito no meu futuro.

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DIRETORA

Karina Silva CONTEÚDOS E REDAÇÃO

Karina Silva FOTOGRAFIAS

Ana Pichel Catarina Guiomar Dino Filipe Neves Guilherme Mesquita Ovo Editora Ramon de Melo Revolta do Palato Sou Sweet Valter Carvalho CRÓNICAS

Ana Pichel Catarina Guiomar Guilherme Mesquita Karina Silva DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO

Karina Silva AGRADECIMENTOS GLAM - Celebrity Management Shine Ibéria PUBLICIDADE

geral.jovenstalentos@gmail.com

Se pretende publicitar o seu produto ou marca, contacte-nos!

Publicação mensal online Número 3 | Julho 2014

JOVENS TALENTOS magazine

2 Jovens Talentos Magazine

AQUI TODOS OS TALENTOS PODEM SER

NOTÍCIA! Partilhe connosco para o nosso email geral, histórias de JOVENS TALENTOS que pela sua capacidade e objetivo merecem ser divulgados no nosso magazine.

S umário CRÓNICAS Karina Silva

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Soberear em português Guilherme Mesquita

Faltas tu Catarina Guiomar

Mimetismo

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Crónica Fotográfica

Ana Pichel

Traição

JUKEBOX Dino

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“The Strange Algorithm Series” em entrevista.

ENTREVISTA DE CAPA

FOTOGRAFIA DE CAPA CEDIDA POR Filipe Neves

FILIPE NEVES

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Participou no MasterChef da TVI e foi considerado como aquele que mais evoluiu. Hoje está a estagiar com o Chef português Miguel Rocha Vieira, detentor de cinco estrelas Michelin, em Budapeste.

À CONVERSA Diogo Carmona Revolta do Palato Sou Sweet Ovo Editora

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C

rónica

geral.jovenstalentos@gmail.com

Saborear em português Dizem que “os homens se conquistam pelo estômago”, ora, hoje podemos alterar um pouco a tradição e quem sabe aumentar o leque e não ficarmos só pelos homens. As mulheres são convidadas de honra também como os homens a “degustar” o nosso menu deste mês. Pois, e não é que estivemos “À Conversa” com jovens que acreditam no poder do paladar e tratam os alimentos e a cozinha por tu!

Ora, não falemos de mim porque não sou o melhor exemplo. Posso dar a desculpa que não tenho tempo? (sorrisos) Bem, o Filipe Neves (entrevistado de capa) é um daqueles exemplos de jovens com valor, e é muito bom que seja um exemplar português. Estudou desporto mas hoje o seu caminho não é esse, a cozinha despertou-lhe interesse e a possibilidade de poder abraçar novas metas fez com que se inscrevesse num concurso de cozinha, o conceituado programa MasterChef Portugal, emitido pela TVI, foi a “porta aberta” para o salto maior. Entrou, competiu e mesmo sendo uns dos mais novos e com reduzida experiência, foi passando programa após programa, saí na 10º emissão, não ganhou o prémio, mas o seu percurso e a sua forma de estar e ser, fez que com que fosse convidado pelo Chef Miguel Rocha Vieira, um dos jurados do programa, para ir para Budapeste estagiar ao seu lado no conceituado restaurante Costes. O Filipe está neste momento a aprender e vê o Chef. Miguel Rocha Vieira como um verdadeiro exemplo de profissional. O Filipe sonha ser chef e ter o seu próprio restaurante. Gosto de pessoas assim,

de jovens que acreditam e levam em frente os seus sonhos. Hoje o Filipe está a concretizar um sonho que pode levar a saltos maiores na sua vida. Força Filipe!

Bem, mas a “Revolta Do Palato” também se faz em Portugal e para Portugal, os Chefes Pedro Bastos e Teresa Chaves criaram o seu próprio projeto e o objetivo é criar uma “cozinha exclusiva”. Proporcionar momentos únicos através do palato para cada degustação. Ainda não tive o prazer de provar mas como “olhos também comem”, os meus já se deliciaram com as propostas que constantemente partilham na página oficial do projeto. Sugiro que vão ver com os vossos próprios olhos.

Já na vertente exclusivamente dose encontramos a Alexandra Mendonça que lançou mãos à obra e criou “sobre rodas” o seu próprio projeto. A Sou Sweet é um “espaço” ambulante que tem como objetivo vender gelados feitos artesanalmente e com ingredientes naturais. Ninguém passa indiferente ao seu “carretino”, alegre e também ele doce, vale a pena conhecer e saborear.

Enquanto não se cruza com estes jovens e os seus projetos, nada melhor que os conhecer nas próximas páginas da nossa Jovens Talentos Magazine.

“Bom apetite.”

DIRETORA

P

Próxima aragem FESTIVAL DO LIVRO “LER É ROCKAR” De 9 a 13 de Julho no Mercado Bom Sucesso Feira do Livro com descontos, petiscos e música.

Promotor: Bairro dos livros

MEO MARÉS VIVAS 17, 18 e 19 de Julho na Praia do Cabedelo, em Vila Nova de Gaia Festival de Música. Preços: 30€ até 150€ Informações: maresvivas.meo.pt

PORTO LISBOA Fotografias partilhadas pelos promotores dos eventos.

CINEMA AO AR LIVRE 7 de Julho a 25 de Agosto Local: Rua da Achada (em frente à Casa da Achada) Informações: Facebook Centro Mário Dionísio

MEO OUT JAZZ Entre Julho e Agosto em diferentes locais da cidade Uma transformação dos espaços públicos, dando-lhes vida e memórias musicais.

Entrada livre. Informações: Facebook Out Jazz

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ukebox

ENTREVISTA DE KARINA SILVA FOTOGRAFIAS CEDIDAS POR DINO

“The Strange Algorithm Series” é o projeto que o nosso convidado jukebox lançou em 2012. Dino é como se apresenta a todos aqueles que seguem o seu trabalho e as suas criações musicais.

Influenciado por todo o tipo de música, é no dubstep e na

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música electrónica que encontra o seu espaço de criação.

Acaba de lançar o seu EP denominado “Je suis electrik” com influências French-Electro.

A Jovens Talentos entrevistou-o e hoje podemos encontrar aqui as suas mais recentes novidades e curiosidades.

Que papel tem a música na tua Penso que a minha preferência por este estilo, excluindo o gosto pela produção vida atualmente?

A música esteve sempre presente no meu dia-a-dia desde que me lembro e penso não ser possível viver sem ela.

Apercebo-me da sua importância pois não consigo passar um único dia sem ouvir música ou sem produzir algum tema.

Mesmo quando estou parado, numa fila de espera por exemplo, dou comigo a batucar.

Lembras-te do primeiro contato que tiveste com a música?

Acho que um dos primeiros contactos com a música foi através da televisão (sobretudo de canais de música) o que me levou a comprar diversos álbuns.

Lembro-me de passar tardes inteiras, muitas vezes depois da escola, a ouvir CDs de uma ponta à outra sem parar.

Ouves outros estilos diferentes daquele com que te afirmas e desenvolves a tua carreira?

musical, deve-se ao facto de ter instrumentos e sons muito diferentes daqueles que estamos habituados a ouvir nos outros géneros musicais. Por exemplo, no rock conseguimos identificar facilmente as guitarras, o baixo, a bateria e a voz.

Cada instrumento tem a sua assinatura característica (e raramente se sai desse registo). Agora na música electrónica o mesmo não se passa, pois nunca conhecemos à priori o som dos instrumentos visto serem quase sempre diferentes.

Só no desenrolar de uma música é que começamos a identificar a batida, um baixo, um ”lead synth”, determinados efeitos que vão surgindo, etc. Por vezes os próprios instrumentos trocam de papéis entre si. Resumindo, à partida nunca sabemos bem os sons que vamos ouvir e por isso acho que nunca perde a novidade. É isto que me faz gostar muito da música electrónica e das infinitas possibilidades de criar novos sons e manipulá-los, apesar de ao mesmo tempo o processo ser sempre a mesmo: fazer música com máquinas e plug-ins/software.

Claro. Apesar de me dedicar muito a este meu projeto, eu ouço um pouco de tudo, desde música étnica e ambiental ao metal mais agressivo. Gosto de From First To Last, Slipknot, Blasted Mechanism, Explica-nos o nome do teu proSteve Roach, Prince, Seal, Everything But jeto, The Strange Algotithm SeThe Girl, Jamiroquai, entre muitos outros ries? artistas e bandas.

Este projeto surgiu com a necessidade de Neste momento o teu projeto criar algo de novo, à partida estranho, profissional é ligado à música que se distinguisse bem da electrónica electrónica, como surge o gosto atual, mas ao mesmo tempo, seguindo a linha da música electrónica de dança por este estilo na tua vida? mais comercial. O nome TSAS foi cria-

do com esse intuito, sendo interpretado como uma cadeia de ADN (séries de um algoritmo) que sofreu uma mutação, originando uma cadeia estranha e irreconhecível.

Às vezes surge-me uma melodia ou um som na cabeça e tento expor o melhor possível com a ajuda de alguns sintetizadores e outros instrumentos electrónicos.

Outras vezes, ao ouvir uma música de algum artista de que gosto muito sinto a necessidade de criar um tema que me faça sentir da mesma forma, com uma interpretação, por vezes, muito diferente do tema ou som original.

A existência de “uma série de modificações genéticas” deram origem à tua atual identidade artística que denominas por “Dino”, foi um processo natural e Recentemente (Março) lançaste repentino ou pelo contrario, algo um álbum através da editora mais pensado e programado? Brimotek Music de Málaga em Debruçando-nos sobre a ideia principal Espanha. Como surgiu a oporde como o TSAS foi criado, apercebetunidade? mo-nos de que a tal mutação artificial, ou induzida (“séries de modificações genéticas”) pode ser tornada bem real, dando origem ao, Dino, ser criado com base nestas condições, sendo por isso um processo “natural” no desenrolar deste projeto. Visto isto, Dino é a cara e a reafirmação do nome deste projeto, embora à partida não seja bem claro.

“Dino” está também ligado ao próprio som do TSAS, sobretudo nos temas de dubstep. Muitos artistas, como Skrillex, Knife Party e Nero, bem como fãs deste estilo, referem o baixo (bass) como “monster bass growl”, ou “dinossaur growl” como eu gosto de lhe chamar.

Dois dos meus primeiros temas, “Dino Song” e “DNA”, lançados no ano passado, refletem bastante essa ideia.

De onde “nasce” a inspiração para a criação de novos temas?

Eu tenho trabalhado com a Brimotek Music desde Abril do ano passado. A editora contactou-me na altura mostrando-se interessada em alguns dos meus singles (que estavam no meu SoundCloud) e desde então tenho tido a possibilidade de ver alguns dos meus trabalhos editados. Quanto a este álbum, surgiu a oportunidade de fazer uma compilação com alguns dos temas já lançados, incluindo alguns temas novos. Sendo assim, estive em “modo estúdio” desde o final do ano passado até Fevereiro para acabar os temas que faltavam e que viriam a servir de ponte aos temas já existentes.

Deste modo, pude criar uma certa harmonia neste álbum, embora com estilos um pouco diferentes, desde dubstep até electro e progressive-house, a que chamei “Afternoon Sweets”.

O teu EP acaba de ser lançado em todas as lojas itunes e beatport, o que podemos esperar destes seis novos temas?

Como definirias o teu espetáculo ao vivo para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de o assistir?

Este lançamento, de entre todos até agora, é o primeiro com “pés e cabeça”, visto ter sido produzido com esse fim em mente, não sendo uma compilação. O EP, intitulado “Je Suis Electrik”, segue um estilo de electro-francês (ou French Touch), com muitas influências de artistas como Daft Punk, Justice e Danger. Aconselho, para quem gostar muito de French-Electro, a comprar este EP, pois acredito que não terá nenhuma desilusão.

Uma das razões que distingue a minha performance da de outros produtores e DJs de electrónica é o facto dos meus fãs, ainda que conheçam bem as minhas músicas todas, poderem sempre ouvir algo diferente, pois tenho o cuidado de apresentar remixes e desconstruções dos meus próprios temas, de modo a que cada concerto seja único. Além disso, não é todos os dias que se vê um dinossauro a fazer música ao vivo (soriisos).

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ENTREVISTA DE KARINA SILVA FOTOGRAFIAS CEDIDAS POR VALTER CARVALHO AGRADECIMENTO A GLAM - Celebrity Management

DIOGO CARMONA

Com 17 anos de idade já conta com 11 anos de carreira. Diogo Carmona é ator, começou nos Morangos com Açúcar e daí seguiu-se vários projetos. O eterno Tomás Fritzenwalden de Floribella cresceu e hoje sabe que ser ator é muito mais que representar, é um “caminho de aprendizagem” continuo.

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ONVERSA

Como nasceu em ti o gosto Deste vida ao Tomás de Flopela representação? ribella, o que guardas hoje Desde bebé que assisti aos meus padrin- dessa experiência? Sentes hos fazer Revista à portuguesa e, desde que foi um projeto imporaí, que fiquei fascinado com a represen- tante na construção do que tação e descobri que queria aquilo para és hoje como ator? mim.

Guardo muitas recordações de pesMuitos imaginam o ser ator soas e momentos especiais da Floribella. como uma profissão de son- Foi, sem dúvida, um projeto que me fez ho, de riqueza e fama. O que crescer e amadurecer pessoalmente e também como ator. é para ti ser ator? É ser o que sempre desejei ser, como profissional. O meu sonho sempre foi ser actor e era esse o meu objectivo. Nunca me atraiu o lado da fama e da riqueza, sempre me coloquei à parte disso.

Já contas com 11 anos de carreira dentro dos teus 17 anos de vida, como defines o teu percurso?

Defino como um caminho de aprendizagem. A cada dia que passa sinto que estou sempre a aprender, todos os dias, com toda a gente com quem trabalho.

Cada projecto é novo e sinto-me a aprender sempre. É uma evolução infinita.

Foi fácil conciliar todas as necessidades de adolescente com a representação?

Sim, sempre foi. Felizmente fui sempre organizado e consegui conciliar tudo.

Diogo Carm ona em 2006 como Tomás em

Floribella em

itida na SIC

.

Qual foi o projeto mais marcante em que participaste até hoje? Porquê?

Acho que não houve nenhum, pois seria injusto nomear apenas um. Floribella, Morangos Com Açúcar, Dancin’ Days, Mulheres de Abril…. Entre tanto outros, que me deram muito prazer de fazer e construir personagens diferentes! Considero todos os projectos importantes e marcantes de diferentes formas.

Como profissional projetas-te em diferentes vertentes, moda, apresentação, dobragens e claro a representação. É uma mais-valia para um ator ser-se capaz de intervir nestas diferentes posições?

Muitas e muito difíceis de explicar. O teatro é algo que está a acontecer no próprio momento enquanto que na televisão só temos o feedback muito depois, entre outras coisas.

Claro, é óptimo poder variar de vertentes e poder ter a experiência de participar em desfiles, programas ou dobragens. É assim que nos tornamos mais experientes e polivalentes.

Já pensaste em representar fora de Portugal?

Tens preferência entre teatro, televisão ou cinema?

Eu gosto de todas, mas confesso que tenho uma enorme paixão pelo teatro.

Sim, claro. Qual o actor que não pensa? (sorrisos)

Como é um dos teus dias de Se não fosses ator terias preferência por outra profisgravações de novela?

São dias cansativos, mas também muito são? divertidos e produtivos, principalmente Não sei…. mas estaria certamente ligado quando sinto que dei o meu melhor e ao mundo artístico. termino o dia com aquela sensação de Como reagem os teus famildever cumprido.

Gostas de te ver na televisão ou és muito critico de ti próprio que preferes nem ver?

iares e amigos ao teu lado mais mediático?

A minha família já está habituada e os meus amigos vêem me como um rapaz normal.

Sou bastante critico, não costumo ver e quando vejo fico atento a qualquer erro Ainda és muito jovem mas e crítico-me bastante. com um percurso em cre-

Para ti quais são as maiores diferenças entre representar para televisão ou para teatro?

scendo, qual é atualmente o teu maior sonho?

Ser um actor cada vez melhor. E gostava muito de viver em Los Angeles. (sorrisos)

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Entrevista de apa

FILIPE NEVES

ENTREVISTA DE Karina Silva FOTOGRAFIAS DE Filipe Neves e Ramon de Melo AGRADECIMENTOS Shine Ibéria

Filipe Neves tem 22 anos e foi um dos concorrentes do Masterchef Portugal 2014 da TVI. Não venceu mas a sua enorme vontade em aprender aliada ao esforço e “exemplar educação”, como referiu o jurado e Chef. Miguel Rocha Vieira, fez com que este “ganha-se” um convite que considera ser ainda melhor e mais importante que ganhar o próprio concurso.

Neste momento e a convite do Chef. português Miguel Rocha Vieira (detentor de 5 estrelas Michelin) está em Budapeste a estagiar no restaurante Costes. É uma oportunidade que o próprio acredita que é importante para o seu futuro profissional. Antes desta grande experiência o Filipe estava desempregado, no entanto, o gosto pela cozinha e o sonho em poder ter o seu próprio restaurante fez com que este não desistisse de seguir em frente e em aceitar este convite.

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Consegues descrever a pri- sempre tentei coisas novas, dá-me imenmeira experiência que ti- so gosto cozinhar para outras pessoas, como sempre tive este gosto de dar um veste com a cozinha?

Já estava habituado à aquecer as refeições que a minha mãe deixava, mas no micro-ondas. A primeira vez que tentei fazer algo lembro-me que foi com o meu melhor amigo, tínhamos uns 10 ou 12 anos, estávamos com fome e fomos para a cozinha tentar fazer ovos estrelados, mas como não sabíamos ligar o fogão e também não nos era permitido por sermos muito novos, pensamos numa alternativa, a tostadeira, sem gordura sem nada, acabamos por não fazer nada de jeito, a nossa sorte foi um outro amigo mais velho que entretanto chegou e nos ensinou a fazer no fogão e nos estrelou os ovos, no final foi limpar a sujeira (sorrisos).

Em que momento da tua vida percebeste que o teu futuro profissional poderia passar pela cozinha?

Eu tirei desporto na escola porque foi algo que também tenho gosto e pratiquei, mas sempre me interessei pela cozinha, no meu grupo de amigos fui aquela pessoa que se interessou mais por fazer as refeições, querendo sempre mostrar o que aprendia com a minha mãe, inventar um pouco, não me bastava por o sal no bife e fazer arroz ou esparguete,

toque especial, a dada altura comecei a pensar, após trabalhar muito em várias coisas, que com o meu trabalho e dedicação podia ter um negócio meu que iria funcionar de certeza e foi ai que me surgiu a ideia de um restaurante, mas é preciso muito conhecimento e prática para além do dinheiro claro, porque a dedicação e empenho tenho de certeza.

Antes da tua participação no programa MasterChef, como era o teu dia a dia?

Presença assídua na cozinha de tua casa?

O meu dia a dia era trabalhar quando surgia, não gosto de estar parado, para além de gostar de ter algum dinheirinho no bolso. Desde a minha adolescência perdi o hábito de pedir dinheiro aos pais, sempre gostei da minha independência, quando não trabalhava estava com os amigos, passeava, praia, amêijoa, ver a bola, cozinhar sim senhora, combinava muitas vezes fazer jantaradas e petiscos e quando alguém fazia anos ou havia um jogo de bola quem já estava na cozinha era eu pronto para fazer tudo para agradar os meus. Em casa era a mesma coisa, mas sinceramente, também deixava a minha mãe cozinhar pois não existe cozinhado melhor que o da mãe.

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Entrevista de apa

Foi difícil “fazer acontecer” esta expedição?

Quanto tempo durou a pré-produção?

Salmonete com puré de batata-doce e salsifis uns dos pratos confeccionados por Filipe Neves.

Neste momento encontraste a percorrer a TOUR, até agora consegues destacar um momento marcante?

Como surgiu a ideia de te amizades que se criaram, o inscreveres no MasterChef que sentes quando pensas em tudo o que viveste com Portugal?

Surgiu quando estava a cozinhar na casa esta experiência? duns amigos e eles referiram, “porque não te inscreves num programa de culinária”, eu fui procurar na internet mas não encontrei nada e umas semanas depois começaram a passar os anúncios na TVI, foi a aí que combinamos outro jantar mas desta vez a filmar e concorri ao programa.

Foste a 51º escolha no Terreiro do Paço em Lisboa, consegues descrever o que sentiste nesse momento?

Não estava nada a espera, e foi bastante engraçado porque fui com o meu melhor amigo, estava farto de lhe dizer que na prova anterior os pratos que via de todos os outros concorrentes eram incríveis e não estava com muita espectativa, ele disse “não te preocupes se não passares eu digo a toda a gente que foste o 51º e por 1 não recebeste a colher”.

Posso dizer que me senti muito contente e motivado por chegar tão longe em algo que começou “porque não”.

Foram 10 episódios, muitas horas de gravações, muitos pratos confeccionados,

Foi de certo a melhor experiência que tive até agora, e aproveitei ao máximo, foi único, foi algo que mudou a minha vida para algo muito melhor. Conheci pessoas excecionais com muito talento e de todas as idades e respeito-os muito, fiquei com um grande carinho por todos, sem dúvida. Deram-me um grande apoio e ajudavam sempre que podiam. Eu sendo o mais novo havia muitas coisas que desconhecia e que nunca tinha feito e eles sempre estiveram lá para me ajudar, assim como o chef Joel e o chef Zé, sempre que tinha alguma dúvida eles estavam sempre bem dispostos e sem problemas em ajudar, dando muita força à mistura, assim como todos os chefes que nos deram masterclasses onde os que mais me marcaram e deixo um grande abraço ao Paulo Morais, Hugo Nascimento e Benoit Sinthon que apesar de não nos ter dado masterclass serviu de grande apoio. Lembro-me perfeitamente de ter feito o salmonete na prova mistério e no final da prova o chef Benoit me dizer, “Filipe, o teu peixe estava óptimo só me apetecia comer até ao fim”, e foram sem dúvida palavras que me alegraram muito. Sempre que penso no que percorri nesta temporada da minha vida recordo muitas coisas boas.

C

Entrevista de apa Além do que se viu no programa, viveste com todos os participantes dentro da mesma casa mais de 2 meses, queres nos contar como era o vosso dia-a-dia?

foi o pior prato dessa prova.

De toda a experiência qual foi a maior dificuldade que sentiste?

A maior dificuldade que senti foi na prova do croquembouche sem dúvida, muitos elementos, tempos e texturas, para além do caramelo que não é nada fácil de lidar, e a massa choux que tem que estar na textura perfeita, nem muito líquida nem muito grossa, foi das mais difíceis que realizei.

Estava sempre ao pé de boa companhia, quando não tínhamos gravações ou provas para fazer, ficávamos trancados a 7 chaves em casa onde ocupávamos o tempo a falar, contar anedotas, jogar as cartas, estudar, tentar dentro dos possíveis praticar pratos, cozinhar as nossas No momento em que saíste refeições, com as tarefas de casa e assim do programa, Manuel Luís passava o dia a dia.

Goucha referiu por duas

Consegues destacar uma dentro das várias receitas que preparaste no programa? E o porquê dessa escolha?

vezes “você é um vencedor” e que “se um dia tivesse um filho, adorava tê-lo como filho”. Para ti receber este elogio do Manuel foi imporA que me lembro com mais destaque foi tante? a do bacalhau à Brás na prova da saudade. Eu em casa estou muito habituado a fazer frango à Brás e não estando muito habituado a fazer bacalhau lembrei-me logo de uma birra de criança, fui a um restaurante com o meu pai e o prato que havia era bacalhau a Brás e quando o prato veio tinha muita salsa, eu em pequeno não podia ver nada verde no prato, como o meu pai está emigrado na Irlanda do Norte, pensei que seria uma boa escolha, para a saudade, mas

Foi muito importante sem dúvida, é uma grande pessoa. Sempre que o Senhor Manuel Luís me elogiava vinha a lágrima ao olho, foi sem dúvida um grande apoio, ainda para mais ouvir isso de uma pessoa de tão grande carácter, deixa-nos muito bem connosco próprios.

Sempre foi uma pessoa que me elogiava muito e me ajudava também, dando muita força, via quando eu evoluía e reforçava essa evolução. Fazia questão de dar força não sóJovens a mimTalentos comoMagazine a todos 15 os

Filipe em Budapeste onde se encontra a estagiar a convite do Chef. Miguel Rocha Vieira.

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Entrevista de apa

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concorrentes, e digo a todos que ele é uma excelente pessoa e profissional, muito sábio. Estava sempre a contar-nos as origens e histórias das coisas, muito culto, sabia nos colocar à vontade. Sempre de bom humor mesmo antes das provas que íamos cheios de stress e preocupação, ficávamos muito mais calmos e descontraídos, fiquei muito contente por ficar a conhecer esta magnífica pessoa.

Antes do grande convite do Chef Miguel Rocha Vieira, este afirmou diante de todos que te considerava um Já cruzaste com muidosteque mais evoluiu em tas de vida de todahistórias a competição, queeeras grande empreendedorisum exemplo de educação e mo, em que se destaca a úlde esforço, uma verdadeitima que conheceste? ra esponja de conhecimento e finaliza dizendo que és um “diamante em bruto que pode ser trabalhado”.

O Chef Miguel (detentor de 5 estrelas Michelin) é para ti um exemplo profissional?

Porquê?

do a trabalhar ao lado deste grande Chef vejo o excelente profissional que é, e o porquê das estrelas Michelin. Na cozinha o Chef tem tudo organizado de uma maneira excelente e sabe de tudo o que se passa, domina a 100 % tudo, como resolver os problemas, enquanto a sua equipa realiza as tarefas de cada secção o chef está presente em todas as secções, sabe comunicar, provar, é difícil descrever por palavras. Quando fiz o meu primeiro dia fiquei tão fascinado pela sua cozinha e pratos, as diferentes texturas e vertentes de um só elemento O voluntariado é prato. uma com várias criações no mesmo O “peça” de grande relevo Chef perguntou-me no primeiro dia “o neste e muito que achasteu dos projeto pratos?”, achei verdadeiras obras dedo arte voluntariado é que só apetece diferente abrir uma e pendurar osestão pratos que os galeria portugueses na parede, verdadeiras de arte. habituados por obras cá. O que

Ficaste de fora Masterencontraste alémdo fronteiras Chefrelação no 10º programa, mas em ao voluntariado em mesmo que participaste nesse momento na és ONG SAPANA? convidado pelo Chef Miguel

a ir para a Hungria, Budapeste, para estagiares com ele, local onde te encontras Sem dúvida um grande exemplo, alguém neste momento. Como está quem eu gostava de ser quando for a correr a experiência? “grande”, tudo o que o Chef Miguel tem é por mérito próprio, por esforço e dedicação, foi preciso muito trabalho para chegar onde chegou, hoje em dia estan-

Esta a correr muito bem, o chef tem uma equipa fantástica e muito bons amigos, sempre que estou a fazer algo que não é da melhor maneira estes alca-

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Entrevista de apa nçam-me e ajudam-me no que for preciso, mostram-me como fazer, cada dia que passa estou melhor e mais rápido e realizo mais e mais coisas. No início era difícil, não sabia onde estava nada e nem como fazer, hoje em dia é só olhar para a folha ver o que falta e fazer sem precisar perguntar nada, posso dizer de boca cheia que estou à adorar o que estou a fazer.

tou num bom caminho é preciso é não me desviar dele.

e com a experiência que estás aos poucos a adquirir, como descreves a profissão que estas a abraçar?

Quais são os teus grandes objetivos/sonhos para o futuro?

Como está a ser a tua adaptação em Budapeste?

Tem estado a ser muito boa, estou farto de passear e de ver coisas lindíssimas. É uma cidade muito bela com muito para ver e fazer, já fiz algumas amizades e como o inglês é universal não existe Neste momento da tua vida problemas em comunicar.

E uma profissão muito bonita, muito trabalhosa também, mas quando se faz algo que se gosta não cansa. Descrevo como uma cara metade, algo que da gosto passar horas e horas a fazer, e é algo tão vasto e infinito que nunca se para de aprender.

Sentes que esta oportuniNo inicio Março acondade será ade rampa de lançateceu um assalto ao local mento para o teu futuro onde irias dormir e onde profissional?

tinhas alguns dos teus ob-

Sinceramente não gosto muito de pensar jetos, sentiste algum receio no futuro, mas sim focar-me no presente, quanto queondepudesse mas sim, sinto ao que estar estou hoje, acontecer de ali emfuturo, diante vai-me ajudar muito no meu pois percurso aperante experiênciaoquelongo estou a adquirir é muidelineado tua Tour? to boa e todos para os diasapasso para um nível diferente, e sim posso dizer que es-

Ter o meu restaurante com o meu melhor amigo, mas ainda tenho muito que ver e aprender, e ser pai porque quero passar os meus genes e ter a alegria de ter uma criança, mas também é cedo ainda.

Um dos pratos confécionados pelo Filipe em Budapeste

PROJETO DE Pedro Pena Bastos Teresa Sousa Chaves

ENTREVISTA DE KARINA SILVA FOTOGRAFIAS CEDIDAS POR REVOLTA DO PALATO

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Como surgiu a ideia de criar momento com a própria evolução natural do negócio, a Revolta do Palato, em conjunto este projeto?

Surgiu da necessidade de colocarmos em prática os nossos conhecimentos, e de querer satisfazer os clientes de um modo personalizado, ao contrario do que existia na altura.

transformou-se numa marca que alia vários projectos, nos quais estamos permanentemente envolvidos.

O projecto está a corresponder ás vossas expectaO nome “A Revolta do Pala- tivas? to” leva-nos a imaginar uma Nunca criamos altas expectativas. Semtransformação de sabores pre demos e damos, o máximo por cada oportunidade. e texturas na vossa cozinha.

Cada novo cliente é um praFoi fácil “batizar” o vosso to vazio que começam a projeto? compor. Como surge a inspiO nome acabou por surgir de forma natural, logo após termos definido o ração para cada trabalho? conceito e o rumo que gostaríamos que A inspiração para cada trabalho, é influenciada pelo tipo de trabalho que nos a projecto tomasse.

Em que consiste e como fun- propõem e sucessivamente adaptada.

Mas, por exemplo, de um modo geral, ciona o vosso projeto? na concepção de Menus, tudo está relaNuma fase inicial, dedicávamos a totali- cionado com a Cozinha, desde a nossa dade do tempo á realização de eventos infância e experiências de vida, métodos privados, bastante exclusivos, para uma dos nossos avós e do meio rural onde média de 15 pessoas por evento. Entre- crescemos, as técnicas mais modernas, tanto começámos a trabalhar em par- produtos específicos sazonais, texturas e ceria com algumas empresas, o que nos geometrias naturais dos elementos que levou a reestruturar todo o nosso serviço nos rodeiam, basicamente, tudo acaba e oferecer uma maior capacidade de por influênciar de certa maneira o nosso resposta. Numa fase posterior, surgiu a conceito e aquilo em que acreditamos e possibilidade de nos iniciarmos na área sobretudo nos identificamos. de Consultoria , de vários géneros, no Já vos fizeram algum pedido sector da restauração, como foi o caso engraçado ou diferente do do Grémio Literário, em Lisboa. Neste

habitual?

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O facto de realizarmos e eventos personalizados, coloca-nos por si só muitas vezes em posições fora do habitual. Todos os eventos são diferentes e feitos propositadamente para cada cliente conforme os seus gostos, por vezes exigindo uma adaptação fora do normal. Mais do que situações engraçadas são situações desafiantes e pedidos mais exigentes ou fora do vulgar que vão marcando o nosso caminho. Podemos referir aqui situações como, a de um cliente que pede para que na sua festa de 80 anos façamos aqueles lagostins como comia quando era nova, noutro caso, eventos que nos fazem percorrer norte a sul do país como inaugurações de exposições de arte em que o cocktail servido é inspirado, baseado, interligado e apresentado de acordo com a exposição em questão.

Conseguem encontrar o “ingrediente” que é mais utilizado na preparação dos vossos menus? E porquê?

Sem dúvida a devoção por aquilo que gostamos e defendemos. Porque acreditamos que só com muito trabalho e dedicação, conseguimos proporcionar ao cliente algo verdadeiramente único.

Qual é o tipo de comentários que recebem dos vossos clientes depois de provarem os vossos pratos?

Penso que não há um padrão de frases a qual nos possamos limitar, mas há muitas reações de surpresa, felizmente até agora na sua maioria sempre positivas.

Alguma vez pensarem em criar o vosso próprio restauÉ comum referir segredos rante, em conjuntou ou até da cozinha quando se fala mesmo em separado? em gastronomia. A Revolta Sem dúvida que é um dos nossos prindo Palato tem algum “segre- cipais objetivos enquanto profissionais do” possível de ser revela- na área. Ter um espaço onde podemos mostrar a qualquer pessoa todas as nosdo?

Trabalhamos sem segredos, apenas seguimos uma linha de objectivos específicos e método organizacionais que nos ajudam em cada situação. Talvez seja esse o nosso segredo.

sa ideias, filosofias e criações. Mas nao temos qualquer pressa, certamente que surgirão oportunidades e o mais importante agora é focarmo-nos nos desafios que aparecem.

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Onde gostariam de ver chegar no futuro a Revolta do Palato?

Existem muitos projetos e planos que esperamos conseguir por em prática… dentro deles claro está o restaurante, mas ainda outros mais fora do vulgar, mais dinâmicos, mais criativos, projetos que todos eles tem como ponto de partida a ideia de elevar a Cozinha, a um standard mais exclusivo, e a forma como a mesma é vista por parte do público português.

CONTACTOS: Página de Facebook “Revolta do Palato”.

E-mail revoltadopalato@gmail.com, ou pelo telefone 912670852\912195346

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FALTAS TU No calor intenso daquela cozinha, Júlio respirava com dificuldade. Mais por capricho do patrão que por outra coisa, calhava-lhe sempre a preparação das batatas, o empratamento, e a fritadeira. Naquela agitadíssima noite da Póvoa de Varzim, as horas de um turno parecem infinitas. Nem todas as noites são o São Pedro, mas todas as outras juntas cansam igual. Com o barrete encharcado de suor, procurava estar acima dos gritos, do chocar doloroso das louças, do calor do óleo que manuseava para fritar batatas – e do pouquíssimo tempo que dormira na véspera.

Era o costume. Discutira até tarde com o pai e com a companheira, ambos enfrascados. Em desespero, bateu-lhes a porta e enviesou pelas ruas, queimando tabaco nervosamente. Entrou no café, mas não ficou lá muito tempo. Os seus costumeiros, vendo-o a sair em tão evidente sofrimento, tentaram ajudálo, mas ele deixou claro com uma resposta torta que preferia prosseguir sozinho. Mesmo após deitar-se, sob os lençóis e de olhos fechados, vociferava pelas ruas mal iluminadas daquele bairro, com o coração aos saltos, e um avassalador medo a apertar-lhe a garganta.

Lutava contra os dias, que, queimados como cigarros, em partes iguais desnecessários e imprescindíveis, lhe acumulavam alcatrão na alma. A farda lavava-se e passava-se, a barba fazia-se, mas o sol perdia a cor, e o ar não satisfazia o peito. Os turnos tinham o condão de alongar a noite, e cada vez os amigos pareciam mais longe.

A solidão feria-o. Nos quelhos por onde se arrastava, ouvia o som distante dos ensaios da rusga, na escola primária da Giesteira. Com olhos mortos de cansaço, ouvia os risos e o marchar. Finalizavam-se prepara-

tivos para as festas onde levariam o branco e azul claro do Bairro de Belém às ruas dos outros bairros.

Bendita rusga, na qual não podia ir este ano. Fosse esse o seu mal maior!

Rondava a meia-noite no dia 28 de junho naquela cozinha. Os pés pareciam caminhar sobre vidro. Não poucas vezes olhou para a saída de emergência, sonhador, mas logo notava o seu patrão a controlá-lo.

A cozinheira via nele um bom ajudante de cozinha, mas o patrão tratava-o como uma bomba-relógio, e, infelizmente, tinha o seu quê de razão. Júlio era tão difícil como a sua vida, e os outros faziam disso o que queriam.

Perante o fervilhar oleoso da milésima porção de batatas, sentiu a vibração do seu telemóvel. Não vendo o patrão perto, abriu a mensagem. Era do seu pai. Uma missiva curta, concisa e certamente bebida.

“Sai de casa.”

Trespassado, ficou algum tempo a procurar fazer sentido daquelas três cruéis palavras. O calor multiplicou-se, sufocando-o. Olhou em volta, sem associar significado a objetos ou pessoas. “Sai de casa.”

“Sai de casa.” Quando voltou ao óleo, e dele retirou uma porção queimada, voou sobre outras planícies do pensamento, sentindo uma tão forte vontade de beber, de fugir, de recair no antigamente… foi o suficiente para, numa distração, se queimar.

Num espasmo, foi contra o ajudante de copa, que perdeu o equilíbrio dos pratos e os perdeu de encontro ao chão. Saltaram cacos de porcelana, e ecoaram gritos no alumínio; o stress levava a melhor a todos. Chegado o patrão, e percebido de quem era o acidente, este não perdeu a oportunidade para insultar Júlio, começando pela mãe. Comparava-o ao pai bêbado. Um inútil! Acusava-o de ter vindo bêba-

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do trabalhar, e amaldiçoava a oportunidade que lhe tinha dado, um sem emenda, um delinquente.

Júlio pulsava. Pulsava. Pulsava! As marteladas no coração trucidavam-lhe a lucidez. Via tudo em tons de raiva… e a meio caminho do seu patrão, a ferver pacientemente, o óleo. Toda a cozinha congelou quando o viu caminhar de encontro ao patrão. O braço direito estendia-se para a rede das batatas queimadas. Era mesmo isso! O abusador sairia desfigurado num gesto apenas, uma infame fração de segundo. Longíssimo de ponderar consequências, estava a um só passo do patrão.

Até que, lá fora, por entre o chinfrim da Rua de António Graça, do povo ensardinhado por entre braseiros e mesas de cozinha com broa, vinho e minis, ouviu uma banda e uma canção. Alguém gritava. “É Belém! É Belém, vêm do Norte!”

Num silêncio tumular, a cozinha esperava-lhe a reação. O patrão olhava-o ainda desafiante. Júlio baixou a mão que arruinaria uma cara e duas vidas.

Atirou o barrete para o chão, tirou o avental e deu um passo para a porta de emergência. Outro. E mais outro, já desenfreando uma correria. Desembocou na rua, indo ter com aos pares de Belém, através da criançada, da banda, dos pares adultos, do coro.

Todos estavam cansados: eles por carregarem em braços os arcos iluminados do Belém, elas com os pés em suplício por usarem as chinelas da tricana… e Júlio gritou com toda a sua força, com toda a sua vida, com tudo de si.

“Vamos lá caralho! Vamos lá Belém! Somos os maiores! Viva Belém! Viva Belém!”

Naquele momento, todos perderam as dores. O sorriso das lindas tricaninhas, “mulheres do povo com pose de rainha”, regressou em pleno. Risos! Saiu a canção mais forte. Voltaram as forças e o orgulho, e a rusga branca e azul clarinha prosseguiu pelas ruas da Póvoa, para uma viagem que ainda desfilaria pelo branco e vermelho da Matriz, o verde e

branco do Sul, cruzando-se com as rusgas do Norte, da Mariadeira e do Regufe, com centenas de almas a cantar na noite, antes de todas irem para suas respectivas fogueiras, com vinho, caldo verde, bifanas, sardinhas e amor.

Porém, Júlio não os acompanhou. Caminhou penitentemente até à casa que não o queria – atravessando quilómetros de música e festa, e foi-se deixar-se abater em casa, diante da porta aberta, esperando pelo regresso inevitável do pai e da companheira. As lágrimas desciam-lhe pelo corpo, prostrado perante tudo e todos, certo e sabido de que nunca conseguiria a guarda do irmão mais novo. Passou-se o tempo. Sem nono ano, sem família, amigos, sem rusga… só com um intenso cheiro a fritos e a certeza de ter perdido ainda mais um emprego, e de que, afinal de contas, o destino está mesmo traçado.

Mas eis que se liga uma luz. Ergueu os olhos, embriagado de sentimentos, e as lágrimas turvaram-lhe uma visão azul e branca. Limpou-as com o antebraço.

Uma visão de chinelas, saia, meias, avental azul claro brilhante, revestido de brilho. Lenço transparente ao pescoço; puxo de rede no cabelo, e broche ao peito, de uma flor azulada reluzente. Sem maquilhagem: apenas uma face morena, majestosa, tão, tão elegante, de uma belíssima tricana poveira do seu bairro, que lhe ergueu a mão, sorrindo imensamente…

“Estamos à tua espera”, disse. “Faltas tu”.

Guilherme Mesquita guismesquita@gmail.com

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Projeto de Alexandra Mendonรงa

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Como surge a “Sou Sweet” estamos a preparar a abertura da nossa loja fixa. na tua vida?

A Sou Sweet surge de uma enorme Os gelados são feitos artepaixão pelos gelados. Os meus gela- sanalmente e com ingredidos, feitos em casa, eram muito aprecia- entes naturais, é a Alexandos pelos nossos amigos e família que dra que os prepara? me incentivaram a vendê-los para que os pudessem levar para casa. As encomendas começaram a ser tantas que decidimos criar um nome e uma marca.

Daí surgiu a Sou Sweet. Achei que seria uma ótima oportunidade para contornar o facto de estar em período de férias escolares e de não ter uma colocação a tempo inteiro como professora.

Numa fase inicial os gelados era feitos por mim, mas assim que começou a tomar maiores proporções senti a necessidade de delegar essa tarefa a um profissional que me assegura a parte da produção para que eu me possa dedicar ao marketing, gestão e venda dos gelados.

O Mário, meu marido e designer gráfico no seu próprio estúdio (CutLab Design), começou a esboçar a imagem das primeiras embalagens e as ideias foram surgindo, até que pensamos que a melhor maneira de fazer chegar os nossos gelados a toda a gente seria vendê- los como antigamente, numa bicicleta, percorrendo as marginais da cidade.

aprendendo de forma autodidata e que fui aperfeiçoando ao longo do tempo.

Já sabia confecionar gelaFoi a Alexandra que ideal- dos antes de criar a marca? izou a imagem da bicicleta? Sim, tinha as minhas receitas que fui

Como funciona diariamente a Sou Sweet?

Ao longo da semana vou gerindo a calendarização, respondendo às mensagens e e-mail ́s de forma a preparar os eventos que normalmente se realizam ao fim de semana. Neste momento

Quais são os sabores que podemos encontrar no seu “carretino”?

Na nossa loja sobre rodas, vendemos gelados artesanais de vários sabores que são servidos em cone ou em copo.

Temos sorvetes de frutas (morango, manga, maracujá, limão) e gelados cremosos (chocolate, baunilha, stracciatella, caramelo&amendoim). Tentamos diversificar os sabores atendendo ao tipo de evento e aos pedidos dos nossos clientes.

À O projeto funciona sempre sobre rodas e por isso o local varia, quais são os lugares onde podemos encontrar a “Sou Sweet”?

Este ano o “Carretino Sou Sweet” vai estar em vários eventos como o Urban Market, Mercado Porto Belo, Porto Sunday Sessions, entre outros. A nossa agenda já está bastante preenchida também com vários eventos privados como casamentos, festas de empresas e de crianças um pouco por todo o país.

O ponto de venda fixo, tão pedido pelos nossos clientes, vai surgir mais cedo do que prevíamos. Fomos convidados para fazer parte do projeto das novas Galerias Lumière na baixa do Porto que abre já no mês de julho. Vamos dar inicio a uma nova etapa da Sou Sweet à qual me vou dedicar a 100%.

Qual é o tipo de comentários que recebe quando algum cliente conhece o seu projeto e prova um dos gelados pela primeira vez?

“Hmm, é fruta mesmo!” É o comentário que mais ouvimos depois de provarem os nossos gelados pela primeira vez.

Já teve alguma reação inesperada ou engraça que a tenha surpreendido?

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É sempre surpreendente quando os nossos seguidores nos dizem que foram de propósito ao evento porque viram na nossa página que iríamos lá estar, principalmente aquelas que vêm de longe.

Deixam-nos muito felizes.

Este projeto já conta com mais de um ano de existência e com mais de 2 300 likes no Facebook , correspondeu às suas espectativas iniciais?

Sem dúvida que superou todas as expectativas. O apoio de todos os fãs é fundamental para crescermos.

Não vende os seus gelados só pelas ruas do Porto e Matosinhos, em que tipo de eventos já participou?

Já participamos em vários eventos Urban Market, Pink Market, BioBlitz Serralves, Mercado Lionesa, Família desce à Rua, Mercado Porto Belo, entre outros e vários eventos privados por todo o país.

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É um projeto com raízes no Como é que a podem conPorto, já pensou no futuro tactar? expandir para outros locais? Podem contactar-nos através da nossa Sim, já pensamos nessa possibilidade página numa fase posterior. Já têm surgido www.facebook.com/sousweetgelados ou do nosso e-mail várias propostas. Até para Londres... sousweet@mail.com

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Traição Noite após noite os corpos fundem-se no colchão. Repete-se a experiência nula de viver a cada dia para acordar de madrugada, qual desassossego do cego na rua. Pudesse o sono trazer à memória alguma ideia que antes não ousasse ter surgido. É que sem tema não há história, e sem vida não há temas.

Um primeiro contacto com o mundo para que dele desaparecesse o que já lhe conheço. Das pessoas apenas o melhor, e do tédio somente o descanso. A beleza, na sua natureza inquieta. Jamais poderia amar 1“as coisas doces, se não são picantes; ou as coisas brilhantes se ao mesmo tempo não queimam.”

Mas beleza está essencialmente nos olhos. Só há duas maneiras de se encontrar numa mesma coisa, igual beleza. Ou não lhe assiste beleza, e por istoz não merece discórdia. Ou alguém mente.

Sabotagem é do mais elementar no Homem, não há nele outra abordagem que se conheça; 2“pede ao sol mais sol, ou à chuva menos chuva.” A traição da condição.

Eu, se não tivesse um espírito fraco, recuperava ao acordar a capacidade de amar no mundo a quietude; o que por não ser mau, ou grave, é já de grande fortuna. É que a cada novo dia há um que se subtrai.

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Livro: BRONTE, Charlotte - Shirley (Os Caminhos do Amor) Filme: Memórias de uma Gueixa (citação inspirada no filme mas não transposta na integra)

Ana Pichel http://indiewood.tv/videos/6/205/showreel-2013#.U4uOrZRdUWl

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ENTREVISTA DE KARINA SILVA PROJETO DE JOﾃグ VASCONCELOS e MIGUEL RODRIGUES FOTOGRAFIAS CEDIDAS POR OVO EDITORA

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Em consiste a Ovo Editora? que transcenda questões autorais. Não A Ovo Editora neste momento é um aglomerado de projetos, alguns deles ainda a tomar forma, outros com uma estética e objectivo mais definidos.

A ideia é disponibilizar trabalhos gratuitamente online, realizando ao mesmo tempo concertos e eventos que possam mostrar uma paleta cada vez mais diversificada de artistas.

sei, é um sonho ambicioso, mas sonhos realistas são um contra-senso...

Durante bastante tempo tanto eu como o Miguel andámos a desenvolver projetos musicais paralelamente a tudo o resto, mas sem nenhuma intenção definida.

Os nossos caminhos voltaram a cruzar-se num ponto em que ambas as partes queriam tirar as ideias da gaveta e pô-las em prática.

A Ovo Editora começou porque queríamos um conceito abrangente, ao invés de impor os limites formais de “uma banda”...

de Junho tivemos a honra de poder realizar no Copos e Cusquices, um bar na Rua do Almada, o primeiro evento organizado pela Ovo Editora.

Foi eclético, imprevisível e com todas as marcas de uma iniciativa recém-nascida, mas que nos fez acreditar ser possível acontecerem muitos mais.

Se neste primeiro evento o foco foi a música, com atuações de diversos artistas e bandas, alguns dos quais verão trabalhos seus a ser editados na Ovo nos próximos meses, gostaríamos muito de ter pessoas dos mais diversos quadrantes artísticos a colaborar em datas futuras.

Fotografia, ilustração, cinema, performance, literatura... Estamos abertos a que tudo isso possa acontecer.

Um dos objetivos é a criação de concertos com características mais abrangentes do que o habitual, o que se pode esperar de um evento produzido pela Ovo EditoComo surgiu a ideia de cri- ra? ar este projeto?

No passado fim de semana de 27 e 28

Qual é o grande objetivo da Editora?

O grande objectivo da Ovo Editora será crescer até ultrapassar qualquer tipo de ligação ao artista como indivíduo, ou seja, gostaria muito de ver a Ovo Editora a ganhar vida e autonomia como um aglomerado de projetos das mais diver- É um projeto bastante resas naturezas e proveniências. cente, no entanto já colaboUma plataforma para expressão artística

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ram com algumas bandas e mos ajudar mais artistas a desenvolver artísticas, como está a correr o seu trabalho, porque na nossa opinião as coisas fazem sentido quando se esas primeiras incubações?

Está a ser um processo fantástico, porque ter a oportunidade de assistir em primeira mão ao desenvolver de ideias e talentos tão diferentes uns dos outros é um privilégio. Sentimo-nos com muita sorte por ter na nossa órbita as pessoas que temos, e esperamos que venham a surgir muitas mais.

tabelece uma comunicação com outrem, quando o nosso trabalho diz alguma coisa a alguém. O que o nosso trabalho diz de nós próprios (dos autores, queremos dizer) é uma questão vazia...

Qual é o papel da música atualmente nas vossas vidas?

É um bem essencial. Cultura é um bem essencial, muito embora nos tentem convencer do contrário. Não é, nem pode ser um luxo, uma extravagância, uma pessoa ir ver um concerto, uma exposição, uma peça de teatro, seja o que for...

O que queremos dizer com isto é que é necessário para mantermos a nossa humanidade, para termos uma perspectiva mais ampla das coisas, para nos comovermos, para rirmos...

Fazer falta... O que faz falta é dinheiro Podiam ser dados milhares mais de arpara animar a malta. Infelizmente não gumentos, é uma discussão demasiado sabemos mesmo responder a essa per- grande e nós muito pequenos... gunta sem passar por essa questão.

Onde gostarias de ver cheTemos tanta gente por aí com ideias tão gar a Ovo Editora num futuboas, mas que não tem tempo nem possibilidades de as pôr em prática. Estamos ro próximo? a fazer as coisas com orçamento zero, O mais longe possível. Autónoma de tomas com um profundo amor ao que vai dos nós! sendo feito. Temos de acreditar que aquilo que fazemos é de alguma forma, por pequena que seja, importante. Quere34 Jovens Talentos Magazine

O panorama nacional atual em relação às artes e aos artistas não funciona nas melhoras condições, sentem que este projeto fazia falta no sentido de ajudar os artistas a conseguir avançar com os seus projetos musicais?

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POR: Catarina Guiomar

MIMETISMO O território delimita o espaço habitado pelo Ser Humano, ele faz parte integral da nossa condição. Sem darmos conta, o nosso corpo acaba por moldar-se em relação às formas, texturas e tonalidades, e fundir-nos em relação ao espaço.

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