Biografia Ilustrada de Jorge Ben Jor
Ăndice
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Introdução Sacundin é a biografia do rei do sambalanço: Jorge Ben Jor. Livro ilustrado que relata vida, obra e, especificamente, a trajetória do músico na década de 60. São imagens e curiosidades sobre seus discos e sucessos, além das histórias, dos movimentos artísticos que o cercavam e de um perfil que humaniza o homem que parece nunca parar de sorrir. Para aqueles que são fãs, ou não, do Jorge…”aquele abraço”.
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22 de março 1942 Brasil. 22 de março de 1942. Num país
Jorge, o Ben Jor, ganhou um pandeiro aos
tropical, e bonito por natureza, nasceu Jorge
13 anos e aos 15 já cantava no coro da Igreja
Duílio Lima Meneses. Carioca, filho do can-
do Colégio Diocesano São José, onde estu-
tor, e compositor carnavalesco, Augusto
dou. Como qualquer jovem, repensou sua
Meneses e da etíope Silvia Saint Ben Lima,
vocação. Quis ser jogador de futebol, serviu
veio ao mundo aquele que faria da alegria o
o exército. Mas aos 18 ganhou um violão e,
excesso crucial de sua música.
também, a paixão por tocar bossa nova e rock para os amigos já admiradores. 07
Ao centro, agachado, em momento futebolĂstico
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Jorge Ben com sua m達e, Silvia Saint Ben Lima, em registro de 1969
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...Mas que nada Em 1961, deu início aquela que seria uma das mais fascinantes trajetórias musicais de um brasileiro. Ben Jor começou como pandeirista, ao lado do Copa Trio, e em 1963 realizou sua primeira participação em estúdio, como crooner nas faixas “Mas que nada” e “Por causa de você, menina”, ambas de autoria própria e componentes do LP “Tudo azul”, do músico Zé Maria. Ainda neste ano, foi contratado pela gravadora Philips e gravou seu primeiro LP, “Samba esquema novo”, no qual se consolidou com a canção “Chove chuva”. Disco de sucesso, vendeu cerca de 100 mil cópias. No ano de 1964, em meio a um Brasil que presenciava o Golpe Militar, Jorge Ben Jor continuava sua carreira harmoniosa e lançava os discos “Sacundin Ben samba” e “Ben é samba bom”. 10
O cantor no início da carreira; e, com seu fusca e violão
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No ano seguinte, foi para os Estados Unidos, graças à um convite do Ministério das Relações Exteriores, e se apresentou, durante três meses, em alguns clubes e universidades. Lançou, ainda em 1965, o LP “Big Ben”. Porém, após seu retorno ao Brasil, teve dificuldades em se reencaixar ao panorama musical brasileiro. Por um lado era ofuscado pela adorada Jovem Guarda e, por outro, não era compositor de sambas engajados com as causas
Em um boteco, foto para reportagem do Jornal do Brasil
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sociais vigentes. Tal situação foi agravada pelo relativo fracasso de seus dois últimos LPs e pela embaraçosa visita a programas televisivos antagônicos, como O Fino da Bossa, e o Jovem Guarda, ambos da TV Record. Quem se apresentava em um não ia ao outro. O que, para Jorge, não foi obstáculo. Além disso, os três discos seguintes, lançados pela Mocambo, foram mal recebidos por público e crítica.
Com André Midani, um dos principais executivos da indústria fonográfica entre os anos 1960 e 1990
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A Tropicália Ainda assim, em meio a maracatus e rock’n roll, Ben Jor lançou, em 1967, o LP “O Bidu – Silêncio no Brooklin” e tornou-se um dos responsáveis tanto pela fixação do funk na cultura carioca quanto pela injeção da soul music no samba. Talvez devido a musicalidade moderna que apresentava, no ano da Tropicália, movimento cultural brasileiro representado por nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Os Mutantes etc., Jorge Ben Jor foi um dos poucos artistas, já consagrados, convidados a participar. Um movimento que mesclou cultura pop estrangeira e nacional, tradições brasileiras e revoluções estético-artísticas. Fortemente influenciado pelo Movimento Antropofágico, aquele da Tarsila, dos Andrade e da Pagu, unia-se a cultura de fora, como os acordes da guitarra, ao clássico som brasileiro. Numa arte pop, mas não menos concreta, nada mais justo que a presença do sambista maravilha. Em 1968, apresentou-se no programa Divino maravilhoso, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que compuseram a canção de mesmo nome, transmitido pela TV Tupi. Ben Jor participava ao lado de Os Mutantes, Gal Costa e o conjunto Os Bichos. 14
Com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa e os irmãos Sérgio e Arnaldo Baptista, na estréia do programa Divino, Maravilhoso, da rede Tupi
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Jorge Ben em uma de suas apresentaçþes
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Em 1969, integrou o IV Festival
das novas gerações, como Mundo
Internacional da Canção, na TV Globo,
Livre S/A (em “Samba Esquema
no qual interpretou “Charles, anjo 45”,
Noise”) e Belô Velloso (“Amante Ama-
música de sua autoria que faz parte do
do”). Além disso, “Mas Que Nada” está
LP “Jorge Ben”. Outras músicas tam-
registrada nas vozes de Ella Fitzgerald,
bém se consagraram, no mesmo disco,
Dizzie Gilespie, Julio Iglesias, Al
como “Crioula”, “Domingas”, “Cadê
Jarreau, Trini Lopez, Fred Bongusto,
Teresa”, “País tropical”, “Take it Easy
Mina, Nicoletta, Los Hermanos Castro
my Brother Charles”, “Bebete, vamos
e em diversas outras gravações de
embora” e “Que pena”, todas escritas
cantores e grupos musicais do mundo.
por ele. A década de 60 foi apenas o início da Mesmo sendo apreciador da bossa
trajetória do nosso Jorge, do rock sam-
nova, e de seu mestre João Gilberto,
bado, do negro que emana felicidade
sempre teve levadas vocais, e instru-
ao cantar esse “samba que é misto
mentais, inovadoras. Influenciou o
de maracatu, é samba de preto velho,
sambalanço e foi regravado e ho-
samba de preto tu”.
menageado por inúmeros expoentes
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1963
Samba Esquema Novo Universal Music 1963 1. 03:01 Mas que nada 2. 02:21 Tim, dom, dom 3. 01:29 Balança pema 4. 01:59 Vem, morena vem 5. 03:02 Chove, chuva 6. 02:06 É só sambar 7. 02:15 Rosa, menina Rosa 8. 02:22 Quero esquecer você 9. 02:09 Uala uala-la 10. 03:04 A tamba 11. 02:11 Menina bonita não chora 12. 02:58 Por causa de você menina
Samba Esquema Novo Um esquema novo. Foi fazendo isso, li-
Na época de ouro da música brasi-
teralmente, que Jorge Ben Jor ganhou
leira, entre 1930 e 1945, surgiram nomes
espaço em tempos nos quais a bossa
como Noel Rosa, Dorival Caymmi,
nova, e aquele seu cantinho e violão, rei-
Carmen Miranda, Orlando Silva, Custódio
navam sob o meio musical. Lançado em
Mesquita e muitos outros artistas que
1963, o LP Samba esquema novo ia con-
marcaram tal cenário. Daí para a consa-
tra todas as concepções da bossa e abriu
gração da bossa nova, e dos imponentes
espaço ao cantor/compositor que sabia
nomes que dela surgiram, foi questão de
brincar, e harmonizar, com as palavras.
pouco tempo. Afinal, o mercado estava
Mistura de soul e funk, tinha um estilo
aberto a novas experiências, o público
próprio e um ar negróide que encantou
mostrava confiar em novos talentos e es-
os brasileiros de todos os gostos.
ses, por sua vez, não hesitaram em lançar suas tendências perante aquele vasto
O destaque maior do disco estava nas
solo musical que emergia. Nesse con-
canções “Mas que nada” e “Por causa de
texto, aparece Jorge Ben Jor, o carioca de
você, menina”. Um samba que de tradicio-
samba diferenciado, e que ia além das
nal só tinha o nome e que fez do Jorge o
já estagnadas noções da bossa, daquela
“bem” tão amado pelo Brasil.
doçura que soava como vento no rosto. 21
Ben Jor chegou com a mesma simplici-
nova vertente sambista. Enxergou ao
dade de letras e sentimentos, mas com
instrumento como algo além, como um
mais agito e suingue.
mestre de ritmo. Por isso, tantas vezes,
O tal vento que a bossa jogou nos rostos de seus admiradores vinha agora,
dispensava o contrabaixo em suas canções.
por meio de Jorge, acompanhado de um pouco de areia. Sentia-se algo mais forte, mas não menos leve e bem-vindo.
O sucesso foi instantâneo, mas, como qualquer bom artista, Ben Jor também foi alvo de criticas que diziam duvidar da
Com um balanço nunca visto, no qual a batida do violão aliava-se a uma linha
do concretismo de seu talento. Melo-
melódica renovada e moderna, somadas
dias tidas como infantilizadas, harmonias
a letras sutis e talvez ingênuas, nascia
como empobrecidas pela candura das
uma nova maneira de interpretar o sam-
letras, foram algumas das injustiças ditas
ba, que ele mesmo chamou de esquema
sobre o cantor. Seu disco, entretanto,
novo. Esse, então, re- velou um caminho
alcançou a cifra de 100 mil cópias vendi-
diferente em meio aos horizontes da
das, em apenas dois meses, um recorde
música popular. Seu modo de tocar
para a época.
violão, que para tantos críticos era visto como errôneo, nada mais era do que uma
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permanência de seu sucesso, bem como
Justamente pela exuberância, e que-
quecer de “Por Causa de Você, Menina”.
bra de paradigmas, o “Samba Esquema
Feita para um amor platônico, com voz
Novo” é comparado a grandes discos
delicada e uma marcação pulsante. Envol-
como “Chega de Saudade”, “Tropicália ou
vente, dançante e, principalmente, feita
Panis Et Circenses” e “Secos & Molha-
para ser eternizada.
dos I”. As letras, facilmente assimiláveis,
Foi dessa forma que o artista conquis-
tinham como cenário um Brasil de
tou músicos, críticos e incontáveis fãs. As
deuses africanos, de drásticas mudanças
tais canções pouco elaboradas e ingênu-
climáticas, de samba de fundo de quintal.
as, de pureza inquestionável, mostraram
Era o Brasil de todos os rostos.
ser a prova de um astro que soube como inovar da maneira mais singela e madura.
“Balança Pema” é mais uma canção
Não há quem fique parado ao ouvi-lo,
irreverente, com Jorge cantando “Pois
não há quem questione a destreza e
quando você sambalança/Sambalança
quiçá genialidade ao compor. A beleza
meu coração também/Ele sambalança
das coisas, afinal, nem sempre está no
certinho/Juntinho com o seu vaivém”.
mais rebuscado, mas naquele que sabe
Em “Chove, Chuva”, o lirismo e o emo-
expor os mais belos e intensos sentimen-
cional são tão marcantes, que a letra
tos descomplicadamente, por uma voz
amolece os mais duros corações. Para
universal: a que sai do coração.
finalizar o disco clássico não se pode es-
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1964
SACUNDIN BEN SAMBA
Universal Music 1964
1. 02:48 Anjo azul 2. 02:52 Nena Nana 3. 02:32 Vamos embora “uau” 4. 02:48 Capoeira 5. 02:35 Gimbo 6. 02:33 Carnaval triste 7. 03:25 A princesa e o plebeu (O plebeu) 8. 03:31 Menina do vestido coral 9. 02:28 Pula baú 10. 03:04 Jeitão de preto velho 11. 02:04 Espero por você 12. 03:14 Não desanima João
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Sacundin Ben Samba
Terceiro disco de sua carreira, Sacundin Ben Samba é o segundo álbum lançado no ano de 1964. Em tal fase, sua obra já repercutia em terras estrangeiras, principalmente nos
Estados Unidos, devido ao sucesso de Sérgio Mendes com a regravação de “Mas Que Nada”. O álbum tem um pouco da influência das visitas de Jorge Ben Jor à America do Norte.
Sacundin Ben Samba Universal Music 1964
1.02:48 Anjo azul 2. 02:52 Nena Nana 3. 02:32 Vamos embora “uau” 4. 02:48 Capoeira 5. 02:35 Gimbo 6. 02:33 Carnaval triste 7. 03:25 A princesa e o plebeu 8. 03:31 Menina do vestido coral 9. 02:28 Pula baú 10. 03:04 Jeitão de preto velho 11. 02:04 Espero por você 12. 03:14 Não desanima João 27
1964
Ben é Samba Bom Universal Music 1964 1.03:06 Descalço no parque 2. 03:03 Onde anda o meu amor 3. 03:23 Bicho do mato 4. 02:43 Vou de samba com você 5. 02:25 Samba legal 6. 02:35 Ôba lá lá 7. 02:55 Gabriela 8. 02:47 Zope zope 9. 03:17 Saída do porto 10. 02:36 Dandará, hey 11. 03:17 Samba, menina 12. 02:51 Guerreiro do rei
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Ben é Samba Bom Após o sucesso obtido por meio de seu primeiro disco, Samba Esquema Novo, Jorge Ben Jor lançou este outro grande disco: Ben é samba bom e manteve a mesma sonoridade e estilo do anterior.
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1965
Big Ben Universal Music 1965 1. 03:15 Na Bahia tem 2. 02:45 Patapatapatá 3. 03:05 Bom mesmo é amar 4. 02:17 Deixa o menino brincar 5. 02:53 Lalari - Olalá 6. 03:30 Jorge Well 7. 02:47 O homem, que matou o homem 8. 03:09 Quase colorida (Verushka) 9. 02:07 Maria Conga 10. 02:07 Acende o fogo 11. 02:28 Telefone de brotinho 12. 03:15 Agora ninguém chora mais
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Big Ben Após três anos de seu primeiro lançamento, Jorge começa a investir em outros sons. “Jorge Well” foi a primeira homenagem, num inglês improvisado, a seus alter-egos. Além disso, influenciou-se pela Jovem Guarda, o que se pode notar em músicas como “Telefone de Brotinho” e “O homem que matou o homem”.
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1967
O Bidú - Silêncio no Brooklin Movieplay 1967 1. 02:23 Amor de carnaval 2. 03:55 Nascimento de um principe africano 3. 01:49 A jovem samba 4. 02:31 Rosa mas que nada 5. 02:11 Canção de uma fã 6. 02:59 Menina Gata Augusta 7. 03:18 Toda colorida 8. 02:50 Olha o menino 9. 01:54 Quanto mais te vejo 10. 02:25 Vou andando 11. 02:03 Sou da pesada 12. 02:55 Si manda 38
O Bidú Silêncio no Brooklin O Bidú - Silêncio no Brooklin
à sua sonoridade, de Jovem
foi lançado em 1967. Resultado
Samba (nome da terceira faixa
de seus tempos de moradia em
do disco e uma alusão à Jovem
São Paulo, quando dividiu alu-
Guarda). O uso do instrumento
guel com Erasmo Carlos, o LP
elétrico também se deve à liber-
tem canções como “Rosa Mais
dade artística conseguida após
que nada”, “Canção de uma fã”,
o rompimento com a gravadora
“Menina Gata Augusta”, “Tôda
Universal Music.
colorida” e “Frases”. A banda que o acompanhava nesse disco era The Fevers. Aqui, Ben Jor deixou um
O nome do álbum é, também, uma menção à São Paulo, ao citar o bairro no qual parte da
pouco de lado a influência da
boemia paulistana se reunia na
bossa nova e, talvez devido a
época. Sendo assim, a reper-
convivência com Erasmo Carlos,
cussão do início de uma tran-
incorporou algumas poucas gui-
sição em sua carreira.
tarras, o que gerou um apelido,
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1969
Jorge Ben Universal Music 1969 1. 03:30 Criola 2. 03:35 Domingas 3. 03:26 Cadê Tereza 4. 03:19 Barbarella 5. 04:16 País tropical 6. 02:36 Take it easy My Brother Charles 7. 04:05 Descobri que sou um anjo 8. 02:38 Bebete vãobora 9. 03:10 Quem foi que roubou a sopeira de porcelana chinesa que a vovó ganhou da baronesa? 10. 03:05 Que pena 11. 04:55 Charles Anjo 45
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Jorge Ben Depois de dois anos sem gravar, reaparece com um disco surpreendente. Com uma capa feita pelo artista plástico Albery, os arranjos são fortes e diferenciados. Além disso, há a participação do maestro tropicalista Rogério Duprat, que produziu “Descobri que sou um anjo” e “Barbarella”. Ainda nesse disco, encontra-se a unânime “País tropical”, que traduz toda a alegria contagiante do nosso povo, do nosso país e do nosso Jorge.
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Sacundin 1960 Biografia Ilustrada de Jorge Ben Jor São Paulo, Novembro de 2010 Concepção Editorial, Direção de Arte e Design Juliana Campos Rodrigues Redação e Revisão Fernanda Emmerick
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